Segundo Veiga (1996, p.13), Show
E continua neste raciocínio: “a principal possibilidade de construção do projeto político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto significa resgatar a escola como espaço público, lugar de debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva”(p.14). Para tal, tornam-se necessárias mudanças na lógica das relações da escola com as instâncias superiores, numa luta da escola para a descentralização, autonomia e qualidade. Nessa perspectiva, a escola “é vista como uma instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete no seu interior as determinações e contradições dessa sociedade” (VEIGA, 1996, p.16). Norteando a escola democrática, pública e gratuita, o projeto político-pedagógico funda-se nos princípios de igualdade de condições para acesso e permanência na escola; qualidade (técnica/formal e política) para todos; gestão democrática, rompendo a separação entre concepção e execução, com “ampla participação dos representantes dos diferentes segmentos da escola nas decisões/ações administrativo-pedagógicas” (VEIGA,1996, p.18); autonomia e liberdade, numa autonomia que se experimenta em situação e articulando limites e possibilidades, numa liberdade definida coletivamente; valorização do magistério, contemplando formação (inicial e continuada), condições de trabalho, remuneração. Alguns elementos devem ser analisados na construção do projeto político-pedagógico, dentre eles, segundo Veiga (1996, p.22):”as finalidades da escola, a estrutura organizacional, o currículo, o tempo escolar, o processo de decisão, as relações de trabalho, a avaliação”. Discorreremos apenas brevemente sobre cada um deles. Sobre as finalidades da escola, cumpre indagar quais os efeitos pretendidos e almejados, em termos legais, culturais, políticos e sociais, de formação profissional, humanística, ou seja, a escola deve refletir coletivamente sobre sua intencionalidade educativa, o que reforça a ideia de autonomia. A respeito da estrutura organizacional, deve-se refletir sobre o administrativo e o pedagógico. “A análise e a compreensão da estrutura organizacional da escola significam indagar sobre suas características, seus polos de poder, seus conflitos” (VEIGA, 1996, p.25). E ainda, “para realizar um ensino de qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que romper com a atual forma de organização burocrática que regula o trabalho pedagógico [...] que conduz à fragmentação e ao consequente controle hierárquico que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a ordem e a disciplina”(p.26). Quanto ao currículo, enquanto construção social do conhecimento, há a necessidade de interação entre sujeitos com objetivos comuns e opção por referencial teórico que os sustentem. O currículo não pode ser separado do contexto social, pois expressa uma cultura, historicamente situada. Segundo Veiga (1996, p.29),
O tempo escolar é um dos elementos constitutivos da organização do trabalho pedagógico, como no calendário escolar, o horário das aulas, numa organização segmentada. Essa compartimentação leva a relações sociais hierarquizadas e ritualizadas, dificultando a integração curricular. “É preciso tempo para acompanhar e avaliar o projeto político-pedagógico”(VEIGA, 1996, p.30). Quanto ao processo de decisão na escola, tende a ser orientado por procedimentos formalizados, relações hierárquicas de poder autoritário e centralizador. Esta estrutura precisa ser alterada, com mecanismos que estimulem a participação de todos no processo de decisão, visando à participação política de todos os envolvidos com o processo educativo da escola, o que poderia se dar através dos colegiados, processos coletivos e continuados de avaliação, dentre outros. Na busca de uma nova organização do trabalho pedagógico, as relações de trabalho no interior da escola deverão pautar-se pela solidariedade, reciprocidade, participação coletiva, favorecendo o diálogo, a comunicação, a descentralização do poder, construindo novas relações de poder e alterando a dinâmica da sala de aula e da escola. O projeto político-pedagógico precisa ser coletiva e constantemente avaliado, enquanto vinculado a aspectos políticos e sociais. Neste enfoque, a avaliação é um ato dinâmico que oferece subsídios ao projeto político-pedagógico e imprime direção às ações dos educadores e educandos. Segundo Veiga (1996, p.32), “a avaliação tem um compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia das propostas conservadoras”. Então, deve-se entender o projeto político-pedagógico da escola como uma reflexão de seu cotidiano, que em sua construção “requer continuidade das ações, descentralização, democratização do processo de tomada de decisões e instalação de um processo coletivo de avaliação de cunho emancipatório”(VEIGA, 1996, p.33). O projeto político-pedagógico (e sua construção) vincula-se à gestão da escola. Nesta construção, “sinaliza o processo educativo como construção coletiva dos professores envolvidos. E ainda, ao se constituir como processo, indica e reforça a função precípua da direção da escola e da equipe diretiva ou coordenadora de cuidar da ‘política educativa’, do alcance e da globalidade do processo educativo na escola e de liderá-lo, administrando a consecução dos objetivos”(BUSSMANN in VEIGA, 1996, p.38). Partindo do pressuposto que a escola é uma organização, três elementos devem ser sempre pensados em sua administração, a saber: sua missão/objetivo; seu público-alvo; o ambiente em que opera. Neste sentido, a ação administrativa da escola “se situa no espaço-tempo entre as decisões políticas que o processo educativo exige e a implementação dessas decisões”(BUSSMANN in VEIGA, 1996, p.41). Para que a prática democrática se efetive, deve ser precedida de discussão coletiva, em permanente atividade decisória e de acompanhamento, para que a própria decisão possa ser reformulada, visto não ser definitiva. Neste contexto, numa escola que ser quer democrática, a participação é elemento inerente e dentro deste coletivo a equipe diretiva, enquanto parte desse coletivo, necessita
Assim, na organização escolar, as questões éticas e administrativas relacionam-se à questão pedagógica, sendo indissociáveis do caráter formativo, que é a razão da ação escolar e deve ser expressa em seu projeto político-pedagógico. Nas relações existentes dentro da organização escolar, o conflito poderá ser fator de mudança adaptativa, gerando a sobrevivência da organização. Neste raciocínio, o conflito (nunca passividade e nunca demais turbulento) é considerado ingrediente gerador de socialização e conhecimento, logicamente inserido num contexto metodológico. Numa lógica de que “a educação é compromisso ético dos brasileiros para com os outros brasileiros”(BUSSMANN in VEIGA, 1996, p.48) , cujo objetivo é a dignidade e a qualidade de vida, ressalta-se a importância da escola pública, “em que as prioridades socioeducacionais dos cidadãos podem se concretizar”(p.49). Continuando neste raciocínio, Bussmann (in VEIGA, 1996, p.49), discorre ainda que
Considerando o exposto, torna-se claro que a função da escola não é ser administrada, supervisionada, mas sim ser o locus da prática pedagógica, seu espaço-tempo para relações dos sujeitos da aprendizagem, numa construção e reconstrução do saber. É aí que encontra sentido a gestão escolar, que deve viabilizar a construção do projeto político-pedagógico, através de formas democráticas de organização escolar, das relações que ocorrem nela. Nesta ótica, a participação dos colegiados e outras instituições escolares, desempenham importante papel na construção deste projeto. No entanto, Resende (in VEIGA, 1996), alerta para o descompasso entre o real e o discurso, entre o implícito e o explícito, na prática das escolas. E ainda, “no que diz respeito à escola, é preciso que as decisões institucionais, para se efetivarem, partam da prática cotidiana, sendo, portanto, necessário conhecê-la, identificando suas características e formas de expressão”(p.56).Acrescenta que “a cotidianidade será campo de desenvolvimento do poder criador e transformador e, também, da alienação”(p. 57). Agimos com base em nossa matriz histórica, nossa história de vida, nossos saberes e fazeres. Assim, a interdependência entre nossos paradigmas, as relações de poder na escola e o projeto político-pedagógico retrata aspectos divergentes, desde princípios filosóficos até atividades em sala de aula. Alguns desses paradigmas precisam ser quebrados, superados, transformados, para que se compreenda a realidade e nela se interfira. Hoje a família é outra, os alunos são outros e, no entanto, há professores que são sempre os mesmos. Nos dizeres de Resende (in VEIGA, 1996, p.62), “a escola necessita ‘oxigenar-se’ para não ser sufocada pelo fechamento que ela própria está gerando”. E continua, “a possibilidade de (re)formulação implica que se abra mão de dogmatismos, em detrimento de uma racionalidade mais plural, articulada, não-fragmentada [...] deve ser consequente a articulação com o poder de forma mais transparente e coerente”. O cansaço pedagógico leva os educadores a procurar receitas para o como, porém se este não for gestado no cotidiano, não será vivido. Para Resende,
Devemos ter clareza que não é o prescrito, mas o real, o que ocorre no cotidiano, que mostrará a democracia ocorrendo na escola, ou não. È preciso que exista coerência entre o pensar e o fazer. Retomemos o pano de fundo, da situação mundial e a brasileira, a partir de da década de 1980, com a ideologia neoliberal redefinindo as bases da exploração da classe trabalhadora, através de novas formas de organização do trabalho, repensando a organização do Estado, do trabalhador e da escola. Nesta ótica, a qualidade da escola interessa para que se atendam ao sistema ocupacional, pois se entende que o trabalhador precisa de capacidade de abstração, raciocínio, dentre outras habilidades. Continua o embate educar/explorar. Assim, na análise do projeto político-pedagógico e do cotidiano em que este se constrói, implica em analisar as relações de poder que ocorrem na escola, o que também implica pensar as formas de legitimação da sociedade capitalista. Nos dizeres de Foucault,
Já Gramsci busca no conflito, nas posições antagônicas, os fundamentos para explicar a ideologia[1]. Mostra o homem como síntese das relações sociais A forma como provê sua sobrevivência definirá a forma como ele existe, que, nas sociedades capitalista, vai caracterizar a sociedade dividida em classes. Num salto analítico, o trabalho escolar deve estimular o aluno a ser dirigente, o que exige a auto-disciplina. “Gramsci entende que as normas devem ser estabelecidas pela própria coletividade, o que na escola seria envolver a todos na definição de seu caminhar. Esta ideia é o germe da construção coletiva que deve permear as ações na escola” (RESENDE in VEIGA, 1996, p.72). Na contradição, nas formas de resistência geradas na escola, limitam-se algumas perspectivas, porém, por outro lado, permitem o acesso a saberes que podem levar a ultrapassar outras concepções. A solução dos problemas deve ser buscada dentro da própria realidade, compreendendo-a em sua pluralidade. Deve-se buscar um processo em que a comunidade busque o autoconhecimento e conheça também as realidades que influem em seu contexto. A escola necessita permitir e provocar a (re)construção do saber, pela relação entre as subjetividades. Desta forma, poderá provocar a construção coletiva de seu projeto político-pedagógico, capaz de atender às necessidades dos alunos e à mediação do saber, numa sociedade que se pretende mais justa e democrática. Um pressuposto para tal seria a formação dos educadores para autogestão de sua formação continuada, numa reflexão constante sobre seus saberes, seus fazeres, sua realidade. Outras necessidades seriam: análise dos documentos escolares, enfocando as relações de poder que contemplam; admissão de que a realidade é uma construção histórica e dinâmica; confrontar o dito e o feito. A questão da autonomia A aceitação da autonomia da escola implica compreender e atuar na realidade num “novo padrão de política, planejamento e gestão educacionais, tanto do ponto de vista da escola como dos sistemas de ensino”(NEVES in VEIGA, 1996, p.97). Ainda segundo esta autora, “a autonomia, como a liberdade, é um valor inerente ao ser humano: o homem não nasceu para ser escravo ou tutelado, mas para ser livre, autônomo”. Porém, como ser social, sua liberdade e sua autonomia relacionam-se às de outros. Portanto, liberdade e autonomia não são valores absolutos, mas valores que se definem numa relação de interação social. A autonomia da escola é um exercício de democratização de um espaço público, que coloca na escola a responsabilidade de prestar contas de seu fazer (ou não fazer) e que, ao aproximar-se das famílias, pode permitir a participação da comunidade. Desta forma, a autonomia não deixa de ser autonomia por considerar a existência e a importância das diretrizes de um sistema educacional. A autonomia da escola justifica-se no respeito à diversidade cultural[2] e à pluralidade brasileiras, nas desigualdades locais e regionais, na abertura à participação. Outra dimensão de autonomia contempla a organização, a operacionalidade, que poderia garantir maior racionalidade e melhoria da qualidade de serviços prestados. Numa perspectiva weberiana, teríamos o princípio da eficácia, que significa o alcance de resultados previamente definidos, não bastando no entanto alcançá-los, mas fazê-lo de maneira eficiente, com economia de tempo, recursos humanos[3], materiais e financeiros. Para Neves (in VEIGA, 1996, p. 101), “uma escola pública existe para prestar um serviço à sociedade e, quando os resultados que a escola atinge coincidem com os que a família e a comunidade esperavam dela, sua identidade é reforçada e legitima-se seu papel social”. A seu ver, a autonomia consolida-se em três eixos básicos, relacionados com as racionalidades interna e externa e articulados entre si: administrativo, pedagógico e financeiro. Todavia, o projeto político-pedagógico da escola engloba a totalidade do trabalho escolar e, portanto, abrange os três eixos. No eixo administrativo podemos destacar a forma de gestão, controles normativo-burocráticos, racionalidade interna (que engloba uma avaliação interna sistemática, não limitada ao aluno, mas a todo o trabalho escolar), administração de pessoal, administração de material, controle de natureza social. Neste, enquanto racionalidade externa, inclui-se a participação de pais e comunidade no planejamento, na administração e na avaliação da escola. O nível de participação pode acontecer como informação, presença, ativação ou participação. Quanto maior o grau de autonomia os dois últimos níveis estão mais presentes. O eixo pedagógico liga-se a identidade da escola, sua missão social, sua clientela, resultados e, portanto, à essência do projeto político-pedagógico. Abrange os seguintes aspectos: poder decisório referente à melhoria do ensino-aprendizagem, adoção de critérios próprios da vida escolar, pessoal docente, acordos e parcerias de cooperação técnica. O eixo financeiro trata da gestão de recursos e engloba três vertentes: dependência financeira, controle e prestação de contas e captação de recursos. Logicamente, não podemos dissociar autonomia financeira e qualidade da existência de recursos suficientes. Outra dimensão do conceito de autonomia refere-se ao papel dos agentes pedagógicos, pois quanto maior a autonomia as escolas tornam-se sujeitos ativos de sua própria história. Segundo Neves (in VEIGA, 1996, p. 107), “A autonomia, democratizando internamente a escola pública, valoriza o trabalho dos profissionais, realça sua competência técnica e cria condições mais favoráveis ao exercício de seu compromisso social, que é educar”. No entanto, precisamos lembrar da realidade atual, que engloba a divisão do trabalho, aumento das áreas-meio e do número crescente de exigentes burocratizantes, desvinculadas da realidade e que dificultam o andamento da instituição. Também é grave o desinteresse da classe política brasileira pela educação, pois sendo a educação emancipadora, dificulta a reprodução do modelo patrimonialista. A falta de investimentos na educação pública resulta na baixa qualidade do ensino e na desqualificação do profissional educador. No momento atual a população brasileira parece compreender a necessidade de participação no processo de definição das prioridades do Estado. Porém a autonomia, enquanto valoriza os agentes pedagógicos que atuam na escola, cobra-lhes o compromisso ético-profissional de servir ao público, porém, devemos ter claro que não somente uma nova ordem será capaz de modificar o panorama da escola pública. Para tal, seria necessário investimento e a valorização dos profissionais, com plano de carreira, salário digno, educação continuada, boas condições de trabalho, acesso às modernas tecnologias e possibilitar as escolas construir um projeto político-pedagógico que atenda seu aluno. Para Neves (in VEIGA, 1996, p. 110), a autonomia vincula-se ao projeto político-pedagógico. O projeto político-pedagógico
Para a construção do projeto político-pedagógico, vislumbram-se as seguintes etapas: análise da situação (levantamento de indicadores), definição dos objetivos, escolha das estratégias, estabelecimento de cronograma e definição dos espaços necessários, coordenação entre os diferentes profissionais e setores envolvidos, implementação, acompanhamento e avaliação. A avaliação deve assumir a característica de recurso pedagógico-administrativo que impulsiona ações para corrigir e aperfeiçoar o projeto. O projeto pedagógico é a concretização da identidade da escola, de suas racionalidades interna e externa e, consequentemente de sua autonomia. A autonomia deve constituir-se em utopia possível. A autonomia é conquista, não somente outorga legal. É preciso buscar brechas de atuação e apoio, através da qualidade do trabalho. Exige também alto grau de compromisso e de competência ético-profissional, o que novamente nos remete à formação dos educadores, condições de trabalho, dentre outros fatores já citados. É evidente a responsabilidade dos sistemas, pois conceder autonomia não significa abandonar as escolas à própria sorte, mas adotar um novo padrão de gestão e de relacionamento. Na elaboração e implementação do projeto político-pedagógico, há necessidade de um trabalho abrangente, participativo, democrático, responsável, competente e solidário, que seja relevante para a comunidade. Contudo, respeitar a comunidade significa fazer da escola uma instância mediadora, e não reprodutora, não condenar os alunos a permanecer no patamar em que já estão. O projeto pedagógico deve também ser relevante à sociedade, permitindo ao aluno construir seu caminho. A escola pública, enquanto prestadora de serviços aos cidadãos, deve estar aberta à participação da comunidade, ser transparente e abrir-se à avaliação externa. A avaliação sistemática é fundamental para correção e aprimoramento de rumos e deve ser vista como um recurso político-pedagógico-administrativo que,
Autonomia engloba as noções de liberdade, democracia e pluralismo. A autonomia não significa a ausência do Estado. Segundo Neves, “a descentralização e a autonomia apenas invertem a pirâmide do sistema, realçando a escola e modificando as atribuições das esferas administrativas” (in VEIGA, 1996, p. 120). Uma agenda de políticas e linhas de ação para orientar a implantação da autonomia engloba algumas mudanças interligadas: mudanças na estrutura político-administrativa – descentralização, desburocratização, desregulamentação e transparência; mudanças nos padrões de financiamento e investimento – levando em consideração o projeto político-pedagógico da escola e a qualidade para o sistema nacional; mudanças no compromisso ético-profissional dos agentes envolvidos – avaliações para subsidiar políticas e linhas de ação; mudanças na qualidade dos resultados educacionais; mudanças na relação Estado-cidadão – responsabilidade partilhada e subscidiaridade. Segundo Neves,
A autonomia da escola pública é um desafio para que administradores e agentes da educação sejam os construtores de um projeto político pedagógico dinâmico, construindo uma obra democrática. Alguns autores, entre eles Nóvoa e Habermas (segundo FALKEMBACH in VEIGA, 1996, p. 131),
Falkembach propõe que se faça um diagnóstico, no empírico, guiado pela reflexão e que organize informações, análises e sínteses que embasem o plano. Propõe ainda que este diagnóstico participativo se paute pelos problemas e recursos da vida cotidiana da comunidade escolar, tendo este como objeto de reflexão e ação. Sugere que os problemas evidenciados sejam trabalhados e organizados em núcleos problemáticos. Estas seriam as bases de um projeto político-pedagógico capaz de recuperar ou construir a identidade da escola e dos sujeitos ali envolvidos. Já Marques (in VEIGA, 1996, p.146) nos alerta que
As expectativas não se referem a sujeitos isolados, mas a uma comunidade de sujeitos orientados “por significados idênticos reflexivamente referidos à validez intersubjetiva dos compromissos do agir solidário”(HABERMAS, 1998, p. 346-347 apud MARQUES, in VEIGA, 1996, p.147). Assim, imbricam-se na proposta pedagógica “a dimensão ético-política da natureza intersubjetiva da formação da vontade coletiva e a da coordenação e da condução da atuação solidária” (MARQUES in VEIGA, 1996, p. 147), de forma que todos assumam a co-responsabilidade pelas práticas, o que implica em que se defina qual cidadão a escola pretende formar para qual sociedade. E continua,
Porém, a dinâmica da sala de aula não ganha sentido em si mesma, mas como elemento da dinâmica curricular da escola, dentro de seu projeto pedagógico. Alguns suportes são necessários a esta docência comprometida com a qualidade das aprendizagens intencionadas no projeto da escola, a saber: um projeto político-pedagógico permanentemente redefinido pela comunidade escolar; uma dinâmica curricular em que se correlacionem os saberes a serem aprendidos em cada ano, série, dentro da proposta da escola; um programa em que os conceitos correlacionem-se, levando à exploração autônoma. É preciso que haja congruência e continuidade (MARQUES in VEIGA, 1996, p. 152-153). Segundo Santiago (in VEIGA, 1996, p.157), “a preocupação com as práticas escolares desloca-se, hoje, da especificidade didático-metodológica para questões mais amplas, relativas ao modelo paradigmático que sustenta a estrutura organizativa da escola”. Continuando este raciocínio, nos mostra que
A respeito da crise dos paradigmas das práticas educativas, levando à necessidade de novo aporte teórico que supere a fragmentação do conhecimento, Demo (1994, p. 13-14 apud SANTIAGO in VEIGA, 1996, p. 158), assim se manifesta:
Os educadores, como cidadãos dessa época, precisam clarificar a intencionalidade e a dimensão das transformações que deverão ocorrer na escola, preocupando-se, além das inovações tecnológicas, com o comprometimento da prática pedagógica com um projeto político. Para a autonomia de sua ação, precisam do domínio de um corpo teórico, da reflexão coletiva, da capacidade de gestão de suas práticas, comprometendo-se e responsabilizando-se pela ação educativa da escola. Nessa perspectiva, os educadores precisam organizar-se coletivamente na construção de propostas pedagógicas que insiram as práticas pedagógicas em projeto histórico assumido pelo grupo, embasado na compreensão da análise social e na comunicação dos sujeitos das relações escolares. É preciso superar a dicotomia entre as dimensões política e pedagógica. Segundo Santiago, o projeto político-pedagógico assumido pela comunidade escolar deve estruturar-se em dois eixos básicos: a intencionalidade política, articulando a ação educativa a um projeto histórico e a definição da concepção de conhecimento e a teoria de aprendizagem que orientarão as práticas pedagógicas, articulando teoria e prática (in VEIGA, 1996, p. 164). Ao pretender a transformação social, a escola estará, por meio da ação educativa, buscando a construção de uma nova hegemonia, distinta da atualmente dominante, e que permita às classes dominadas reivindicar espaços de poder. Assim entendido, um projeto pedagógico ultrapassa a concepção de reorientação curricular ou metodológica, incorporando na práxis educativa, elementos éticos-normativos, subjetivos e culturais da realidade, onde os sujeitos organizam-se e interagem, construindo teorias e valores de uma cultura. Dessa forma, a escola contribuiria na construção da autonomia intelectual e moral de sujeitos aptos a participar e a criar. Detalhando o como É importante a identificação da escola com a comunidade local, buscando alternativas que imprimam dimensão política à ação pedagógica, que a escola se abra a esta comunidade busque, também, se necessário, ajuda externa que lhe permita identificar os referenciais teóricos que embasam suas práticas. O contexto em que atua precisa ser bem diagnosticado, as ações devem ser objeto de reflexão contínua, os registros sistematizados, a avaliação das práticas acontecerem continuamente. A articulação da teoria com a prática deverá ser construída num referencial teórico fundado num diagnóstico concreto da realidade vivenciada. A proposta delineia-se à medida que se explicitam a educação desejada pela comunidade, o tipo de relações pedagógicas que deveria ser consolidado e a organização escolar que seria coerente com os objetivos do grupo. Mesmo com as limitações de tempo, formação, conflitos de um trabalho participativo, a escola irá paulatinamente avançar no processo de construção de seu projeto político-pedagógico. Os aspectos administrativos e burocráticos devem dar sustentação à proposta pedagógica, desta forma torna-se necessária a organização do tempo pedagógico, elaborando um calendário escolar que preveja espaços de reuniões e estudos. Sugere-se aqui que haja um cronograma de horas de trabalho pedagógico coletivo, que seja discutido nestas, bem como se utilize os espaços de planejamento e replanejamento previstos no próprio calendário sugerido legalmente, além das reuniões de pais, colegiados e outras instituições escolares.Nestas reuniões se definirão os princípios básicos para a ação educativa. Além disto, a organização curricular deverá ser definida para cada etapa da escolaridade, além da avaliação continuada que permita o acompanhamento da processualidade da construção do conhecimento. Julgamos importante a clareza do que é um ciclo de aprendizagem e da responsabilização de todos os professores pelos alunos desse ciclo, bem como a necessidade do acompanhamento integrado da escola e da família a seus alunos. Outra ação que poderia ser importante seria a utilização por todos de todos os espaços físicos da escola, num sentimento coletivo de pertencimento. Como exemplo, a utilização conjunta de professores, alunos, funcionários do mesmo espaço destinado à merenda. Dentro dos limites do que é oferecido, cardápios variados poderiam ser discutidos com os alunos. É preciso que em todos os espaços-tempos escolares se construam relações dialógicas, as quais implicam na (re)construção das próprias subjetividades. No planejamento do ensino, visando superar as práticas fragmentadas, pode-se optar pela organização em temas geradores, em projetos de trabalho interdisciplinares, cuja tematização seja feita com base em problemas ou necessidade que se evidenciam na comunidade, “articulando toda a ação pedagógica da escola num espaço-tempo suficiente par que haja construção de conhecimentos, conscientização e envolvimento da comunidade na busca de soluções para seus problemas” (SANTIAGO E ZASSO in VEIGA, 1996, p.188-189). Seria também importante a utilização de novas metodologias de ensino, construídas de forma dinâmica, como pesquisas de campo, e que na apresentação das conclusões esteja envolvida toda a escola e a comunidade. Poderia haver oficinas pedagógicas, durante as quais o grupo de professores planejassem e desenvolvessem atividades integrando todas as séries. É necessário que se redimensione a função da avaliação, a ser construída à medida que os pais são envolvidos no processo de reflexão e participem junto com os professores. Poderiam ser utilizadas as fichas individuais dos alunos, porém com espaço para a manifestação dos pais sobre a escola, o ensino e o processo de desenvolvimento de seus filhos. Outra ação poderia ser uma caixa de sugestões, de livre e permanente acesso a alunos e pais. Não pretendemos esgotar aqui o tema, porém pretendemos evidenciar a importância da abertura da escola à participação e a intencionalidade política necessária à construção de um projeto político-pedagógico, que se sustente em práticas comprometidas e consequentes. VEIGA, Ilma Passos A. (Org.) Projeto Político-Pedagógico da Escola : Uma Construção Possível. 2. ed. São Paulo: Papirus, 1996. 192 p. Notas: [1] Gramsci define ideologia como “uma concepção de mundo que se manifesta [...] em todas as manifestações de vida individuais e coletivas”(apud RESENDE in VEIGA, 1996, p.70). [2] Alfredo Bosi(1992) entende que há culturas brasileiras(NEVES in VEIGA, 1996, p.99). [3] Segundo Bussmann (in VEIGA, 1996, p.45), a expressão recursos humanos e também, por decorrência, a expressão administração de recursos humanos podem ser consideradas inadequadas por sugerir ideia de que os integrantes da organização são seus objetos, são pertences dela. Qual a definição que Veiga faz sobre o projeto político pedagógico?O projeto político-pedagógico é entendido, neste estudo, como a própria organização do trabalho pedagógico da escola. A construção do projeto político-pedagógico parte dos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão democrática e valorização do magistério.
Quais são os princípios do PPP Segundo Ilma Passos Veiga?De acordo com Veiga (1991, p. 82), os princípios do PPP são: igualdade, qualidade, gestão democrática, liberdade/autonomia e valorização do magistério. Esses possuem um caráter permanente e fundamentado nas ações pedagógicas.
Quais são as principais características do projeto político pedagógico?Construindo o Projeto Político Pedagógico
Garantia do acesso e permanência, com sucesso, do aluno na escola; Gestão democrática; Valorização dos profissionais da educação; Qualidade do ensino; Organização e integração curricular; Integração escola/família/comunidade; Autonomia.
Quais são os três movimentos necessários para a construção do projeto político pedagógico?Todavia, é possível apontar três movimentos básicos deste processo de construção do PPP, denominados pela autora de: Ato Situacional, Conceitual e Operacional.
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