O que é personalidade e qual a sua diferença com a identidade?

O que � Identidade cultural:
� o sentimento de identidade de um grupo ou cultura,ou de um indiv�duo,na medida em que ele � influenciado pela sua presen�a a um grupo ou cultura.

Exemplo de uso da palavra Identidade cultural:

A discuss�o sobre a identidade cultural acaba influenciada por quest�es sobre: lugar, g�nero, ra�a, hist�ria, nacionalidade, idioma, orienta��o sexual, cren�a religiosa e etnia.

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Personalidade: Substantivo

O que � Personalidade:
Define-se a personalidade como tudo aquilo que distingue um indiv�duo de outros indiv�duos, ou seja, o conjunto de caracter�sticas psicol�gicas que determinam a sua individualidade pessoal e social. [wikipedia]

Exemplo de uso da palavra Personalidade:

A forma��o da personalidade � processo gradual, complexo e �nico a cada indiv�duo. O termo deriva do grego persona, com significado de m�scara, designava a "personagem" representada pelos atores teatrais no palco. O termo � tamb�m sin�nimo de celebridade. Pode-se definir tamb�m personalidade por um conceito din�mico que descreve o crescimento e o desenvolvimento de todo sistema psicol�gico de um indiv�duo, outra defini��o seria: a organiza��o din�mica interna daqueles sistemas psicol�gicos do indiv�duo que determinam o seu ajuste individual ao ambiente. Mais claramente, pode-se dizer que � a soma total de como o indiv�duo interage e reage em rela��o aos demais.

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Sin�nimos de Identidade cultural:

Ant�nimos de Identidade cultural:

O que é personalidade e qual a sua diferença com a identidade?

        ISSN: 1516-4888

VOLUME 2 - N�MERO 1 - JUN./2000

IDENTIDADE: QUEST�ES CONCEITUAIS E CONTEXTUAIS

Carolina Laurenti* & Mari Nilza Ferrari de Barros**

A discuss�o de processos identit�rios abordando aspectos conceituais e contextuais implica, primeiramente, na concep��o da identidade, enquanto categoria de an�lise, como uma constru��o social, marcada por polissemias que devem ser entendidas circunscritas ao contexto que lhe conferem sentido. Neste artigo, procurou-se abordar a identidade associada � multiplicidade de sentidos e terminologias que atravessam a configura��o do termo ao longo da hist�ria e num mesmo per�odo hist�rico, expresso pela diversidade de �reas de conhecimento que se dedicam ao estudo do tema em quest�o. A partir disso, faz-se necess�rio um exerc�cio de re-significa��o da identidade, sendo �til para tal empreendimento considerar os princ�pios da dial�tica, apresentados n�o segundo Marx em Para Cr�tica da Economia Pol�tica (1978b) em seu m�todo de exposi��o, mas na forma de �leis�, como delineadas por Gadotti (1983), pois permite caracterizar a identidade enquanto uma processualidade hist�rica vinculada ao conjunto das rela��es que permeiam a vida cotidiana. As v�rias configura��es de identidade habitam reflex�es dos te�ricos da modernidade, como Giddens (1991) ou da p�s-modernidade como Santos (1999) e exigem a circunscri��o deste homem ao momento atual do mundo globalizado, marcado por um capitalismo desorganizado, a fim de explicitar as novas bases sobre as quais se articula o pessoal e o social na contemporaneidade.

O termo identidade sempre desperta interesse, tanto das pessoas comuns, representantes do universo consensual, quanto de cientistas sociais.

 In�meras quest�es est�o associadas � identidade. Historicamente, o termo empregado para significar o que hoje se entende por identidade foi personalidade, privilegiando n�o s� a perspectiva individualista, mas tamb�m uma vis�o em que os princ�pios da ci�ncia m�dica sustentavam toda proposta de compreens�o. Nesse contexto, os debates versavam sobre o �normal� e o �patol�gico�, o �natural� e o �inerente�.

A prioriza��o do ser biol�gico e individual sustentados por uma estrutura ps�quica,  invariante enquanto processo normativo, institui uma dicotomia entre o indiv�duo e o grupo, entre o homem e sociedade. O conceito de personalidade oferecia um conjunto de princ�pios que previamente classificavam os indiv�duos em categorias, confirmando uma concep��o de sujeito em que pese a diversidade dos ambientes sociais. Os comportamentos expressos pelos indiv�duos invariavelmente serviam para justificar as interpreta��es denominadas �cient�ficas�, restando pouco ou quase nada a fazer por parte daqueles que manifestavam tais condutas. Baseados no princ�pio de �normalidade� e estrutura ps�quica invariante, aplicado a todos indistintamente, os psic�logos mostravam-se despreocupados em investigar o comportamento dos homens. O comportamento, em si, configurava-se como recurso para alimentar os princ�pios constitutivos da personalidade normal ou patol�gica. A hist�ria social e singular do indiv�duo participava apenas como pano de fundo para a express�o dos comportamentos �sabidamente� conhecidos.

Dissonante dessa perspectiva, e preocupados em considerar o homem enquanto sujeito social, inserido num contexto s�cio-hist�rico, os psic�logos sociais adotaram o termo identidade.

De acordo com Ciampa (1984), � comum, em nosso cotidiano, a  seguinte pergunta: quem � voc� ? Tal questionamento invariavelmente remete � identidade.

 O emprego popular de tal termo apresenta-se marcado por uma intensa diversidade conceptual, sugerindo que a ostenta��o de um nome t�o definitivo, continua sujeito a in�meras varia��es (Jacques, 1998, p.159).

Essa imprecis�o conceptual n�o se restringe ao universo da vida cotidiana, mas reflete a dificuldade nos mais variados campos do conhecimento que t�m se dedicado a essa tem�tica, como a Antropologia, Filosofia, Sociologia e Psicologia.

�A import�ncia conferida ao estudo da identidade foi vari�vel ao longo da trajet�ria do conhecimento humano, acompanhando a relev�ncia atribu�da � individualidade e �s express�es do eu nos diferentes per�odos hist�ricos� (Jacques, 1998, p.159). H� momentos na hist�ria em que se verifica um maior interesse sobre a quest�o da identidade, como registrado na antig�idade cl�ssica, em que predominava uma valoriza��o da vida individual e do mundo interno. Em contrapartida, constata-se um decl�nio acentuado no feudalismo devido � influ�ncia da concep��o crist� de homem e do corporativismo feudal, fazendo com que historiadores  remetam  o aparecimento da individualidade aos s�culos XI, XII e XIII. Foi na �poca do movimento rom�ntico  que o egocentrismo e a introspec��o atingiram o seu apogeu, fornecendo condi��es para que se propagassem as produ��es te�ricas sobre a identidade, inclusive no �mbito psicol�gico.

Na vis�o psicol�gica, os estudos sobre identidade s�o tratados geralmente pela Psicologia Anal�tica do Eu e pela Psicologia Cognitiva (Jacques,1998), que em comum compartilham a no��o de desenvolvimento, marcado por est�gios crescentes de autonomia, entendendo a identidade como produto da socializa��o e garantida pela individualiza��o. Ainda segundo aquele autor, a quest�o da identidade em Psicologia Social ocupou lugar central nos estudos de William James , enquanto que, na tradi��o do Interacionismo Simb�lico, as refer�ncias concentram-se nos trabalhos de George Mead.

As dificuldades apontadas nesse percurso, que respondiam por uma excessiva �nfase, ora no individual, ora no social, s�o tamb�m encontradas na atualidade sob formas diferentes, embora na �ess�ncia� ainda carreguem o problema de origem, referente � demarca��o do territ�rio lim�trofe do social e do individual. Tal afirma��o pode ser ilustrada pelo uso de predicativos diversos para qualificar os diferentes sistemas identificat�rios que constituem a identidade:

Jurandir Freire Costa emprega a qualifica��o "identidade psicol�gica" para se referir a um predicado universal e gen�rico definidor por excel�ncia do humano em contraposi��o a apenas um atributo do eu ou de algum eu como � a identidade social,  �tnica ou religiosa, por exemplo. Habermas (1990) refere-se a �identidade do eu � que se constitui com base na  "identidade natural" e na "identidade de papel" a partir da integra��o dessas atrav�s da igualdade com os outros e da diferen�a em rela��o aos outros. Com base no pressuposto inter-relacional entre as inst�ncias individual e social, a express�o "identidade social" vem sendo empregada. (Neto,1985) buscando dar conta dessa articula��o. (Jacques, 1998, p.161).

Instala-se, ent�o, uma dicotomia em que �a identidade passa a ser qualificada como identidade pessoal (atributos espec�ficos do indiv�duo) e/ou identidade social (atributos que assinalam a perten�a a grupos ou categorias).� (Jacques,1998, p. 161).

Diante dessa diversidade de qualifica��es e predicativos atribu�dos � identidade, destaca-se o termo identidade social, uma vez que os elementos que o comp�em  parecem apontar, de forma mais evidente, as duas inst�ncias - individual e social - em jogo na discuss�o da problem�tica conceptual, que trata da origem individual ou coletiva da identidade. Com isso � poss�vel fazer algumas reflex�es sobre a concep��o de homem subjacente � interpreta��o do termo, a fim de superar a falsa dicotomia (individual e social), bem como mostrar que � na articula��o destas que � tecida a identidade.

Os termos identidade e social sugerem, respectivamente, um conceito que "explique por exemplo o sentimento pessoal e a consci�ncia da posse de um eu..." (Brand�o, 1990 p.37)  privilegiando, de um lado,o indiv�duo, e de outro lado, a coletividade, resultando numa configura��o na qual se capta o homem inserido na sociedade, bem como � din�mica das rela��es sociais. A import�ncia dessa rela��o pode ser melhor compreendida nessa cita��o de Marx (1978a, p.9) � A sociedade �,  pois, a plena unidade essencial do homem com a natureza, a verdadeira ressurrei��o da natureza, o naturalismo acabado do homem e o humanismo acabado da natureza�.

A cis�o encontrada nos textos de diferentes autores pode levar a um entendimento do homem como sendo dois; coexistindo independentemente e/ou  separadamente um "eu" e um homem que se relaciona com outros homens.

Pode-se dizer que a concep��o de homem que norteia tal rompimento vincula-se � id�ia de natureza humana, cujos pressupostos pregam que todas as potencialidades do indiv�duo j� nascem com ele, sendo  fun��o do ambiente social  promover condi��es para a manifesta��o dessas habilidades j�  pr�-determinadas. O contexto social ocupa, assim, um papel secund�rio, configurando-se apenas como o contato com outros homens. Isso se reflete, de acordo com Bock (1997) nas perspectivas naturalista, essencialista e maturacionista que colocam no indiv�duo a origem das fun��es ps�quicas encontradas no substrato biol�gico.

� necess�rio compreender qual vis�o de homem orienta o estudo dessa categoria de an�lise - a identidade social, por constituir-se numa lente que reger� todo o processo de pensamento e constru��o do conhecimento desse fen�meno psicol�gico.

A identidade � considerada uma categoria de an�lise, ou seja, constitui-se em um elemento que � utilizado como referencial para submeter um objeto a uma an�lise; um recurso te�rico que vai subsidiar a compreens�o de um dado fen�meno; media��o para a compreens�o de um determinado objeto.

Desprovidos da id�ia de natureza humana, e assumindo uma concep��o de homem como ser s�cio-hist�rico, as condi��es biol�gicas recebem um outro enfoque. De acordo com Bock (1997) estas condi��es s�o a sustenta��o de um desenvolvimento s�cio-hist�rico, o que � endossado nas palavras de S�ve:

Assim o homem se constitui, a partir de um suporte biol�gico que lhe d� condi��es gerais de possibilidades (pr�prias da esp�cie Homo Sapiens Sapiens) e condi��es particulares de realidade (pr�prias de sua carga gen�tica). No entanto, as caracter�sticas humanas historicamente desenvolvidas se encontram objetivadas na forma de rela��es sociais que cada indiv�duo encontra como dado existente, como formas hist�ricas de individualidade, e que s�o apropriadas no desenrolar de sua exist�ncia atrav�s da media��o do outro.(S�ve, apud Jacques, 1998,  p. 162)

Logo, a identidade n�o � inata e pode ser entendida como uma forma s�cio-hist�rica de individualidade. O contexto social fornece as condi��es para os mais variados modos e alternativas de identidade. O termo identidade pode, ent�o, ser utilizado para expressar, de certa forma, uma singularidade constru�da na rela��o com outros homens.

Os acontecimentos da vida de cada pessoa geram sobre ela a forma��o de uma lenta imagem de si mesma, uma viva imagem que aos poucos se constr�i ao longo de experi�ncias de trocas com outros: a m�e, os pais, a fam�lia, a parentela, os amigos de inf�ncia e as sucessivas amplia��es de outros c�rculos de outros: outros sujeitos investidos de seus sentimentos, outras pessoas investidas de seus nomes, posi��es e regras sociais de atua��o (Brand�o, 1990, p. 37).

� importante, segundo Jacques (1998),  n�o limitar o conceito de identidade ao de autoconsci�ncia ou auto-imagem. A identidade � o ponto de refer�ncia, a partir do qual surge o conceito de si e a imagem de si, de car�ter mais restrito. Seria mais sensato dizer que essa singularidade, o reconhecimento pessoal dessa exclusividade, n�o � constru�da, mas vai sendo constru�da, a fim de abandonar a no��o de imutabilidade. A identidade n�o se apresenta sob a forma de uma entidade que rege o comportamento das pessoas, mas � o pr�prio comportamento, � a��o, � verbo.

A identidade constitui-se de uma multiplicidade de pap�is. Na execu��o de um papel social, como o de pai, por exemplo, est� "introjetado" neste pai a dimens�o social em sua totalidade, desde a forma��o da palavra pai e sua suposta fun��o, bem como a dimens�o individual, que por sua vez se constitui no social.

N�o h� uma separa��o, mas sim uma articula��o, em que os limites, se � que realmente existem, entre o social e o individual se confundem. Para existir um, s�o necess�rios dois, n�o apenas do ponto de vista da concep��o, da gen�tica, da sobreviv�ncia, mas sobretudo em se tratando do homem ser reconhecido como tal; o homem s� se v� como homem se os outros assim o reconhecerem. Sob essa perspectiva, � poss�vel conceber a identidade pessoal como, e ao mesmo tempo, social, superando a falsa dicotomia entre essas duas inst�ncias.

Para que a quest�o da identidade seja melhor esclarecida, torna-se necess�rio partir da an�lise de algumas especificidades que a constituem. Ciampa (1984)  h� muito tem se dedicado ao estudo da identidade, norteado por uma concep��o s�cio-hist�rica de homem. Para ele, a compreens�o da identidade exige que se tome como ponto de partida a representa��o de identidade como um produto, para ent�o analisar seu pr�prio processo de constru��o. Por exemplo, a resposta � pergunta �quem sou eu ?� seria insatisfat�ria para a configura��o de uma concep��o sobre identidade, uma vez que capta somente o aspecto representacional da no��o de identidade (enquanto produto), deixando de lado seus aspectos constitutivos de produ��o.

Contrapondo-se � id�ia de natureza humana, Marx (1978b) em �Para a Cr�tica da Economia Pol�tica� busca compreender os �indiv�duos produzindo em sociedade, portanto a produ��o dos indiv�duos determinada socialmente, � por certo o ponto de partida� (p.103). Todo esfor�o em compreender o homem, recorrendo � Hist�ria, s� tende a confirmar a depend�ncia deste ao conjunto das rela��es nas quais est� envolvido. Por isso, a afirma��o de Marx (1978b) �O homem � no sentido mais literal, um zoon politikon, n�o s� animal social, mas animal que s� pode isolar-se em sociedade�. (p.104).

A totalidade da realidade social � um princ�pio fundamental para captar o movimento do homem no mundo. Assim, quando se fala de produ��o humana deve-se situ�-la como �[...] apropria��o da natureza pelo indiv�duo, no interior e por meio de uma determinada sociedade� (Marx, 1978b, p.106).Uma totalidade, portanto, que se materializa num tempo hist�rico social, totalidade concreta.Quando trata do processo de produ��o, Marx demonstra como o princ�pio da totalidade se expressa:

O consumo cria o impulso da produ��o; cria tamb�m o objeto que atua na produ��o como determinante da finalidade...o consumo p�e idealmente o objeto da produ��o, como imagem interior, como necessidade, como impulso e como fim. Sem necessidade n�o h� produ��o. Mas o consumo reproduz a necessidade� (Marx, 1978b, p. 110).

Momentos diferentes de um �nico processo, as etapas que configuram o modo de produ��o � que �n�o � que a produ��o, a distribui��o, o interc�mbio, o consumo s�o id�nticos, mas que todos s�o elementos de uma totalidade, diferen�as dentro de uma unidade� (Marx, 1978b, p. 115).

O significado de uma totalidade concreta � buscado pelo m�todo cient�fico, em que �o concreto � concreto porque � a s�ntese de muitas determina��es, isto �, unidade do diverso� (Marx,1978b, p. 116).

Essa diversidade para ser captada e compreendida necessita percorrer um trajeto, cujo in�cio est� na concep��o de hist�ria.

A transforma��o � resultado da a��o do homem e do mundo natural sobre os objetos. Ao produzir, o homem consome parte de suas for�as vitais, bem como consome os meios empregados para a produ��o de um determinado produto.

O homem, no entanto, n�o � apenas ser natural, mas ser natural humano, isto � , um ser que � para si pr�prio e, por isso, ser gen�rico, que enquanto tal deve atuar e conformar-se tanto em seu ser como em seu saber... nem objetiva nem subjetivamente est� a natureza imediatamente presente ao ser humano de modo adequado. E como tudo o que � natural deve nascer, assim tamb�m o homem possui seu ato de nascimento: a hist�ria, que, no entanto, � para ele uma hist�ria consciente, e que, portanto, como ato de nascimento acompanhado de consci�ncia � ato de nascimento que se  supera. A hist�ria � a verdadeira hist�ria natural do homem . (Marx, 1978a, p.41 - grifos do autor)

Embora o m�todo dial�tico, na concep��o de Marx (1978b), n�o apresente leis, tais como as expostas por Gadotti (1983), e procure enfatizar a diferen�a entre m�todo de exposi��o e m�todo de pesquisa, � importante assinalar que sua exposi��o persegue a lei da transforma��o, buscando �[... o nascimento, a exist�ncia, o desenvolvimento, a morte de determinado organismo social, e sua substitui��o por outro de mais alto n�vel]�.(p.16).

Para melhor compreender a identidade enquanto processo, cujo movimento � o aspecto central, recorrer-se-� �s �leis� da dial�tica apresentadas por Gadotti (1983). Isso consiste mais num esfor�o did�tico que auxilia na compreens�o da subjetividade enquanto totalidade que expressa a diversidade, s�ntese de m�ltiplas determina��es.

O processo de constru��o da identidade, bem como seus elementos constituintes, tem um car�ter dial�tico, e dentro dessa perspectiva � interessante destacar os princ�pios ou �leis� da dial�tica, para um melhor entendimento da no��o de identidade, n�o s� em seu aspecto representacional mas tamb�m operativo.

De acordo com Gadotti (1983), as quatro "leis" da dial�tica compreendem:

1)   tudo se relaciona;

2)    tudo se transforma;

3)    mudan�a qualitativa;

4)    unidade e luta dos contr�rios.

1) Tudo se relaciona (princ�pio da totalidade)

Segundo a dial�tica,  a natureza � um todo coerente constitu�do por objetos e fen�menos,  que est�o ligados entre si, relacionando-se de forma rec�proca.

A compreens�o dial�tica da totalidade significa n�o s� que as partes se encontram em rela��o de interna intera��o e conex�o entre si e com o todo, mas tamb�m que o todo n�o pode ser petrificado na abstra��o situada por cima das partes, visto que o todo se cria a si mesmo na intera��o das partes. �A parte materializa o todo mas o todo n�o � a soma das partes, nem � a parte o todo. Busca-se entender os fen�menos e os objetos dentro de uma totalidade concreta pois �Nada � isolado. Isolar um fato, fen�meno e depois conserv�-lo pelo entendimento neste isolamento, � priv�-lo de sentido, de explica��o, de conte�do. � imobiliz�-lo artificialmente, mat�-lo. � transformar a natureza � atrav�s do entendimento metaf�sico � num ac�mulo de objetos exteriores uns aos outros, num caos de fen�menos. (Henri Lef�bvre, apud Gadotti, 1983, p. 25) .

A identidade � totalidade, e uma de suas caracter�sticas � a multiplicidade. Os pap�is sociais s�o impostos ao indiv�duo, desde o seu nascimento e assumidos pelo mesmo na medida em que se comporta de acordo com a expectativa da sociedade. Por exemplo: na presen�a do filho, o homem se relaciona como pai; na presen�a de seu pai, comporta-se como filho. Se for tamb�m professor do filho, o pai ser� pai/professor e aquele ser� filho/aluno. O papel de pai, bem como o de filho, materializa a identidade como totalidade/parcialidade, pois sendo express�o de uma parte, n�o revela a identidade por inteiro. A cada personagem materializado, a identidade tem assegurada sua manifesta��o enquanto totalidade, mas uma totalidade que n�o se esgota nem tampouco se resume a concretiza��o de personagens. As personagens s�o partes constitutivas da identidade e, ao mesmo tempo, configura-se como um todo que se cria a si mesmo, enquanto fen�meno de uma totalidade concreta. A identidade � ainda um universo de personagens  j� existentes e de outros ainda poss�veis.

Desta forma, na rela��o com outros homens, o indiv�duo n�o comparece apenas como portador de um �nico papel, pois diversas combina��es configuram uma identidade como totalidade. Uma totalidade contradit�ria, m�ltipla e mut�vel, no entanto una. Ao se apresentar frente a uma determinada pessoa,  comporta-se de uma dada maneira, neste momento as �outras identidades� pressupostas est�o ocultadas.

A identidade � vista como totalidade n�o apenas no sentido da multiplicidade dos personagens, mas tamb�m no que se refere ao conjunto de elementos biol�gicos, psicol�gicos e sociais que a constitui .

N�o podemos isolar de um lado todo um conjunto de elementos � biol�gicos, psicol�gicos, sociais, etc. � que podem caracterizar um indiv�duo, identificando-o, e de outro lado a representa��o desse indiv�duo como uma duplica��o mental ou simb�lica, que expressaria a sua identidade. Isso porque h� como uma interpenetra��o desses dois aspectos, de tal forma que a individualidade dada j� pressup�e um processo anterior de representa��o que faz parte da constitui��o do indiv�duo representado. (Ciampa, 1984, p. 65).

 2) Tudo se transforma  (princ�pio do movimento)

Para a dial�tica o movimento � uma caracter�stica inerente a todas as coisas e estas necessitam ser consideradas em seu devir. A natureza e a sociedade n�o s�o vistas como algo pronto e acabado, mas como elementos que est�o em constante transforma��o. E a causa dessa transforma��o � a luta interna, a luta entre os elementos contradit�rios que coexistem numa totalidade estruturada. � a lei da nega��o da nega��o, como aponta  Konder (apud Gadotti, 1983, p. 25).  Essa �lei�

...d� conta do fato de que o movimento geral da realidade faz sentido, quer dizer, n�o � absurdo, n�o se esgota em contradi��es irracionais, inintelig�veis, nem sempre se perde na eterna repeti��o do conflito entre teses e ant�teses, entre afirma��es e nega��es. A afirma��o engendra necessariamente a sua nega��o, por�m, a nega��o n�o prevalece como tal: tanto a afirma��o como a nega��o s�o superadas e o que acaba por prevalecer � uma s�ntese, � a nega��o da nega��o.

Assim como foi dito que o movimento � uma caracter�stica inerente a todas as coisas, a identidade a� se inclui. �Identidade � movimento, � desenvolvimento do concreto... � metamorfose.� (Ciampa, 1987 p. 74). Logo, ao inv�s de se perguntar como a identidade � constru�da, seria mais sensato questionar como vai sendo constru�da.  Seria mais correto abord�-la enquanto processo de identifica��o, e n�o apenas enquanto produto.

O autor citado parte do princ�pio de que o ser humano � mat�ria, e como mat�ria est� em constante transforma��o. � essa materialidade que permite ao homem expressar a condi��o da plasticidade, entendida como capacidade de projetar mundos, ou seja, o devir da identidade na forma de personagens poss�veis (sonhos, projetos, esperan�as). Em fun��o dessa plasticidade, o homem pode negar o seu passado no futuro mediante condi��es objetivamente dadas. O indiv�duo pode negar aquilo que lhe negam (lei da nega��o da nega��o), criando condi��es objetivas para  se transformar. Isso se d� mediante exerc�cio de reflex�o, � como diz  Lane:

Apenas quando confrontamos as nossas representa��es sociais com as nossas experi�ncias e a��es, e com as de outros do nosso grupo social, � que seremos capazes de perceber o que � ideol�gico em nossas representa��es e a��es conseq�entes, ou seja, pensar a realidade e os significados atribu�dos a ela, questionando-os de forma a desenvolver a��es diferenciadas, isto �, novas formas de agir, que por sua vez ser�o objeto do nosso pensar, � que nos permitir� desenvolver a consci�ncia de n�s mesmos, de nosso grupo social e de nossa classe como produtos hist�ricos de nossa sociedade, e tamb�m cabendo a n�s � agentes de nossa hist�ria pessoal e social � decidir se mantemos ou transformamos a nossa sociedade (Lane, 1983, p. 36-37).

� no nascimento que a plasticidade, ou possibilidades, apresentam-se em sua plenitude, pois ao nascer, a crian�a encontra um mundo j� constitu�do e sobre ela lan�am-se as expectativas da sociedade. O homem, enquanto ser ativo, apropria-se da realidade social, atribuindo um sentido pessoal �s significa��es sociais. Dadas as condi��es objetivas, as expectativas da sociedade, bem como as expectativas internalizadas pelo pr�prio homem, a identidade vai sendo constru�da num constante processo de vir a ser. Um pequeno trecho da obra de Ciampa (1987), em que o autor utiliza-se da hist�ria de Severino - personagem ficcional do poema de Jo�o Cabral de Mello Neto � �Morte e Vida Severina� � destacada a cena de um nascimento:

Ser� este rec�m-nascido t�o diferente dos Severinos homog�neos e hom�nimos que vimos encerrados na sua mesmice? Na verdade, � um ser do mesmo g�nero que, inclusive, tamb�m pode vir a ser mais um Severino, como possibilidade � n�o como necessidade. O que caracteriza � a plasticidade; define-se pelo vir-a-ser�. Isso revela a vida ... � o humano � vir-a-ser humano � identidade humana � vida! (Ciampa, 1987, p.36).

Neste fragmento fica caracterizado o mundo simb�lico, marca do homem. � essa subjetividade constitu�da por um universo de significados que transforma o "ser" em humano. O homem n�o cria apenas o mundo; cria sentido para o mundo em que vive. Tra�a caminhos,  muda sua rota, altera sua "pr�-destina��o" pelas a��es que realiza junto com outros homens. Por isso, deve ser visto como "se fazendo" e n�o "feito" e "acabado".

3) Mudan�a qualitativa (princ�pio da mudan�a qualitativa)

Esse princ�pio revela que a �transforma��o das coisas n�o se realiza num processo circular de eterna repeti��o, uma repeti��o do velho. Como � gerado o novo ? Esta mudan�a qualitativa se d� pelo ac�mulo de elementos quantitativos que num dado momento produzem qualitativamente o novo.� (Gadotti, 1983 p. 26).

Como j� salientado anteriormente, n�o basta apenas o aspecto representacional, mas  deve-se considerar tamb�m o aspecto operativo da identidade. �O nascituro, uma vez nascido, constituir-se-� como filho na medida em que as rela��es nas quais esteja envolvido concretamente confirmem essa representa��o atrav�s de comportamentos que reforcem sua conduta como filho e assim por diante� (Ciampa, 1984, p. 66). Logo, n�o � suficiente  uma representa��o pr�via, essa identidade pressuposta, para ser mantida tem que ser "re-posta" a cada momento, mostrando seu car�ter din�mico. Contudo, a identidade sendo metamorfose aparece como n�o metamorfose, pelo trabalho de "re-posi��o".

Esse processo de re-posi��o muitas vezes confunde a quest�o do �movimento� da identidade. A re-posi��o � vista como algo dado e n�o como um se dando, num cont�nuo processo de identifica��o, devido ao fato de que as diferen�as, a cada re-posi��o muitas vezes s�o pouco percept�veis. A personagem pode ser a mesma: aluno, mas n�o o mesmo aluno. Como a sucess�o � r�pida, �s vezes as mudan�as n�o s�o reconhecidas. Mudan�as pequenas d�o a impress�o de n�o-movimento, necessitam de um ac�mulo de quantidade para que a percep��o capte as transforma��es ocorridas. A cada dia, novos acontecimentos e significados s�o acrescidos � vida cotidiana, tornando o homem e o mundo "qualitativamente" diferentes. Quando a mudan�a � mais vis�vel, diz-se que esta ocorreu �de repente�, mas na verdade n�o existe �de repente�,  e sim um ac�mulo de elementos at� o momento em que algo se torna  distinto na forma como era percebido. A identidade � uma sucess�o temporal com mudan�as muito pequenas. Na rela��o do indiv�duo com outros homens �as identidades� v�o sendo re-postas e cada re-posi��o n�o � a mesma, as condi��es objetivas s�o outras, outros significados v�o sendo dados e internalizados mesmo que impercept�veis, pois como mat�ria estamos em constante transforma��o. Esta plasticidade permite ao homem a constru��o da sua singularidade, da sua identidade e de seu vir-a-ser.

4) Unidade e luta dos contr�rios  (princ�pio da contradi��o)

Essa �lei� prop�e que o movimento das coisas e suas transforma��es se d�o porque no interior destas coexistem for�as opostas  que tendem simultaneamente � unidade e � oposi��o. Essa contradi��o,  de car�ter universal, � inerente a todas as coisas materiais e espirituais.

A identidade � constru�da por elementos opostos, ela � diferen�a e igualdade; objetividade e subjetividade, oculta��o e revela��o, humaniza��o e desumaniza��o, mesmice e mesmidade, e, para compreend�-la, � necess�rio articular essas dimens�es aparentemente contradit�rias a fim de superar a dicotomia individual/social que constitui a problem�tica da identidade desde a origem do termo.

Identidade � ao mesmo tempo diferen�a e igualdade . De acordo com Jacques (1998), a palavra identidade evoca tanto a qualidade do que � id�ntico, igual, como a no��o de um conjunto de caracteres que fazem reconhecer um indiv�duo como diferente dos demais. Assim, a identidade implica tanto no reconhecimento de que um indiv�duo � o pr�prio de quem se trata, como tamb�m pertence a um todo, confundindo-se com outros, seus iguais. Para subsidiar tal afirma��o, � interessante retomar a hist�ria de Severino, este personagem que na busca de sua singularidade (diferen�a), acentuava cada vez mais sua igualdade. Severino, tentando dizer quem �, recorre a um substantivo (palavra que nomeia o ser) para indicar sua identidade, por�m n�o � suficiente para que a sua identidade seja reconhecida. Em uma segunda tentativa, recorre a outros substantivos pr�prios como nome da m�e, do pai, definindo com isso a sua posi��o social � fam�lia determinada; procura ent�o uma regi�o geogr�fica, depois, acrescenta a descri��o de seu corpo f�sico, mas nada o singularizava, at� a morte e a vida eram iguais... na busca da diferen�a encontrava igualdade.

Para muitos, a identidade se confunde com o nome e, nele est�o a diferen�a (pr�-nome) e igualdade (sobrenome). O processo de identifica��o come�a no grupo social. O primeiro grupo social � a fam�lia na qual as duas dimens�es da identidade come�am a se constituir � igualdade (sobrenome) e diferen�a (pr�-nome).

O nome n�o � a identidade; enquanto substantivo n�o revela a identidade, mas apenas parte dela. O substantivo � algo que nomeia o ser, e para isso � necess�rio uma atividade: o nomear. Logo, a identidade n�o � substantivo, � verbo;  identidade � atividade (Ciampa, 1984).

A igualdade � expressa na hist�ria social compartilhada pela fam�lia, grupo social, localiza��o geogr�fica, condi��es econ�micas, culturais.... A diferen�a pode ser entendida como a constitui��o da singularidade, a transforma��o da significa��o social em sentido pessoal; e isso se d� pela atividade, atrav�s da concretiza��o de personagens. � nesse processo de externaliza��o (atividade humana) que a sociedade chega a se constituir como produto humano.

A singularidade (diferen�a) est� na nega��o da nega��o, ou a nega��o de algo que nos � negado. A identidade singular � tecida na identidade social. Um momento da nega��o se expressa quando um indiv�duo conquista seu reconhecimento, passando do indefinido e gen�rico, para o definido e singular. Distingue-se dos demais com quem compartilha o mundo social. As  caracter�sticas peculiares, que dizem respeito � maneira de cada um se relacionar com os outros, foram aprendidas nas rela��es grupais. A hist�ria de vida do indiv�duo � determinada pelas condi��es hist�ricas do grupo social no qual est� inserido. Os pap�is sociais que o homem  aprende a desempenhar foram definidos pela sociedade, e de acordo com Lane (1983), foram engendrados visando garantir a manuten��o das rela��es sociais, para que as rela��es de produ��o da vida se reproduzam sem grandes altera��es na sociedade em que o homem vive. H� casos em que a identidade singular est� t�o colada � identidade social que se confunde com aquela. H� uma reprodu��o da ideologia dominante do  conjunto de seus significados ao n�vel individual. Por�m, ao refletir sobre as contradi��es entre as representa��es e suas atividades desempenhadas na produ��o da vida material, o homem faz com que as a��es subsequentes resultem num avan�o no processo de conscientiza��o. Para Lane (1983), apenas quando o ser humano for capaz de encontrar as raz�es hist�ricas da sociedade e do grupo social, que explicam porque o homem age desta forma e como o faz, � que ele estar� desenvolvendo a consci�ncia de si mesmo. A diferen�a � essencial para a tomada de consci�ncia de si e � inerente � pr�pria condi��o da vida social, pois a diferen�a s� aparece tomando como refer�ncia o outro. �N�o � a consci�ncia dos homens que determina o seu ser, mas o contr�rio, � o seu ser social que determina sua consci�ncia.� (Marx & Engels ,1979 p.37).

Lane (1983) ressalta ainda que a consci�ncia de si poder� alterar a identidade social, na medida em que dentro dos grupos que definem o homem, este questione os pap�is quanto as suas  fun��es hist�ricas, ao mesmo tempo em que os membros se identifiquem entre si quanto a esta determina��o e constatem as rela��es de domina��o que reproduzem uns sobre os outros. Somente desta maneira � que o grupo poder� se tornar agente de mudan�as sociais. Segundo Berger (1971), enquanto esse questionamento, por assim dizer, se limitar � consci�ncia individual e n�o for admitido por outros, ao menos como possibilidade emp�rica, ter� apenas uma exist�ncia �fantasmag�rica�.

O fen�meno da consci�ncia �, ao mesmo tempo, extremamente subjetivo, porque est� muito carregado pela presen�a efetiva do eu individual, e extremamente objetivo, porque se esfor�a por considerar objetivamente n�o s� o ambiente exterior (o mundo), mas tamb�m o eu subjectivo.(...) o eu  considera-se simultaneamente como sujeito e como objecto de conhecimento e considera o ambiente objectivo implicando neste a sua pr�pria exist�ncia subjectiva�. (Morin, 1973, p.132).

Neste processo de externaliza��o, o homem constr�i seu mundo e ao mesmo tempo constr�i a si mesmo e essa atividade construtora de mundos dos homens � o trabalho, trabalho enquanto atividade consciente do homem.

A atividade sempre est� vinculada � consci�ncia. E � mediante esse exerc�cio de reflex�o que o homem pode criar condi��es objetivas e superar as situa��es do cotidiano, concretizando outras personagens. Nessa concretiza��o, a atividade � que configura a singularidade. O homem na sua atividade se distingue das outras esp�cies animais, j� que sua atividade � consciente e sua produ��o n�o � determinada unicamente por suas necessidades imediatas.

(...) � certo afirmar que tamb�m o animal produz (...) Por�m produz unicamente o que necessita de imediato para si ou para sua prole; produz unilateralmente, enquanto que o homem produz universalmente. O animal produz unicamente por mandato da necessidade f�sica imediata, enquanto que o homem produz inclusive livre da  necessidade f�sica e s� produz realmente liberado dela; o animal produz apenas a si mesmo, enquanto que o homem reproduz a natureza inteira; o produto do animal pertence imediatamente com seu corpo f�sico, enquanto que o homem se defronta livremente com seu produto. O animal produz unicamente segundo a necessidade e a medida da esp�cie a que pertence, enquanto que o homem sabe produzir segundo a medida de qualquer esp�cie e sempre sabe impor ao objeto a medida que lhe � inerente, por isso o homem cria segundo as leis da beleza . (Marx, 1983, p.112).

De acordo com Marx (1978a), a base da sociedade, assim como a caracter�stica fundamental do homem est� no trabalho, atividade pela qual o homem domina as for�as naturais, humaniza a natureza, e ao mesmo tempo cria a si mesmo. A respeito da rela��o homem-natureza, Marx afirma que o homem faz parte da natureza mas n�o se confunde com ela. O homem � um ser natural, no sentido de que foi criado pela pr�pria natureza, submete-se �s leis que s�o naturais e depende desta natureza para sobreviver. Mas ao mesmo tempo, o homem n�o se confunde com a natureza, pois a transforma de modo consciente segundo suas necessidades e, nesse processo, se faz homem. � nesta rela��o que o homem se constr�i e transforma a si mesmo e a pr�pria natureza. Marx ressalta ainda que o homem s� � capaz de transformar a natureza e a si mesmo porque se reconhece e reconhece o outro nesse processo. A natureza humanizada n�o �, portanto, constru�da atrav�s de id�ias ou resultado de uma abstra��o, mas atividade pr�tica e consciente: a natureza humanizada � trabalho.

O que o indiv�duo concretiza, vive, aquilo que tem sido e vivido corresponde � objetividade da identidade. A subjetividade da identidade est� no "vir-a-ser" na forma de personagens poss�veis, est� na plasticidade. O homem pode projetar um "vir-a-ser" baseado nas experi�ncias passadas, se de alguma forma, o sentido dessas pretende preservar,  e nesse processo procura criar condi��es objetivas que garantam a possibilidade de recriar no futuro, essas experi�ncias; caso contr�rio pode criar novas condi��es para sua nega��o, conquistando assim, a supera��o. A supera��o pressup�e a concretiza��o, isto �, s� se pode superar aquilo que j� foi concretizado, externalizado e, como foi dito, isso se d� pela atividade mediante  o exerc�cio de reflex�o.

A identidade tamb�m � oculta��o e revela��o. A revela��o � condi��o para a oculta��o. Perante determinadas condi��es objetivas � revelada a uma dada pessoa uma personagem e ocultadas outras.

A identidade � tamb�m desumaniza��o no sentido da impossibilidade de novas concretiza��es. O indiv�duo desenvolve atividades que o negam como ser humano ou � for�ado a repor personagens reproduzindo as condi��es que o desumaniza. Nesse movimento, o homem n�o se reconhece no produto de sua atividade, e isto se d�, segundo Marx (1983), pois o homem se relaciona com o produto de seu trabalho como um objeto alienado, �[...] a apropria��o do objeto aparece como aliena��o a tal ponto que quanto mais objetos o trabalhador produz tanto menos pode possuir e tanto mais fica dominado pelo seu produto, o capital� (Marx, 1983, p. 91). O homem ao transformar a natureza transforma a si mesmo e nesta rela��o, produz-se como homem alienado, produzindo as condi��es de sua pr�pria escraviza��o:

Quanto mais o trabalhador produz, tanto menos tem pra consumir; quanto mais valor ele cria, tanto menos valioso se torna; quanto mais aperfei�oado o seu produto, tanto mais grosseiro e informe o trabalhador; quanto mais civilizado o produto, t�o mais b�rbaro o trabalhador; quanto mais poderoso o trabalho, t�o mais fr�gil o trabalhador; quanto mais intelig�ncia revela o trabalho, tanto mais o trabalhador decai em intelig�ncia e se torna um escravo da natureza. (Marx, 1983, p. 92).

Neste sentido, o indiv�duo reproduz a ideologia dominante, mantendo as condi��es sociais, ou seja, n�o transforma nem as rela��es sociais, nem a ele mesmo. Enquanto humaniza��o, o homem  insere-se e define-se no conjunto de suas rela��es sociais, desempenhando atividades transformadoras destas rela��es, o trabalho apresenta-se como �[...] atividade vital, vida produtiva� (Marx,1983  p. 95) e n�o �...apenas como meios para a satisfa��o de uma necessidade, a de manter sua exist�ncia f�sica� (Marx,1983, p. 95).

Nessa articula��o entre atividade e consci�ncia define-se a mesmidade (Ciampa, 1987). Este elemento caracteriza tamb�m a identidade enquanto movimento e  plasticidade, pois  se d� pelo ato de refletir o que temos sido e podemos ser. Trata-se de uma postura do homem em dispor-se a saber mais, de refletir o conhecimento, recusando-se a reconhec�-lo como realidade absoluta. Em contrapartida, se d� a mesmice  que pode ser descrita como simples re-posi��o de pap�is, sem a media��o da reflex�o.

Dentro dessa perspectiva � conveniente ressaltar que a identidade � um fen�meno social, logo n�o � poss�vel dissociar o estudo da identidade singular, do estudo da sociedade. � do contexto hist�rico e social em que o homem vive que decorrem suas determina��es e, consequentemente, emergem as possibilidades ou impossibilidades, os modos e as alternativas de identidade.

�Somos personagens de uma hist�ria que n�s mesmos criamos, fazendo-nos autores e personagens ao mesmo tempo�. Esta frase de Ciampa (1987) pode ser comparada a citada por Berger (1971): o homem � produto da sociedade, a sociedade � produto do homem.

A personagem se refere � identidade emp�rica que � a forma pela qual a identidade se expressa no mundo. Implica sempre na presen�a de um ator desempenhando um papel social. A personagem ao mesmo tempo se confunde e se diferencia do papel, isto porque o homem n�o �absorve� passivamente o mundo social (com suas institui��es, pap�is, e identidades apropriadas), mas apropria-se dele de maneira ativa � somos tamb�m autores da nossa hist�ria ; a sociedade � produto do homem. O mundo objetivo � apreendido com plena significa��o subjetiva, atribuindo-lhes sentidos � realidade objetiva. � no desenvolvimento de atividades que o homem vai construindo sua hist�ria. A personagem est� sempre relacionada a um papel social, e este representa uma identidade coletiva, abstrata e gen�rica; associada, constru�da e mediada pelas rela��es sociais. Nesse sentido, os homens s�o ao mesmo tempo  autores e co-autores, pois precisam do outro para  se concretizar. A reposi��o de personagens s� � poss�vel porque o outro oferece condi��es para isso. O outro � condi��o fundamental de express�o da  identidade enquanto singularidade. � diante do outro que o homem pode negar aquilo que lhe negam. O homem tem que reconhecer a si mesmo e o outro no processo de constru��o da identidade, �[...] quando o homem se defronta consigo mesmo, tamb�m est� se defrontando com outros homens� (Marx, 1983,  p. 97 � grifo do autor).

A quest�o da identidade � complexa, uma vez que � m�ltipla, din�mica, num constante devir. � uma intrincada rede de representa��es, em que cada personagem  reflete tantos outros, todos constitutivos da identidade, ou melhor dizendo, instituintes de um processo identit�rio, desaparecendo, assim,  qualquer possibilidade de se estabelecer um fundamento origin�rio para cada uma delas. O mesmo ocorre com a quest�o da rela��o homem-sociedade cuja complexidade � expressa por Allport (apud Ciampa, 1993, p.3) no seguinte questionamento:

Como pode sua natureza (do indiv�duo) depender indubitavelmente da pr�via exist�ncia de padr�es culturais e de seus pap�is numa estrutura social pr�-determinada, enquanto que ao mesmo tempo ele � claramente uma pessoa �nica, selecionando e rejeitando influ�ncias de seu meio cultural e, por outro lado, criando novas formas culturais para orientar as futuras gera��es ? E ainda mesmo enquanto essa intera��o entre o individual e o social est� em evolu��o, o homem tamb�m �, certamente, um ser biol�gico, sujeito �s leis de sua esp�cie .

A exposi��o feita at� aqui pretendeu demarcar o espa�o e as m�ltiplas facetas que envolvem a tem�tica de identidade, al�m de explicitar a import�ncia do adjetivo social que segue o substantivo identidade.

QUEST�ES CONTEXTUAIS

A complexidade desse tema tem sido respons�vel por discuss�es extensas e muitas vezes est�reis em raz�o de princ�pios e conceitos divergentes envolvidos. A fase denominada de capitalismo desorganizado (Santos, 1999), para circunscrever o momento atual do mundo globalizado, responde por novas configura��es do homem, expondo perspectivas que devem ser objeto de investiga��o dos cientistas sociais. In�meras s�o as quest�es que se colocam hoje. Marcado por press�es de um mundo cada vez mais complexo e desorganizado, a natureza dos problemas humanos se redimensiona, obrigando  todos a um investimento pessoal, por vezes demasiado pesado. Perdido e premido por exig�ncias do mundo, onde a divis�o entre p�blico e privado manifesta-se com doses generosas de ambig�idade, a identidade do homem transforma-se rapidamente, sem que a ci�ncia e o universo consensual possam dar conta dessas mudan�as. O conhecimento cient�fico retrata uma provisoriedade sem precedentes, em que pese todas as revolu��es cient�ficas e tecnol�gicas desse final de mil�nio.

A pergunta que se coloca agora �: Quem � o homem da contemporaneidade? O que faz esse homem? Como dar conta desse fen�meno psicol�gico? Qualquer tentativa de esgotar esses temas seria pretensiosa e fr�gil, posto que teria que lidar com uma plasticidade ainda n�o totalmente conhecida. A impessoalidade tal como discute Sennett (1988), transformou-se num risco que poucos est�o dispostos a correr. A apologia da intimidade cristaliza os mundos p�blico e privado, tornando-os imperme�veis.

Identificar-se com pessoas que n�o se conhece, pessoas estranhas, mas que podemos compartilhar dos interesses �tnicos, dos problemas familiares, ou da religi�o, tornou-se algo penoso... Quanto mais local a imagina��o, maior se torna o n�mero de interesses e problemas sociais, para os quais a l�gica psicol�gica �: n�o nos deixaremos envolver; n�o permitiremos que isso nos violente. N�o se trata de indiferen�a: � uma recusa, uma constri��o volunt�ria de experi�ncias que o eu comum pode se permitir. (Sennett, 1988, p. 378).

Sennett (1988) denuncia uma realidade ao revelar a preocupa��o com situa��es que circunscrevem a vida cotidiana. Censura o comportamento dos homens preocupados em investir em si mesmos, estabelecendo v�nculos transit�rios e fr�geis com aqueles com quem compartilham a vida social.

Da mesma maneira, Santos (1999) entende que no mundo globalizado observa-se um capitalismo desorganizado, no qual o homem est� obcecado pela diferen�a procurando por distin��o. Na modernidade, entende que h� duas linhas de constru��o da subjetividade que merecem destaque especial: a tens�o entre subjetividade individual e coletiva de um lado, e a subjetividade contextual e universal de outro. �Na tens�o entre subjetividade individual e subjetividade coletiva, a prioridade � dada � subjetividade individual, na tens�o entre subjetividade contextual e subjetividade abstrata, a prioridade � dada � subjetividade abstrata� (Santos, 1999, p.137).

A complexidade origin�ria do mundo capitalista trouxe, como conseq��ncia, problemas para a identidade. A busca por uma hegemonia proposta e controlada pelo Estado, estimula uma identidade reduzida porquanto gen�rica e abstrata. � de Santos a afirma��o: �concluo assim que, sob a igualdade do capitalismo, a modernidade deixou que as m�ltiplas identidades e os respectivos contextos intersubjetivos que a habitavam fossem reduzidos � lealdade terminal ao Estado, uma lealdade omn�vora das poss�veis lealdades alternativas� (Santos, 1999, p. 142). Essas amarras assinaladas por Santos configuram a subjetividade do homem moderno.

Santos prop�e uma an�lise cr�tica em que estejam relacionados tr�s marcos da hist�ria da modernidade, a saber: subjetividade, cidadania e emancipa��o. Para isso, percorre um trajeto em que, de um lado, est� a regula��o e, de outro, a emancipa��o e analisa como esses limites  relacionam-se com a subjetividade.

O projeto de modernidade, para Santos, � caracterizado por um equil�brio entre regula��o e emancipa��o, sendo o primeiro sustentado pelos princ�pios de Estado (Hobbes), de mercado (Locke) e comunidade (Rousseau), enquanto o pilar do segundo - emancipa��o - se d� pela articula��o entre tr�s dimens�es de racionaliza��o e seculariza��o da vida coletiva: a racionalidade cognitivo-experimental da ci�ncia e t�cnicas modernas, a racionalidade est�tico-expressiva e a racionalidade moral-pr�tica do direito moderno. Na verdade, o autor entende que o equil�brio pretendido nunca foi alcan�ado, oscilando ora a favor de um (regula��o), ora a favor de outro (emancipa��o).

Para demonstrar melhor estas oscila��es, Santos prop�e uma rela��o entre subjetividade e cidadania, entendendo que esta �ltima � mais restrita e, exemplifica essa distin��o por meio da teoria liberal, na qual a sociedade - enquanto sociedade civil - n�o exerce a cidadania pela impossibilidade de participa��o pol�tica. Introduz, assim, uma nova quest�o: a rela��o entre democracia e participa��o.

A sociedade liberal � caracterizada por uma tens�o entre a subjectividade dos agentes na sociedade civil e a subjectividade monumental do Estado. O mecanismo regulador dessa tens�o � o princ�pio de cidadania que, por um lado, limita os poderes do Estado e, por outro, universaliza e igualiza as particularidades dos sujeitos, de modo a facilitar o controle social de suas atividades e, consequentemente, a regula��o social. (Santos, 1999, p.240).

O resultado dessas tens�es parece estar sempre a favor do Estado e/ou sociedade, reduzindo as possibilidades de express�o da subjetividade naquilo que, em ess�ncia, � sua caracter�stica: a singularidade. Outra rela��o de tens�o e, ainda mais complexa, � a rela��o entre cidadania e subjetividade. Poder-se-ia argumentar que a subjetividade se amplia e se enriquece quando a ela se lhe acrescenta o princ�pio de cidadania, onde direitos e deveres s�o elementos constitutivos. Mas, a cr�tica de Santos � a de que essa mesma subjetividade fica reduzida porque os deveres e direitos se apresentam de forma abstrata e universal, tornando imposs�vel articular igualdade (cidadania) e diferen�a (subjetividade).�A igualdade da cidadania colide, assim, com a diferen�a da subjectividade�. (Santos, 1999, p.240). Esse dilema est� presente em todo o percurso da modernidade. A supera��o dessa tens�o s� ocorrer�, se a rela��o entre cidadania e subjetividade for sustentada pela emancipa��o (Santos), representando uma conquista do indiv�duo e de sua subjetividade.

 A aspira��o de autonomia,criatividade e reflexividade � transmutada em privatismo, dessocializa��o e narcisismo, os quais, acoplados � vertigem produtivista, servem para integrar, como nunca, os indiv�duos na compuls�o consumista.  ...(fazendo com que a) (...) personaliza��o dos objetos transforme estes em caracter�sticas de personalidade de quem os usa e, nessa medida, os objetos transitam da esfera do ter a esfera do ser. (Santos, 1999, p.255-256)

Nesse processo, o cotidiano, meio no qual a intersubjetividade se desenvolve e tem express�o, configura-se numa nova rela��o entre subjetividade e cidadania, instituindo uma luta por um mundo e vida melhor, onde os excessos de regula��o e as opress�es vivenciadas s�o os motivos das a��es e rea��es do homem.

A conquista por novos espa�os de express�o e reconhecimento social, em que a rela��o entre cidadania e subjetividade esteja assente na id�ia de emancipa��o, deve tomar como fundamento o princ�pio de comunidade de Rousseau que, segundo Santos, articulava as id�ias de obriga��o pol�tica horizontal entre cidad�os e a id�ia de participa��o e solidariedade concreta, emergindo da� uma nova cultura pol�tica e, �[...] em �ltima inst�ncia, uma nova qualidade de vida pessoal e coletiva assentes na autonomia e no auto-governo..�. (Santos, 1999, p.263).

Para ampliar o debate, far-se-�  uma incurs�o nos textos de Giddens (1991) e Morin (1973). Para Giddens (1991), a comunidade sofreu uma destrui��o, no que se refere �s marcas deixadas pelo homem na constitui��o da vida social. Embora os �lugares�, enquanto espa�os apare�am cada vez mais integrados, revelam-se  territorialmente fragmentados, gen�ricos e iguais. H� como que um �estranhamento�, onde o homem n�o se reconhece como constituinte desse processo.

Na modernidade, outras transforma��es s�o observadas no �mbito das rela��es interpessoais: �as rotinas que s�o estruturadas por sistemas abstratos t�m um car�ter vazio, amoralizado � isto vale tamb�m para a id�ia de que o impessoal submerge cada vez mais o pessoal�. (Giddens, 1991 p. 122). A preocupa��o de Giddens � a de mostrar n�o uma ruptura entre o pessoal e o social institucionalizado, mas explicitar novas bases sobre as quais se desenvolve essa rela��o, onde situa��es t�o diferentes e localizadas est�o diretamente interligadas. Nesse sentido, poder-se-ia dizer que a intimidade e a impessoalidade adquirem um lugar de express�o comum, e espa�o �nico, indiferenciando-se enquanto especificidades.

Surge da� um questionamento: a busca da auto-identifica��o  seria uma forma de narcisismo ou uma maneira do homem resistir �s press�es das institui��es modernas ?

Talvez, esse dilema possa ser melhor compreendido por meio da exposi��o de Giddens sobre a fenomenologia da modernidade, que caracteriza em

... quatro estruturas de viv�ncia dialeticamente relacionadas: deslocamento e reencaixe: intersec��o de estranhamento e familiaridade. Intimidade e impessoalidade: intersec��o de confian�a pessoal e la�os impessoais. Per�cia e reapropria��o: a intersec��o de sintomas abstratos e cognoscibilidade cotidiana. Privatismo e engajamento: a intersec��o entre aceita��o pragm�tica e ativismo. (Giddens, 1991, p. 140).

Esse � o movimento que caracteriza a vida cotidiana., onde as oscila��es  e o direcionamento e redirecionamento respondem  pela apreens�o dos fen�menos psicossociais, ao mesmo tempo em que a ambig�idade se mostra como elemento constante.

[...] � o mundo que se transforma gradativamente da familiaridade do lar e da vizinhan�a local para um tempo � espa�o indefinido � n�o � de modo algum um mundo puramente impessoal... Vivemos num mundo povoado, n�o meramente um mundo de rostos an�nimos, vazios, e a interpola��o de sistemas abstratos em nossas atividades � intr�nseco � sua realiza��o. (Giddens, 1991 p.144)

Buscando diferenciar sua posi��o da de outros estudiosos, Giddens denomina de modernidade radicalizada (MR) sua concep��o, em oposi��o � p�s-modernidade (PM) e, sintetiza suas id�ias afirmando sua convic��o no poder do homem em se apropriar da vida cotidiana, apesar das perdas que sofre. Acredita, ainda, em processos ativos de auto-identifica��o, onde a  ambig�idade � uma constante, expressa nas rela��es de integra��o e dispers�o, engajamento e pragmatismo, estranhamento e familiaridade. Sugere tamb�m que a solid�o e distanciamento do homem, como apontado por outros estudiosos � resultado de uma percep��o fatalista e desesperan�osa do mundo moderno, onde n�o se percebe que as transforma��es ocorridas oferecem novas oportunidades combinadas, � claro, com limites e imposi��es.

Do ponto de vista psicol�gico, � melhor compartilhar da vis�o de Giddens, pois vislumbra possibilidades no horizonte do mundo humano.

Neste momento, vale lembrar a percep��o de Morin (1973 p.108) acerca do homem: O homem hist�rico

 �� um ser de uma afetividade intensa e inst�vel, que sorri, chora, um ser ansioso e angustiado, um ser gozador, �brio, ext�tico, violento, furioso, amante, um ser invadido pelo imagin�rio, um ser que conhece a morte, mas que n�o pode acreditar nela, um ser que segrega o mito e a magia, um ser possu�do pelos esp�ritos e pelos deuses, um ser que se alimenta de ilus�es e de quimeras, um ser subjectivo cujas rela��es com o mundo objectivo s�o sempre incertas, um ser sujeito ao �rro e � vagabundagem , um ser �brico que produz desordem. (Morin, 1973, p.108).

Esse homem multifacetado e amb�guo, cuja flexibilidade � respons�vel pela capacidade de reorganiza��o da vida cotidiana, � dono de uma plasticidade que sugere sempre novas expectativas, novos dom�nios, novos �vir-a-ser�.

O ceticismo de Santos (1999), deve ser visto como uma preocupa��o do homem moderno e n�o como constata��o de imposi��o e amarras apenas. Desconsiderar as quest�es que apresenta do mundo globalizado seria assumir uma ignor�ncia intencional, uma recusa pr�via em perceber a realidade como complexa e contradit�ria. Quando afirma a preval�ncia da subjetividade individual e abstrata, o faz fundamentado nas situa��es da realidade social que configuram o homem na p�s-modernidade. Mas, faz tamb�m uma proposi��o, denunciando os dilemas que deve ser objeto de preocupa��o de todos. A supera��o desse dilema, exige:

[...]  uma nova teoria da democracia que permita reconstruir o conceito de cidadania, uma nova teoria da subjectividade que permita reconstruir o conceito de sujeito e uma nova teoria da emancipa��o que n�o seja mais que o efeito te�rico das duas primeiras teorias na transforma��o da pr�tica social levada a cabo pelo campo social da emancipa��o. (Santos, 1999, p. 270).

Assim, ao se tratar da subjetividade, deve-se ter em conta que a express�o do homem na vida em sociedade requer uma an�lise e um projeto pol�tico, de forma que a pessoa alcance proje��o, garantindo seu espa�o e reconhecimento social, entendendo essa proje��o como direito e privil�gio de todos os seres humanos. N�o � poss�vel compreender a subjetividade a n�o ser pela articula��o entre sistema pol�tico (participa��o e representa��o), autonomia (conhecimento e reflex�o cr�tica) e cidadania (igualdade de direitos e solidariedade).

Notas

* - Discente do 4� ano do curso de Psicologia da Universidade Estadual de Londrina-Pr. End. Rua Paes Leme, 64, apto. 101, Londrina - PR - Email: .

**- Docente do Departamento de Psicologia Social e Institucional da Universidade Estadual de Londrina- Pr. End. Rua Governador Valadares, 500 - CEP 86061-100 - Londrina - PR. Email:

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O que é personalidade e qual a sua diferença com a identidade?

O que é personalidade e identidade?

Em termos de comparação a personalidade é um conjunto de elementos e componentes psicológicos, enquanto a identidade é o conjunto de elementos, sendo a personalidade um deles.

Como a personalidade pode ser diferenciada da identidade?

A personalidade de uma pessoa é formada, nada mais nada menos, por suas características individuais, forma de agir, pensar, sentir, valores morais, traços emocionais, julgamentos, entre outros aspectos. Esse conjunto de elementos por sua vez, torna o indivíduo um ser único e complexo perante o contexto em que vive.

Como a personalidade se relaciona com a identidade?

Nossa identidade pessoal está relacionada diretamente com a nossa personalidade: podemos ser mais extrovertidos, mais amáveis, menos neuróticos, etc. Enfim, nossa identidade pessoal vai ser formada por diferentes características que nos definem.

O que é definir personalidade?

Personalidade é o conjunto das características marcantes de uma pessoa, é a força ativa que ajuda a determinar o relacionamento das pessoa baseado em seu padrão de individualidade pessoal e social, referente ao pensar, sentir e agir.