Por que alguns países apresentam taxa de mortalidade infantil tão baixa e outros tão elevada?

Estudo da Universidade de Stanford conclui que políticas governamentais e medidas simples reduziram a mortalidade infantil.

As taxas de mortalidade infantil nos países em desenvolvimento caíram para mínimos históricos. Melhores políticas governamentais e medidas simples de protecção justificam a redução do fosso entre ricos e pobres em matéria de mortalidade infantil. Entretanto, especialistas dizem que nos países com muita corrupção e onde impera a ilegalidade, a situação tem piorado.

De acordo com as Nações Unidas, o número de mortes em crianças menores de cinco anos caiu de 12,7 milhões em 1990 para cerca de 6,3 milhões em 2013, ou seja, menos de 17 mil mortes por dia.

Eran Bendavid, especialista de saúde da população da Universidade de Stanford, atribui essa redução a coisas simples como mosquiteiros contra a malária e sais de reidratação oral para tratar doenças diarreicas em crianças em países pobres e em desenvolvimento.

"Nos mais pobres dos pobres - estamos falando de países onde as pessoas vivem com um ou dois dólares por dia, em média - tenho visto enormes quedas na mortalidade. Nunca vimos anteriormente taxas tão altas de sobrevivência como agora”, diz Bendavid.

Aquele especialista liderou um estudo realizado por pesquisadores da Escola de Medicina de Stanford que usaram pesquisas demográficas e de saúde para analisar a mortalidade infantil em 54 países. A pesquisa foi realizada num universo de 1,2 milhões de mulheres em cerca de 929 mil famílias.

Os investigadores compararam as taxas de mortalidade infantil entre 2000 e 2007 com dados de 2008 a 2012.

Os especialistas descobriram que as mortes de crianças menores de cinco anos caíram 4,3 mortes por 1000 nascidos vivos entre as famílias pobres, 3,36 óbitos por mil entre as famílias de renda média e 2,06 crianças por 1000 entre as famílias mais ricas.

Segundo Bendavid, em países com boa governação, a ajuda internacional tem chegado às pessoas que necessitam dela. No entanto, ele avisa que em nações onde a corrupção e a ilegalidade imperam, as mortes de crianças com menos de cinco anos aumentaram durante esse período.

"Com Boko Haram no norte da Nigéria, com situações como as que existem agora no Paquistão, onde os trabalhadores humanitários são difamados e atacados por fornecer vacinas, em países onde os governos não têm capacidade para fornecer as condições básicas para a saúde ao trabalho, segurança básica, e garantir que os profissionais de saúde façam o básico, é impossível melhor esse estado de coisas”, explica Eran Bendavid.

O estudo, publicado na revista Pediatrics, indica que os países que lideram essa redução da taxa de mortalidade infantil são Bangladesh, Bolívia, Costa do Marfim, Egipto e Gana.

  • James Gallagher
  • BBC News

9 novembro 2018

Por que alguns países apresentam taxa de mortalidade infantil tão baixa e outros tão elevada?

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Quase metade dos países no mundo está enfrentando redução da natalidade

Há um declínio significativo a nível global no número de novos nascimentos.

A tendência de queda na taxa de fecundidade está levando à redução expressiva da natalidade em quase metade dos países, abaixo do chamado nível de reposição - indicando que o volume de filhos por família é insuficiente para manter o tamanho da população nesses locais.

É o que mostra uma análise do estudo Fardo Global das Doenças 2017 (GBD, na sigla em inglês), publicado na revista científica Lancet.

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Os pesquisadores afirmam que a descoberta foi uma "grande surpresa" e que haveria profundas consequências para as sociedades com "mais avós do que netos".

Qual o tamanho da queda?

O estudo acompanhou a evolução da taxa de fecundidade em 195 países e territórios de 1950 a 2017.

Em 1950, as mulheres tinham em média 4,7 filhos durante a vida. A taxa de fecundidade diminuiu pela metade, chegando a 2,4 filhos por mulher no ano passado.

Mas isso mascara uma grande variação entre os países.

A taxa de fertilidade no Níger, na África ocidental, por exemplo, é de 7,1, mas na ilha de Chipre, no Mediterrâneo, as mulheres têm um filho em média.

No Brasil, o índice é de 1,8.

Quão alta a taxa de fertilidade tem que ser?

Sempre que a taxa de fecundidade média de um país cair abaixo de aproximadamente 2,1, as populações vão acabar encolhendo (esse processo é acelerado em países com altas taxas de mortalidade na infância).

No início do estudo, em 1950, não havia nenhuma nação nessa situação.

"Chegamos neste momento crítico em que metade dos países apresenta taxas de fecundidade abaixo do nível de reposição, então, se nada acontecer, as populações desses países vão entrar em declínio", afirma Christopher Murray, diretor do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME) da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.

"É uma transição considerável."

"A ideia de que estamos falando de metade dos países do mundo é uma surpresa até para pessoas como eu, e será uma grande surpresa para muita gente", completa.

Que países são afetados?

Os países mais desenvolvidos economicamente, incluindo a maior parte da Europa, os EUA, a Coreia do Sul e a Austrália, têm taxas de fecundidade mais baixas.

Isso não significa que o número de pessoas que vivem nesses países esteja caindo, pelo menos ainda não, já que o tamanho de uma população é uma mistura da taxa de fecundidade, de mortalidade e migração.

Além disso, pode levar uma geração até que as mudanças na taxa de fecundidade se estabeleçam.

Murray pondera, contudo, que "em breve vamos chegar a um ponto em que as sociedades vão se deparar com uma população em declínio".

Além disso, a tendência é que os países que ainda estão conseguindo manter o ritmo de crescimento populacional também assistam a uma redução maior da taxa de fertilidade, à medida que avançam economicamente.

Por que a taxa de fecundidade está caindo?

A queda na taxa de fertilidade não se deve à contagem de espermatozoides ou a qualquer fator que normalmente vem à mente quando pensamos em fertilidade.

Em vez disso, a redução está associada principalmente a dois fatores - maior acesso das mulheres a educação, com consequente maior participação no mercado de trabalho, e maior acesso a métodos contraceptivos.

Qual será o impacto?

Se não houver imigração, os países vão enfrentar o envelhecimento e o encolhimento de suas populações.

George Leeson, diretor do Instituto de Envelhecimento Populacional de Oxford, no Reino Unido, diz que não precisa ser algo negativo, desde que toda a sociedade se ajuste à grande mudança demográfica.

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'Em breve vamos chegar a um ponto em que as sociedades vão se deparar com uma população em declínio', diz pesquisador

"A demografia tem impacto em todos os aspectos de nossas vidas, basta olhar pela janela para as pessoas nas ruas, para as casas, para o trânsito, para o consumo, tudo é impulsionado pela demografia", disse à BBC.

"Tudo o que planejamos não é apenas impulsionado pelos números da população, mas também por sua estrutura etária, e isso está mudando. Então fundamentalmente não temos a cabeça voltada para isso."

Ele acha que os locais de trabalho vão ter que mudar e até mesmo a ideia de se aposentar aos 68 anos, idade para aposentadoria no Reino Unido, será insustentável.

Segundo o relatório, os países afetados vão precisar considerar o aumento da imigração, que pode vir acompanhada de outras questões, ou introduzir políticas para encorajar as mulheres a terem mais filhos, que muitas vezes fracassam.

"Pelas tendências atuais, haverá poucas crianças e muitas pessoas com mais de 65 anos, e isso é muito difícil para sustentar a sociedade global", argumenta Murray, autor do relatório.

"Pense em todas as profundas consequências sociais e econômicas de uma sociedade estruturada assim, com mais avós do que netos."

"Eu acho que o Japão está muito ciente disso, eles estão enfrentando o declínio da população, mas não acho que esse pensamento tenha atingido muitos países no Ocidente, porque a baixa fecundidade foi compensada com a imigração."

"Mas, em nível global, a migração não é solução."

E a China?

A China vive um enorme crescimento populacional desde 1950, passando de cerca de meio bilhão de habitantes para 1,4 bilhão.

Mas também se vê diante do desafio da queda na taxa de fecundidade, que era de apenas 1,5 em 2017, e recentemente abandonou sua famosa política do filho único (criada para reduzir o crescimento populacional).

No país, segundo o relatório, a proporção de nascimentos de meninos é significativamente maior do que na maioria dos países - para cada 100 meninas nascidas, há 117 meninos. Para os autores, os números podem sinalizar "abortos seletivos, motivados pelo sexo do bebê, e até mesmo a possibilidade de infanticídio feminino".

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Por que a mortalidade infantil ainda é muito alta em alguns países?

Entre as principais causas da mortalidade infantil estão a falta de assistência e de instrução às gestantes, ausência de acompanhamento médico, deficiência na assistência hospitalar, desnutrição, déficit nos serviços de saneamento ambiental, entre outros.

Quais são os fatores que explicam as altas taxas de mortalidade infantil nos países menos desenvolvidos?

Causas da mortalidade infantil.
a falta de assistência e de instrução às gestantes;.
ausência de acompanhamento médico;.
deficiência na assistência de saúde;.
desnutrição;.
ausência de políticas públicas efetivas em educação;.
ausência ou deficiência no saneamento básico..

Qual motivo da taxa de mortalidade infantil nos países desenvolvidos e menor com relação às países subdesenvolvidos?

Já nos países desenvolvidos, essa taxa apresenta-se reduzida, já que nesses países o acesso às políticas públicas, à saúde, ao saneamento básico e à educação é eficaz, possibilitando uma boa qualidade de vida à maioria da população.

Por que nos países em desenvolvimento as taxas de mortalidade tendem a ser mais baixas?

Os países desenvolvidos apresentam essa taxa em declínio em virtude do planejamento familiar, do maior acesso de mulheres ao mercado de trabalho, a programas de saúde, a métodos contraceptivos, bem como à educação.