Ong mulheres que fazem a diferença

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  • Sirlene Araújo

Na política

Ong mulheres que fazem a diferença

Na história do Brasil e do mundo existem mulheres que fizeram e fazem até hoje a total diferença. No capítulo anterior contamos um pouquinho de como a data de oito de março foi consagrada e o que ela simboliza. Além da influência no movimento operário, lutando pelos direitos trabalhistas, as mulheres começaram a lutar pelos direitos eleitorais, e foi a partir daí, que começaram a escrever sua história na política.

Vários protestos e greves já ocorriam na Europa e nos Estados Unidos desde a segunda metade do século XIX. O movimento feminista e as demais associações de mulheres capitalizaram essas manifestações, de modo a enquadrá-las, por vezes, à agenda revolucionária. Foi o que aconteceu em 08 de março de 1917, na Rússia. O ano ficou marcado pelo ciclo revolucionário que derrubou a monarquia czarista e prenúncio da Revolução Bolchevique.

No Brasil, são 86 anos de conquista do sufrágio feminino e 23 anos da lei de cota eleitoral que determinou 30% das candidaturas dos partidos ou coligações para cada sexo em eleições proporcionais. Em 2018, 30 anos do nascimento da Constituição Cidadã, elegemos 77 deputadas federais, maior número da história, ampliando de 11% a 15% a presença feminina no Congresso. O número de jovens, negras, pobres e LGBTs aumentou significativamente, conforme dados apresentados pelo Brasil de Fato, RS. Ainda é pouco, pouquíssimo.

No ranking da Inter-Parliamentary Union, composto por 196 países, o Brasil ocupa a 157º posição. A Revista Forbes apontou, em matéria publicada em abril de 2020, que os lugares que estão lidando melhor com a crise do coronavírus são liderados por mulheres. Islândia, Tailândia, Alemanha e Nova Zelândia, Finlândia e Dinamarca foram apontados como exemplos de gestão de crise de saúde.

A trajetória anteriormente traçada da inserção das mulheres brasileiras nos espaços sociais, privados ou públicos, é de grande relevância para a compreensão do papel desempenhado atualmente por elas no cenário político. Aos poucos alguns espaços públicos foram sendo conquistados e a atuação das mulheres foi decisiva na retomada da democracia, após vinte anos de ditadura militar.

Mulheres foram assumindo diferentes funções e papéis. As resistências atuais expressam parte das dificuldades construídas historicamente. Ainda hoje, a inserção das mulheres na atividade política, em cargos eletivos ou não, continua sendo bastante restrita. O congresso é em sua maioria ocupada por homens, principalmente nas tomadas de decisões. Esse espaço precisa ser ocupado cada vez mais por mulheres. Mas mesmo que pouco, precisamos mostrar quem são as nossas mulheres engajadas no universo político.

Quem são elas?

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Manuela D’Ávila

Manuela é jornalista e mestre em Políticas Públicas pela UFRGS. Além de vereadora, foi deputada federal e deputada estadual. Em 2018, concorreu à vice-presidência da República na chapa com Fernando Haddad. Atualmente, é presidente e fundadora do Instituto E Se Fosse Você?, ONG voltada para criação de conteúdo de combate à fake news e ódio nas redes.

“Nossa desigualdade tem raça, tem gênero. Por isso, fazer valer a voz das mulheres na próxima eleição e em toda a luta política é o único caminho para reconstruirmos o Estado, garantirmos seu olhar atento aos mais vulneráveis”, disse em entrevista para o Brasil de Fato/RS.

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Maria do Rosário

Defensora dos Direitos Humanos, Maria do Rosário foi uma das deputadas mais atacadas nos últimos anos no Brasil. Talvez pelo seu vasto currículo, seja tão visada. Em 1992 se tornou a mais jovem parlamentar da Câmara de Vereadores de Porto Alegre, até aquele momento. Foi reeleita em 1996, como a mais votada da história de Porto Alegre. Filiada ao PT desde 1994, foi eleita deputada estadual em 1998 e presidiu a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul em 1998. Em 2002, elegeu-se deputada federal, sendo reeleita em 2006, 2010, 2014 e 2018. É titular das Comissões de Constituição e Justiça, que analisa a constitucionalidade de todos os projetos da Câmara dos Deputados e de Cultura, onde é vice-presidenta. Suplente na Comissão de Educação e na Comissão de Legislação Participativa, também coordena a Frente Parlamentar de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente. “Acredito que o que acontece na política reflete a situação das mulheres na sociedade, que é bastante contraditória, pois estamos muito ativas, em pé de igualdade na educação e no mercado de trabalho, numericamente em igualdade, mas as condições salariais e de ocupação e acesso aos espaços de chefia e coordenação de forma desigual”, declarou em entrevista.

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Karen Santos

Vereadora em Porto Alegre pelo PSOL e professora da rede estadual de ensino, Karen conta em entrevista para o Brasil de Fato que dentro do parlamento se manifesta um machismo na forma de chacota e piadas internas, criando um ambiente hostil a manifestação de problemas centrais que atravessam a vida das mulheres trabalhadoras, como necessidade de moradia, resistência aos ataques ao plano de carreira de categorias majoritariamente femininas, como magistério, saúde e assistência.

“Daria pra escrever um livro só de situações peculiares que nos deparamos cotidianamente na Câmara, e imagino que nos outros espaços institucionais parlamentares deva ser o mesmo, justamente porque são os mesmos setores que historicamente ocupam esses locais de decisão”, afirma.

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Laura Sito

Vice-presidenta do PT Porto Alegre, jornalista e servidora municipal da Prefeitura de Porto Alegre, Laura fala da importância da representatividade e de aspectos sociais e políticos. Reconhece que a legislação brasileira avançou muito nos últimos anos, com a porcentagem do fundo eleitoral para as mulheres, fundo partidário, os 30% das listas aos legislativos. Mesmo assim, ela observa que a concretização dos espaços quase não se altera. Fora isso, aponta também um avanço significativo de mulheres conservadoras em espaços de representação parlamentar.

“As mulheres são atacadas pela sua condição de mulher o tempo todo na política. O presidente da República Jair Bolsonaro é o maior exemplo do ambiente não só hostil como violento que é criado para as mulheres na política”, desabafa.

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Carol Dartora

Curitibana nascida no bairro São Braz, Ana Carolina Moura Melo Dartora é historiadora, professora da rede pública estadual de ensino do Paraná e doutoranda em educação. Foi eleita como a primeira vereadora negra da câmara municipal de Curitiba. Com pauta antirracista, Carol Dartora (PT) superou o antipetismo na cidade da Lava Jato e foi a terceira mais votada no pleito 2020, com quase 9 mil votos, terceiro lugar entre os candidatos mais votados para a câmara da capital paranaense. Foi a primeira vez que Carol concorreu a um cargo eletivo. O resultado de Carol Dartora foi algo emblemático pois o PT jamais elegeu um prefeito em Curitiba. “A gente tinha um certo medo por eu ser do PT fazendo campanha na cidade da Lava Jato, achava que ia ter aquele ódio. Mas muito pelo contrário. O antipetismo diante da candidatura foi menor”, contou em entrevista á Época.

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Dilma Rousseff

Não podíamos deixar de citar a primeira “presidenta” do Brasil, que contribuiu de alguma maneira para mudar o quadro de atrofia da participação feminina e talvez motivar outras candidaturas de mulheres. O significado desse evento do ponto de vista de uma afirmação da figura de Dilma em um cenário absolutamente masculinizado ao longo da história, já que o poder sempre esteve associado à figura do homem, ficou estampado em sua preferência em ser tratada por presidenta e não presidente, embora as normas da língua culta admitam as duas formas. Dilma Rousseff (1947) é uma política brasileira. Ex-presidente da República do Brasil, a primeira mulher eleita para presidir o país. Foi ministra da Casa Civil do governo de Lula no período de 2005 a 2010. Em 2001, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT), quando esse era presidido por Luís Inácio Lula da Silva.

No período entre 2005 e 2010, Dilma Rouseff foi preparada por Lula para candidatar-se a sua sucessão, o que acabou ocorrendo em 2010. Em 2014, Dilma foi reeleita para o mandato de 2015/2018. Em 2015, em meio às investigações da “Operação Lava-Jato”, pela Polícia Federal, vários integrantes do governo foram presos e o país entrou em uma grave recessão. O povo foi às ruas pedir a saída da presidente. No dia 31 de agosto de 2016, o Senado Federal aprovou o pedido de impeachment de Dilma Rousseff, que deixou definitivamente o cargo.

Por último e não menos importante…

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Marielle Franco

Marielle Francisco da Silva (1979-2018), conhecida publicamente como Marielle Franco, foi uma política brasileira. Formada em Sociologia pela PUC-Rio e com Mestrado em Administração Pública pela UFF, Marielle foi eleita Vereadora do Rio de Janeiro pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) no ano de 2016.

Negra, mulher, feminista, pobre, criada na favela e gay, Marielle representou uma série de minorias ao longo da sua vida política. A socióloga presidiu a Comissão da Mulher da Câmara, foi defensora dos direitos humanos e das causas LGBTI. 

No dia 14 de março de 2018, uma quarta-feira, o carro onde estava Marielle foi atingido por 13 tiros que tiraram a vida dela e do motorista Anderson Pedro Gomes. Na ocasião Marielle tinha 38 anos e o motorista 39 anos.

Eles voltavam de um evento realizado na Casa das Pretas, um espaço coletivo de mulheres negras situado na Lapa, quando foram subitamente alvejados.

O crime ainda não foi desvendado, e assim como a jornalista Eliane Brum, repetidamente em seu Twitter e matérias no El País, nos perguntamos há 1.091 dias: “Quem mandou matar Marielle? E por quê?

Histórias de luta como a de Marielle, na política, merecem e devem ser mencionadas, o tempo todo. Não devemos nos sentirmos amedrontadas pelo que ocorreu com Marielle. Pelo contrário. Que a morte dela não tenha sido em vão. Que seja motivo para que lutemos por um Brasil com mais igualdade, quiçá, um mundo mais igual. Aqui foram mencionadas apenas algumas das mulheres no cenário político. Existem mais, mas existem poucas. Poucas em relação ao percentual de cargos ocupados no cenário político. Mas muito, muito mesmo no sentido do que essas poucas representam. O pouco é melhor que nenhuma.

Continue por aqui e acompanhe os próximos capítulos.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do Diário de Curitiba.

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