Quando e onde ocorreu a revolta de vila rica

A riqueza gerada pela exploração das atividades mineradoras, durante o período colonial, não só inaugurou uma nova fase da história econômica do Brasil, como também promoveu uma radicalização dos instrumentos de controle e fiscalização da administração portuguesa. Em 1719, as chamadas Casas de Fundição foram criadas com o intuito de arrecadarem impostos sobre o ouro e combater o comércio ilegal.

Além de buscar maior margem de lucros na exploração mineradora, Portugal também obtinha grandes remessas financeiras pelo monopólio comercial estabelecido pelo Pacto Colonial. Esse monopólio obrigava os colonos a comprarem os produtos fornecidos pela metrópole, ao preço imposto por Portugal. Dessa maneira, a fiscalização metropolitana e os altos valores cobrados pelos produtos vindos de Portugal geraram a inconformidade dos colonos frente a essa situação.

A tensão entre os mineradores e a administração portuguesa chegou ao extremo quando, em 1720, uma multidão de cerca de 2000 pessoas, oriundas de Vila Rica, arrombou a casa do Ouvidor-Mor e seguiram até Vila do Carmo (atual cidade Mariana) para exigir do Governador, o Conde de Assumar, o fim das Casas de Fundição e a diminuição das taxas comerciais. Ao receber os revoltosos, o Conde de Assumar prometeu atender todas as exigências feitas.

Porém, essa promessa foi uma simples manobra para ganhar tempo. Em 14 de julho daquele mesmo ano, tropas portuguesas foram reunidas com o intuito de reprimir os participantes daquele movimento. Vários mineiros foram presos, entre eles, Felipe dos Santos, que foi condenado à morte. Depois de conter a revolta, o governo português resolveu desmembrar a região de Minas Gerais da capitania de São Paulo, com o objetivo de aumentar o controle sob a região.

Por Rainer Sousa
Mestre em História

A Revolta de Vila Rica reflete as revoltas nativistas. Durante as primeiras décadas após a descoberta de ouro na região das Minas Gerais, a colônia de Portugal na América passou a ser fiscalizada mais de perto pelos funcionários da Coroa Portuguesa.

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Ainda assim, a exploração do ouro, sua comercialização e circulação entre os habitantes das vilas da região das Minas sem que houvesse uma rígida fiscalização não agradavam a Metrópole portuguesa.

Ao mesmo tempo em que a criação de impostos e a intensificação de suas cobranças também não agradavam os habitantes da região.

Quando e onde ocorreu a revolta de vila rica
Imagem: Reprodução

Foi nesse contexto de tensão social que eclodiu a Revolta de Vila Rica, também conhecida como Revolta de Filipe dos Santos.

A Revolta de Vila Rica compõe o grupo de revoltas que denominamos de revoltas nativistas, pois, foram aquelas que tiveram como causa principal o descontentamento dos colonos brasileiros com as medidas tomadas pela coroa portuguesa e não necessariamente sua independência da coroa.

Entre as revoltas nativistas também estão a Revolta de Beckman (1684), a Guerra dos Emboabas (1707-1709) e a Guerra dos Mascates (1710-1711).

Revolta de Vila Rica: motivações

Em 1719, a Coroa Portuguesa passou a intensificar a cobrança do quinto através das Casas de Fundição.

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Esse “quinto” consistia na entrega à Metrópole da quinta parte (20%) do ouro extraído nas minas. Nessas Casas de Fundição, o ouro era fundido, em barras, o que facilitava o controle sobre sua circulação, garantia a eficiência da cobrança e evitava o contrabando, que geralmente era feito com o ouro em pó.

Essas medidas de maior controle de fiscalização desagradavam boa parte da população de Vila Rica, tanto as camadas mais altas da sociedade quanto as camadas mais baixas.

Dessa forma, grande parte da população da região mineira se via prejudicada com a cobrança do quinto.

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Insatisfeitos com a cobrança de impostos consideradas abusivas, em julho de 1720, os insurgentes deram início à Revolta de Vila Rica, liderados por Filipe dos Santos.

Filipe dos Santos era um rico fazendeiro da região que com seus discursos e ideias atraiu a atenção das camadas mais populares e da classe média urbana de Vila Rica.

Santos defendia sobretudo o fim das Casas de Fundição e a diminuição da fiscalização metropolitana.

Assim, os revoltos reivindicavam:
• O fim das casas de fundição;
• Redução de vários impostos e tributos;
• Fim do monopólio de produtos como fumo, sal, aguardente e gado.

A tomada de Vila Rica

Os grupos armados formados por escravos e homens livres desceram dos morros ao redor para o centro cidade, onde invadiram casas para ampliar o apoio à luta.

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Os insurgentes ainda invadiram a casa do Ouvidor da vila, destruindo papeis oficiais, à frente da multidão revoltosa e poucos dias depois, Vila Rica estava nas mãos dos revoltosos.

Além de extinguir as Casas de Fundição, os rebeldes também queriam forçar a retirada de D. Pedro de Almeida, Conde de Assumar, do cargo de governador da capitania das Minas, acusado de diversas corrupções.

Porém, como o Conde não se encontrava em Vila Rica, mas sim em Vila do Carmo, foi para lá que os revoltosos se dirigiram para verem atendidas as suas reivindicações.

A Revolta de Vila Rica chega ao fim

Conde de Assumar recebeu os revoltosos e iniciou negociações, afirmando que iria atender às reivindicações. No entanto, tal postura nada mais era que uma forma de ganhar tempo para reunir forças militares capazes de enfrentar os grupos que haviam se sublevado.

Diante disso, em 17 de julho de 1720, o Conde de Assumar decretou a prisão dos líderes da Revolta, após conseguir reunir cerca de 1500 homens armados que se dirigiram para Vila Rica.

Logo, em apenas dois dias, a rebelião foi reprimida e seus líderes presos. Entre 19 e 20 de julho, Filipe dos Santos foi julgado e condenado à morte pela participação na Revolta.

Santos foi arrastado pelas ruas da cidade e esquartejado. Pois, o objetivo era que sua morte servisse de exemplo aos que ousassem enfrentar os funcionários e a Coroa Portuguesa, principalmente no que se referia à cobrança de impostos sobre a exploração das riquezas minerais da colônia.

Após a supressão da Revolta, as consequências para Vila Rica foram a separação da região das minas da capitania de São Paulo e o aumento da fiscalização sobre a extração do ouro.

Referências

Conflitos internos na colônia: revoltas nativistas e emancipacionistas – Orlando Stiebler
História – Divalte Garcia Ferreira

Quando e onde ocorreu a revolta de vila rica

Por Luana Bernardes

Graduada em História pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e pós-graduada em Psicopedagogia Institucional e Clínica pela mesma Universidade.

Como referenciar este conteúdo

Bernardes, Luana. Revolta de Vila Rica. Todo Estudo. Disponível em: https://www.todoestudo.com.br/historia/revolta-de-vila-rica. Acesso em: 22 de October de 2022.

Exercícios resolvidos

1. [FUVEST]

A elevação de Recife à condição de vila; os protestos contra a implantação das Casas de Fundição e contra a cobrança de quinto; a extrema miséria e carestia reinantes em Salvador, no final do século XVIII, foram episódios que colaboraram, respectivamente, para as seguintes sublevações coloniais:

a) Guerra dos Emboabas, Inconfidência Mineira e Conjura dos Alfaiates.

b) Guerra dos Mascates, Motim do Pitangui e Revolta dos Malês.

c) Conspiração dos Suassunas, Inconfidência Mineira e Revolta do Maneta.

d) Confederação do Equador, Revolta de Felipe dos Santos e Revolta dos Malês.

e) Guerra dos Mascates, Revolta de Felipe dos Santos e Conjura dos Alfaiates.

Resposta: E
Observando cada uma das características presentes na questão, percebemos o trabalho com a motivação de diferentes revoltas desenvolvidas no período colonial. Na opção correta, vemos que as duas primeiras opções se tratam de revoltas de natureza nativista, sendo somente a Conjura dos Alfaiates, de 1798, o único movimento que defendia o fim das relações entre Brasil e Portugal.

2. [UFRN]

A Guerra dos Emboabas, a dos Mascates e a Revolta de Vila Rica, verificadas nas primeiras décadas do século XVIII, podem ser caracterizadas como:

a) movimentos isolados em defesa de ideias liberais, nas diversas capitanias, com a intenção de se criarem governos republicanos;

b) movimentos de defesa das terras brasileiras, que resultaram num sentimento nacionalista, visando à independência política;

c) manifestações de rebeldia localizadas, que contestavam alguns aspectos da política econômica de dominação do governo português;

d) manifestações das camadas populares das regiões envolvidas, contra as elites locais, negando a autoridade do governo metropolitano.

e) manifestações separatistas de ideologia liberal contrárias ao domínio português.

Resposta: C
Nos três movimentos situados, observamos a deflagração de movimentos que questionavam características e medidas pontuais da administração colonial portuguesa. Sob tal aspecto, nenhum desses eventos históricos advogava em favor da extinção do pacto colonial, mas apenas a revisão de alguns aspectos que contrariavam os interesses dos envolvidos.

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Quando ocorreu a revolta Vila Rica?

A Revolta de Vila Rica, também conhecida como Revolta de Felipe dos Santos, nome que faz referência a um tropeiro que dela foi partícipe, transcorreu entre os meses de junho e julho de 1720, tendo como motivo central a cobrança do quinto, isto é, a porcentagem reivindicada pela Coroa sobre o ouro que era extraído em ...

Quando e onde ocorreu a revolta Vila Rica?

A rebelião aconteceu na cidade de Ouro Preto, que antes era antes chamada de Vila Rica e onde haviam grandes jazidas de ouro. Decorria o ano 1720 (século XVIII), no período conhecido como Ciclo do Ouro, visto o ouro ser o fruto da principal atividade econômica do Brasil.

Como ocorreu a revolta da Vila Rica em 1720?

Causas, contexto e consequências. A Revolta de Vila Rica foi um movimento nativista que ocorreu em 1720, mais precisamente durante o Ciclo do Ouro. A revolta ocorreu devido ao aumento dos impostos pela Coroa Portuguesa.

Quando começou e terminou a Revolta de Vila Rica?

Aconteceu entre 28 de junho e 19 de julho de 1720, na então Vila Rica (Ouro Preto), cidade da Real Capitania das Minas de Ouro e dos Campos Gerais dos Cataguases, na Colônia do Brasil, pertencente a Portugal.