Eu lírico é o nome que se dá à voz poética, ou seja, a voz que expressa emoções, sentimentos, pensamentos e/ou opiniões em uma poesia. Dessa maneira, o eu lírico, presente em todo texto poético, é uma criação do poeta. Portanto, em uma poesia de Camões, por exemplo, não é o poeta Camões, um homem de carne e osso, que se expressa, mas o eu lírico criado por ele. Show
Leia também: Quais são os gêneros literários? O que é eu lírico?O eu lírico ou eu poético é a voz que se expressa em uma poesia. Tal voz manifesta sentimentos, emoções, pensamentos e até opiniões. Portanto, tudo que é dito em uma poesia deve ser atribuído ao eu lírico, e não ao poeta. Isso permite que o poeta produza textos com diversas temáticas, sem, contudo, mostrar a sua própria identidade. ExemplosO eu lírico é uma criação do poeta.Observe esta estrofe do poema Mar em redor, de Cecília Meireles (1901-1964): Meus ouvidos estão como as
conchas sonoras: Nesses versos, o eu lírico compara os próprios ouvidos com as conchas sonoras. Assim, não podemos dizer que os ouvidos de Cecília Meireles são comparados a conchas sonoras. Isso porque a poetisa recorre a um artifício literário, ou seja, à figura do eu lírico, para que ele possa expressar uma ideia. Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Agora veja este fragmento do poema, de Carlos Drummond de Andrade (1902-1987), Canção da Moça-Fantasma de Belo Horizonte: Eu sou a Moça-Fantasma Nesse poema, temos um eu lírico feminino, isto é, a Moça-Fantasma. É, portanto, ela que se expressa no texto, e não o poeta Carlos Drummond de Andrade. Assim, não podemos dizer que Carlos Drummond de Andrade é a Moça-Fantasma de Belo Horizonte. Leia também: Quais são os tipos de narrador? Como identificar o eu lírico?Para identificar o eu lírico, você precisa descobrir quem está se expressando na poesia. Então, vamos ler uma estrofe de um soneto de Olavo Bilac (1865-1918): Laura! dizes que Fábio anda ofendido Você percebeu que alguém está conversando com Laura? Como sei disso? Porque esse alguém usa o verbo “dizer” na segunda pessoa do singular: “dizes”, isto é: tu dizes. E quem é esse “tu”? É Laura! E o que Laura diz? Que Fábio anda ofendido. Então, a Laura é o eu lírico? Não! A Laura é a pessoa com quem esse alguém conversa. E quem é esse alguém? O eu lírico! Portanto, não podemos afirmar que Olavo Bilac está conversando com Laura, pois não é possível comprovar isso. Quem dialoga com ela é o eu lírico, a voz poética. E mesmo que, eventualmente, localizemos algum traço autobiográfico do autor no poema, em uma análise literária, devemos sempre considerar o eu lírico como o emissor do texto poético. Isso permite uma análise mais objetiva. Diferença entre eu lírico e poetaO escritor inglês William Shakespeare, assim como outros poetas, ao criar seus sonetos, deu voz a um eu lírico.O eu lírico é um “ser de papel”. Isso quer dizer que ele não existe na realidade concreta. Já o poeta é um ser de carne e osso. Ter isso em mente é importante para que nós leitores e leitoras possamos ler a poesia sem associá-la ao seu criador, isto é, ao poeta. Afinal, se achamos que a voz lírica é a voz do próprio poeta, só poderíamos entender a sua poesia se soubéssemos de detalhes de sua vida, o que é impraticável. Além do mais, isso limitaria bastante o universo criativo do artista, que só falaria da própria experiência. No entanto, a arte abrange todos os espaços e permite que, por exemplo, o poeta Carlos Drummond de Andrade, mesmo sendo um homem, possa expressar a subjetividade da Moça-Fantasma de Belo Horizonte. Para isso, o poeta cria uma voz — o eu lírico — capaz de expressar sentimentos, emoções, pensamentos e até opiniões. Leia também: Poesia, poema e soneto — particularidades e diferenças Exercícios resolvidosQuestão 1 - (Enem) Texto
I Ouvia: HILST, H. Cantares. São Paulo: Globo, 2004 (fragmento). Texto II Transforma-se o amador na cousa amada Transforma-se o amador na cousa amada, CAMÕES. Sonetos. Disponível em: https://www.jornaldepoesia.jor.br. Acesso em: 03 set. 2010 (fragmento). Nesses fragmentos de poemas de Hilda Hilst e de Camões, a temática comum é A) o “outro” transformado no próprio eu lírico, o que se realiza por meio de uma espécie de fusão de dois seres em um só. B) a fusão do “outro” com o eu lírico, havendo, nos versos de Hilda Hilst, a afirmação do eu lírico de que odeia a si mesmo. C) o “outro” que se confunde com o eu lírico, verificando-se, porém, nos versos de Camões, certa resistência do ser amado. D) a dissociação entre o “outro” e o eu lírico, porque o ódio ou o amor se produzem no imaginário, sem a realização concreta. E) o “outro” que se associa ao eu lírico, sendo tratados, nos Textos I e II, respectivamente, o ódio e o amor. Resolução Alternativa A. No poema de Hilda Hilst, quando o eu lírico diz “Porque tu eras eu”, é evidenciado o fato de que o “outro” se transforma no próprio eu lírico. Já no poema de Camões, o eu lírico afirma que “transforma-se o amador na cousa amada”. Na sequência, ele informa que não tem mais o que desejar, já que “em mim tenho a parte desejada”, ou seja, o eu lírico tem o “outro” em si. Portanto, em ambos os poemas, ocorre uma espécie de fusão de dois seres em um só. Questão 2 - (Enem) Texto I Se eu tenho de morrer na flor dos
anos, Meu Deus, eu sinto e bem vês que eu morro Dá-me os sítios gentis onde eu brincava Se eu tenho de morrer na flor dos anos, ABREU, C. Poetas românticos brasileiros. São Paulo: Scipione, 1993. Texto II A ideologia romântica, argamassada ao longo do século XVIII e primeira metade do século XIX, introduziu-se em 1836. Durante quatro decênios, imperaram o “eu”, a anarquia, o liberalismo, o sentimentalismo, o nacionalismo, através da poesia, do romance, do teatro e do jornalismo (que fazia sua aparição nessa época). MOISÉS, M. A literatura brasileira através dos textos. São Paulo: Cultrix, 1971 (fragmento). De acordo com as considerações de Massaud Moisés no Texto II, o Texto I centra-se A) no imperativo do “eu”, reforçando a ideia de que estar longe do Brasil é uma forma de estar bem, já que o país sufoca o eu lírico. B) no nacionalismo, reforçado pela distância da pátria e pelo saudosismo em relação à paisagem agradável onde o eu lírico vivera a infância. C) na liberdade formal, que se manifesta na opção por versos sem métrica rigorosa e temática voltada para o nacionalismo. D) no fazer anárquico, entendida a poesia como negação do passado e da vida, seja pelas opções formais, seja pelos temas. E) no sentimentalismo, por meio do qual se reforça a alegria presente em oposição à infância, marcada pela tristeza. Resolução Alternativa B. No poema romântico de Casimiro de Abreu, a ideia central é o nacionalismo, já que o eu lírico está distante de sua pátria, sente saudade de seu país e da paisagem agradável onde ele viveu sua infância: “Dá-me os sítios gentis onde eu brincava/ Lá na quadra infantil;/ Dá que eu veja uma vez o céu da pátria,/ O céu de meu Brasil!”. Questão 3 - (Enem) Mal secreto Se a cólera que espuma, a dor que mora Se se pudesse, o espírito que chora, Quanta gente que ri, talvez, consigo Quanta gente que ri, talvez existe, CORREIA, R. In: PATRIOTA, M. Para compreender Raimundo Correia. Brasília: Alhambra, 1995. Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela que A) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada. B) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social. C) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja. D) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo. E) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social. Resolução Alternativa A. Nesse poema de Raimundo Correia, o eu lírico entende que o julgamento da sociedade faz com que o indivíduo aja de maneira dissimulada, como indicam estes versos: “Quanta gente que ri, talvez existe,/ Cuja ventura única consiste/ Em parecer aos outros venturosa!”. Assim, segundo o eu lírico, a pessoa ri para parecer, aos olhos da sociedade, que ela (a pessoa) é feliz, quando, na verdade, não é. Como o eu lírico encara a relação entre cultura?Resposta: No poema "Se às vezes digo que as flores sorriem" o eu lírico encara a relação entre cultura humana e natureza a expor que parte da humanidade não consegue compreender o mundo natural.
Como o eu lírico encara a relação entre cultura humana e natureza B partindo das discussões?Resposta. Resposta: Nesse poema de Fernando Pessoa, o eu lírico trata da natureza a partir de sua existência, ou seja, ele dialoga sobre a essência das coisas e como isso difere do íntimo dos homens falsos, onde eles não percebem suas linguagens.
Como se sente o eu lírico em sua relação com o mundo?Resposta verificada por especialistas
Se é uma poesia escapista, o eu lírico se comportará de maneira a ter aversão pela realidade que vive, preferindo imaginar uma realidade fantasiosa para escapar da vida real.
Que tipo de sentimentos O eu lírico expressa no poema?Em primeira pessoa, o eu lírico não enuncia uma particularidade de sua vida, mas a dissolução de uma relação amorosa – que não necessariamente precisa partir de um dado biográfico. O eu lírico dá voz a um sentimento universal e não é necessário que o autor pessoalmente tenha vivido o que esse eu enuncia.
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