Que transformou o cristianismo em religião oficial do Império Romano?

Em março do ano 313, o imperador Constantino promulgou o Édito de Milão. Ele proclamou não somente o fim das perseguições aos cristãos, que já vinha ocorrendo em diversas regiões do império romano, mas deu aos fiéis dessa nova religião o direito de culto e de não honrar o imperador como uma divindade.

O Édito de Milão não transformou o cristianismo em religião oficial do império romano. Isso só aconteceu, sob o imperador Teodósio I, no final do século. Constantino proclamou pela primeira vez a liberdade religiosa como um direito da pessoa e não mais como uma liberdade coletiva de natureza étnica. Até então, nas culturas antigas, incluindo o judaísmo, cada povo devia poder prestar culto ao(s) deus (es) de seus ancestrais, segundos seus ritos ancestrais.

Em sua formulação, o Édito deu a todos, cristãos e outros, "a liberdade e a possibilidade de seguir a religião de sua escolha", "aberta e livremente". Essa definição de liberdade religiosa pessoal no Édito de Milão ainda ressoa neste início do século XXI. Hoje, esse direito do indivíduo está sendo negado em nome de pretensas normas sociais e até nacionais, de uma laicidade entendida como um ateísmo militante e, principalmente, cristofóbico e anticatólico.

Ao ser promulgado, o Édito de Milão reconheceu a comunidade cristã como parte integrante do império romano. Os bens da Igreja, que haviam sido confiscados e até revendidos, foram devolvidos. Todos os interditos legais que pesavam sobre o nome "cristão" foram revogados. Essa política de tolerância religiosa não era restrita aos cristãos, mesmo se foi graças à reflexão cristã que ela se construiu, desde a apologética de Tertuliano: a religião é o único domínio, no coração do homem, onde a liberdade estabeleceu seu domicílio. O Édito se aplicou a todos os cultos, greco-romanos, judeus, orientais e mesmo ao culto imperial. Constantino foi mais tolerante com os outros cultos do que os próprios cristãos de seu tempo.

Não se institucionalizou uma sociedade plurirreligiosa, mas uma coexistência pacífica em que o império buscou sua unidade e se engajou progressivamente na via da cristianização. Não pela força. Não imediata. Mas, pela persuasão e por uma expansão na conquista de almas. Nisso, a cristianização visou à unidade do império e à universalização de seus valores.

No que pese as contradições dos relatos históricos envolvendo a conversão de Constantino ao cristianismo, antes ou depois da decisiva batalha da ponte de Milvius no ano 312, seu Édito marcou o início de uma série de eventos históricos: em 315, a inauguração do arco de Constantino em Roma; em 324, a construção de Constantinopla; em 325, o concílio de Nicéia; em 327, a presença de sua mãe Helena na Terra Santa etc. O batismo de Constantino só ocorreu mesmo em 337, ano em que também veio falecer.

Constantino arriscou-se politicamente ao eliminar a obrigatoriedade de culto ao imperador. Foi uma perda autoconsentida de poder. E acertou também ao fundar Constantinopla, onde seu império resistiu aos bárbaros, sem sucumbir, até o tempo da expansão árabe. Acabou declarado santo, e é festejado em 21 de maio. Deveria ser em março na data do Édito!

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*Evaristo Eduardo de Miranda é doutor em Ecologia e pesquisador da Embrapa.

Que transformou o cristianismo em religião oficial do Império Romano?

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Édito de Tessalônica

Que transformou o cristianismo em religião oficial do Império Romano?

Teodósio I
Propósito Estabeleceu a religião católica como religião de estado do Império Romano
Local de assinatura Tessalônica
Signatário(a)(s) Graciano, Valentiniano II e Teodósio
Criado 27 de fevereiro de 380 (1 642 anos)

O Édito de Tessalônica (português brasileiro) ou Tessalónica (português europeu) ou Salonica, também conhecido como Cunctos Populos ou De Fide Catolica foi decretado pelo imperador romano Teodósio I a 27 de fevereiro de 380 d.C.[1][2][3] pelo qual estabeleceu que o cristianismo tornar-se-ia, exclusivamente, a religião de estado, no Império Romano,[4] abolindo todas as práticas politeístas dentro do império e fechando templos pagãos.[5][6]

Constantino e o fim da perseguição[editar | editar código-fonte]

Nos primórdios do século IV, Constantino terminara com a clandestinidade dos cristãos, outorgando-lhes certos privilégios e permitindo a construção de grandes templos. Em 313 d.C., através do Édito de Milão, o imperador decretara a liberdade de culto religioso a toda manifestação de crença, inclusive cristã, e o fim do paganismo como religião oficial do Império Romano.

Que transformou o cristianismo em religião oficial do Império Romano?

Em troca disto, Constantino participou das disputas que já existiam no seio da igreja, convocando em 325 d.C. o Concílio de Niceia. Neste concílio foram desterradas as teses arianas. Apesar disso, o cisma ariano prolongar-se-ia ao menos até o século VI, e não terminaria até a morte do último dos monarcas arianos: O rei visigodo Leovigildo. Do Concílio de Niceia originar-se-ia o chamado Credo Niceno, último ponto de encontro entre as igrejas do Oriente e Ocidente.

O mesmo imperador Constantino foi o primeiro governante do Império Romano de credo cristão, embora não fosse batizado até pouco antes de falecer. Com ele começava uma nova época para a igreja, e em transcurso do século IV a sua influência nas esferas do poder aumentaria, apesar do parêntese de três anos que implicou o governo de Juliano, durante o qual o paganismo foi restaurado, porém em 380 d.C., através do Édito de Tessalônica, o cristianismo tornou-se na religião oficial tanto no Oriente quanto no Ocidente.

O Império do Ocidente em finais do século IV[editar | editar código-fonte]

De Niceia, e apesar das fortes disputas que não se calaram com este concílio e que enfrentavam a igreja oriental com a de ocidente pela supremacia hierárquica, o culto cristão conseguira medrar em todo o território do império. Porém, embora a sua implantação fosse elevada nas classes dominantes, ainda tinha pouca penetração entre as classes populares e os estamentos militares.

O imperador Teodósio herdara um império dividido e sumido numa profunda crise. Após longos anos de desordem do século anterior, Diocleciano iniciara a divisão do império em uma metade oriental, mais rica e politicamente estável, e uma metade ocidental menos pujante na sua economia e acossada pela pressão dos povos bárbaros procedentes da Germânia. Apesar da reunificação de Constantino, a queda da metade ocidental e a perda nesta da autoridade imperial eram já iminentes.

O Édito de Tessalônica[editar | editar código-fonte]

A 24 de novembro de 380 d.C., fazia-se público o édito nos seguintes termos:[a]

(em português:)
Édito dos imperadores Graciano, Valentiniano (II) e Teodósio Augusto, ao povo da cidade de Constantinopla.
"Queremos que todos os povos governados pela administração da nossa clemência professem a religião que o divino apóstolo Pedro deu aos romanos, que até hoje foi pregada como a pregou ele próprio, e que é evidente que professam o pontífice Dámaso e o bispo de Alexandria, Pedro, homem de santidade apostólica. Isto é, segundo a doutrina apostólica e a doutrina evangélica cremos na divindade única do Pai, do Filho e do Espírito Santo sob o conceito de igual majestade e da piedosa Trindade. Ordenamos que tenham o nome de cristãos católicos quem sigam esta norma, enquanto os demais os julgamos dementes e loucos sobre os quais pesará a infâmia da heresia. Os seus locais de reunião não receberão o nome de igrejas e serão objeto, primeiro da vingança divina, e depois serão castigados pela nossa própria iniciativa que adotaremos seguindo a vontade celestial. Dado o terceiro dia das Kalendas de março em Tessalônica, no quinto consulado de Graciano Augusto e primeiro de Teodósio Augusto.

Com este édito, o Império Romano na íntegra passava a ter uma nova religião oficial depois de 67 anos de liberdade de culto. O Panteão Romano fora complementado ao longo de muitos séculos com os deuses, deidades e lares domésticos, com o culto aos próprios antepassados e até mesmo com divindades pré-romanas que foram assimiladas durante o processo de romanização em muitos lugares do império. Tudo isto devia ser agora abandonado no culto a uma religião monoteísta e as normas morais que a acompanhavam.

O cesaropapismo[editar | editar código-fonte]

Que transformou o cristianismo em religião oficial do Império Romano?

Contudo, esta oficialização do culto também não beneficiou totalmente a Igreja. Como máxima autoridade do império, Teodósio incluiu o sacerdócio nos funcionários públicos, o que na prática os situava sob a sua autoridade.

No ano seguinte da promulgação do Édito de Tessalônica, o mesmo imperador Teodósio convocava o Primeiro Concilio Ecumênico de Constantinopla. O seu objetivo era conciliar a ortodoxia cristã com os simpatizantes do arianismo e tratar a problemática da heresia macedônica. Também confirmar o credo Niceno como a doutrina oficial da igreja. Na realidade, as teses arianas foram de novo recusadas, e posteriormente foi emitido um novo édito imperial que dava caráter legal às conclusões do concílio.

Amostra das fortes tensões geradas neste período entre Igreja e Estado é a excomunhão que o mesmo imperador sofreria em 390 d.C., decretada por Santo Ambrósio após a revolta e posterior matança em Tessalônica, onde teriam sido mortas cerca de seis mil pessoas. O imperador foi escarnecido em público pelo bispo de Milão, negando este a entrada na igreja. Após uma longa penitência e como compensação, o imperador decretou em 392 d.C. a proibição dos sacrifícios pagãos, e uma imensa massa da população viu-se obrigada a professar uma religião não muito acorde com os costumes sociais e morais da sua civilização. Ao amparo desta nova proibição começou uma forte repressão contra a população pagã, que teve a sua culminação na segunda destruição da biblioteca de Alexandria e do grande templo de Serapis por uma multidão encabeçada pelo patriarca da cidade, Teófilo.

Ver também[editar | editar código-fonte]

  • Cristianismo
  • Primeiro Concílio de Niceia
  • Segundo Concílio de Niceia
  • Édito de Constantino
  • Édito de Milão

Notas[editar | editar código-fonte]

[a] ^ IMPPP. GR(ATI)IANUS, VAL(ENTINI)ANUS ET THE(O)D(OSIUS) AAA. EDICTUM AD POPULUM VRB(IS) CONSTANTINOP(OLITANAE). Cunctos populos, quos clementiae nostrae regit temperamentum, in tali volumus religione versari, quam divinum Petrum apostolum tradidisse Romanis religio usque ad nuc ab ipso insinuata declarat quamque pontificem Damasum sequi claret et Petrum Aleksandriae episcopum virum apostolicae sanctitatis, hoc est, ut secundum apostolicam disciplinam evangelicamque doctrinam patris et filii et spiritus sancti unam deitatem sub parili maiestate et sub pia trinitate credamus. Hanc legem sequentes Christianorum catholicorum nomen iubemus amplecti, reliquos vero dementes vesanosque iudicantes haeretici dogmatis infamiam sustinere ‘nec conciliabula eorum ecclesiarum nomen accipere’, divina primum vindicta, post etiam motus nostri, quem ex caelesti arbitro sumpserimus, ultione plectendos. DAT. III Kal. Mar. THESSAL(ONICAE) GR(ATI)ANO A. V ET THEOD(OSIO) A. I CONSS.(Código Teodosiano 16.1.2)

Referências

  1. Simón, Francisco Marco (2002). Religión y propaganda política en el mundo romano (em espanhol). [S.l.]: Edicions Universitat Barcelona
  2. «Cópia arquivada». Consultado em 30 de maio de 2019. Arquivado do original em 20 de junho de 2012
  3. «Fourth Century Christianity » Imperial Laws and Letters Involving Religion, AD 364-395». Consultado em 27 de fevereiro de 2021
  4. Theodosian Code XVI.i.2, Medieval Sourcebook: Banning of Other Religions by Paul Halsall, June 1997, Fordham University, retrieved 2007-09-04
  5. Emperor Theodosius I. «"IMPERATORIS THEODOSIANI CODEX Liber Decimus Sextus"» (web). ancientrome.ru. Consultado em 4 de dezembro de 2006
  6. R. Gerberding and J. H. Moran Cruz, Medieval Worlds (New York: Houghton Mifflin Company, 2004) p. 57

Bibliografia[editar | editar código-fonte]

  • Constantinopla (Historia Universal Asimov, 7), Isaac Asimov, Alianza Editorial, ISBN 84-206-3533-2
  • Enciclopedia Labor. Tomo V: El hombre a través del tiempo (I). Roma, pág. 221 - Ed. Labor, 1958

Quem transformou o cristianismo em religião oficial do Império Romano?

A partir do ano 313 da nossa era, graças ao Edito de Milão promulgado por Constantino Magno, o culto cristão passa a ser permitido em todo o Império. No mesmo século IV d.C., no ano de 384 em função do Edito da Tessalônica, de Teodósio Magno, o cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano.

Como foi o processo de ascensão do cristianismo a religião oficial do Império Romano?

O cristianismo começou a espalhar-se a partir de Jerusalém, e depois em todo o Oriente Médio, acabando por se tornar a religião oficial da Armênia em 301, da Etiópia em 325, da Geórgia em 337, e depois a Igreja estatal do Império Romano em 380.

Qual imperador romano adotou o cristianismo como religião oficial do Império Romano Quiz do Milhão?

Pois em 27 de fevereiro de 380 o imperador bizantino Teodósio 1º (347-395) promulgou um decreto declarando o cristianismo religião de Estado e punindo o exercício de cultos pagãos.

Quem foi o primeiro imperador romano a se converter ao cristianismo?

Constantino I (272-337) foi o primeiro imperador cristão de Roma. Iniciou a construção de Constantinopla, sobre a antiga cidade de Bizâncio, e em 330 inaugurou a nova capital do Império.