Resenha - Lugar de Fala da Djamila Ribeiro.
No decorrer do texto, Ribeiro traz dados de institutos de pesquisas renomados,
revelando as estáticas das condições de vida da população negra no Brasil, afirmando que essa
invisibilidade, por conta da negação diária do racismo, contribui para que tais estáticas se
mostrem tão cruéis. Tudo para chegar na reflexão principal do livro, “quando pessoas negras
estão reivindicando o direito a ter voz, elas estão reivindicando à própria vida.” (p. 45).
Sendo assim, a autora constata que essa reivindicação de direitos e de espaços que
sempre foram negados a negros, não parte das experiências pessoais de cada um e sim da
junção de todos esses discursos, não como forma de diminuir a luta deste ou daquele grupo
social e sim como forma de se fazer ouvir, se igualando às vozes privilegiadas pelas posições
que sempre tiveram. Djamila fala aqui sobre locus social, um conceito que me agregou um
novo olhar, lugar de fala é um pedido de existência digna e voz. Absolutamente não tem a ver
com uma visão essencialista de que somente o negro pode falar sobre racismo, por exemplo.
O grupo que sempre teve o poder, numa inversão lógica e falsa simetria causada pelo
medo de não ser único, incomoda-se com os levantes de vozes. Entretanto, mesmo com essas
rachaduras, torna-se essencial o prosseguimento do debate estrutural, uma vez que uma coisa
não anula a outra, definitivamente. (p. 89).
As vezes reconhecer tais lutas é dolorido, conhecer a dor do outro é dolorido. Certas
noites são difíceis de dormir por leituras que nos mostram uma realidade que não é a nossa,
mas que existe. No dia seguinte que finalizei o livro, entendi que uma noite mal dormida por
empatia não se iguala a dor de quem vive na borda social. Lugar de fala é sobre entender isso
e fazer algo a respeito.