Quem são considerados os herdeiros da geografia grega?

Na Antiguidade, a Geografia desempenhou papel indispensável para a sobrevivência do homem, principalmente na orientação e na localização de fenômenos naturais. Baseada na pura descrição da Terra, registrou as migrações, os solos férteis, os locais de caça, as fontes de água, as estações do ano entre outros.

Ao entrar em contato com a natureza e dela retirar seu sustento, o homem primitivo impunha alterações ao meio em que vivia. Apesar de pequenas se comparadas às modificações atuais, não podemos desconsiderá-las. Os homens na pré-história já conheciam o mecanismo das estações, apontando noções sobre o sistema de translação, bem como de orientação, pois eram capazes de se deslocarem no espaço por longos percursos.

O homem primitivo possuía também, uma visão estratégica de ocupação do espaço, como é o caso dos quéchuas na América Andina, pois segundo Andrade30, estabeleceram suas cidades em locais estratégicos, tanto sob o ponto de vista militar como de abastecimento de alimento, sendo também grandes construtores de estradas revestidas de pedras que partiam da capital em direção aos quatro pontos cardeais, construídas para facilitar o controle dos povos vencidos.

Não se pode afirmar que eles fizessem ou cultivassem uma ciência geográfica, mas em seu saber prático e em suas crenças, eles cultivavam ideias de ordem geográfica e deram início a um tipo de conhecimento que mais tarde seria desenvolvido em uma ciência, em um saber acadêmico.

Já os povos orientais, não só desenvolveram o conhecimento empírico da Geografia, como também realizaram observações e estabeleceram estudos matemáticos que deram origem ao conhecimento sistematizado do mundo.

Conforme aponta Andrade, as ideias geográficas, em coexistência com as de outras ciências, se desenvolveram a partir dos conhecimentos práticos de exploração da Terra e das observações dos viajantes, ao lado da sistematização de pensadores, filósofos e matemáticos. Os filósofos gregos deram uma grande contribuição para o desenvolvimento do pensamento humano. Através da observação cuidadosa, os gregos descreveram a disposição da Terra e o costume de seus habitantes. Heródoto (484-525 a.C) “pai da História”, sempre colocou os acontecimentos históricos dentro de seu contexto geográfico, fazendo a descrição das regiões e países cuja história estudou.

Privilegiados pela sua localização, aguçados pela curiosidade, coletaram e catalogaram informações de diferentes lugares, passando também a teorizar a base deste conhecimento, pode-se assim afirmar que os gregos foram os primeiros a sistematizar o conhecimento geográfico. Também, a partir do conhecimento das civilizações mesopotâmicas, os gregos aprenderam a distinguir e identificar os astros. Com base no movimento de revolução da Lua, elaboram um calendário, agrupando os dias da semana de acordo com as fases da Lua.

Estrabão, foi o primeiro a utilizar a palavra Geografia, escreveu um livro, em 17 volumes, intitulado Geografia, em que se baseando nos conhecimentos da época, procurou descrever o mundo conhecido. Enquanto que muitos escritores gregos apenas descreviam os locais conhecidos diretamente, outros procuraram reunir informações fornecidas por pessoas de áreas de conhecimento diferentes, filósofos e matemáticos discutiam sobre a esfericidade, forma e tamanho da Terra, ou sobre a distribuição das superfícies líquidas ou das populações.

Aristóteles, para comprovar a esfericidade da Terra, levanta as seguintes provas ou evidências: o fato de a sombra projetada pela terra na Lua, durante os eclipses serem circulares; o fato de a matéria tender a concentrar-se em torno de um centro comum e de apenas poder se explicar as mudanças que se produzem no horizonte e o aparecimento das constelações na esfera celeste por ser a Terra uma esfera.

Nos trabalhos de Geodesia, apresentados por Eratóstenes para medir as dimensões do planeta, partiram das ideias de Aristóteles sobre a esfericidade do planeta. Admitindo uma superfície esférica, Eratóstenes se baseou na medida de inclinação dos raios solares em um poço, em dois pontos diferentes, situados na mesma longitude (Sienna e Alexandria) para estabelecer que a esfera terrestre possuía 250.000 estádios, ou seja 42.000 Km, muito próxima a aceita atualmente, ou seja 40.070 Km.

Ainda na Antiguidade, merecem destaque os trabalhos dos romanos para o desenvolvimento da Geografia, embora Andrade (1987) admita ser difícil separar as contribuições gregas das romanas. Os romanos procuraram desenvolver uma

Geografia muito mais descritiva, em razão das necessidades de organizarem seu império e da atividade comercial. Pompónio Mela e Plínio foram pessoas bastante preocupadas em descrever o império romano, procurando indicar a localização das áreas ricas em produtos comerciais e as vias de acesso às mesmas.

Segundo Sodré, não havia geografia nem geógrafos na Antigüidade e os elementos geográficos estavam misturados, quando não subordinados a outros.

Com a destruição do Império Romano no Ocidente e consequente divisão entre os reinos “bárbaros”, ocorre uma reorganização do espaço medieval, novas fronteiras surgem enquanto outros desmoronam. As grandes migrações realizadas pelos germanos em territórios outrora dominados pelos imperadores do Ocidente, destruíram cidades, depredaram o campo, reorganizaram novos centros comerciais e administrativos, permitiram a formação de feudos, converteram-se ao cristianismo.

Em razão desta reorganização espacial, ocorreu durante a Idade Média uma regressão do pensamento científico na Europa Medieval. “A justificação dogmática da fé cristã substituiu a livre indagação intelectual. A imagem do mundo era feita segundo a Bíblia”. Consequentemente, o pensamento grego quando contraditório aos interesses da igreja era suprimido, por ser considerado pagão.

Por serem os herdeiros da cultura grega, será no mundo árabe que a geografia passa a se desenvolver, destacando figuras como Edrisi e principalmente Ibn Khaldum. Conforme Heinsfeld, o conhecimento geográfico era agradável a Alá, porque facilitava a peregrinação anual dos fiéis até Meca, bem como auxiliava nas “Guerras Santas”. É no Renascimento que ocorreu a retomada do pensamento geográfico clássico. A geografia de Ptolomeu é traduzida para o latim e logo se torna conhecida em todos os meios interessados.

Por volta dos séculos XII e XIV, o comércio alcançava um desenvolvimento bastante significativo. A burguesia alia-se aos reis absolutos e passa a enfrentar o poder dos senhores feudais. Com o aumento da influência da burguesia, ocorre um crescimento das cidades com funções comerciais e enfatiza-se o poder do dinheiro em relação à propriedade da terra. A vida feudal se desagrega e os servos libertos passam a compor uma classe de assalariados.

Para facilitar o enriquecimento e atender as necessidades da burguesia, foi necessário a unificação das nações, o surgimento de monarquias absolutas e ampliação do mercado, tanto dentro do continente europeu como além-mar. Estimulando assim as expedições que procuravam novas terras, novos povos, novas culturas e novas mercadorias, possibilitando a difusão cada vez maior do comércio.

Quando o conhecimento de novas terras demonstrou o erro de Ptolomeu, começou a surgir outra imagem do mundo. Novas projeções de mapas, principalmente de Gerhard Kremer, conhecido como Mercator.

No final do século XVIII, os europeus já possuíam conhecimento da distribuição das terras e das águas. Organizados dentro dos padrões capitalistas exploram as áreas conquistadas, impondo novas relações e novas formas de vida aos povos conquistados, fazendo predominar o modo de produção capitalista. Os conhecimentos geográficos neste momento são numerosos, embora esparsos e interligados a várias ciências afins.

Na Astronomia, Copérnico reformula a concepção do sistema planetário, apresentando o sistema heliocêntrico. Kepler, através da mecânica celeste, passa a admitir que os planetas descreviam órbitas elípticas e não circulares como proposta por Copérnico. Na Geologia, as preocupações passam a ser com a estrutura da Terra, a formação das rochas, com os vulcões e outras manifestações da crosta terrestre.

No entanto, para a Geografia, a figura central deste período foi a do médico holandês, Bernardo Varenius. Em seu livro Geografia Geral, reconheceu a necessidade de nova organização do conhecimento científico. Varenius assinalou um dualismo na geografia que perdura, até certo ponto, ainda hoje. Para ele, a geografia trata, em parte, de processos e fenômenos que são de natureza exclusivamente física, como os fenômenos relacionados com a litosfera, atmosfera, hidrosfera. Todos esses processos e as características deles resultantes, podem ser estudados pelos métodos usados na Física e Matemática, e podem ser comprovados com exatidão científica. Por outro lado, a Geografia também considera os fenômenos socioculturais, que pela sua própria natureza não se prestam a esse tipo de verificação. As generalizações relacionadas com os grupos humanos têm validade mais limitada e constituem sempre afirmações de probabilidade e não uma certeza. Devido a esse dualismo, Varenius propôs uma divisão entre a Geografia

Geral, que se ocuparia dos fenômenos físicos e a Espacial que teria como foco a interação entre os fenômenos físicos e humanos. Varenius, sugeria que a Geografia Geral (sistemática, tópica) examinasse as questões físicas que podem ser explicadas por “leis”, ao passo que a Geografia Espacial, por envolver o homem imprevisível, deveria continuar principalmente descritiva. A Geografia também será abordada pelos pensadores iluministas, porém segundo Moraes “ao se analisar as colocações desses autores, observa-se que a maior parte dos temas tratados pouco ou nada têm em comum com o que posteriormente será considerado Geografia” ou ainda, segundo Sodré, faz parte da Pré-História da Geografia.

Montesquieu, ao estudar os climas, demonstra-se como um precursor do determinismo, ao afirmar que os mesmos tinham grande importância na forma de pensar e de agir dos homens. Newton, ao formular o princípio da lei da gravitação universal, explicou como os homens podiam viver sem se desprender da Terra.

De maneira geral pode-se perceber que mesmo antes de instituída de caráter científico, a Geografia está diretamente ligada aos interesses das classes dominantes. Tais conhecimentos adquiridos algumas vezes por meio de viagens ou expedições e traduzidos em forma de descrição ou relato, ou em alguns casos carregados de uma certa cientificidade determinando certas leis, teorias irão de uma maneira ou outra explicar os fenômenos naturais e até humanos. Mas, sem dúvida, tal conhecimento terá um grande poder estratégico, tanto para definição de defesas ou conquistas de territórios, como também poder político para difundir uma determinada ideologia, ou ainda econômico para garantir o enriquecimento de determinados grupos.

Leia Também Sobre:

  • Floresta boreal ou taiga: localização e características
  • Principais agentes externos do relevo
  • Fatores de Localização das Indústrias
  • Regiões mais industrializados do mundo
  • Causas e consequências da erosão
  • Geografia como ciência
  • Divisão da Geografia
  • Estrutura interna e externa da Terra: crosta, manto e núcleo
  • Geografia Humanística

Referências bibliográficas

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia Ciência da Sociedade: uma Introdução à Análise de pensamento Geográfico. São Paulo: Atlas, 1987;HEINSFELD, Adelar. A evolução do Pensamento geográfico: uma síntese histórica. Joaçaba:Irae/Unoesc, 1998;MORAES, Antonio C. R. Geografia Pequena História Crítica. 17.ed. São Paulo: Hucitec, 1999;SODRÉ, Nelson Werneck. Introdução à Geografia. 8.ed. Petrópolis: Vozes, 1992.

Quem são considerados os herdeiros da Geografia grega e quais foram seus principais personagens?

Os grandes herdeiros da geografia grega foram os árabes e isso resultou em muitos trabalhos traduzidos do grego para o árabe. Esse povo acabou recuperando e aprofundando o estudo da geografia e, já no século XII, Al-Idrisi apresentaria um sofisticado sistema de classificação climática.

Quem foi considerado o pai da Geografia na Grécia Antiga?

Um dos estudiosos mais lembrados é Heródoto (484-420 a.C), conhecido como “pai da história e da geografia”, sendo um dos primeiros a realizar viagens “científicas”.

Quem são os autores considerados os pais da Geografia?

Ao início do século XIX, um conjunto de pressupostos histórico para a sistematização da Geografia já havia ocorrido. A Geografia irá surgir como ciência no século XIX, na Alemanha. Os autores considerados como os “pais” da Geografia são os alemães Alexander von Humboldt e Karl Ritter.

Quem foram os principais contribuintes da Geografia?

A cultura grega foi a primeira cultura conhecida a explorar ativamente a Geografia como ciência e filosofia, sendo os maiores contribuintes Tales de Mileto, Heródoto, Eratóstenes, Hiparco, Aristóteles, Estrabão e Ptolomeu.