Quais foram as primeiras máquinas que surgiram com a Revolução Industrial?

A Revolução Industrial foi uma ruptura no modelo de sociedade que ainda vivia praticamente à época da Idade Média, com a maior parte da população estabelecida em pequenas propriedades no campo, no padrão de subsistência, ou seja, produzindo praticamente tudo, ou o mínimo necessário para que pudessem sobreviver.

Alimentavam-se do que plantavam e vestiam-se do que conseguiam produzir, tendo como matéria-prima peles de animais ou as fibras das plantas. As técnicas de cultivo eram rudimentares e não se conhecia o ciclo de cultura. Desta forma, a produtividade era baixa e não havia quase nenhum comércio.

Parte das propriedades tinha máquina rudimentar para transformar a fibra vegetal e animal em tecido. Os cidadãos mais prósperos eram mestres tecelões, que produziam um pequeno excedente para comercialização.

Desde o século XIV, a Inglaterra, berço da Revolução Industrial, era importante produtor de lã. Portanto, desde esta época, a manufatura de lã era o grande alicerce da prosperidade britânica.

No período da primeira revolução, que se estendeu de 1760 a 1860, este país se transformou e o estilo de vida sofreu uma mudança radical. Aldeias tornaram-se vilas que viraram cidades. A manufatura foi transferida das propriedades rurais para as fábricas. Essa transformação chamou-se Revolução Industrial.

Três tipos de máquinas destruíram o velho mundo e construíram o novo. A primeira foi a máquina de fiação, a segunda o tear mecânico e a terceira, o motor a vapor.

A máquina a vapor foi um dos elementos que destruiu o velho mundo e construiu o novo.

Máquina de Fiar

1765

James Hargreaves aperfeiçoou a máquina de fiação manual batizando-a como Spinning Jenny, em referência ao nome de sua esposa (ou filha, não se sabe ao certo). Essa máquina iniciou a revolução na manufatura de lã.

A fiação, até então, era um processo lento. Podia-se fiar apenas um fio de lã por vez. James colocou oito fusos em uma armadura e movia todos eles com uma manivela. Desta forma fiava oito fios simultaneamente.

Em 1765, James Hargreaves aperfeiçoou a máquina de fiação manual batizando-a como Spinning Jenny.

Crédito da imagem: "File:Spinning jenny.jpg" por Markus Schweiß is licensed under CC BY-SA 3.0. To view a copy of this license, visit http://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/?ref=openverse&atype=rich 

Posteriormente, Hargreaves desenvolveu outra máquina que fiava dezesseis fios ao mesmo tempo, um trabalho que anteriormente era desenvolvido por mais de cem homens.

Tear Hidráulico

1769

Richard Arkwright inventou a Water Frame, a primeira máquina têxtil que utilizava água como força motriz, assim dispensando o trabalho manual feito pelo homem e aumentando significativamente a produtividade da máquina.

Réplica da Water Frame, a primeira máquina têxtil que utilizava água como força motriz.

Crédito da imagem: "File:18C (late) Arkwright Water Frame (replica).jpg" por Morio is licensed under CC BY-SA 3.0. To view a copy of this license, visit https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0/?ref=openverse&atype=rich 

Tear Mecânico

1784

Edmund Cartwright, após visitar as fábricas de Richard e conhecer as máquinas de fiação, pensou que poderia fazer algo semelhante para a tecelagem. Assim, desenvolveu e patenteou o tear mecânico (versão aprimorada do tear manual) e sua criação acelerou o processo de industrialização.

A partir de então a energia não seria mais produzida pelos músculos do homem, dos trabalhadores, como ocorria na máquina de fiação, mas a partir de agora a fonte de energia seria a água.

A força da água corrente foi utilizada para movimentar uma máquina de tecer. Estava criado o tear mecânico. O trabalho manual na indústria têxtil foi abandonado, como também o sistema doméstico de manufatura.

O tear mecânico, além de ter um preço elevado para o tecelão comum, era muito grande para ser colocado em casa. Surge, então, a figura do capitalista, que possui grande quantidade de teares alocando-os em prédios fabris. Foi desta forma que o tear mecânico acelerou o crescimento da indústria e do sistema industrial.

A partir desta época, ao invés de trabalhar em sua própria casa, o tecelão passou a morar em um lugar e a trabalhar em outro.

Mas a máquina que daria o maior impulso a Revolução Industrial ainda estaria por vir.

Máquina a Vapor

Em 1698, o engenheiro Thomas Savery criou a primeira máquina a vapor para utilização industrial, que tinha como objetivo retirar água dos poços de minas de carvão britânicas. Porém, havia o risco de explosão por utilizar vapor em alta pressão.

Thomas Newcomen aperfeiçoou o projeto de Savery em 1712 e desenvolveu a máquina a vapor que conseguia retirar água das minas em alta profundidade e de forma ininterrupta, com menos risco de explosão.

Em dado momento, Newcomen levou um dos motores para a oficina de James Watt para concerto. Watt achou o invento interessante e começou a estudá-lo. James empenhou-se neste trabalho e por volta de 1781 aperfeiçoou o motor convertendo-o em grande fonte de força, mais eficiente e menos dispendioso. Essa era uma força barata e podia ser utilizada para dar movimento a todos os tipos de máquina.

Com o motor a vapor de Watt e com o aperfeiçoamento dos métodos de beneficiamento do ferro, a Revolução Industrial era um fato consumado. A máquina de fiação e tear manuais foram abandonados de vez.

Surgiram as grandes cidades em um pequeno espaço de cem anos. No lugar do mestre tecelão apareceu o capitalista, proprietário de muitos teares e empregador de centenas de trabalhadores.

Com a Revolução Industrial, a Inglaterra tornou-se a fábrica do mundo, era em que a Grã-Bretanha ocupou a supremacia do comércio mundial.

A partir da invenção da máquina a vapor, as indústrias deixam as margens dos rios e vão se estabelecer nos centros urbanos e a máquina assume uma posição central.

Produtividade

Na época do trabalho manual, antes do advento da máquina, a produção de um sapato exigia aproximadamente dezoito horas de trabalho, pois um único artesão executava todas as etapas de produção.

O artesão sentia-se gratificado pelo seu talento, mas para sobreviver era obrigado a trabalhar muito para compensar sua baixa produtividade, que era inevitavelmente baixa, visto que, ele só podia executar uma única operação por vez.

O acabamento poderia ser excelente, mas o preço do sapato feito a mão era elevado e consequentemente poucas pessoas podiam comprá-lo

Com o advento da máquina, a produtividade dos trabalhadores cresceu espantosamente. Implementou-se a divisão do trabalho. Do beneficiamento do couro até o produto acabado, cada operário executava apenas uma operação repetindo-a várias vezes.

Desde que o couro estivesse beneficiado, um sapato poderia ser produzido em menos de vinte minutos, ao invés de dezoito horas exigidas pelo método artesanal.

Desta forma, cada homem produzia mais graças a máquina. Sua produtividade cresceu exponencialmente. As horas de trabalho em toda indústria foram diminuídas, o salário aumentou e os preços dos produtos baixaram. Assim, o operário podia comprar seu próprio produto e mais pessoas podiam se beneficiar da crescente riqueza do país.

O século dezenove, o século da Revolução Industrial, transformou a Inglaterra de nação de economia agrícola, com manufatura de lã, em uma nação industrial de engenheiros, de minas de carvão, de empresas siderúrgicas e de fábricas.

Além de exportar locomotivas, motores a vapor, têxteis, e outros produtos acabados, talvez o que mais a Inglaterra exportou foi a industrialização. (THE INDUSTRIAL REVOLUTION IN ENGLAND, 1959)

Fábrica

A partir da Revolução Industrial, com o surgimento de um novo componente, a fábrica, surgem também as teorias administrativasSegundo MAXIMIANO (2008, p. 40), “A Revolução Industrial revolucionou também a produção e aplicação de conhecimentos administrativos.”

Segundo MAXIMIANO (2008, p. 40), “A Revolução Industrial revolucionou também a produção e aplicação de conhecimentos administrativos.”

A fábrica, que vem acompanhada pela invenção das máquinas a vapor, trouxe muitas inovações técnicas que na época se concentravam em duas indústrias, a de tecido e a de algodão, como também o crescimento da indústria de ferro. 

Em termos conceituais, trata-se do estabelecimento da grande indústria como a forma típica de produção do capitalismo. (SAES; SAES, 2013, p. 147)

Saes; Saes (2013) afirmam que outros fatores que também marcaram o início da Revolução Industrial foram a introdução da máquina e a substituição da energia humana e animal por energia inanimada ou energia hidráulica ou a vapor. Quando se fala em energia hidráulica, significa que as fábricas eram construídas nas margens dos rios, pois era a roda d’água que gerava energia para a produção da fábrica.

Portanto, a partir da invenção da máquina a vapor, as indústrias deixam as margens dos rios e vão se estabelecer nos centros urbanos, nas cidades. Com o surgimento e evolução deste novo elemento social que é a empresa industrial, a máquina assume uma posição central.

Esta transformação trata-se de um momento primordial da Revolução Industrial em que as ferramentas que estavam na mão do artesão passam para um mecanismo que procura reproduzir os movimentos destes de forma automática e padronizada. (SAES; SAES, 2013)

Ao final do século dezoito, os trabalhadores eram arregimentados na zona rural para as fábricas no interior da Inglaterra e Escócia. Esta migração fez crescer as cidades e a necessidade de infraestrutura.

A Revolução Industrial foi dividida em duas épocas distintas, 1780 a 1860, a Primeira Revolução Industrial, também chamada de Revolução do Carvão e do Ferro; e entre 1860 e 1914, a Segunda Revolução Industrial, ou a Revolução do Aço e da Eletricidade.

Carvão e Ferro

O ferro foi importantíssimo porque criou fortes vínculos com outros ramos da economia, a mineração do carvão, a construção civil, construção de pontes, a produção de utensílios domésticos e, principalmente, a construção das estradas de ferro. (SAES; SAES, 2013, p. 154)

A indústria de ferro e a indústria têxtil, que tiveram grande evolução neste período e que empregavam um grande contingente de trabalhadores, só puderam ser alcançadas pela utilização da máquina a vapor que gerava energia para produção dentro das empresas e fábricas da época.

Minas de carvão na Revolução Industrial, galerias subterrâneas exploradas nos séculos 18 e 19 para abastecer a indústria inglesa.

O vapor foi decisivo para concentração das indústrias nas cidades, até então as fábricas eram movidas por energia hidráulica, quando as indústrias eram estabelecidas às margens dos rios.

Fases da Primeira Revolução Industrial

A primeira Revolução Industrial, que ocorreu de 1760 a 1860, teve quatro fases:

1ª Fase

  1. Mecanização da indústria e da agricultura (fins do século XVIII); e
  2. Substituição do trabalho do homem e a força motriz muscular do homem, do animal e da roda de água, pela máquina a vapor. (CHIAVENATO, 2014, p. 36)

2ª Fase

  1. Aplicação da força motriz à indústria;
  2. James Watt aperfeiçoou a máquina a vapor;
  3. Com aplicação do vapor às máquinas, iniciaram-se grandes transformações nas oficinas (que se converteram em fábricas), nos transportes, nas comunicações e na agricultura. (CHIAVENATO, 2014, p. 36)

Além das construções das estradas de ferro, o barco a vapor teve impacto de duas formas. A primeira no deslocamento de pessoas e de mercadorias e o estímulo de comércio entre regiões bem mais distantes e o reflexo na esfera internacional, pois fronteiras foram cruzadas em nome do comércio.

Novos campos de investimento surgiram, pois com o aumento do número de empresas ferroviárias e marítimas, foi necessário a produção de peças, equipamentos, componentes dos mais diversos para sustentar estas indústrias crescentes e que demandavam muito capital.

Locomotiva, produto da Revolução Industrial, o transporte teve grande evolução a partir desta época.

Nasciam a partir destas transformações, por exemplo, fábricas para construção de locomotivas, de vagões, construção de trilhos, até mesmo casco de ferro para barcos a vapor.

A transformação proporcionada pela Revolução Industrial se expandiu no decorrer de muitas décadas saindo da Inglaterra e alcançando várias partes do mundo.

Estados Unidos, Japão, Alemanha, França foram outros países que se desenvolveram muito a partir destes meios de transportes e destas indústrias que surgiram nesta época.

Importante ressaltar que até meados de século dezoito, na Grã-Bretanha o principal meio de transporte era a carroça ou a carruagem com tração animal e as estradas eram precárias, lamacentas e intransitáveis quando chovia. (SAES; SAES, 2013, p. 160)

"A estrada de ferro é um típico produto da Revolução Industrial, porque incorporava o carvão como força motriz e como combustível, o ferro como matéria-prima e um tipo de máquina para transformar a força do vapor para as rodas da locomotiva." (CHIAVENATO, 2014, p. 36)

3ª Fase

  1. Desenvolvimento do sistema fabril;
  2. O artesão e sua pequena oficina patronal desapareceram para ceder lugar ao operário e às fábricas e usinas baseadas na divisão de trabalho;
  3. A migração das massas humanas das áreas agrícolas para as proximidades das fábricas provocou a urbanização. (CHIAVENATO, 2014, p. 36)

4ª Fase

  1. Aceleramento dos transportes e das comunicações;
  2. A navegação a vapor surgiu com Robert Fulton (1807) e logo depois as rodas propulsoras foram substituídas por hélices;
  3. A locomotiva a vapor foi aperfeiçoada por Stephenson, surgindo a primeira estrada de ferro na Inglaterra (1825) e logo depois nos Estados Unidos (1829) e no Japão (1832). (CHIAVENATO, 2014, p. 36)

A estrada de ferro foi outro típico produto da Revolução Industrial, pois, além de movimentar a indústria da construção, ligou cidades e países, movimentando o comércio e transportando pessoas.

Novos Meios de Comunicação

Novos produtos foram surgindo com uso de tecnologia e inovação e outros meios de comunicação apareceram com rapidez:

  • Morse inventou o telégrafo (1835);
  • Surgiu o selo postal na Inglaterra (1840);
  • Graham Bell inventou o telefone (1876). (CHIAVENATO, 2014, p. 36)

Telégrafo, invenção de Samuel Morse, em exposição no Museu naval de Madri, Espanha.

Selo Postal

O surgimento do selo postal foi em função do desenvolvimento das relações comerciais que aumentaram muito, desta forma aumentou também a necessidade de comunicação, portanto o volume de correspondência cresceu na mesma medida. O sistema postal Britânico não dava conta de tamanha demanda e a grande quantidade de cartas devolvidas a custo do serviço público.

Para amenizar o custo e o desperdício de trabalho, foi criado o selo postal em que o remetente fazia o pagamento para enviar a correspondência e a comprovação deste pagamento era o selo, que era comprado, colado na carta e, aí sim, enviado para o destinatário.

O primeiro selo postal do mundo surgiu na Inglaterra, em 1840 e era chamado de One Penny Black, por custar um centavo e trazer a imagem de perfil da Rainha Vitória em fundo negro.

O tema Revolução Industrial ainda continuará e o próximo artigo tratará da Segunda Revolução Industrial, ou a Revolução do Aço e da Eletricidade, que compreendeu o período entre 1860 e 1914. Outras aspectos importantes e fundamentais da Revolução Industrial como exploração do trabalho, criação de sindicatos e capitalismo, também serão abordados em outros artigos.

Referências Bibliográficas

CHIAVENATO, Idalberto.  Introdução à Teoria Geral da Administração. 9ª edição. São Paulo: Manole, 2014.

FILE: 18C (late) Arkwright Water Frame (replica).jpg. Wikimedia Commons, the free media repository. Retrieved, 2022. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:18C_(late)_Arkwright_Water_Frame_(replica).jpg&oldid=568406912. Acessado em: 27 jan. 2022.

FILE: Spinning jenny.jpg. In: Wikimedia Commons. Retrieved, 2022. Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/w/index.php?title=File:Spinning_jenny.jpg&oldid=577022876>. Acessado em: 26 jan. 2022. 

MAXIMIANO, Antonio C. Amaru.  Teoria Geral da Administração: da revolução urbana à revolução digital. 6ª edição. São Paulo: Atlas, 2008.

ONE PENNY BLACK. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation, 2021. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=One_Penny_Black&oldid=62396776>. Acesso em: 9 nov. 2021.

SAES, Flavio A. M.; SAES, Alexandre M.. História Econômica Geral. 1a edição. São Paulo: Editora Saraiva, 2013.

THE INDUSTRIAL REVOLUTION IN ENGLAND, [England: Encyclopaedia Britannica Films], 1959. 1 vídeo (25:20). Publicado pelo canal DrAlexandreRitter. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jt-o3EBQPMU&t=29s. Acessado em: 24 jan. 2022. 

OBS.: Artigo publicado originalmente no blog https://www.administracaoparatodos.com.br