Porque no litoral do Nordeste não havia espaço para criação de gado

A chegada do gado no Brasil praticamente acompanhou os primeiros colonizadores portugueses. Os primeiros bovinos a chegarem à Bahia no século XVI eram gado zebuíno (Bos indicus), proveniente das ilhas de Cabo Verde. No início da colonização, o maior valor do gado era como tração animal para os engenhos de cana-de-açúcar, a primeira monocultura brasileira que se expandiu ao longo do litoral nordestino. Com o passar do tempo, o aumento do rebanho gerou um problema para os plantadores de cana, pois o gado ocupava um espaço que era originalmente reservado às valiosas plantações de cana-de-açúcar. Isso fez com que a Coroa Portuguesa emitisse um decreto que proibia a criação de gado em uma faixa de terra de 80 km, da costa até o interior .

A partir daí, o gado se tornou um meio de expansão de novas áreas e penetração em regiões interioranas das Capitanias Hereditárias da época. O gado adentrou o sertão e espalhou-se pela região do Rio São Francisco, alcançando os Rios Tocantins e Araguaia, chegando às terras onde hoje se encontram os estados de Minas Gerais, Goiás, Pernambuco, Maranhão, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Esse último estado se transformou, naquela época, no principal centro de pecuária bovina do Nordeste, responsável pelo abastecimento dos centros urbanos do litoral.

Em meados do século XVII, as fazendas de gado formavam no interior do país imensos latifúndios, baseados no trabalho livre e assalariado (incluindo vaqueiros caboclos) e pastoreio extensivo, onde o gado se esparramava a perder de vista. Existiam no sertão baiano propriedades maiores que Portugal. O crescimento do rebanho nacional foi grande nos séculos XVII e XIX com a chegada de animais europeus (da raça taurinos), que eram mais adaptados às regiões sulistas. No século XVII, segundo alguns relatos históricos, o rebanho já somava cerca de 650 mil cabeças.

Durante a descoberta do ouro em Minas Gerais no século XVIII, a pecuária se estendeu pela bacia do São Francisco e pelo cerrado do planalto central. A partir daí, o rio São Francisco ficou conhecido como “Rio dos Currais”. O que se via no norte do Estado era um prolongamento da expansão da pecuária baiana, que ocupava áreas com vegetação e clima semelhantes aos do Nordeste. No Sul, ao redor da bacia do Rio Grande, o gado finalmente iria se estabelecer em uma região rica em águas, de rios e de chuvas, acompanhando o crescimento da atividade mineradora. Minas Gerais e seu gado passam, a partir daí, a abastecer também as regiões de São Paulo e Rio de Janeiro.

Ainda no século XVIII, surgia uma cultura pecuarista nos pampas sulistas, com reses oriundas do gado fugido ou roubado das missões jesuítas destruídas pelos Bandeirantes. Nos pampas do Rio Grande do Sul, desenvolveu-se uma atividade pecuária baseada no uso da alimentação de pasto nativo. As condições favoráveis dessa geografia motivaram a fundação de fazendas de gado voltadas para o abastecimento de vários centros urbanos. O consumo de charque, um tipo de carne salgada e seca ao sol, integrou economicamente a região ao resto da colônia, principalmente ao Sudeste. No final do século XVIII a região de Pelotas começou a dominar os mercados brasileiros, pois o Nordeste era muito povoado e passou a produzir menos do que consumia. Além do charque, os pecuaristas da região Sul também lucravam com a exportação de couro e de animais de transporte.

Observando agora o passado recente, quando o governo militar decidiu, na década de 70, pela ocupação da Amazônia, o gado novamente acompanhou os colonizadores, resultando numa explosiva expansão de pastagens e de rebanho. Enquanto o rebanho brasileiro aumentou em 60% entre os anos de 1987 e 2013 (ver figura), o rebanho nos estados da Amazônia (Mato Grosso, Pará, Acre, Rondônia, Roraima, Amazonas, Tocantins, Amapá, e Maranhão) praticamente triplicou (280%), pois a pecuária se tornou o meio mais barato de ocupação da terra a ser desbravada.

Porque no litoral do Nordeste não havia espaço para criação de gado

Em resumo, a pecuária de corte brasileira desenvolveu-se por meio da expansão da fronteira agrícola (que ocorre através do desmatamento em regiões desprovidas de infraestrutura) e pela utilização de terras esgotadas pela agricultura. A atividade contribuiu de forma decisiva, desde os tempos coloniais, para a ocupação do território brasileiro, mas hoje essa realidade (veja indicadores históricos) está mudando! A indústria da pecuária começou um processo de intensificação, no qual não existe retorno. Se a expansão da fronteira de desmatamento for realmente detida e as amarras de desenvolvimento removidas, nós veremos no setor mais competições impostas por normas dos mercados.

Durante o período colonial, pecuária e povoamento do sertão estiveram intimamente ligados. A partir dos engenhos de cana-de-açúcar, que se localizavam principalmente no litoral nordestino, foi possível aos colonos que aqui habitavam conquistar o sertão da colônia e iniciar o povoamento dessa região.

A pecuária desenvolveu-se inicialmente em torno dos engenhos de cana-de-açúcar. O gado criado nesses locais, bovino e muar, era utilizado na alimentação, na produção de couro para utensílios de trabalho e domésticos, além da tração animal nos trabalhos para a obtenção do açúcar.

Com a expansão das lavouras de cana-de-açúcar ao redor dos engenhos, era necessário encontrar pastagens cada vez mais distantes para a criação de gado. Para encontrar esses ambientes, os vaqueiros partiram para o sertão. Sertão é também definido como o local que não se encontra no litoral.

Os primeiros locais a partir dos quais os vaqueiros deslocaram-se foram os engenhos localizados em Pernambuco e na Bahia. Eles buscaram seguir o rumo contrário do sentido do Rio São Francisco, que passou a ser conhecido como “Rio dos Currais”. Ao longo do vale desse rio foram criados currais e fazendas perto de áreas de pastagens.

Com o desenvolvimento dessa atividade econômica, foram sendo fixados polos de povoamento, principalmente fazendas. Os vaqueiros que habitavam essas fazendas eram geralmente mamelucos, de ascendência indígena e europeia. Eles trabalhavam com os donos dos rebanhos em regime similar ao de parceria: a cada quatro crias sobreviventes, uma era do vaqueiro. Com o tempo, alguns vaqueiros conseguiram formar seu próprio rebanho.

Houve ainda expansão em direção ao norte da colônia, com os vaqueiros ocupando territórios na Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Piauí e Maranhão.

A ocupação do sertão a partir da pecuária estendeu-se para além do Nordeste e Norte, principalmente com a descoberta de ouro na região de Minas Gerais. Ainda seguindo o curso contrário do São Francisco, os vaqueiros chegaram próximos às áreas de mineração em território mineiro. Os metais preciosos fizeram com que os vaqueiros se dirigissem também ao oeste da colônia, chegando a Goiás e a Mato Grosso.

Outra região que passou a ser também ocupada por vaqueiros e fazendas de gado foi a região Sul da colônia. Nos pampas, foi encontrado ambiente propício à criação de gado. Esse foi o local em que a pecuária mais se desenvolveu.

Além do couro retirado do gado, era produzido também a carne-seca (ou charque, como era conhecida no sul), muito consumida durante o período colonial, em virtude do tempo de conservação. A produção de gado cresceu para atender ao mercado interno da colônia, que ganhou impulso após a mineração.

O mercado interno levou ainda à criação de rotas para a circulação das mercadorias produzidas, sendo as mulas e burros os meios de transporte utilizados. Nas regiões onde se localizavam as fazendas, formaram-se locais de descanso e comercialização de diversos produtos. Além disso, povoados, aldeias e cidades floresceram, das quais podem ser citadas Feira de Santana, na Bahia, e Vacaria, no Rio Grande do Sul.

Além da questão econômica e territorial, a pecuária serviu ainda como base de formação de uma cultura sertaneja, que tem suas peculiaridades em cada uma das regiões em que se desenvolveu.

Porque a criação de gado foi proibida no litoral nordestino?

Em 1701, uma Carta Régia vinda de Portugal proibiu a criação de gado em nosso litoral. O objetivo era deixar as melhores terras para o cultivo da cana. Com isso, a criação de gado foi empurrada para o interior do nosso país, território até então pouco conhecido e explorado.

Para que servia a criação de gado no litoral?

O gado, criado no próprio engenho, fornecia alimento, era usado no transporte e como força de tração para a moagem da cana. O crescimento dos rebanhos, porém, era incompatível com a expansão dos canaviais.

Por que os criadores de gado tiveram de se deslocar para o interior da colônia?

Apesar de sua importância para as diversas atividades da Colônia, considerava-se a criação do gado uma atividade secundária. Para que não prejudicasse a produção do açúcar, ocupando e danificando o espaço do canavial, ela foi sendo levada para o interior, cumprindo um importante papel em sua ocupação.

Por que os bois passaram a ser criados no sertão?

Com a expansão das lavouras de cana-de-açúcar ao redor dos engenhos, era necessário encontrar pastagens cada vez mais distantes para a criação de gado. Para encontrar esses ambientes, os vaqueiros partiram para o sertão. Sertão é também definido como o local que não se encontra no litoral.