Este depoimento foi publicado em maio de 2011, logo após o lançamento do site Crônicas da Surdez. A leitora na época tinha 91 anos, surdez e cuidava de dois familiares com Alzheimer. Show “Parabéns pela iniciativa do site. Queria contar um pouco da minha história. Tenho perda auditiva desde mocinha, mas ultimamente piorou bastante. Não escuto nada na orelha direita e tenho uma perda média na esquerda. Estou com 91 anos e cuido de dois familiares com Mal de Alzheimer, meu esposo e minha irmã, ele com 88 anos e ela com 94 anos. Como não temos outros familiares, tenho de cuidar de tudo, ir ao banco, mercado, etc… Por isso, o uso do aparelho tornou-se imprescindível. Procurei um médico otorrino especialista em surdez e ele me encaminhou para uma fonoaudióloga chamada Claudia Ragusa. Após alguns testes e experiência domiciliar adquiri um aparelho auditivo, com o qual sinto-me muito satisfeita. Adaptei-me muito rápido e a fono elogia muito a minha adaptação a mudanças e facilidade perante novas informações. A infância sem aparelho auditivoQuando eu era criança não havia esta história de aparelho auditivo. Os familiares e os professores na escola achavam que eu era preguiçosa, os amigos gozavam. No meu primeiro emprego consegui ficar seis meses, mas fui despedida. Nos primeiros dois meses correu tudo bem, mas os quatro meses restantes foram muito difíceis, as pessoas não tinham paciência. Com 30 anos fui trabalhar em outra empresa onde o patrão entendeu o problema e me deu um aparelho convencional. Mas era grande e não consegui me acostumar, pois tinha muita vergonha. A otosclerose e a surdezCasei-me aos 39 anos e, como meu marido trabalhava na Siemens, fomos para a Alemanha, onde consultamos um médico que diagnosticou a otosclerose e sugeriu cirurgia de estapedectomia, mas na época não quis fazer. Aos 50 anos fiz a cirurgia na orelha esquerda e deu muito certo – escutava ‘até demais’. Foi emocionante escutar sons que nem sabia que existiam, como a música tocando no rádio do mercado, o galo cantando, o cachorro latindo, etc… Continuei perdendo a audição e ao retornar ao otorrinolaringologista não era mais recomendada a cirurgia e foi quando decidi usar aparelho auditivo. Atualmente, estou usando um aparelho na orelha esquerda, pois tenho anacusia na direita. Com ele, parei de perceber o zumbido. “ Uma reflexãoNão sei se esta leitora ainda está viva. Estava pesquisando posts antigos quando encontrei este depoimento. Lembro que, ao recebê-lo em 2011, fiquei muito emocionada. Foi uma das primeiras pessoas que me pediu para publicar sua história aqui no site – e que história!
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