Módulo 2 - Seminário de Aprofund. na Área da Surdez | Unidade A | Show Unidade A – IDENTIDADE, DIFERENÇA E CULTURA NO CAMPO DA SURDEZ A.1 – Produção social da diferença e da identidade surdas Na sociedade atual, vivemos profundas transformações sociais e políticas. Estamos em constante processo de mudança. Essas situações têm uma influência direta sobre os sujeitos, as suas ações e, principalmente, sobre a sua formação. Figura 1: O Sujeito do Iluminismo A concepção de sujeito sociológico emerge na medida em que a sociedade moderna vai evoluindo. O conceito do sujeito individual não daria conta desta evolução; assim, origina-se a concepção do sujeito sociológico, envolvido em processos de grupo, numa constante interação com as culturas que estão a sua volta. A identidade então é formada nessa interação entre o eu e a sociedade, ocupando o espaço entre o mundo pessoal e o mundo público. Figura 2: O sujeito sociológico Já a concepção do sujeito pós-moderno postula que a identidade não se apresenta única, fixa ou permanente. Em vez
disso, a identidade modifica-se constantemente. torna-se uma “celebração móvel”: formada e transformada continua- Figura 3: O Homem pós-moderno Esse conceito de homem pós-moderno emergiu da descentralização do sujeito, ou seja, do deslocamento das identidades do
sujeito cartesianoocasionado por diversas mudanças nos discursos da modernidade. Dentre essas mudanças no pensamento do século XX, merecem destaque: a descoberta do inconsciente por Freud, já que, a partir da visão do pensamento psicanalítico, a
identidade não é inata, mas constantemente construída; a argumentação do lingüista Saussure, que descreve que o significado não é uma construção individual; e o trabalho de Foucault, com a idéia do poder disciplinar, composto pela regulação e pela vigilância das
ações do indivíduo. Estes novos territórios de discussão auxiliam na compreensão da não-existência de uma unidade de identidade.
não são nunca unificadas; que elas são na modernidade tardia, cada Contemporaneamente, as diferenças culturais constroem identidades marcadas pela lógica da diferença, fundamentadas nas concepções de grupos excluídos. São as
minorias raciais, étnicas, lingüísticas, dentre outras tantas, que buscam o direito de identificar-se enquanto sujeitos. É evidente que as identidades surdas assumem formas multifacetadas Buscando mudar essa visão acerca da surdez, surgem estudos que passam a perceber o surdo como social e historicamente construído. Desse modo, criam-se os
Estudos Surdos em Educação, que, segundo Skliar (1998), apresentam-se como um território de investigação educativa e de proposições políticas que, por meio de um conjunto de concepções lingüisticas, culturais, comunitárias e identitárias,
definem uma particular aproximação ao conhecimento e aos discursos sobre a surdez e os surdos. Este campo de estudo está embasado nos Estudos Culturais.
(...) as identidades são construídas por meio da diferença e não fora Nesse sentido, quando alguém, por exemplo, afirma “sou assim”, está dizendo que não é de outra forma, está negando outras identidades
diferentes da sua. Afirmar então a nossa identidade só tem sentido se compreendemos as afirmações da diferença. É precisamente porque as identidades são construídas dentro e não Considerando-se identidade e diferença como oriundas de práticas de significação, e estas, por sua vez, como diretamente influenciadas por relações sociais, faz-se necessário compreender como a cultura interfere nesta discussão, a partir de uma perspectiva pós-moderna. A.2 – Cultura em tempos pós-modernos o que o pós-modernismo propunha/propõe é uma desconstrução tex- Como a cultura é uma questão central nas discussões atuais, principalmente quando nos embasamos nos Estudos Culturais, sua concepção merece ser discutida frente a todas as mudanças pelas quais passou através dos anos. De acordo com Costa (2000, p. 23), ”toda a movimentação que tem caracterizado os Estudos Culturais (...) pode ser atribuída aos deslocamentos naquilo que se tem entendido e tomado como cultura”. A cultura, nesse enfoque, não é vista simplesmente
como aquela herdada dos ancestrais, mas percebida numa descrição social, antropológica, ou seja, no modo de vida como se vive. (...) porque a
cultura está imbricada indissoluvelmente com relações Nessa perspectiva, Sá parte da obra de Moreira & Silva para mostrar que a cultura passa a ser entendida como “terreno em que se enfrentam diferentes e conflitantes concepções
de vida social, é aquilo pelo qual se luta e não aquilo que recebemos” (SÁ, 2002, p. 33). A.3 – Espaços e tempos culturais na educação de sujeitos surdos
(...) a denominada Educação Especial seria impensável sem a institucionalização da escola obrigatória para todas as crianças
compreendidas em determinados períodos de idades e sem o funcionamento prévio de outras instituições de normalização, (...) de
instituições produtoras de um tipo de normalidade que é apresentada Nesse sentido, Álvarez-Uría (1996, p. 103) afirma que “é preferível prevenir que corrigir, já que resulta cada vez mais econômico e mais
eficaz”. Segundo o mesmo autor, em termos gerais, seria possível dizer que: Figura 4: Movimento surdo Enquanto minoria lingüística, a comunidade surda está cada vez mais unida em prol de uma articulação política e social que considere seus direitos lingüísticos e de cidadania, impondo-se em busca do respeito à diferença. Essa comunidade vem lutando por seus ideais, pela compreensão de sua cultura e de sua própria língua, começando assim a consolidar seu grupo, já que passou a estar presente, através de movimentos surdos, na tomada de decisões que interferem em sua educação e, conseqüentemente, em sua vida. Atividade da Unidade A: Referências da Unidade A: BANKS-LEITE, Luci; GALVÃO, Izabel (orgs.). A Educação de um Selvagem: as experiências pedagógicas de Jean Itard. São Paulo: Cortez, 2000. COSTA, Marisa Vorraber (org.). Estudos Culturais em Educação: mídia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema. Porto Alegre: Editora Universidade, UFRGS, 2000. EWALD, François. Foucault, a Norma e o Direito. Lisboa: Veja, 1993. FOUCAULT, Michel. Os Anormais: curso do Collège de France (1974-1975). São Paulo: Martins Fontes, 2001. HALL, Stuart. A Identidade Cultural na Pós-Modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2000. LAROUSSE, Cultural. Dicionário da Língua Portuguesa.São Paulo: Nova Cultural, 1992. MAZZOTTA, Marcos J. S. Educação Especial no Brasil: história e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1996. PÉREZ DE LARA, Núria. La Capacidad de Ser Sujeto. Más allá de las técnicas en educación especial. Barcelona: Laertes, 1998. PERLIN, Gladis. Identidades Surdas. In: SKLIAR, Carlos. A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. p. 51-73. RAMPELOTTO, Elisane Maria. Processo e Produto na Educação de Surdos. Santa Maria: UFSM/CE, 1993. Santa Maria: Programa de Pós-graduação/Centro de Educação/Universidade Federal de Santa Maria, 1993 (Dissertação de Mestrado). SÁ, Nídia Regina Limeira de. Cultura, Poder e Educação de Surdos. Manaus: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2002. SILVA, Tomaz Tadeu da (org.). Identidade e Diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Rio de Janeiro: Vozes, 2000. ______. Representação, Estereótipo, Imagem. In: Currículo como Fetiche: A Poética e a Política do Texto Curricular. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. SKLIAR, Carlos (org.). A Surdez: um olhar sobre as diferenças. Porto Alegre: Mediação, 1998. ______.Prefácio: A pergunta pelo outro da língua; a pergunta pelo mesmo da língua. In: LODI, Ana C.; HARRISON, Kathryn M.P.; CAMPOS, Sandra R.L. de (orgs.). Letramento e Minorias. Porto Alegre: Mediação, 2002. p. 5-12. ______. Pedagogia (Improvável) da Diferença:e se o outro não estivesse aí?Rio de Janeiro: DP&A, 2003. THOMA, Adriana da Silva. O Cinema e a Flutuação das Representações Surdas: “que drama se desenrola neste filme?Depende da perspectiva...”. Porto Alegre: UFRGS/PPGEDU, Programa de Pós-graduação e Educação. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002. Tese (Doutorado em Educação). VEIGA-NETO, Alfredo. Michael Foucault e os Estudos Culturais. In: COSTA, Marisa Vorraber (Org.). Estudos Culturais em Educação: mídia, arquitetura, brinquedo, biologia, literatura, cinema. Porto Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2000. p. 37 - 69. Sites relacionados: www.ibcnet.org.gov.br www.ines.gov.br Quais são as três ideias que Stuart Hall destaca sobre identidade?Stuart Hall (2000), professor de sociologia da Open University e conhecido teórico dos Estudos Culturais, cita três concepções de identidade: a do sujeito do Iluminismo, a do sujeito sociológico e a do sujeito pós-moderno.
O que seria identidade cultural na visão Stuart Hall?Para Stuart Hall, as identidades nacionais das quais fazemos parte não estão impressas em nosso gene, mas se constituem a partir das culturas nacionais. Assim, as identidades nacionais são formadas e transformadas no interior pelas representações de uma dada cultura nacional.
Quem foi Stuart Hall e quais suas ideias?Stuart Hall (1932-2014) foi um importante e renomado sociólogo britânico-jamaicano – nasceu na Jamaica, mas radicou-se na Inglaterra a partir de 1951. É um dos fundadores da escola de pensamento conhecida como Estudos Culturais britânicos ou Escola de Birmingham dos Estudos Culturais.
Quais são os principais elementos de identidade cultural?Podemos destacar o idioma, as crenças religiosas, os valores, as normas, as tradições, a forma de vestir e a culinária como exemplos. Tais elementos culturais influenciam na construção das identidades dos sujeitos.
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