Como o sistema nervoso simpático e parassimpático atuam no nosso organismo?

O que é e qual é a função do SNA? Mariana Santos, neurologista e neurofisiologista clínica no Hospital Lusíadas Lisboa, responde a seis questões sobre o sistema nervoso autónomo, que tem uma influência determinante no funcionamento do nosso organismo.

Sabe o que é o sistema nervoso autónomo e a importância que tem para o bom funcionamento de todo o nosso corpo? Mariana Santos, neurologista e neurofisiologista clínica no Hospital Lusíadas Lisboa, responde a seis questões sobre o sistema nervoso autónomo.

1. O que é o sistema nervoso autónomo (SNA)? 

O sistema nervoso autónomo é uma parte do sistema nervoso que funciona independente da vontade e consiste em neurónios que conduzem impulsos desde o sistema nervoso central (cérebro e/ou espinal medula) até às glândulas, músculo liso e músculo cardíaco.

2. Para que serve o sistema nervoso autónomo?

  • Aperfeiçoar o funcionamento dos órgãos e sistemas de órgãos

O papel do SNA é aperfeiçoar constantemente o funcionamento dos órgãos e sistemas de órgãos de acordo com os estímulos internos e externos.

  • Manter a estabilidade e equilíbrio interno do corpo

Ajuda a manter a estabilidade e equilíbrio interno do corpo, através da coordenação de várias atividades como secreção de hormonas, circulação, respiração, digestão e excreção.

O sistema nervoso autónomo está dividido em dois subsistemas:

1.Sistema nervoso simpático

Desencadeia o que é comumente conhecido como a resposta de “luta ou fuga” (aumento da sudação, aumento da frequência cardíaca, aumento da pressão arterial e dilatação das pupilas).

2.Sistema nervoso parassimpático

Muitas vezes chamado de sistema do “descanso e digestão” (diminuição da sudação, diminuição da frequência cardíaca, diminuição de pressão arterial e constrição das pupilas). De forma geral, o sistema nervoso parassimpático atua em oposição ao sistema nervoso simpático, revertendo os efeitos da resposta de luta ou fuga

3. Quais as causas de disfunção do sistema nervoso autónomo?

São múltiplas as condições e doenças que podem afetar o normal funcionamento do SNA (disautonomia) sendo a mais comum de todas a Diabetes Mellitus. Mas há mais:

  • Alcoolismo;
  • Doenças neurológicas como a polineuropatia amiloidótica familiar (doença dos pezinhos) e doença de Parkinson;
  • Medicamentos como certos antidepressivos, tranquilizantes e anfetaminas, bloqueadores alfa e beta adrenérgicos e alguns anestésicos.

4. Quais os sintomas de mau funcionamento do sistema nervoso autónomo?

Sendo o SNA responsável pela inervação da maior parte dos órgãos e sistemas é fácil entender que os sintomas de disautonomia podem ser variados e afetar quase todos os sistemas corporais.

Os sintomas mais frequentes estão relacionados com:
Sistema cardiovascular, com hipotensões arteriais na posição de pé causando episódios de perda de conhecimento.

Outros sintomas:

  • Diarreias e/ou obstipação;
  • Enfartamento após as refeições;
  • Vómitos;
  • Incontinência e/ou retenção urinária;
  • Disfunção erétil;
  • Diminuição ou aumento da sudação;
  • Ardor nos pés;
  • Dificuldade na adaptação visual a mudanças de luminosidade.

5. Como se pode avaliar a função do sistema nervoso autónomo?

Em virtude da inervação quase generalizada pelo corpo do sistema nervoso autónomo, não temos ao nosso dispor um único exame que nos permita avaliar a sua função. Na grande maioria das vezes as provas de avaliação do SNA constam de testes de reflexos cardiovasculares e testes de função sudomotora.

6. Que tratamentos há para as disfunções do sistema nervoso autónomo?

O tratamento da disfunção autonómica é em grande parte dependente da causa. Quando o tratamento da causa subjacente não é possível, o médico irá tentar várias terapias para aliviar alguns sintomas e melhorar a qualidade de vida dos doentes. Isso pode passar por:

  • Medidas não farmacológicas

Uso de meias de compressão elástica, aumento do consumo de líquidos, aumento do sal na alimentação, refeições pequenas e frequentes, dieta pobre em gordura e rica em fibras, etc.

  • Fármacos

Gabapentina para a dor neuropática, fludrocortisona para a hipotensão arterial, viagra para a disfunção eréctil, colírios para os problemas oculares entre outros.

Índice

  • 1 Organização e Divisão do Sistema Nervoso Autônomo
    • 1.1 Saiba mais!
  • 2 Sistema Nervoso Simpático
    • 2.1 Cornos da medula
  • 3 Sistema Nervoso Parassimpático
    • 3.1 Posts relacionados

O Sistema Nervoso Autônomo (SNA), também conhecido como sistema nervoso vegetativo na literatura mais antiga, é a porção do sistema nervoso central (SNC) que controla a maioria das funções viscerais do organismo, considerado como parte do sistema motor.

Entretanto, ao invés dos músculos esqueléticos, seus agentes efetores são os músculos lisos, o músculo cardíaco, as glândulas e parte do tecido adiposo.

Também chamado de sistema nervoso visceral, suas fibras aferentes e eferentes desempenham uma importante função na manutenção do ambiente corporal interno, a homeostasia. Além disso, o SNA também participa das respostas coordenadas e apropriadas a estímulos externos.

Esse sistema ajuda a controlar a pressão arterial, a motilidade gastrointestinal, a secreção gastrointestinal, o esvaziamento da bexiga, a sudorese, a temperatura corporal e muitas outras funções. Algumas delas são quase inteiramente controladas, enquanto outras, apenas parcialmente. Uma das características mais acentuadas do SNA é a rapidez e a intensidade com que ele pode alterar as funções viscerais.

Organização e Divisão do Sistema Nervoso Autônomo

O sistema nervoso autônomo é ativado, principalmente, por centros localizados na medula espinal, no tronco cerebral e no hipotálamo. Além disso, porções do córtex cerebral, em especial do córtex límbico, podem transmitir sinais para os centros inferiores, e isso pode influenciar o controle autônomo.

Os sinais autônomos eferentes são transmitidos aos diferentes órgãos do corpo por meio de duas grandes subdivisões chamadas sistema nervoso simpático e sistema nervoso parassimpático. Além disso, podemos considerar também o sistema nervoso entérico, que inclui as fibras nervosas dos plexos mioentérico e submucoso, situados na parede do trato gastrointestinal.

Em ambos sistemas, a inervação é feita por meio de uma via de dois neurônios em série. O primeiro neurônio, chamado de pré-ganglionar, sai do sistema nervoso central (SNC) e projeta-se para um gânglio autônomo, localizado fora do SNC.

No gânglio, o neurônio pré-ganglionar faz sinapse com o segundo neurônio, chamado de neurônio pós-ganglionar. O corpo celular do neurônio pós-ganglionar localiza-se no gânglio autônomo, e o seu axônio projeta-se para o tecido alvo.

SE LIGA! Um gânglio constitui um conjunto de corpos celulares de neurônios localizados fora do SNC. O conjunto equivalente localizado dentro do SNC é conhecido como núcleo. Hoje, sabe-se que existem neurônios localizados inteiramente dentro do próprio gânglio. Esses neurônios permitem que os gânglios autônomos atuem como minicentros de integração, recebendo sinais sensoriais da periferia do corpo e modulando sinais motores para os tecidos-alvo. Provavelmente, essa disposição permite que um reflexo seja integrado totalmente dentro de um gânglio, sem o envolvimento do SNC.

Como o sistema nervoso simpático e parassimpático atuam no nosso organismo?

Imagem: As vias autonômicas consistem em dois neurônios que fazem sinapse em um gânglio autonômico. Fonte: http://www.comissoesggv.uff.br/wpcontent/uploads/sites/358/2018/09/Fisiologia-do-Sistema-Nervoso-Aut%C3%B-4nomo.pdf

Os órgãos-alvo do SNA apresentam atividade espontânea, que é independente da inervação autonômica. Assim, essa inervação (simpática e parassimpática) apresenta um efeito modulador sobre esta atividade espontânea.

Este efeito pode ser excitatório, aumentando a atividade espontânea, ou inibitório, reduzindo-a. A inervação autonômica pode ainda apresentar atividade tônica, ou seja, as fibras pós-ganglionares apresentam potenciais de ação regularmente, com liberação contínua de neurotransmissores. Dessa maneira, os efeitos excitatórios ou inibitórios são mantidos continuamente, caracterizando o que se convencionou chamar de tônus.

Os sistemas simpático e parassimpático podem ser diferenciados anatomicamente, mas não há uma maneira simples de separar as ações dessas divisões sobre seus órgãos-alvo. A melhor forma de distingui-los é de acordo com o tipo de situação na qual estão em maior atividade.

Em momentos de repouso, descanso, o parassimpático está no comando, assumindo o controle de atividades rotineiras, como a digestão após uma refeição. Em contrapartida, o simpático tende a assumir o comando em situações estressantes, quando há alguma ameaça em potencial, o que promove uma descarga simpática maciça e simultânea em todo o corpo. Esse processo de ativação simpática é conhecido como uma resposta de “luta ou fuga”.

Saiba mais!

Quando grandes porções do sistema nervoso simpático descarregam ao mesmo tempo há um aumento da capacidade do organismo de exercer atividade muscular vigorosa por meio de diversas formas. Assim, os principais efeitos desse processo são:

  • Aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial
  • Dilatação dos bronquíolos
  • Inibição da motilidade e secreção intestinal
  • Aumento na liberação de hormônios das glândulas suprarrenais
  • Ereção dos pelos
  • Aumento do metabolismo da glicose
  • Vasoconstrição cutânea e esplênica
  • Vasodilatação dos músculos esqueléticos.

A soma desses efeitos permite ao indivíduo exercer atividade física com muito mais energia do que seria possível de outra forma. Como o estresse mental ou físico pode excitar o sistema simpático, muitas vezes se diz que a finalidade desse sistema é a de fornecer a ativação extra do corpo nos estados de estresse.

Contudo, o papel do sistema nervoso simpático nas atividades da vida cotidiana é tão importante quanto a resposta de luta ou fuga, e deve atuar continuamente em equilíbrio com o funcionamento do sistema parassimpático. Diante disso, é comum a interpretação errônea de que o simpático sempre tem ação excitatória, enquanto o parassimpático tem ação inibitória.

Devemos compreender que as duas divisões autônomas normalmente atuam de modo antagônico no controle de um determinado tecido-alvo. No entanto, às vezes, eles atuam de maneira cooperativa em diferentes tecidos para atingir um objetivo. Por exemplo, o aumento do fluxo sanguíneo necessário para a ereção peniana está sob o controle do sistema parassimpático, porém a contração muscular necessária para a ejaculação do sêmen é controlada pela divisão simpática.

Além disso, as glândulas sudoríparas e a musculatura lisa da maioria dos vasos sanguíneos apresentam-se como exceções a este controle autônomo antagonista das duas divisões. Esses tecidos são inervados somente pela divisão simpática e dependem estritamente do controle tônico (aumento ou redução desse “tônus simpático”).

Sistema Nervoso Simpático

Nos mamíferos, os neurônios simpáticos pré-ganglionares encontram-se distribuídos na substância cinzenta da medula espinal, principalmente no corno lateral, entre os segmentos C8- T1 até os primeiros segmentos lombares (L1 – L2). Por isso, algumas vezes, o sistema simpático é referido como sistema toracolombar.

Os axônios dos neurônios simpáticos pré-ganglionares constituem curtos nervos que saem da medula espinal pela raiz ventral, assim como os axônios dos motoneurônios espinais, e formam um pequeno feixe -o ramo comunicante branco- em direção aos gânglios simpáticos.

Cornos da medula

A estrutura da medula espinhal baseia-se na organização das substâncias branca e cinzenta. A substância cinzenta da medula tem a forma de borboleta, ou um H, em sua região central.

Para a divisão da substância cinzenta, consideramos a existência de duas linhas nos contornos do ramo horizontal do “H”, formando o corno anterior, o corno posterior e o corno lateral (também chamados de colunas). O corno lateral, entretanto, só aparece na medula torácica e parte da medula lombar.

De acordo com alguns critérios, a região central da medula também pode ser conhecida como sustância cinzenta intermédia, que é ainda subdividida em intermédia central e intermédia lateral (onde está contido o corno lateral).

As colunas anteriores e posteriores são mais desenvolvidas em determinadas dilatações da medula cervical e da medula lombar, devido a inervação dos membros superiores e inferiores, respectivamente. No centro da substância cinzenta, encontramos o canal central da medula ou canal ependimário.

Os gânglios do sistema simpático, em sua maioria, encontram-se conectados entre si formando uma longa cadeia longitudinal que se estende dos dois lados da coluna vertebral, formando a cadeia paravertebral, ou tronco/cadeia simpática.

Outros gânglios simpáticos são separados da cadeia paravertebral, encontram-se mais medialmente e são denominados gânglios pré-vertebrais.

Os axônios dos neurônios pós-ganglionares são nervos longos que deixam os gânglios em um feixe denominado ramo comunicante cinzento e se incorporam aos nervos mistos, se dirigindo aos seus territórios de inervação.

Portanto, nos nervos mistos podemos encontrar fibras aferentes associadas a receptores sensoriais, fibras eferentes associadas a motoneurônios, mas também fibras eferentes simpáticas. Além disso, fibras pós-ganglionares dirigidas a um órgão-alvo podem constituir um nervo individualizado.

Sistema Nervoso Parassimpático

Os neurônios parassimpáticos pré-ganglionares podem ser encontrados em duas localizações distintas no SNC: no tronco encefálico, associados a núcleos de nervos cranianos (III, VII, IX e X pares cranianos), e nos segmentos sacrais (S2 e S3) da medula espinal. Por esta razão, o sistema parassimpático é frequentemente referido como sistema craniossacral. No tronco encefálico, as fibras pré-ganglionares emergem associadas às fibras destes nervos cranianos.

Já nos segmentos sacrais da medula espinal, os neurônios emergem da medula espinal pela raiz ventral e projetam-se pelo nervo pélvico para a inervação de seus órgãos-alvo. Diferentemente do sistema simpático, os gânglios do sistema parassimpático não se encontram reunidos em uma cadeia, mas estão isolados, situados muito próximos aos órgãos-alvo ou mesmo em sua parede.

Geralmente, os neurônios pré-ganglionares parassimpáticos possuem axônios longos, ao passo que os neurônios pós-ganglionares possuem axônios curtos.

A inervação parassimpática direciona-se primariamente para a cabeça, pescoço e órgãos internos. O principal nervo parassimpático é o nervo vago, o qual contém cerca de 75% de todas as fibras parassimpáticas. Este nervo conduz tanto informação sensorial dos órgãos internos para o encéfalo, quanto informação parassimpática eferente do encéfalo para os órgãos.

SAIBA MAIS: A vagotomia é um procedimento no qual o nervo vago é cirurgicamente seccionado. Durante algum tempo, essa cirurgia foi o tratamento preferencial para úlceras gástricas, uma vez que a remoção da inervação parassimpática diminui a secreção ácida do estômago. Entretanto, esse procedimento tem muitos efeitos colaterais indesejáveis e tem sido substituído por tratamentos farmacológicos com ações mais específicas.

SE LIGA! O núcleo motor dorsal inerva os órgãos viscerais do pescoço (faringe e laringe), da cavidade torácica (traqueia, brônquios, pulmões, coração e esôfago) e da cavidade abdominal, incluindo a maior parte do trato gastrointestinal, fígado e pâncreas. Já o núcleo ambíguo contém dois grupos de neurônios: (1) o grupo dorsal, que ativa os músculos estriados do palato mole, da faringe, da laringe e do esôfago e (2) o grupo ventrolateral, que inerva o coração.

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Como o sistema nervoso simpático e parassimpático atuam?

O sistema nervoso simpático atua de modo oposto ao parassimpático, preparando o organismo para reagir em situações de medo, stress e excitação, adequando o funcionamento de diversos sistemas internos para um elevado estado de prontidão.

Como funciona o sistema simpático?

Parte do sistema nervoso simpático também controla as funções do corpo que raramente são conscientes, como frequência cardíaca, respiração, pressão arterial, digestão e outras funções. Essa parte do sistema nervoso é conhecida como sistema nervoso autônomo.

O que faz o sistema nervoso parassimpático?

O sistema nervoso parassimpático (SNPS) é uma divisão do sistema nervoso autônomo que controla a atividade da musculatura lisa e cardíaca e das glândulas. Juntamente com o sistema simpático, forma o sistema nervoso autônomo (SNA).

Quais são os receptores do sistema nervoso simpático e parassimpático?

A acetilcolina no SNP( sistema nervoso parassimpático) atua sobre receptores muscarínicos e nicotínicos. Os neurônios pós-ganglionares do sistema nervoso simpático secretam principalmente noradrenalina, razão por que a maioria deles é chamada neurônios adrenérgicos.