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Sociedade da Informa��o, Global Information Society, em seu nome de origem conceitual e ling��stica, Sociedade do Conhecimento, Nova Economia, s�o express�es geradas no interior do mesmo fen�meno e que, se n�o recobrem exatamente os mesmos significados, pertencem, contudo, ao mesmo campo sem�ntico estendido na planura da ret�rica redencionista da globaliza��o.
Nesse sentido, o Brasil, antes mesmo da apropria��o da materialidade abstrata da globaliza��o, que � a livre circula��o do capital financeiro, foi se apropriando, pelos projetos e programas que constituem os marcos das aspira��es da sociedade mundializada, dessa ret�rica-simulacro-de-inclus�o.
As perora��es dos sacerdotes do novo credo formam arengas que, pela recita��o insistente, v�o constituindo como que mantras de verdades oraculares: novo paradigma tecno-econ�mico, resgatar a d�vida social, alavancar o desenvolvimento, constituir uma nova ordem social, excluir a exclus�o, economia baseada na informa��o, no conhecimento e no aprendizado, "onda de destrui��o criadora", evitar que se crie classe de "info-exclu�dos", alfabetiza��o digital, flu�ncia em tecnologia da informa��o e comunica��o, aprender a aprender, inclus�o social como prioridade absoluta, democratiza��o dos processos sociais pelas tecnologias da informa��o, vencer a clivagem social entre o formal e o informal, agrega��o de valor, redes de conte�dos que far�o a sociedade mover-se para a sociedade da informa��o, educa��o a dist�ncia, igualdade de oportunidades de acesso �s novas tecnologias, condi��o indispens�vel para a coes�o social no Brasil.
H� mais! Mas a amostra basta para dar uma id�ia do curso das �guas claras desse pensamento simplista que constitui o ide�rio ambicioso da sociedade global da informa��o.
E o recitativo faz sucesso, como os romances de Paulo Coelho ou os livros de auto-ajuda e outros tantos de apropria��o esot�rica da f�sica qu�ntica e de outros conhecimentos conquistados pela Ci�ncia.
O Brasil lan�ou recentemente o seu livro verde contendo esse ide�rio program�tico e o elenco de metas e objetivos de sua sociedade da informa��o. Espera-se que o livro amadure�a e que os dados, an�lises e inten��es consubstanciem os avan�os preconizados e ali considerados indispens�veis para o pa�s ombrear-se com outros eletronicamente mais desenvolvidos e, assim, n�o ficar de fora, exclu�do, a ouvir e a assistir ao concerto das na��es s� pela sala de v�deo-confer�ncias.
Dados publicados no livro verde mostram o avan�o, nunca antes conhecido, de uma tecnologia de informa��o e comunica��o, como o ocorrido com a Internet no espa�o de 4 anos, tempo em que atingiu, nos EUA, 50 milh�es de pessoas, quando a TV levou 13 anos, o computador pessoal, 16, e o r�dio, 38, para atingir esse mesmo n�mero.
No Brasil, embora entre os 12 pa�ses mais bem posicionados, apenas 5% da popula��o utiliza os servi�os de rede, havendo ainda um grande d�ficit de meios f�sicos para acesso � Internet, poucos conte�dos em portugu�s (85% deles s�o em ingl�s), um n�mero muito pequeno de telecentros para uso p�blico da Internet e metas muito t�midas conquistadas pelos projetos governamentais de informatiza��o das escolas p�blicas (s� 3,3% das 165 mil escolas de ensino fundamental est�o conectadas).
H� v�rios programas implantados e em desenvolvimento para o uso das tecnologias da informa��o e comunica��o em educa��o a dist�ncia, uns mais, outros menos bem sucedidos, mas todos, no geral, aqu�m do desempenho de p�blico e de resultados almejados.
� o caso da PROINFO e da TV Escola, do MEC, do Telecurso 2000, j� melhor consolidado, do bem estruturado programa de p�s-gradua��o da Universidade Federal de Santa Catarina e do ambicioso Unirede envolvendo 61 universidades p�blicas, al�m dos programas do Minist�rio da Cultura (MINC) para interliga��o das bibliotecas p�blicas municipais e do grande projeto de informatiza��o do acervo da Biblioteca Nacional, que at� agora atingiu cerca de 700 mil registros, para um total de 8,5 milh�es de pe�as.
O CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient�fico e Tecnol�gico) lan�ou, no final de 1996, o Prossiga com o intuito de estimular o uso da informa��o e da comunica��o para a pesquisa cient�fica. O programa engloba diversos projetos como bibliotecas virtuais, servi�os para pesquisadores de C&T e mercado de trabalho, escola virtual com cursos a dist�ncia atrav�s da Internet, e os vortais (portais verticalizados) lan�ados recentemente, entre outros.
O governo oferece aos cidad�os uma s�rie de servi�os informatizados que antes requeriam, em geral, longas vias burocr�ticas de dificuldades variadas e o pagamento de atravessadores para sua facilita��o. Hoje, FGTS, PIS/PASEP, Imposto de Renda, Carteira de Trabalho, T�tulo de Eleitor, Previd�ncia Social, Passaporte, Cart�o Nacional de Sa�de est�o, entre outros, disponibilizados via rede eletr�nica.
H�, no pa�s, uma grande quantidade de provedores de acesso � Internet e aos seus conte�dos e um sistema banc�rio altamente informatizado e, sob este aspecto, pioneiro na Am�rica Latina e alinhado aos melhores do mundo. A Internet 2, com velocidades de no m�nimo 100 MB/s j� � uma realidade para o universo acad�mico e de pesquisa, sendo a Academic Network S�o Paulo, a Rede ANSP, instalada pela FAPESP, uma das mais eficientes e eficazes do sistema, em estreita rela��o com a Internet 2 dos EUA e pr�xima coopera��o com a National Science Foundation, que a gerencia e administra, naquele pa�s. Essas condi��es tecnol�gicas altamente desenvolvidas contribu�ram, sem d�vida, para otimizar a capacidade de pesquisa e produ��o de resultados do Programa Genoma da FAPESP, com o alto desempenho que possibilitaram � Bioinform�tica, permitindo ainda programas de ineg�vel import�ncia bibliogr�fica como � o caso do projeto Scielo, tamb�m da FAPESP, em parceria com a Bireme.
O presidente Fernando Henrique lan�ou recentemente o programa Telecomunidade para levar computadores �s escolas p�blicas de ensino m�dio no pa�s. A meta, segundo o governo, � que, at� dezembro de 2002, sejam beneficiados 7 milh�es de alunos de 13 mil col�gios. Tudo isso � fator de inclus�o do Brasil no mundo digitalizado da informa��o e da comunica��o globais, sem falar, � claro, da ampla dissemina��o dos celulares, hoje utens�lio indispens�vel at� mesmo para a organiza��o-organizada-do-crime-organizado, nos pres�dios e fora deles.
Ent�o, o Brasil est� dentro?
Est� dentro e fora ao mesmo tempo.
Inclui-se pela modernidade dos programas e pela ambi��o das metas, al�m das r�citas das ladainhas da p�s-modernidade que t�o bem decora e reproduz.
� exclu�do, contudo, quando se fazem as contas dos resultados efetivamente alcan�ados e do pequeno alcance social que o dom�nio - efetivo - das tecnologias da informa��o e comunica��o promovem at� agora.
Se os dados da ONU estiverem corretos e a previs�o de que nos pr�ximos 10 anos ser� preciso gerar, no m�nimo, 1 bilh�o de empregos no mundo, e se as tend�ncias apontadas para esse in�cio de s�culo confirmarem que somente 25% da popula��o economicamente ativa ser� de trabalhadores qualificados e protegidos pela legisla��o, outros 25% pouco qualificados e desprotegidos, e 50% desempregados ou sub-empregados em trabalhos informais e ocasionais, sem nenhuma prote��o legal, se esses cen�rios se configurarem efetivamente, claro est� que o ritmo de crescimento de nossa economia jamais alcan�ar� a velocidade da demanda social e que todo esfor�o de alinhamento por cima gerar�, no fim das contas, muito mais exclus�o do que inclus�o.
Desafios de que n�o se pode fugir e que o confronto simb�lico Davos/Porto Alegre alegoriza em conflitos culturais, pol�ticos econ�micos e sociais.
N�o h� receita f�cil para os problemas criados na esteira da globaliza��o e nem � certo que o fen�meno perdure mais que o tempo de tornar o capitalismo mais forte e mais concentrado, pela agrega��o de capital, como se diz agora, ou pela sua acumula��o, como j� se dizia anteriormente.
O fato � que, socialmente, num sentido amplo, os seus benef�cios tem sido feitos mais de simulacros do que de distribui��o efetiva da riqueza do mundo, esta sim cada vez mais transnacional, livre para circular como capital financeiro, mas ancorada na propriedade exclusiva dos grandes conglomerados que, ao enriquecerem mais e mais, tanto mais empobrecem os estados, os governos, as na��es e as popula��es marginalizadas da Terra.
Que h� exclus�o social, n�o paira a m�nima d�vida.
O desafio � tamb�m entender como ela se d� - que sempre se deu - nesse espa�o cada vez menos f�sico, cada vez menos geogr�fico da universalidade da m�quina, da globalidade da vida, tecida na teia intrincada do fluxo e da circula��o da informa��o.
A vida globalizada � a vida estendida no tempo, mas tamb�m no varal do territ�rio �rido do deslumbramento.
Simultaneidade de aus�ncias!
O homem n�o s� n�o tem centro, como n�o est�, ao mesmo tempo, em toda parte.
A informa��o manipulada pode ser a manipula��o informada, sob a condi��o de disponibiliz�-la integralmente, sem risco de que seja compreendida efetivamente, isto �, vivenciada na verticalidade da individua��o de cada vida como fato �nico, definitivo e transit�rio, em sua permanente finitude.