RENAN ALBUQUERQUE
A reciclagem de aparelhos de telefone celular é uma prática pouco exercida em Parintins. Trata-se de um objeto que é trocado com frequência e a maioria da população, muitas vezes, não sabe a hora de troca ou como descartar esses aparelhos, e prefere o como destino final os lixões, o que se torna prejudicial à Saúde humana e ao Meio Ambiente. Nos últimos anos o uso do aparelho celular, que era raro, com o avanço tecnológico tornou-se comum. Qualquer cidadão pode usufruir desta ferramenta de comunicação. Porém, essas modificações, assim como foram benéficas para o cidadão, trouxeram prejuízos.
As pilhas e baterias possuem substâncias químicas altamente tóxicas e a reação entre as mesmas produz energia elétrica, funcionando como uma usina portátil. O zinco, o chumbo e o manganês são metais encontrados nas pilhas e quando jogados de maneira incorreta no lixo podem contaminar o solo e o lençol freático. Se estes metais forem parar na água e entrarem na cadeia alimentar podem causar sérios problemas à saúde, como câncer e danos ao sistema nervoso central. Para o assistente técnico, Thiago Pires, proprietário da Loja Mundo Digital, em Parintins, o número de trocas de bateria tem subido, mas ainda é um problema. De acordo com a assistente técnica da JB Informática, Melissa Guimarães, 20, também da Ilha Tupinambarana, o número de pessoas que procura a assistência para troca de baterias também tem sido melhor que nos últimos anos.
Melissa explica ainda que sempre recebe as baterias inutilizáveis e que a loja dispõe de um espaço para esses materiais. “Temos o nosso próprio armazenamento aqui na loja, nós guardamos em um depósito. Evitamos jogar baterias em lixões. Tivemos a ideia de fazer um lixo eletrônico e colocar pilhas e baterias, mas sempre quando tentamos fazer isso, pessoas da rua e principalmente crianças pegam esses descartes, o que pode ser prejudicial à saúde, sendo que os mesmos contêm elementos tóxicos. Então, optamos em armazená-los”, explica.
Prevenção
A maioria dos parintinenses já possuiu mais de um aparelho celular. Às vezes, esses aparelhos inutilizáveis são entregues às crianças em forma de brinquedo. Devido à presença de elementos químicos pesados, o vazamento da bateria pode até explodir e causa danos sérios, como queimaduras. A dona de casa Ana Cláudia, 41, tinha o hábito de entregar o aparelho celular para seus sobrinhos como forma de distração. Após tomar conhecimento sobre os riscos que baterias e pilhas causam à saúde e ao meio ambiente, proibiu o uso desses aparelhos como brinquedos aos pequenos.
De acordo com o químico Alex Azika, professor da Universidade Estadual do Amazonas (UEA), os metais pesados descartados livremente nos lixões (áreas de despejo e de disposição dos resíduos sólidos a céu aberto sem nenhum tratamento) podem contaminar o solo e o contato com aquíferos pode proporcionar a percolação desse contaminante aos lençóis freáticos contaminando as águas subterrâneas. “Os metais são fonte de desenvolvimento biológico, são essenciais para o crescimento de todos os tipos de organismos, desde bactérias até o ser humano. Porém, em elevadas concentrações, esses metais passam a ser considerados tóxicos”, disse o químico.
Conscientização
Para tentar conscientizar a população e os revendedores desses materiais na Ilha Tupinambarana, no ano de 2012 o juiz Áldrin Henrique Rodrigues, do Juizado Especial Cível e Criminal de Parintins, determinou que os resíduos eletrônicos fossem coletados por uma loja de assistência técnica e dado o destino correto. Desde então, a determinação não vem sendo cumprida. É visível presenciar esses materiais jogados em alguns pontos do centro da cidade e locais próximos à lixeira, colocando em risco o meio ambiente e a saúde da população.
Além do lixo doméstico, o lixo eletrônico e o industrial são vistos também espalhados com frequência. São carcaças de televisores, geladeiras, fogões, máquina de lavar, ar-condicionados e outros que acabam indo parar no aterro controlado.
Legislação
Segundo a NBR 10.004 (ABNT, 2004), pilhas e baterias são classificadas como resíduos domésticos especiais. O descarte de pilhas e baterias deve ser devolvido ao fabricante e/ou importador, atendendo à Resolução CONAMA n° 257 de 30/06/1999.
Segundo a resolução, que entrou em vigor em julho de 2000, fabricantes, importadores, rede autorizada de assistência técnica e comerciantes de pilhas e baterias ficam 10top-casinos obrigados a coletar, transportar e armazenar o material. Fabricantes e importadores são os responsáveis pela reutilização, reciclagem, tratamento ou disposição final do produto.
A foto que ilustra este artigo é da Pixabay
Renan Albuquerque é professor e pesquisador do colegiado de jornalismo da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e desenvolve estudos relacionados a conflitos e impactos socioambientais entre índios Waimiri-Atroari, Sateré-Mawé, Hixkaryana, junto a atingidos pela barragem de Balbina e com assentados da reforma agrária.
* Colaboraram Bruna Karla, Kamila Morais e Sthepany Farias, estudantes de graduação em Comunicação Social pela Universidade Federal do Amazonas
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