Asdrubal trouxe o trombone fundador

Hamilton Vaz Pereira relembra momentos históricos da trupe

Asdrubal trouxe o trombone fundador
No programa dessa quarta-feira, 04/02, Liliane Reis conversa com o diretor, autor, ator, compositor e diretor musical Hamilton Vaz Pereira. Ela recebe também o cantor parisiense Nicola Són, o papo gira em torno do seu segundo álbum NORD DESTIN. No quadro “Coletivo”, entrevista com médico e atror Vitor Pordeus sobre o incrível projeto Hotel Spa da Loucura.

Hamilton Vaz Pereira foi um dos diretores que agitou a cena teatral da década de 70 e 80. A sua trupe era composta por Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Evandro Mesquita, Patricya Travassos, Perfeito Fortuna, Nina de Pádua, entre outros. O seu grupo chamado de “Asdrúbal Trouxe o Trombone”, sucesso de público e crítica desde estreia. Juntos eles viajaram o Brasil apresentando uma nova forma de fazer teatro, mais irreverente, despojada e de criação coletiva. Durante a entrevista Hamilton Vaz Pereira revela como foi o início, o percusso de 10 anos e o fim do grupo que revolucionou os palcos brasileiros. No papo, ele relembra o momento da criação do Circo Voador no Arpoador – RJ,  sede do Asdrúbal e um dos atuais símbolos culturais do Rio de Janeiro. O Estúdio Móvel levanta a lona e traz a tona a efervescência cultural de uma geração que fez história!

Depois do mergulho no universo teatral, o Estúdio Móvel embarca na música do parisiense Nicola Són. Apesar de francês a sua música é rica de ritmos brasileiros. Nicola, que se define  melomaníaco, sempre gostou de ouvir melodias diferentes, seu primeiro contato com a música brasileira foi aos 16 anos, mais precisamente, através da voz de João Gilberto, com a canção de Tom Jobim, Lígia. Em 2006, desembarca no Rio de Janeiro para estudar a língua portuguesa e aprofundar seus conhecimentos sobre música brasileira. Nasce então, o PARIOCA (a síntese do parisiense com o carioca), primeiro álbum do cantor, lançado em 2010 na França e em 2011 no Brasil. Se no primeiro álbum os cariocas foram a inspiração para o cantor, no segundo álbum, o nordeste foi a região escolhida. NORD DESTIN, apresenta 13 composições e adaptações baseadas em uma grande variedade de ritmos como ciranda, maracatu, frevo, xote e coco, entre outros, executados com instrumentos como acordeom, berimbau e rabeca.

Quem completa o coletivo do Estúdio Móvel de hoje é o ator e médico Vitor Pordeus. Ele é fundador do sensível projeto que usa a arte em prol da saúde mental, o Hotel Spa da Loucura. O espaço democrático na convivência com médicos e artistas estimula, através da arte, o tratamento de pacientes com transtornos psiquiátricos. Para Vitor Pordeus o Hotel Spa da Loucura “é o lugar onde todo ser humano é ator e o mundo é um palco”, fazendo referência ao teatro Globe, construído por Shakespeare em Londres que tem em uma das paredes grafadas a frase: “Totus mundus facit histrionem” (Todo mundo é ator, traduzido do latim).

Apresentação: Liliane Reis
Direção: Alê Montoro
Produção Executiva: Carlos Colla, Leonardo Sousa, Luca Bastolla, Mirian Magami, Poliana Guimarães, Vida Oliveira, Felipe Careli
Produção: Kamyla Abreu e Joana Martins
Roteiro: Fernando Mozart, Délcio Teobaldo
Estagiária: Herval Peixoto e Jacqueline Lima
Edição: Isabelle Valente, Rodrigo Morais, Carolina Rodrigues, Marco Machado

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O que vem por aí

O estilo dos programas humorísticos exibidos na televisão brasileira dos anos 1990 em diante pode ser debitado, em grande parte, à aventura teatral do Asdrúbal Trouxe o Trombone (1974-1984) pelos palcos do Rio de Janeiro e de outros estados. Basta citar dois atores de sua trupe, Regina Casé e Luiz Fernando Guimarães, depois consagrados na TV. Não se tratava de um grupo ou companhia, mas de uma equipe de comediantes, como prefere lembrar aquele que dirigia ou arrematava a dramaturgia nos cinco espetáculos que compuseram o repertório, Hamilton Vaz Pereira, principal organizador de um projeto baseado na criação coletiva.

A sonoridade e o nonsense do nome corroboram o espírito de uma época marcada pelo chamado “desbunde”: Asdrúbal Trouxe o Trombone traduz o projeto de jovens artistas tresloucados, nadadores de fôlego contra a corrente da politização direta dos artistas diante do regime militar.

Na publicação em livro da terceira montagem do Asdrúbal, Trate-me leão (1977), lançada em 2005, Hamilton Vaz Pereira escreve:

Para minha alegria, distante de grupos e produções que acreditam ser “porta-vozes do povo” ou que devem dar “o que o povo deseja”, a nossa trupe decide participar do mundo falando do próprio umbigo, dos seus medos e alegrias, anseios e ambições, delicias e angústias, problemas e soluções.

Existe alguma ironia no fato de o Asdrú­bal ter principiado a carreira por meio de dois clássicos da dramaturgia universal, O inspetor geral (1974), do russo Nikolai Gogol, e Ubu rei (1975), do francês Alfred Jarry. Tanto a primeira peça, uma comédia realista lida à luz de jogos infantis, quanto a segunda, precursora do Teatro do Absurdo e embebida por números circenses, foram transpostas para o cotidiano daquela juventude carioca que compunha o coletivo.

Asdrubal trouxe o trombone fundador
Grupo teatral Asdrúbal Trouxe o Trombone – da esquerda para direita: Hamilton Vaz Pereira, Regina Casé, Luís Fernando Guimarães, Carina Cooper, Luís Zerbini, Lena Brito e Pedro Santos em cena da peça ‘A farra da Terra’, em 1983 (Divulgação)

O improviso e o espetáculo aberto tornaram-se recorrentes a partir de Trate-me leão, que consagrou a singularidade da equipe. Os integrantes voltaram-se para si mesmos, num processo de jornadas pessoais reveladoras do conjunto. Estavam lá artistas como Casé, Guimarães, Patrícia Travassos, Perfeito Fortuna, Fábio Junqueira, Evandro Mesquita e Nina de Pádua. Alguns deles teriam suas carreiras desdobradas para a televisão e o show business, antropofagia pop que os próprios espetáculos já ensejavam nas evocações da sonoplastia ou do espaço cenográfico. Aquela coisa toda (1980) também se sustentava em uma linguagem metateatral, mostrando um grupo de artistas que viajava pelo país em busca de si mesmos. Já em A farra da Terra (1983), o desejo era conhecer o mundo por meio dos olhos de personagens com os quais a equipe se identificava. Esta última montagem mostrou um Vaz Pereira com domínio mais autoral sobre o processo de criação e, talvez por isso, distante da tendência anárquica revelada pelo Asdrúbal até ali.

Quem trouxe o trombone para o teatro?

Como foi dito acima, o Asdrúbal trouxe o trombone mudou a linguagem teatral em uso no país. Pela primeira vez, jovens tratavam dos seus problemas no palco, utilizando a sua linguagem e pintando, dessa maneira, um retrato de sua geração.

O quê Asdrúbal Trouxe para o grupo teatral?

Asdrúbal Trouxe o Trombone (1974). As criações do grupo eram coletivas, baseadas em improvisações e na experiência de seus integrantes: Hamilton Vaz Pereira, Regina Casé, Luiz Fernando Guimarães, Perfeito Fortuna, Patrícia Travassos e Evandro Mesquita.

Quem é Asdrubal?

Asdrúbal (em fenício: Azruba'al, lit. "a ajuda de Baal"; em latim: Hasdrubal; 245 a.C. — 207 a.C.) foi um general cartaginês, filho de Amílcar Barca. Segundo Diodoro Sículo, depois de seu irmão Aníbal, ele foi o melhor general de Cartago.

Qual atriz foi uma das fundadoras do grupo teatral Asdrúbal?

Isso atraía quem não gostava de teatro — conta Regina Casé, que não só foi uma das fundadoras como sugeriu o nome do grupo, com base numa piada interna que tinha com seu pai.