Quais motivos levaram os grupos sociais a apoiar os militares na Proclamação da República?

Quais motivos levaram os grupos sociais a apoiar os militares na Proclamação da República?
O projeto sociopolítico de Comte pressupunha uma evolução ordeira da sociedade, incompatível com revoluções e mudanças bruscas. Curiosamente, no Brasil, os ideais positivistas serviram para alavancar uma troca de regime com a Proclamação da República.

O aparente paradoxo se explica, em parte, pelo fato de a influência positivista ter resultado em pensamentos muito diversos no Brasil, conforme se combinou com outras correntes ideológicas. Nenhum setor teve maior presença da ideologia comtiana do que as Forças Armadas, de onde saiu o vitorioso movimento republicano e a ideia de adotar o lema “Ordem e Progresso”. Várias das medidas governamentais dos primeiros anos da República tiveram inspiração positivista, como a reforma educativa e a separação oficial entre Igreja e Estado, ambos em 1891.

O positivismo ficou de tal forma conhecido no Brasil que o prenome de Comte foi aportuguesado para Augusto e a corrente filosófica tornou-se tema de um samba de Noel Rosa e Orestes Barbosa. A canção intitulada Positivismo, lançada em 1933, termina com os versos:

“O amor vem por princípio, a

ordem por base/O progresso é
que deve vir por fim/Desprezaste
esta lei de Augusto Comte/E foste
ser feliz longe de mim”.

Fonte: Revista Nova Escola

Alguns recursos didáticos:


Recomendar esta p�gina via e-mail:

"Senhor, esta noite, o 1� e o 9� Regimentos de Cavalaria e o 2� Batalh�o de Artilharia, a pretexto de que iam ser atacados pela Guarda Negra, e de ter sido preso o marechal Deodoro, armaram-se e mandaram prevenir o chefe do Quartel General de que viriam desagravar aquele marechal. O governo toma as provid�ncias necess�rias para conter os insubordinados, e fazer respeitar a lei. Acho-me no Arsenal de Marinha com meus colegas da Justi�a e da Marinha. (Ouro Preto)."

Eram 5h30 da manh� do dia 15 de novembro de 1889, quando chegou no Pal�cio Imperial de Petr�polis o telegrama com a nota de "urgente" passado pelo presidente do Conselho de Ministros, Affonso Celso de Assis Figueiredo, o visconde do Ouro Preto. Dom Pedro 2� o recebeu e leu v�rias vezes. Resolveu, mesmo assim, fazer seu passeio matinal. O pr�prio imperador foi at� a esta��o para se informar com que anteced�ncia devia solicitar o trem especial, recebendo como resposta que uma hora bastaria. O agente prometeu o transporte para �s 11h.

Logo a seguir, foi � catedral de Petr�polis, em companhia de sua esposa dona Thereza Christina, e de pessoas de sua amizade, para assistir � missa pela alma de sua irm�, dona Maria 2�, rainha de Portugal, pelo 36� anivers�rio de seu falecimento.

Na sa�da recebeu novo telegrama do visconde de Ouro Preto: "Senhor, o Minist�rio, sitiado no Quartel General da Guerra, � exce��o do Sr. Ministro da Marinha, que consta achar-se ferido em casa pr�xima, tendo por mais de uma vez ordenado debalde, por ordem do Presidente do Conselho e do Ministro da Guerra, que se repelisse pela for�a a intima��o armada do marechal Deodoro, para pedir sua exonera��o, e diante das declara��es feitas pelos generais visconde de Maracaju, Floriano Peixoto e bar�o do Rio Apa, de que, por n�o contarem com a tropa reunida, n�o h� possibilidade de resistir com efic�cia, dep�e nas augustas m�os de Vossa Majestade o seu pedido de demiss�o. A tropa acaba de fraternizar com o marechal Deodoro, abrindo-lhe as portas do quartel."

Ap�s ler o telegrama, inteirou-se da gravidade da situa��o e, dirigindo-se � imperatriz, disse: "Vamos � Corte, porque n�o se sabe o que fez Deodoro..." A imperatriz pediu a seu marido que o coche passasse pelo pal�cio antes para pegar sua valise e sua capa, mas o imperador respondeu que se quisesse acompanh�-lo, que fosse dali para a esta��o ferrovi�ria. Assim fez dona Thereza Christina.

A preocupa��o da imperatriz era com as suas joias, que havia usado dias antes, no s�bado, 9 de novembro, no baile da Ilha Fiscal, em homenagem aos oficiais chilenos do navio de guerra Almirante Cockrane, que realizavam uma visita ao Brasil. Como havia partido diretamente para Petr�polis, n�o tivera como guard�-las na Quinta da Boa Vista, pal�cio localizado em S�o Crist�v�o, no Rio.

A linha ferrovi�ria ligava Petr�polis ao distrito de S�o Francisco Xavier. A partir da� o transporte passou ser feito por terra, em carruagens e, pela primeira vez, n�o foram escoltadas por cavalarianos, para estranheza de todos.

Chegaram ao Rio �s 14h. Dom Pedro dirigiu-se diretamente ao Pa�o Imperial, localizado no centro do Rio de Janeiro (hoje Pra�a 15 de novembro), por caminho diverso do habitual. No Pa�o, foi recebido pelo comandante do vaso de guerra chileno, o capit�o de mar-e-guerra don Constantino Bannen, que ofereceu abrigo mais seguro a bordo do seu encoura�ado. O imperador agradeceu e respondeu: "Fogo de palha, comandante, como o senhor ver�. Conhe�o de sobra, a minha gente... Fogo de palha!".

Apesar de se mostrar confiante e calmo, estava seriamente sucumbido. Desde 1886, a sa�de do monarca estava debilitada, ele sofria de apneia do sono tipo obstrutivo, e de diabetes, que lhe provocava incontin�ncia urin�ria e fraqueza nas pernas. Na viagem � Europa em 1888, quando se encontrava em Mil�o, na It�lia, durante os 20 dias que permaneceu acamado, seu estado chegou a ser considerado como desesperador. Em face da gravidade de sua sa�de, chegou ao ponto de receber extrema-un��o, mas gra�as aos cuidados m�dicos conseguiu reagir.

As causas

A chamado do imperador, Ouro Preto, que havia sido preso juntamente com outros ministros e posteriormente libertado, informou com detalhes tudo que havia ocorrido envolvendo a tropa e Deodoro da Fonseca, inclusive a longa conversa havida entre eles na sede do quartel-general, quando este afirmou que se pusera na frente do Ex�rcito para ving�-lo das grav�ssimas injusti�as e ofensas recebidas do governo. Na realidade, eram boatos intencionalmente espalhados como not�cia, a intriga foi feita perante a tropa sediada no Rio de Janeiro pelo major Frederico S�lon de Sampaio Ribeiro, que estava imbu�do dessa tarefa pelos republicanos, miss�o nada honrosa para um militar, ainda mais um oficial do Ex�rcito. Outra inverdade era a ordem de pris�o contra Deodoro e o embarque para outras prov�ncias de alguns corpos do Ex�rcito, mais sabidamente comprometidos com a conspira��o. O derradeiro primeiro-ministro do Imp�rio, ou presidente do Conselho de Ministros, como era titulado naquela �poca, diria para Louren�o de Albuquerque, ministro da Agricultura: "Fomos miseravelmente tra�dos. Chamaram-nos para esta ratoeira afim de que n�o pud�ssemos organizar l� fora a resist�ncia. Antes me houvessem matado!".

Outro motivo que culminou com o advento da Rep�blica no Brasil, foi san��o da lei �urea, institu�da em 13 de maio de 1888, pela princesa Isabel, na ocasi�o regente do Imp�rio, em virtude da viagem de seu pai dom Pedro 2� a Europa para tratar da sa�de. Os propriet�rios rurais, na maioria conservadores, eram monarquistas, e com a liberta��o dos mais de 700 mil escravos que existiam no pa�s, ficaram sem m�o de obra e tiveram ainda um grande preju�zo financeiro. O descontentamento com a coroa foi enorme, e muitos agricultores passaram a apoiar o partido Republicano, e outros a partir de ent�o n�o mais defenderam o regime mon�rquico dos ataques que sofriam dos opositores, e da imprensa republicana que soube aproveitar a situa��o.

Cabe ressaltar a fun��o do marechal-de-campo Floriano Peixoto, (havia sido promovido a esse posto apenas cinco meses antes), no governo imperial ele exercia o cargo de ajudante-general, o segundo mais importante no Ex�rcito, ap�s o de ministro, para o qual havia sido nomeado pelo pr�prio Ouro Preto, por essa fun��o de estrita confian�a, era seu dever defender o regime imperial, mas na hora que deveria agir contra os rebelados, faltando com a lealdade com o governo que tinha a obriga��o de of�cio. Quando inquerido pelo presidente do Conselho para que os combatesse, Floriano saindo pela tangente, afirmou: "As bocas de fogo no Paraguai, senhor ministro, eram inimigas: aquelas que Vossa Excel�ncia est� vendo s�o brasileiras..."

E assim o Imp�rio brasileiro chegou ao fim, sem nenhuma a��o, e velada omiss�o de Floriano, que seria mantido no cargo na Rep�blica e pouco tempo depois seria ministro da Guerra em substitui��o a Benjamin Constant, vice-presidente da Rep�blica, e com a ren�ncia for�ada de Deodoro em 1891, chefe da Na��o, sem nenhum esfor�o. Seu lema era: "confiar, desconfiando..."

Durante a sangrenta revolu��o federalista que eclodiu durante o seu governo, em 1893, n�o teve compaix�o com os advers�rios, nem para seus colegas de farda e da Marinha de Guerra brasileira, e quanto menos com os civis que se revoltaram contra ele. Aos militares determinou fuzilamentos sum�rios, e, para os outros, os civis, a forca. Entre as v�timas estava o catarinense marechal Manuel de Almeida da Gama Lobo Coelho d"E�a, o bar�o de Batovi, her�i da guerra do Paraguai. N�o satisfeito, para espezinhar o povo de Santa Catarina, o nome da capital do Estado, foi mudado de Desterro para Florian�polis, que significa: "cidade de Floriano". N�o foi sem raz�o que foi chamado de "marechal de ferro".

O visconde demission�rio do Conselho de ministros se recusou a permanecer no cargo, apesar dos apelos de dom Pedro 2�. Ouro Preto sugeriu para o seu lugar o senador ga�cho Gaspar Silveira Martins, mas este estava em viagem de sua terra ao Rio de Janeiro, e s� chegaria quatro dias depois. Mas eles n�o sabiam que Silveira Martins e Deodoro da Fonseca eram inimigos por causa de uma mulher, Maria Adelaide Andrade Neves Meirelles, a baronesa de Triunfo. Deodoro havia sido comandante de armas, vice-presidente e depois presidente da prov�ncia do Rio Grande do Sul, e disputou - apesar de casado -, com o politico ga�cho e perdeu o cora��o da Baronesa.

Fato consumado

Dom Pedro 2� solicitou a presen�a do marechal Deodoro da Fonseca no Pa�o Imperial, mas os emiss�rios voltaram e lhe informaram que ele n�o receberia ningu�m por estar muito enfermo. Desde o dia anterior, v�tima de grave dispneia, ele estava t�o debilitado que fora obrigado a sair de casa em um coche e s� ent�o montou um cavalo, um baio, para entrar no quartel general no Campo de Santana, no centro do Rio. De retorno a casa, sua esposa, dona Marianinha, trancou as portas da resid�ncia, n�o permitindo o contato do marido com quem quer que fosse... Mas o tenente-coronel Benjamim Constant, o ide�logo dos republicanos, seria o �nico a ser recebido para levar-lhe os despachos iniciais do governo, como a proclama��o e a nomea��o dos novos ministros. Curiosamente esses atos haviam sido lavrados no Instituto dos Cegos, do qual Constant era diretor.

O Imperador ainda aguardou a presen�a de Deodoro, que n�o apareceu e nem apareceria. Os jornais de todo o Brasil j� traziam em manchete o advento da nova forma de regime. O primeiro a proclamar de fato a Rep�blica foi Jos� do Patroc�nio, durante a reuni�o do Conselho Municipal do Rio de Janeiro, quando desfraldou o pavilh�o republicano e, em nome do povo, declarou extinta a monarquia. O povo foi colocado � margem dos acontecimentos, e s� tomou conhecimento dos fatos ap�s estarem consumados. N�o houve nenhum momento um ato heroico, como ocorreu no dia 7 de setembro. S� depois veio o decreto de n�mero 1, assinado na cama por Deodoro da Fonseca, que se encontrava prostrado devido a doen�a, nele em seu artigo 1�, est� explicitado que ficava proclamada provisoriamente a Rep�blica no Brasil. A decis�o da mudan�a de regime partiu exclusivamente de Benjamin Constant que pressionou o velho marechal para faz�-lo.

A cidade viveu mais um dia e, � noite, nada de anormal ocorreu, excetuando-se a determina��o das autoridades de n�o haver ajuntamentos. E em torno do Pa�o, a tropa cercou dom Pedro 2�, sua fam�lia e amigos.

No dia seguinte, ap�s delibera��es que ocorreram � noite e de madrugada com o Conselho de Estado, ficou decidido que Jos� Ant�nio Saraiva, o conselheiro Saraiva, deveria formar um novo Minist�rio. Ao emiss�rio do governo, major Roberto Trompowski, ao ser consultado Deodoro, este afirmou: "Agora j� � tarde". A partir das 10h veio � ordem de n�o deixar entrar nem sair do Pa�o, quem quer que fosse. A fam�lia imperial estava literalmente presa. �s 15h foi entregue ao imperador uma carta de Deodoro da Fonseca, portada pelo major S�lon Ribeiro, comandante interino do 9� Regimento de Cavalaria, acompanhado de alguns subordinados. Nervoso, o major tratou dom Pedro 2� de Vossa Excel�ncia, depois Vossa Alteza e finalmente, de Vossa Majestade, o correto. O documento informava da situa��o insustent�vel do gabinete de Ouro Preto; da persegui��o deste contra o Ex�rcito; da situa��o do pa�s, principalmente econ�mica, e, ao final, declarava a destitui��o do imperador e a consequente proclama��o da Rep�blica no Brasil, al�m de determinar a partida da fam�lia imperial para o ex�lio em 24 horas.

Dom Pedro, ap�s da sa�da dos oficiais, ditou para Franklin Am�rico de Meneses D�ria, o bar�o de Loreto, e depois assinou a resposta ao marechal Deodoro: "� vista da representa��o escrita, que foi entregue hoje �s 3h da tarde, resolvo, cedendo ao imp�rio das circunst�ncias, partir com toda a minha fam�lia amanh�, deixando esta p�tria, de n�s estremecida, � qual me esforcei por dar constantes testemunhos de entranhado amor e dedica��o durante quase meio s�culo em que desempenhei o cargo de chefe de Estado. Ausentando-me, pois, eu com todas as pessoas da minha fam�lia, conservarei do Brasil e mais saudosa lembran�a, fazendo ardentes votos por sua grandeza e prosperidade. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889. dom Pedro d�Alc�ntara."

O embarque para o ex�lio

Todos permaneceram o dia 16 detidos no Pa�o, com soldados com baionetas e cavalarianos cercando o pr�dio. Ficou acertado que no dia seguinte, domingo, 17/11, por volta das 15 h, dom Pedro 2� e os demais embarcariam, tendo sido permitido a ele assistir de manh� � missa na Capela do Carmo, vizinha ao pal�cio. Mas, de madrugada, o Conde d�Eu foi inesperadamente despertado com a chegada do seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Jo�o Nepomuceno de Medeiros Mallet, acompanhado do brigadeiro Jos� Sime�o de Oliveira, que lhe comunicou que o governo provis�rio temia o derramamento de sangue na partida da fam�lia imperial, pois soubera que havia um grupo disposto a provocar atritos quando da sa�da do monarca.

Acordado, o Imperador foi informado que deveria se vestir para embarcar. Surpreso e revoltado, disse "que n�o sairia como um negro fugido...". Mas, por volta das tr�s da manh�, foi escoltado juntamente com a Imperatriz e toda a fam�lia, al�m de alguns amigos, para o Cais Pharoux, bem atr�s do Pa�o Imperial, hoje Pra�a XV. Somente um coche negro puxado por dois cavalos estava � disposi��o, onde foram os imperadores e a princesa Isabel; os demais seguiram a p�. Uma lancha do Arsenal de Guerra, tripulada por quatro alunos da Escola Militar, aguardava-os, sendo transportados para o pequeno cruzador Parna�ba, apelidado de "gazela do mar", fundeado na Ba�a da Guanabara, pr�ximo � Ilha Fiscal.

�s 10 horas da manh� chegaram os tr�s jovens pr�ncipes, Pedro de 14 anos, Luiz de 11 anos, e Ant�nio de 8 anos, que se encontravam em Petr�polis, acompanhados pelo seu preceptor, o bar�o de Ramiz Galv�o, e do engenheiro Andr� Rebou�as, amigo da fam�lia imperial, que havia subido a serra especialmente para trazer os filhos da Redentora e do Conde D�eu. A bordo, profundamente abalada, estava a imperatriz dona Thereza Christina, que muito chorava; n�o menos comovida estava a princesa Isabel, mas aliviada com a chegada dos seus filhos.

O segundo decreto assinado por Deodoro concedia ao Imperador deposto uma soma de dinheiro para sua viagem � Europa. O tenente Jer�nimo Teixeira Fran�a foi incumbido de levar esse documento do governo provis�rio a dom Pedro; primeiramente deveria ser entregue no Pa�o, mas o major Mallet, receando que o imperador pudesse criar algum mal estar no momento, n�o deixou entreg�-lo, o que foi feito somente a bordo do Parna�ba. Mas ele recusaria por mais de uma vez a oferta monet�ria. Entre os poucos amigos que foram se despedir de dom Pedro 2�, estava o velho almirante Joaquim Marques Lisboa, o marqu�s de Tamandar�.

Ao meio dia de 17 de novembro de 1889, a embarca��o sob o comando do capit�o-de-fragata Jos� Carlos Palmeira, levantou ferros e partiu em dire��o a Ilha Grande para encontrar o paquete Alagoas, da Companhia Brasileira de Navega��o a Vapor, o mais novo e moderno navio de passageiros da marinha mercante do Brasil, que fora requisitado especialmente pelo governo republicano, para levar a realeza destronada para o ex�lio na Europa, e o seu pequeno s�quito. Al�m dos membros da fam�lia imperial, de Andr� Rebou�as, viajaram o bar�o e baronesa de Loreto, Franklin Am�rico de Meneses D�ria, e a sua esposa Maria Amanda Lustosa Paranagu�; o marqu�s e a marquesa de Muritiba, Manuel Jos� Vieira Tosta e sua esposa Maria Jos� Velho de Avelar, amiga e dama da princesa Isabel; a octogen�ria viscondessa de Fonseca Costa, Josefina de Fonseca Costa, dama da Imperatriz por mais de 40 anos; o professor de l�nguas orientais dr. Cristian F. Seybold; o m�dico do imperador Claudio Velho de Motta Maia, conde Motta Maia, e seu filho Manoel Augusto, de 14 anos; as criadas da imperatriz Joana de Alc�ntara, Leon�dia L. Esposel, Ludomilla de Santa Mora, Maria da Gloria e Julieta Alves; o criado do pr�ncipe dom Pedro Augusto Fran�ois N. Boucher; os criados dos filhos da princesa Isabel, Eduardo Damer, e Guilherme Wagner Camerloker; o professor dos pr�ncipes mais novos Fritz Stoll, al�m de Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho, o conde de Aljezur, substituindo o mordomo imperial. O transbordo dos passageiros para o navio Alagoas foi realizado com dificuldades e perigos de um mar agitado, sendo a Imperatriz ajudada por dois marinheiros.

O novo governo determinou que o encoura�ado Riachuelo da Marinha de Guerra, sob o comando do ent�o capit�o-tenente Alexandrino Faria de Alencar (seria ministro da Marinha em tr�s governos da Rep�blica) fizesse a escolta do Alagoas at� a linha do Equador, j� fora de �guas territoriais brasileiras. Durante a viagem dom Pedro notou a que a velocidade da embarca��o estava muito lenta e indagou ao comandante do navio - o portugu�s, mas brasileiro por ado��o -, Jo�o Maria Pessoa, a velocidade do Riachuelo. Foi informado que era de apenas sete ou oito milhas n�uticas. Apesar de n�o ser antigo - tinha apenas pouco mais de cinco anos de uso - e dom Pedro 2� de muita boa mem�ria, sabia que quando foi constru�do sua velocidade m�xima era de 16 milhas. Concluiu-se que a embarca��o de guerra estava com problemas mec�nicos. Um dia o imperador reclamou ao capit�o Pessoa, e apontando ao 1� tenente Jo�o Augusto do Amorim Rangel, oficial da Marinha que estava a bordo para cumprir as determina��es das autoridades republicanas, juntamente com seu colega, o 2� Tenente Ant�nio Barbosa de Magalh�es Castro:

- Diga a esse mo�o que vem a bordo, que se o Riachuelo � honraria, eu dispenso; se quer dizer receio, eu n�o quero voltar. O Brasil n�o me quer, vou-me embora!

Na altura da Bahia, no dia 22 de novembro, para al�vio de todos, e em especial de dom Pedro, o Riachuelo encerrou sua miss�o, e deu meia volta para dirigir-se a Salvador, e o Alagoas pode ent�o seguir sua longa viagem, em uma velocidade compat�vel com suas caldeiras.

Durante a viagem, o jovem pr�ncipe dom Pedro Augusto, neto de dom Pedro 2�, e por ele criado e pela imperatriz, desde a morte de sua m�e a princesa Leopoldina de Bragan�a, quando contava com quase cinco anos de idade, come�ou a dar sinais de debilidade mental. Com mania de persegui��o, no seu primeiro surto psic�tico, tentou esganar o comandante do navio, a quem acusava de ter recebido dinheiro para eliminar a todos. Contido e confinado em seu camarote, foi acometido de del�rios persecut�rios, chegando a envolver seu corpo numa boia salva-vidas, temendo que o navio fosse bombardeado. Alternando momentos de excita��o e de letargia, Pedro Augusto jogava garrafas ao mar com pedidos de socorro. Pelo menos uma dessas mensagens, foi encontrada na praia de Maragogi, pr�ximo a Macei�, em Alagoas. Posteriormente seu pai, o pr�ncipe austr�aco Lu�s Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o internou primeiro em Graz, e depois em um sanat�rio em T�lln an der Donau, onde permaneceu por quarenta anos, at� sua morte em 1934.

No dia 1� dezembro, houve uma parada para reabastecimento em S�o Vicente, no arquip�lago de Cabo Verde, uma possess�o portuguesa, no oceano Atl�ntico, pr�xima da costa africana. Os passageiros autorizados a descer, foram visitar alguns pontos da cidade, incluindo uma igreja, onde rezaram. Dessa escala, foi i�ada na popa do Alagoas uma bandeira imitando o "M" do C�digo Internacional de Sinais, com o fundo completamente vermelho e sobre filetes brancos as 21 estrelas em filete azul, sendo a estrela do centro maior. Essa bandeira foi entregue em alto mar pelo comandante do Riachuelo ao capit�o Pessoa, como s�mbolo do novo regime brasileiro. A nova bandeira iria causar uma quase crise com Portugal, que determinou a sua retirada por n�o ser reconhecida de acordo com as normas internacionais. Para evitar maiores problemas, o governo provis�rio brasileiro determinou que durante a perman�ncia do navio em �guas portuguesas n�o fosse arvorado nenhum pavilh�o.

Quando da partida do Alagoas, o navio da marinha portuguesa Bartolomeu Dias, que estava no porto, deu uma salva de 21 tiros de canh�o. Nesse momento, foi i�ada a bandeira do Imp�rio, e todos que estavam a bordo, se levantaram e bateram palmas, alguns emocionados at� as l�grimas. Da embarca��o lusitana e de alguns navios alem�es que ali se encontravam, tripulantes e passageiros sacudiram len�os brancos. No dia seguinte, foi comemorado a bordo o 64� anivers�rio do Imperador, que ficou muito comovido ao ouvir as palavras de sauda��o do comandante Pessoa em sua homenagem, quando este ergueu um brinde, ao lado dos presentes. dom Pedro respondeu com palavras tr�mulas:

- Bebo a prosperidade do Brasil!

Em Portugal

Em 7 de dezembro, com a bandeira do Imp�rio tremulando no mastro, o Alagoas finalmente chegou a Lisboa. Dom Pedro foi recebido com honras por seu sobrinho dom Carlos, e toda a corte portuguesa. Permaneceu na capital lusitana por 15 dias. Nesse curto per�odo, visitou o t�mulo de seu pai dom Pedro I (dom Pedro IV para os portugueses), na Igreja de S�o Vicente de Fora, onde rezou, e depositou, no mesmo local, uma coroa de flores no t�mulo do rei Lu�s, recentemente falecido, tendo participado de uma missa em inten��o da alma desse seu sobrinho. Foi a escolas superiores, associa��es cient�ficas, como o Museu do Carmo, a Escola Polit�cnica, o Curso Superior de Letras, onde assistiu aulas, o bairro lisboeta da Alfama, o Jardim Zool�gico, a Escola M�dica, o Hospital S�o Jos�, a Academia de Ci�ncias, o Mosteiro dos Jer�nimos, onde colocou uma coroa no t�mulo do poeta e escritor portugu�s Alexandre Herculano, e no hotel onde ficou, recebeu algumas visitas. Esteve tamb�m nos pal�cios das Necessidades, resid�ncia dos reis de Portugal, e de Queluz, em Sintra. Nesse permaneceu em sil�ncio por muito tempo, meditando, diante da cama aonde havia falecido seu pai, em 24 de setembro de 1834. Esteve ainda na Ajuda, pal�cio real de ver�o, e em Bel�m, resid�ncia oficial dos pr�ncipes reais, para retribuir as visitas do rei e da fam�lia real portuguesa fizeram no hotel Bragan�a, onde estava hospedado com sua fam�lia e comitiva.

Seu sobrinho dom Carlos seria coroado rei de Portugal em 28 de dezembro, e dom Pedro resolveu ent�o realizar uma visita � regi�o do Minho, no norte do pa�s. No dia 22, chegou a Coimbra, sendo recepcionado pelos estudantes e professores da velha universidade, e depois seguiu para a cidade do Porto. Seu �nico intuito era n�o perturbar os festejos reais. No Porto, enquanto visitava a Academia de Belas-Artes, no mesmo dia 28, a imperatriz dona Thereza Christina, com a sa�de debilitada, sofrendo de bronquite, amargurada e abalada com a situa��o causada com a proclama��o da Rep�blica, e o consequente ex�lio, faleceu repentinamente, aos 67 anos de idade. Avisado do grave estado, retornou rapidamente ao hotel, mas quando chegou sua companheira por longos 46 anos estava morta. Sua tristeza foi profunda; em sil�ncio, chorou a partida de sua amada Thereza Christina. Sua filha Isabel, com seu marido Conde D�Eu, e seus filhos tinham ido � Espanha visitar os tios, os condes de Montpensier que l� residiam, e retornaram a Portugal assim que receberam a triste not�cia do passamento da imperatriz.

O corpo de dona Thereza Christina, depois de embalsamado, e velado na igreja da Lapa - local onde permanece guardado o cora��o do imperador do Brasil, dom Pedro I - foi transportado de trem do Porto para Lisboa e depositado no Pante�o dos Bragan�as na Igreja de S�o Vicente de Fora, ao lado da segunda imperatriz do Brasil, dona Am�lia, com a presen�a da fam�lia real portuguesa, e autoridades. Ap�s os funerais de sua esposa, permaneceu poucos dias em Lisboa, seguindo para a Fran�a, hospedando-se em Cannes, para fugir do forte inverno europeu.

Ex�lio e morte do imperador

Menos de dois anos depois, o Imperador se encontrava em Paris, para participar das sess�es do Instituto de Fran�a, na Academia de Ci�ncias, da qual era s�cio. Em 24 de novembro, foi fazer um passeio em carruagem aberta at� Saint-Cloud, nas margens do rio Sena, onde apesar do frio do inverno resolveu fazer uma caminhada. No dia seguinte, amanheceu febril, contraindo um forte resfriado e seu estado de sa�de foi se agravando.

O �ltimo imperador do Brasil veio a falecer aos vinte minutos do dia 5 de dezembro de 1891, vitimado por uma pneumonia aguda no pulm�o esquerdo, em um modesto quarto do Hotel Bedford, localizado na Rue de l�Arcade n�mero 17, tr�s dias ap�s completar 66 anos de idade. Uma placa de bronze na parede da frente do hotel lembra o fato at� os nossos dias.

Dom Pedro 2�, em seu leito de morte, estava vestido com o uniforme de marechal do Ex�rcito imperial brasileiro, com as condecora��es do Brasil, Fran�a, Portugal, e um crucifixo em suas m�os, que havia recebido do Papa Le�o XIII. Um livro, significando que descansava sobre o conhecimento, foi colocado embaixo do seu travesseiro com terra de todas as prov�ncias (hoje estados) brasileiras. Um pedido que havia deixado por escrito.

O governo franc�s resolveu prestar as �ltimas homenagens de Estado ao Imperador brasileiro, e comunicou � princesa Isabel que aceitou as honras oficiais, mas o governo brasileiro protestou por essa atitude. No Brasil, ao saberem da morte do antigo monarca, o com�rcio fechou as portas, e v�rias missas foram realizadas por sua alma por todo o pa�s.

O corpo embalsamado do imperador foi levado para a Igreja da Madalena, situada perto da Pra�a da Conc�rdia, a poucos passos do hotel onde morreu. Ao meio dia de 9 de dezembro, com o caix�o coberto com a bandeira do Imp�rio brasileiro, colocado em um catafalco elevado na nave da igreja, foi celebrada as ex�quias solenes, pelo arcebispo de Paris, com a igreja totalmente lotada, e a presen�a da Casa Militar do presidente da Fran�a, Sadi Carnot, que o representou. Al�m dos presidentes da C�mara e do Senado da Rep�blica francesa, esteve presente o c�nsul-geral de Portugal em Paris, o escritor E�a de Queiroz, todo o corpo diplom�tico, dentre in�meras autoridades.

Pelas ruas de Paris, 80 mil homens das tropas francesas, oriundas de v�rias guarni��es militares situadas em torno da capital francesa, participaram das honras. O coche f�nebre, puxado por oito cavalos cobertos de negro, foi escoltado pela guarda republicana, acompanhado por uma banda de m�sica militar tocando a marcha f�nebre de Chopin, e nada menos que 300 mil pessoas, apesar do frio, foram prestar as derradeiras homenagens a dom Pedro 2�, uma das maiores realizadas a uma autoridade na hist�ria da Fran�a. Quando o cortejo passou pela Pra�a da Conc�rdia, foram prestadas as honras militares, e uma bateria de artilharia deu as salvas de estilo. O corpo foi transportado em um trem especial para Lisboa, com uma parada em Madrid, onde a Casa Real espanhola prestou tamb�m suas homenagens. Em Lisboa, o rei dom Carlos, toda sua fam�lia, o minist�rio, altas autoridades, e milhares de pessoas participaram tamb�m das honras e despedidas ao velho imperador brasileiro. Na igreja de S�o Vicente de Fora, o cardeal dom Jos� Sebasti�o de Almeida Neto, Patriarca de Lisboa, recebeu o esquife. Depois de rezada uma missa, o ata�de com o corpo do Imperador foi colocado ao lado do jazigo da imperatriz Thereza Christina, no pante�o da fam�lia Bragan�a.

No governo Epit�cio Pessoa, em 1920, foi revogado o decreto de banimento da fam�lia imperial, e no ano seguinte a bordo do encoura�ado S�o Paulo, da Marinha de Guerra, os restos mortais de dom Pedro 2� e de dona Thereza Christina foram trazidos para o Brasil. No ano de 1939, foram finalmente depositados em um t�mulo especialmente constru�do na catedral de Petr�polis, no estado do Rio de Janeiro, em solenidade presidida pelo ent�o presidente da Rep�blica Get�lio Vargas.

*Ant�nio S�rgio Ribeiro, advogado e pesquisador. � funcion�rio da Assembleia Legislativa do Estado de S�o Paulo.

Quais grupos sociais apoiaram os militares na Proclamação da República?

A Proclamação da República Foi nesse momento que os cafeicultores do Oeste Paulista, membros do Partido Republicano Paulista, se uniram aos militares, permitindo, assim, o golpe da Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 pelo Marechal Deodoro da Fonseca.

Porque os militares passaram a defender a República?

Resposta: O que motivou os militares a defender a República no Brasil foi a agitação abolicionista da década de 1870, chegou também ao Brasil a propaganda republicana. Durante a década de 1880, a ideia de República angariou simpatizantes no país, mas em número menor que o abolicionismo, e num ritmo muito mais lento.

Qual foi o grupo social envolvido na Proclamação da República?

A proclamação foi resultado da insatisfação de diversos grupos da sociedade com a monarquia, sobretudo os militares e a elite paulista, em relação à sua baixa representação na política. O movimento republicano ganhou força a partir da década de 1870 nesses dois grupos.

Quais os principais motivos que levaram a Proclamação da República?

Falta de perspectiva em um sistema que apresentasse mais liberdades econômicas, democracia e menos autoritarismo; Grande interferência de D. Pedro II nas questões religiosas, que acarretou em conflitos com a Igreja Católica; Censura imposta pelo regime monárquico aos militares.