Uma armada com 212 navios saiu de Faro a 7 de agosto de 1415. D. João I, determinado a conquistar Ceuta, comandava uma expedição militar com mais de 20 mil homens. Apanhados de surpresa, os mouros não resistiram e a cidade foi facilmente tomada. Há muito que os portugueses olhavam para as praças do norte de África como uma saída para os seus problemas económicos e sociais. Abrir caminho para as rotas do ouro
africano, expandir a fé cristã e dominar o comércio além-mar, foram as principais motivações para esta expedição que começou com uma vitória. No dia 21 de Agosto de 1415, D. João I entrava em Ceuta e, sem resistência, tomava a “pérola do mediterrâneo”. Dizem os relatos que morreram milhares de mouros e que, do lado dos portugueses, apenas caíram oito homens, apedrejados na praia
onde aportaram. O rei ganhava assim uma cidade comercial importante, ao mesmo tempo que conquistava a admiração dos outros monarcas europeus e da própria Igreja, que apoiava a luta contra os infiéis do Islão. No regresso da expedição, os navios vieram carregados com os despojos de Ceuta, mas a praça revelou-se um sorvedouro para os cofres do reino, que mais gastava com a sua manutenção do que de lá tirava: quase todo o comércio tinha sido desviado pelos muçulmanos. Apesar de não ter
correspondido às expetativas, a conquista de Ceuta marca o início dos descobrimentos, um dos períodos mais importantes da história de Portugal.Tópicos
Ficha Técnica
- Título: Horizontes da Memória - A tomada de Ceuta
- Tipologia: Extrato de Programa
- Autoria: José Hermano Saraiva
- Produção: Videofono / RTP
- Ano: 2002
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Painel de azulejos de Jorge Colaço (1864 - 1942) na Estação de São Bento, no Porto: o Infante D. Henrique na conquista de Ceuta. | ||
Data | 21 de agosto de 1415 (607 anos) | |
Local | Ceuta | |
Desfecho |
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A Conquista de Ceuta, cidade islâmica no Norte de África, por tropas portuguesas sob o comando de João I de Portugal, deu-se a 21 de Agosto de 1415.[1]
Os motivos[editar | editar código-fonte]
As causas e origens da conquista de Ceuta não são hoje suficientemente claras: uma das razões, a Causa Bélica, teria sido a oportunidade dos infantes (D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique) serem armados cavaleiros por um feito de guerra.[2] Outra, a Causa Religiosa, defendida por historiadores como Joaquim Bensaúde (1859-1951), viram na figura do infante D. Henrique um símbolo do espírito de cruzada, defendendo ter havido na génese da expansão um zelo religioso; Outra, a Causa Política, talvez a ameaça castelhana constante sobre a cidade, defendida por historiadores como Jaime Cortesão (1884-1960), que realçava o desejo da antecipação a Castela na expansão para o norte de África. Estes motivos não são incompatíveis com a Causa Económica, defendida por António Sérgio (1883-1969) e, mais recentemente, Vitorino Magalhães Godinho (1918-2011) - Ceuta era uma cidade rica e teriam sido levados pela burguesia comercial, que queria canalizar para Lisboa o tráfego do Mediterrâneo ocidental feito por aquela cidade. Para se informar de todos os pormenores da cidade, D. João I enviou à Sicília dois embaixadores com o pretexto de pedirem a mão da rainha para o infante D. Pedro;[3] estes na passagem colheram todas as informações sobre Ceuta.[1]
Causas[editar | editar código-fonte]
Estas são consideradas as principais razões da conquista de Ceuta:[1]
- Geoeconómicas: a posição geográfica de Ceuta permitiria controlar a entrada e saída dos navios vindos do Atlântico para o Mediterrâneo e vice-versa através do estreito de Gibraltar, de modo que a costa do Algarve parasse de ser atacada por piratas oriundos ou baseados na cidade muçulmana.
- Religiosas: havia um desejo de expansão da fé cristã através do incremento de territórios onde o cristianismo poderia ser implantado.
- Sociais: as classes mais abastadas tinham vários interesses nesta conquista. A nobreza buscava novas terras, honras e rendas; o clero desejava expandir a fé cristã; e a burguesia estava à procura de novos produtos e mercados.
- Económicas: Portugal sofria com a falta de diversos produtos como trigo, ouro, prata, e especiarias. A conquista de Ceuta significaria para o reino português o controle sobre uma cidade em que afluíam os produtos orientais vindos da Índia pelas rotas caravaneiras que traziam ouro, especiarias, etc. Ressalte-se ainda que a cidade era uma zona fértil, apropriada para a produção de cereais.
- Políticas: o reino português procurava aumentar sua importância no quadro das monarquias ibéricas através do estabelecimento de Ceuta como o ponto mais oriental da reconquista cristã a ser feita por Portugal no norte da África.
A conquista[editar | editar código-fonte]
Um exército de cerca de 19 000 a 20 000 cavaleiros e soldados portugueses, ingleses, galegos e biscainhos havia largado de Lisboa a 25 de Julho de 1415, embarcado em 212 navios de transporte e vasos de guerra (59 galés, 33 naus e 120 embarcações pequenas).[1] Na expedição seguia a fina flor da aristocracia portuguesa do século XV, incluindo os príncipes Duarte (o herdeiro), Pedro, Duque de Coimbra e Henrique, Duque de Viseu, além do condestável Nuno Álvares Pereira.
Após uma escala em Lagos e Tavira, fundearam diante de Ceuta a 21 de Agosto, tendo efectuado o desembarque sem encontrar resistência por parte dos mouros.
A guarnição da cidade de Ceuta correu a fechar as portas da cidade, mas as tropas portuguesas foram rápidas a impedir o estabelecimento de defesas adequadas.
Na manhã de 22 de Agosto, Ceuta estava em mãos portuguesas. Segundo Azurara, nessa altura, foi pedido a João Vasques de Almada que hasteasse a bandeira de Ceuta, que é idêntica à bandeira de Lisboa mas na qual foi acrescentado o brasão de armas do Reino de Portugal ao centro, símbolo que perdura até hoje.
Depois a mesquita foi consagrada e, na primeira missa lá realizada, os três príncipes da Ínclita geração presentes foram feitos cavaleiros pelo seu pai.
A conquista foi conseguida com poucas baixas, pois apenas um fidalgo português - Vasco Fernandes de Ataíde, governador da casa do Infante D. Henrique - faleceu no ataque, morto por uma grande pedra lançada das muralhas da cidade, que o atingiu na cabeça.[4] Uma inscrição em Latim, relativa a este evento, "parece ser...o único vestígio subsistente da permanência dos Portugueses em Ceuta".[5]
Ceuta seria a primeira possessão portuguesa em África, estratégica para a exploração Atlântica que começava a ser efectuada.
A conquista foi recordada como:
Deixando ficar o conde de Viana, D. Pedro de Meneses, o rei, os infantes e o resto da frota regressaram a Lisboa em Setembro, tendo permanecido durante treze dias em Ceuta.
Os marroquinos não se conformaram e atacaram a cidade duas vezes, em 1418 e em 1419, sem sucesso.
Manter a cidade constituía-se em um problema logístico: era necessário enviar suprimentos, armas e munições; a maior parte dos soldados era recrutada à força, recorrendo-se a condenados e criminosos a quem o rei comutava a pena desde que fossem para Ceuta e ainda recompensar generosamente os nobres que ocupavam postos de chefia. Julgaram consegui-lo, quando do desastre português de Tânger, pedindo como resgate do infante de D. Fernando a cidade de Ceuta. Mas D. Fernando faleceu no cativeiro e a cidade continuou portuguesa (1443).[1]
Ceuta teve que se aguentar sozinha, durante 43 anos, até que a posição da cidade ser consolidada com a tomada de Alcácer Seguer (1458), Arzila e Tânger (1471).
A cidade foi reconhecida como possessão portuguesa pelo Tratado de Alcáçovas (1479) e pelo Tratado de Tordesilhas (1494).
Quando da Dinastia Filipina, Ceuta manteve a administração portuguesa do Reino de Portugal, assim como Tânger e Mazagão. Todavia, quando da Restauração Portuguesa, não aclamou o Duque de Bragança, como rei de Portugal, mantendo-se espanhola. A situação foi oficializada em 1668 com a assinatura do Tratado de Lisboa entre os dois países, e que pôs fim à guerra da Restauração.
O fracasso de Ceuta[editar | editar código-fonte]
As expectativas relacionadas aos benefícios da conquista de Ceuta não se confirmaram a longo prazo. Sob a ótica econômica, pode-se afirmar que o domínio português sobre a cidade se revelou um completo fracasso. As rotas comerciais que chegavam ou passavam por Ceuta foram desviadas para outras localidades. Além disso, o permanente estado de guerra comprometia o cultivo dos campos e a produção de cereais. Os muçulmanos chegaram a sequestrar o Infante D. Fernando (considerado santo a partir deste episódio) e outras pessoas, para exigir Ceuta de volta, mas Portugal não cedeu e os prisioneiros acabaram por ser torturados e morrer. A situação agravou-se em função das elevadas despesas militares necessárias à manutenção da praça africana. Os membros da corte chegaram a cogitar o abandono da cidade. O Infante D. Pedro, em carta ao seu irmão, afirmava mais tarde:
“ | Ceuta é um grande sorvedouro de gente de nossa terra, de armas e de dinheiro. | ” |
Referências
- ↑ a b c d e «Tomada de Ceuta». Porto Editora. Infopédia. Consultado em 22 de agosto de 2012
- ↑ Crónica da Conquista de Ceuta, Gomes Eanes de Zurara
- ↑ Chronica De El-rei D. João, Gomes Eanes De Zurara
- ↑ Vila-Santa, Nuno. «Ataíde, Vasco Fernandes de (Governador da Casa do Infante D. Henrique, ?-1415)». Universidade Nova de Lisboa, Faculdade de Ciências Humanas. Consultado em 9 de janeiro de 2019
- ↑ Braamcamp Freire, Anselmo (1930). Brasões da Sala de Sintra, Livro Primeiro (2ª edição). Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra. p. 84
Bibliografia[editar | editar código-fonte]
- Gomes Eanes de Zurara, Crónica da Tomada de Ceuta (escrita em 1453, trata-se de uma importante obra relativa a esta guerra.)
- Mestre Mateus Pisano, Livro da guerra de Ceuta (escrito, em 1460, em latim, este livro foi vertido em português por Roberto Correia Pinto.)
- Antoine de la Sale (única testemunha ocular da guerra de Ceuta), Consolações dirigidas a Catharina de Neufville, Senhora de Fresne (escrita, em 1453, em francês, esta obra foi vertida em português pelo general Carlos du Bocage.)
- Arkan Simaan, L'Ecuyer d'Henri le Navigateur (romance histórico, em francês, editado por Harmattan. Nos primeiros capítulos encontra-se uma descrição da tomada de Ceuta e da ocupação da cidade até o cerco de 1418-1419. Em seguida vem o relato das atividades do Infante Dom Henrique em Sagres, as expedições marítimas, as descobertas de Porto Santo e da Madeira, a passagem do cabo Bojador por Gil Eanes, o desastre de Tanger e a chegada dos primeiros escravos africanos em Lagos.)
- Aileen Gallagher, Prince Henry the Navigator: Pioneer of Modern Exploration (2003) ISBN 978-0-8239-3621-2
- Jeff Kinard, Artillery: an illustrated history of its impact (2007) ISBN 978-1-85109-556-8
- Kenneth Warren Chase, Firearms: a global history to 1700 (2003) ISBN 978-0-521-82274-9
- Peter O. Koch, To the ends of the earth: the age of the European explorers (2003) ISBN 978-0-7864-1565-6
Ligações externas[editar | editar código-fonte]
- A conquista de Ceuta: um dia de combate, Horizontes da Memória - A tomada de Ceuta (Extrato de Programa), por José Hermano Saraiva, Videofono / RTP, 2002
- «O que terá levado o rei a arriscar tanto numa aventura africana?», por Manuel Carvalho e Sérgio C. Andrade. Público, 21 de Agosto de 2015
- Recensão: As Décadas de Ceuta (1385-1460), coordenação por Maria Helena da Cruz Coelho e Armando Luís de Carvalho Homem, População e Sociedade, CEPESE, Porto, vol. 30, 2018
- A cidade de Lisboa na preparação da conquista de Ceuta, por Carlos Guardado da Silva
- A Campanha Militar de Ceuta (1415) Revisitada, pir João Gouveia Monteiro, Revista de História da Sociedade e da Cultura vol. 17, Universidade de Coimbra, 2.06.2019