Quais são as adaptações fisiológicas ocorridas devido ao exercício?

Este é um assunto que vem despertando cada vez mais o interesse médico e da população em geral, pela maior procura da população por atividade física e também pelo aumento de indivíduos não treinados, desejando realizar atividades de maior intensidade como maratonas, “Iron Man” e outras atividades de maior rendimento.

Qual a importância do tema? Muitos dos sintomas da doença cardiovascular podem ser desencadeados pelo esforço físico; é cada vez mais comum o paciente buscar consultas médicas para obter aconselhamento sobre exercício; especialistas do assunto são diversas vezes procurados para avaliar se alterações de exames complementares são fisiológicas do exercício ou patológicas.

Ainda hoje, há uma linha muito tênue do que pode ser considerado fisiológico ou patológico, decorrente de alterações cardiovasculares do “coração de atleta”. Neste artigo, tentaremos abordar um pouco do assunto, para que seja gerado o estímulo em busca de novos estudos e conhecimentos sobre um tema tão relevante atualmente.

O que podemos chamar de Atividade Física?

Por definição, atividade física é qualquer movimento do corpo atrelado a consumo de oxigênio. Aquela atividade física que possui como objetivo a melhoria da saúde, qualidade de vida, ou obter benefícios no desempenho físico é considerada “exercício”. Os exercícios que levam predominantemente ao aumento do transporte de O2 são definidos como “exercícios aeróbicos”, enquanto aqueles que enfatizam o sistema musculoesquelético são conhecidos como “exercício de resistência” ou “anaeróbio”. É importante lembrar que todo exercício possui as duas frentes citadas, porém com predominância de uma ou de outra.

Quais são as respostas cardiovasculares básicas esperadas ao exercício e treinamento físico?

A atividade física aumenta, de forma aguda, a demanda de O2, tendo como consequência, no sistema cardiovascular, o aumento do débito cardíaco (Q) e a diferença arteriovenosa (A-V) de O2. O débito cardíaco, como já sabemos, é aumentado pelo produto da frequência cardíaca (FC) e do Volume Sistólico (VS).

No esforço, tanto a FC quanto a pressão sistólica (OS) irão aumentar, o que também acarreta na elevação da demanda de O2 pelo miocárdio (por isso, em pacientes com lesões isquêmicas, o esforço físico pode levar à isquemia miocárdica).

Falando diretamente de circulação coronariana, durante o esforço físico, as coronárias devem se dilatar. Porém, em pacientes com doença aterosclerótica, por disfunção endotelial, essa vasodilatação pode ser insuficiente ou até mesmo gerar um vasoespasmo durante o exercício, o que também pode culminar em isquemia.

O efeito cardiovascular primário de treinamento de exercícios aeróbicos repetitivos culmina no aumento da capacidade máxima de exercício (medida pelo aumento do VO2 máximo). Nos pacientes saudáveis, esse aumento também leva ao aumento do Q. Como a frequência cardíaca máxima geralmente possui um “teto” (baseado principalmente pela idade), o aumento do débito cardíaco se origina principalmente pelo aumento do Volume Sistólico. Como consequência final, o aumento do VS final permite que o paciente consiga atingir uma mesma taxa de trabalho, uma mesma tarefa com frequência cardíaca mais baixa e uma menor demanda de O2 (aqui está, por exemplo, o porquê do exercício poder melhorar os sinais/sintomas de indivíduos com angina pectoris).

O treinamento físico aeróbico, intenso e de longo prazo leva a uma série de modificações cardiovasculares, conhecidas como “coração de atleta”. Essas alterações incluem redução da FC em repouso, aumento do VS.

O que podemos esperar no “Coração de Atleta”?

Nos indivíduos bem treinados, há um aumento do tônus vagal em repouso, em detrimento do tônus simpático. Com isso, podemos flagrar nesses pacientes bradicardia sinusal de repouso, arritmia sinusal acentuada, ritmos juncionais, bloqueios atrioventriculares (mais comumente BAV de 1º grau, BAV de 2º grau Mobitz I, porém também podemos encontrar BAV de 3º grau durante o sono em atletas, esses últimos devem ser avaliados com mais cautela).

A velocidade de condução AV reduzida nesses pacientes pode possibilitar o encontro mais fácil de vias acessórias, como o que ocorre na síndrome de Wolff-Parkinson-White. É frequente também um padrão de bloqueio de ramo incompleto, porém, quando há aumento da duração do QRS, pode haver doença concomitante.

A prevalência de padrão de repolarização precoce do segmento ST no eletrocardiograma (ECG) também pode estar presente. Como esses pacientes apresentam hipertrofia do miocárdio, é muito comum encontrarmos sinais sugestivos dessa alteração no ECG. Há crescimento das quatro câmaras cardíacas, discreto aumento da raiz da aorta. Um dado importante neste tópico é que, apesar do aumento das câmaras cardíacas, este aumento não costuma exceder o limite superior da normalidade para as dimensões.

Guilherme, e como vamos diferenciar se essas alterações são patológicas ou consequência de um “coração de atleta”?

Bom, aí que está a grande questão. Temos algumas ferramentas para tentar elucidar essa dúvida. No entanto, ainda não é muito claro até que ponto tais alterações são benéficas e a partir de que limiar começam a ser deletérias.

Vamos lá! A cessação do exercício físico, também conhecido como “destreinamento”, contribui na diferenciação clínica de adaptações ao exercício físico da cardiomiopatia hipertrófica, por exemplo. Como realizamos este destreinamento? Na maioria dos estudos, um período de 6-34 semanas de cessação da atividade física é capaz de reverter uma série de adaptações relacionadas ao exercício físico como, por exemplo, a hipertrofia excêntrica de VE. Na maioria dos trabalhos e serviços, alterações já começam a ser vistas após 13 semanas (aproximadamente 3 meses de cessação de exercício físico) e costuma ser o tempo mínimo preconizado para o destreinamento, tendo como período completo o tempo de 6 meses.

“Já ouvi falar que as enzimas cardíacas podem estar elevadas em atletas! É verdade!?”

Na verdade, podemos encontrar níveis séricos aumentados de troponina T e troponina I (cTNT e cTNI) em atletas após esforço físico prolongado (ex.: maratona) ou até mesmo após uma corrida de 30 minutos na esteira.

“Guilherme, também já ouvi que atletas podem ter fibrose miocárdica…”

Realmente, alguns estudos já documentaram presença de realce tardio, pelo gadolínio (RTG) em imagens de ressonância magnética cardíaca, em atletas veteranos de modalidades de resistência (12-50%).

O volume do gadolínio era pequeno e possuía geralmente impregnação em locais específicos, como inserção do ventrículo direito (o que poderia sugerir estresse mecânico como causa). A presença desse tipo de realce levanta a hipótese de que treinamento prolongado pode produzir fibrose de miocárdio. No entanto, ainda necessitamos de maiores estudos sobre o assunto e sobre suas possíveis conseqüências.

Existem riscos cardiovasculares no Exercício?

Alguns estudos demonstraram que atividade física vigorosa (definida como, no mínimo, seis METS) aumenta, transitoriamente, o risco de morte súbita cardíaca ou infarto agudo do miocárdio. Essas taxas são provenientes da comparação de eventos cardíacos ocorridos a cada hora de exercício físico intenso, quando comparado com atividades mais sedentárias. A ocorrência desses desastres varia de acordo com a idade. Nos pacientes mais jovens, as causas relacionadas com morte súbita cardíaca são principalmente cardiomiopatia hipertrófica, origem anômala de coronárias, cardiomiopatia arritmogênica do ventrículo direito e outras condições congênitas e herdadas.

A principal causa de infarto agudo do miocárdio durante o exercício físico é a presença prévia de doença aterosclerótica.

A frequência de eventos cardiovasculares relacionados com o exercício é baixa e, na maioria das vezes, relacionada com condições já pré existentes como mencionado anteriormente. Por isso, vale a pena refletir sobre os benefícios e prejuízos de screenings para o início de atividades físicas de alto rendimento.

“Se o exercício físico pode gerar algum risco cardiovascular, aí que eu não faço exercício mesmo!!!”

Não vamos confundir as coisas!!! No tópico acima, fica claro que os desastres cardiovasculares, que ocorrem durante o exercício físico, possuem incidência baixa, geralmente associada com exercício físico vigoroso E (o principal a se destacar) em indivíduos que costumam ter já uma doença cardiovascular prévia (na maioria das vezes herdada por herança genética / congênita).

Por outro lado, diversos estudos epidemiológicos já demonstraram que indivíduos ativos que realizam atividade física têm risco cardiovascular menor do que as pessoas mais sedentárias. Essa redução é calculada em aproximadamente 30%. Da mesma forma, os pacientes envolvidos em programas de reabilitação cardíaca têm o risco diminuído da recorrência de eventos cardíacos quando comparados aos indivíduos sem reabilitação cardíaca.

Ainda há muito a se explicar sobre os benefícios da atividade física no sistema cardiovascular. Os mais conhecidos atualmente são a redução da pressão arterial sistólica, redução do peso corporal, dos níveis glicêmicos, da taxa de triglicerídeos, aumento dos níveis do colesterol HDL

Conclusão:

Devido à importância que a área vem ganhando atualmente, a cardiologia do esporte está emergindo como uma subespecialidade da cardiologia, mas tanto cardiologistas quanto clínicos podem e devem lidar com muitos dos problemas, dúvidas e perguntas das adaptações cardiovasculares ao exercícios, definindo, assim, o que é fisiológico, o que é patológico, e reforçando a importância do exercício físico para uma vida mais saudável e com redução dos riscos cardiovasculares.

Quais são as adaptações fisiológicas que ocorrem após o treino?

Por exemplo, durante o exercício é esperado ocorrer algumas adaptações (respostas fisiológicas) no sistema cardiovascular como, por exemplo, o aumento da frequência cardíaca, o aumento da pressão arterial sistólica, o aumento do volume sistólico e o aumento do débito cardíaco.

Quais são os efeitos fisiológicos do exercício físico?

A prática regular de atividade física garante o aumento da oxigenação do cérebro. Esse fator, aliado a outras mudanças no corpo, ajuda a evitar graves doenças neurológicas. Quem se exercita fica mais longe de desenvolver Parkinson, Alzheimer e acidente vascular cerebral (AVC).

O que são as alterações fisiológicas em resposta ao exercício físico?

Ao se exercitar, o cérebro começa a trabalhar, produzindo milhares de reações químicas. A atividade produz não apenas queima de gordura e aumento da musculatura, mas também ajuda todo o processo de atenção e concentração, que se prolonga além do tempo em que estamos treinando.

Quais são as principais adaptações musculares ao exercício físico?

As adaptações musculares ao exercício são a base da modificação do estado sedentário para o fenótipo dito exercitado. Estes mecanismos moleculares que governam estas conformações envolvem uma progressiva e gradual alteração no conteúdo de proteínas e atividade de enzimas.