Etimologicamente, é um termo que deriva do grego apokruphoi, que significa "secreto", "oculto", "escondido". É uma das palavras que tem sofrido várias transformações semânticas, pois o seu significado tem variado com o tempo e com diferentes grupos sociais que a têm empregado. Este termo foi atribuído pelos Católicos aos livros que não foram reconhecidos pelas autoridades religiosas do
Cristianismo e do Judaísmo ao longo dos séculos. Nestes livros estão redigidos, por exemplo, alguns textos que conotam a pouca credibilidade que os primeiros pastores (líderes religiosos) e as primeiras comunidades cristãs davam a Jesus Cristo. Foram
escritos por Cristãos curiosos sobre a vida de Jesus ou, por seitas religiosas que queriam divulgar a sua doutrina. Estes livros, por isso mesmo, não são considerados verdadeiros ou autênticos por muitos católicos e há até alguns historiadores e exegetas que recomendam a sua leitura "nas entrelinhas" e de forma cuidadosa, retirando informações apenas de forma indireta, com a máxima prudência.
São também considerados livros com um carácter oculto, atribuídos a autores sagrados, cuja
integração nos cânones bíblicos é discutível e que foram caindo em descrédito através do desenvolvimento de estudos filológicos e comparativos.
Os Livros Apócrifos são assinalados, em termos de produção textual, tanto no Antigo como no Novo Testamento e também, alguns, no período da Reforma (séc. XVI). Ao que tudo indica, a maioria destes livros foram redigidos nos séculos II a. C e no I d. C. O seu conteúdo
oscila entre as lendas, as profecias, o carácter histórico ou apocalíptico, sendo alguns até didáticos.
O termo apócrifo, é usado para a coleção de 14 ou 15 livros ou partes de livros, escritos em grego, que foram colocados entre os livros do Velho e do Novo Testamentos. No Novo Testamento, os Livros Apócrifos incluem vários evangelhos e a vida dos apóstolos.
Muitos destes textos foram descobertos nos séculos XIX e XX, gerando uma grande especulação sobre a sua importância. De resto, foi
a partir do século XX que se começaram a fazer vários estudos sobre estes textos. Estes livros são muito antigos e proporcionam aos historiadores/investigadores uma fonte histórica muito importante.
Para os Protestantes, por exemplo, apócrifo quer dizer que o livro não faz parte do cânon hebraico, enquanto que os Católicos designam estes livros como deuterocanónicos e denominam de apócrifos os livros que os estudiosos protestantes chamam pseudo-epígrafos.
Para os católicos de rito romano,
os Apócrifos designam os livros que não fazem parte do Cânon Hebraico, que não são inspirados, porém, foram anexados à Septuaginta (Bíblia dos Setenta) e à Vulgata Latina, de S. Jerónimo. Estes livros são rejeitados porque ensinam uma doutrina contrária à de Moisés, além disso, nem Cristo nem os Apóstolos os citam.
Durante o Concílio de Trento, a Igreja Católica, pôs os livros apócrifos com o mesmo nível de igualdade que os outros livros inspirados da Bíblia (Escrituras) e todas as pessoas que não aceitassem os apócrifos, como sendo livros importantes, seriam amaldiçoados pela igreja.
Hoje em dia, a Igreja Católica reconhece, como parte da tradição, os Evangelhos Apócrifos de Tiago, Mateus, o Livro da Natividade de
Maria, o Evangelho de Pedro e os Arménio e Árabe da Infância de Jesus. Mas a maioria dos livros não é reconhecida. No total são 112 livros, 52 do Antigo Testamento e 60 do Novo Testamento.
São livros que descrevem a vida de Jesus, mas que a maioria das igrejas cristãs consideram ilegítimos. Por isso, eles não entram no cânon – conjunto de textos considerados sagrados – da Bíblia. Além dos evangelhos, porém, há outros tipos de apócrifos que descrevem, por exemplo, a origem e o fim do mundo, como fazem o Gênesis e o Apocalipse bíblicos, respectivamente. “O cânon foi estabelecido para unificar a fé cristã, delimitar o que
era dito a respeito de Deus e seu Filho e para reforçar seus dogmas. Aqueles textos que, segundo a Igreja, não têm autoria de um apóstolo (caso dos apócrifos) ou têm conteúdo divergente do texto bíblico, não podem ser considerados sagrados”, diz Jonas Lopes, doutor em Teologia e Ciências da Religião e pesquisador de textos apócrifos cristãos. Mesmo entre os cristãos, não há consenso sobre o cânon sagrado: a Bíblia católica tem sete livros a mais que a protestante, por exemplo. Os evangelhos
apócrifos e o Apocalipse de Pedro não são considerados sagrados por nenhuma igreja cristã, salvo as exceções em alguns dos casos abaixo. Bíblia alternativa
Alguns textos rechaçados por católicos e protestantes são sagrados para outras vertentes do cristianismoENOQUE I
SÓ É SAGRADO PARA Igreja Judaica de Beta Israel, Igreja Ortodoxa da Etiópia, Igreja Ortodoxa da Eritreia
O autor seria Enoque, bisavô de Noé. Conta a história dos vigilantes: anjos caídos que fecundam mulheres humanas e geram uma raça de gigantes devoradores
de homens. Esses gigantes, que seriam a causa do mal na Terra, não são mencionados na Bíblia
EVANGELHO DE FELIPE
Além de declarar que “Deus é um devorador de homens”, apresenta Maria Madalena como possível companheira de Jesus. É neste texto que se baseiam os que acreditam existir uma linhagem de descendentes de Cristo. Soa familiar? O apócrifo influenciou O Código Da Vinci
EVANGELHO DE JUDAS
Revelado em 2006, teria sido escrito por Judas Iscariotes, o odiado traidor de Jesus. Ao contrário do que contam os quatro evangelhos canônicos, Judas seria o discípulo mais fiel e próximo de Cristo. Segundo o relato, o mestre ordena ao seu favorito que o denuncie e guarde o segredo dos colegas
APOCALIPSE DE PEDRO
Descreve como seriam as punições no inferno e os prazeres do céu. Debaixo da terra, mulheres adúlteras são penduradas pelos cabelos, os pecadores ficam em um lago de sangue e restos mortais, os blasfemos são pendurados pela língua e os homossexuais ficam subindo e descendo morros. Obs.: Na Bíblia, a descrição sobre o Juízo Final não é tão pesada como no Apocalipse de São Pedro
Continua após a publicidade
EVANGELHO DA INFÂNCIA SEGUNDO TIAGO
Refere-se à vida dos pais e avós de Jesus, mas diverge intensamente do texto bíblico. Os pais de Maria são infelizes por não ter filhos, até que Joaquim jejua no deserto por 40 dias e 40 noites, recebe uma intervenção divina e então nasce Maria. A mãe de Jesus chega a ser recusada pelo noivo José, que só aceita levá-la para casa ao ser ameaçado de castigo
JUBILEUS
SÓ É SAGRADO PARA Igreja Ortodoxa da Etiópia
O livro divide em jubileus – períodos de 49 anos – a história do mundo desde a Criação até o profeta Moisés receber os Dez Mandamentos. Num dos relatos mais polêmicos, Caim, filho de Adão e Eva, se casa com a irmã, Avan – fato não registrado na Bíblia
Curiosidade: Livros descartados por autoridades religiosas também existem em religiões orientais. A Rigveda, do hinduísmo, é composta de 1.028 hinos e tem 11 apócrifos
CAMINHO SAGRADO
É difícil, mas um livro novo pode se tornar oficial para o catolicismo
Se novos textos de conteúdo cristão forem encontrados, é preciso que uma equipe de arqueólogos e pesquisadores ateste a legitimidade dos documentos. Isso aconteceu com os manuscritos do mar Morto, na década de 40. Porém, para ser incluído no cânon católico, o conteúdo teria de passar pelo crivo de uma comissão formada por autoridades da Igreja. Já para ser considerado sagrado, é preciso ter a autoria reconhecida de um dos apóstolos de Cristo
FONTES Os Evangelhos Apócrifos, de Joseph Carter; Apocrifos del Antiguo y del Nuevo Testamento (vários autores)
Continua após a publicidade
- apócrifos
- Bíblia
- evangelhos
- igreja
- Jesus
- Religião
O que são os evangelhos apócrifos?
Para um texto descoberto ser considerado sagrado é preciso ter a autoria reconhecida de um dos apóstolos de Cristo
Superinteressante pelo menor preço do ano!
Assinando um dos títulos Abril você também tem acesso aos conteúdos
digitais de todos os outros*
Ciência, história, tecnologia, saúde, cultura e o que mais for interessante, de um jeito que ninguém pensou.
*Acesso digital ilimitado aos sites e às edições das revistas digitais nos apps: Veja, Veja SP, Veja Rio, Veja Saúde, Claudia, Placar, Superinteressante, Quatro Rodas, Você SA e Você RH. **Pagamento único anual de R$52, equivalente à R$1 por semana.