Autor: Renato Ferreira da Silva, Inês Ribeiro Vaz
Última atualização: 2020/09/18
Palavras-chave: Reações Adversas a Medicamentos; Efeitos Adversos; Farmacovigilância; Farmacologia Clínica; Saúde Pública
Reações adversas a medicamentos
As Reações Adversas a Medicamentos são definidas pela OMS (1972) como respostas prejudiciais e indesejadas causadas por um medicamento na dose habitualmente utilizada. Na Europa, a partir de 2012, passou a incluir-se também os efeitos que surgem da utilização real incluindo o abuso, a
exposição ocupacional ou a utilização indevida.
Para que um medicamento seja colocado no mercado, tem de cumprir três premissas chave: eficácia, qualidade e segurança. Globalmente, e apesar dos medicamentos provocarem efeitos adversos (vulgarmente conhecidos por “efeitos secundários”), os efeitos terapêuticos benéficos tendem a prevalecer. De uma forma geral, o benefício é largamente superior ao risco, apresentando altos padrões de qualidade, pelo que mesmo com
algum incómodo interessa manter a medicação prescrita na sua utilização correta, e informar o médico ou farmacêutico da ocorrência dos efeitos secundários para reavaliar se a eficácia compensa o seu aparecimento.
Apesar dos muitos estudos que são necessários para introduzir um medicamento no mercado, alguns efeitos adversos, ou a intensidade com que aparecem, só se verificam após a comercialização com a continuação e massificação dos tratamentos.
Classificação das Reações Adversas a Medicamentos
A: Aumentada | Quando o medicamento apresenta um efeito superior ao esperado |
| Hemorragias provocadas por anticoagulantes |
B: Bizarra | Quando um medicamento apresenta um efeito imprevisível |
| Reações alérgicas ou anafiláticas |
C: Crónica | Quando o medicamento apresenta efeitos que só são visíveis a longo prazo |
| Tolerância às benzodiazepinas |
D: Delayed (atraso) | Efeitos secundários que só aparecem algum tempo depois de ter parado com a medicação |
| Carcinoma vaginal em filhas de mulheres que foram tratadas com dietilestilbestrol na gravidez |
E: End of use (fim do uso) | Efeitos secundários que aparecem ao parar a medicação |
| Abstinência de opiáceos |
F: Falha | Quando o medicamento apresenta um efeito inferior ao esperado |
| Gravidez por ausência de eficácia de anticoncecional |
Como reconhecer as reações adversas?
Sempre que vai iniciar a toma de um medicamento, é importante conhecer os efeitos que se pretendem, os que não se pretendem e estar atento a qualquer outro efeito que possa ser diferente do habitual.
A bula dos medicamentos contém informação muito importante, nomeadamente quanto às reações adversas medicamentosas mais
reportadas.
Embora os profissionais de saúde estejam atentos e disponíveis para ajudar a interpretar os efeitos secundários que apareçam, o principal responsável por os reconhecer é mesmo a pessoa que toma a medicação, independentemente da fórmula farmacêutica (comprimido, cápsula, pomada, creme, xarope, suspensão, etc.) ou da via de administração (oral, sublingual, injetável, etc.). Deve recorrer a um profissional de saúde sempre que suspeitar de um efeito indesejável durante o tratamento,
que ajudará a avaliar a necessidade de tratar a reação adversa ou de suspender o medicamento que a está a provocar. Em muitos casos, o profissional de saúde irá notificar o evento às autoridades para investigação e avaliação.
Fatores de risco para a ocorrência de reações adversas medicamentosas
- Polimedicação: a incidência de reações adversas tende a aumentar, uma vez que a interação entre medicamentos aumenta com o número de fármacos administrados;
- Idade: os extremos etários (crianças e idosos) têm diminuída a sua capacidade de metabolizar os fármacos. No caso dos idosos, acresce outros fatores como a polimedicação e a existência de multimorbilidades;
- Género: as mulheres são mais suscetíveis do que os homens (não relacionado com uma maior/menor exposição);
- Gravidez: algumas classes de fármacos, tal como alguns anti-hipertensores, acarretam risco à saúde e ao desenvolvimento normal do feto;
- Doença subjacente: por exemplo, o diagnóstico de doença do fígado ou renal crónica, uma vez que são sistemas responsáveis pela metabolização e excreção dos fármacos;
- Etnia e polimorfismo genético: fatores hereditários podem influenciar a farmacocinética, assim como algumas variações genéticas (enzimas metabolizadoras, recetores e transportadores).
Como notificar uma suspeita de reações adversas medicamentosas?
É muito importante que a informação quanto aos efeitos secundários dos medicamentos seja recolhida e trabalhada. Só assim é possível ter medicamentos disponíveis mais eficazes e mais seguros.
Quando informados da situação, os profissionais de saúde irão notificar o evento às autoridades para investigação e avaliação,
procurando a identificação de fatores de risco e deteção precoce de sinais de segurança.
Em Portugal, é possível cada pessoa notificar diretamente a sua suspeita de reação adversa ao Infarmed, de forma independente através do formulário desenvolvido para o efeito no Portal RAM ou no website da
respetiva Unidade de Farmacovigilância regional. Toda esta informação é importante para o Sistema Nacional de Farmacovigilância, contribuindo assim para a monitorização permanente do perfil de segurança dos medicamentos. Os novos dados irão permitir melhorar a caracterização das reações adversas atribuídas a cada
medicamento, garantindo atualizações futuras das indicações terapêuticas para a prática clínica. Dessa forma, os medicamentos podem ser utilizados com toda a segurança.
Conclusão
Tomar a medicação conforme indicado é fundamental para melhorar a segurança dos medicamentos. Mas vão sempre aparecer efeitos secundários que devem ser comunicados e avaliados.
A comunicação de reações adversas a medicamentos é uma responsabilidade de
todos e contribui para uma melhor saúde de cada um.
Referências recomendadas
- Coleman JJ, Pontefract SK. Adverse drug reactions. Clinical medicine (London, England). 2016;16(5):481-485.
- European Medicines Agency: Pharmacovigilance (Overview)
- INFARMED, I.P. Farmacovigilância em Portugal: 25 anos
- Manual MSD – Tipos de reações adversas medicamentosas
- Uppsala Monitoring Centre: Global Pharmacovigilance