Qual o papel da Filosofia na formação dos futuros professores para sua prática educativa?

A discussão sobre a formação de professores no Brasil parece seguir o deslocamento do polo da teoria para o polo da prática, ou seja, do "dever ser" ao "fazer" do professor, acompanhando a mudança de paradigma que norteou o surgimento da compreensão moderna do conhecimento. Entretanto, o que se observa no modelo proposto, subjacente à legislação, é uma tentativa extremamente problemática de minimizar a sua distância, na medida em que apenas se afirma de outro modo a mesma dicotomia. Não há uma solução ou equacionamento correto, pois somente se diluiu a prática ao longo do percurso teórico, sem compreender devidamente o significado da virada da prática. Por isso, o objetivo do texto é propor uma reformulação do dilema entre teoria e prática desenvolvido pela educação brasileira enquanto cristalizado nas normativas sobre a formação de professores, a partir da reflexão sobre uma Filosofia da Educação inspirada na teoria do reconhecimento social do outro.

filosofia da educação; formação de professores; teoria; prática; reconhecimento do outro


The discussion about the formation of teachers in Brazil seems to follow the movement from the theory pole to the practice pole, that is, from the "must be" to the "do" of the teacher, following the paradigm shift that guided the emergence of the modern understanding of knowledge. However, what is observed in the proposed model, underlying the legislation, is a highly problematic attempt to minimize its distance, as it just states otherwise the same dichotomy. There is not correct solution or equation, because it just dilutes the practice throughout theoretical route, without understanding properly the meaning of the practice turning. Therefore, the paper aims at proposing a reformulation of the relationship between theory and practice developed by the Brazilian education, while crystallized in the rules about formation of teachers, from the reflection on a Philosophy of Education inspired by the theory of social recognition of the other.

philosophy of education; formation of teachers; theory; practice; recognition of the other


ARTIGOS DE DEMANDA CONTÍNUA

Filosofia da Educação e formação de professores no velho dilema entre teoria e prática1 1 Este artigo é resultado do projeto de pesquisa Teoria e Prática da Formação no Reconhecimento do Outro, financiado com bolsa produtividade em pesquisa do CNPq. Agradeço às revisões e sugestões dos profs. Claudio Almir Dalbosco (UPF), Catia Piccolo Viero Devechi (UnB) e Maiane H. Ourique (UFPel). 3 Entre outras produções com base filosófica não menos importantes, destacamos os textos "Sobre a atualidade dos tabus com relação aos professores", de Antonio A. Zuin; "Hermenêutica e educação: desafios da hermenêutica na formação dialógica do docente", de Eldon Henrique Mühl; Da figura do mestre, de Marlene de Souza Dozol e "Três lições de filosofia da educação", de Walter Omar Kohan; e Terapia de Atlas: pedagogia e formação docente na pós-modernidade, de Amarildo Luiz Trevisan. 4 A racionalidade de nosso sistema de crenças e valores, ou seja, a racionalidade ocidental, que dividiu o mundo em aparência e essência, corpo e alma, normativo e vivido, teoria e prática e demais binômios aparentemente irreconciliáveis, é baseada na suposição de um mundo mais permanente por detrás de um mundo mutável e aparente. Ela surgiu a partir do platonismo, recebeu reforço na filosofia moderna (epistemologia) e mais tarde no positivismo. Por isso, não é capaz de dar conta analiticamente da formação do professor no ambiente de complexidade dos novos fenômenos culturais. Esses novos fenômenos criaram uma realidade artificial (a virtualidade, o ciberespaço), que produz, como afirma Matos, "objetos sem imagens e imagens sem objetos" (1999, p. 73). Este é um dos motivos pelos quais não se sustenta mais no ambiente pedagógico a ideia de "essencializar" conhecimentos, por exemplo, o que repercute fortemente na performance da docência, suas imagens e autoimagens. O artigo "Um professor no close da intolerância: a pedagogia entre imagem e opinião pública" (TREVISAN, 2006) aborda algumas consequências desta discussão para o campo da formação de professores. 5 Segundo Perrenoud (1999), as competências a serem desenvolvidas pela educação devem ser: de comprometimento com os valores inspiradores da sociedade democrática; compreensão do papel social das escolas, domínio dos conteúdos a serem socializados, aos seus significados em diferentes contextos e sua articulação interdisciplinar; domínio do conhecimento pedagógico; conhecimento de processos de investigação que possibilitem o aperfeiçoamento da prática pedagógica; e, por último, competências referentes ao gerenciamento do próprio desenvolvimento profissional. 6 A Resolução CNE/CP 1/2002, de 18 de fevereiro de 2002, por exemplo, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica, chega a recomendar, no seu art. 12, que a prática esteja presente desde o início do curso, perpassando toda a formação do professor. Os estágios curriculares deixam então de acontecer como epílogo de um longo processo em que estiveram ausentes para se tornarem parte do dia a dia da formação. 7 Refiro-me à citação de Hegel, no prefácio da obra Princípios da Filosofia do Direito, que diz: "Quando a Filosofia chega com a sua luz crepuscular a um mundo já a anoitecer, é quando uma manifestação de vida está prestes a findar. Não vem a Filosofia para a rejuvenescer, mas apenas reconhecê-la. Quando as sombras da noite começam a cair é que levanta voo o pássaro de Minerva" (HEGEL, 1986, p. 15). 8 Diversas pesquisas no Brasil têm apontado os limites dos referenciais teóricos que embasam a legislação recente sobre a formação de professores (Cf. DELUIZ, 2001; KUENZER, 2010; PEREIRA, 2009). As produções da área de Filosofia da Educação também questionam a legislação enquanto apoiada no ideário da pedagogia das competências, como é o caso do artigo de Duarte: "As pedagogias do aprender a aprender e as ilusões da assim chamada sociedade do conhecimento". Moraes chama a atenção para o predomínio das "epistemologias da prática" na formação docente. Segundo a sua avaliação, as propostas de Shön, Tardif e Perrenoud "sinalizam a emergência de concepções mais individualizadas e subjetivas dos percursos de aprendizagem, a retomada do 'aprender a aprender', vinculado às condições atuais de adaptabilidade" (MORAES, 2009, p. 592). Já o parecer da Faculdade de Educação da UFRGS sobre os PCN's questiona a base psicológica e psicopedagógica em que foram construídos, presente na nomenclatura que enfatiza "capacidades intelectuais", "conhecimentos", "interesses" e "motivações dos alunos", ignorando outras contribuições para os estudos do currículo oriundas da Sociologia da Educação, da Sociologia do Currículo, Filosofia da Educação e Estudos Culturais (DOSSIÊ, 1996, p. 236-237). 9 A epistemologia procura definir o conhecimento por intermédio da lógica da explicação, mais afeita a uma racionalidade analítica, enquanto a hermenêutica, atuando do lado da compreensão, chama atenção para o aspecto da historicidade do conhecimento. No entanto, o debate atual caminha para encontrar saídas para este dilema, procurando fazer valer a tese de complementaridade entre explicação e compreensão, epistemologia e hermenêutica (Cf. BOMBASSARO, 2005). 10 Ao lado de Nancy Frazer e Charles Taylor, Axel Honneth, seguidor de Habermas e da teoria crítica da Escola de Frankfurt, é um dos mais destacados intérpretes atuais da teoria do reconhecimento de Hegel. Segundo o testemunho de Mattos, "como Honneth se propõe a desenvolver uma sociologia do reconhecimento, faz-se necessário comprovar empiricamente como ocorre o processo de reconhecimento em suas diferentes dimensões, o que Hegel só fez abstrata e metafisicamente. A intenção de Honneth é desenvolver uma perspectiva aberta às modernas ciências empíricas, notadamente, à sociologia" (MATTOS, 2006, p. 87). 11 Algumas obras problematizaram a virada da discussão entre teoria e prática na modernidade, como por exemplo: Notas marginais sobre teoria e práxis. In: ADORNO, Theodor W. Palavras e sinais: modelos críticos; Maquiavel, a política e o estado moderno, de Antônio Gramsci; e Teoría y práxis: estudios de Filosofía Social, de Jürgen Habermas. Gramsci, por exemplo, vai chamar a atenção para o rompimento que promove a política no início da modernidade, especialmente em Maquiavel, com os princípios morais e religiosos vigentes à época, conferindo à política o status de ciência autônoma. Ela pode assim ficar livre e desembaraçada para impulsionar o vivido. É precisamente nesse sentido que ela se torna "ciência autônoma", isto é, uma ciência da prática política. Maquiavel não está interessado em definir algo no campo político que não produza uma ação; algo que não aconteceria se este campo permanecesse amarrado a princípios heterônomos (morais e religiosos) e, deste modo, tributário da aplicação de outras demandas. 12 A teoria da ação comunicativa, de Jürgen Habermas, é ilustrativa da característica adquirida pela teoria no contexto moderno, uma vez que ela se autocompreende inserida no universo da ação, não havendo distanciamento entre uma instância e outra do processo.

Qual a importância da Filosofia para a formação de professores?

A filosofia se mostra imprescindível na formação do educador, pois oferece a ele métodos para analisar profundamente a complexidade dos problemas educacionais e a contribuição das diferentes disciplinas pedagógicas para o desenvolvimento intelectual dos alunos.

Qual o papel importância atuação da Filosofia da Educação na Educação?

A função essencial da Filosofia da Educação consiste em acompanhar, criticamente, a atividade educacional de forma a explicitar os seus fundamentos, esclarecer a função e a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e avaliar o significado das soluções escolhidas.

Qual a importância da Filosofia para a formação e atuação de docentes e profissionais da pedagogia?

Sua função é acompanhar reflexiva e criticamente a atividade educacional de modo que explicite os seus fundamentos, esclareça a tarefa e a contribuição das diversas disciplinas pedagógicas e avalie o significado das soluções escolhidas.

Como a Filosofia da Educação contribui para a qualificação do a futuro a professor a de Letras?

A Filosofia da Educação objetiva contribuir para o desenvolvimento de uma atuação profissional crítica, reflexiva, coerente, eficaz, eficiente, justa, humana e transformadora da realidade educacional por parte do professor-pedagogo, tanto no campo da docência quanto nas áreas de trabalho não docente (direção escolar, ...