O que fez a Inglaterra para resolver os graves problemas financeiros logo após a Guerra dos Sete Anos?

Resumo

A Primeira Guerra Mundial forçou a Grã-Bretanha a adaptar as suas estruturas militares, económicas e políticas em função dos desafios da guerra industrializada. A transformação do seu exército – uma pequena força convencionalmente encarregada do policiamento do Império – teve um impacto considerável na cultura política liberal dominante. A guerra desafiou concepções de cidadania estabelecida e redefiniu a relação entre o Estado e a sociedade civil. Este artigo assenta numa abordagem comparativa e transnacional e procura demonstrar que, apesar do indiscutível crescimento do aparelho de Estado, a guerra não foi um jogo de vencedores e vencidos para a sociedade civil britânica. Este artigo procura neste sentido reavaliar a importância crítica do pluralismo liberal que caracterizou o sistema político britânico em tempo de guerra.

La Première Guerre mondiale a contraint la Grande-Bretagne à adapter ses structures militaires, économiques et politiques pour répondre aux défis de la guerre industrialisée. La transformation de son armée – une petite force conventionnelle vouée au maintien de l’ordre dans l’Empire – a eu un impact considérable sur la culture politique libérale dominante. La guerre entraina une contestation des conceptions établies de la citoyenneté et une redéfinition de la relation entre l’État et la société civile. Cet article s’appuie sur une approche comparative et transnationale pour démontrer que, en dépit de la croissance incontestable de l’appareil d’Etat, la guerre ne fut pas sans conséquence pour la société civile britannique. Cet article réévalue donc l’importance du pluralisme libéral qui caractérisa le système politique britannique en temps de guerre.

The First World War compelled Britain to adapt its military, economic, and political structures to meet the challenges of industrialized warfare. The transformation of its army – a small force conventionally entrusted with policing the Empire – had a considerable impact on the dominant liberal political culture. The war challenged established conceptions of citizenship and redefined the relationship between State and civil society. This article builds on a transnational and comparative approach to demonstrate that, in spite of the indisputable growth of the State apparatus, the war was not a zero-sum game for British civil society. This article therefore revaluates the critical importance of the liberal pluralism that characterized the British political system in wartime.

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Introdução

1A sociedade britânica recebeu a eclosão do primeiro conflito mundial com surpresa. Preocupada com os debates, por vezes furiosos, suscitados pela questão irlandesa, a emancipação política das mulheres ou as reformas sociais e políticas do governo liberal, só tardiamente prestou atenção à crise diplomática de Junho-Julho de 1914. A mobilização geral dos exércitos continentais, e depois a do Reino Unido em 4 de Agosto, lançaram brutalmente o país num conflito europeu e, em breve, mundial.

  • 1 Howard (Michael), «The British way in warfare: A reappraisal», dans The causes of wars and other es (...)

2Encorajada a relativizar o impacto da guerra, a sociedade britânica teve rapidamente que renunciar ao «business as usual» que Winston Churchill postulava . Esta atitude decorria da convicção errada de que a Grã-Bretanha prevaleceria prosseguindo uma estratégia tradicional baseada na sua supremacia marítima e comercial, a «British Way of War»1. A guerra, com efeito, obrigou o país a rever os seus princípios estratégicos para poder estar presente nos campos de batalha continentais. A dimensão do Corpo Expedicionário Britânico (BEF) – 100 000 homens – enviado para apoiar 1,5 milhão de soldados franceses mostra o grau de impreparação dos exércitos de Sua Majestade, até então treinados e equipados para manter a ordem imperial. A história britânica do conflito é assim, antes de mais, a da transformação do BEF num exército de massa e em instrumento da guerra industrial.

  • 2 Northampton Mercury, 7 de Agosto de 1914. 

3Na sua maior parte ignorando as realidades da batalha que estava para chegar, os comentadores pressentiam no entanto que o conflito «não seria totalmente do Governo, do Exército e da Marinha2». A guerra, com efeito, inaugurava uma nova era em que as populações civis já não seriam indiferentes ao destino das tropas, e em que os exércitos dependeriam de sociedades verdadeiramente beligerantes.

  • 3 Purseigle (Pierre), «Home Fronts: the mobilization of resources for total war», in Chickering (Roge (...)

4Na angústia e incerteza da entrada na guerra, questionava-se tanto na Grã-Bretanha como em França, a capacidade das democracias liberais em responder às exigências da guerra moderna. O parlamentarismo e os processos deliberativos próprios da democracia liberal não pareciam aptos a conduzir à batalha decisiva tão cara aos estrategas de então. Os desafios colocados aos Estados-nação britânico e francês não eram apenas organizacionais. Para além da adaptação dos seus aparelhos militares, administrativos e económicos à guerra industrial, a «lógica totalizadora» do conflito abalava, com efeito, os fundamentos dos próprios sistemas políticos dos países beligerantes3. A guerra lançava às democracias liberais francesa e britânica – por mais limitadas e incompletas que fossem – um outro desafio maior do qual os actores políticos estavam igualmente conscientes, na formulação de C. A. McCurdy, M.P., deputado de Northampton:

  • 4 Northampton Record Office (NRO) N.T.C. 3, 31 de Outubro de 1915.

«Um dos grandes problemas que a democracia deverá resolver no futuro é mostrar que as liberdades pessoais e políticas mais completas não são incompatíveis com uma organização – tendo por objectivo a guerra ou a paz – tão eficaz como a estabelecida por um governo autocrático absoluto4

  • 5 Taylor (A. J. P.), English History, 1914-1945, Penguin, London, 1992, p. 2.

5O conflito parece ter dado uma resposta tão clara quanto peremptória a estas questões. A guerra surge, com efeito, tanto na memória colectiva como na historiografia, como o coveiro do liberalismo britânico, vítima de uma obra de estatização sem precedente. Em nome do conflito, afirmava A.J.P. Taylor, «a história do Estado inglês e a do povo inglês fundiram-se pela primeira vez5».

6A análise da experiência britânica da Grande Guerra permite-nos todavia corrigir esta perspectiva convencional, que se desvaloriza, sobre a natureza do liberalismo britânico. Reduz, desde logo, este último à recusa do intervencionismo estatal, porquanto o Partido Liberal assumia uma coligação progressista que permitia lançar políticas sociais redistributivas. Minimiza também o papel central assumido na justificação do conflito e a adesão das populações a partir da perspectiva liberal da guerra e das suas causas. No âmago das ideias de 1914, o liberalismo permitia finalmente à sociedade britânica responder às exigências da guerra industrial.

  • 6 Bock (Fabienne), «L’exubérance de l’Etat en France de 1914 à 1918», Vingtième Siècle. Revue d’Histo (...)
  • 7 Harrison (Brian Howard), The transformation of British politics, 1860-1995, Oxford University Press (...)

7A «exuberância» de Estado de guerra6 era tão evidenciada na Grã-Bretanha como em França. No entanto, os relatórios do Estado e da sociedade civil britânica não se reduziam a um jogo de soma zero. Os modelos britânicos da beligerância liberal não se confinam, contudo, a uma mudança de escala, salientando as dimensões locais, nomeadamente urbanas, dos processos de mobilização social. Estes, de facto, revelam o carácter fundamentalmente pluralista do sistema político liberal britânico, no âmbito do qual as comunidades e autoridades políticas locais não eram nem periféricas nem marginais. O governo local era investido pelos dois principais partidos, Liberal e Conservador Unionista, como o era, pelo movimento operário, o jovem Partido Trabalhista7.

  • 8 Purseigle (Pierre), Mobilisation, sacrifice, et citoyenneté. Angleterre-France, 1914-1918, Les Bell (...)

8Apoiado em parte no estudo de Northampton, cidade industrial e bastião liberal8, este artigo aborda mais especificamente as realidades quotidianas da governação em tempo de guerra. Neste contexto, o liberalismo não é encarado apenas como um conjunto de referências ideológicas e partidárias, mas como uma cultura regulando a competição política. Colocando nestes termos a questão da beligerância liberal, este artigo sublinha em primeiro lugar o carácter estruturante do modelo de recrutamento militar adoptado do outro lado da Mancha. A posição particular de uma nação defendida por um exército de voluntários até à instauração do recrutamento em 1916, daria um destaque singular à mobilização do liberalismo britânico. Revelando tanto as forças como as fraquezas do pluralismo liberal, as exigências da guerra industrial redefiniram, além disso, os termos da cidadania britânica bem como os contornos do Estado.

A Grã-Bretanha Liberal perante a guerra moderna

  • 9 Masterman (C.F.G.), «The temper of the people», The Contemporary Review, 1915, n.o 595, p. 10.

«Nas cidades cinzentas, perante uma guerra que lhes caiu em cima como a trovoada num céu sem nuvens, eles convenceram-se firmemente que esta guerra não podia ser evitada por qualquer meio honorável. Adoptaram uma determinação tranquila e inflexível para a levar a cabo9

9Descrita nestes termos pela pena do liberal Charles Masterman, a atmosfera das cidades industriais do norte de Inglaterra reflectia a atitude de um país que, no seu conjunto, se resignava ao conflito. A guerra foi, com efeito, considerada globalmente como uma resistência legítima às ambições do Reich alemão. Assim que a invasão da Bélgica e da França evidenciou o desprezo a que as potências centrais votavam o direito das nações, as culturas de guerra dominantes mostrariam em breve o choque militar como o confronto de dois sistemas filosóficos. Ao direito do mais forte (Might is Right) de que se reclamaria a autocracia germânica, as democracias liberais oporiam o direito das Nações.

  • 10 The Northampton Mercury, 14 de Agosto de 1914.

«Nós, Liberais, não queremos a guerra. […] A Alemanha impõe-nos [os seus] horrores e [as suas] misérias […]. Não será uma guerra normal […]. Não será uma guerra de conquista mas para defender a nossa liberdade10

  • 11 NRO N.T.C. 3, 31 de Outubro de 1915.

10Rapidamente, contudo, a divisão ideológica que regulava o envolvimento dos Liberais revelaria a ambiguidade da sua atitude perante o conflito. Prosseguida, com efeito, em nome dos valores fundamentais do liberalismo – Liberdade, Direito, Justiça –, a guerra moderna exigia pela sua própria natureza que eles aceitassem renunciar a alguns dos seus princípios como ilustram os debates sobre o recrutamento. Os Liberais estavam, de facto, confrontados com um verdadeiro dilema. Rejeitavam, por princípio, o recrutamento, considerado atentatório das liberdades individuais, e assemelhavam-no às técnicas repressivas da autocracia militarista prussiana. Porém, reconheciam por igual os benefícios que daí retiravam as potências centrais e – ocasionalmente – o seu aliado francês. A sua rejeição do recrutamento ilustrava a incompatibilidade dos costumes políticos britânicos com os regimes autoritários; sublinhava também o perigo que uma nação insuficientemente mobilizada corria de ter que vir a recorrer a ela. Os liberais de Northampton também consideravam seu dever recordar que «a forma democrática de governo [estava] a ser posta à prova durante esta grande guerra» em que «o militarismo, a autocracia e o recrutamento [estavam] a mostrar ser instrumentos eficazes11».

  • 12 The Socialist Pioneer, Fevereiro de 1915.

11Cidade industrial de tradição radical, Northampton estava dotada de uma densa rede de organizações sindicais que permite perceber a atitude do movimento operário britânico. Com poucas excepções, os trabalhistas e liberais locais concebiam o conflito em termos muito próximos. Pensada como a oposição irredutível de dois sistemas politicos, a guerra punha em causa a própria existência de uma democracia inglesa, com certeza incompleta, mas à qual os trabalhistas continuavam agarrados. Negligenciando convenientemente o aliado russo, o Socialist Pioneer, principal órgão trabalhista de Northampton, preferia insistir na Entente franco-britânica cuja vitória constituía o meio mais seguro de estabelecer o reino universal dos valores – Liberdade, Igualdade, Fraternidade – que celebrava em consonância com a República12.

12Os apelos trabalhistas à defesa nacional não implicavam, no entanto, de forma alguma, capitular perante o Capitalismo:

  • 13 The Socialist Pioneer, Janeiro de 1915.

«Ainda que estejam acorrentados pelo sistema Capitalista, as correntes não serão contudo serradas na Grã-Bretanha se não o forem nos outros países. Não subscrevo a ideia de que a Inglaterra seja livre, mas creio que a Inglaterra é, em todo do caso, a mais livre das nações à superfície do globo, e que essa liberdade, tal como é, merece que lutemos por ela. O dia virá em que o sistema social de que até os britânicos se queixam será substituído por algo mais elevado e mais nobre, e a razão pela qual a nossa identidade nacional [nationhood] deve ser tida como sagrada será ainda mais evidente13

13Aderindo, desde Agosto de 1914, à defesa nacional, o movimento operário de Northampton reafirmaria regularmente os princípios de um envolvimento que não enfraqueceu apesar das tensões reais geradas pela guerra industrial.

14A herança liberal dos trabalhistas, como a sua ligação à República dos socialistas franceses, permitia ainda a convergência das suas posições em relação às culturas políticas dominantes; conferia, para lá do nacionalismo dos conservadores, um valor ideológico real à conflagração. Foi assim que, perante uma assembleia de operários, que Alfred Zimmer, intelectual oxfordiano, internacionalista liberal e futuro candidato trabalhista, exprimiu com clareza a sua visão do conflito:

  • 14 Seton-Watson (R. W.), Dover-Wilson (J.), Zimmern (Alfred E.) e Greenwood (Arthur), The War and Demo (...)

«A guerra de 1914 não é simplesmente uma guerra entre a Dupla Aliança e a Tripla Entente: é… uma guerra de ideias – um conflito entre duas concepções diferentes e irreconciliáveis de governo, da sociedade e do progresso14

15Como em França, o sentido deste combate existencial cristalizar-se-ia, com as invasões de 1914, na imagem de um inimigo ameaçando mesmo, para além do direito, a vida da nação.

16Empenhado numa guerra pela defesa dos direitos das nações e das liberdades do indivíduo, a Grã-Bretanha pretendeu demonstrar, à prova do fogo, a superioridade de um modelo político e social fundado num pluralismo liberal que ilustrava a organização das forças armadas de Sua Majestade.

  • 15 Winter (Jay M.), The Great War and the British people, 2e éd., Palgrave Macmillan, London, 2003, p. (...)
  • 16 Simkins (Peter), Kitchener’s army: the raising of the new armies, 1914-16, Manchester University Pr (...)
  • 17 Northampton Mercury, 28 de Setembro de 1914.
  • 18 Gregory (Adrian), The Last Great War: British Society and the First World War, Cambridge University (...)

17Até Janeiro de 1916, a Grã-Bretanha apoiou-se com efeito na adesão voluntária dos combatentes. Nos dezoito primeiros meses de guerra, reuniram-se dois milhões e quatrocentros mil homens para se juntar aos conscritos franceses15. A interpretação desta mobilização voluntária massiva, uma das principais especificidades britânicas, não resultou de uma causa única, seja o entusiasmo patriótico ou o desemprego provocado pelo início do conflito. Os britânicos acorreram em massa ao serviço militar não quando as hostilidades começaram, mas cerca de um mês mais tarde, depois do anúncio da derrota de Mons, em 25 de Agosto. Esta, provocou a adesão de mais de 10 000 homens em quatro dias. A 3 de Setembro, foram 33 204 homens que correram aos centros de recrutamento, estabelecendo um recorde que não seria ultrapassado16. Depois de meados de Agosto, contudo, a gravidade da situação e a possibilidade do prolongamento do conflito eram explicitamente evocados na imprensa. O Northampton Mercury referia-se, a 14 de Agosto, a um combate «quase sem esperança para a Inglaterra» antes de encorajar a população a «prosseguir [os seus] preparativos para um conflito que arrisca[va] durar muito tempo17. A cronologia das adesões mostra, por isso, a força desse patriotismo defensivo que, longe dos entusiasmos patrióticos de que a historiografia fez jus, sustenta todavia a adesão das sociedades beligerantes18.

18Absolutamente conscientes de participar na defesa nacional, os voluntários britânicos tinham também a garantia de o fazer num quadro – do sistema regimental e dos Pals Battalions – respeitador e reflectindo a pluralidade das afinidades eletivas (locais, profissionais, desportivas, religiosas, etc.) que teciam a relação social.

  • 19 French (David), Military Identities. The Regimental System, the British Army, and the British Peopl (...)
  • 20 Beckett (Ian F.W.), The Amateur Military Tradition, 1558-1945, Manchester University Press, Manches (...)

19Apoiado desde 1881 por uma forma de recrutamento localizado, o sistema regimental tinha sido concebido para criar e manter um sentimento de pertença fundado na origem geográfica comum dos oficiais e dos soldados. Essa ponte, criada assim «entre a sociedade dos civis e o exército regular» permitia incutir um «orgulho local» aos regimentos. Os dois conflitos mundiais demonstrariam o interesse total do sistema. Os homens mostravam-se mais disponíveis para se alistar «se não aderissem a uma burocracia qualquer sem rosto mas a uma instituição local que lhes era tão familiar que bem podia ser a equipa de futebol local19.Voluntários e Territoriais exemplificavam os valores fundamentais da sociedade vitoriana – autonomia (self-help), patriotismo e orgulho local, disciplina e respeito pelas hierarquias sociais – aos olhos dos notáveis locais que se mostravam inclinados a patrocinar e a promover as suas unidades locais20.

  • 21 Simkins (Peter), «The Four Armies, 1914-1918», in Chandler (David) e Beckett (Ian F.W.) (dir.), The (...)
  • 22 Ibid.

20Não houve contudo «símbolos mais fortes do esforço militar britânico21 queos Pals Battalions, esses «batalhões de amigos» fundados sobre as sociabilidades locais, profissionais, associativas ou desportivas e reunidas sem relação mas com o acordo do War Office. Permitindo aos seus membros servir ao lado dos seus amigos, colegas de trabalho ou vizinhos, o sucesso dos Pals Battalions foi imediato: entre Agosto de 1914 e Junho de 1916, 40% dos batalhões de reserva e de serviço tinham sido recrutados dessa maneira. Produto da cultura política eduardiana, os Pals Battalions expressavam a diversidade do tecido social como a força do voluntarismo e procediam «dessa mistura curiosa de patriotismo, espírito paroquial (parochialism), de urbanização rápida e de orgulho municipal que caracterizava a Grã-Bretanha no início do século XX22».

  • 23 NRO N.T.C. 3, 7 de Novembro de 1915.

21É inegável que o sucesso deste sistema liberal e pluralista não era suficiente para responder à procura das forças armadas. A intensificação dos combates desta guerra de usura submeteu a rude prova a sociedade, como o exército britânico, que reclamaria, em 1915, pelo menos 500 000 homens suplementares. O governo de Asquith, empenhado em gerir a opinião liberal, confiou a Lord Derby o cuidado de salvaguardar o voluntariado procurando demonstrar a sua capacidade de mobilizar as forças requeridas no seio de cada grupo social. A questão da participação militar revestia, com efeito, uma acuidade muito particular. Para os Liberais e os Trabalhistas, cometidos em evitar a imposição do recrutamento, a inegável contribuição ao serviço combatente representava um atentando importante aos princípios da mobilização nacional; uma violação tão mais grave porquanto o fracasso do voluntariado imporia o recrutamento, símbolo aos seus olhos, do militarismo de inspiração prussiana23. O fracasso do plano Derby consagraria porém o recurso à coação, encarada, apesar de tudo, como um mal menor. Lançada na sequência Military Service Act, 1916, o recrutamento permitia de facto conseguir os combatentes requeridos, assegurando uma gestão mais justa do que a mobilização social.

Redefinições e exercício de cidadania em tempo de guerra

  • 24 Winter (Jay), «Paris, London, Berlin 1914-1919: capital cities at war», in Winter (Jay) e Robert (J (...)
  • 25 NRO N.T.C. 3, 17 de Fevereiro de 1915; The Northampton Independent, 28 de Julho de 1917.

22Cada grupo compreendia a sua contribuição particular para o esforço de guerra, à luz do esforço humano e financeiro consentido pelas outras secções da comunidade nacional. Através da Europa em guerra, os «relatórios sociais do sacrifício» estruturavam assim a resposta social e política ao conflito24. No seio das democracias liberais, esta ética das mobilizações subordinava as liberdades individuais à defesa nacional e ao sacrifício patriótico. Cristalizar-se-ia no seio das sociedades beligerantes em imagens negativas da mobilização como o embuscado (shirker) e o especulador, cujas actuações nem sempre contrariavam a lei mas ultrajavam a moral do tempo de guerra. A conduta da retaguarda era realmente julgada à luz do sacrifício consentido pelo soldado. A conflagração tinha também provocado a emergência de uma hierarquia social contingente em que as relações de produção como de classe cediam, em última instância, face à autoridade moral do combatente25. Esta ética da mobilização estruturava igualmente a vida políica.

  • 26 Marwick (Arthur), The Deluge. British society and the First World War, Macmillan, London, 1965, p.  (...)

23A «trégua dos partidos», vertente britânica da União Sagrada , impôs-se em Agosto de 1914 como o reflexo defensivo de uma nação que temia a invasão de um exército continental. O governo esperou todavia o final do ano de 1915 para prorrogar o parlamento e suspender oficialmente a competição eleitoral26. Se as forças políticas concordassem sobre a sua incompatibilidade em estado de guerra, não entendiam todavia ceder quando ao seu corpo de doutrina. Apesar da censura, não renunciavam aos confrontos políticos que saíram dos seus quadros eleitorais e deliberativos formais para se estenderem na esfera associativa. A sociedade civil oferecia assim aos actores em presença um campo de forças onde disputavam os meios de influenciar a acção caritativa e a direcção do corpo social.

  • 27 Durkheim (Emile), De la division du travail social, PUF, Paris, 1973 (1ère ed. 1930), pp. 393-394.

24Cristalizando as tensões nascidas da mobilização social e industrial, a extensão e a qualificação da participação de cada grupo no esforço de guerra tornou-se no foco principal das lutas que, sem tomar sempre as formas tradicionais do conflito social ou da greve, não rompiam menos com as prescrições da trégua entre os partidos. Através dela, os actores empenhavam-se em definir e impor ao corpo social a posição que, na hierarquia do sacrifício, lhe permitia negociar os termos mais favoráveis às condições da sua participação no esforço de guerra. Os conflitos sociais eram assim vividos – e podiam portanto ser pensados – como uma maneira de reafirmar os valores fundamentais da mobilização, louvando ou denunciando o respectivo concurso de cada grupo na defesa nacional. As regras morais, constantemente afirmadas ou renegociadas pelos actores colectivos, enunciavam assim «as condições fundamentais da solidariedade social27 e a integração plural dos diversos grupos sociais no esforço de guerra.

  • 28 Thane (Pat), «Labour and local politics: radicalism, democracy and social reform, 1880-1914», in Bi (...)
  • 29 Prochaska (Frank), Schools of Citizenship. Charity and Civic Virtue, Civitas, London, 2002, p. 27.
  • 30 NRO N.T.C. 3, 18 de Novembro de 1914; 27 de Outubro de 1915; 2 de Janeiro de 1916; 15 de Março de 1 (...)
  • 31 NRO N.T.C. 4, 20 de Dezembro de 1916; 29.º relatório anual, para o ano terminado em 30 de Junho de (...)
  • 32 NRO N.T.C. 3, 27.º relatório anual de Northampton Trades Council para o ano terminado em 26 de Junh (...)
  • 33 NRO N.T.C. 4, 19 de Setembro de 1917, carta circular de Lord Rhondda, Ministro dos Abastecimento de (...)

25O conflito redefinia deste modo as obrigações recíprocas dos cidadãos e do Estado. Impondo a inclusão de grupos cuja participação na decisão política permanecia até então limitada, salientava a ligação problemática entre a representação do corpo social e a legitimação do esforço de guerra. A associação crescente das organizações operárias na tomada de decisão – processo desencadeado antes da guerra28 – respondia assim durante o conflito a um imperativo de legitimação. Com efeito, apesar das sucessivas reformas eleitorais, o sector associativo continuava a ser na véspera da guerra uma «expressão da democracia local29». Neste quadro, a participação das organizações operárias nos trabalhos das obras de guerra constituía um desafio da maior importância na mobilização local. Os trabalhistas mostravam-se particularmente prudentes relativamente a esta questão, preocupados em manter o seu papel na mobilização nacional sem comprometer a sua orientação crítica30. Enfim, o período da guerra viu também reforçar-se a representação do movimento operário no banco da magistratura local bem como no seio dos organismos de definição das políticas públicas urbanas31. A questão, aqui, não era apenas local. O conflito, realmente, proporcionava verdadeiras oportunidades aos trabalhistas. A «crise nacional» permitia mostrar que as organizações operárias não tinham apenas um papel contestário como podiam assumir a sua parte na gestão dos assuntos da Cidade32. Para grande decepção dos Conservadores, as autoridades nacionais também tinham que assegurar essa maior integração dos Trabalhistas nas estruturas de governo. Para estas, com efeito, importava que os órgãos para-públicos criados para fazer face à guerra – nomeadamente as comissões encarregadas de questões tão sensíveis como a do aprovisionamento – pudessem valer-se da maior legitimidade33. Em Northampton, como no resto do país, as organizações operárias agarraram essas oportunidades. Genuinamente empenhadas no esforço de guerra, não se esforçaram menos em aproveitá-la, argumentando as desigualdades inerentes ao sistema político britânico. Linguagem do sacrifício e retórica do serviço combinaram-se assim entre 1914 e 1918 com as reivindicações tradicionais dos grupos sociais ou políticos dominados.

  • 34 Watson (Janet S. K), Fighting Different Wars: Experience, Memory, and the First World War in Britai (...)
  • 35 NRO Northampton Corporation, Report on the health and sanitary circumstances of the county borough (...)
  • 36 Northampton Independent, 12 de Dezembro de 1914; Herald, 25 de Dezembro de 1915.
  • 37 The Socialist Pioneer, mai 1915, cf. também NRO N.T.C., reunião do conselho, 18 de Outubro de 1916.

26A forma como se fez o recrutamento, como a estrutura das forças armadas, afectou o jogo político no seio das sociedades beligerantes e, em particular, as democracias liberais. Na Grã-Bretanha, a questão da representação política era tão mais delicada porquanto uma importante minoria de homens em idade de combater se mantinha fora do serviço militar. A instauração do recrutamento em 1916 modificou seguramente os dados do problema mas não diminuiu em nada a sua acuidade. O conflito fez subir o serviço militar ao primeiro lugar dos deveres do cidadão, perturbando por conseguinte a posição dos que permaneciam excluídos. Sujeitos a pressões divergentes sobre os seus fundamentos sociais e de género, a cidadania masculina era posta em causa pela participação indispensável das mulheres no esforço de guerra. Em Northampton, a sua presença crescente no espaço público mostrava a inadequação dos modos tradicionais de dominação e de representação na reconfiguração das cidadanias induzidas pela experiência de guerra34. Também trazia para a ordem do dia a ambivalência das elites (masculinas) urbanas. Em 1914, contudo, as mulheres não eram alheias à vida social nem à economia local. Sobrevindo a guerra, os militantes da National Suffrage Union conformaram-se com a atitude adoptada pela maioria das sufragistas do país e assumiram a gestão do centro de cuidados maternais aberto na cidade durante o conflito35. Massivamente integradas nas fábricas locais, indispensáveis nas obras de guerra locais, as mulheres só viram mais tarde os seus méritos reconhecidos. Paradoxalmente, encorajado e admitido contrariadamente, o envolvimento das mulheres na esfera política apareceu inicialmente como um dos incómodos temporários induzidos pelo estado de guerra36. O Socialist Pioneer, à semelhança das organizações, percebeu contudo as implicações políticas da participação das mulheres na acção colectiva do tempo de guerra. Fervoroso defensor do direito de voto das mulheres, não deixou de reclamar durante a guerra pela extensão do sufrágio, justa recompensa, no seu entendimento, pelos seus «magníficos serviços», «heroísmo e abnegação (self-sacrifice)» de que as mulheres faziam prova participando na defesa nacional37.

  • 38 Grayzel (Susan R.), Women’s Identities at War: Gender, Motherhood, and Politics in Britain and Fran (...)
  • 39 Gullace (Nicoletta F.), «The Blood of our Sons». Men, Women, and the Renegotiation of British Citiz (...)
  • 40 Ibid, pp. 7-9.
  • 41 Watson (Janet S. K.), Fighting different wars: experience, memory, and the First World War in Brita (...)

27Impondo o levantamento de um exército de massa e a instauração do recrutamento, a guerra industrial provou no seio da sociedade britânica a revisão profunda dos fundamentos da cidadania. A dissolução parcial da fronteira que separava tradicionalmente a frente da retaguarda e os combatentes dos civis, a revisão das funções desempenhadas por cada um dos sexos provocada pela guerra, não se manifestaram em França como o mesmo vigor38. Não ocorreu nenhuma reforma eleitoral à semelhança do Representation of the People Act, 1918 consagrando uma verdadeira redefinição da cidadania. No outro lado da Macha, realmente, «o ambiente cultural criado pela guerra reconfigurou a forma como os britânicos concebiam os direitos e os deveres (obligations) da cidadania39». De facto, se a reforma eleitoral de 1918 estendeu o direito de voto às mulheres com 30 anos ou mais, também o concedeu aos soldados e veteranos dos 18 aos 21 anos, excluindo os objectores de consciência. A guerra impedia, com efeito, os combatentes de satisfazer as condições de residência requeridas para exercer o direito de voto. Enquanto eles demonstravam na linha da frente a sua ligação à pátria, os objectores de consciência não deixavam de usufruir dos direitos que lhes conferia a sua qualidade de cidadãos. Desta incoerência nasceu a vontade de promover uma reforma destinada tanto a garantir os privilégios dos guardiães da pátria com a estendê-los às mulheres cuja contribuição para a defesa nacional testemunha insignes virtudes cívicas que a lei já não podia ignorar. A guerra permitiu assim ao serviço militar, e por extensão ao serviço nacional, prevalecer sobre os critérios tradicionais da cidadania40. O Representation of the People Act mostrava com efeito as implicações políticas das lutas sociais e simbólicas de que a participação no esforço de guerra foi a questão desde Agosto de 1914. Articulada em torno das noções de «trabalho» e de «serviço», os conflitos de representações alteraram as identidades de classe e de género e redefiniram a capacidade «política na cultura liberal britânica41.

A sociedade civil britânica em tempo de guerra

  • 42 Tocqueville (de) (Alexis), De la Démocratie en Amérique, GF – Flammarion, Paris, 1981, p. 330.

«Todos os que procuram destruir a liberdade no seio de uma nação democrática devem saber que o meio mais seguro e mais curto de o fazer é a guerra42

  • 43 Halévy (Elie), «L’ère des tyrannies (Séance de la Société Française de philosophie du 28 novembre 1 (...)

28Reagindo aos avisos de Tocqueville, numerosos intelectuais e pensadores liberais dedicaram-se a sublinhar as consequências nefastas da Primeira Guerra mundial no exercício das liberdades civis e políticas. Na linha da frente, Elie Halévy, eminente historiador de Inglaterra, viu nessa crise mundial a origem da «Era das tiranias» que temia e condenava pela «estatização extremamente alargada» que significava «desde os meios de produção […] e de troca» à «do pensamento43. Enfatisando a dominação directa do Estado, Halévy equivocava-se quanto ao papel das sociedades civis beligerantes.

  • 44 Northampton Independent, 12 de Agosto de 1916.
  • 45 Horne (John), «“Propagande” et “vérité” dans la Grande Guerre», in Prochasson (Christophe) e Rasmus (...)

29Esta, com certeza, contribuia para o enquadramento ideológico da população. A imprensa local, cedendo muitas vezes à tentação propagandista, ilustrava sem dúvida o recrutamento do verbo entre 1914 e 1918. É conveniente, nesta circunstância, sublinhar a autonomia da sociedade civil nesta matéria. Os jornais locais estavam perfeitamente conscientes do papel que podiam desempenhar a este respeito44. Na Grã-Bretanha, como em França, as dinâmicas culturais da mobilização social não se reduzem simplesmente aos efeitos da propaganda estatal45. As sociedades civis assumiram a sua parte no enquadramento ideológico das populações. Contudo, mesmo o Independent, órgão da burguesia conservadora de Northampton, mostrava-se capaz de se distanciar das formas acordadas da propaganda «anti-Hun», desde 1914. Arauto da defesa nacional, o semanário não ficava silencioso perante as consequências crueis da batalha e evocava sem rodeios as baixas «devastadoras» dos regimentos locais.

  • 46 Gregory (Adrian), «A Clash of Cultures: The British Press and the Opening of the Great War», dans P (...)

30A censura das opiniões dissidentes revela também a complexidade das relações entre o Estado e a sociedade civil. Na Grã-Bretanha, a censura procedia, no essencial, do Defence of the Realm Act (DORA) que, adoptado em 8 de Agosto de 1914, permitia o exercício de uma censura política particularmente severa. No entanto, uma vez mais, apesar do aparelho coercivo à disposição das autoridades, o controlo da informação não era imposto a não ser a favor de uma colaboração estreita entre as autoridades e a imprensa cuja autocensura garantia, em última instância, a eficácia do sistema46. Instituída por e a favor do poder do Estado, a censura apoiava-se então na colaboração da sociedade civil. Neste quadro, o espaço público local retraía-se à medida dos limites que impunha o enquadramento jurídico e social das liberdades públicas.

  • 47 Northampton Daily Echo, 28 de Outubro de 1915; The Socialist Pioneer, Novembro de 1915.
  • 48 Forcade (Olivier), «Dans l’oeil de la censure: voir ou ne pas voir la guerre», dans Prochasson (Chr (...)

31Contudo, o Estado reconheceu rapidamente a sua incapacidade para conhecer e controlar a integridades dos mecanismos da formação da opinião. A história urbana atenua assim a imagem de uma sociedade inteiramente sob o controlo estatal e permite explorar outras formas de controlo social da opinião. O ramo de Northampton do Independent Labour Party sofreu, em Outubro de 1915, repetidas condenações sem rodeios da imprensa local. Também se viu privado dos recursos necessários à organização de reuniões públicas47. Como em França, a censura política era então «assumida pela sociedade política no seu conjunto48». 

  • 49 Fabienne Bock, «L’exubérance de l’Etat en France de 1914 à 1918», op. cit.; Cronin (James), «The cr (...)
  • 50 Pedersen (Susan), «Gender, welfare, and citizenship in Britain during the Great War», American Hist (...)
  • 51 Laborde (Cécile), Pluralist thought and the state in Britain and France, 1900-1925, Macmillan Press (...)
  • 52 Rosanvallon (Pierre), L’Etat en France de 1789 à nos jours, «Points Histoire», Le Seuil, Paris, 199 (...)

32O socorro aos combatentes e vítimas de guerra ilustrava também a complexidade das relações Estado/sociedade civil. Aqui, a experiência urbana do conflito proporciona uma nova luz sobre a história do Estado liberal em guerra, durante muito tempo acantonada no estudo dos aparelhos administrativos nacionais49. Aproximando a adaptação dos serviços públicos à guerra do ponto de vista das sociedades civis, prolongam-se os trabalhos que procuraram explorar a emergência de políticas sociais prefigurando a construção dos Estados sociais50. A guerra arruinou evidentemente as esperanças de todos os que esperavam que o século inaugurasse a era de um Estado modesto51. No entando, como observou Pierre Rosanvallon a propósito da França, «esta invasão do estatismo» entre 1914 e 1918 não decorreu «de qualquer plano de conjunto»; pragmatismo e empirismo determinaram as etapas e as formas do seu crescimento52. Da parceria ao controlo estrito, as relações entre os Estados britânicos e e as associações procediam do grau variável de utilização ou instrumentalização da sociedade civil escolhido para responder a uma dada situação. Face às ameaças e desafios da guerra, a cooperação foi erigida como princípio director da mobilização dos actores locais e nacionais. Desde os primeiros dias de Agosto de 1914, comunas e Boroughs estabeleceram múltiplas colaborações permitindo a gestão e a exploração dos recursos administrativos e financeiros disponíveis no território municipal.

  • 53 C.F.G. Masterman, «The temper of the people», op. cit.
  • 54 Holloway (W. H.), Northamptonshire and the Great War, Northampton Independent, Northampton, 1920, p (...)

33Perante encargos financeiros sem precedentes, impostos pela guerra industrial, o Chanceler do Tesouro britânico resolveu rapidamente fazer um apelo ao público. Para além da pressão fiscal e do financiamento directo das operações militares, o apoio aos combatentes e às vítimas do conflito foi em grande parte coberto pelo sector associativo que recolheu, gerou e distribuiu os seus socorros em dinheiro ou em géneros. Estima-se que nos primeiros dez meses de guerra tenha sido colectado o equivalente a 25 milhões de libras esterlinas53. O apoio aos dependentes dos combatentes, essencial à manutenção da coesão das sociedades, dependeu nos dois primeiros anos de guerra nas estruturas deslocalizadas da Soldiers & Sailors Families Association. Só em Junho de 1916, com efeito, é que o Estado se encarregou tendo como intermediário a War Pensions Committee54.

  • 55 Lecky (William E. H.), Democracy and Liberty, Longmans, Green and Co, London, 1899, p. 252; Prochas (...)
  • 56 NRO Northampton Corporation minutes, 12 de Abril de 1915; N.T.C 3, 24 de Março; 7 de Abril; 18 de M (...)
  • 57 Northampton Independent, 24 de Novembro de 1917.
  • 58 Northampton Independent, 3 avril 1915; The Socialist Pioneer, Abril de 1915; NRO N.T.C. 3, réunion (...)
  • 59 Lloyd (Trevor O.), Empire, Welfare State, Europe. History of the United Kingdom, 1906-2001, Oxford (...)

34Elo primordial da assistência e da caridade em Inglaterra, o espaço local viu logicamente implementar-se no seu seio numerosas iniciativas destinadas a responder às condiçções geradas pela guerra. Enquanto a comuna era, em França, considerada o centro principal da distribuição de socorros, as organizações caritativas locais incarnavam do outro lado da Mancha, como os serviços públicos, as virtudes cívicas nas quais se apoiava o envolvimento das comunidades locais55. Criada por iniciativas de organização operárias de Northampton, o Allied War Fund dependia da colecta semanal inter-classes para viabilizar o financiamento do hospital militar e as obras de guerra da cidade56. Apesar da concorrência das grandes associações nacionais, o Allied War Fund recolheu cerca de £25 000, graças a uma retenção de uma taxa sobre o salário aplicada de acordo com o espírito dos seus dirigentes57. Do voluntariado intrínseco à acção caritativa tradicional, pareciam com efeito assimilar os pagamentos para essa caixa central de socorro ao regulamento de uma dívida fiscal. Este tipo de taxas permitia repartir os encargos induzidos pela guerra e assim responder às prescrições da moral da guerra58. Este método de colecta, muito próximo do lançado pelo National Insurance Act imposto em 1911 pelos liberais, dava lugar ao nascimento de um quase-serviço público59.

  • 60 Donald-Smith (Helen), War distress and war help. Short catalogue of the leading war help societies (...)
  • 61 The Times, 11 de Outubro de 1915; B.D.I.C. F pièce 262 (A) Report on the national scheme of volunta (...)
  • 62 Le Temps, 22 de Abril de 1915; Report on the work undertaken by the British government in the recep (...)

35Dos dois lados da Mancha, o ano 1916 marcou uma etapa importante na história do associativismo em tempo de guerra. Desde que apareceram, em 1915, as primeiras reduções da acção caritativa, comentadores e gestores expressaram as suas reservas e as suas dúvidas perante a multiplicação e a redundância das obras de guerra60. Em Setembro, o War Office dotou-se de uma direcção exclusivamente dedicada ao controlo das suas associações, o Department of the Director-General of Voluntary Organisations dentro do War Office61. As polémicas suscitadas por algumas burlas desencadearam a retoma do controlo pelos governos francês e britânico que, em 1916, se dotaram de um arsenal legislativo reforçado62. A lei francesa de 30 de Maio de 1916 «relativa às obras que façam apelo à generosidade pública» e o War Charities Act, 1916, participavam do mesmo propósito de enquadrar os apelos associativos à generosidade pública. Neste quadro, as autoridades locais eram convidadas a proceder ao reconhecimento e à supervisão das obras de guerra.

36A devolução à sociedade de uma parte importante do esforço de assistência tinha permitido apenas a manutenção e a afirmação do controlo estatal? A dependência das obras de guerra locais perante as autoridade municipais ou nacionais era evidente e ilustra a instituição de um sector para-público colocado sob um regime de direito privado.

  • 63 Middlemas (Keith), Politics in Industrial Society. The experience of the British system since 1911, (...)

37Apesar do indiscutível crescimento do aparelho de Estado, a sociedade civil assumiu uma parte não negligenciável das missões de serviço público impostas ou redefinidas pelo conflito que as administrações nacionais, sozinhas, não estavam em condições de assegurar. Não obstante a restrição do seu enquadramento jurídico em 1916, as obras de guerra conservaram, no essencial, a autonomia de que dispunham em 1914. Agrupamentos políticos e profissionais contribuiram dessa forma para o governo das comunidades locais63. Para lá da parte essencial que tomou na instituição e manutenção da mobilização social, a resiliência da sociedade civil surgiu paradoxalmente em 1916 com a instauração de uma conscrição que era tida como o tocar dos sinos do liberalismo à inglesa.

  • 64 Harris (Jose), «Society and the state in twentieth-century Britain», dans Thompson (F. M. L.) (dir. (...)
  • 65 Os «alistados», o seu empregador, ou a sua família podiam apelar à decisão dos tribunais, bem como (...)
  • 66 Tilly (Charles), Coercion, Capital, and European States, AD 990-1990, Blackwell, Oxford-Cambridge ( (...)
  • 67 Grieves (Keith), The Politics of Manpower, 1914-18, «War, armed forces, and society», St. Martin’s (...)

38O Military Service Act de 1916 previa que cada recrutado tivesse o direito de contestar a sua chamada às fileiras. O estudo das jurisdições criadas para estudar esses recursos, os tribunais de serviço militar (Local Military Tribunal), permite perceber o significado simbólico e político do recrutamento. Mais do que qualquer outra questão, esta, realmente, punha em causa «a visão, herdada de meados do século XIX, do cidadão autónomo e destacado das instituições do Estado64. Os tribunais locais de serviço militar mostravam a relação complexa estabelecida em tempos de guerra entre o Estado e a sociedade civil. Instituído num período charneira em que a amplitude das perdas humanas e as privações materiais tinham absorvido as energias que sustentavam a mobilização social, os tribunais tiveram que estudar cerca de 1 125 000 apelos individuais65. Representando cada secção da comunidade local, decidiam entre os pedidos dos militares e os interesses da comunidade, formulados em termos económicos, morais ou políticos. Constituíam assim o lugar em que os agentes do Estado se esforçavam por obter os recursos humanos exigidos pela defesa nacional perante as oposições individuais e os interesses económicos locais. Os representantes da sociedade civil arbitravam os conflitos participando num debate mais alargado relativo à obtenção dos meios necessários para prosseguir a guerra66. As discussões que animavam as sessões dos tribunais revelavam o constante processo de negociação pelo qual a sociedade civil procurava limitar as pretensões do Estado sobre a Nação. Em grande parte ignorada pela historiografia francófona do conflito, a experiência destes tribunais continua mal conhecida na Grã-Bretanha onde apenas um punhado de historiadores lhe deu atenção67. No entanto, eram um instrumento de importância crucial através do qual a sociedade civil participava na instituição das requisições autoritárias do Estado. Distinguiam a esse respeito, muito claramente, o sistema de recrutamento britâncio das versões continentais do recrutamento.

  • 68 Adrian Gregory, «Military service tribunals», op. cit., p. 181.
  • 69 Northampton Independent, 14 de Dezembro de 1918.
  • 70 NRO N.T.C. 3, 16 de Junho, 30 de Agosto, 17, 26 de Outubro de 1915; 10 de Janeiro de 1916; 28.º rel (...)
  • 71 NRO N.T.C. 3, 24 de Maio, 28 de Junho de 1916; Northampton Independent, 21 de Julho de 1917.
  • 72 NRO N. C. C., Box 43A 368, carta de Monro, secretário do Central Tribunal em nome de Walter Long, 2 (...)
  • 73 Northampton Chronicle, 26 de Janeiro de 1917; NRO, Box 9w Women’s war work / Boot and shoe trade/1- (...)

39Este sistema era realmente «tudo menos um modelo de burocracia anónima. Estava enraizado nas localidades e era instituido à vista e sob o olhar de toda a gente68». Entre 13 de Novembro de 1915 e 2 de Dezembro de 1918, os juízes do tribunal de Northampton tiveram que analisar 8 000 casos individuais correspondentes a 25 591 dossiers de apelo. Reuniram cerca de 200 vezes para audiências de 5 horas em média, permitindo-lhes normalmente mal consagrar pouco minutos a cada dossier69. Continua a ser impossível afirmar com alguma certeza que o tribunal se distinguiu pela sua severidade ou indulgência. O Independent considerava contudo que os juízes, os «mais caluniados dos homens», se tinham perdido sobretudo neste campo. Fiel aos princípios da Common Law, a legislação afirmava a autonomia de cada jurisdição. O governo, pelo contrário, tinha conferido particular atenção à composição destes tribunais preservando a latitude das autoridades locais. O Governo procurava assegurar a legitimidade das jurisdições, no seio das quais nomeadamente pretendia que tivessem assento mulheres e representantes do movimento operário. O tribunal local de Northampton contava com 4 trabalhistas entre 14 juízes70. Sujeitos às pressões contraditórias da opinião71pública, o tribunal devia considerar os apelos em plano de igualdade sem perder de vista as necessidades das operações militares, o interesse nacional, considerado em particular a economia de guerra, e «as provações severas (serious hardship)» económicas, físicas ou familiares que o recrutamento podia provocar72. À volta, como no interior, destas jurisdições desenrolavam-se as arbitragens e as negociações em que os actores sociais construiam a sua própria visão dos interesses locais e nacionais. A esse respeito, os comerciantes e industriais locais, muitas vezes apoiados pelos sindicados da cidade, distinguiam-se pela sua capacidade de mobilização em favor dos empregados e operários que consideravam indispensáveis à sua actividade73.

  • 74 Daily Chronicle, 18 de Outubro de 1916.
  • 75 Adrian Gregory, «Military service tribunals», op. cit., p. 177.

40O Tribunal era um desses lugares onde se formulavam e confrontavam visões divergentes do esforço de guerra e as relações sociais do sacrifício. Aqui a jurisdição local não hesitava em opor-se aos interesses do Estado e das forças armadas, como fez, com vigor, no mês de Outubro de 1916. Profundamente chocado pelas instruções então dadas pelo War Office ao delegado militar, que era obrigado a contestar sistematicamente todas as exempções, o Tribunal adoptou uma resolução de protesto transmitida ao governo e à Câmara dos Comuns74. Nessa ocasião, o tribunal da cidade agarrou-se aos direitos do indivíduo que ele entendia representar, ignorando se necessário, as consignas autoritárias do Estado de Guerra. Situados no coração do sistema de recrutamento, os tribunais, como precisamente salientou Gregory, estiveram longe de agir como «os inimigos da liberdade individual», e incarnar «a essência do Estado tirano75. Testemunham, seguramente, o papel muitas vezes ambivalente atribuído à sociedade civil entre 1914 e 1918.

Conclusão

  • 76 Horne (John), «A parliamentary state at war: France 1914-1918» in Cosgrove (Art) e MacGuire (J.I.) (...)
  • 77 Duguit (Léon), Traité de droit Constitutionnel, E. de Boccard, Paris, 1927, vol. 2/I, 763 pp.; Dugu (...)
  • 78 Pierre Purseigle, Mobilisation, sacrífice, et citoyenneté. Angleterre-France, 1914-1918, op. cit.
  • 79 Dangerfield (George), The Strange Death of Liberal England, Constable & Co, London, 1936.

41A experiência britânica durante Grande Guerra sublinha aquilo que pode parecer um paradoxo da beligerância liberal. Ao demonstrar a capacidade do Estado para mobilizar os recursos nacionais ao serviço da vitória, o conflito acentuará igualmente a sua dependência relativamente à sociedade civil, cuja autonomia permite, no caso concreto, manter a coesão social. Face às exigências da guerra industrial, o Estado respondeu, com efeito, a um duplo imperativo, primeiro de gestão, e, em seguida, de legitimação. A mobilização social resultou de um processo contínuo de negociação das condições da participação de cada grupo no esforço de guerra. A sociedade civil liberal, proporcionando ao mesmo tempo um sistema de mediação cultural e um espaço de deliberação, permitiu preservar a legitimidade de um combate levado a cabo pelo Estado em nome da Nação e que nunca foi posto em causa de modo fundamental. Em última instância, a vitória coube aos regimes cuja cultura política e arquitetura institucional pluralistas lhes permitiru absorver as tensões sociais nascidas da defesa nacional. Democracias liberais e sociedades parlamentares, a França e a Grã-Bretanha, propuseram durante a guerra dois tipos de pluralismo distintos, mas inegavelmente aparentados76. Em muitos aspectos, ilustram a pertinência das análises sobre o Estado elaboradas à volta do conflito pelo pensamento político pluralista, representado nomeadamente na Grã-Bretanha por H. Laski e G.H.H. Cole e, em França, por Léon Duguit e a escola dita «do direito social77». Estes trabalhos sublinham o interesse por uma abordagem pragmática da mobilização social, recentrada nas práticas locais do Estado e sobre o exercício das missões de serviço público. Dessa forma, eles permitiram, nomeadamente aos historiadores da Grande Guerra, escapar à alternativa coerção/consentimento mantida artificialmente na historiografia francófona78. Ao destacarem a resiliência do pluralismo liberal britânico, a história da I Guerra Mundial convida a distinguir o colapso do Partido Liberal do colapso do liberalismo, cuja morte anunciada parece ainda mais estranha79.

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Notas

1 Howard (Michael), «The British way in warfare: A reappraisal», dans The causes of wars and other essays, Temple Smith, London, 1983, pp. 189‑207; Kennedy (Paul), The rise and fall of British naval mastery, A. Lane, London, 1976; Strachan (Hew), «The British way in warfare revisited», Historical Journal, 1983, n.o 26, pp. 447‑461.

2 Northampton Mercury, 7 de Agosto de 1914. 

3 Purseigle (Pierre), «Home Fronts: the mobilization of resources for total war», in Chickering (Roger), Showalter (Dennis E) e Ven (Hans J Van de) (dir.), The Cambridge history of war. Volume 4, War and the modern world, Cambridge University Press, Cambridge, 2012, pp. 257-284.

4 Northampton Record Office (NRO) N.T.C. 3, 31 de Outubro de 1915.

5 Taylor (A. J. P.), English History, 1914-1945, Penguin, London, 1992, p. 2.

6 Bock (Fabienne), «L’exubérance de l’Etat en France de 1914 à 1918», Vingtième Siècle. Revue d’Histoire, 1984, n.o 3, pp. 41-51.

7 Harrison (Brian Howard), The transformation of British politics, 1860-1995, Oxford University Press, Oxford-New York, 1996, p. 16 e seguintes.

8 Purseigle (Pierre), Mobilisation, sacrifice, et citoyenneté. Angleterre-France, 1914-1918, Les Belles Lettres, Paris, 2013.

9 Masterman (C.F.G.), «The temper of the people», The Contemporary Review, 1915, n.o 595, p. 10.

10 The Northampton Mercury, 14 de Agosto de 1914.

11 NRO N.T.C. 3, 31 de Outubro de 1915.

12 The Socialist Pioneer, Fevereiro de 1915.

13 The Socialist Pioneer, Janeiro de 1915.

14 Seton-Watson (R. W.), Dover-Wilson (J.), Zimmern (Alfred E.) e Greenwood (Arthur), The War and Democracy, 1915e éd., Macmillan, London, 1914, p. 318; Strachan (Hew), The First World War, Oxford University Press, Oxford, 2001, p. 1115.

15 Winter (Jay M.), The Great War and the British people, 2e éd., Palgrave Macmillan, London, 2003, p. 27.

16 Simkins (Peter), Kitchener’s army: the raising of the new armies, 1914-16, Manchester University Press, Manchester, 1988, p. 66.

17 Northampton Mercury, 28 de Setembro de 1914.

18 Gregory (Adrian), The Last Great War: British Society and the First World War, Cambridge University Press, Cambridge, 2008, p. 32.

19 French (David), Military Identities. The Regimental System, the British Army, and the British People, c. 1870-2000, Oxford University Press, Oxford, 2005, p. 5 e seguintes; Spiers (Edward), «The Late Victorian Army, 1868-1914», in Chandler (David) e Beckett (Ian F.W.) (dir.), The Oxford History of the British Army, Oxford University Press, Oxford, 2003, pp. 187‑210.

20 Beckett (Ian F.W.), The Amateur Military Tradition, 1558-1945, Manchester University Press, Manchester, 1991, p. 178. Cunningham, 1975, 68-69, 98.

21 Simkins (Peter), «The Four Armies, 1914-1918», in Chandler (David) e Beckett (Ian F.W.) (dir.), The Oxford Illustrated History of the British Army, Oxford University Press, Oxford, 1994, p. 246.

22 Ibid.

23 NRO N.T.C. 3, 7 de Novembro de 1915.

24 Winter (Jay), «Paris, London, Berlin 1914-1919: capital cities at war», in Winter (Jay) e Robert (Jean-Louis) (dir.), Capital Cities at War: Paris, London, Berlin, 1914-1919, Cambridge University Press, Cambridge, 1997, vol. I, pp. 10-13.

25 NRO N.T.C. 3, 17 de Fevereiro de 1915; The Northampton Independent, 28 de Julho de 1917.

26 Marwick (Arthur), The Deluge. British society and the First World War, Macmillan, London, 1965, p. 141.

27 Durkheim (Emile), De la division du travail social, PUF, Paris, 1973 (1ère ed. 1930), pp. 393-394.

28 Thane (Pat), «Labour and local politics: radicalism, democracy and social reform, 1880-1914», in Biagini (Eugenio F.) e Reid (Alastair J.) (dir.), Currents of Radicalism. Popular radicalism, organised labour and party politics in Britain, 1850-1914, CUP, Cambridge, 1991, pp. 244-245, 247 e 262.

29 Prochaska (Frank), Schools of Citizenship. Charity and Civic Virtue, Civitas, London, 2002, p. 27.

30 NRO N.T.C. 3, 18 de Novembro de 1914; 27 de Outubro de 1915; 2 de Janeiro de 1916; 15 de Março de 1916. Ver também L.R.C, 3.º relatório anual, Fevereiro de 1917; N.T.C. 4, 29.º relatório anual terminado em 30 de Junho de 1917.

31 NRO N.T.C. 4, 20 de Dezembro de 1916; 29.º relatório anual, para o ano terminado em 30 de Junho de 1917.

32 NRO N.T.C. 3, 27.º relatório anual de Northampton Trades Council para o ano terminado em 26 de Junho de 1915.

33 NRO N.T.C. 4, 19 de Setembro de 1917, carta circular de Lord Rhondda, Ministro dos Abastecimento de 1 de Agosto de 1917.

34 Watson (Janet S. K), Fighting Different Wars: Experience, Memory, and the First World War in Britain, «Studies in the social and cultural history of modern warfare», Cambridge University Press, Cambridge; New York, 2004, p. 7.

35 NRO Northampton Corporation, Report on the health and sanitary circumstances of the county borough of Northampton for the year 1914.

36 Northampton Independent, 12 de Dezembro de 1914; Herald, 25 de Dezembro de 1915.

37 The Socialist Pioneer, mai 1915, cf. também NRO N.T.C., reunião do conselho, 18 de Outubro de 1916.

38 Grayzel (Susan R.), Women’s Identities at War: Gender, Motherhood, and Politics in Britain and France During the First World War, University of North Carolina Press, Chapel Hill, N.C, 1999.

39 Gullace (Nicoletta F.), «The Blood of our Sons». Men, Women, and the Renegotiation of British Citizenship during the Great War, Palgrave Macmillan, New York-Basingstoke, 2002, p. 2.

40 Ibid, pp. 7-9.

41 Watson (Janet S. K.), Fighting different wars: experience, memory, and the First World War in Britain, CUP, Cambridge, 2004, pp. 3-4.

42 Tocqueville (de) (Alexis), De la Démocratie en Amérique, GF – Flammarion, Paris, 1981, p. 330.

43 Halévy (Elie), «L’ère des tyrannies (Séance de la Société Française de philosophie du 28 novembre 1936)», dans L’ère des tyrannies. Etudes sur le socialisme et la guerre, Gallimard, Paris, 1938, p. 181.

44 Northampton Independent, 12 de Agosto de 1916.

45 Horne (John), «“Propagande” et “vérité” dans la Grande Guerre», in Prochasson (Christophe) e Rasmussen (Anne) (dir.), Vrai et faux dans la Grande Guerre, «Collection “L’espace de l’histoire”», Découverte, Paris, 2004, pp. 76-95. Winter (Jay M.), «Imaginings of War: Some Cultural Supports of the Institution of War», dans Hinde (Robert A.) (dir.), The Institution of war, Macmillan, Basingstoke, 1991, pp. 155-156.

46 Gregory (Adrian), «A Clash of Cultures: The British Press and the Opening of the Great War», dans Paddock (Troy R. E) (dir.), A Call to Arms: Propaganda, Public Opinion, and Newspapers in the Great War, Greenwood, Wesport (CT), 2004, p. 24.

47 Northampton Daily Echo, 28 de Outubro de 1915; The Socialist Pioneer, Novembro de 1915.

48 Forcade (Olivier), «Dans l’oeil de la censure: voir ou ne pas voir la guerre», dans Prochasson (Christophe) e Rasmussen (Anne) (dir.), Vrai et faux dans la Grande Guerre, La Découverte, Paris, 2004, p. 45.

49 Fabienne Bock, «L’exubérance de l’Etat en France de 1914 à 1918», op. cit.; Cronin (James), «The crisis of state and society in Britain, 1917-22», in Haimson (Leopold H.) e Tilly (Charles) (dir.), Strikes, wars, and revolutions in an international perspective. Strikes waves in the late nineteenth and early twentieth centuries, CUP-MSH, Cambridge-Paris, 1989, pp. 457‑476; Green (S. J. D.) e Whiting (R. C.), The boundaries of state in modern Britain, Cambridge University Press, Cambridge, 1996; Hurwitz (S. J.), State intervention in Great Britain. A study of Economic control and social response, 1914-1919, Columbia University Press, New York, 1949; Lowe (R.), «The erosion of state intervention in Britain, 1917-1918», The Economic History Review, 1978, XXXI, n.o 2, pp. 270‑286; Renouvin (Pierre), Les formes de gouvernement de guerre. L’organisation gouvernementale française pendant la Guerre, «Publication de la Dotation Carnegie pour la Paix Internationale», PUF-Yale University Press, Paris-New Haven, 1925; Rowley (Anthony), «Nouvelle régulation ou retour à la normale? Le cas britannique après 1918», Vingtième Siècle. Revue d’Histoire, 1984, vol. 3, pp. 53‑68.

50 Pedersen (Susan), «Gender, welfare, and citizenship in Britain during the Great War», American Historical Review, 1990, vol. 95, n.º 4, pp. 983‑1006; Pedersen (Susan), Family, Dependence, and the Origins of the Welfare State: Britain and France, 1914-1945, Cambridge University Press, Cambridge; New York, 1993.

51 Laborde (Cécile), Pluralist thought and the state in Britain and France, 1900-1925, Macmillan Press, London, 2000, p. 550.

52 Rosanvallon (Pierre), L’Etat en France de 1789 à nos jours, «Points Histoire», Le Seuil, Paris, 1990, p. 227.

53 C.F.G. Masterman, «The temper of the people», op. cit.

54 Holloway (W. H.), Northamptonshire and the Great War, Northampton Independent, Northampton, 1920, pp. 192-194.

55 Lecky (William E. H.), Democracy and Liberty, Longmans, Green and Co, London, 1899, p. 252; Prochaska (Frank), «Philanthropy», dans Thompson (F. M. L.) (dir.), The Cambridge social history of Britain 1750-1950, Cambridge University Press, Cambridge, 1990, pp. 357‑393; Frank Prochaska, Schools of Citizenship. Charity and Civic Virtue, op. cit.

56 NRO Northampton Corporation minutes, 12 de Abril de 1915; N.T.C 3, 24 de Março; 7 de Abril; 18 de Maio; 30 de Agosto de 1915; 28 de Junho de 1916.

57 Northampton Independent, 24 de Novembro de 1917.

58 Northampton Independent, 3 avril 1915; The Socialist Pioneer, Abril de 1915; NRO N.T.C. 3, réunion spéciale, 7 de Abril de 1915.

59 Lloyd (Trevor O.), Empire, Welfare State, Europe. History of the United Kingdom, 1906-2001, Oxford University Press, Oxford, 2002, pp. 31-33.

60 Donald-Smith (Helen), War distress and war help. Short catalogue of the leading war help societies showing their scope and objects and the addresses of their offices, John Murray, London, 1915.

61 The Times, 11 de Outubro de 1915; B.D.I.C. F pièce 262 (A) Report on the national scheme of voluntary effort resulting from the formation of the Department of the Director-General of Voluntary Organisations.

62 Le Temps, 22 de Abril de 1915; Report on the work undertaken by the British government in the reception and care of the Belgian refugees, 1920, B.D.I.C. O 10164.

63 Middlemas (Keith), Politics in Industrial Society. The experience of the British system since 1911, André Deutsch, London, 1979, p. 20.

64 Harris (Jose), «Society and the state in twentieth-century Britain», dans Thompson (F. M. L.) (dir.), The Cambridge social history of Britain 1750-1950, Cambridge University Press, Cambridge, 1990, p. 71. 

65 Os «alistados», o seu empregador, ou a sua família podiam apelar à decisão dos tribunais, bem como a autoridade militar tanto ao nível nacional como do condado.

66 Tilly (Charles), Coercion, Capital, and European States, AD 990-1990, Blackwell, Oxford-Cambridge (MA), 1990, p. 97 e seguintes.

67 Grieves (Keith), The Politics of Manpower, 1914-18, «War, armed forces, and society», St. Martin’s Press, New York, NY, 1988; Bet-El (Ilana), Conscripts: lost legions of the Great War, Sutton, Stroud, 1999; Slocombe (Ivor), «Recruitment into the Armed Forces during the First World War: the work of military tribunals in Wiltshire, 1915-1918», The Local Historian, 2000, vol. 30, n.º 2, pp. 105‑223; Gregory (Adrian), «Military service tribunals: Civil society in action, 1916-1918», dans Harris (Jose) (dir.), Civil Society in British History. Ideas, Identities, Institutions., OUP, Oxford, 2003, pp. 177‑190; Purseigle (Pierre), «Warfare and Belligerence. Approaches to the First World War», dans Purseigle (Pierre) (dir.), Warfare and Belligerence. Perspectives in First World War Studies, Brill, Boston-Leiden, 2005, p. 137; McDermott (James), British military service tribunals, 1916-1918: «a very much abused body of men», Manchester University Press, Manchester, 2011.

68 Adrian Gregory, «Military service tribunals», op. cit., p. 181.

69 Northampton Independent, 14 de Dezembro de 1918.

70 NRO N.T.C. 3, 16 de Junho, 30 de Agosto, 17, 26 de Outubro de 1915; 10 de Janeiro de 1916; 28.º relatório anual, para o ano terimado em 30 de Junho de 1916 ; N.T.C. 4, relatório anual, 1917.

71 NRO N.T.C. 3, 24 de Maio, 28 de Junho de 1916; Northampton Independent, 21 de Julho de 1917.

72 NRO N. C. C., Box 43A 368, carta de Monro, secretário do Central Tribunal em nome de Walter Long, 23 de Fevereiro de 1916.

73 Northampton Chronicle, 26 de Janeiro de 1917; NRO, Box 9w Women’s war work / Boot and shoe trade/1-11; NRO NUBSO, relatório mensal, 26 de Fevereiro de 1917.

74 Daily Chronicle, 18 de Outubro de 1916.

75 Adrian Gregory, «Military service tribunals», op. cit., p. 177.

76 Horne (John), «A parliamentary state at war: France 1914-1918» in Cosgrove (Art) e MacGuire (J.I.) (dir.), Parliament & Community, «Historical Studies. Paper read before the Irish Conference of Historians», Appletree Press, Dublin, 1983, pp. 211-235.

77 Duguit (Léon), Traité de droit Constitutionnel, E. de Boccard, Paris, 1927, vol. 2/I, 763 pp.; Duguit (Léon), L’État, le droit objectif et la loi positive (1901), Dalloz, Paris, 2003 (1.ª edição 1901); Cole (G. D. H.), «Conflicting Social Obligations», in Stapleton (Julia) (dir.), Groups Rights: Perspectives since 1900, Thoemmes Press, Bristol, 1995, pp. 94-110; Hirst (Paul Q.), The pluralista theory of the state: selected writting of G. D. H. Cole, J. N. Figgis and H. J. Laski, Routledge, London, 1989; Laborde (Cécile), Pluralist thought and the state in Britain and France, 1900-1925, Macmillian Press, London, 2000, 240 pp.

78 Pierre Purseigle, Mobilisation, sacrífice, et citoyenneté. Angleterre-France, 1914-1918, op. cit.

79 Dangerfield (George), The Strange Death of Liberal England, Constable & Co, London, 1936.

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Para citar este artigo

Referência do documento impresso

Pierre Purseigle, «Uma arte liberal da guerra: a grã-bretanha e a primeira guerra mundial », Ler História, 66 | 2014, 141-159.

Referência eletrónica

Pierre Purseigle, «Uma arte liberal da guerra: a grã-bretanha e a primeira guerra mundial », Ler História [Online], 66 | 2014, posto online no dia 20 julho 2002, consultado no dia 27 outubro 2022. URL: http://journals.openedition.org/lerhistoria/765; DOI: https://doi.org/10.4000/lerhistoria.765

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O que fez a Inglaterra para recuperar sua economia após a Guerra dos Sete Anos?

A Inglaterra saiu vencedora do conflito, mas enfrentou uma grave crise financeira. Por este motivo, intensifica os impostos sobre as 13 Colônias, a fim de cobrir os gastos gerados pela batalha na América.

Qual foi a forma encontrada pela Inglaterra para reaver suas economias após a Guerra contra os franceses?

Com o fim do conflito, a Inglaterra saiu como grande vitoriosa, mas os custos gerados pela guerra enfraqueceram a sua economia. Dessa forma, a Coroa Inglesa decidiu impor diversos tributos para os colonos norte-americanos com o claro objetivo de ressarcir o prejuízo econômico produzido pela guerra.

Quais os resultados da Guerra dos Sete Anos para a Inglaterra?

Em 1762, o Tratado de São Petersburgo devolveu a Pomerânia ao Reino da Prússia, antigo território Germânico, tomado pelos Suecos na Guerra dos Trinta Anos. Pelo Tratado de Paris, firmado em 1763, franceses, austríacos e ingleses assinaram a paz.

Qual foi a contribuição da vitória da Guerra dos Sete Anos para expandir a colonização britânica na América do Norte?

A Guerra dos Sete Anos (1756-1763) foi a mais relevante dessas guerras, pois colocou franceses e ingleses disputando o controle de territórios na América do Norte. Com a vitória nessa guerra, a Inglaterra recebeu da França territórios que passaram a ser almejados pelos colonos.