Por que é importante estudarmos as contribuições dos indígenas para a história e a cultura brasileira?

Ao contrário do que sempre pensamos e do que os livros didáticos contavam, os portugueses não foram os primeiros povoadores do Brasil, pois havia habitantes nativos aqui antes da chegada dos europeus. Esses habitantes nativos e suas comunidades foram chamados pelos europeus de indígenas, fazendo referência às Índias, local ao qual os portugueses acreditavam ter chegado.

Os índios, habitantes das comunidades indígenas, até o ano de 1500, momento dos primeiros contatos com os europeus, possuíam mil e quatrocentos povos, aproximando-se de um quantitativo de 3 a 5 milhões de indígenas.

As comunidades indígenas possuíam e ainda possuem características diferentes, começando pela língua: existiam e ainda existem vários troncos linguísticos, como o Tupi ou Macro-Tupi, Macro-Jê e Aruak.

Essas comunidades também apresentavam e ainda apresentam diferentes práticas culturais, diferentes crenças e diversos ritos religiosos. Segue um breve levantamento de alguns povos indígenas que habitam ou já habitaram o território brasileiro: Araweté, Avá-Canoeiro, Bororo, Cinta larga, Guarani, Javaé, Kaingang, Karajá, Kayapó, Krahó, Munduruku, Pataxó, Tapirapé, Terena, Ticuna, Tupinambá, Xakriabá, Xavante, Xerente, Xingu, Yanomami, entre outros.

Os povos indígenas eram divididos em nômades e seminômades: eles se deslocavam constantemente de uma região para outra até o esgotamento dos recursos vegetais e animais disponíveis, ou seja, deslocavam-se à procura da pesca, da caça e do pequeno plantio para a sobrevivência.

Grande parte dos povos indígenas morava em aldeias, pequenas comunidades. Muitos pesquisadores das culturas indígenas defendiam a ideia de que esses povos possuíam uma organização política, mas não tão complexa como a dos não índios. Geralmente as lideranças de uma aldeia derivariam dos valores culturais e sociais que os guerreiros e chefes espirituais ostentariam dentro de suas comunidades.

Durante o contexto histórico brasileiro (desde 1500 até a atualidade), os povos indígenas sofreram um processo de conquista, dizimação física (genocídio) e violência cultural (etnocídio) iniciado pelos portugueses e perpetuado, posteriormente, pela população brasileira.

Atualmente, segundo pesquisas do órgão do governo, IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 734.131 pessoas se declaram como indígenas, mas, segundo a FUNAI (Fundação Nacional do Índio), se considerarmos como índios somente as pessoas que habitam as reservas indígenas, o número do IBGE reduziria para 358 mil indígenas, com a sua grande maioria concentrada nas regiões do Nordeste, Amazonas e Centro-Oeste.

Muitos dos hábitos, costumes, alimentação e crenças da sociedade brasileira são herança direta dos povos indígenas, como, por exemplo: o hábito de andar descalço, o costume de dormir em rede, o hábito da pesca e caça, alimentação à base de mandioca, farinha, polvilho, beiju, além das crenças na eficácia das plantas como alternativa para cura de doenças.

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Por que é importante estudarmos as contribuições dos indígenas para a história e a cultura brasileira?
O estudo da cultura e da literatura indígena é fundamental para a formação das turmas de estudantes de todas as idades. Imagem: Acervo Singularidades/Freepik

​Mesmo depois da Lei 11.465/08 de 2008, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena na escola, o estudo da cultura e da literatura produzida por autores indígenas ainda caminha a passos lentos no Brasil. Da mesma forma, o conteúdo sobre os povos tradicionais estudado nas escolas sempre foi insuficiente – segundo estudos, os indígenas habitavam a América do Sul há mais de mil anos antes da chegada dos conquistadores, dado que pouca gente conhece.

A celebração das culturas originárias seguem relegadas a uma espécie de festa à fantasia no mês de abril, com crianças com o rosto pintado e cocares confeccionados em cartolina e penas imitando o que, dentro do imaginário coletivo, é o índio brasileiro.

De acordo com Marcelo Ganzela Martins de Castro, isso se deve ao fato de o currículo escolar nunca haver valorizado a herança cultural indígena da maneira devida. Conversamos com Marcelo sobre a cultura indígena remanescente no Brasil e também sobre a disciplina Literaturas e Culturas Indígenas, que faz parte do currículo da licenciatura em Letras do Singularidades, coordenada por ele.

Por que há tão pouco interesse de grande parte das escolas nestes grupos e em sua cultura?

​Nós viemos de um histórico escolar e cultural que via os povos indígenas como inferiores, como pessoas com menor autonomia e, consequentemente, menos capazes que o restante da sociedade brasileira. Tanto é que apenas a partir da Constituição de 1988 que o indígena adquire direitos mais próximos aos de um cidadão brasileiro de outras etnias. Nossa dívida cultural com os povos indígenas é longa. Infelizmente, muitos de nós ainda não reconhecem esse fato.

Quantas destas nações indígenas ainda existem e mantêm línguas próprias?

​Hoje ainda existem 305 etnias, com 274 línguas indígenas sendo faladas no Brasil, de acordo com o censo de 2010. Diferente da ideia comumente difundida, esses povos não estão somente no Norte do país: há povos indígenas nas cinco regiões, em todos os estados brasileiros.

A literatura produzida nestas línguas é, em sua maior parte, oral, mas existem também registros gráficos consistentes?

​A Lei 11.465/08 (de 2008), ao tornar obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena na escola, acabou impulsionando imensamente a oportunidade de publicação de autores literários indígenas.

Hoje, é muito mais fácil encontrar obras literárias indígenas escritas em português ou em edições bilíngues (em português e em um idioma indígena). Diversos autores têm ganhado destaque no mercado editorial: Daniel Munduruku, Eliane Potiguar, Yguarê Yamã, Olívio Jekupé, Carlos Tiago Haki’y, entre outros.

Dos registros existentes, que livros você destacaria como fundamentais para se conhecer um pouco do conhecimento produzido por estas culturas ancestrais?

Por que é importante estudarmos as contribuições dos indígenas para a história e a cultura brasileira?
Meu Vô Apolinário, de Daniel Mundukuru, um dos autores indígenas mais importantes da atualidade. Imagem: Divulgação

Talvez uma das obras mais conhecidas, praticamente um cânone hoje, é o livro de memórias “Meu Vô Apolinário”, de Daniel Munduruku. É uma obra potente, poética e emocionante sobre a trajetória do autor em seu reconhecimento enquanto indígena.

Do ponto de vista teórico, é imprescindível se ler Graça Graúna, uma das principais pensadoras e organizadoras das teorias sobre as literaturas indígenas no Brasil.

Durante o curso os alunos também conhecem o sistema educativo e a educação escolar indígenas. Como esse aprendizado se dá: em sala de aula e também em visitas de campo, a aldeias e outros lugares de interesse?

A ideia da disciplina Literaturas e Culturas Indígenas é romper com preconceitos e apresentar esse campo de investigação e prática para nossos futuros professores de língua portuguesa. Eles conversam com autores e educadores indígenas, visitam aldeias, conhecem um pouco de como se pensa a educação indígena e leem muita literatura indígena.

O percurso é o do conhecimento que promove reconhecimento: queremos formar professores de português que reconheçam os povos e culturas indígenas como genuinamente brasileiros!

O quanto você (enquanto professor e cidadão) considera importante que os futuros docentes (seja de língua portuguesa, história ou geografia) saibam das culturas originárias?

Por que é importante estudarmos as contribuições dos indígenas para a história e a cultura brasileira?
Criaturas de Ñanderu, conto de Graça Graúna. Imagem: Divulgação

​Primeiro, é importante que percebamos que, além de serem nossos antepassados, os indígenas também fazem parte do presente. Eles continuam aqui, fazem parte da sociedade brasileira, devem ser respeitados e valorizados assim como toda a sociedade.

Conhecer é o primeiro passo para respeitar, para valorizar e para se permitir aprender com visões de mundo, de tempo e espaço bastante distintas do pensamento ocidental tradicional.

O multiculturalismo representa uma demanda urgente da contemporaneidade. Eu não consigo enxergar um cidadão consciente e engajado em um futuro melhor para o planeta e para a própria sociedade que não considere a inclusão de todos que ficaram, por muito tempo, marginalizados dos privilégios e do currículo escolar. O mundo é todos.

Por que é importante estudarmos as contribuições dos indígenas para a história e a cultura brasileira?

Marcelo Ganzela Martins de Castro é coordenador do curso de Licenciatura em Letras do Instituto Singularidades.

Para saber mais: http://institutosingularidades.edu.br/novoportal/produto/letras-graduacao/
Entre em contato: [email protected]

Por que é importante estudar as contribuições indígenas para a história e a cultura brasileira?

Estudar sobre a cultura indígena é uma excelente forma de observar vários povos e grupos étnicos diferentes, bem como as tradições de cada um e suas visões sobre o mundo. Porém, é muito comum que, ao falar sobre os indígenas, eles sejam retratados como um povo único.

Qual a importância dos indígenas na história do Brasil?

Os índios foram os primeiros habitantes do território brasileiro, bem antes da colonização pelos portugueses. Atualmente, existe uma média de 300 povos indígenas no Brasil, sendo mais de 817 mil índios, de acordo com estudos realizados em 2010, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Qual é a importância de estudar história em uma escola indígena?

​Primeiro, é importante que percebamos que, além de serem nossos antepassados, os indígenas também fazem parte do presente. Eles continuam aqui, fazem parte da sociedade brasileira, devem ser respeitados e valorizados assim como toda a sociedade.

Qual a importância da cultura indígena para a educação?

Associar a cultura indígena ao conteúdo que está sendo vivenciado pelos alunos, resulta em um rico processo de aprendizagem para eles, proporcionando o contato com as tradições do país e conseqüentemente o saber da história do seu país.