Quem foi Charcot e qual a sua importância para Freud na construção da psicanálise?

Por Ale Esclapes¹

Foi sob a batuta de Charcot em Salpetriere, um hospital em Paris, que a histeria foi parar nos laboratórios. Primeiramente em experiências envolvendo a hipnose e depois utilizando a corrente elétrica. Em ambos os casos o objetivo era reproduzir os sintomas em um ambiente controlado. Seu pensamento é vasto e eu separei apenas o que nós vamos utilizar futuramente nos nossos vídeos.

Se você acompanhou o vídeo sobre Mesmer e o Hipnotismo, você já sabe que Braid descobriu que os os sintomas histéricos poderiam ser induzidos por hipnose. Quando vemos o quadro mais famoso de Charcot dando uma demonstração desse fenômeno, podemos imaginar Freud na platéia - na verdade ele não estava.

Durante anos Charcot estudou sistematicamente a histeria chegando a algumas conclusões. Uma delas é que a histeria era causada por um trauma, e que este ocorria em um estado de auto-sugestão - o sujeito tinha uma pré-disposição para esse estado. Entre o trauma e o surgimento dos sintomas existia um período de incubação da doença, que poderia durar anos.

Ele também descobriu que o ataque é composto por quatro fases: a) A aura b) o ataque c) a clonagem d) a resolução.

Sob sua batuta se criou o que se chama “A grande histeria”, um conjunto nosológico muito maior do que na psicanálise se convencionou de histeria. Algumas transtornos hoje chamados de psicóticos e quase todos os quadros neuróticos, por exemplo, estava sob esse grande guarda-chuva chamado “A grande histeria”.

Um ponto importante é que ele acreditava que a pessoa era pré-disposta, ou seja, ela não tinha “responsabilidade” por ser histérica. Ao mesmo tempo, caso surgisse no futuro, em função do período de incubação, não poderia se falar em trauma atual na “grande histeria”.

No caso de uma neurose provocada por um trauma atual, se convencionou chamar de “neurose atual”.

O que aconteceu com Charcot e a “Grande Histeria”? Hippolyte Bernheim (1837 - 1919) vai denunciar que aquilo que acontecia em Salpetriere era um grande engano. Por que? Você que acompanha nossa série, lembra que quando falamos sobre a histeria nos tribunais da inquisição, aprendemos que a histeria clona outras doenças?

O que aconteceu é que em Salpetriere as histéricas eram misturadas com os epilépticos. Logo, elas reproduziam sistematicamente esses doentes. Outra forma de falar em clonagem, é dizer que na histeria o paciente é fortemente sugestionável. Para Bernheim a histérica apenas reproduzia o que os médicos gostariam que elas fossem, num jogo de espelhos. Segundo ele Salpetriere era um grande jogo de sugestões.

Vamos definir sugestão aqui para que não haja dúvidas: “Sugestão é introduzir uma idéia no cérebro e ele aceitá-la.” Não é necessário nenhum estado especial para isso acontecer segundo Bernheim. Ele admite que nem todos são sugestionáveis, e portanto, esse método tem seus limites.

¹Psicanalista, professor, escritor e diretor da Escola Paulista de Psicanálise-EPP e do Instituto Melanie Klein-IMK. Autor do Livro "A pobreza do Analista e outros trabalhos 1997-2015" e organizador da Coleção Transformações & Invariâncias.

As neurose são perturbações nervosas sem lesão anatômica nem sintomatologia definida. O que deixava desnorteada a medicina e a Anatomia Patológica.

Charcot estava procurando uma correlato orgânico nas manifestações histéricas. Ele muda esse ponto de vista e declara que a histeria escapa mesmo às mais profundas investigações anatômicas. Mas consegue ver nessa patologia uma sintomatologia definida e classifica a histeria no campo das perturbações fisiológicas do sistema nervoso e é a partir daí que ele começa a utilizar a hipnose como forma de intervenção clínica.

Quem foi Charcot e qual a sua importância para Freud na construção da psicanálise?
A histeria já chamava a atenção de Freud e em 1885 ele vai a Paris assistir ao curso que Charcot ministrava na Sapêtriére, “e adere entusiasticamente ao modelo fisiológico oferecido por ele para a histeria”.

Dois aspectos importantes dessa neurose já estavam claros para Freud e para Charcot: o fato de que a histeria não era uma simulação, que ela era uma doença funcional com um conjunto de sintomas bem definidos sendo tanto uma doença feminina como masculina, desfazendo a necessária relação que existia entre histeria e o sexo feminino.

Um grande problema ainda continuava, era preciso estabelecer um quadro de sintomatologia regular para a histeria. “Caso isso fosse obtido, a histeria seria incluída no campo das doenças neurológicas; caso a tentativa não fosse coroada de êxito, o histérico seria identificado ao louco” (Roza, 2005, p.33)

Charcot passa então, a produzir um quadro sintomático regular para o histérico, através do uso de drogas e da hipnose, isso traria a histeria para o campo da neurologia, retirando-a da psiquiatria. Mas os pacientes passaram a oferecer muito mais do que lhes era solicitado. A sugestão hipnótica permite um controle da situação, “mas isso evidencia ao mesmo tempo que a histeria nada tinha a ver com o corpo neurológico, mas com o desejo do médico”.

Charcot tenta explicar esse impasse através da teoria do trauma, que há uma predisposição do paciente à sugestão no transe hipnótico, que é proporcionada em decorrência de um trauma psíquico. E esse trauma deve ser localizado na história de vida do paciente, feito através do relato que o histérico faz de sua vida.

E nas histórias de vida o elemento sexual começou a se destacar, mas essa possibilidade não foi aceita por Charcot. Isto vai se constituir o elemento central da teoria freudiana, são as narrativas dos histéricos, aliado ao ouvido atento e curioso de Freud que vai dar corpo a teoria psicanalítica.

Fonte: Psicologado - Artigos de Psicologia

Qual a importância de Charcot?

Charcot contribuiu significativamente no século XIX na descrição de várias enfermidades neurológicas, em particular na área dos distúrbios do movimento. Charcot contribuiu de forma exponencial na descrição clínica minuciosa da doença de Parkinson, além de introduzir o primeiro tratamento farmacológico.

Qual a importância do médico francês Charcot para a origem da psicanálise?

As contribuições de Charcot e de Freud Charcot possibilitou avanços no tratamento da histeria, contribuindo para a humanização dos mesmos e também para a desmistificação de seus sintomas, para que a histeria se tornasse objeto da ciência médica.

Qual a influência de Martin Charcot para o desenvolvimento da psicanálise de Freud?

Então, podemos afirmar que Charcot foi o precursor da psicanálise porque inspirou ideias que Freud, posteriormente, desenvolveu para dar-lhes uma forma mais refinada. Dessa forma, Charcot foi uma grande influência para a criação da psicanálise, embora a história não o considere o pai da mesma.

O que resultou do encontro entre Freud e Charcot?

Um dos pontos destacados por Freud (1956[1886]/1996) é de que Charcot, através de seu estudo sobre o hipnotismo, pôde formular uma "espécie de teoria da sintomatologia histérica" (p. 45), segundo a qual os sintomas histéricos seriam considerados "reais", e não simulados.