Em qual país encontramos maior presença de curdos?

Yilmaz Orkan, Membro do Congresso Nacional do Curdistão

O Homo sapiens, após ter vivido durante centenas de milhares de anos em clãs e tribos nômades na África Oriental, deslocou-se para o território do atual Curdistão, à época Mesopotâmia, e passou a viver de forma sedentária. Suas planícies, protegidas pelos montes Tauro e Zagros, no meio da bacia dos rios Tigre e Eufrates e caracterizadas pela sucessão das quatro estações, estão entre os lugares onde nasceram as primeiras formas de vida sedentária social.

Os primeiros vestígios da presença curda na história podem ser encontrados nas inscrições dos sumérios, acádios, babilônios, hititas e egípcios.

O Curdistão faz parte da área geográfica antes conhecida como Mesopotâmia, onde a humanidade assumiu pela primeira vez uma forma de vida social.

A primeira população de cultura curda da história é a dos hurritas. Em 4000 a.C. encontramos os subaru, outro povo de protocurdos, no sul do Curdistão oriental; em 3000 a.C., na cordilheira de Zagros, havia uniões políticas organizadas nas cidades estados dos gútios; no Curdistão meridional, os lulitas assumiram o domínio das cidades; na região do lago Urmia (nos montes Zagros) havia os cassitas, povo que desceu para a baixa Mesopotâmia. Houve ainda os mitani, cujas origens remontam à segunda geração dos hurritas, que lançaram as bases de uma civilização; os nairi, que se organizaram como federação de tribos na zona oriental do atual lago de Van, em direção a Cizre e Semzinan, ao sul; e, finalmente, os urartu, que, do leste do rio Eufrates até os montes Zagros, em todo o planalto da atual Armênia, do norte até Sulemaniah e Kirkuk, difundiram-se como confederações de tribos. Todos eles eram povos de origem curda, ou foram pelos curdos influenciados, e se organizaram como confederações de tribos para se oporem à hegemonia dos assírios.

Depois da confederação das tribos dos medos, o Curdistão tornou-se zona de poder de dinastias, Estados e impérios: persas, selefkos, partas, romanos, sassânidas, árabes, seljúcidas, harzem, mongóis, karakoyuns, akkoyunlu, safávidas, otomanos e iranianos. Os primeiros a chamar aquela região de Curdistão, a partir do século XII, foram os seljúcidas. A região onde, ao longo de sua história, a sociedade sempre se organizara em estruturas flexíveis, como confederações de tribos e governos autônomos, foi dividida em duas partes pelo Tratado de Kasrı Şirin, assinado em 1639 entre o Império Otomano e os safávidas. Na primeira e na segunda guerra de partilha imperialista, com o tratado final de reconciliação de Lausanne, em 1923, a região foi dividida em quatro partes. Embora a questão mais debatida na mesa de negociações tenha sido a situação dos curdos, no final das contas, eles acabaram ficando sem status.

Portanto, a literatura curda fala da parte do Curdistão que se encontra nas terras compreendidas entre as fronteiras da Turquia (Bakur), do Curdistão oriental — que foi incorporado pelo Irã mediante o acordo de Kasrı Şirin (Rojhelat) –, de Rojava (a parte adquirida pela Síria) — cujas fronteiras foram definidas pelo acordo feito em Ancara com os franceses, embora permanecesse incerto a quem pertenceria Mossul — e a região que se encontra no Iraque e que é conhecida como Curdistão do sul (Basur).

Apresentaremos a seguir a situação dos curdos nos Estados em que foram divididos (as partes do Curdistão, evitando mencionar a Turquia e o Irã). Apesar das políticas de assimilação e migração forçada, a população do Curdistão é formada por 85,9% de curdos, 5,3% de turcos, 3,6% de árabes, 3,1% de azeros, 2,9% de farsi, 2,2% de assírios e sírios.

Dezenas de milhares de curdos têm sido massacrados em conflitos armados.

Bakur — Curdistão “turco” (Curdistão setentrional, dentro das fronteiras da Turquia)

Quando da fundação da República da Turquia, em 1923, o governo, usando como instrumento de poder uma ideologia nacionalista artificial baseada no “panturquismo”, submeteu à sua própria hegemonia as milícias curdas, a fim de formar uma aliança nacional para libertar a Turquia do colonialismo. A palavra “Curdistão”, usada durante o Império Otomano, foi proibida pelo Ministério da Educação da República da Turquia com uma declaração oficial de 8 de dezembro de 1925. A área geográfica do Bakur foi denominada “Oriente”, ou “Sudeste”, o que deu origem a um período de revoltas no Curdistão do norte. A revolta de abril de 1925, iniciada por Şeyh Said, terminou com seu enforcamento, junto com 47 companheiros. Durante as rebeliões que ocorreram em Ağrı, foram massacrados dezenas de milhares de curdos. Em 12 e 13 de julho de 1930 foram assassinadas 15 mil pessoas no vale do Zilan. Entre 1937 e 1938, 13 mil civis foram massacrados em Dersim e 12 mil pessoas foram obrigadas a migrar. O genocídio de Dersim foi o 280 desde a fundação do Império Otomano e o início das rebeliões, mas, após o massacre, o assunto foi praticamente esquecido. Depois da revolta de Ağrı, foi publicada uma caricatura num jornal que mostrava uma montanha em cujo topo havia um túmulo, com uma lápide, onde se lia: “Aqui jaz a ideia do Curdistão”.

Com o golpe de Estado de 12 de setembro de 1980, não se falou mais da existência dos curdos. O “fascismo branco turco” visava criar um racismo de tipo turco-islamita e se esforçou para criar um Estado-nação com base étnica, que depois deu lugar ao “fascismo turco verde”, baseado na unidade religiosa. Em 1987 o Estado turco declarou estado de emergência em 12 cidades do Curdistão e o prorrogou por 46 vezes até 2002.

Com a primeira ação armada do PKK, voltou-se a falar do Curdistão. Segundo dados oficiais, até 2012, 30.576 pessoas morreram nos confrontos armados que se seguiram. Dados fornecidos pela Comissão para os Direitos Humanos do Parlamento da Turquia, entretanto, informam que 22.101 militantes do PKK, 7.918 membros das forças de segurança do Estado (militares, policiais, vigias de aldeias etc.) e 5.557 civis perderam a vida durante os conflitos. Excluindo as mortes não registradas pelas estatísticas, nesse período de conflito teriam morrido, portanto, 35.576 pessoas. Informações não oficiais contabilizam, nesse período, cerca de 17 mil homicídios “misteriosos”. Além disso, segundo números oficiais, 2.663 aldeias e terrenos foram evacuados, obrigando a emigração de 386.360 pessoas. Essas estatísticas não incluem as pessoas que perderam a vida após a retomada do conflito em 2015.

De 1993 até o fim de 2012, durante os encontros com o Estado, o PKK declarou cessar-fogo unilateral oito vezes. Após os encontros de Oslo, que fracassaram mais uma vez, o nono cessar-fogo foi declarado em março de 2013, quando foram promovidos novos encontros, que, com os acordos de Dolmabahçe, de 28 de fevereiro de 2015, poderiam ter levado a uma nova fase. O presidente da República da Turquia Recep Tayyip Erdogan afirmou, contudo, ignorar os dez pontos acordados em Dolmabahçe, demonstrando querer utilizar o processo de paz para seu projeto de transformação da Turquia em uma república presidencialista. Com as eleições de 7 de junho de 2015, esse projeto foi frustrado, levando-o a executar algumas manobras para realizar novas eleições em 10 de novembro. O fato de ter interrompido, a partir de 5 de abril de 2015, todo e qualquer contato com o líder do povo curdo, Abdullah Öcalan, já demonstrou a intenção do partido AKP de dar início a uma guerra. De fato, logo após as eleições começaram os ataques. A explosão ocorrida em Suruç, no dia 20 de junho de 2015, foi um aviso sobre o início do conflito. Com a desculpa da morte de dois policiais em Urfa no mês de julho, o Estado começou bombardeios ininterruptos da zona livre de Medya, fortaleza do PKK. Assim, três anos após o início do processo de paz, fortemente apoiado por Öcalan, o conflito foi retomado de forma ainda mais violenta. Segundo estimativas da Associação para os Direitos Humanos (IHD), entre 7 de junho e 9 de novembro de 2015, 41 crianças e 128 civis foram mortos pelas forças armadas do Estado e outras 51 crianças e 195 civis foram feridos. Somente no ataque de 20 de julho em Suruç foram mortas 33 pessoas e feridas outras 104; em 10 de outubro, no ataque suicida de Ancara, morreram 262 civis e 759 foram feridos. Com a retomada de fato da guerra e dos confrontos, no mês de outubro o Partido Trabalhista do Curdistão (KCK) declarou formalmente o fim do cessar-fogo unilateral. Diante disso, o KCK declarou em 12 de agosto que, “para o povo do Curdistão, não restou outra escolha senão o autogoverno”. A primeira cidade a declarar o autogoverno foi Şirnak. Um dia depois que a Assembleia do Povo declarou o autogoverno, Erdogan afirmou: “Neste país, fora da República, nunca será tolerado outro governo. Eles pagarão por isso”, demonstrando abertamente quais eram suas intenções; mas a população de outros 16 distritos tomou a mesma decisão de Sirnak. Quatro meses depois da primeira declaração de autogoverno, em vários centros das províncias de Amed, Sirnak e Mardin foi declarada a formação de Unidades de Defesa dos Civis — YPS (Yekitia Parastina Sivil) — e Unidades de Defesa das Civis Mulheres — YPS-Jin.

O AKP pôs em prática um verdadeiro terrorismo de Estado nos centros que declararam o autogoverno, com ataques que não respeitam qualquer regra de guerra. Em Cizre, por cinco vezes foi declarado toque de recolher 24 horas por dia, e desde 14 de dezembro não foi mais revogado, estando ainda em vigor. Com uma população de 140 mil habitantes, as pessoas foram obrigadas a ir embora. As 149 pessoas que haviam se refugiado nos porões de três prédios foram bombardeadas e queimadas vivas, inclusive com armas químicas.

Unidades de Proteção das Mulheres (YPJ — Yekîneyên Parastina Jin) têm a responsabilidade da autodefesa dos três cantões em nível nacional.

Rojava — Curdistão “sírio” (Curdistão ocidental, dentro das fronteiras da Síria)

Em 1946, depois que o governo sírio declarou independência, assinando o Tratado de Ancara, foram definidos os limites atuais de Rojava (a região que se encontra a oeste do rio Tigre, na fronteira com a Turquia). Em 1949 houve um golpe de Estado na Síria, em 1958 houve um golpe de Estado civil e, por último, em 1963, com a chegada ao poder do Partido Socialista Árabe Baath, teve início um regime nacionalista de partido único e começou um projeto sistemático de arabização dos curdos. A partir de 1963, com o projeto do cinturão árabe, as forças do regime instalaram vilarejos árabes no meio dos atuais cantões de Rojava, dividindo-os.

Depois dos acordos de Ancara, em 2000, entre a Turquia e o regime sírio, a repressão aos curdos começou a aumentar. Em 2004, em consequência do massacre de Qamişlo, segunda cidade de Rojava com maior número de habitantes curdos, começou a resistência, abrindo caminho para as primaveras dos povos. Em março de 2011 começaram os confrontos entre o Partido Baath e as oposições e em abril elas difundiram-se pelo país inteiro. O povo curdo, pela primeira vez enquanto tal, participou da revolução síria com as Manifestações da Sexta-Feira, que aconteciam em todo o Estado e se estendiam até o Curdistão ocidental (Rojava). Os curdos criaram as Assembleias do Povo e declararam agir “segundo a vontade do povo”.

Sob a orientação do TEV DEM (Movimento para uma Sociedade Democrática), em 19 de julho de 2012 começaram manifestações que esclareceram o projeto político dos curdos, trazendo visibilidade para a política da terceira via. Em Rojava, o lugar perdido pelas forças militares de Bashar al-Assad foi ocupado pelas YPG (Forças de Defesa do Povo), criadas naquele período.

A estratégia de libertação das cidades aconteceu em três fases. Na primeira foram tomados os distritos, cidades onde o regime era mais fraco; em seguida, discutiu-se como seria possível controlar as estruturas administrativas nas mãos do regime; na terceira fase, essas estruturas organizacionais foram substituídas por aquelas da revolução. Após um período de dois ou três meses, em 19 de julho de 2012, partindo de Kobane, foi declarada a autonomia administrativa, que se difundiu em todas as cidades, com exceção de Qamişlo. Os países vizinhos de Rojava fecharam suas fronteiras e o Exército Sírio Livre fechou as estradas que levavam às cidades curdas.

O movimento do povo curdo, com a política da terceira via, fez com que fracassasse o jogo da Turquia, que visava conquistar Rojava por meio do Exército Sírio Livre. Embora sem dispor de ajuda material e militar do exterior, como acontecia com os outros grupos de oposição, os curdos levaram adiante o processo de construção da revolução. Antes de mais nada, organizaram as administrações do Estado segundo as necessidades da população. Criaram associações, academias, casas de mulheres, comunas e assembleias para responder às exigências culturais, sociais e de justiça da sociedade. Na situação atual, os cantões autogovernados de Rojava (Cizre, Kobane, Afrin) são administrados por meio de assembleias territoriais: a assembleia da justiça, a assembleia executiva, a assembleia geral para as eleições e a assembleia geral para a justiça (tribunal constitucional composto por representantes de todas as assembleias regionais que aderem ao confederalismo democrático).

Diante do tribunal constitucional, todas as pessoas têm deveres e direitos iguais. Na gestão da Autonomia Democrática, todos os cantões têm o direito de constituir assembleias executivas independentes e de criar assembleias a partir da própria livre vontade. Na região de Cizre foram declaradas línguas oficiais o curdo, o árabe e o sírio. Além disso, todos têm o direito de ser educados na própria língua materna. As Unidades de Proteção Popular (YPG — Yekîneyên Parastina Gel) e as Unidades de Proteção das Mulheres (YPJ — Yekîneyên Parastina Jin) têm a responsabilidade da autodefesa dos três cantões em nível nacional. A direção geral da Asayiş é responsável pela segurança interna.

Ataques contra Rojava

Depois que as cidades de Gir Ziro, Rimelan e Tirbespiye foram libertadas pelas forças curdas, os ataques se tornaram mais organizados e planejados, porque 82% dos poços de petróleo da Síria encontram-se nessas regiões. Entre os nomes por trás desses ataques, o primeiro da lista é o da Turquia. Nos ataques contra os curdos — inicialmente no bairro de Eşrefiye, de Aleppo, e depois, em 22 de setembro de 2012, no vilarejo Qastel Cindo, em Afrin, contra os curdos Yazidis –, as YPG demonstraram ser uma força de autodefesa, tendo conseguido interromper os ataques executados por 17 grupos diferentes que se uniram contra eles com o apoio da Turquia.

Em julho de 2013 o grupo Al Nusra atacou os vilarejos Til Hasil e Til Eran, matando 70 civis curdos, incluindo mulheres e crianças

No fim de 2012 e em 2013, com os ataques a Serekaniye, ficou claro que por trás dos ataques estava o Estado turco. Em Serekaniye, última cidade no caminho para Cizîrê, houve a tentativa de transformar o caos gerado pelos atentados em um conflito étnico curdo-árabe. Dessa forma, seria interrompida qualquer ligação entre Cizîrê e as regiões de Kobane e Efrin, para logo passar ao ataque com operações do mesmo tipo também nesses dois cantões. Em 16 de janeiro, 1.500 membros da Al Qaeda ligados à Turquia começaram uma enorme operação de ataque na região. Esses grupos destruíram tudo que encontraram pelo caminho, não somente as casas dos curdos, mas também dos árabes, sírios, assírios e armênios. Nesse período, o presidente do Conselho do Povo da região, Abid Xelil, foi assassinado por um franco-atirador. As YPG, adquirindo experiência na guerra na cidade, conseguiram evitar um segundo e até um terceiro ataque. Mas, em 28 de julho de 2013, o grupo Al Nusra, em um ataque aos vilarejos Til Hasil e Til Eran, de Aleppo, habitados por curdos, massacrou mais de setenta civis, incluindo mulheres e crianças.

Kobane, a Stalingrado dos curdos

Kobane, a cidade onde teve início a revolução de Rojava, resistiu durante 134 dias contra o Daesh, sendo, assim, chamada de “Stalingrado do século XXI”. Desde o primeiro ataque, de 15 de setembro de 2014, de posse das armas dos EUA pilhadas durante o ataque a Mossul e das armas russas subtraídas em Racca — armas pesadas, como tanques, morteiros e mísseis antitanque –, o Daesh começou o cerco à cidade. Estranhamente, 12 dias depois, libertou 27 funcionários do Consulado turco tomados como reféns em Mossul. O primeiro-ministro turco saudou esse fato como uma vitória diplomática, enquanto terceiros o interpretaram como sinal do acordo com o Daesh para derrubar Kobane. As YPG/YPJ, de um lado, resistiram aos ataques e, de outro, ajudaram a população civil da cidade a afastar-se da zona de conflito. Grande parte da população civil migrou para o Bakur, no Curdistão do norte.

Enquanto o presidente da República da Turquia continuava repetindo “Kobane já caiu”, a ação suicida de Arim Mirkan no alto da colina de Miştentur foi o estopim da revolta de 6 a 8 de outubro na Turquia. Durante esses dias, o Estado turco matou cinquenta pessoas e somente a intervenção de Öcalam conseguiu deter a revolta. As palavras da comandante do YPG Meryem Kobane — “Kobane será Stalingrado” — marcaram o destino da guerra. Em 25 de janeiro de 2015, após resistir contra os ataques que continuavam desde 15 de setembro de 2014, o centro da cidade de Kobane, e logo a seguir alguns vilarejos, foram tomados e libertados pelo Daesh. Durante a resistência de 134 dias, dos quais 113 dentro da cidade, um total de seiscentos combatentes das YPG/YPJ perderam a vida.

Durante o dia 1º de novembro, Dia Internacional da Solidariedade a Kobane, em quatro continentes a sociedade internacional saiu às ruas para saudar sua resistência. As ações com maior participação aconteceram no Afeganistão, fortaleza da Al Qaeda, e no Paquistão. Em 22 de fevereiro, Erdogan, que repetia constantemente que Kobane fora derrubada ou que seria derrubada, bateu na porta do governo do cantão de Kobane pedindo para salvar o túmulo de Süleyman Şah, ocupado pelo Daesh, operação essa realizada junto com as forças das YPG/YPJ e que trouxe o túmulo para o vilarejo de Aşme, a oeste de Kobane.

Como funciona o governo autônomo

Há quatro anos a revolução de Rojava leva adiante, de um lado, uma resistência contra os ataques e, de outro, o trabalho para a construção de uma nova sociedade. O Contrato Social de Rojava (Constituição) foi aprovado em 6 de janeiro de 2014 pela Assembleia Executiva da Autonomia Democrática de Rojava. Segundo ele, os povos podem organizar-se livremente, com suas línguas e suas culturas, e podem se autogovernar. O Projeto para uma solução democrática para a Síria foi aprovado em 16 de março de 2015 pelo Movimento da Sociedade Democrática (TEV DEM), para sair da crise, e prevê um autogoverno democrático e igualitário para os povos da Síria.

A organização guarda-chuva das mulheres curdas, Yekitiya Star, tem um papel importante na construção da sociedade, nas academias da Jineoloji (a ciência das mulheres), onde a Yekitiya Star, todo ano, prepara pelo menos 12 ciclos de treinamento. São criadas instituições que cuidam da defesa, da segurança, da cultura, da sociedade, da justiça e da economia. A diplomacia organizou vários encontros com a Rússia, a China e a Europa. A crise que surgiu no encontro de Genebra 3 foi desencadeada pela falta de acordo sobre a participação do Partido de União Democrática (PYD). No final, EUA e Turquia polemizaram em torno do debate se o PYD seria ou não uma organização terrorista, e a Rússia aceitou a abertura de uma sede diplomática em Moscou, o que foi considerado internacionalmente uma vitória diplomática. Nas regiões de governo autônomo (os cantões), o povo se autogoverna por meio de assembleias e instituições escolhidas por ele mesmo.

As mulheres tem representação igual em todos os papéis e funções

Os partidos políticos, as assembleias do povo, os grupos étnicos e religiosos têm seus próprios representantes no governo autônomo. O governo é organizado de baixo para cima. Nos vilarejos, nas periferias, nas circunscrições, nos bairros e nas cidades, o povo constitui suas próprias assembleias e distribui os trabalhos coletivos, se organiza e participa dos conselhos. Os delegados das assembleias dos vilarejos participam das assembleias das periferias; os das assembleias das periferias participam das assembleias dos municípios; os dos municípios e dos bairros participam das assembleias das cidades. Tomam parte das assembleias das cidades as organizações da sociedade civil, os representantes das organizações de mulheres e de jovens, os partidos políticos, os grupos étnicos e religiosos, as organizações de profissionais liberais.

A assembleia geral das regiões autônomas é formada pelos delegados das assembleias das cidades. Da mesma forma, a assembleia executiva da região autônoma é formada pelos delegados das assembleias das cidades. O governo é formado pelos partidos políticos que representam todas as presenças étnicas, culturais e religiosas do território. No sistema autônomo, baseado nos princípios democráticos, que levam em conta línguas, culturas, religiões, educação e diferenças étnicas, a gestão se baseia na igualdade entre homens e mulheres, o que é representado pelo sistema de copresidência.

As regiões autônomas podem aumentar ou diminuir, dependendo das diferenças geográficas, culturais e étnicas, e podem assumir nomes variados (cantões, regiões etc.). Os delegados dos conselhos regionais que dirigem os cantões da autonomia democrática são eleitos democraticamente nas assembleias. A duração do mandato de dirigente dos cantões é de quatro anos. Os cantões da Administração da Autonomia Democrática, a Assembleia Executiva, a Assembleia Geral para as Eleições e a Assembleia Geral para a Justiça administram o sistema sob a forma de conselhos territoriais.

Na autonomia democrática, os cantões têm direito de desenvolver todas as atividades necessárias para a vida social com base na livre vontade e de criar conselhos para implementá-las. Cada militante do Yekîneyên Parastina Gel (YPG), mediante juramento, se torna um dos responsáveis pela autodefesa nacional dos três cantões.

Em 17 de março de 2016, todas as forças políticas, os partidos e as organizações sociais dos três cantões de Rojava (Al Jazira, Kobane e Afrin) e das regiões libertadas da presença das organizações terroristas realizaram um encontro com o objetivo de obter uma perspectiva política global e formar um conselho constituinte da União Federal Democrática de Rojava/Síria do Norte. Esse encontro levou às seguintes decisões:

1- A futura Síria será para todos os povos sírios. Será alcançada a instituição de um sistema democrático federal fundado na participação de todos os componentes da sociedade;

2- Trabalhar para a implementação de um sistema democrático federal para a região de Rojava;

3- Foi eleita a copresidência do Conselho Constituinte e foi fundado o Comitê Organizador de 31 membros;

4- O Comitê Organizador vai preparar nos próximos seis meses um contrato social e desenvolver um quadro político e legislativo articulado e abrangente para o Sistema;

5- Todos os comitês e os documentos produzidos pelo Conselho reconhecem a Declaração Universal dos Direitos Individuais e Coletivos das Nações Unidas, o que garantirá a construção de um sistema democrático social. Os participantes desse encontro ressaltam a importância da relação com a Síria e veem esse novo sistema como parte dela. Reconhecem também os princípios da paz e da amizade entre todos os povos da região e comprometem-se a trabalhar para que esse projeto seja colocado a serviço de todos;

6- O sistema federal se baseia na liberdade das mulheres. As mulheres têm direito a uma participação igualitária e possuem plenos poderes de decisão, com responsabilidade específica no que diz respeito a todas as questões das mulheres. As mulheres serão representadas de maneira igualitária em todas as esferas da vida, incluindo todos os aspectos sociais e políticos; 7- Os povos e as comunidades que vivem no Sistema Federal de Rojava podem desenvolver suas próprias relações democráticas, políticas, econômicas, sociais, religiosas e culturais com todos aqueles que considerem adequados, em nível regional e internacional, cuidando para que essas relações não interfiram nos objetivos e interesses do sistema democrático federal sírio;

8- Todas as regiões libertadas da presença de organizações terroristas têm o direito de participar do Sistema Democrático Federal de Rojava;

9- O objetivo do Sistema Democrático Federal de Rojava em nível regional será a instituição de uma federação democrática no Oriente Médio e o desenvolvimento dos princípios democráticos de todas as instâncias políticas, econômicas e culturais. Se formos além das fronteiras nacionais dos Estados, será possível viver em paz, com amizade e segurança;

10- A instituição de um sistema democrático federal garantirá a unidade dos territórios sírios.

Rojhilat — Curdistão “iraniano” (Curdistão oriental, dentro das fronteiras do Irã)

O Irã reconhece formalmente a região do Curdistão, a partir da metade da região do Azerbaycan do norte, metade do norte da região do Ilam, incluindo toda a região do Kermanshah, que tem uma população de cerca de 11,5 milhões de curdos em 17 cidades. Outros 1,5 milhão de curdos foram deportados na região do norte de Horasan e lá ainda vivem. A República curda de Mahabad, fundada em 1946 com o apoio da União Soviética, não foi reconhecida pelas Nações Unidas e se desintegrou no mesmo ano. Com a chegada ao poder do regime de Khomeini no Curdistão oriental, os curdos da região foram esmagados por um regime de caráter religioso e pelo nacionalismo farsi. Os de Rojhilat, que pertenciam a várias organizações diferentes, passaram a fazer parte de organizações como o KDP e o Partido Comunista Komala. Depois da guerra entre o Iraque e o Irã, a atividade dos curdos foi interrompida. Os jovens que nos anos 1990- 2000 militavam na luta dentro de associações e por meio de atividades culturais, depois da prisão do líder do povo curdo, Öcalan, entraram em massa para o PKK.

Em 2004 foi fundado o Partido da Vida Livre do Curdistão (PJAK) e começou uma nova fase para Rojhelat, quando foram dados grandes passos do ponto de vista militar, político e organizacional. Em 2014 definiram o próprio sistema confederado com o nome de Kodar. Com a declaração da formação do Kodar, a luta alcan- çou uma nova fase. As forças armadas que se uniram sob o nome Forças do Curdistão Oriental (HRK) elevaram o nível do conflito com o Irã em 2009. Nesse perí- odo, o Irã mandou enforcar muitos membros do PJAK. A líder Zeynep Celaliyan estava entre eles, dando início a uma campanha internacional por sua libertação e de outros presos políticos. Em 2011 o PJAK declarou cessar-fogo, mas dois anos depois houve novos confrontos entre as forças armadas do PJAK e o Irã.

Governo Regional do Curdistão (KRG)

O Governo Regional do Curdistão é uma região autônoma de 40 mil km 2 ligada por uma base constitucional à federação iraquiana. Com uma população de cinco milhões de habitantes, tem dois idiomas oficiais, o curdo e o árabe, mas o povo também fala o turcomeno, o siríaco, o inglês e o armênio. Segundo a Constituição do governo federal iraquiano, algumas províncias curdas, como Kirkuk, Xaneqin, Maxmur e Sinjar (Sengal), ainda dependem do governo central.

Participam do governo três partidos ativos, o KDP, o YNK e o Movimento da Mudança, chamado Goran. O Partido para a Solução Democrática do Curdistão (PÇDK), fundado em março de 2002, propõe para a região do Curdistão um sistema confederado, em vez de federal. Em 4 de agosto de 2014, o Estado Islâmico (Isis) atacou Sinjar, obrigando toda a população — 500 mil habitantes — a fugir. Durante esses ataques morreram cinco mil pessoas e cerca de sete mil mulheres foram raptadas pelo Isis. Algumas dessas mulheres foram salvas, mas 2.500 continuam desaparecidas. As forças das YPG que se encontravam em Rojava e alguns guerrilheiros do PKK que se encontravam no sul do Curdistão abriram um corredor humanitário do monte Sinjar até Rojava, pondo a salvo 120 mil pessoas. No final de 2015, as forças curdas, com uma operação compartilhada, libertaram a cidade. A região ainda se encontra sob o controle do PKK, YPG, YBS e das Forças Peshmerga do Curdistão do sul. Mas o povo de Sinjar ainda vive como refugiado no sul do Curdistão, na Turquia e em Rojava, porque a região ainda não é segura. Por causa dos ataques do Isis, chegaram à fronteira do Curdistão do sul 300 mil habitantes da Síria e 1,5 milhões de habitantes de outras zonas do Iraque; no sul do Curdistão existem 1,8 milhões de refugiados no total.

Por causa dos ataques do Isis, no sul do Curdistão existem 1,8 milhões de refugiados.

Qual país encontramos a maior presença de curdos?

A maioria dos curdos do Oriente Médio vive na Turquia, 14 milhões de pessoas; Irã, 7 milhões; e Iraque, com 6 milhões. Países como Síria, Azerbaijão e Rússia, têm comunidades nativas de curdos. Na Europa, destaca-se a Alemanha que possui uma comunidade de 1 milhão de curdos, na sua maioria de cidadania turca.

Em que região do mundo se concentra os curdos?

O povo curdo é um grupo étnico que se julga nativo de uma região do Oriente Médio chamada de Curdistão, que abrange parte dos territórios do Irã, Iraque, Síria e Turquia.

Onde os curdos se localizam?

O Curdistão Iraquiano é uma região semi-autônoma que fica localizada na parte norte do Iraque. Ela faz fronteira com a Turquia, Irã, Síria e com a parte sul do Iraque que é quase um país diferente. Falo isso porque essa região é totalmente diferente, tanto que a língua, bandeira e líderes são outros.

Em que região do mundo se concentra a maioria dos curdos 2 os curdos habitam atualmente quais países 3 em qual país há maior concentração de curdos?

Resposta: 1) Os curdos ou povo curdo são um grupo étnico do Médio Oriente com cerca de trinta milhões de indivíduos no mundo; a maioria, cerca de 14 milhões (as estimativas variam), vive no leste da Turquia, numa região frequentemente referida como Curdistão turco.