Desde tempos muito remotos que a simbologia do cavalo está associada à passagem e ao transporte da alma para o mundo dos mortos, ou, no mundo mitológico da fantasia, para a lua. Era, por esta razão, visto como um prenúncio da morte quando era de cor branca e aparecia durante os sonhos. Os cavalos eram também sinónimo de bom augúrio para as colheitas, na tradição celta.
Filhos da noite e do mistérios, os cavalos são a morte e a vida, e estão
associados aos elementos fogo e água. Entre os psicanalistas, a égua é um arquétipo muito próximo do da mãe, como é o caso da deusa da fertilidade grega Deméter com cabeça de cavalo, e da memória do mundo, associado ao tempo e ao desejo impetuoso. Como veículo ou montada do homem, o cavalo tem o seu destino interligado ao dos seres humanos. Durante o dia, é o cavaleiro que conduz o cavalo, mas à noite é o cavalo que na
escuridão dirige os destinos do homem e assim se torna vidente e guia. O conflito entre homem e cavalo conduz à desgraça enquanto que o acordo e a harmonização entre o homem e o animal conduz ao sucesso. Enquanto animal das trevas e dos poderes mágicos, o cavalo é uma espécie de guia entre a tradição dos povos da Ásia Central. Entre os Beltires, o cavalo do homem morto é sacrificado, para que guie o homem no mundo dos mortos. Esta mesma tradição também é encontrada no Mediterrâneo, como é o
exemplo da Ilíada, em que Aquiles sacrifica quatro éguas no túmulo do seu amigo Pátroclo, para que estas conduzam a sua alma. Segundo a lenda, Salomão sacrificou novecentos dos seus mil cavalos alados a Deus. Em Roma, os cavalos eram dedicados a Marte.
Nos
rituais de posse e iniciação de diferentes culturas, o homem transforma-se em cavalo, como é o caso do vodu africano, brasileiro e haitiano, nas tradições xamânicas da Abissínia e da Ásia Menor. Nestas tradições, o homem possuído converte-se no cavalo do seu espírito ou do seu deus.
Pintura com representação de cavalos
Para os celtas, os cavalos são sinónimo de bom presságio e boas colheitas
A cor branca era a preferida das deusas celtas para os seus cavalos e a representação de Lady Godiva, a Senhora Deusa, através de uma mulher cavalgando um cavalo branco que fazia parte das procissões tradicionais era fundamental para o sucesso das colheitas. Belerofonte pretendeu atingir a imortalidade montando o cavalo-lua Pégaso, nascido do sangue de Medusa. O
deus nórdico Odin montava cavalos fantasmas de cor cinzenta, que se diziam ser as almas dos guerreiros mortos em combate. Na tradição islâmica, Maomé montou o fantástico cavalo Alborak e, conduzido pelo anjo Gabriel, foi de Meca a
Jerusalém e também para o Céu.
Os cavalos da morte, ou que pressagiavam a morte, são encontrados na tradição irlandesa antiga e em toda a Europa desde a Antiguidade grega. Estes cavalos
são de cor negra, mas também claros ou de cor esbranquiçada, e estão associados à Lua e à água. São no folclore europeu associados a feiticeiros e demónios que levam os viajantes a despenhar-se nos precipícios ou a afogar-se nos pântanos. Em outras tradições, da Europa até ao Extremo Oriente, os cavalos são divindades das águas e têm o dom de fazer
brotar as nascentes com as suas patas. O cavalo é também considerado um ajudante das divindades, como é o caso de África, onde são montados pelos deuses para fazer chover. Contrariamente à ideia de morte, existe também o conceito do corcel solar, ou o cavalo que puxa o carro do Sol, que é encontrado nas culturas antigas e também na tradição
grega.
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