A carne de porco mesmo queimada tem vermes

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os suevos, alanos e vândalos, em reinados de curta duração. 149 O Istros (Danúbio) nasce no país dos celtas, perto da cidade de Pireneu, e atravessa a Europa, cortando-a em duas. Os celtas têm por vizinhos os Kynèsiosi, que são no ocidente o derradeiro povo da Europa. Muitos autores relatam a invasão dos celtas ao norte da Espanha, e informam sobre a topografia e as populações do litoral atlântico desde a Espanha até a Bretanha, ou as ilhas britânicas. A primeira menção segura aos celtas encontra-se nas histórias de Heródoto (c. 480-425 a.C.). KRUTA, Venceslau. Os celtas. São Paulo: Martins Fontes, 1976. p.155. 150 Ibidem. p.105. 151 TOVAR, Rosa; FULLER, Monique. 3000 anõs de cocina española. Madrid: Espasa, 2006. p.116. 68 compartilhava a bebida entre todos os participantes. “A queimada é ritual com aguardente de uva realizado numa praia, com um bruxo vestido de roupas de peles e chapéu de chifres que serve a aguardente em chamas para expulsar os maus espíritos.”152 Enquanto realizava a cerimônia, esse homem dizia, juntamente com os convidados, uma reza, na língua galega, considerada um “conjuro de queimada”, direcionada a afastar os maus espíritos e, assim, permitir que os galegos se sentissem melhores.153 A queimada é uma bebida que ainda hoje é servida após as refeições, feita ao fogo, à qual se acrescentam maçã e açúcar, tomada ao som de cantos celtas. Outra influência celta presente na alimentação galega e notada até os dias de hoje nos territórios por eles conquistados é a utilização da carne de porco. Diferente das plantas que marcaram outras culturas, como a grega e a romana, das oliveiras, trigo e videiras, ou mesmo do milho vindo da América ou ainda do arroz da Ásia. “Mas, buscaremos em vão entre eles uma ‘planta da civilização’, para usar a célebre expressão de Braudel, mas sim ‘um animal de civilização’: o porco, de uma realidade onipresente no mundo celta, a única talvez capaz de revelar os valores culturais.”154 A grande quantidade de carvalho garantia a criação do porco, de maneira selvagem, nos bosques galegos, que eram medidos pelos bárbaros não por sua extensão, mas pelo número de porcos que possuíam para atender ao seu modelo de cultura alimentícia. A carne de porco era o valor alimentar por excelência, servida 152 TRUTTER, Marion (et. al.). Un paseo gastronómico por España. Ed. Culinária Konemann, 1998. p.154. 153 O Conjuro da Queimada, texto em galego: Mouchos, curuxas, sapos e bruxas. Demos, trasgos e diaños, espíritos das neboadas veigas.Corvos, píntegas e meigas: feitizos das menciñeiras. Podres cañotas furadas, fogar dos vermes e alimañas.Santas Compañas Lume das Santas Compañas. Mal de ollo, negros meigallos, cheiro dos mortos, tronos e raios. Ouveo pode fazer, pregón da morte; Fucino fazer Sátiro pé e fazer Coello. Pecadora lingua da mala Muller casada CUN casa Vello. Averno de Satan e Belcebú,lume dos cadáveres ardentes, corpos mutilados dos indecentes, peidos dos infernais clientes, muxido da embravecida mar. Barriga inútil da muller solteira, falar dos gatos que andan á xaneira, guedella porca da cabra mal parida. Con este fol levantarei como Chamas deste lume que asemella ao do Inferno, e fuxirán como bruxas um cabalo das suas vasoiras, índose bañar na praia das áreas gordas. ¡Oíde, oíde! Os ruxidos que dan como que não poderá deixar de queimarse não aguardente quedando así purificadas. E cando este beberaxe, baixe polas nosas gorxas, quedaremos livres dos homens NOSA da alma e de todo embruxamento. Forzas do ar, terra, mar e lume, uma vós fago esta chamada: se é verdade que tendes Máis poder que a humana xente, eiquí e agora, que os espíritos facede dos amigos que están fóra, participen con nós desta Queimada. Cf.: WIKIPEDIA. Queimada (drink). Disponível em: <//en.wikipedia.org/wiki/ Queimada_%28 drink%29>. Acesso em: 17/01/2009. 154 Cf.: MONTANARI, Máximo. A fome e a abundância. História da alimentação na Europa. Bauru - SP: EDUSC, 2003a. p.21. 69 assada, cozida, ao forno, ensopada, em embutidos e também no toucinho. A matança do porco era considerada uma festa – de que todos participavam – e possibilitava a todos o armazenamento da carne para todo o ano. A matança era uma festa, era uma festa aquilo para eles, cantavam, bebiam, mesa grande, a família toda. A gente morava numa casa lá na Ameixeira, todo mundo da família ajudava, as mulheres, a família toda, as filhas, todo mundo ajudava. Tem que matar o porco, o mais corajoso, meu tio punha o cuchillo [faca] no porco, solta sangue, é a festa do porco, a matança. Cada família tem o seu porco lá. Esta festa é assim, todo dia 8 de dezembro é dia da matança do porco.155 Um ritual realizado, em geral, nos últimos dias do outono, entre novembro e fevereiro, numa festa repetida a cada ano a partir do dia de San Martín, 11 de novembro, quando o frio intenso permitia a rápida refrigeração das carnes, a que corresponde o dito popular: "a todo porco sempre chega seu San Martín”, ou seja, todo porco tem o seu dia derradeiro. Depois vinha o verão e não podia matar, estraga a carne. Naquela época nem geladeira existia nas casas. Aí se comia aquelas coisas que não se podia salgar do dia da matança. Como era muito frio eles salgavam a carne. Primeiro deixa um dia e uma noite pendurado, para tirar aquele fresquinho que eles falam. Depois cortavam, aí salgavam, deixavam três ou quatro dias no sal, mas o que salgavam mesmo eram as patas, as quatro patas e a barriga, e o resto era tudo picado e faziam linguiças, chorizos que falavam. Aí se fazia as linguiças das carnes moídas toda em casa, tudo em casa, as donas de casa que faziam. Tudo, tudo, tudo, não ficava nada, só queimavam o pelo depois raspavam ele bem, lavava tudo direitinho. Depois enxugava e pendurava pra secar. Aí tinha as cozinhas tipo lareira, a fumaça secava e ficavam para o ano inteiro.156 Uma série de símbolos os unia nesse ritual, que servia também de instrumento de comunicação e de pertencimento, pois os hábitos e classificações alimentares servem para estabelecer identidades, o que se fazia no momento em que todos se ajudavam mutuamente, tanto nas colheitas como na matança, para o abate e preparo de linguiças e torresmos. Com fortes conotações culturais, a 155 Depoimento de Maria Consuelo Gonzalez Perez, em entrevista concedida à autora em 30 de maio de 2008. 156 Depoimento de Julia Fernandez Varela, em entrevista concedida à autora em 5 de junho de 2008. 70 matança era esperada por todos e representava um fator importante na alimentação das pessoas. O porco é fácil de criar individualmente, mas tem um lugar especial no universo mítico e mental de todos: tem um papel nas crenças que rodeiam a infância – foi uma das encarnações da oposição dos cristãos aos judeus. O animal singular que o camponês mata e salga todos os anos antes do Natal é a ilustração de uma maneira de ligar o cultural e o culinário.157 As crianças da fazenda viam a matança inúmeras vezes, estavam acostumadas. Algumas, no entanto, não tinham coragem de ver o porco ser morto: Eu ia embora, na hora de matar o porco eu ia embora, tem criança que gosta, eu não, depois eu voltava, nem galinha não queria ver matar.158 Eu assisti, matar não, porque não tive coragem, e eu sinto, eu gostaria de ir num lugar em Portugal ou Espanha e comprar um porco, mandar matar e ver.159 Hoje, no entanto, o depoente gostaria de participar desse evento, pelo qual até pagaria se fosse preciso. A matança era uma festa com música em que todos se divertiam, embora tivessem de presenciar o sacrifício do animal, pois a expectativa da fartura e boa alimentação superava toda a ansiedade, como ressalta o dito popular: “Haz la matanza y llena la panza”, ou seja, faça a matança e encha a pança.

Como eliminar vermes da carne de porco?

Como a carne de porco pode conter toxinas e vermes, é importante que seja muito bem cozida em alta temperatura, sendo que o recomendado é 70ºC. Isso é o suficiente para matar os possíveis vermes.

Como saber se o porco está com verme?

A infecção intestinal por vermes adultos T. solium geralmente pode ser diagnosticada por exame microscópico das amostras de fezes e identificação dos ovos e/ou proglotes.

Como se pega o verme do porco?

O agente patogênico é ingerido pelo ser humano através da carne de porco contaminada com cisticercos. Quando no intestino, os cisticercos eclodem e liberam as oncosferas, forma larval da tênia, que vão parar na corrente sanguínea penetrando a parede do intestino.

Tem que ferver a carne de porco?

Cozinhar, cozinhar, cozinhar: eis o passo mais importante! Pelo fato do porco ser uma “fonte” na qual podem se alojar vermes e doenças, a alta temperatura (recomenda-se 70ºC) ajuda a matar esses “convidados indesejados”. Por isso, evite ao máximo comer a carne se ela ainda estiver crua!

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