Qual era a ordem política e social que elas estavam ameaçando a Guerra dos Cabanos?

A Regência Una de Feijó foi marcada pela eclosão de diversas rebeliões separatistas e pela ameaça à integridade do território brasileiro.

Após a elaboração do Ato Adicional de 1834 foi estabelecida a constituição de uma Regência Una, em substituição à Regência Trina dos anos anteriores. A Regência Una de Diogo Feijó, exercida entre 1835-1837, foi a primeira das duas Regências Unas que ocorreram no período regencial.

O mandatário para a Regência Una foi escolhido através de eleição direta. Naquela época apenas 1,5% da população pôde votar na escolha do regente. Tal situação era decorrente do caráter extremamente excludente do sistema político que vigorou no início do Estado independente brasileiro. O padre Diogo Feijó foi eleito com o apoio dos liberais, superando o conservador Holanda Cavalcanti, mas recebeu apenas um quarto dos votos.

O governo de Feijó teve duas características principais. A primeira foi a eclosão de diversas rebeliões separatistas pelo país. A Revolta Farroupilha, no Sul, a Revolta dos Cabanos, no Pará, a Balaiada, no Maranhão, a Revolta dos Malês e a Sabinada, na Bahia, colocaram em risco a integridade do território nacional.

No aspecto dos grupamentos políticos institucionais, destacou-se a formação de dois campos entre o grupo dos políticos moderados, que havia surgido após a abdicação de D. Pedro I. Os progressistas eram um grupo formado por membros das classes médias urbanas, clérigos e proprietários rurais do Sudeste e Sul do país. Eles apoiavam as medidas descentralizadoras presentes no Ato Adicional de 1834 e o regente Feijó.

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De outro lado, estavam os regressistas, grupo composto por grandes proprietários rurais, comerciantes, burocratas do Estado e magistrados, que defendiam uma maior centralização política, utilizando como argumento de seu posicionamento as diversas rebeliões que ocorreram no país, apontando a causa na descentralização do poder estatal.

Durante o Segundo Reinado, os progressistas dariam origem ao Partido Liberal, e os regressistas seriam a base do Partido Conservador.

A defesa do Estado centralizado tinha o objetivo de garantir a permanência da escravidão no país em um momento em que a principal potência mundial, a Inglaterra, forçava pelo fim do tráfico negreiro no oceano Atlântico. Por outro lado, o início do crescimento do café como produto de exportação colocava a necessidade de utilização da força de trabalho africana para essa lavoura.

Os conflitos enfraqueceram os progressistas e o próprio Feijó. Em 1836, ele dissolveu a Câmara dos Deputados após uma divergência política. Frente a isso, os regressistas iniciaram uma forte oposição, que resultou na renúncia de Diogo Feijó e na subida ao poder do conservador Araújo Lima.

* Imagem retirada do endereço: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Diogo-feij%C3%B3.jpg

Danielle Figuerêdo Moura

Qual era a ordem política e social que elas estavam ameaçando a Guerra dos Cabanos?

“O Cabano Paraense”. Alfredo Norfini, 1940, Museu de Arte de Belém

A Cabanagem (1835-1840) foi um movimento social que explodiu na vasta área da calha do Rio Amazonas. Sua repercussão maior deveu-se ao fato de ter sido o único movimento em que os levantados tomaram o poder político da capital do Grão-Pará, Belém, entre 7 de janeiro de 1835 e 13 de maio de 1836. O movimento eclodiu em meio aos árduos debates e conflitos da formação do Estado.

Através de jornais, relatórios de Presidentes de Província e de Ministros, e correspondências entre diversas autoridades municipais, provinciais e imperiais, a Cabanagem foi pintada naqueles dias como uma grande ameaça ao Império (apesar de não ter sido separatista) e à civilização. Mais do que uma contestação política, uma “sedição” ou ação de “facciosos”, configurava-se como uma “rebelião”, uma “revolta” de toda sorte de gente que ameaçava subverter a “ordem” e que cometeu os piores crimes. Seus feitos atestavam sua “inferioridade”, “ferocidade” e “barbárie” que a diferenciavam dos demais movimentos sociais pelo Império. Era uma gente, uma “raça” composta de negros, índios e mestiços, que na visão do Presidente Francisco José de Souza Soares d’Andréa se diferenciava da população de outras províncias que era majoritariamente da “raça branca” e, portanto, detentora de uma maior “moralidade”. Nem mesmo a Farroupilha, definida pelo Ministro Paulino de Sousa como “a mais séria e complicada sedição”, causou tanto horror.

Para muitos membros da corte e da elite provincial, a guerra que ocorreu no Grão-Pará era entre “civilização” e “barbárie”, brancos e “gente de cor”. Mais do que a pintura de um quadro de uma “malfadada província”, assolada por toda sorte de sujeitos que desafiavam os princípios de “ordem” e “humanidade”, construiu-se a imagem quase homogênea do “cabano”, cujas características justificavam o ferrenho combate. Pela sua “natureza primitiva” (ligada ao mundo natural da província), poucas ou nenhuma eram as possibilidades de reabilitá-los.

A caracterização feita aos cabanos não era apenas uma justificativa ao combate ou a implementação de medidas civilizatórias (como o trabalho forçado em obras ou agricultura). Desqualificá-los e desumanizá-los no nível do discurso era em si uma forma de combate e estava diretamente ligado ao contexto da formação do Estado. Se a sua construção envolvia questões do imaginário, a elaboração de uma imagem de quem eram seus inimigos também fazia parte não só do reforço do ideal de Estado, mas também dos meios encontrados por uma elite dirigente para justificar o combate por meio do discurso e da ofensiva armada àqueles que se opunham à ordem que se tentava implementar e legitimar.

A identidade cabana, seus objetivos e visões de mundo, porém, extrapolavam as definições dadas pelos seus opositores. Eles eram indígenas, mestiços, negros escravos ou forros, brancos livres pobres, roceiros, pequenos e grandes proprietários, padres, jornalistas, soldados, políticos, juízes e negociantes. Dentre os fatores que propiciaram a eclosão do movimento cabano estavam os problemas econômicos existentes desde o final do século XVIII. Acrescente-se a isso os conflitos políticos que ocorriam na província desde as lutas pela independência, como as perseguições a líderes políticos como Batista Campos e as reivindicações por maior participação dos paraenses no governo provincial. Ademais, é preciso considerar a crescente insatisfação popular que reclamava por mudanças nas estruturas sociais herdadas do período colonial, marcadas pela opressão e exploração.

A circulação e interpretação das novas leis imperiais na capital e nas diversas vilas do Grão-Pará também teve seu peso. O entendimento e as demandadas locais do novo conjunto legal extrapolaram o proposto pela Corte. Nascia uma interpretação bastante diferente e radical e as identidades que faziam estas leituras, quanto mais locais, mais radicais e identitárias localmente, ampliando a discussão sobre direitos. Elas eram lidas e tomadas como bandeiras de grupos que a princípio estariam excluídos de direitos para os quais os legisladores não pretendiam estender os benefícios das leis. Contudo, a própria existência e publicação dessas leis tornava inviável qualquer tentativa de impedir que grupos excluídos fizessem sua leitura própria e demandassem direitos para si. Soma-se a isso a experiência da mobilização política durante as eleições municipais para juízes de paz e vereadores que, equacionadas com um repertório de valores e concepções de direitos, certamente foi elemento fundamental para a eclosão e diversidade de dinâmicas da Cabanagem.

Assim, não havia programa político ou ideologia cabana homogênea e compartilhada, ainda que grupos populares e senhoriais lutassem lado a lado em alguns momentos. Tampouco as classes populares agiram como massa de manobra comandada pelos cabanos oriundos da elite paraense, como Malcher, Vinagre e Angelim. Houve uma imensa luta por liberdade, diretos e cidadania. Se diversa era a identidade cabana, diversos também eram seus entendimentos de liberdade e de direito, seus desejos de mudanças e seus ideais políticos e revolucionários.

A Cabanagem, importante história de luta e resistência em vários sentidos, é tema de diversos estudos. Cada um a seu modo contribui para o entendimento do Grão-Pará naquele contexto e da diversidade do movimento cabano. Ademais, convidam à reflexão sobre quais conexões podemos estabelecer entre as histórias de vida dos sujeitos daquele momento e o que vivemos hoje. Na próxima semana, as pesquisadoras Maria do Socorro Lima, Michelle de Queirós e Letícia Barriga apresentarão outros olhares sobre o Grão-Pará e o processo de emancipação e a História da Educação no Bicentenário. Não perca!

Quais foram os grupos sociais que participaram da revolta Cabanagem?

Os cabanos, em sua grande maioria, eram formados por indígenas (tapuios, entre outras nações), pobres livres e negros que se revoltavam com a situação de miserabilidade em que viviam somada à crise política que se instalou no Brasil após a abdicação de D. Pedro I.

Quais foram os fatores que deram origem à revolta dos cabanos?

Causas da cabanagem Péssimas condições de vida da população que era principalmente formada por índios, nefros forros, escravos e mestiços; Abandono do Grão-Pará pelo governo recente; Elite desejava participar da política e administração da província; Desejo de independência em relação ao governo central.

Quem eram considerados rebeldes na Guerra dos Cabanos?

Na madrugada de 7 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (índios tapuios, cabanos e negros) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará.

Qual foi o projeto político da revolta dos cabanos?

O objetivo principal era a conquista da independência da província do Grão-Pará. Os cabanos pretendiam obter melhores condições de vida (trabalho, moradia, comida). Já os fazendeiros e comerciantes, que lideraram a revolta, pretendiam obter maior participação nas decisões administrativas e políticas da província.