Como os clássicos da sociologia Marx Durkheim e Weber veem os movimentos sociais?

RESUMO

1.A sociologia � o estudo dos fen�menos sociais, da intera��o e da organiza��o social.

2.A sociologia � importante para cada dia de nossas vidas, pois fornece instrumentos para entender as for�as externas que regulam nossos pensamentos, percep��es e a��es.

3.A sociologia surgiu sob as condi��es de mudan�a associadas com: a) o decl�nio do feudalismo e o aparecimento do com�rcio, da ind�stria e da urbaniza��o; b) o movimento intelectual conhecido como Iluminismo, no qual a ci�ncia e o pensamento laico sobre os mundos f�sico, biol�gico e social poderiam prosperar; e c) o choque traum�tico e a mudan�a social brusca decorrentes da Revolu��o Francesa.

4.O nome sociologia foi proposto pelo pensador franc�s, Auguste Comte, que acreditaxia que a ci�ncia da sociedade poderia competir com as ci�ncias naturais. Comte tamb�m sentia que o descobrimento das leis da organiza��o social humana poderia ser usado para reconstruir a sociedade de uma forma mais humana.

3.I-ierbert Spencer na Inglaterra similarmente argumentava que as leis da organiza��o humana poderiam ser desenvolvidas. Essas leis iriam concentrar-se no crescimento e na complexidade da sociedade, visto que essas causas criavam press�es para: a) o aumento da interdepend�ncia e troca entre as pessoas e organiza��o de uma sociedade:

e b) o aumento do uso do poder para regular, controlar e coordenar as atividades desses membros e unidades organizacionais. Spencer fundou uma teoria sociol�gica conhecida como funcionalismo, em que a fun��o de uma estrutura social na manuten��o da sociedade era enfatizada.

6.�mile Durkheim adotou as id�ias de Spencer, mas deu continuidade � tradi��o francesa de enfatizar a import�ncia das id�ias culturais para a integra��o da sociedade. Como Spencer, ele era um funcionalista e acreditava que as leis da organiza��o humana poderiam ser descobertas, mas acrescentou � teoria de Spencer a import�ncia de se descobrir as causas e fun��es dos s�mbolos que buscam integrar a sociedadc.

7.Karl Marx, um alem�o que foi expulso de sua terra natal e que acabou se estabelecendo na Inglaterra, enfatizou a natureza contradit�ria da sociedade, inspirando uma teoria conhecida como a teoria do conflito ou sociologia do conflito. Na opini�o de Marx, as desigualdades na distribui��o de meios de produ��o armam o palco para a transforma��o da sociedade, pois as pessoas sem os meios de produ��o se organizam para entrar em conflito com aquelas que controlani a produ��o, que det�m o poder, e que manipulam os s�mbolos culturais para legitimar seus privil�gios. Ao contr�rio de Comte, Spencer e Durkheim, Marx n�o acreditava no desenvolvimento de leis gerais para a organiza��o humana.

8.Max Weber, outro importante fundador alem�o da sociologia, engajou-se num di�logo vital�cio mas silencioso com Marx, enfatizando que a desigualdade � multidirnensional e n�o exclusivamente baseada na economia, que o conflito � contingente em condi��es hist�ricas e n�o � o resultado inevit�vel e inexor�vel da desigualdade, e que a mudan�a poderia ser causada pelas �id�ias� assim como a base material e econ�mica de uma sociedade. Ele tamb�m real�ou que a sociologia deve olhar tanto para a estrutura da sociedade como um todo para os significados que os indiv�duos conferem para essas estruturas. Como Marx, ele duvidava de que houvesse leis gerais da organiza��o humana, mas, ao contr�rio de Marx, ele sentia que � necess�rio que sejam isentas de ju�zos de valor, ou objetivas, na descri��o e an�lise dos fen�menos sociais.

9.A sociologia norte-americana antiga adotava as id�ias europ�ias para problemas espec�ficos associados com a urbaniza��o e a industrializa��o, mas de fato iniciou duas importantes tend�ncias: a) o uso ampliado das t�cnicas estat�sticas, quantitativas; e b) a proposta te�rica conhecida como Interacionismo, em que a �nfase � dada aos processos que sustentam e transformam a sociedade, atrav�s de intera��es face a face.

1(1.A sociologia � agora uma �rea ampla e diversa que analisa todas as facetas da cultura, da estrutura social, do comportamento e intera��o e da mudan�a social.

No mundo contempor�neo, a ci�ncia tornou-se o modo predominante para se entender o universo. A ci�ncia n�o � a �nica forma para isso, pois a religi�o, o senso comum, a literatura, a poesia, as ideologias, a filosofia e a intui��o pessoal s�o tamb�m usadas para compreender o mundo. Assim, a ci�ncia tem concorrentes; e essa competi��o � mais intensa em algumas �reas do que em outras. Alguns n�o-cientistas questionam as alega��es dos f�sicos sobre como o universo f�sico funciona; o mesmo � verdade para os qu�micos, bioqu�micos e bi�logos. Entretanto, ainda que ocultamente, as cren�as religiosas quanto ao �creacionismo� freq�entemente se posicionam num patamar de hostilidade em rela��o � concep��o evolucionista darviniana da esp�cie. Na �rea social, entretanto, a ci�ncia dificilmente reina. (lis homens e suas cria��es -- sociedade e cultura n�o s�o freq�entemente vistos como acessiveis ao estudo cient�fico. E h� mais de 150 anos, desde a proposta de Auguste Comte (l830-1848), de que a sociologia poderia ser uma ci�ncia natural, que os pr�prios soci�logos permanecem divididos nessa quest�o: a sociologia pode, ou deve, ser tomada como ci�ncia? S� porque Karl Marx e Max Weber questionavam as possibilidades da sociologia cient�fica �, que muitos soci�logos contempor�neos (Halfpenny, 1982; Denzin,1970) tamb�m o fazem. Todavia, por ora, vamos assumir que essa controv�rsia sobre o status cient�fico da sociologia n�o exista, e examinar como a sociologia cient�fica procede.

A NATUREZA DA CI�NCIA

O objetivo da ci�ncia � possibilitar-nos entender e acumular conhecimento sobre o universo. O ve�culo para tais entendimentos � a teoria, que procura nos contar por que os fen�menos existem e como eles funcionam (J. Turner, 1991). As teorias cient�ficas t�m algumas caracter�sticas especiais que as separam de outros tipos de explica��es como as religiosas, as de dogma pol�tico e as opini�es pessoais (J. Turner, 1985a).

Uma caracter�stica distinta das teorias cient�ficas � sua abstra��o. Elas s�o determinadas em termos muito gen�ricos porque o objetivo � explicar os fen�menos,em todas as �pocas e lugares. Por exemplo, a f�rmula famosa de Albert Einstein, E = mc2, n�o diz qualquer coisa sobre a emiss�o espec�fica de energia (E), ou o corpo da mat�ria (m), ou a velocidade da luz (c) num momento espec�fico no tempo; o que diz � que a energia, a mat�ria e a velocidade da luz s�o fundamentalmente relacionadas em todos os tempos, em todos os lugares e em todas manifesta��es de energia. Em resumo, essa equa��o revolucion�ria e abstrata porque nasce al�m das particularidades e estados que � verdade em todos os tempos e lugares em nosso universo. As teorias sociol�gicas tamb�m podem ter essa qualidade. Por exemplo, como observei no �ltimo cap�tulo, Herbert Spencer (1874-1896) prop�s que com o crescimento populacional os membros de uma sociedade se tornam mais diferenciados, levando a fragmenta��es e especializa��o de grupos que s�o integrados por interdepend�ncias e concentra��es de poder. Esta teoria � tamb�m abstrata porque n�o se retere � uma popula��o espec�fica num ponto determinado do tempo, mas a boas as popula��es em todos os tempos e lugares.

Uma segunda caracter�stica �nica das teorias cient�ficas � que elas s�o sujeitas a provas. l� foi inclusive dito que as teorias cient�ficas existem para serem refutadas (Popper, 1959, 1969), posto que o objetivo da ci�ncia seja submeter suas teorias a tantas provas quantas forem necess�rias para se ter a seguran�a de que a teoria n�o � facilmente refutada, e e, portanto, plaus�vel. Pois se uma teoria permanece intacta ap�s repetidas confronta��es de dados emp�ricos, ent�o � considerada por ora como a melhor explica��o da �maneira� que as coisas s�o. Quando as teorias resistem � prova de tempo � isto �, esfor�os repetidos de contesta��o �, ent�o se tornam provisoriamente aceitas como verdade, como a �maneira� que as coisas realmente s�o (Popper, 1969).

Esse � o modo de funcionamento de toda ci�ncia. N�o � um processo eficiente, mas �um meio de mantermos nossas teorias presas a fatos reais. N�s defendemos ceticamente as teorias e constantemente as verificamos contra os fatos. Compare essa proposta a formas alternativas para a compreens�o do mundo. Em interpreta��es religiosas, os poderes dos deuses e as for�as sobrenaturais s�o tidos como controladores do fluxo de acontecimentos, e h� uma suposi��o de que as coisas deveriam ocorrer; e, se essa vis�o n�o corresponde �maneira real pela qual os acontecimentos se desdobram, as cren�as no poder dos deuses ou a verdade das suposi��es n�o s�o contestadas, como seriam no caso de uma teoria cient�fica. Melhor, uma nova interpreta��o � oferecida para sustentar as cren�as. Similarmente, os preconceitos pessoais s�o freq�entemente mantidos quando os fatos os contradizem; de fato, n�s nos apegamos aos nossos preconceitos e percep��es porque eles nos confortam e porque estamos acostumados a eles. As ideologias pol�ticas t�m essa mesma qualidade; as pessoas ap�iam-se em suas cren�as pol�ticas at� mesmo quando os programas defendidos em nome dessas cren�as fracassam. Em contrapartida, as teorias cient�ficas s�o finalmente refutadas ou transformadas quando elas n�o correspondem aos fatos emp�ricos.

As teorias n�o s�o casualmente testadas, embora freq�entemente comecemos apenas com a intui��o de que os dados correspondem � teoria. Eventualmente a teoria deve ser avaliada de um modo sistem�tico, em termos de alguns procedimentos gen�ricos, geralmente denominados de m�todo cient�fico. A id�ia geral por tr�s dos m�todos da ci�ncia � desenvolver procedimentos imparciais para coletar dados e ent�o especificar claramente o percurso escolhido. Dessa forma, outros dados podem surgir e verificar que fomos honestos e n�o cometemos quaisquer erros bobos ou impusemos preconceitos. Sem dados nos quais possamos acreditar, ou ter confian�a, n�o sabemos se temos registros precisos dos acontecimentos nem sabemos se os dados realmente se sustentam na teoria que estamos testando.

QUADRO 2.1 O Que Torna a Ci�ncia �nica?

1.A ci�ncia n�o busca avaliar o que deveria, 5. A ci�ncia usa m�todos de coleta de dados ou n�o deveria, existir ou ocorrer. que podem ser contestados por outros

para certificar-se de que os dados usados

2. A ci�ncia busca apenas compreender������������� para testar as teorias n�o s�o parciais.

por que os fen�menos existem e como

eles funcionam, sem julgamentos de

6. A ci�ncia acumula conhecimento

��� valor, quando as teorias encontram sustenta��o

consistente em testes emp�ricos e quando
3. A ci�ncia gera determinada compreen-������������� aquelas que n�o recebem tal sustenta��o
s�o que desenvolve teorias abstratas e������������� s�o refutadas ou modificadas.
isentas de ju�zos de valo; as quais expli�-
cam o como e o porqu� dos fen�menos.

4. A ci�ncia ent�o sujeita essas teorias �

verifica��o emp�rica, refutando-as ou

modificando-as se os fatos n�o corres�pondem a elas.

Assim, a ci�ncia encontra a sociologia � medida que n�s usamos teorias para explicar o mundo social e, ao mesmo tempo, verificamos essas teorias com fatos reais. Como as teorias s�o desenvolvidas e testadas, acumula-se conhecimento e sabemos mais sobre o mundo social que nos cerca.

AS TEORIAS SOCIOL�GICAS

Seria bom nesse momento apresentar as grandes realiza��es da teoria sociol�gica para explicar o comportamento humano, a intera��o e a organiza��o. Mas atualmente h� pouco consenso sobre quais teorias s�o as melhores, e tampouco existe entre os pesquisadores a iniciativa de testar cada uma de nossas muitas teorias e ver qual parece melhor. De fato, a sociologia revela uma tend�ncia infeliz, para os te�ricos, de criar teorias que n�o s�o muito acess�veis aos testes e, para os pesquisadores, de coletar e analisar os dados sem prestar muita aten�ao a teoria (Turner e Tumer, 1990). Assim, � triste mas verdadeiro que os te�ricos e pesquisadores tendem a seguir caminhos isolados. O lado c�tico das teorias evidencia para a sociologia uma s�rie de propostas te�ricas, interessantes apesar de muitas vezes nao verificadas empiricamente, para interpretar os fatos no mundo social (Ritzer, 1975, 1988; J. Turner, 1991). Deixe-me esbo�ar amplamente algumas das mais importantes dessas propostas, deixando para cap�tulos posteriores as teorias espec�ficas que foram desenvolvidas dentro dessas amplas perspectivas. N�s j� encontramos algumas dessas perspectivas quando discutimos a emerg�ncia da sociologia no cap�tulo anterior. Aqui seremos mais expl�citos nos elementos fundamentais dessas amplas propostas (1. Turner, 1991).

Teoriza��o Funcional

A teoria funcionalista foi criada por l-lerbert Spencer e retomada por �mile Durkheim no s�culo XX. Durante certo per�odo dos anos 50, esse tipo de teoria dominou a sociologia; agora, representa apenas uma das diversas propostas. Todas as teorias funcionalistas examinam o universo social como um sistema de partes interligadas (Turner e Maryanski, 1979). As partes s�o ent�o analisadas em termos de suas conseq��ncias, ou fun��es para o sistema maior. Por exemplo, a fam�lia seria vista como uma institui��o social b�sica, que ajuda a manter a sociedade maior, regulamentando o sexo e unindo os adultos, e socializando os jovens para que eles possam se tornar membros competentes de uma sociedade. Alem disso, pode-se examinar qualquer estrutura isto �, sua atual faculdade ou universidade em termos funcionalistas basta fazer uma �nica pergunta: como algum aspecto de sua escola

� conjunto de estudantes, gr�mios e~ (issocia��es, diret�rio acad�mico, classe, corpo docente, administradores etc. contribui para o funcionamento do sistema global?

A maioria das teorias funcionalistas postula �necessidades ou �requisitos� do sistema. Quando isso � feito, uma parte � examinada com respeito a como se preenche uma necessidade ou requisito do todo. Por exemplo, muitos sistemas sociais t�m necessidades de tomar decis�es, coordenar pessoas e alocar recursos; portanto, se issO constitu�sse um requisito b�sico, algu�m perguntaria: que partes do sistema preenchem essas necessidades relacionadas? E ent�o n�s explica r�amos como uma parte espec�fica�por exemplo, o governO, se o nosso sistema central � uma sociedade� funciona para preencher essa necessidade b�sica.

H� muitos problemas com teorias funcionalistas. Um dos mais importantes � que elas freq�entemente v�em as sociedades como demasiadamente bem integradas e organizadas (Dahrendorf, 1958, 1959). Assim, se toda parte do sistema tem uma fun��o ou preenche uma necessidade, as sociedades pareceriam ser m�quinas de movimento suave e bem lubrificadas. Todos n�s sabemos, � claro, que isso n�o � verdade, pois o conflito e outros processos �disfuncionais� tamb�m existem. Contudo, teorias funcionalistas ainda t�m um atrativo porque elas nos levam a ver o universo social, ou qualquer parte dele, como um todo sist�mico cujos elementos constitutivos funcionam em conjunto; ou seja, o funcionamento de cada elemento tem conseq��ncias sobre o funcionamento do todo.

Teorias do conflito

Karl Marx e Max Weber foram as origens intelectuais de teorias sobre o conflito, embora outros soci�logos antigos tamb�m vissem o mundo social segundo suas contradi��es. Ao contr�rio das teorias funcionalistas, que enfatizam a contribui��o das partes para um todo maior, as teorias do conflito v�em os todos sociais cheios de tens�o e os contradi��es (Collins, 1975). Embora haja muitas teorias distintas sobre o conflito, todos partilham um ponto em comum: a desigualdade � a for�a que move o conflito; e o conflito � a din�mica central das rela��es humanas. De fato, seria dif�cil n�o notar as tens�es e os conflitos que emanam da desigualdade. Por exemplo, em sua aula de sociologia h� uma contradi��o inerente entre voce e seu professor sobre um elemento b�sico: sua nota. O professor controla a nota, e isso significa que ele tem poder sobre voc�. Voc� est�, ent�o, numa situa��o de grande desigualdade, e a tens�o est� apenas sob a superf�cie. Se n�o consegue a nota que voc� queria, voc� pode ficar contrariado, e, se voc� pudesse, faria algo para reverter a situa��o. A mesma for�a b�sica funciona em todas as rela��es sociais entre atores distintos, como indiv�duos, grupos �tnicos, escrit�rios e pessoal num escrit�rio, classe social, ou na��es.

Ao olharmos ao redor de nossa pr�pria sociedade, vemos os efeitos da desigualdade que a contradi��o produz em todo lugar Os trabalhadores e gerentes nas empresas freq�entemente est�o inquietos; as pessoas pobres agridem as pessoas ricas; as mulheres se ressentem dos sal�rios mais altos e poder que os homens t�m na sociedade; as minorias �tnicas se ressentem com o status de �segunda classe� que lhes � dado; e assim vai. Todas essas fontes de contradi��o que se manifestam em formas distintas de conflito�crime violento, desordens, protestos, manifesta�oes, greves e movimentos sociais � originam-se da distribui��o desigual de recursos valorizados pelas sociedades, como dinheiro, poder, prest�gio, moradia, sa�de e empregos. O conflito �, portanto, uma conting�ncia b�sica da vida social; ele � potencialmente sentido em todo lugar, desde as rela��es interpessoais entre homens e mulheres, passando pela exig�ncia de intera��es entre diferentes etnias, at� os ressentimentos contra o poder dos pais, professores e empregadores.

Teorias �uteraccionistas

bom falar sobre �partes�, �todos�, �fun��es�, �desigualdades� e �conflitos�, mas o que dizer das pessoas reais que devem se encarar e lidar umas com as outras? As teorias interacionistas tentam responder a essa quest�o, como veremos em detalhe no Cap�tulo 5 quando retornamos ao trabalho de George Herbert Mead (1934, 1938) e todos aqueles que foram seus disc�pulos. Por ora, deixe-me esbo�ar a posi��o b�sica das teorias interacionistas.

Os homens interagem emitindo s�mbolos � palavras, express�es faciais, corporais, ou qualquer sinal que �signifique� algo para os outros e para mesmos (Goffman, 1959, 1961, 1967; J. Turner, 1988). Atrav�s de gestos simb�licos, demonstramos nosso estado de esp�rito, inten��es e sentido da a��o; e contrariamente, pela leitura dos gestos dos outros, obtemos um sentido do que eles pensam e como eles se comportar�o. N�s podemos at� mesmo fazer isso quando outras pessoas n�o est�o fisicamente presentes por exemplo, quando voc� pensa em pedir mais dinheiro de um pai, reclamar de uma nota dada por um professor ou encantar algu�m por quem esteja interessado. Aqui h� uma troca de gestos em sua mente visto que voc� mentalmente interage com essa pessoa. Assim, a vida social est� mediada por s�mbolos e gestos; e usamos esses gestos para nos entendermos uns com os outros, para criarmos imagens de n�s mesmos e das situa��es e construirmos uma id�ia de situa��es futuras ou desejadas.

Para os interacionistas, ent�o, a explica��o da realidade social deve emanar da investiga��o meticulosa do micromundo dos indiv�duos que mutuamente interpretam os gestos, que constroem as imagens de si pr�prios e definem as situa��es segundo certos princ�pios (Blumer, 1969; Stryker, 1980). As macro ou grandes estruturas da sociedade o Estado, a economia, a estratifica��o e similares s�o constru�dos e sustentados por microintera��es (Collins, 1981, 1986); e para os interacionistas seria imposs�vel entender o mundo social sem investigar esses encontros no micron�vel. Pense nos seus gestos e nos das pessoas que est�o ao seu redor numa sala de aula, por exemplo. Ao caminhar em dire��o � sua cadeira, como se desvia de seus colegas, como seus colegas se comportam antes ou durante as aulas e, tamb�m, os meios pelos quais os professores tentam se fazer entender Portanto, uma sala de aula �estruturada� est� repleta de gestos, interpreta��o e reinterpreta��o, e situa��es definidas na perspectiva interacionista; voc� n�o � uma �abelha oper�ria� que obrigatoriamente segue o roteiro de conduta de uma sala de aula (embora isso seja certamente relevante), porque voc� est� constantemente emitindo sinais e interpretando a fim de transformar e, �s vezes, criar novos roteiros para a intera��o. Dessa forma, o interacionismo � contr�rio �s tend�ncias que tomam a �estrutura� e a �cultura� como exteriores aos atores sociais, tratando-os como rob�s.

Teorias Utilitaristas

Esse conjunto final de teorias fornece hip�teses para a compreens�o dos homens da moderna economia, que, por sua vez, adotavam as id�ias centrais dos fil�sofos escoceses, tais como Adam Smith (1776) durante a Era da Raz�o (Camic, 1979). Aos olhos dos te�ricos utilitaristas, os homens s�o racionais at� o ponto em que eles t�m objetivos e finalidades; eles calculam os custos de v�rias alternativas para atingir esses objetivos e escolher a alternativa que maximize seus benef�cios (ou o que os economistas chamam de �utilidade�) e minimizar seus custos. Dessa forma, n�s somos seres que tentam tirar algum proveito de uma situa��o, ao reduzirmos nossos custos (Ilechter, 1987; Coleman, 1991). Por exemplo, voc� pode calcular quanto trabalho voc� est� disposto a dispender (seu �custo�) a fim de receber determinada nota (seu �benef�cio�) neste curso ou, se eu posso ser idealista por um momento, conhecimentos que voc� pode usar durante toda a sua vida (a longo prazo, um benef�cio muito mais compensador). Assim, todas as situa��es envolvem uma �troca� de recursos: voc� abre m�o de alguns recursos (seu custo) a fim de receber algo que voc� percebe ser mais valioso (sua utilidade).

Assim, para os te�ricos do utilitarismo, todas as rela��es sociais s�o, em �ltima an�lise, trocas entre atores que incluem custos a fim de obter benef�cios uns dos outros, ou seja, que calculam a rela��o custo-benef�cio. Seu professor incorre num custo (energia e tempo para preparar as aulas, conversar com os alunos, corre��o de provas etc.) a fim de receber um sal�rio (da universidade) e, talvez, sua lealdade e admira��o. Da mesma forma, voc� vai as aulas, l�, pensa e se submete �s pmvas (seus custos) para receber notas, conhecimento, e talvez uma mesada de algu�m como seus pais (seus benef�cios ou utilidades). N�s n�o fazemos os c�lculos conscientemente, na maioria das vezes eles est�o impl�citos. Apenas quando n�o temos certeza do que fazer numa determinada situa��o � que tomamos consci�ncia dos c�lculos flex�veis de custo-benef�cio. Mas, finalmente, os utilitaristas argumentam que em institui��es escolares voc� troca tempo, energia e dinheiro por notas, diplomas e conhecimento, que voc� calcula serem ainda mais valiosos do que vias alternatix�as para dispender seu tempo, energia e dinheiro.

Para os te�ricos do utilitarismo, a intera��o, a sociedade e a cultura s�o finalmente criadas e sustentadas porque elas oferecem bons resultados para indiv�duos racionais. Esses resultados raramente s�o monet�rios; em geral, eles s�o �posses� menos tang�veis sentimentos pessoais, afei��o, orgulho, estima, poder, controle e outras moedas �suaves� que estruturam a sociedade. Pode-se ver isso simplesmente observando uma situa��o em que voc� ficou zangado ou feriu seus sentimentos; em tal situa��o, uma recompensa (freq�entemente n�o monet�ria) n�o foi recebida proporcionalmente ao seu custo e investimento; esse fato indica que, sob a superf�cie de seus sentimentos, est�o impl�citos c�lculos sobre custos e recompensas.

A Situa��o Atual da Teoria Sociol�gica

H� muitas variantes espec�ficas dessas perspectivas te�ricas. Encontraremos algumas delas � medida que avan�armos na quest�o da sociologia. Do ponto de vista da ci�ncia, seria bom ter teorias mais centradas e precisas que tenham sido sistematicamente testadas e que agora organizariam essa introdu��o � sociologia. Mas isso n�o vem ao caso. Muitos soci�logos n�o acreditam que isso possa ou deveria ser o caso (Seidman e Wagner, 1992). Ao contr�rio, as teorias sociol�gicas atuais podem apenas nos ajudar a interpretar aspectos espec�ficos do mundo social, e ent�o para o presente nossas teorias n�o s�o como aquelas das �hard sciences� (Giddens, 1971, 1976, 1984).

A sociologia tem muitas partes de teoria, tipicamente inspiradas pelos fundadores, mas a maioria n�o foi sistematicamente testada e aceita como a melhor explica��o do mundo social. Para alguns, os objetivos da ci�ncia na sociologia s�o ilus�rios, e o sonho de Comte de uma ci�ncia da sociedade � apenas um sonho. Para muitos outros, a sociologia ainda n�o se tornou uma ci�ncia madura, mas seu potencial est� presente nas id�ias te�ricas que foram elaboradas atrav�s destas quatro perspectivas: funcionalista, de conflito, interacionista e utilitarista. Al�m disso, h� muitas teorias �menores� ligadas a essas quatro e outras propostas mais gen�ricas, que nos ajudam a entender muitos processos sociais, como veremos.

A sociologia, como as demais ci�ncias, passa hoje por uma crise provocada pelas transforma��es que est�o atingindo o contexto social da vida humana. E uma realidade de mudan�as confusas e, �s vezes, incontrol�veis, que provocam a altera��o do papel social da mulher, modificam as rela��es de trabalho, fortalecem o sistema capitalista e aumentam a flexibilidade no gerenciamento. A globaliza��o une os espa�os e varre as dist�ncias, modificando o papel do Estado-Na��o e o comportamento das classes sociais. Essa nova ordem social exige o repensar das categorias sociol�gicas. Diz lanni (1997:14): �Diante das metamorfoses do objeto da sociologia, a teoria logo se v� desafiada, posta em causa no que se refere a conceitos e interpreta��es. N�o se trata apenas de acomodar e reformular conceitos e interpreta��es. Trata-se de repensar alguns fundamentos da pr�pria reflexao sociol�gica. H� metamorfoses do objeto da sociologia que desafiam as categorias de tempo e espa�o, micro e macro, holismo e individualismo, sincronia e diacronia, continuidade e descontinuidade, ruptura e transforma��es. Nesse contexto, algumas categorias b�sicas da reflex�o sociol�gica abalam-se, parecem declinar ou emergem, desafiando a imagina��o�. Para Ianni, talvez um dos maiores expoentes da Sociologia brasileira, a crise dos paradigmas provocada pela metamorfose das rela��es sociais for�a um repensar das an�lises e categorias sociol�gicas.

M�TODOS NA SOCIOLOGIA

Na ci�ncia, os dados no mundo real precisam ser sistem�tica e cuidadosamente coletados para que os procedimentos possam ser confirmados por algu�m. F�ois, se n�s simplesmente descrevemos alguns dados sem dizer aos outros conto e por quc esses dados foram coletados, ningu�m pode nos checar para ver se os nossos �fatos� s�o realmente verdadeiros. Assim, na ciencia uma proposta de procedimento comum � o n11�tl)llo c�t�uttWco � direciona a pesquisa, ou a coleta e an�lise de informa��es sobre o mundo.

O m�todo cient�fico � freq�entemente percebido quando h� etapas ou passos, mas n�o dever�amos nos deixar influenciar demais passando a ver a ci�ncia como uma marcha para a Verdade e o conhecimento. Melhor, a pr�tica da ci�ncia, ou a pesquisa, cient�fica depende simplesmente da conformidade a algumas regras (Babbie, 1992).

Oprimeiro passo � a formula��o de problemas, a problem�tica da pesquisa, ou o que se est� tentando descobrir Isso pode soar �bvio, mas � fundamental porque � preciso delimitar o foco da pesquisa. Caso contr�rio, andaremos em c�rculo durante a coleta de dados. Na ci�ncia, as problem�ticas de pesquisa s�o freq�entemente ditadas por uma teoria e um desejo de ver se a teoria � aceit�vel. Na sociologia bem como nas cienctas mais avan�adas, as raz�es de uma pesquisa v�o al�m da simples verifica��o de teorias. Uma raz�o para come�ar uma pesquisa � simplesmente a curiosidade sobre algum aspecto do mundo. Outra � o desejo de um cliente � uma ag�ncia governamental, uma corpora��o, uma institui��o de caridade � de obter informa��es sobre determinado tema. Ainda outra � que uma pesquisa de car�ter explorat�rio revela lacunas em nosso conhecimento, ou estimula novas quest�es. Assim, enquanto a vis�o idealizada da ci�ncia veria toda a pesquisa como guiada pela teoria, a realidade � bem diferente. H� muitas outras raz�es para se desenvolver uma pesquisa, e o m�todo cient�fico pode ser facilmente adaptado a elas.

Um outro t�pico importante no desenvolvimento da pesquisa � a quest�o do que o pesquisador espera encontrar E sempre conveniente formular uma hip�tese, a qual pode ser criada a partir de uma teoria, mas n�o obrigatoriamente sobre os resultados esperados. Dessa forma, os pesquisadores t�m um crit�rio ou padr�o com o qual confrontar suas descobertas. Sem uma hip�tese para orientar a coleta e an�lise de dados, ou pelo menos uma vaga id�ia sobre o que � prov�vel de ser encontrado, fica mais dif�cil centralizar esfor�os; de fato, reunir�amos informa��es desnecess�rias, ou at� mesmo irrelevantes em rela��o � problem�tica da pesquisa.

Finalmente, depois de expor um problema e suas expectativas em rela��o a ele, um plano de pesquisa � constru�do. Esse plano re�ne o conjunto de procedimentos ou t�cnicas para a coleta de informa��es visto que se relaciona com a problem�tica de pesquisa e hip�teses de algu�m. H� muitos tipos b�sicos de t�cnicas, mas todas elas tentam expor claramente como a informa��o deve ser coletada. A escolha de uma t�cnica depende de muitos fatores � a natureza da problem�tica, a verba dispon�vel e as prefer�ncias do pesquisador. Na sociologia, h� quatro tipos b�sicos de t�cnicas ou procedimentos empregados na pesquisa: (1) experimentos, (2) levantamentos, (3) observa��es; e (4) hist�rias. Cada um � brevemente resumido a seguir.

Experimentos

A id�ia por tr�s de um experimento � testar o efeito de um fen�meno particular em algum aspecto do mundo social, tipicamente as respostas das pessoas aos est�mulos ou situa��o espec�ficos. O ingrediente-chave de um experimento � o controle das influ�ncias externas que contaminariam a avalia��o dos pesquisadores dos efeitos dos est�mulos centrais de uma situa�ao. No cl�ssico procedimento experimental, isso � conseguido com dois grupos:

(1)0 grupo experimental, o qual recebe o est�mulo ou � exposto a uma situa��o de interesse; e (2) o grupo de controle, o qual n�o recebe o est�mulo ou n�o � exposto � situa��o. As diferen�as entre os dois grupos permitem que o investigador determine quanto o est�mulo ou a situa��o afetou os indiv�duos. Esse esquema cl�ssico � raramente usado na sociologia, mas o objetivo de controlar as influ�ncias externas ainda orienta a pesquisa. Um procedimento experimental mais t�pico na sociologia isola os indiv�duos do mundo externo, e ent�o observa suas respostas a um est�mulo ou a uma situa��o particular de interesse para os investigadores. Isolando temporariamente os indiv�duos, algum controle sobre as influ�ncias externas �conseguido e torna-se poss�vel registrar as respostas das pessoas a um est�mulo ou situa��o. Por exemplo, digamos que queremos examinar os efeitos de colocar indiv�duos numa situa��o de poder N�s isolar�amos um grupo de indiv�duos num laborat�rio, planejar�amos uma tarefa para eles executarem, e criar�amos uma situa��o em que um indiv�duo tivesse poder Observando e relatando as respostas, poder�amos examinar os efeitos de ter poder Assim �a natureza dos experimentos na sociologia.

Levantamento

A t�cnica de pesquisa mais usual na sociologia s�o os levantamentos, em que as pessoas s�o indagadas sobre um tema de interesse do pesquisador (Rossi et ai., 1985). Essas perguntas podem ser feitas por um entrevistador que se senta com o entrevistado ou, mais tipicamente, por um question�rio que o entrevistado simplesmente preenche. A validade dessa t�cnica depende de alguns fatores. Primeiro, os entrevistados s�o a popula��o inteira de interesse ou, mais habitualmente, uma amostra representativa desta popula��o? Segundo, todos os entrevistados concordam em responder as perguntas? Terceiro, os entrevistados respondem precisamente �s mesmas perguntas? Por�m, na pr�tica, esses tr�s aspectos s�o geralmente dif�ceis de ser congregados. Pode ser imposs�vel de perguntar a toda a popula��o, ou ela pode ser de dif�cil acesso. Pode ser dif�cil de conseguir que todos respondam, porque est�o ocupados, desinteressados, esquecidos, ou at� mesmo adversos a intromiss�es em suas vidas. Pode ser que itens de um question�rio sejam interpretados diferentemente pelos v�rios entrevistados, ou, em se tratando de entrevistas, os entrevistadores fa�am as perguntas num tqm diferente ou a �qu�mica� da intera��o entre o entrevistador e o entrevistado produza respostas diferentes. Se as amostras s�o suficientemente grandes, muitos desses problemas s�o eliminados, ou se neutralizam. Contudo, ao ser usada extensivamente, essa t�cnica revela outros prohlemas (Cicourel, 1964): ela revela apenas o que as pessoas dizem, n�o o que elas podem realmente pensar e fazer; estrutura as respostas dos entrevistados em vez de deixar que eles se comuniquem �sua maneira; fica facilmente sujeita a mentiras e deturpa��es; n�o examina facilmente os fen�menos que n�o podem ser confrontados com perguntas. Os soci�logos, entretanto, empreendem essa t�cnica, porque � rapidamente administrada e favor�vel � aplica��o de estat�stica (Collins, 1984; Lieberson, 1985, 1992). Al�m disso, os soci�logos est�o freq�entemente interessados no que as pessoas pensam, sentem e acreditam; e uma entrevista ou question�rio � uma maneira relativamente f�cil de conseguir conhecimentos, percep��es, sentimentos e emo��es superficialmente.

Observa��es

�s vezes o melhor � deixar os limites do laborat�rio experimental, desprezar o question�rio, e sair entre as pessoas em situa��es da vida real e observar o que elas est�o realmente fazendo. A t�cnica das observa��es faz exatamente isso (Whyte e Whyte, 1984; Whyte, 1989): ela coloca o pesquisador numa situa��o �natural�, na qual ele observa e toma nota do que v�. Nesse caso, nuan�as, contexto, intera��es, hist�rias e rela��es entre os acontecimentos podem ser descobertos. Uma das t�cnicas de observa��o � a observa��o participante, em que o pesquisador realmente se torna um membro do grupo, organiza��o ou comunidade que est� sendo estudada. Como tal, o observador, al�m de estar mais intimamente envolvido, pode realmente perceber o mundo de uma maneira semelhante �quela que observa. Outro tipo de t�cnica de observa��o � a observa��o discreta, em que o pesquisador nao participa diretamente como um membro, limitando-se a observar o que est� acontecendo. Esse tipo de procedimento perde um pouco da intimidade e percep��o poss�veis na observa��o participante, mas, em contrapartida, diminui a possibilidade de influ�ncias que pode causar a presen�a do pesquisador no desenrolar dos acontecimentos e, conseq�entemente, nos dados coletados para a pesquisa. Freq�entemente, a observa��o antecede os levantamentos, porque ela possibilita a formula��o de quest�es que sejam compreens�veis para os entrevistados. A grande vantagem da t�cnica da observa��o � que se est� investigando o mundo real, n�o as constru��es artificiais dos procedimentos experimentais, ou as perguntas de questionarios e entrevistas (Whyte, 1989). A grande desvantagem, entretanto, � que os pesquisadores podem ver coisas distintas segundo suas subjetividades. Al�m disso, estudos por observa��o dificultam a confirma��o de que ocorre efetivamente o que o pesquisador diz que ocorre, porque o grupo pode se extinguir, ou porque diferentes pesquisadores observam ou estimulam respostas de formas diferentes.

Levantamento Hist�rico

As vezes queremos saber o que aconteceu no passado. Pode-se, � claro, perguntar �s pessoas nas entrevistas sobre seu passado, mas geralmente queremos observar a longos alcances da hist�ria. � nesse ponto que a hist�ria e a sociologia convergem. Todos os fundadores da sociologia � Spencer, Marx e Weber, em particular � usaram a Hist�ria para desenvolver ou ilustrar suas id�ias; e em d�cadas recentes ressurgiu o interesse pelo levantamento historico para verificar e ilustrar teorias, ou para descrever o encadeamento dos acontecimentos nas sociedades passadas. A pesquisa hist�rica pode extrair seus dados da pesquisa pr�via de historiadores que investigaram arquivos empoeirados, ou dos dados dos arque�logos que �escavaram� o passado; e, em outras �pocas, os soci�logos v�o eles pr�prios aos registros ou ao s�tio arqueol�gico. A diferen�a principal entre a hist�ria e a sociologia hist�rica � que, na maioria dos casos, a pesquisa sociol�gica est� interessada em usar a historia para verificar ou ilustrar uma teoria mais gen�rica, ao passo que o historiador busca apenas descrever os fatos de uma �poca espec�fica no passado. Embora isso seja uma distin��o vaga, captura o sentido das diferen�as entre a hist�ria e a sociologia. O grande problema em usar os registros hist�ricos � que eles sempre est�o incompletos e sujeitos a diferentes interpreta��es (as quais, � claro, garantem �empregos� aos historiadores); e, como conseq��ncia, a hist�ria raramente pode fornecer uma �prova� definitiva e conclusiva de uma id�ia teoruca.

Uma vez que os dados s�o coletados por uma dessas t�cnicas de pesquisa, eles s�o submetidos � an�lise. O tipo de an�lise depende da t�cnica de pesquisa e da natureza dos dados, mas o objetivo � ser meticuloso, sistem�tico e imparcial. Da an�lise vir�o nossas conclus�es sobre o que descobrimos; e, portanto, seria melhor estarmos atentos, pois outros nos tomar�o como ponto de partida e, conseq�entemente, verificar�o nossas conclus�es.

E um passo final no m�todo cient�fico � avaliar a aceitabilidade da hip�tese ou, se hip�teses n�o foram oferecidas, indicar o que os dados nos informam sobre os fen�menos estudados.

avaliar a aceitabilidade de:

�Ir Teoria nova ou existente

\����� Formular uma

Interesses

dos clientes ~ problem�tica ��. de pesquisa

Conjunto de / dados tornecidos pela pesquisa

Figura 2.1 Elementos do m�todo cient�fico.

Esses passos podem parecer simples bom senso, mas sao muito mais: eles nos obrigam a ser sistem�ticos, permanecer imparciais (ou pelo menos reduzir nossos preconceitos) e deixar outros saberem o que descobrimos e como descobrimos. Sem as diretrizes do m�todo cient�fico, n�o poder�amos acreditar nas descobertas um do outro e n�o saber�amos como x�erific�-las e reavali�-las. Disso resultaria um conhecimento por �puro acaso� e geralmente inexato; e n�o acumular�amos conhecimentos v�lidos sobre o mundo.

A cI�NcIA EXCLUI O HUMANISMO?

Meus colegas soci�logos geralmente proclamam que a sociologia � �uma forma de arte

A id�ia gen�rica � que os soci�logos deveriam parar de aplicar question�rios impessoais e, em vez disso, entrarem contato com os trabalhos reais das pessoas. Outrossim, dever�amos usar nossa intui��o tanto quanto nosso intelecto para extrair informa��o sobre o mundo. O dever da sociologia de usar id�ias conceituais gen�ricas � defendido, mas s� quando essas id�ias s�o influenciadas pela nossa participa��o ativa com pessoas em situa��es da vida real. Sabendo de antem�o os interesses, dilemas, problemas e frustra��es dos indiv�duos na sociedade, podemos usar nosso conhecimento te�rico para ajud�-los e tornar suas vidas melhores e mais satisfat�rias. Os soci�logos que defendem essa opini�o acreditam que sua miss�o � diagnosticar as fontes de tens�o entre os indiv�duos que prejudicam a organiza��o social e ent�o sugerir poss�veis solu��es.

Muitos soci�logos profissionais dedicaram-se primeiramente � sociologia por raz�es humanit�rias. Eles sentiam que certas condi��es sociais estavam erradas � discrimina��o sexual e �tnica, a riqueza confrontada com a mis�ria, infelicidade e aliena��o, e outros males sociais � e queriam minimizar esses males. Afinal, essa foi certamente a motiva��o de Karl Marx e muitos outros soci�logos. Eles queriam ajudar as pessoas e fazer um mundo melhor. Do t�cnico mais meticuloso ao te�rico mais criativo e conceituado, encontramos motiva��es humanistas. E claro, esse fato significa que h� sempre uma ideologia rondando

o pensamento de um soci�logo. �s vezes esta ideologia � explicitamente defendida, mas impl�cita ou expl�cita, a maioria dos soci�logos realmente defende opini�es sobre �o que est� errado com a sociedade� e uma proposta gen�rica para �o que deveria ser feito a fim de resolver esses problemas�. E verdade que ao mesmo tempo que somos realistas reconhe�cemos que � imposs�vel moldar a sociedade � nossa vontade e ardor. Al�m disso, reconhecemos as tend�ncias de nosso pensamento, e tentamos evit�-las ao �fazer ci�ncia�. De fato, algo geralmente acontece aos soci�logos durante o percurso acad�mico, especialmente quando est�o a caminho de um doutoramento. De alguma forma, as motiva��es humanistas e o fervor ideol�gico recuam cedendo lugar �s habilidades t�cnicas e ao profissionalismo acad�mico. Uma conseq��ncia disso � que os estudiosos que permanecem abertamente humanistas e partid�rios tendem a ver os experimentos, estat�sticas, m�todos cient�ficos imparciais e teoria gen�rica como o �inimigo� n�mero um dos seus conceitos mais pr�ticos. Eles tendem a ver a teoria e os m�todos como uma nega��o tanto das suas intui��es nas situa��es estudadas quanto de seu desejo em ajudar as pessoas.

Esse abismo aparentemente intranspon�vel entre a intui��o, por um lado, e a pesquisa, por outro, � desnecess�rio. Nossas id�ias, sentimentos e intui��es s�o fontes maravilhosas de dados sociol�gicos. Embora geralmente enfatizemos os problemas metodol�gicos de tais dados � preconceitos e julgamentos pessoais, impossibilidade de verifica��o emp�rica, por exemplo�, dever�amos tamb�m reconhecer a grande vantagem que eles nos d�o sobre os cientistas naturais. Visto que somos homens estudando homens e suas estruturas de organiza��o social, podemos usar nossa intui��o para obter informa��o. N�s geralmente temos profunda intimidade com a nossa mat�ria numa medida que um ge�logo ou um tisico nunca pode ter. Em resumo, nossa intui��o e nosso sentimento podem nos dar uma verdadeira percep��o sobre o que est� acontecendo. Contudo, n�o dever�amos ir fundo nessa quest�o, como muitos soci�logos fazem.

Nossa intui��o pode estar errada, ou apenas parcialmente certa. E se propomos solu��es baseadas em informa��es incorretas ou partid�rias (isto �, naquilo que pensamos que dt�z�crio ocorrer), podemos, potencialmente, fazer mais mal do que bem. De fato, podemos machucar as pessoas e criar situa��es sociais ainda mais dif�ceis para aqueles que estamos tentando ajudar. Assim, precisamos qualificar o nosso entusiasmo pela intui��o e pela informa��o, reunidas e interpretadas � luz de nossas experi�ncias reais na esfera social. N�s n�o dever�amos desprezar essa vantagem intuitiva ou suprimi-la, tampouco dever�amos reprimir nossos interesses humanistas e desejos de ajudar as pessoas e fazer um mundo melhor Mas precisamos complementar isso. Essa complementa��o surge com o reconhecimento de que a ci�ncia � o que pode mobilizar e canalizar a intui��o e os preconceitos ideol�gicos com finalidades construtivas.

Se queremos exercitar nosso humanismo � e esse motivo � o que faz a maioria de n�s se iniciarem sociologia�, precisamos ser h�beis ao reunirmos e interpretarmos informa��o sobre as situa��es que queremos mudar e sobre as pessoas que queremos ajudar. N�s tamb�m precisamos entender por que e conto as situa��es funcionam. E precisamos ser capazes de antecipar as conseq��ncias de quaisquer mudan�as que iniciamos e coletar informa��o precisa dessas mudan�as. N�s n�o podemos confiar na intui��o e em nossas ideologias pessoais nessas quest�es. N�s precisamos de teoria que tenha contrariado esfor�os para contest�-la para nos dizer como e por que as coisas funcionam, e precisamos usar essa teoria determinando o que precisa ser feito para melhorar uma situa��o. N�s tamb�m precisaremos coletar informa��o precisa e analis�-la cuidadosamente para saber exatamente o que existe numa situa��o e exatamente quais s�o as conseq��ncias de nossas a��es teoricamente concebidas.

Se n�o temos teoria, n�o temos estrutura para entender e interpretar o mundo social. Da�, n�o sabemos o que fizemos ou o que esperar. Se n�o temos m�todos, n�o podemos ter confian�a em nossas teorias, visto que elas n�o foram verificadas empiricamente, e n�o podemos saber exatamente o que precisa ser mudado numa dada situa��o. N�s podemos usar nossa familiaridade com uma situa��o e nossa intui��o criativa para fazer valer teorias importantes e desenvolver formas sistem�ticas de coletar informa��o. Mas nossa intui��o n�o pode substituir a teoria, m�todos meticulosamente constru�dos e an�lise detalhada. Por isso a ci�ncia � uma importante ferramenta para aproximar as quest�es sociais e os problemas de interesse dos humanistas.

SOCIOLOGIA CIENT�FICA E ENGENHARIA SOCIAL

Como mencionei no Cap�tulo 1, o fundador da sociologia, Auguste Comte, acreditava que uma ci�ncia da sociedade pudesse servir para melhorar uma sociedade. Ele observou que, se a sociologia podia desenvolver e provar leis te�ricas como aquelas nas ci�ncias f�sicas e biol�gicas, seria poss�vel alcan�ar um n�vel de entendimento sobre a organiza��o humana que facilitaria a constru��o de novas formas sociais. Assim, Comte viu que a ci�ncia e o humanismo n�o s�o opostos: uma vez que haja entendimento de como e por que o mundo social funciona, esse conhecimento pode ser usado para construir um mundo melhor. Em estilos inteiramente diferentes, Karl Marx e �mile Durkheim sentiam da mesma forma. Eles desejavam usar seus conhecimentos conceituais de como o mundo funciona para coustruir unta sociedade melhor.

Palavras como �construir� fazem pensar em engenharia social, em controle social, em um mundo orwelliano do �Big Brother�, em uma sociedade tecnocrata est�pida e sem vida. A engenharia � boa, muitos argumentariam, contanto que a utilizemos para construir pontes e estradas. Mas a engenharia livre do conhecimento te�rico cria coisas como bombas nucleares e outros artif�cios potencialmente prejudiciais. Esses �medos� da engenharia sao, � claro, bem fundamentados. Mas poderia ser argumentado que os usos nocivos da engenharia s�o o resultado da organiza��o em formas societ�rias que os encorajam e sustentam. Se soub�ssemos mais a respeito do universo social, ser�amos mais bem capacitados para limitar o mau uso do conhecimento. Por outro lado, entretanto, usar�amos mal o conhecimento da organiza��o social para criar coisas ainda mais monstruosas.

Essa quest�o � discut�vel. O desenvolvimento da teoria e do uso de m�todos de pesquisa vai produzir mais conhecimento sobre o funcionamento do mundo social. Esse conhecimento � at� mesmo em seu atual estado bruto � vai ser usado para a engenharia social (Hunt, 1985). N�s chamamos a engenharia social por outros nomes na sociologia �as vezes de pr�tica sociol�gica, em outras ocasi�es de sociologia cl�nica e de sociologia aplicada � visto que o t�tulo �engenharia social� tem conota��es negativas. Mas dever�amos saber o que esses t�tulos mais positivos significam: s�o esfor�os para se construir certos tipos de rela��es sociais que usam id�ias te�ricas e descobertas de pesquisa. Como toda

engenharia, ela pode ser usada para fins bons e maus � devendo �bom~~ e �mau�, � claro, ser definidos. Assim, n�o dever�amos ver a sociologia cient�fica como uma atividade misteriosa e secreta, pois na realidade est� sendo usada para mudar nossas vidas di�rias; e � prov�vel que seja usada ainda mais no futuro.

RESUMO

1.A ci�ncia � o esfor�o sistem�tico para compreen~er o universo, partindo de id�ias te�ricas que receberam s�lido apoio com pesquisas meticulosamente desenvolvidas.

2.A teoria �, definitivamente, o ve�culo para se entender o universo, e revela duas caracter�sticas distintas: (a) abstra��o e generalidade; e (b) experimenta��o/empirismo. Acumula-se conhecimento quando as teorias abstratas s�o verificadas e confirmadas.

3.A teoria na sociologia n�o � t�o bem desenvolvida como nas ci�ncias naturais. Atualmente, quatro perspectivas te�ricas gen�ricas orientam a teoria na sociologia: (a) o funcionalismo, em que o interesse � compreender como os fen�menos sociais funcionam a fim de atenderas necessidades do todo social no qual eles est�o inseridos; (b) teorias do conflito, em que a �nfase est� nos efeitos de desigualdades que produzem conflito; (c) o interacionismo, em que a aten��o est� voltada para o uso de gestos na comunica��o face a face e adapta��es de indiv�duos um para com o outro; e (d) o utilitarismo, em que a �nfase est� no c�lculo de custos-benef�cios na busca dos objetivos.

4.os dados no mundo emp�rico s�o coletados sistematicamente de acordo com os dogmas do m�todo cient�fico. Esses dogmas incluem: (a) estabelecer uma problem�tica de pesquisa; (b) formular uma hip�tese; (c) coletar dados ou promover experimentos, entrevistas e question�rios, observa��es ou levantamento hist�rico; (d) analisar os dados; e (e) tirar conclus�es com respeito � validade da teoria, pesquisa explorat�ria, ou interesses particulares de um cliente.

3.Os julgamentos preconcebidos quando os homens estudam os homens tamb�m permitem � ci�ncia social uma vantagem: temos uma familiaridade intuitiva com nossos objetos de estudo.

6.O ac�mulo de conhecimento sociol�gico ser� usado para construir e reconstruir as rela��es sociais. Tais esfor�os n�o s�o obrigatoriamente anti-humanistas; na verdade, eles podem ser feitos em nome do humanismo. Da�, a ci�ncia e o humanismo n�o serem, por defini��o, contradi t�rios.

UM MUNDO DE S�MBOLOS

Os homens, assim como outros animais, podem fazer algo surpreendente: podem representar facetas do mundo, suas experi�ncias e praticamente qualquer coisa com sinais arbitr�rios. N�s chamamos esses sinais de s�mbolos quando as pessoas chegam a um consenso quanto ao que um sinal significa e o que representa. As palavras que voc� est� agora lendo s�o sinais (marcas pretas numa p�gina) com cujo significado n�s concordamos; e da� cada palavra � um s�mbolo. Essas palavras s�o organizadas em senten�as, par�grafos e cap�tulos. Elas s�o parte de um sistema organizado de s�mbolos.

O que � verdadeiro no caso da l�ngua � verdadeiro para quase tudo o que podemos pensar. Bandeiras, cruzes, punhos fechados, franzir as sobrancelhas, livros, b�blias e pro�gramas de computador, todos s�o sinais que carregam significados combinados. Em geral, eles pertencem a sistemas de s�mbolos, pois eles invocam outros s�mbolos e significados relacionados. � atrav�s de tais sistemas de s�mbolos que lembramos do passado, tomamos conhecimento do presente e prevemos o futuro. Sem essa capacidade surpreendente, nosso mundo seria feito de impress�es banais e irrelevantes. N�s ser�amos escravizados no aqui e agora. N�o ter�amos a m�sica, a arte, a matem�tica, a piada, o juramento, a leitura, a adora��o, ou quaisquer outras coisas que n�s, como homens, aceitamos como verdade. Nossa vida seria chata e rotineira, mas n�o �saber�amos� isso, visto que ser�amos incapazes de represent�la com s�mbolos.

Podemos perceber o significado dos sistemas de s�mbolos observando as formigas e outros insetos sociais, como cupins e abelhas. N�s os chamamos de �social� porque eles sao organizados, mas eles o s�o segundo informa��es muito diferentes daquelas dos nossos sistemas de s�mbolos. As informa��es que orientam esses insetos e sua conduta est�o codificadas nos genes de seus cromossomos. Dessa forma seu lugar e fun��o na sociedade sao predeterminados e geneticamente organizados (embora todos os organismos se adaptem �s peculiaridades de seu meio ambiente).

Os sistemas de s�mbolos humanos n�o s�o geneticamente programados. Eles s�o criados no imagin�rio, usados e transformados � medida que nos defrontamos uns com os outros e com as condi��es de nosso meio ambiente. Mas, na pr�tica, eles equivalem aos c�digos gen�ticos dos insetos sociais, pois eles moldam nossas a��es e, sobretudo, nossos padr�es de organiza��o social. O conjunto desses sistemas de s�mbolos de uma popula��o humana � geralmente denominado pelos soci�logos de cultura (Kroeber e Kluckhohn, 1973; Parsons, 1951). No dia-a-dia, freq�entemente usamos o termo cultura para nos referirmos a outras coisas, como um bom vinho, um bom whisky, um tempero gostoso ou uma cerveja especial, mas isso em si n�o � cultura, e sim produtos materiais cuja exist�ncia � decorrente da cultura. Trata-se de coisas criadas simbolicamente a fim de organizar as pessoas para produzirem novas coisas. Todavia esses produtos tamb�m podem ser s�mbolos culturais em si mesmos se eles �dizem algo� sobre n�s aos outros. Ent�o, servir uma cerveja especial e n�o uma marca qualquer pode significar algo, ainda que de maneira sutil, em sua rela��o com os outros, assim como dirigir um autom�vel Mercedes-Benz, Lexus ou BMW. Dessa forma, os produtos culturais (que resultam de s�mbolos culturais, quando eles organizam a produ��o) podem se tornar s�mbolos e influenciar o comportamento, a intera��o e a organiza��o entre as pessoas.

Eu devo, agora, acrescentar uma observa��o de advert�ncia e qualifica��o: essa �nfase na cultura como sistemas de simbolos n�o � universalmente aceita. H� muitas defini��es diversas de cultura (Kroeber e Kluckhohn, 1973), e alguns querem ver a cultura como a soma total de todas as cria��es humanas (Singer, 1968): s�mbolos, artefatos materiais e formas de organiza��o. Quando essa defini��o mais global � usada, ent�o uma distin��o entre a cultura material (artefatos f�sicos) e a cultura n�o-material (sistemas de s�mbolos e modos de comportamento) � �s vezes formulada. Entretanto, empregarei um uso mais restrito, mas � importante estar consciente de que n�o h� uma defini��o �n�ca da cultura nas ci�ncias sociais (Gilmore, 1992).

Assim, o ponto de vista enfatizado aqui salienta o fato de que nosso mundo �constru�do e mediado por s�mbolos. Praticamente tudo o que experimentamos, fazemos, desejamos e vemos est� preso a s�mbolos. Assim, entender a n�s mesmos e o mundo social mais amplo requer um conhecimento maior da cultura. N�s precisamos reconhecer que os simbolos estruturam nosso mundo, embora em menor medida do que no caso das formigas, das abelhas e dos cupins geneticamente pr�-programados. Em resumo, n�o dever�amos subestimar o poder dos simbolos culturais para ditar nossas percep��es, nossos conhecimentos e nossos comportamentos, tampouco dever�amos superestimar seu poder Os homens os criam e podem recri�-los � medida que transformam suas rela��es uns com os outros quando reorganizam seus mundos sociais ou quando lidam com novas condi��es ambientais.

Essa perspectiva pode oferecer subs�dios para uma certa compreens�o da cultura brasileira. Se analisarmos a sociedade brasileira, podemos perceber as transforma��es dos �ltimos cinq�enta anos. Entretanto, ainda estamos saindo da cultura de favores marcada por tra�os autorit�rios, em que predominam o coronelismo e o populismo, para uma cultura de direitos, com �nfase nos valores da cidade e da democracia. Souza Neto (1993) destaca a trajet�ria dessas mudan�as sociais nas conquistas das crian�as e dos adolescentes no Brasil e no mundo.

S�MBOLOS E SOCIEDADE

De certo modo, a cultura e seus produtos s�o simples recursos que nos possibilitam fazer as coisas. Sem a linguagem, nossa comunica��o � limitada. Sem a tecnologia (informa��o sobre como manipular o meio ambiente) n�o poder�amos comer e nos abrigar. Os simbolos, ent�o, intermedeiam nossa adapta��o ao meio ambiente, nossa intera��o com os outros, nossa interpreta��o de viv�ncias e nossa pr�pria organiza��o em grupos.

Entretanto, os simbolos s�o mais que uma intermedia��o conveniente. Tamb�m nos dizem o que fazer, pensar e perceber Parafraseando Marshall McCluhan, nossa media��o simb�lica tamb�m carrega uma mensagem, ou um conjunto de instru��es. Como vimos, eles n�o nos acorrentam da mesma forma que a informa��o nos genes das formigas, abelhas e cupins, mas realmente limitam nossas op��es. At� mesmo um recurso simb�lico aparentemente neutro como a l�ngua carrega uma mensagem escondida (Hall, 1959). Por exemplo, a l�ngua dos norte-americanos nativos Hopi difere do ingl�s no sentido em que trata a no��o de tempo (Carroll, 1956). Em ingl�s, �tempo�� um substantivo, que significa que pode ser modificado � morto, economizado, gasto, perdido, desperdi�ado. (Por exemplo, voc� pode estar passando �tempos dif�ceis� lendo meu livro, ou voc� pode considerar tudo isso �um desperd�cio de tempo�. Mas para os Hopi, �tempo�� um verbo e como tal n�o pode ser modificado ou manipulado como um substantivo; o tempo simplesmente flui e os homens seguem esse caminho. (Um Hopi provavelmente reclamaria menos deste livro.) Assim, as respectivas opini�es da pessoa que fala hopi ou ingl�s variar�o, assim como seus comportamentos e estruturas da organiza��o social. No caso brasileiro temos a palavra �saudade�, que n�o encontra uma tradu��o perfeita em outras l�nguas. A cultura, ent�o, �raramente um recurso neutro. A cultura � uma restri��o, e � esse aspecto coercitivo da cultura que mais interessa aos soci�logos.

Os soci�logos estudam a cultura examinando como os sistemas simb�licos limitam a intera��o e a organiza��o humana, e, por sua vez, como os modos de organiza��o social funcionam para criar, sustentar ou transformar a cultura (Kroeber e Parsons, 1958). N�s n�o nos interessamos por todos os sistemas simb�licos, apenas por aqueles que s�o relevantes aos interesses da sociologia. Ou seja, estamos interessados nos simbolos que influenciam nossa vis�o das coisas, nossas a��es no mundo, nossas intera��es com os outros e coordenam nossas a��es e comportamentos sociais.

SISTEMAS DE S�MBOLOS

Os simbolos s�o organizados dentro de sistemas que os tornam bastante complexos. Embora haja uma enorme diversidade nos sistemas de simbolos e entre as popula��es humanas, estes sistemas s�o de diversos tipos b�sicos.

Sistemas de Linguagem

Um primeiro tipo � o sistema de c�digos de linguagem que pode classificar desde palavras faladas e as palavras escritas nesta p�gina at� complexas representa��es matem�ticas e algoritmos de computador. Os tipos b�sicos de c�digos de linguagem de uma popula��o influenciam amplamente sua organiza��o. Por exemplo, se uma popula��o tem apenas a l�ngua falada, seus modos de organiza��o ser�o limitados, ao passo que, se essa popula��o pode desenvolver tamb�m uma l�ngua escrita, pode armazenar informa��o de forma eficaz, conseq�entemente, elaborar outros modos de organiza��o social. E, se novas linguagens �matem�tica, l�gica, algoritmos de computador e outros c�digos simb�licos � podem ser desenvolvidas, as possibilidades de adapta��o dessa popula��o ao seu meio ambiente podem aumentar, e a natureza das rela��es sociais de seus membros e seus modos de organiza��o social ser�o fortemente alterados. Pense, por exemplo, no que a linguagem de inform�tica tem feito para a velocidade, propor��o e dist�ncia das rela��es do mundo moderno, e voc� pode ver o poder da linguagem para transformar a sociedade.

Sistemas de Tecnologia

Outro sistema cultural b�sico � a tecnologia, ou a organiza��o de informa��o e conhecimento sobre como controlar e transformar o meio ambiente. Se colher frutos e ca�ar animais e o armazenamente b�sico de informa��o de uma popula��o � como foi durante 30.00(1 dos 411.000 anos de nossa esp�cie �, a organiza��o social e a adapta��o ao meio ambiente ser�o limitadas (embora devesse ser enfatizado que as sociedades de ca�a e coleta poderiam ter sido menos estressadas e mais contentes com suas vidas do que as sociedades �modernas�). Como a tecnologia se expande, expandem-se as propor��es das sociedades:

podemos produzir mais, ficar maiores e mais complexos. Assim, a tecnologia � uma das for�as motrizes da organiza��o humana, age como uma jamanta cultural, transformando nossos modos de vida, nossos relacionamentos com os outros e nossas formas de organiza��o social (Lenski, 1966; Lenski, Lenski, e Nolan, 1991). De fato, quase todo aspecto de sua vida di�ria � sua roupa, seu transporte, seus planos de vida, suas percep��es, suas aspira��es, seus modos de comunica��o � est� circunscrito pelos produtos oriundos de novos conhecimentos ou tecnologia. De fato, nem podemos imaginar a vida sem telefone, televis�o, carro, apartamento, roupas f�ceis de passar, redes de inform�tica, conversa por e-mail, CD�s, e assim por diante. Se as rela��es pessoais se perdem nessa �dan�a� tecnol�gica, n�o dever�amos nos surpreender.

Sistemas de Valores

Os homens sempre defendem id�ias do que � bom ou ruim, adequado ou inadequado, e indispens�vel ou dispens�vel. Essas id�ias s�o valores; e quando elas s�o organizadas dentro de um sistema de padr�es ou crit�rios para avaliar o valor moral e adequa��o do comportamento, elas constituem um sistema de valores (Willians, 1970; Rokeach, 1973, 1979).

Os valores possuem um aspecto especial: eles s�o abstratos dentro de sua generalidade de aplica��es. Eles podem servir a muitas situa��es diversas (Kluckhohn, 1951). Sem esta qualidade abstrata, que nos permite adequar os valores a situa��es espec�ficas, as pessoas teriam dificuldade de se comunicar e relacionar-se, porque elas n�o teriam qualquer padr�o moral comum para avaliar as a��es dos outros bem como suas pr�prias. Imagine uma conversa entre dois indiv�duos que defendem conjuntos de valores bem diferentes. Eles n�o concordariam no que deveria ocorrer, o que seria justo, e o que seria um comportamento adequado. O que � not�vel na maioria das popula��es humanas � o fato de terem, no m�nimo, algum consenso sobre os valores. Esse consenso � raramente perfeito, devo advertir, pois uma das mais interessantes din�micas de uma sociedade � o conflito sobre os valores. Mas uma sociedade sem um m�nimo de consenso de valor seria caracterizada pelo conflito e tens�o. � impressionante que numa sociedade t�o grande como a brasileira ou a dos Estados Unidos, espalhada sobre uma imensa �rea geogr�fica, haja algum acordo sobre o que � bom, ruim, adequado e inadequado. Em grande parte, esse consenso geral sobre os valores � o que nos faz tipicamente �brasileiros�, e o que nos possibilita como indiv�duos nos adaptarmos dentro e fora de novas situa��es sem grande tens�o. Quando partilhamos valores b�sicos, podemos interagir, embora possamos discordar em muitas coisas.

Quais s�o alguns dos valores comuns (Williams, 1970)? No Brasil ou na Am�rica, concordamos com valores como �xito (fazer bem, tentar fazer bem), �atua��o� (tentar dominar e controlar situa��es), liberdade (n�o ter limites na busca de nossos sonhos), progresso (aprimorar n�s mesmos e o mundo ao nosso redor), materialismo (adquirir objetos materiais, criteriosamente, � claro) e efici�ncia (fazer as coisas de maneira racional e pr�tica).

Essas id�ias, assim como outras, n�s partilhamos e elas nos servem como padr�es morais para avaliar n�s mesmos e os outros nas situa��es mais concretas. N�s n�o concordamos com todos esses valores; de fato, algumas pessoas rejeitam todos eles. Mas h� um grau surpreendente de consenso sobre eles dentre a maioria das pessoas. Enquanto voc� e eu poder�amos, por exemplo, atribuir a esses valores prioridades diferentes, n�s provavelmente concordamos sobre eles de maneira geral. Como conseq��ncia, podemos interagir sem grandes dificuldades.

Com a mesma relev�ncia, o todo social e seus elementos � economia, sistema pol�tico, sistema educacional, padr�es de coletividade, e assim por diante � s�o influenciados por esses valores. Dessa forma, h� alguma �cola� para manter a sociedade junta e lhe dar algum grau de coes�o.

Os valores operam, � claro, nos indiv�duos quando eles tomam decis�es de se comportar de certas maneiras. Por exemplo, um aluno norte-americano ao ler este livro �orientado pelos valores centrais de sua sociedade: �atua��o� (dominarei este livro), �xito (terei �xito em compreend�-lo), progresso e materialismo (tenho de conseguir um diploma que me certifique como qualificado para um bom emprego) e efici�ncia (n�o vou desperdi�ar tempo relendo). Todos esses valores orientam a conduta do aluno num sistema educacional organizado em torno dessas premissas morais. Al�m disso, o ingresso na escola marcou uma aceita��o impl�cita desses valores pelos alunos e desejo de perpetuar o sistema educacional organizado em torno da �atua��o�, do �xito, do individualismo e do materialismo. O que vale para a escola tamb�m vale para quase todas as situa��es. Uma das facetas dos valores de um sistema de valores � orientar as percep��es e a conduta dos indiv�duos na sociedade.

Uma perspectiva funcionalista enfatiza as amplia��es de um sistema de valores nas a��es e motiva��es das pessoas na sociedade. Se pensarmos na an�lise de �mile Durkheim sobre a consci�ncia coletiva e sua fun��o integrantes para a sociedade, podemos ver que o consenso sobre os valores � crucial. H� um grande m�rito em analisar as fun��es dos valores, como Durkheim fez h� muito tempo e como fiz aqui, mas n�o devemos nos esquecer de que os valores podem ser uma fonte de desintegra��o numa sociedade. Quando segmentos de uma popula��o defendem valores distintos, ou, como discutirei brevemente, cren�as diferentes, a cena est� pronta para o conflito. As pessoas discordar�o sobre seus padr�es morais, sem contudo abandon�-los, pois eles s�o muito estimados. A teoria do conflito enfatizaria esse aspecto da vida social e, ainda, real�aria que os valores s�o instrumentos para os mais privilegiados que t�m poder para definir quais valores as pessoas deveriam defender. Eu voltarei a esse ponto mais tarde, mas � importante t�-lo em mente.

Sistemas de Cren�as

Ainda outro tipo de sistema de s�mbolo gira em torno das cren�as, que s�o as cogni��es e as id�ias das pessoas em determinadas situa��es � educa��o, trabalho, fam�lia, amizades, pol�tica, religi�o, vizinhan�a, esporte, lazer e todos os tipos b�sicos de situa��es sociais numa sociedade (Turner e Starnes, 1976). Algumas cren�as representam a aplica��o de valores b�sicos de situa��es espec�ficas. Numa faculdade ou universidade, por exemplo, os alunos deveriam obter boas notas (�xito), trabalhar arduamente (�atua��o�, efici�ncia),

evoluir nos conhecimentos (progresso). Quase todas as situa��es � trabalho, divers�o, amizades, esporte etc. � envolvem cren�as que nascem da aplica��o desses e outros valores comuns. At� mesmo num relacionamento pessoal imaginamos qu�o �bem estamos fazendo� (�xito), se estamos progredindo no relacionamento (progresso) e o que precisamos �fazer para melhor�-lo� (�atua��o�). Dependendo do tipo de relacionamento � namoro, relacionamento filial, coleguismo, amizade � aplicam-se cren�as bastante diferentes, mas todas elas invocam as mesmas premissas de valor Fazendo isso, elas nos orientam e nos deixam confiantes de que estamos fazendo a coisa certa.

Outras cren�as s�o, aparentemente, mais concretas. Elas s�o id�ias que defendemos sobre �o que � e o que existe� numa situa��o. �Sabendo o que existe� nos sentimos confiantes para enfrentar determinada situa��o e agir nela. Tamb�m defendemos cren�as sobre situa��es que n�o vivemos, que ainda temos que viver, ou que jamais vivemos �trabalho, casamento, velhice, pobreza, e outras situa��es distantes. Membros de uma popula��o podem ser vistos como �ligados� nos mundos sociais uns dos outros dessa forma. Possuindo as cren�as de outros cen�rios e contextos sociais, n�s vicarialmente sabemos sobre� esses cen�rios e podemos potencialmente �agir� neles. Por esta raz�o, novas situa��es n�o s�o totalmente desconhecidas. Temos valores comuns e algumas cren�as para nos orientar quando inicialmente nos atrapalhamos.

Entretanto, nossas cren�as concretas n�o s�o sempre precisas. Elas s�o muito influenciadas por valores e outras cren�as sobre o que deveria ocorrer ou existir numa determinada situa��o. Mas estamos convencidos de que realmente conhecemos outros contextos sociais, sentimos um companheirismo vic�rio com os outros e a sensa��o de que poderiamos operar nesses outros contextos. Por exemplo, a maioria dos norte-americanos acredita que h� oportunidades de emprego para qualquer um que realmente queira trabalhar e que muitos benefici�rios da previd�ncia social s�o pregui�osos e deturpam sua necessidade (Kluegen e Smith, 1986; Smith, 1985). Essa cren�a invoca valores como �atua��o�, �xito, progresso e efici�ncia para o mundo do trabalho e do bem-estar Tamb�m cont�m alguns dados supostamente neutros: h� muitos empregos l� fora e muitas pessoas demasiadamente pregui�osas para peg�-los. E carrega uma presun��o: se eu estivesse pobre e sem trabalho, eu pegaria qualquer emprego e preservaria minha dignidade. Assim, sentimo-nos conhecedores de um mundo que, na realidade, � prov�vel que n�o vivamos. Mas os �dados� nessas cren�as podem estar errados: a maioria das pessoas inscritas na previd�ncia social n�o podem trabalhar � elas s�o velhas demais, incapazes demais e doentes demais, e praticamente metade delas trabalham per�odo integral ou foram despedidas (1. Tumer, 1993b); assim, os �dados� mais precisos s�o que a economia n�o tem empregos suficientes para todos os cidad�os e que os sal�rios para muitos empregos n�o s�o suficientemente altos para manter as pessoas fora da pobreza (Beeghley, 1983; Ropers, 1991). Portanto, nossas cren�as sobre o que realmente existe e ocorre podem ser influenciadas pelos nossos julgamentos de valor. Isso n�o � ruim; � inevit�vel em quest�es humanas.

De fato surgiu, na sociedade moderna, uma verdadeira ind�stria para apurar as a��es e as ?pini�es p�blicas � que s�o, na ess�ncia, express�es de cren�as. A ind�stria da opini�o publica vai alem das apura��es de elei��o e levantamentos de opini�o gerais, como fazem os institutos Gallup e Harris; ela tamb�m envolve as pesquisas de mercado. A percep��o de que o comportamento das pessoas � desde a hora de votar para presidente at� comprar um produto � � influenciado por suas atitudes, que, por sua vez, s�o moldadas por seus valores e cren�as comuns, mudou amplamente a maneira de os pol�ticos concorrerem � elei��o, assim como a maneira de as empresas negociarem.

No Brasil, at� h� pouco tempo, a classe dominante brasileira e mesmo a classe dominada acreditava que a pobreza era de responsabilidade exclusiva do indiv�duo. O pobre era naturalmente um �vadio�. Essa cren�a fez com que a pobreza no Brasil fosse tratada como uma quest�o de policia e n�o de pol�ticas sociais.

Sistemas Normativos

Valores e cren�as s�o gen�ricos demais para regular e orientar o comportamento de maneira precisa; eles nos d�o apenas uma vis�o e perspectiva comuns, habilitando-nos aos comportamentos gerais (Blake e Davis, 1964). Mas eles n�o nos dizem precisamente o que fazer. As normas compensam essa defici�ncia dos outros sistemas, informando-nos o que �esperado e apropriado numa situa��o especifica. Imagine-se vir � aula sem conhecer as �regras� e as expectativas para o comportamento de um aluno. Voc� � mobilizado a alcan�ar sua metas com �xito, a ser ativo e progredir intelectualmente, mas voc� n�o sabe o que fazer � onde sentar, como agir, o que fazer com suas m�os, pemas, boca e intelecto. Isso pode ser dificil de imaginar se voc� n�o conhece bem as regras gerais do comportamento escolar Na realidade, se nunca esteve numa sala de aula, se nunca teve seus pr�prios livros e se nunca assistiu a uma aula de faculdade, essa nova situa��o pode lhe parecer desconfort�vel. De fato, voc� pode se encontrar observando como os outros se sentam na sala de aula e como tomam notas. Assim, pode-se conhecer as normas gerais elementares de determinadas situa��es � o que alguns soci�logos chamam de normas institucionais �, mas cada pessoa deve aprender normas complementares para adequar o comportamento num ambiente especial.

Do ponto de vista do interacionismo, esse processo de descoberta � muito complexo e sutil. Se n�o conhecemos os aspectos relevantes da cultura que se aplicam a determinada situa��o, tornamo-nos intensamente �desafinados� �s a��es e gestos dos outros. N�s lemos esses gestos, buscando nos conectar aos mecanismos intelectuais que os produzem num esfor�o de aprender como nos comportar. Geralmente j� possu�mos valores, cren�as e normas importantes, mas nosso conhecimento � deficiente no que concerne � proemin�ncia de cada uma delas, e podemos at� ser ignorantes em rela��o a normas e cren�as relevantes. Nossos erros nos entregam, e experimentamos as san��es e desaprova��o dos outros; conseq�entemente nos tornamos desafinados com os gestos dos outros. Ou ent�o, sabendo de antem�o da nossa ignor�ncia, podemos agir experimentalmente prestando aten��o a movimentos, palavras e gestos de outros, evitando os erros. Uma vez que damos um sentido aos simbolos culturais relevantes, os processos de intera��o sustentam esses simbolos ao mesmo tempo que os reafirmam, refor�ando-os. Cada um de n�s se comporta de modo adequado; tais comportamentos refor�am os valores, cren�as e normas; e, quando estes s�o refor�ados, eles ganham poder para limitar o comportamento. Atos de desvio realmente ocorrem e quebram esse �ciclo de refor�o�, ou de afirma��o, mas geralmente tentamos trazer o desviante de volta ao ciclo, sustentando-o. Dessa forma � que a cultura � sustentada pelas microa��es interpessoais dos indiv�duos.

As normas variam desde as institucionais, que s�o concep��es gerais para o comportamento nas esferas sociais b�sicas (trabalho, escola, amizades, casa etc.) �s mais especificas, que nos dizem precisamente como atuar num ambiente concreto. Todos temos conhecimento das normas institucionais mais importantes, e conseq�entemente podemos entrar em novas situa��es com alguma orienta��o. Uma vez l�, podemos aprender as normas complementares, atrav�s da leitura de gestos dos outros. N�s devemos tamb�m aprender como criar novas normas em algumas situa��es quando interagimos com os outros, e esse processo pode tornar-se muito dif�cil, especialmente se as pessoas defendem diferentes cren�as e invocam varia��es de normas que se contradizem. Quando as pessoas se casam, por exemplo, elas geralmente precisam negociar novos acordos sobre como elas v�o comportar-se, porque as opini�es sobre o papel dos homens e das mulheres est�o sofrendo transforma��es e as normas sobre as atividades da esposa e do marido podem diferir enormemente. � luz desse fato, n�o � surpreendente que a taxa de div�rcio nos Estados Unidos seja mais alta no primeiro ano de casamento (Collins e Coltrane, 1991). A maioria dos rec�m-casados possuem cren�as extremamente rom�nticas, conhecem apenas as normas institucionais gerais sobre o casamento, e se ap�iam no exemplo dos casamentos de seus pais e de seus amigos para orientar suas rela��es. Por�m, para sua realiza��o, o casamento exige outras normas, sem as quais fracassa.

Dessa forma, em sociedades modernas algumas situa��es exigem de n�s o improviso e o desenvolvimento de acordos normativos � medida que avan�amos. Outras, tal como um emprego de linha de montagem, s�o altamente limitadas, mas mesmo aqui as pessoas desenvolvem acordos normativos sobre como devem trabalhar no emprego. Muito de nossa vida social consiste de nosso aprendizado, harmoniza��o, cria��o e renegocia��o de normas. Isso � particularmente verdade nas sociedades moderna5, onde a mudan�a social constante nos for�a a viver situa��es sempre novas.

Estoques de C�ouhecimento

Ao lado da linguagem, da tecnologia, valores, cren�as e sistemas normativos, as pessoas possuem, de forma mais livre e impl�cita, estoques de informa��o. O soci�logo alem�o, Alfred Schultz (1932), criou a frase �estoques de conhecimento � disposi��o� para descrever os cat�logos de informa��o que 05 indiv�duos podem dispor para se adaptar �s situa��es. Por exemplo, um aluno que entra na taculdade possui estoques de conhecimento in�til sobre as escolas, salas de aula, hierarquias, ocasi�es formais e informais, aulas e discursos ambientes e maneiras apropriadas para conversas. Estes estoques de conhecimento s�o usados para guiar a conduta de um aluno nas primeiras aulas e encontros, enquanto as normas mais indicadas para cada situa��o nova s�o aprendidas.

Assim, cada um de n�s tem um estoque de conhecimento, moldado pelas experiencias vividas. Usamos esses estoques para nos guiar nas situa��es; e, quando as pessoas partilham estoques semelhantes de informa��o, elas podem construir uma vis�o comum de uma situa��o. At� mesmo quando n�o falamos a mesma l�ngua isso � poss�vel; algu�m que viajou para um pa�s estrangeiro pode comprovar como, pelos gestos, podemos freq�entemente consegui ir que os estrangeiros tirem de seus estoques de conheci mcii ti) informa��es p rox~ mas

�s nossas, especialmente com respeito �s situa��es comuns. Essa capacidade de usar esses sistemas impl�citos de s�mbolos d� aos homens uma enorme flexibilidade em sua adapta��o a novas situa��es.

Parte da cultura, ent�o, � uma �inteligibilidade� silenciosa que � extra�da constantemente, quando nos adaptamos um ao outro, �s normas e a outros aspectos das situa��es. Se pud�ssemos catalogar os valores, cren�as e normas, ser�amos inflex�veis, como rob�s; e se algo novo surgisse fora da nossa �programa��o� n�o saber�amos o que fazer Mas podemos nos adaptar �s nuan�a porque todos n�s possu�mos vastos armaz�ns ou estoques de conhecimento que podem ser utilizados.

Para sintetizar, podemos afirmar que a organiza��o da sociedade humana e extremamente facilitada por simbolos culturais. Opostamente, os s�mbolos culturais s�o criados, sustentados ou transformados pela intera��o social. De fato, os te�ricos do funcionalismo argumentam (Parsons, 1951, Alexander, 1985) que a integra��o da sociedade n�o pode ocorrer sem sistemas de s�mbolos comuns. A cultura assim preenche uma necessidade b�sica da sociedade. E, como os interacionistas enfatizam, esses sistemas de simbolos s�o sustentados pela leitura detalhada dos gestos uns dos outros. Os simbolos mais importantes para entender nossas a��es e modos de organiza��o s�o os sistemas de linguagem, de tecnologia, de valores, de cren�as, de normas e de armazenagem de conhecimento. Esses s�o os equivalentes funcionais dos c�digos gen�ticos dos insetos sociais, mas com uma grande diferen�a: eles podem ser transformados e usados para criar novas formas sociais. Se todos n�s n�o particip�ssemos de uma cultura comum, estar�amos nos chocando uns com os outros, insultando nossos amigos e, contrariamente, fazendo a coisa errada. Na realidade, n�o somos insetos, e, visto que nosso comportamento n�o est� geneticamente codificado, h� muito espa�o para a m� informa��o, informa��o inadequada, informa��o conflitante e informa��o mutante. Assim, a sociedade n�o � como uma colmeia bem organizada ou uni monte de formiga porque n�s nos organizamos com c�digos culturais, opostos aos gen�ticos. E nos simbolos culturais h� um grande potencial para a ambig�idade, diverg�ncia e conflito.

VARIA��ES CULTURAIS

Os homens criam sistemas de s�mbolos culturais porque precisam deles. Eles sao desenvolvidos para facilitar a intera��o e a organiza��o, como argumentam os te�ricos do funcionalismo. E, porque as pessoas vivem e agem em diverso meio ambiente, a cultura naturalmente tamb�m se diferenciar�. E, como enfatizaria a teoria do conflito, as varia��es culturais s�o uma fonte de constantes contradi��es e tens�o numa sociedade. Exatamente como as l�nguas, outros sistemas culturais tamb�m diferem, tais como a tecnologia, os valores, as cren�as, as normas e os repert�rios de conhecimento. Esse fato tem enormes implica��es. Deixe-me revisar algumas delas.

Cultura ou os sistemas de s�mbolos

que os homens usam para orientar

seu comportamento

Intera��es ou adapta��es em micro-n�vel que as pessoas produzem nos contatos face a face

Figura 3.1 As inter-rela��es entre estrutura social e cultura.

Estrutura social ou os padr�es relativamente est�veis de rela��es de que os homens disp�em para organizar a vida social

Os s�mbolos regulam a intera��o e estrutura social, mas o contr�rio n�o � verdadeiro:

as pessoas vivem em um sociedade din�mica e criam cultura em suas inter-rela��es di�rias; e modos de rela��es sociais nas estruturas de sociedade (tais como economia, pol�tica, desigualdade, fam�lia etc.) podem gerar press�es para o surgimento de novos sistemas de simbolos. Sem este ciclo de refor�o m�tuo, a sociedade humana n�o se sustentaria, e ter�amos muita dificuldade de saber como se comportar e como interagir um com o outro.

Conflito Cultural

Os sistemas culturais como os valores e cren�as s�o um conjunto �de lentes� ou um prisma colorido atrav�s do qual vemos o mundo. Nossas percep��es s�o t�o influenciadas pela cultura, que percebemos algumas coisas mas ficamos inconscientes quanto a outras. E por isso que a ci�ncia foi criada como um esfor�o consciente para a redu��o dos preconceitos inerentes de cada cultura. A ci�ncia � um tipo de sistema de cren�a e, como outros aspectos da cultura, surgiu para lidar com os problemas humanos. No caso da ci�ncia, o desejo de coletar informa��o precisa e verificar as id�ias empiricamente levou ao desenvolvimento da cren�a de que o conhecimento � gerado por teorias que s�o constantemente verificadas com dados sistematicamente coletados. lnicialmente, as cren�as sobre a ci�ncia, e mais tarde o desenvolvimento de normas de comportamento para os cientistas, encontraram grande resist�ncia por parte de outros tipos de sistemas de cren�as � religi�o, filosofia e ideologia, para citar apenas as mais importantes. E alguns destes ainda v�em a ci�ncia com grande antipatia. Tal antipatia pode criar conflitos culturais entre indiv�duos que concomitantemente mant�m um n�mero de cren�as diferentes, assim como conflitos maiores entre grupos de indiv�duos que aderem a diferentes cren�as. Os fundamentalistas religiosos questionam a ci�ncia quando suas conclus�es violam seus dogmas. Marxistas, de direita ou de centro, geralmente se recusam a aceitar o conhecimento cientificamente fundamentado. At� mesmo nos Estados Unidos, onde a ci�ncia � uma cren�a cultural dominante, o conflito vem � tona quando quest�es com forte fator emocional, como o ensinamento da evolu��o darwiniana no lugar da Cria��o divina, s�o debatidas.

Quando as diferen�as nas cren�as culturais se tornam a base da organiza��o pol�tica e da a��o, conflitos culturais tornam-se mais intensos. Por exemplo, o conflito atual sobre

o aborto envolve n�o apenas o desacordo entre as cren�as sobre maternidade, vida e concep��o mas um verdadeiro combate entre v�rios grupos organizados (Luker, 1984). Tais conflitos s�o dif�ceis de resolver porque as cren�as dos �combatentes� s�o muito diferentes e energicamente defendidas. Conflitos semelhantes ocorreram in�meras vezes nos Estados Unidos e em todas as sociedades complexas em que o consenso absoluto sobre os simbolos � simplesmente imposs�vel.

Subculturas

Diferentes subgrupos no interior de uma sociedade geralmente possuem cren�as de alguma forma diferentes e �s vezes at� mesmo valores diferentes. Esses mundos culturais diferentes s�o constru�dos e sustentados pela intera��o face a face, como diriam os te�ricos do interacionismo; pois pessoas em intera��o freq�ente desenvolvem sistemas de s�mholos comuns para dar significado a suas experi�ncias. E assim, atrav�s da intera��o, as pessoas de diferentes subculturas desenvolvem diferentes normas, padr�es de discurso, gestos e express�es corporais. Por exemplo, trabalhadores com contratos tempor�rios existem num mundo cultural de alguma forma diferente do que os trabalhadores com garantia de emprego, assim como os negros e brancos, os hisp�nicos e anglo-sax�nicos, ricos e pobres, executivos e oper�rios, professores e alunos. Esses subgrupos podem ser denominados de subculturas porque seus membros veem o mundo atrav�s de lentes simb�licas de alguma forma diferente, e de alguma forma se comportam diferentemente; e geralmente essas diferen�as causam conflito, especialmente quando a elas se aliam diferen�as de poder, riqueza, bem-estar e outros recursos valorizados numa sociedade. Na realidade, todos nos nos relacionamos porque partilhamos minimamente da mesma cultura. Mas nossas rela��es s�o geralmente limitadas porque reconhecemos nossas diferen�as e tentamos minimiza�las atrav�s de intera��es padronizadas e ritualizadas. E, � claro, �s vezes essas diferen�as nas crencas e normas v�m � tona quando o conflito j� est� declarado � e ent�o nenhum esfor�o pode nos salvar de enfrentarmos nossas diferen�as.

Como a teoria marxista e outros estudiosos do conflito demonstraram, algumas suhculturas possuem mais poder e recursos materiais do que outras. C)s ricos, os detentores de poder pol�tico, e osgrandes empres�rios, por exemplo, est�o mais aptos para impor suas cren�as e definir as normas para aquelas suhculturas sem riqueza, poder pol�tico ou poder econ�mico (Mills, 1959). Saber �o quanto� eles podem influenciar � um assunto de intenso debate (Alford e Friedland, 1985), mas quase n�o h� d�vida de que os valores b�sicos, as cren�as elementares e varias normas institucionais tenham sido mais influenciados por aqueles com riqueza e poder, do que por aqueles sem riqueza e poder (l3ourdieu, 1984). �s vezes, essa influ�ncia desproporcional � ressentida pelos mais fracos, e surge o conflito. Por exemplo, as mulheres, os negros norte-americanos, os homossexuais, e outras subculturas na Am�rica do Norte, pressionaram pela redefini��o de cren�as e normas sobre pap�is na sociedade, cultura branca anglo-sax�nica e sexualidade, respectivamente. De fato, muito da campanha presidencial de 1992 girou em torno de uma defesa das antigas tradi��es culturais por aqueles que est�o satisfeitos com o status quo de um lado, e a introdu��o de novos sistemas de s�mbolos por aqueles que, por outro lado, est�o cansados de ser culturalmente dominados. Tais conflitos s�o inevit�veis numa sociedade com muitas subculturas distintas.

A cultura hegem�nica brasileira concebe a cultura das classes populares ou subalternas como inferior. Essa �tica ganha visibilidade quando observamos as rela��es cotidianas das chamadas �minorias�, como � o caso da mulher, da crian�a, do idoso, do nordestino, do �ndio, do homem que vive na rua, que s�o tratados como coisas. Isso contraria o pressuposto de que a cultura � a forma de ser de um povo, de um grupo, e que sua desvaloriza��o � a desvaloriza��o da pr�pria pessoa.

Contradi��es Culturais

N�o apenas os subgrupos podem possuir cren�as culturais diferentes e outros s�mbolos, mas os componentes culturais podem eles pr�prios ser de alguma forma incoerentes e contradit�rios. N�s em geral possu�mos valores, cren�as e normas incoerentes; e como conseq��ncia experimentamos as contradi��es culturais. Felizmente, a intelig�ncia humana permite apaziguar, ainda que receosamente, muito dessa incoer�ncia. Assim, os bi�logos podem aderir ao darwinismo quando pesquisam e podem acreditar na Cria��o em seu dia-a-dia; os brancos podem acreditar na igualdade e liberdade enquanto possuem estere�tipos discriminat�rios sobre os negros; os alunos podem acreditar no aprendizado e ainda colar nas provas; e os professores podem acreditar numa busca imparcial pela verdade e odiar aqueies cuja pesquisa contradiz a sua pr�pria. Mas h� limites para essas �gin�sticas da intelig�ncia�. Incoer�ncia demais pode criar um problema para o indiv�duo e, se muitas pessoas numa sociedade enfrentam contradi��es culturais, patologias pessoais surgem e se espalham pela sociedade. Ou contradi��es culturais podem levar as pessoas a mudar a sociedade, como foi o caso nos dias que precederam � guerra civil norte-americana, quando os abolicionistas reagiram contra as cren�as das pessoas que afirmavam tanto que �todos os homens s�o iguais� (as mulheres tamb�m, esperemos) quanto que a escravid�o era aceit�vel. Assim, importantes contradi��es nos valores, cren�as e normas geralmente criam dist�rbio tanto pessoal como social. Eles san a ess�ncia da mudan�a e reorganiza��o numa sociedade.

Etnocen trism o

Finalmente, todos os sistemas culturais fazem com que as pessoas vivam numa sociedade etnoc�ntrica � isto �, os indiv�duos tendem a ver seu sistema de \alores, cren�as e normas como melhores do que os dos outros. Esse etnocentrismo leva � intoler�ncia, e a intolerancia leva, por sua vez, ao conflito e as tensoes.

Assim a crenca dos Estados Unidos em sua superioridade moral pode lev�-los a interferir nas quest�es das outras na��es cujos caminhos s�o, sob uma vis�o etnoc�ntrica, inferiores. V�rias outras sociedades fizeram isso, e portanto nz~o dever�amos nos punir. O etnocentrismo tamb�m existe no interior de uma sociedade: membros de certas suhculturas podem ver como interiores os de outras .suhculturas, e isso tamb�m pode levar ao conflito.

Observando praticamente qualquer campus universit�rio nos Estados Unidos, o etnocentrismo � imediatamente evidente. O esfor�o para aumentar o interc�mbio cultural, a conviv�ncia, a mistura �tnica entre alunos, trouxe aos indiv�duos, de uma forma ou de outra, normas e cren�as diferentes e com diferen�as de comportamentos. Cada subcultura

� afro-americanos, hispano-americanos, de origem anglo-sax�nica, americanos brancos e naturalizados, americanos de origem asi�tica, de classe m�dia, da classe trabalhadora e assim por diante � v� a outra com desconfian�a e aplica os padr�es de sua subcultura ao avaliar os outros. Esse etnocentrismo � claro, agravado pelo dom�nio dos brancos de classe m�dia e valores anglo-sax�nicos, suas cren�as e normas, na maioria das faculdades norte-americanas, pois membros de outras subculturas devem constantemente se confrontar com o dom�nio de muitos s�mbolos culturais diferentes de seus pr�prios.

Um dos desafios da era da globaliza��o � aprender a viver com as diferen�as culturais e utiliz�-las como formas de humaniza��o. Nesse sentido, a educa��o deve contribuir para formar o projeto na �tica da toler�ncia.

RESUMO

1.A informa��o que orienta grande parte da atividade humana � simb�lica e n�o gen�tica. Ao contr�rio dos insetos sociais, os homens criam os c�digos que orientam seus comportamentos, intera��es e modos de organiza��o social.

2. A cultura � o sistema de s�mbolos que uma popula��o cria e usa para organizar-se, facilitar a intera��o e para regular o comportamento.

3.H� muitos sistemas de simbolos dentre uma popula��o, mas entre os mais importantes est�o: (a) sistemas de linguagem que as pessoas usam na comunica��o; (b) sistemas de tecnologia que incorporam o conhecimento sobre como dominar o meio ambiente; (c) sistemas de valores que dizem respeito aos princ�pios de bom e mau, de certo e errado; (d) sistemas de cren�a que organizam as cogni��es das pessoas sobre o que deveria existir e realmente existe em situa��es e espa�os espec�ficos; (e) sistemas normativos que d�o expectativas gerais e espec�ficas sobre como as pessoas devem se comportar em diversas situa��es; e (f) estoques de conhecimento, que disp�em de informa��o impl�cita que as pessoas inconscientemente usam para compreender as situa��es.

4.��� A cultura varia dentro e entre as sociedades, e essa situa��o geralmente leva ao conflito entre aqueles que possuem valores, cren�as ou normas diferentes. Alguns conflitos permanecem no n�vel simb�lico, mas o conflito geralmente surge do combate aberto entre partes com cren�as diferentes.

5.As subculturas surgem e persistem em sociedades complexas, cada uma revelando alguns sistemas de simbolos distintos. As vezes, o conflito � evidente entre as subculturas, especialmente quando algumas subculturas s�o capazes de impor seus s�mbolos �s outras.

6.�� Sistemas de simbolos geralmente revelam contradi��es e incoer�ncias, uma situa��o que pode colocar os indiv�duos em conflito pessoal, e �s vezes grupal.

7.O etnocentrismo � um subproduto inevit�vel das diferen�as culturais, com indiv�duos que v�em como inferiores aqueles s�mbolos culturais distintos dos seus. O etnocentrismo produz preconceitos que geralmente v�m � tona em conflitos declarados.

ATORES E INTERA��O

Shakespeare uma vez escreveu: O mundo � um palco, e todos os homens e as mulheres sao apenas atores: eles t�m suas entradas e sa�das; e desempenham muitos pap�is de cada vez�. Muito da vida humana � de fato realizado num palco, mas, ao contr�rio da vida teatral, nosso palco � montado pelos simbolos culturais e estrutura social. Num sentido real, todos n�s somos atores num palco e atuamos diante de uma plat�ia formada pelos presentes e por aqueles que podemos imaginar Ao mesmo tempo que tentamos interpretar comportamentos culturais, estamos num palco constru�do pela estrutura social. A vida social envolve cada um de n�s como atores que, ao interpretar, interagem com os outros. Este processo � fundamental para a vida social, para a compreens�o de n�s mesmos e daqueles ao nosso redor

A NATUREZA SIMB�LICA DA INTERA��O HUMANA

No come�o do s�culo XX cientistas sociais n�o entendiam como a intera��o humana ocorre. Tudo levava a crer que a intera��o entre as pessoas � o processo fundamental dentro do mundo social, mas como e por que isso ocorre? Quais s�o os mecanismos espec�ficos e os processos envolvidos? Um fil�sofo da Universidade de Chicago, George Herbert Mead (1934), desvendou o mist�rio desse processo, como observei no Cap�tulo 1. Mead n�o teve nenhuma id�ia genial; ao contr�rio, ele pegou pedacinhos dos trabalhos de outros e os combinou de maneira a fazer sentido.

A ess�ncia da intera��o, Mead argumentou, � a emiss�o de sinais e gestos. Qualquer organismo deve agir dentro de seu meio ambiente, e, quando age assim, emite sinais ou gestos que marcam seu curso de a��o. A intera��o ocorre, Mead sentiu, quando (1) um corpo emite sinais ao se mover em seu meio ambiente, (2) outro corpo v� esses sinais e altera seu curso de a��o em resposta a eles, emitindo, assim, seus pr�prios sinais, e (3) o corpo original torna-se consciente dos sinais desse corpo secund�rio alterando seu curso de a��o � luz desses sinais. Vamos imaginar um gato e um cachorro. O cachorro est� procurando um poste para fazer xixi (emitindo os sinais apropriados); um gato vadio observa o cachorro vindo em sua dire��o e entra em p�nico, fugindo (seus gestos); o cachorro v� o gato e altera o curso de sua a��o, esquece de sua bexiga e, em vez disso, vai ca�ar.

Quando esses tr�s est�gios se passaram, ent�o a intera��o ocorreu. Note que sinais e gestos s�o o ve�culo cr�tico de intera��o e que esses sinais n�o necessitam ser simh�licos no sentido cultural. Isto �, o gato pode n�o ser capaz de ler ou interpretar os gestos do cachorro, nem o cachorro necessariamente entende o p�nico do gato. Mas �essa conversa gestual�, como Mead colocou, �, todavia, intera��o.

Mead tamb�m pensava que os homens interagem num modo �nico e especial. Os sinais que os homens enviam, l�em, recebem e respondem s�o simb�licos na medida em que eles significam a mesma coisa para o corpo que envia e para o corpo que recebe. Em resumo, eles s�o culturais. Os sinais nesta p�gina significam mais ou menos a mesma coisa para n�s dois; como conseq��ncia, a intera��o � especial porque � mediada por sinais que sao dados pela defini��o cultural. Na realidade, com nossa intelig�ncia, podemos ligar significados comuns, combinados praticamente com todos os nossos movimentos � fala, gestos faciais, express�o corporal, dist�ncia relativa dos outros, vestu�rio, corte de cabelo, ou quase qualquer sinal ou gesto que fazemos. � por isso que nos sentimos �num palco� em frente aos outros, pois implicitamente sabemos que os outros est�o lendo nossos gestos e interpretando nossa atua��o. Mesmo que alguns animais possam tamb�m interagir simboIicamente, eles n�o podem faz�-lo na mesma medida que os homens (Seboek, 1968; Aitchison, 1978; Maryanski e Turner, 1992).

Mead observou que a capacidade de ler gestos simb�licos permite que os homens absorvam papeis ou assumam o papel do outro. O que ele queria dizer � que, pela leitura dos gestos alheios, podemos nos imaginar em seu lugar; podemos assumir seu ponto de vista e ter uma percep��o do que � prov�vel que eles fa�am. Assim, se algu�m vem at� voc� encarando, m�os fechadas, e chamando voc� de nomes obscenos, voc� pode imaginar-se na situa�ao dele e adequar suas rea��es. Todos n�s assumimos pap�is em toda situa��o, mas geralmente n�o temos a consci�ncia desse processo at� que nos encontremos numa situa��o complicada em que hesitamos a cada palavra e gesto emitidos pelos outros. Imagine-se tendo um encontro pela primeira vez com algu�m, ou indo a uma festa onde voc� n�o conhece ningu�m, ou entrando na escola ou alojamento pela primeira vez, ou estando em qualquer n�mero de situa��es novas em que voc� disp�e apenas de normas institucionais b�sicas para se orientar. Voc� enfrenta � isto �, voc� aprende as normas mais espec�ficas para a situa��o � assumindo o papel ou observando os outros e usando o que voce ve para orientar suas rea��es. Isso � intera��o simb�lica, e � o meio pelo qual nos ligamos dentro da cultura e seus valores, cren�as e normas. Contrariamente, ao tornar-se consciente de s�mbolos culturais, podem-se assumir papeis e assim relacionar-se com os outros em variados status de estruturas sociais espec�ficas. Como um te�rico funcionalista poderia argumentar, a fun��o de assumir pap�is � ligar as pessoas umas �s outras e �cultura como um todo, desse modo facilitando sua coopera��o e, finalmente, a integra��o da sociedade. E ent�o, se f�ssemos incapazes de usar s�mbolos culturais e assumir pap�is, a intera��o seria muito complicada de fato, e a sociedade desmoronaria.

Mead tamb�m enfatizou outros processos envolvidos na intera��o humana. Um � o processo que ele denominou de mente. Para Mead, a mente n�o era uma �nica coisa ou entidade, mas uma s�rie de processos. Para Mead, a mente � o processo oculto, nos bastidores da a��o que antecipa as conseq��ncias da escolha de um curso de a��o; assim, com base nessa avalia��o pr�via, escolhemos ou selecionamos uma a��o espec�fica. Mead caracterizou a mente como o processo de �ensaio imagin�rio� no qual, como qualquer bom ator que v� interpretar, ensaiamos nossa a��o de diferentes formas e avaliamos a rea��o de nossa plat�ia a essas alternativas. Tais processos mentais s�o uma parte �ntima da intera��o humana, pois, como assumimos pap�is dos outros, assumimos suas inten��es, e nos conscientizamos das suas cren�as e normas importantes, que se tornam parte de nossas considera��es mentais. N�s, ent�o, imaginamos como os outros reagir�o a n�s, e avaliamos se estamos tazendo a coisa adequada em termos de c�digos culturais. Um te�rico do utilitarismo acrescentaria algo � descri��o de Mead: calcular�amos nossos custos-benef�cios quando imaginariamente ensai�ssemos as ai terna tix�as, tentando escolher qual nos daria o maior retorno.

Por sermos t�o h�beis nesse processo, geralmente somos inconscientes de seu funcionamento. Mas pense novamente sobre uma situa��o em que voc� se sentiu emhara�ado ou inseguro. Lembre-se de como voc� ensaiou seus caminhos e antecipouqual seria a rea��o dos outros. Naturalmente n�o se pode estar sintonizado o tempo todo; isso seria exaustivo demais. Mas todos n�s estamos sempre envolvidos em ler gestos, assumir pap�is, e secretamente (em nossa mente) imaginando as conseq��ncias de rea��es diversas. Pois, se as pessoas n�o pudessem entrar nesses processos, a intera��o n�o poderia ser flex�vel e n�o poderia envolver mais do que duas pessoas.

Ainda outro processo essencial envolvido na intera��o � o que Mead rotulou de eu. De acordo com Mead, cada um de n�s v� a si mesmo como um objeto em cada situa��o em que nos encontramos, exatamente como vemos outros objetos � pessoas, carros, cadeiras, casas etc. Quando nos comunicamos com algu�m, lemos gestos: assim fazendo, conseguimos uma imagem de n�s mesmos como um objeto. Assim, os gestos dos outros tornam-se um tipo de �eu refletido� (Cooley, 1909) ou espelho no qual n�s o vemos refletidos. Todos n�s estamos num sentido, implicitamente dizendo �Espelho, espelho meu�, s� que nosso espelho n�o est� na parede do nosso quarto mas nos gestos de outros. Em cada situa��o obtemos uma imagem de n�s mesmos, mas tamb�m apresentamos para cada situ��o uma imagem mais est�vel e tolerante de n�s mesmos como um certo tipo de objeto ou pessoa. Cada um de n�s tem uma auto-imagem, e � a nossa percep��o dos gestos de outros, e n�o seus gestos reais, que molda nossos comportamentos a fim de n�o violar essa imagem. Assim, nossas a��es na maioria das situa��es revelam uma coer�ncia atrav�s da qual buscamos sustentar nossa auto-imagem. Passamos a nos comportar de modos previs�veis, e devido a nossa coer�ncia os outros s�o capazes de harmonizar suas rea��es com nossos comportamentos. Da mesma forma, ajustamos nossas respostas aos outros nos moldes dessa intera��o.

Em s�ntese, o homem se revela e se reconhece nas rela��es com o outro e com as coisas por meio de s�m bolos.

Quando voc� diz coisas do tipo �Desculpe, eu n�o estou sendo eu mesmo�, voc� est� reconhecendo que os outros n�o o ver�o da forma usual porque voc� agiu contrariamente a sua auto-imagem. Ou, quando voc� diz �Eu n�o posso entender como ele p�de fazer isso�, voc� est� realmente dizendo duas coisas: sua percep��o foi ineficaz, e voc� n�o p�de ver coerencia, como ditado pela auto-imagem dele, nas rea��es dele. Da� voc� n�o saber como reagir.

Assim, George Herbert Mead viu a intera��o como um processo de emiss�o e recep��o de gestos, e, no caso dos homens, a emiss�o definiu culturaimente s�mbolos que carregam 5ignificados comuns. Esses gestos s�o usados para interpretar os significados e ajudar os homens a se tornarem conscientes das inten��es dos outros e suas poss�veis linhas de conduta. Com as capacidades cognitivas fornecidas pela �mente�, podemos ensaiar alternativas, imaginar seu impacto, inibir rea��es inadequadas, e selecionar um modo de conduta que facilitar� a intera��o (ou, de um ponto de vista utilitarista, que maximizara os benef�cios ou recompensas). Al�m disso, podemos nos ver como objetos em situa��es e lhes dar uma auto�imagem est�vel, que nos d� uma b�ssola para orientar nossas rea��es de modos caracter�sticos e coerentes. Tal � a natureza de �intera��o simb�lica� como visto por Mead, e suas visoes neste processo primordial representam o ponto de partida para pesquisas futuras.

A REPRESENTA��O DRAMJ TICA DO EU

Visto que todos nos somos atores num palco, orquestramos nossas emiss�es de gestos para nos representar sob uma certa luz, como um certo tipo de pessoa, e como um indiv�duo que espera certas rea��es dos outros. Alguns de n�s s�o, � claro, melhores atores do queoutros. Mas todos n�s somos int�rpretes que manipulam a emiss�o de gestos. Essa vis�o de intera��o � conhecida como teatraliza ��o, um termo que se tornou popular pelo recente soci�logo Erving Goffman (1959, 1967).

Goffman utilizou nossa analogia do teatro para distinguir os espa�os de intera��o entre palco e bastidores (Goffman, 1959). No palco, as pessoas constantemente manipulam e orquestram os gestos de modo a trazer � tona rea��es desejadas dos outros � rea��es que sustentam sua auto-imagem e que correspondem �s exig�ncias normativas da situa��o. Nos bastidores, as pessoas relaxam um pouco e tiram suas mascaras. Os bastidores permitem alguma privacidade com companheiros que partilham as dificuldades de subir ao palco. Para Goffman, muita intera��o acontece nas idas e vindas entre os bastidores e o palco. Se voc� duvida disso, examine suas pr�prias rotinas di�rias. Voc� est� nos bastidores quando est� se preparando para ir � escola, no banho, com escova de dentes, secadores de cabelo, bobs, maquiagem, desodorantes e gel para cabelo. Voc� est� no palco quando est� se sentando na classe, participando de uma reuni�o de estudantes ou flertando numa festa.

Sem os bastidores, a vida seria extremamente estressante. E ainda, sem o palco, a organiza��o social seria problem�tica. Como um funcionalista argumentaria, a sociedade exige que as coisas sejam feitas e as a��es sejam coordenadas; esse fato, por sua vez, exige que os homens ajam e obede�am. N�s seguimos regras; dizemos a coisa certa; e nos conduzimos de forma apropriada. Se as pessoas se recusassem a fazer assim, a realidade social seria desordenada e ca�tica.

A teatraliza��o tamb�m aponta um importante aspecto de toda a intera��o: o uso de �adere�os� f�sicos durante uma intera��o. Um desses �adere�os� � o nosso corpo, e seu �arranjo� durante a intera��o. Um grupo de pessoas de um c�rculo fechado, ao interagir, est� dizendo algo �s pessoas fora desse c�rculo; duas pessoas que andam juntas, de m�os dadas, est�o numa intera��o muito diferente do que outro casal que mant�m alguma distancia um do outro; ou uma classe com cadeiras num c�rculo ter� um sentido diferente, contr�ria �quela com fileiras como em um teatro. Assim, como posicionamos i10550s corpos em um gesto, o qual �diz algo� sobre o fluxo de intera��o, e usamos �linguagem corporal� �posi��o, olhares, toques e outras insinua��es � para criar significados sobre o que est� acontecendo.

Outro �adere�o� s�o objetos no espa�o � mesas, cadeiras., paredes, portas, divis�rias, bancos e qualquer coisa que seja um objeto f�sico que comunique alguma coisa sobre uma intera��o. Quando uma pessoa se senta � mesa ou vira uma cadeira para colocar os p�s, esse gesto comunica informalidade. Um professor que se senta sobre a mesa interage muito diferentemente do que o que permanece de p� atr�s de uma tribuna. Ou, na intera��o mais personalizada, n�s geralmente colocamos ou tiramos barreiras f�sicas para comunicar distancia ou proximidade.

Ainda, outro �adere�o� � o vestu�rio, que diz muito aos outros e, como consequ�ncia, estrutura o fluxo de ntera�ao. Reagimos e respondemos muito diferentemente a um professor usando palet� e gravata do que a um vestido informalmente. Os v�rios tipos de vestu�rio� emblema> de associa��es, distintivos atl�ticos, dizeres em camisetas etc. �todos influenciam de modo sutil o fluxo de intera��o.

Outro aspecto da teatraliza��o � o que Erving Goffman (1959) chamou de manipula��o de percep��es, em que orquestramos gestos, estruturas de palco, e posi��o de corpo para apre>entar uma fachada. Fazemos isso a fim de apresentar determinado eu � nossa plat�ia e para receber certos tipos de rea��es. Ent�o, quando estamos no palco, gerenciamos nossos gestos e outros adere�os dispon�veis. Tal manipula��o d� ao comportamento de cada pessoa uma coer�ncia, facilitando a sintonia de comportamentos. � claro que, como enfatizou Goffman, as fachadas podem tanto manipular quanto decepcionar, como, por exemplo, quando um �homem de bem� apresenta uma fachada que mascara suas inten��es verdadeiras de roubar Todos n�s fazemos isso �s vezes, espero que em menor grau, mas ainda nos percebemos apresentando uma fachada que n�o � l� muito verdadeira.

AS T�CNICAS IMPL�CiTAS DE INTERA��O

Dividir o mundo em palcos e seguir os roteiros culturais de comportamento n�o � suficiente para garantir um sentido de ordena��o durante a intera��o. Todos n�s conhecemos algu�m que aparentemente faz qualquer coisa exatamente da forma que tem de ser e, contudo, nos preocupamos. Algo est� faltando � n�o temos certeza absoluta do que � �� mas algo est� errado em como esta pessoa fala, gesticula e age. Uma raz�o poss�vel para essa preocupa�ao � a falha ou inabilidade desse indiv�duo na utiliza��o de certas t�cnicas de intera��o impl�cita, por�m extremamente importantes. Quando essas t�cnicas n�o s�o usadas, o sentido de continuidade e ordena��o na intera��o � quebrado (Mehan e Wood, 1975; Handel, 1982). Assim, a intera��o depende de alguns processos complementares que o soci�logo Harold Garfinkel (1967) denominou etnom�todos. Quando interagimos com os outros, usamos uma variedade de m�todos interpessoais ou t�cnicas para criar e sustentar uma ordem e fornecer continuidade na intera��o. Esses m�todos interpessoais s�o t�o inconscientemente empregados que nos conscientizamos deles apenas quando algu�m n�o os usa, ou os usa incorretamente.

Usando um dos exemplos de Garfinkel (1967), tente imaginar sua rea��o se voc� fosse o sujeito desta intera��o fict�cia:

Si. 11-110: O pneu furou.

E\ni RI\1I \TA1R)R: O que voc� quer dizer com o pneu furou?

SL Iii o: O que voc� quer dizer com o que voc� quer dizer? O pneu furou quer dizer que o

pneu furou. � isto o que quis dizer Nada especial. Que pergunta louca!

Obviamente, essa intera��o est� perdendo sua continuidade e ordena��o, mas por qu�? A raz�o � que o indiv�duo 2 violou uma t�cnica impl�cita e combinada em todas as intera��es:

n�o perguntarmos o �bvio e presumirmos (o que n�o deve ser desafiado) que partilhamos certas experi�ncias de vida. Os te�ricos da etnometodologia denominaram esse m�todo espec�fico de princ�pio et cetcra porque comunicamos com nossos gestos a ordem impl�cita de n�o se questionar certas coisas. Deixe-me agora reconstruir para voc� um di�logo que eu tive com um aluno (novamente, imagine-se nesta intera��o).

Ai t��co: Voc� sabe, estou tendo problemas com esta mat�ria.

Ei : N�o, n�o sei.

Ai c~o: A mat�ria � t�o, t�o abstrata, voc� sabe?

EL�:�� N�o, n�o sei.

Acu\o:Bem, eu ... eu voltarei uma outra hora.

�������������

As pessoas freq�entemente usam a frase �voc� sabe� em di�logos. Quando esta pequena frase � usada, o princ�pio et cetera, ou t�cnica, est� sendo invocado. O locutor est�, na ess�ncia, afirmando que devemos aceitar o pronunciamento dele, mesmo que �n�o saibamos� o que significa. Balan�ando a cabe�a ou dizendo �Sim, eu sei�, criamos um sentido compartilhado e ordenamos a intera��o.

INTERA�AO DE PAP�IS SOCIAIS

Um papel social � simplesmente um conjunto de comportamentos (gestos) que as pessoas emitem e que os outros aceitam como significando um tipo e curso de a��o particular Como vimos no �ltimo cap�tulo, muitos pap�is sociais s�o ditados por normas e por nosso status numa estrutura social (Parsons, 1951). Por exemplo, quando voc� atua como aluno (vestindo-se de um certo modo, falando de uma maneira particular, tomando notas, participando de aulas, e assim por diante), o conjunto de seus comportamentos revela uma coer�ncia e um estilo que quase qualquer um pode reconhecer como �apenas de um aluno�. Este papel social �, em grande parte, ditado pelas normas culturais e atua��o em uma estrutura escolar Essas mesmas caracter�sticas podem ser encontradas na empresa.

QUADRO 5.1 Ver ficando Rupturas na Intera��o

Uma maneira de descobrir o universo sutil n�o pronuncie nenhuma palavra e tente

dos m�todos � verificar, voc� mesmo, n�o mexer seu rosto ou como. Se voc� seguir

uma ruptura. E isso � muito f�cil, porque alguma dessas sugest�es, uma intera��o

toda e qualquer intera��o face a face en- provavelmente se desintegrar� diante de

volve o uso de t�cnicas impl�citas. Aqui seus olhos.

est�o algumas sugest�es: na pr�xima vez que Outra boa id�ia seria agir como um convi�algu�m usar a frase �voc� sabe� diga que dado na casa de seus pais: pergunte se voc�

voc� n�o sabe, ou tome a afirma��o mais pode usar o banheiro, pe�a permiss�o para

�bvia que uma pessoa faz (�Estou atrasado pegar algo para comer, pergunte se voc�

para a aula�) e pergunte o que a pessoa pode se deitar, e assim por diante, como se

quer dizer (�O que voc� quer dizer com afta- voc� fosse um convidado. Seus pais imagi�sado?�), ou, ainda melhor, permane�a nar�o�oqueest�errado� etentar�orecons�indiferente quando algu�m fala com voc�, truir um sentido de ordena��o.

Ainda, os c�digos culturais e o status de algu�m em uma estrutura social s�o, no melhor dos casos, caracteriza��es gerais (R. Turner, 1962). H� sempre muito espa�o para manobras; � sempre poss�vel apresentar-se de um modo espec�fico (como aluno atleta, aluna �rainha da beleza�, membro da associa��o estudantil, membro do gr�mio, aluno intelectual, aluno louco, aluno arroz-de-festa etc.). Isso � o que Goffman denominou de manipula��o de percep��es, parte da qual envolve gestos orquestrados para avaliar que papel social vamos desempenhar Na realidade, os outros est�o esperando ler nossos gestos para descobrir esse papel social. Como parte de nossos estoques de conhecimento (Schutz, 1932), todos n�s carregamos dentro de n�s mesmos id�ias gerais de v�rios pap�is sociais �o de aluno, m�e, pai, namorado, trabalhador, estudioso, atleta, �caxias�, c�mico, paquerador,professor, motorista, gerente, calouro, amigo, colega, e assim por diante. Para cada papel social provavelmente temos muitas concep��es sobre os comportamentos adequados. A intera��o � bastante facilitada pela habilidade de armazenar pap�is sociais em nossa mem�ria porque, uma vez que o papel social de algu�m � estabelecido de acordo com essas id�ias, podemos antecipar, pelo menos at� certo ponto, como aquela pessoa reagira conosco. A vida � muito menos estressante quando somos capazes de colocar algu�m em um papel social, pois podemos ent�o assumir o papel social rec�proco e, de certa forma, continuar no piloto autom�tico. E quando n�o conhecemos o papel social de um indiv�duo te temos de trabalhar na intera��o. Temos de ler gestos mais ativamente, absorver um papel mais cautelosamente, olhar fixamente e com aten��o atrav�s cio �eu refletido�, permanecer mais mentalmente alertas e fazer muitos exerc�cios mentais cansativos. A vida � muito mais f�cil quando os outros orquestram seus gestos para informar que papel social e4�o desempenhando.

Esses processos de intera�ao s~o dados em sua mais articulada express�o pelo sociologo Ralph li. Tu rner (190 19�8 1980). Turner argumentou que n�o apenas assumimos pap�is perante os ocitros (para ver qual � o papel social deles) mas tamb�m criamos pap�is. Como parte de nossa representa��o teatral, n�s consciente e inconscientemente manipulamos gestos � palavras, postura, inflex�o de xoz, vestuario, express�es faciais � para dizer aos outros que papel estamos desempenhando, xisto que os outros est�o buscando nesses gestos um sinal de nosso papel. Al�m disso, eles assumem que os nossos gesto)s ser~o coerentes e quis nossos respectix�os pap�is 5~o todos coerentes; e assim, uma vez que eles tenham lido alguns gestos e colocado uma pessoa em um papel, eles esperam que outros gestos sejam coerentes com esse papel. E as pessoas est�o) constantemente x�erificando e reveri ficando os pap�is umas das outras apenas para certiticar-se de que elas os desempenharam de modo certo.

A>sim, todas as intera��es envolvem os processos de representa��o de gestos para avaliar um papel, buscando descobrir os pap�is dos outros, e reax�aliando e reverificando os papeis. Entretanto, uma vez que somos colocados dentro de um papel pelos outros, �geralmente dif�cil escapar, porque os outros continuam a reagir a n�s como representantes daquele papel. As pessoas relutam em nos deixar de fora de um papel, porque elas n�o querem reajustar seus comportamentos, a menos que sejam for�adas a isso. Somente atrav�s de um esfor�o persistente � que as pessoas podem recriar seus pap�is em uma situa��o.

Tente agora lembrar-se de algumas situa��es pessoais em que essas din�micas de pap�is funcionaram. Voc� lembrou de situa��es em que foi~� malcompreendido� e colocado em um papel errado; ou lidou com pessoas que �x�oc� n�o poderia compreender� porque seus comportamentos n�o revelavam um papel que voc� conhecia; ou voc� se viu ou viu outros indiv�duos tentando fazer um papel para si mesmos que eles simplesmente n�o podiam representar e nos quais eles n�o poderiam ser levados a s�rio. Se essas situa��es i.aracterizassem toda a vida social, a intera��o seria embara�osa e dif�cil. Felizmente, na maioria das intera��es desempenhamos pap�is, criamos pap�is e verificamos pap�is sem dificuldade. Como conseq��ncia, nossas intera��es acontecem facilmente.

OS ESTERE�TIPOS NAS INTERA��ES

Freq�entemente as pessoas desempenham pap�is que s�o t�o conhecidos e estereotipados que interagimos com eles como modelos, como n�o-pessoas ou como categorias. N�o �preciso ser insens�vel e mesquinho para tratar as pessoas como n�o-pessoas; mas, na vida ocupada que todos n�s levamos, achamos mais f�cil fazer as coisas quando podemos interagtr com pessoas como estere�tipos. Se tiv�ssemos que interagir pessoalmente com todo funcion�rio, transeunte, colega de classe, professor, zelador, administrador, ou vendedor de alimento, tratando cada um como um ser humano �nico e fascinante que merece O) nosso) mais sensivel e preciso desempenho de papel, n�s nos consumir�amos, e jamais conseguir�amO)s fazer qualquer coisa. Assim, em uma sociedade complexa em que participamos de muitas situa��es, a intera��o em termos de categorias � essencial, um ponto enfatizado pelo) so)cioilogo) alem�o prectirso)r Alfred Schutz (1932). Para esses brex�es mas tuncionalmente essenciais enco)ntro)s, as pessoas muttiamente cate �artzam, ou constro)em tipifica��es. Isto �, elas imediatamente colocam umas �s outras em pap�is altamente caracter�stico)s e co)m isso) fazem seu neg�cio sem dificuldade. Quando uma pessoa compra mantimento)s em uma loja, ela e o funcion�rio estereo)tipam um ao outro, interagem de maneiras muito) previs�veis, e mal se d�o conta um do) o)utro. E claro que, se ela se torna uma �cliente regular� (outro tipo de estere�tipo), ent�o ambas as partes trabalham um pouco mais arduamente e tentam ser um pouco mais pessoais.

As intera��es obviamente variam em seu grau de categoriza��o m�tua. Al�m disso, quando elas s�o sustentadas, elas tendem a se desenx�olver no tempo desde o altamente estereotipado ao) mais particular. Entretanto, esse processo deve acontecer durante o decorrer do) tempo). Se algu�m �avan�a r�pido demais�, �se atira sobre voc�, ou �invade seu espa�o�, vo)c� percebe desde o movimento muito r�pido) de uma intera��o estereotipada ate uma que � mais pessoal e �ntima. Um primeiro namorado que confessa setis mais �ntimos sentimentos est� violando o papel de �rec�m-conhecido� e o estereotipando como um �primeiro namorado�. Nessa situa��o a pessoa se sente embara�ada. Um m�dico que faz a voc� perguntas muito) �ntin)as e revela seus sentimentos pessoais est� provavelmente �provo)cando uma rea��o em voc� (sua nova designa��o do papel do m�dico) e, como conseq��ncia, est� violando seu estere�tipo de m�dico.

At� certo ponto, as normas nos dizem catita as situa��es �ntimas ou estereotipadas devem ser. Mas tamb�m, to)dos temos id�ias impl�citas sobre essas quest�es. N�s raramente damos ouvidos aos estere�tipos, a menos que eles sejam violados, for�ando-nos a agir de forma mais interpessoal do que queremos.

MOLDURAS DE INTERA��O

Sem a capacidade de diminuir o campo da intera��o, ter�amos de gastar muita energia buscando dar sentido �s intera��es. Felizmente, os homens disp�em de um importante atalho: eles usam seus gestos e �adere�os� para enquadrar a intera��o. Mais uma vez, Erving Goffman (1974) nos fornece uma importante an�lise, usando a met�fora de uma moldura de quadro que engloba e destaca certos objetos (o quadro) e exclui tudo o mais fora dela. Os homens criam molduras simb�licas com seus gestos, indicando o que �relevante e irrelevante para a intera��o. Por exemplo, quando algu�m diz �Posso falar com voc� em particular�, esse conjunto de gestos enquadra a intera��o de uma maneira particular. Ou, quando algu�m diz �Eu n�o quero falar sobre isso�, assuntos potenciais de intera��o est�o sendo colocados fora da moldura.

Enquadrar � t�o importante � intera��o que � geralmente usado involuntariamente. Pegue um �bom artista� novamente; um bom artista cria duas molduras, uma �pr�pria� de seus pensamentos, � a base para a intera��o e outra, mais secreta, que difere da anterior. Ou pense sobre algu�m que parece estar manipulando outro: a pessoa que manipula est� em geral criando uma moldura para apar�ncias e uma outra para fins privados para que os outros n�o percebam.

Molduras s�o criadas de muitas formas. A fala �, naturalmente, a mais �bvia: �M�os � obra�, �Estou apaixonado�, �Estou com dor de cabe�a�, �Precisamos conversar�, e assim por diante. Mas al�m das palavras faladas, usamos outros gestos e �adere�os� tamb�m (J. Turner, 1988). Por exemplo, o n�mero de pessoas e seu enquadramento em uma situa��o, como � o caso para uma aula em que os corpos s�o alinhados em fileiras e este alinhamento enquadra a situa��o, em termos do que pode, e n�o pode, ocorrer. Ou a dist�ncia f�sica entre as partes para uma intera��o enquadra a situa��o, tornando evidente a movimenta��o de algu�m dentro de nossa ��rea pessoal�. Ao lado do enquadramento corporal, nossa conduta � express�o corporal, por exemplo � faz muito do trabalho de moldura, visto que se abaixar contra uma parede e permanecer em p� e se jogar para frente significam duas coisas opostas. Estruturas f�sicas tamb�m enquadram intera��es; por exemplo, os alunos podem rapidamente notar quando v�o do corredor em que estavam conversando para a sala do professor.

As molduras podem ser trocadas, ou reencaixadas nos termos de Goffman (1974). Quando algu�m diz �N�o vamos mais conversar sobre isso�, est� mudando de moldura. De fato, qualquer intera��o que resiste pode experimentar diversas trocas de molduras �por exemplo, fofoca geral para trabalhar como relatos sobre confid�ncias pessoais, de volta � fofoca geral, e assim por diante. Uma vez que entendemos os palpites para a troca de molduras, torna-se poss�vel mover-se sem dificuldades atrav�s da ess�ncia sempre mutante da intera��o. Al�m disso, podemos assentar intera��es em m�ltiplas molduras, assim as pessoas em um ambiente de trabalho (uma moldura) conversam informalmente como amigos (outra moldura dentro da primeira), com alguns se tornando bons amigos ou companheiros (outra moldura dentro da �ltima) e com outros se tornando namorados (ainda outra moldura). Assim, a intera��o � assentada e laminada em molduras, e podemos ir de uma para a outra um tanto facilmente � como denota uma simples frase como �Bem, de volta ao trabalho, eu espero�.

Sem enquadrar, a intera��o seria muito mais trabalhosa. Em nossos �estoques de conhecimento� n�s adquirimos discernimentos sobre os significados dos gestos com rela��o a molduras, e molduras reencaixadas. Como temos essa facilidade, podemos facilmente determinar o que � relevante e apropriado para uma situa��o, e ent�o atuar sem muitas preliminares. Se nossa facilidade no enquadramento � fraca, entretanto, pareceremos perdidos e �fora dela�, expressando afirma��es e comportando-nos de maneiras que pare�am estranhas aos outros.

RITUAIS DE INTERA��O

N�s todos provavelmente j� passamos por algum conhecido e dissemos �Oi�, e n�o recebemos nenhuma resposta. E uma experi�ncia muito inc�moda, at� mesmo se n�o conhecemos bem a pessoa. A raz�o para esse des�nimo, talvez at� mesmo raiva ou aborrecimento, � que um ritual de intera��o foi violado. Muito da intera��o humana �mediada pelos rituais interpessoais; isto �, cada indiv�duo est� comprometido com um comportamento altamente estereotipado (Goffman, 1967). E intera��es entre as pessoas, que est�o mutuamente estereotipadas, s�o quase todas ritualizadas. Por exemplo, �Como vai voc� hoje?�, �Muito bem�, �O tempo est� bom�, �Sim�, �Tenha um bom dia�, �Tchau�, e �At� logo� s�o todos rituais de intera��o. O mesmo � verdade para o caso das molduras, em que rituais s�o freq�entemente usados para enquadrar inicialmente, e ent�o reenquadrar uma situa��o. N�s estamos comprometidos nesses rituais de intera��o porque eles nos d�o uma sensa��o de ser uma linha dentro do tecido social.

� mais prov�vel que a intera��o seja ritualizada sob certas condi��es (Collins, 1975):

entre estranhos e entre pessoas de status muito diferentes. As pessoas que n�o se conhecem bem conx�ersam com base em estere�tipos, sentindo-se cada qual distante, e fazendo contato sem compromisso. Aqueles de poder, prest�gio e riqueza desigual interagem em padr�es ritualizados para esconder a tens�o latente entre as diferen�as. Aqueles em status subordinados procuram n�o demonstrar suas dificuldades, ao passo que as pessoas de alto status geralmente desejam reconhecimento de seu status imponente, sem provocar rancores e sem ter que controlar o respeito dado pelos indiv�duos de baixo status. Lembre-se, por exemplo, de uma conversa que voc� pode ter tido com um professor: toda a sua informalidade aparente � altamente ritualizada, pois a intera��o � entre as pessoas de status muito diferente. Assim a teoria do conflito enfatiza um importante aspecto de intera��o:

as pessoas na intera��o est�o geralmente em situa��o de desigualdade e, como conseq��ncia, em um estado de tens�o. Essa tens�o pode ser minimizada por um ritual e distanciada, mas est� sempre l�, pronta a surgir dentro da mais antag�nica intera��o.

Assim, os rituais nos permitem conservar nossas m�scaras e manter nossa dignidade e ao mesmo tempo refor�armos nossos sentimentos de pertencer a um todo social maior. Os rituais mais cr�ticos s�o estes do dia-a-dia, que desempenhamos rotineiramente e n�o acidentalmente a �ueuas que algu�m n�o participe. E neste caso vemos como eles s�o importantes, pois nosso sentimento de continuidade social � interrompido.

Na realidade, intera��es cotidianas s�o estruturadas por rituais (J. Turner, 1986a, 1988, 1989; Turner e Collins, 1989). H� rituais de abertura (�Oi, como vai voc�) e rituais de fechamento (�At� logo�); e no meio dessa abertura e fechamento h� rituais para reparar rupturas (�Oh, desculpe-me, eu n�o sabia�), para enquadrar e reenquadrar (�Isto �bastante�), para dar seq��ncia � conversa (�Isto � realmente interessante, mas voc� pensou em ... �)e que organizam o fluxo da intera��o. Aqueles que n�o podem usar esses tipos de rituais interpessoais, ou que os usam de um modo errado, parecem embara�ados e dif�ceis; a intera��o torna-se convulsiva, e falta continuidade e fluxo.

Assim, rituais s�o essenciais � intera��o. Se voc� tem d�vida disso, viole apenas um ritual, tal como n�o dando uma abertura ou fechamento onde � pedido ou violando qualquer um dos muitos rituais que voc� implicitamente entende. Se voc� fizer isso, a intera��o se tornar� for�ada de repente, indicando como os rituais s�o importantes � estrutura social.

JNTERA ��O COM GRUPOS DE REFER�NCIA E PESSOAS AUSENTES

Henry David Thoreau implicitamente capturou uma importante din�mica da intera��o humana quando escreveu: �Se um homem n�o acompanha os passos de seus companheiros talvez seja porque ele ouve um tambor diferente. Deixe-o ater-se � m�sica que ele ouve, apesar do ritmo e da dist�ncia�. Em todas as intera��es, lidamos n�o apenas com aqueles imediatamente presentes, mas com muitos �tambores distantes�. Podemos simultaneamente interagir com pessoas presentes e com pessoas ausentes. Esse processo �, �s vezes, �bvio com filhos jovens, os quais, quando brincam juntos, invocam seus pais (�Olha, o meu pai diz ...� ou �O que sua mae vai achar disso?�). Todos n�s tamb�m interagimos com pessoas importantes que nao est�o presentes � um c�njuge, um namorado, um pai, um fil�sofo, ou qualquer um que consideramos significatix�o para n�s. Em geral, a rea��o percebida ou introduzida desses indiv�duos distantes � bem mais importante do que as rea��es daqueles bem a nossa frente. Todos n�s gostamos de pensar em n�s mesmos (especialmente nos Estados Unidos), como individualistas convictos que somos, e assim disfar�amos ou evitamos saber o quanto, ao interagir com o �outn)� ausente, nossa conduta � orientada.

Ereq�entemente as pessoas distantes personificam valores culturais e cren�as, e interagindo com eles nos ligamos � cultura geral ou a uma subcultura espec�fica (Kelley, 1958). E, com a mesma freq��ncia, assumimos o ponto de vista de um grupo grande de indiv�duos~,sem separar, at� mesmo sabendo disso, um indiv�duo particular que personifica este ponto de vista (Shihutani, 1955). Melhor, temos uma id�ia geral do que esses grupos de refer�ncia esperam, e n�s, desse modo, ajustamos nossa conduta. George l-lerhert Mead referiu-se a esse processo de intera��o como o �outro generalizado�.

O fato de que a intera��o geralmente envolve pessoas distantes e grupos de refer�ncia pode potencialmente criar tens�es com aqueles que n�o sabem sobre esses tambores distantes. O que eles podem ver � algu�m que perde os palpites ou que viola as normas da atual situa��o. Normalmente, somos bastante bons em reconciliar nossos comportamentos com aqueles tanto pr�ximos quanto distantes. Mas �s vezes temos dificuldade, e, como conseq��ncia, dizemos e fazemos coisas est�pidas, pelo menos no ponto de vista daqueles a nossa frente. Outras vezes, reconhecemos que andamos em dire��o a diferentes tambores e ritualizamos nossas intera��es. Por exemplo, atletas e intelectuais, negros e brancos, hisp�nicos e anglo-sax�nicos, velhos e jovens, ricos e pobres, educados e mal-educados, todos ritualizam seus encontros iniciais para evitar as tens�es e embara�os criados por nossa intera��o com pessoas distantes n�o familiares e grupos de refer�ncia (Merton e Rossi, 1968).

INTERA��O E ORDEM SOCIAL

Finalmente, a sociedade � mantida unida pelas pessoas em contato face a face. Naturalmente, os indiv�duos criam um universo de s�mholos culturais e estruturas de grande porte que limitam o que eles podem fazer quando se encaram e quando emitem sinais e interpretam gestos mutuamente. De fato, os sistemas de s�mbolos e matriz de estruturas sociais t�m x�ida pr�pria, sendo dirigidos pelas din�micas que podem esmagar os indiv�duos; e, ainda, s�o as pessoas que ocupam status em estruturas sociais, desempenham pap�is, t�m simbolos que orientam suas vidas, e sustentam a cultura e estrutura da sociedade. Assim, o processo de intera��o fortalece as organiza�oes sociais e eu 1 turais.

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� dif�cil fazer a conex�o entre a intera��o de micron�vel e as macroestruturas e sistemas culturais. N�s sabemos que eles est�o ligados � o micro n�o � poss�vel sem a exist�ncia da macro, e vice-x�ersa � mas a influ�ncia m�tua dos dois n�veis � dif�cil de discernir e analisar. Este problema e denominado de problema de micro-macro �v�nculo� ou micro-macro �intervalo� (J. Turner, 1983; Alexander et ai., 1986). Ainda, para nossas finalidades, precisamos apenas reconhecer que os processos esbo�ados neste cap�tulo s�o os que sustentam as estruturas e s�mbolos do mundo social. Sem a habilidade de manipular c�digos, desempenhar pap�is e interpretar gestos, as estruturas da sociedade e os sistemas de simbolos da cultura (l�ngua, tecnologia, estoque de conhecimento, valores, cren�as, normas) nao poderiam existir. Contrariamente, essas estruturas e sistemas de simbolos limitam e orientam o curso da intera��o.

RESUMO

A intera��o envolve a emiss�o m�tua de sinais e leitura de gestos e o ajuste de respostas �emiss�o de gestos. A intera��o humana, de acordo com G. 11. Mead, tamb�m envolve as capacidades pela mente (pensamento, considera��o e ensaio de alternativas) e o eu (vendo a si pr�prio como um objeto).

2.Na an�lise de Erving Coffman, a intera��o ocorre em um teatro, tanto o palco quanto os bastidores, e usa �adere�os� para orquestrar uma fachada pessoal como parte de um processo mais generico da manipula��o de c�digos. Goffman tamb�m desenvolveu a no��o de �moldura� como parte da manipula��o, desse modo os individuos mostram o que deve ser inclu�do e exclu�do como considera��o relevante durante o curso de intera��o.

3.A etnometodologia enfatiza que muito do sentido de ordem dos homens � sustentado por t�cnicas, que s�o implicitamente usadas pelos indiv�duos para preservar a id�ia de que eles experimentam o mundo social de maneiras semelhantes.

4.A intera��o ocorre em estruturas sociais, em que as considera��es de pap�is sociais se tornam importantes. As pessoas gerenciam sua emiss�o de gestos para desempenhar pap�is sociais para si mesmas, e ativamente l�em os gestos umas das outras a fim de descobrir os pap�is sociais que os outros est�o tentando estabelecer. Esse processo � poss�vel porque os indiv�duos disp�em, em seus estoques de conhecimento, de conjunto de pap�is sociais que eles adotam ao representar o papel para eles pr�prios e ao interpretar os gestos de outros. Os indiv�duos tamb�m buscam verificar e reverificar os pap�is uns dos outros.

3.�� Muitas intera��es procedem em termos de estere�tipos m�tuos, nos quais os indiv�duos se veem como categorias segundo as quais adaptam suas respostas.

e.A intera��o depende de rituais, ou seq��ncias estereotipadas de gestos, que indicam a abertura,

ofechamento, a estrutura��o e outros aspectos do processo de intera��o.

A intera��o envolve conscientiza��o de, e adapta��es para, expectativas dos outros e ponto de

vista de grupos n�o fisicamente presentes numa situa��o. Tais grupos de refer�ncia e outros

distantes geralmente orientam e dirigem os comportamentos e rea��es dos indiv�duos.

8.�� Intera��o, estrutura social e cultura s�o inter-relacionadas. Cada uma n�o poderia existir sem a ou tra.

Como os sociólogos Marx Weber e Durkheim veem os movimentos sociais?

Já a outra corrente, defendida por Marx, Durkheim e Weber, por exemplo, veem nestes movimentos uma forma de ação social, que trazem neles transições de modelos de solidariedade mais complexa, uma quebra com o tradicionalismo e até mesmo o início de uma explosão revolucionária.

Como os clássicos da sociologia Durkheim Weber e Marx entendem o trabalho?

Para Durkheim, o trabalho é um fato social presente em todos os tipos de sociedade, ou seja, o trabalho é algo que se impõe a nós indivíduos, independente da nossa vontade. A divisão social do trabalho, para este autor, promove a coesão social e, por isso, deve ser preservada.

O que faz de Durkheim Marx Weber autores clássicos do pensamento sociológico?

Para resumir o posicionamento dos autores clássicos, podemos dizer que Durkheim e Weber são conservadores, defensores do capitalismo, enquanto Marx é favorável a uma revolução para derrubar de vez esse sistema. Para saber mais detalhes do surgimento dessa ciência, acesse: Surgimento da sociologia.

Como Weber Durkhein e Marx enxergam o Estado?

Ao contrário de Weber, Durkheim subordinava o Estado à sociedade. Ao contrário de Marx, Durkheim rejeitava a idéia do desaparecimento do Estado e acreditava que na sociedade moderna haveria uma expansão da jurisdição estatal.