Filosofia e ciência são dois campos de estudo sobre o ser humano, sobre o mundo e a relação entre as pessoas e os objetos, porém cada uma delas atua de uma maneira específica.
Ciência corresponde a um conjunto de conhecimentos sobre os fatos da realidade, que são sistematizados por meio de um estudo preciso e rigoroso. Sua metodologia busca comprovar teses de maneira sistemática e controlada, para verificar sua validade. A ciência envolve todo o conhecimento adquirido através do estudo baseado em princípios científicos.
Já a filosofia questiona e problematiza a realidade que vivemos, coloca em dúvida os saberes estudados e obtidos, inclusive as produções científicas e as concepções que fundamentam os trabalhos científicos. A filosofia nos convida a refletir sobre o modo como vivemos e como entendemos o mundo, por isso nem sempre é uma prática no sentido objetivo do termo.
Se um cientista descobre um meio de aumentar a produção de petróleo no mundo, o filósofo questiona sobre as implicações na política, na economia e as mudanças sociais que podem ocorrer. Se outro cientista pesquisa uma substância para rejuvenescer a aparência de uma pessoa de idade, o filósofo reflete sobre como isso pode afetar a autopercepção da pessoa ou como será sua relação com os outros.
No início do saber filosófico ocidental, na Grécia Antiga, durante o século VI a.C., não havia distinção entre temas filosóficos e temas científicos, todo filósofo era também um cientista. As ciências metódicas, empíricas e sistemáticas que hoje conhecemos surgiram de especulações filosóficas.
Atualmente, a ciência está muito mais voltada para questões objetivas e práticas. Os filósofos não se ocupam somente de coisas práticas, mas buscam compreender o que envolve certas escolhas e avanços científicos. Enquanto o cientista busca uma tecnologia de comunicação via satélite, o filósofo questiona se essas descobertas estão fazendo com que as pessoas se comuniquem mais ou melhor.
Uma das características da filosofia é ser um saber amplo, que envolve toda uma teia de disciplinas, como o ser humano, a cultura, a ética, a epistemologia, a linguagem, a política, a estética, a ciência, de modo que nada está fora do campo da filosofia. Já caso das ciências, cada uma delas se especializa num campo de estudo e desenvolve pesquisas e trabalhos em sua área.
O saber filosófico é um saber que não está aí para resolver uma questão específica, mas questiona sobre as relações, as ações e os saberes produzidos. É portanto um saber crítico, que problematiza as questões que envolvem nossa vida, mesmo que não haja uma necessidade prática, refletindo sobre o nosso modo de viver e de ver a vida.
Geralmente, os questionamentos da filosofia são voltados para a qualidade das relações e das coisas do que para a quantidade. A ciência costuma se voltar mais à questões quantitativa, fatos observáveis e que possam ser mensurados.
Diferente da matemática ou da física, a filosofia não busca provas mensuráveis de suas investigações, inclusive o questionamento filosófico não busca chegar em conclusões ou leis gerais, como é o objetivo das ciências, mas pretende ampliar cada vez mais a compreensão sobre o que estuda, não com o objetivo de se concluir saberes mas de entender mais.
A própria palavra "filosofia", que significa "amor à sabedoria", demonstra a modéstia de como o filósofo se coloca, ele não é um conhecedor da ciência das coisas, mas um "amante do saber", que se interessa pelo saber não para chegar a um ponto específico, mas para revelar seus sentidos e significados possíveis.
Um cientista pode ser também filósofo, o que torna sua atuação mais ampla e questionadora além de técnica e objetiva, do mesmo modo que um filósofo pode se dedicar também a uma ciência. Cada um tem seu valor em seu modo de atuar, a soma dos dois modos de entender o mundo colabora para um conhecimento mais aprofundado e crítico da realidade.
A psicologia existencialista envolve um lado filosófico, do existencialismo, e outro científico, da psicologia, de modo a promover uma atuação científica que sempre é questionada e problematizada em seu contexto mais amplo, no sentido filosófico. Isso possibilita uma compreensão mais aprofundada sobre o ser humano e seu meio, e sobre tudo mais o que envolve as relações.
Por Bruno Carrasco.
A Filosofia da Ciência é o ramo que reflete e questiona a ciência e o saber científico.
A Ciência se ocupa de problemas específicos dos fenômenos naturais enquanto a filosofia se encarrega de estudar os problemas gerais.
No entanto, em última análise, o estudo de ambos não é contraditório e sim complementário.
Dentre as principais questões que ocupam a Filosofia da Ciência podemos destacar:
- Qual é a especificidade da Ciência?
- Qual é o seu valor?
- Para que serve a ciência?
- Quais o limites da ciência?
O que é Ciência?
A palavra Ciência vem do latim, scientia, que pode ser traduzida por conhecimento, sabedoria.
A Ciência seria a busca pelo conhecimento de forma sistemática, formulando suas explicações através de leis científicas e matemáticas.
Muitas vezes, a pesquisa científica gera mais perguntas que respostas. Como observou o dramaturgo inglês Bernard Shaw:
A ciência nunca resolve um problema sem criar, pelo menos, dez outros.
Campo Científico
A Ciência limita o seu campo de estudo aos fenômenos regulares e busca classificá-los. Desta maneira está apta a formular enunciados generalizadores – as leis científicas – que explicam estes mesmos fenômenos.
Exemplo: chuva.
O fenômeno chuva pode ser observado em quase todas as partes do globo. O cientista questiona como se forma a chuva pela observação, sua regularidade e características.
Assim, elabora teorias sobre sua origem, buscando explicações na própria natureza e sem atribuir a algum ser exterior - deus, mitos - a ocorrência da chuva.
Após as pesquisas está apto para descrever o fenômeno chuva com dados físicos, químicos e matemáticos: evaporação, condensação e precipitação. Classificar os tipos de nuvens, também de chuvas e elaborar uma lei científica sobre o assunto.
Transitoriedade das Teorias Científicas
As leis científicas, contudo, não são imutáveis nem eternas. Com o avanço na própria pesquisa científica, as leis que foram formuladas em uma determinada época, podem ser revistas e desacreditadas em outra.
Exemplo: Criacionismo.
Por séculos, no mundo ocidental, a única explicação possível para o surgimento do Universo era que ele fora criado por Deus.
Com o surgimento das teorias evolucionistas de Charles Darwin (1809-1892) passou a se questionar esta teoria. Novas possibilidades foram levantadas: a criação do cosmos teria durado bilhões de anos e não dias. A própria criação do homem foi revista ao ser elaborada a teoria do parentesco entre o ser humano e os símios.
Método Científico
Para que um fenômeno seja cientificamente aceito é preciso que ele seja submetido ao método científico.
A sistematização do conhecimento científico tal como o definimos hoje surgiu com René Descartes (1596-1650). Ele elaborou o método científico ou cartesiano. Leia mais sobre o Método Científico.
Esta metodologia serviu para que os fenômenos naturais pudessem ser explicados com outra linguagem que não a teológica.
Desta maneira, a partir de Galileu Galilei (1564-1654), se pretende um conhecimento específico e quantitativo. Em outras palavras, a ciência só aceitaria aquilo que pode ser comprovado através das repetições das experiências e dos cálculos matemáticos.
Veja também: Método Científico
Origem da Filosofia da Ciência
A Filosofia da Ciência surge como um ramo distinto do saber no final do século 18 e se consolida no século 19.
Estamos no contexto da Revolução Industrial, das expedições científicas na América, na busca por entender o funcionamento da natureza.
Desta forma surgem duas proposições de como o ser humano deve ser aproximar da natureza. Nietzsche (1844-1900) defendia que só é possível conhecer a natureza pela força e dominação. Todo conhecimento implicaria em poder.
Porém, o filósofo J. Bronowski (1908-1974) defendia o contrário:
O homem domina a natureza não pela força, mas pela compreensão.
Desta maneira, passamos para uma questão extremamente relevante que os cientistas se confrontam no seu cotidiano. Para que serve o conhecimento científico? Como se deve empregá-lo? Abaixo refletiremos sobre estas perguntas.
Limites da Ciência
A Filosofia da Ciência também questiona a utilidade da Ciência. Sabemos que algumas pesquisas científicas podem levar tanto à melhoria da qualidade de vida quanto à destruição. Este campo da filosofia da ciência é chamado de ética científica.
Exemplo: DNA
Com a decodificação do DNA e dos genes na década de 50 abriu-se um vasto campo na Biologia e na Medicina. Doenças incuráveis puderam ser contornadas desde a concepção. No entanto, essas mesmas informações podem levar a uma espécie de seleção natural ao serem descobertas doenças genéticas ainda incuráveis.
Conclusão
A Filosofia da Ciência se ocupa de questionar todos os aspectos do trabalho científico: desde a pesquisa até sua utilidade.
O que distingue a Ciência dos demais campos do saber é o método científico que deve ser conduzido de maneira rigorosa e imparcial.
Longe de ser um campo estático, a Ciência questiona seus fundamentos e leis já elaboradas.
Principais Filósofos da Ciência
Leia aqui sobre a vida e as ideias dos principais estudiosos que refletiram sobre a Filosofia da Ciência.
- René Descartes
- Galileu Galilei
- Isaac Newton
- Nietszche
- Charles Darwin
- Albert Einstein
- Karl Popper
Bacharelada e Licenciada em História, pela PUC-RJ. Especialista em Relações Internacionais, pelo Unilasalle-RJ. Mestre em História da América Latina e União Europeia pela Universidade de Alcalá, Espanha.