Quais são os principais conceitos que podemos trabalhar da história com alunos no ensino básico?

Graduado em Serviço Social (Unopar), especialista em Gestão de Serviços Sociais e Políticas Públicas (UCAM)

Para que se efetive um ensino de qualidade, é preciso buscar no referencial teórico as bases cientificas que orientam a ciência que se quer ministrar e que norteiam sua aplicação como disciplina escolar nos diferentes níveis de ensino, pois será  a partir a clareza teórico-metodológica que o professor terá subsídios para construir uma prática pedagógica significativa para o aluno.

Reconsiderar o papel da educação como ferramenta da construção social é um ideal de sociedade pelo qual se luta. É necessário definir metodologias de aprendizagem vinculadas à dimensão sociopolítica da educação, questionando sempre a respeito de que sociedade está se ajudando a construir. Nesse caso, os educadores  em História podem definir o referencial sociopolítico historicamente correto, de acordo com o momento que ele atravessa. Partindo daí, a proposição se torna diferente das outras, pois as práticas do dia a dia de professores e alunos os ajudam a construir coletivamente, inserindo-os no contexto sociocultural.

Uma das maiores dificuldades que os professores de História enfrentam é estimular o interesse  do aluno por conteúdos que não parecem ter utilidade  imediata na vida do aluno. O aluno estuda por estudar, para ser aprovado no fim do ano letivo, fica desestimulado, sem criatividade. Para desenvolver seus conhecimentos e capacidades que lhe darão maior liberdade de escolha e satisfação em sua vida, é necessário que o educador use a imaginação e evidencie a  aplicabilidade do conteúdo de forma  imediata e simples no ambiente em sala de aula, utilizando para isso  materiais e métodos  que despertem o interesse dos alunos em aprender.

Este trabalho tem como objetivo apresentar uma análise sobre os principais métodos e materiais utilizados no ensino de História e suas implicações no processo de ensino-aprendizagem. Esta análise contempla desde os materiais mais utilizados, como o livro didático, até aqueles que são pouco ou quase não são explorados, como a memória, chamando sempre a atenção da  importância de cada matéria e  método no processo de (re)construção do conhecimento histórico.

Materiais e métodos de ensino

Diante da própria natureza do capitalismo, um grande número de bens materiais e culturais está fora do alcance de homens e mulheres que  vivem do trabalho. Sendo assim, como  ensinar História, na perspectiva de preparar homens e mulheres para enfrentar a nova realidade como atores  nessa cena?

Estamos vivendo um momento fértil, rico em desafios e possibilidades, que tem a  LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei nº 9.394/96) como uma forte aliada, uma vez que determina a formulação de novos modelos e diretrizes. É nesse momento que os professores assumem a sua responsabilidade na formulação de uma nova proposta de ensino como protagonistas do processo de construção, que orienta o educando para o verdadeiro caminho da cidadania. A meta da escola é  contribuir para  a formação de cidadãos críticos e engajados na transformação social.

O desejo e o prazer de compreender, de explicar  a realidade, de questionar para procurar alternativas, de conhecer para agir conscientemente são sem dúvida fatores poderosos na formação de indivíduos responsáveis e intervenientes. Não foi decerto  por acaso que os regimes totalitários declaram  morte à  cultura e reduziram drasticamente o tempo de escolaridade e o acesso ao saber (Roldâo, apud Proença, 1999, p. 25-26).

Segundo Proença (1999), o ensino de História pode contribuir para o desenvolvimento pessoal e social do indivíduo não apenas pelo conteúdo formativo do saber histórico, mas também pela metodologia adotada. Práticas educativas apoiadas em metodologias implicativas que apelem à participação ativa do aluno como sujeito que aprende, tais como o ensino pela descoberta a  partir da análise e crítica de fontes, o trabalho de projeto centrado em problemas, o estudo independente e outras práticas autorreguladoras de aprendizagem contribuem para o desenvolvimento do raciocínio crítico e da autonomia pessoal do aluno, que são componentes essenciais da educação cívica.

O ensino de História, em nossos dias, não pode se restringir ao chamado “giz e lousa”. Nosso aluno é fruto da sociedade midiática, convive com a informação rápida da Internet e o bombardeio de imagens oriundos da TV. Não se trata de “aposentar” o livro ou a exposição oral, mas, sim, de atualizar os instrumentos e a linguagem para que se possa, de fato, estabelecer um vínculo de comunicação com os educandos.

A seguir está uma análise de cinco diferentes materiais, a partir dos quais muitos professores instrumentalizam o seu trabalho com o ensino de História:

O livro didático

Passando do método mnemônico – ou seja, de memorização – para o método intuitivo – observação/conclusão, os livros começam a deixar a estrutura apenas textual para adotarem gravuras e mapas; tendência dominante e que se intensifica aceleradamente. Perguntando-se então para que serviria o livro didático, temos que, antes de mais nada, este deve ser compreendido como mercadoria, e que, portanto, estaria submetido às regras do mercado – agradabilidade/receptividade do produto; é ainda um depositário de informações, pois difunde o saber oriundo da academia; é ele que elabora grande parte das técnicas de aprendizagem – sugestões de trabalho, exercícios. Circe Bittencourt discute a questão, afirmando que o livro didático é um importante veículo portador de um sistema de valores, de uma ideologia e de uma cultura. Ele é o portador e difusor de uma ideologia e será a forma de selecionar e utilizar esse material determinante para o destino do trabalho do professor. Da mesma forma, as ilustrações também serão escolhidas em função dos elementos que determinam a existência do livro didático. A escolha de determinadas imagens concretizariam o projeto mercadológico e ideológico de um material didático.

O exercício sugerido pela autora, para que o professor utilize o livro didático de forma crítica e geradora de reflexão, é o da comparação e do questionamento do conteúdo. Como e por quem este material foi produzido? Para que e para quem se fez esta produção? Quando foi realizada? Por que foram selecionados estes tópicos? Por que outros tais foram excluídos? O exercício questionador liberta o aluno das amarras do discurso preparado e concluído pelo conteúdo; ele vai além, tendo o documento – livro – como sujeito de sua pesquisa, compreendendo as relações que envolvem não apenas o fato mais a sua construção/reconstrução e difusão.

As imagens

A pintura pode ser vista como fonte não apenas da pesquisa – acadêmica –, mas também do ensino de História, pois ela compõe um discurso sobre o seu tempo; a obra dialoga com questões, temas, critica-os, apresenta-os, satiriza-os, denuncia-os. Não é só o conteúdo que faz uma obra, mas fundamentalmente a forma como o autor reconstrói o conteúdo e o seu enunciado, impingindo-lhe os múltiplos diálogos travados com outros autores, com sua época e, principalmente, a sua originalidade. A partir dos detalhes, das cores, dos lugares, das roupas, das expressões faciais, da composição da paisagem, da investigação sobre a vida e as ideias do autor e de seu público-alvo, uma série de novas situações e conclusões se nos irão apresentar. A busca do desvendamento dos diálogos que as obras de arte mantém com as diferentes dimensões socioculturais do seu tempo possibilita-nos conhecer melhores contextos culturais complexos, escapamos das leituras lineares, dando força a estas vozes do passado que ressoam ainda no presente, permitindo aos alunos que se dispuserem a realizar esse exercício, esse diálogo, construir um novo enunciado, uma nova obra.

O museu

Na maioria das vezes, os professores vão aos museus com seus alunos  com o intuito de que eles tomem contato com preciosidades do nosso patrimônio histórico. É a concepção do objeto material como objeto testemunho. Desta forma, erroneamente, o acervo museológico é compreendido como coisa estática e definida, pois a sua razão de ser, de “estar lá” resume-se à sua antiguidade e à sua “preciosidade”. O potencial educativo do acervo estaria, porém, na sua compreensão enquanto objeto diálogo. O conjunto exposto, bem como o conjunto geral do acervo comporia um discurso sobre o que aqueles pesquisadores, museólogos, ou mesmo o que a nossa sociedade pensa sobre um determinado tema ou aspecto do passado.

Por que o pesquisador selecionou estas e não outras peças da reserva técnica do museu para compor uma exposição? O que ele quis dizer com esta composição de peças? Que ideia está contida, que discurso está contido nesta disposição do acervo? A visita ao museu deveria deixar de ser ilustrativa e passar a ser fonte de questionamento. Toda visita deveria ser organizada a partir de um roteiro que contemplaria os pontos principais para o planejamento de uma ação com os alunos:

  • definir os objetivos da visita;
  • selecionar o museu mais apropriado para o estudo do tema escolhido ou parte de uma exposição ou um conjunto de museus;
  • visitar a exposição antecipadamente;
  • verificar as atividades educativas oferecidas pelo museu;
  • preparar os alunos para a visita: conteúdos, conceitos, etc.;
  • coordenar a visita de acordo com os objetivos da pesquisa feita;
  • dar continuidade à discussão na sala de aula;
  • avaliar o processo que envolveu a visita para futuro replanejamento.

A televisão

A mídia – principalmente a televisiva – não destrói de todo as representações e as expressões das sociedades sobre si e sobre o mundo; apresenta-nos, como resultado do processo de globalização, o comportamento cada vez mais passivo do espectador, que impotente e estático, assimila as informações e definições da televisão como verdades definitivas. A imagem, portanto, não ilustra e nem reproduz a realidade – ela a constrói a partir de uma linguagem própria ligada a um determinado contexto histórico. Hoje se vive um momento em que o acontecimento transformou-se em imagem; dessa forma, é a informação que vem fazendo o acontecimento, e não o inverso. Portanto, para a mídia, o que constrói o acontecimento não é o fato, mas a divulgação. Ao entrar na sala de aula, o professor terá diante de si pessoas, como todos nós, impregnadas por definições, valores e representações sociais – imagens, símbolos – originárias da divulgação dos meios de comunicação de massa, uma forma de transformar essas informações em objeto de reflexão e, juntamente com seus alunos, executar o questionamento, a desconstrução das notícias, averiguando o porquê de sua existência e de sua veiculação.

Ao escolher o trabalho com a televisão, no caso brasileiro, o professor terá ao seu alcance uma gama variada de material em teledramaturgia e telejornalismo; caso queira trabalhar com material das décadas de 60 e 70, encontrará problemas, por não existirem ainda museus da televisão; portanto, que o professor trabalhe com material mais recente. Para realizar esse trabalho, é necessário que o professor atualize suas leituras sobre as teorias dos meios de comunicação de massas, bem como tenha claro para si que televisão e cinema diferenciam-se não apenas nas formas de produção, mas também na perspectiva de tempo de exibição: o cinema é feito para ser visto por vários anos, o programa de televisão responde ao apelo do momento. Existem alguns pontos a serem levados em consideração na análise da TV:

  • Intenções do remetente;
  • O meio e o código da mensagem;
  • As reações do receptor.

Quanto ao trabalho específico em sala de aula, delimita alguns passos que devem ser seguidos para que o trabalho com a programação televisiva não seja visto pelos alunos e pais como o popular “matar aula”. Para que o trabalho se torne pedagogicamente proveitoso, o professor deverá ter para si muito claro o seu objetivo. É possível, por exemplo, analisar um mesmo gênero em vários programas diferentes ou um mesmo tema em programas distintos. Os passos básicos seriam:

    • Assistência do material: impressões primárias do grupo, observação de temas e códigos básicos presentes;
    • Análise semântica: o grupo deve buscar o sentido explícito e implícito dos discursos, opiniões ideológicas, representações sociais, valores;
    • Crítica ideológica: o grupo deve posicionar-se quanto ao conteúdo dos discursos e sua linguagem, explicação de conceitos e sistematização de contradições;
    • Síntese das fases anteriores: sistematização dos valores e opiniões surgidos durante o trabalho e articulação com o conteúdo estudado em sala de aula.

A memória

A palavra-chave para a reflexão sobre memória e História é construção. Durante as décadas de 70 e 80, muitos grupos das chamadas minorias lutaram pela preservação de suas memórias. A sociedade como um todo, em diferentes regiões do país, organizam-se pela preservação da memória cultural de suas regiões, do patrimônio cultural. Por muito tempo, no Brasil, associou-se patrimônio a monumento, desde sua criação em 1937, o Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tombou centenas de bens imóveis ligados às classes dominantes: casarões, fortes, igrejas barrocas, construindo um discurso sobre o passado a partir da fala dessas classes, construindo uma memória de nosso passado a partir dos seus valores. Hoje, em função da ação de órgãos como o Instituto de Arquitetos Brasileiros, a Associação dos Geógrafos do Brasil e a Associação Nacional de História, o conceito de “patrimônio histórico e cultural” foi substituído pelo de “patrimônio cultural”, constituído de unidades designadas “bem culturais”, subdivididos em três tipos de elementos:

  • 1º relativos a natureza e ao meio ambiente;
  • 2º relativos ao conhecimento e às técnicas;
  • 3º relativos aos bens culturais, toda a sorte de objetos, obras e artefatos produzidos pelos homens.

Portanto, a ideia de patrimônio histórico não está mais restrita a patrimônio edificado – pedra e cal – mas também ao patrimônio documental, arquivístico, bibliográfico, hemerográfico, iconográfico, oral, visual, museológico, enfim, todo o conjunto de bens que nos falam sobre a História de uma sociedade.

Considerações finais

Ao escolher trabalhar com novas estratégias de aula, o professor não deve se iludir, pois tais estratégias não solucionam os problemas didático-pedagógicos do processo de ensino-aprendizagem de História e nem alteram as representações sociais e o valor dado ao conhecimento pela nossa sociedade imediatizada e presentista. O objetivo central do uso de novas estratégias em sala de aula deverá sempre ser a busca por uma linguagem que possibilite uma melhor compreensão das dimensões da problemática histórica pelos alunos.

A metodologia e os recursos usados no ensino de História devem possibilitar, ou melhor, levar o aluno a perceber que a História é social, dá-se coletivamente, é produção humana, e que o professor é o mediador no processo de elaboração conceitual do educando.

Referências

BITTENCOURT, Circe. Livros didáticos entre textos e Imagens. In: ______. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1998.

______. O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 1998.

PROENÇA, M. C. Ensino da História e formação para a cidadania. Curitiba: Aos Quatro Ventos, 1999.

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.

Quais são os conceitos fundamentais para o ensino de história?

Antes de iniciarmos o estudo dos acontecimentos históricos mais cobrados nos vestibulares, temos que nos familiarizar com os conceitos básicos do estudo da História. Dentre eles, estão os conceitos de cultura, sociedade, economia e política.

Qual é a finalidade dos conceitos históricos em sala de aula?

os conceitos históricos deverão ter como base a compreensão prévia dos conceitos sociais correspondentes ou relacionados. Estes últimos podem oferecer ao aluno [...] uma base sobre a qual poderão compreender, posteriormente, situações sociais afastadas no tempo (CARRETERO, 1997, p. 18).

Quais os principais objetivos do ensino de história para os anos iniciais do ensino fundamental?

Principais objetivos Apresentar a dimensão de espaço e do tempo sob a perspectiva da mobilidade das populações e as formas de inserção ou marginalização delas em culturas diferentes. 2. Desenvolver habilidades com foco em processos como contextualização, comparação, interpretação e proposição de soluções.

Como deve ser o ensino de história nos anos iniciais do ensino fundamental?

A disciplina de História se faz presente nos anos iniciais do ensino fundamental por meio de vários conteúdos que proporcionam à criança uma formação de pensamento transformador, permitindo a ela que se perceba como sujeito histórico e que tudo que a cerca também faz parte desse processo.