Minayo, MCS; Costa, AP. Técnicas que fazem uso da Palavra, do Olhar e da Empatia: Pesquisa Qualitativa em Ação. Aveiro: Ludomedia, 2019 Show Algumas semelhanças são encontradas quando se avaliam a formação e o incentivo à pesquisa nas áreas que compõem o multifacetado campo da Saúde. Desses elementos, destaca-se um facilmente identificado em graduandos, pós-graduandos e jovens pesquisadores: a crença na dicotomia entre as abordagens qualitativas e quantitativas em Saúde. Embora se verifique que o aumento nas publicações de estudos qualitativos e mistos em saúde tem atenuado essa suposta oposição11 Baixinho CL, Presado MH, Ribeiro J. Investigação qualitativa e transformação da saúde coletiva. Cien Saude Colet 2019; 24(5):1582., constata-se que a academia ainda reproduz um contexto de exclusão e não de complementaridade metodológica, por vezes desqualificando a pesquisa Social por não se conformar às regras positivistas das ciências naturais22 Minayo MCS, Sanches O. Quantitativo-Qualitativo: Oposição ou Complementaridade? Cad Saude Publica 1993; 9(3): 293-262.. Inscrito e escrito por essa perspectiva, o livro se apresenta como uma prática referência em português que busca “tornar acessíveis os procedimentos mais utilizados para a realização da pesquisa qualitativa e, igualmente, fundamentá-los de forma a permitir aos aprendizes e usuários do método, uma segurança epistemológica quanto à cientificidade do processo e das operações”33 Minayo MCS, Costa AP. Técnicas que fazem uso da Palavra, do Olhar e da Empatia: Pesquisa Qualitativa em Ação. Aveiro: Ludomedia; 2019.(p.53). Assim, este livro pode ser entendido como um manual dirigido a estudantes e pesquisadores que se soma a outros textos nacionais reconhecidos disciplinarmente pela Saúde Pública e Saúde Coletiva44 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed. São Paulo: Hucitec; 2014.,55 Minayo MCS, Deslandes SF, Gomes R. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 2016. (Série Manuais Acadêmicos).. Publicado em 2019, apresenta 63 páginas organizadas sintética e didaticamente em oito seções (introdução, seis capítulos e referências). Sua linguagem fluida e sua diagramação clara facilitam a aproximação de estudantes da área da Saúde com a Pesquisa Social, mesmo que se priorize o diálogo com autores clássicos das Ciências Sociais e Humanas: preocupação transversal demarcada em todo o texto. Ainda que o foco do livro sejam as técnicas de coleta de dados e de sua análise, os autores sinalizam que os estudos compreensivos devem ser bem planejados e executados de “forma teoricamente aprofundada, metodologicamente correta e historicamente contextualizada”33 Minayo MCS, Costa AP. Técnicas que fazem uso da Palavra, do Olhar e da Empatia: Pesquisa Qualitativa em Ação. Aveiro: Ludomedia; 2019.(p.53). A inovação do livro, entretanto, aparece por uma hibridez assumida em sua proposta e estrutura. Se por um lado se apresenta como conservador e alinhado a outras obras técnicas que debatem sobre a dialética na cientificidade, na representatividade e na objetividade da Pesquisa Social, por outro introduz a recente discussão sobre a análise de dados qualitativos assistida por computador (CAQDAS), no tocante à gestão, à modelação gráfica e ao compartilhamento de dados e ideias. Longe de uma simples provocação sobre conflitos geracionais na pesquisa, Minayo e Costa33 Minayo MCS, Costa AP. Técnicas que fazem uso da Palavra, do Olhar e da Empatia: Pesquisa Qualitativa em Ação. Aveiro: Ludomedia; 2019. conseguem ampliar as reflexões sobre a práxis dos métodos qualitativos que, ao buscar compreender e interpretar o ser humano, a sua vida e os seus mundos, deve se sensibilizar frente às apropriações de novos dispositivos e ferramentas que representam e modulam essa mesma humanidade. Assim, nas entrelinhas do livro anunciam-se reflexões temporais que ultrapassam o escopo de um manual e avançam num debate sobre a parceria possível entre o artesanal e o tecnológico, entre a tradição e a big data. Como suposto e adequado a uma obra sobre metodologia qualitativa, evidencia-se uma preocupação autoral em se questionar e problematizar, nesse caso, as próprias ferramentas digitais. Num paralelo às técnicas quantitativas de coleta e análise de dados, orienta-se formalmente que os softwares sejam dispositivos associados e não substitutivos, não retirando do pesquisador o pleno e dinâmico protagonismo do planejamento da fase exploratória, do trabalho de campo e da análise do material empírico. Assim, um alerta apontado pelo livro é a possibilidade de a tecnologia seduzir os pesquisadores e provocar uma nova onda de ilusão de neutralidade científica, enaltecendo a ferramenta como um pré-requisito para validação e fidedignidade da pesquisa qualitativa44 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed. São Paulo: Hucitec; 2014.,55 Minayo MCS, Deslandes SF, Gomes R. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 2016. (Série Manuais Acadêmicos).. A introdução do livro anuncia a tônica assumida sobre um “modo de fazer” próprio e específico dos pesquisadores qualitativos com premissas epistemológicas que são discutidas no decorrer do Capítulo 1 (Fundamentos): Fundamentos da pesquisa qualitativa (1.1), Fundamentos das Técnicas de Campo (1.2) e Fundamentos da Análise (1.3). Num diálogo com outras obras de Minayo44 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed. São Paulo: Hucitec; 2014.,55 Minayo MCS, Deslandes SF, Gomes R. Pesquisa Social: teoria, método e criatividade. Petrópolis: Vozes; 2016. (Série Manuais Acadêmicos)., são apresentados e discutidos os principais substantivos que são a matéria prima da pesquisa qualitativa (experiência, vivência, senso comum e ação), assim como os verbos próprios de investigação (compreender, interpretar e dialetizar), valorizando os pressupostos que suportam o método e o qualificam no campo científico. O Capítulo 2 faz uma referência direta ao título do livro e expõe as principais técnicas de coleta de dados, sempre apoiadas pela ética em pesquisa. A palavra e o olhar (fala e observação) são colocados não apenas como ferramentas e instrumentos de pesquisa, mas como funções inerentes à condição humana do pesquisador e de seu interlocutor. Essa dupla condição conferida às técnicas que usam a palavra e o olhar constitui a essência da Pesquisa Social, a qual será eficiente somente a partir de uma interação empática e integrativa do pesquisador com seu objeto no campo. A seção 2.3 valoriza a empatia não como uma técnica, mas como uma atitude necessária à Pesquisa Social como um “fio invisível que costura todo o trabalho intersubjetivo em campo”33 Minayo MCS, Costa AP. Técnicas que fazem uso da Palavra, do Olhar e da Empatia: Pesquisa Qualitativa em Ação. Aveiro: Ludomedia; 2019.(p.22). Em técnicas que fazem uso da palavra (2.1) são expostas diferentes estratégias, agrupadas como entrevistas, apontando suas especificidades amparando-se pela argumentação de que a escolha por uma modalidade está vinculada a sua boa adequação ao objeto. Sendo uma provocação à fala e à palavra, uma entrevista precisa incorporar o contexto de sua produção, para que a expressão verbal obtida represente e comporte as relações, atitudes e práticas da vida social dos entrevistados. As técnicas que fazem uso do olhar e da convivência (2.2) são apresentadas como as que priorizam o ver, o sentir e o conviver no campo, em diferentes medidas entre o participar e o observar. O terceiro capítulo (Técnicas de análise de dados) aborda as principais dúvidas e demandas metodológicas dos pesquisadores qualitativos, segundo a experiência autoral. Porém, a maior orientação fornecida durante essa seção trata do fazer ciência como um trabalho árduo ancorado no tripé teoria, método e técnica; assim, a análise e o tratamento dos dados são uma etapa interconectada dentro de um projeto de pesquisa. Tal cuidado se realça no texto pela suposta facilidade que as ferramentas digitais podem oferecer à conclusão de uma pesquisa. O capítulo retoma as proposições e etapas que Minayo amplamente debate com outros autores em “O desafio do conhecimento”44 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed. São Paulo: Hucitec; 2014.: ordenação do material empírico; categorização/busca de unidades de sentido; contextualização e o constructo de primeira ordem; interpretação de segunda ordem. Tais referências se aprofundam no capítulo seguinte dando uma solidez teórica e reflexiva às indagações metodológicas sobre a investigação qualitativa. Em Questões Epistemológicas referentes aos instrumentos são debatidos: senso comum e conhecimento científico (4.1), representação e representatividade (4.2), objetividade e subjetividade (4.3) e os critérios de fidedignidade e de validade na Pesquisa Social (4.4). O capítulo cinco, amparado por arsenal teórico prévio, representa a maior novidade do livro ilustrando como as ferramentas digitais podem ser utilizadas na codificação e análise preliminar do material empírico, tal como em seu compartilhamento e suas conexões com outros investigadores. A partir de um recurso exemplificativo de um projeto fictício, são explicitadas as diferentes etapas de utilização e de manejo do software conhecido como webQDA, demonstrando as potencialidades que a ferramenta proporciona. Esse programa de análise qualitativa vem sendo estudado por Costa66 Costa AP. Cloud Computing em Investigação Qualitativa: Investigação Colaborativa através do software webQDA. Fronteiras: J Social Technol Environ Sci 2016; 5(2):153-161. e compartilha finalidades e desenhos semelhantes a outros dispositivos eletrônicos de e-research. Com 11 ilustrações que capturam a interface do programa, discute-se como os passos metodológicos qualitativos podem ser simplificados e potencializados através de quatro sistemas operacionais que o estruturam: Fontes, Codificação, Questionamento e Gestão. Didaticamente, tais recursos são apresentados em três atos: Trabalhar os dados (5.1), Ato de interpretar (5.2) e Ato de Inferir (5.3). O formato e a linguagem do capítulo despertam curiosidade provocando indagações pertinentes à práxis e ao futuro da pesquisa. As considerações finais do livro (Capítulo 6) retomam a trajetória da investigação qualitativa, que acompanhou a construção da ciência moderna, passando pela fenomenologia alemã e pela Escola de Chicago. A compreensão e interpretação da realidade, ainda que entendida como algo inacabado e aproximado44 Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 14ª ed. São Paulo: Hucitec; 2014., é uma missão da Pesquisa Social, tão pertinente ao campo da Saúde, por lidar essencialmente com o que é humano. A co-autoria, reunindo dois experts no campo da pesquisa qualitativa, representa com maestria e simplicidade a proposta assumida pelo manual. Dois importantes pesquisadores numa parceria entre a tradição e a inovação, estimulando novas ações em pesquisas. Incorporado como uma atual e clássica referência metodológica, o livro contribuirá com os trabalhos de diversas graduações e pós-graduações em Saúde no país, disseminando a contemporaneidade e a tradição que as abordagens qualitativas podem assumir. Referências
O que diz Minayo sobre pesquisa qualitativa?Minayo (1994, 2000) diz que a pesquisa qualitativa responde a questões particulares, enfoca um nível de realidade que não pode ser quantificado e trabalha com um universo de múltiplos significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes.
Como citar Minayo pesquisa social?Citação: MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org). Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis, RJ: Vozes, 1994.
O que é metodologia de acordo com Minayo?Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a elas.
O quê Minayo fala sobre pesquisa Bibliografica?A pesquisa qualitativa, de acordo com Minayo (2009), se ocupa com um nível de realidade que não pode ou não deveria ser quantificado, isto é, trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes.
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