. Show LEIA E ASSISTA MAIS POEMAS DA SÉRIE 24 HORAS DE POESIA. CLIQUE, AQUI. Da calma e do silêncio . Quando meu olhar Quando meus pés . Conceição Evaristo (1946) é uma escritora brasileira contemporânea nascida em Minas Gerais. Além dos romances e livros de contos bastante célebres, a autora também é conhecida pela sua poesia ancorada na memória individual e coletiva.Conceição Evaristo é uma escritora mineira, de Belo Horizonte, nascida em 29 de novembro de 1946, e doutora em Literatura Comparada. Escritora de origem pobre e de etnia negra, seus textos trazem a experiência de opressão e marginalidade, com forte valorização da memória ancestral. A autora publicou seus primeiros textos literários na série Cadernos negros, e seu primeiro romance, Ponciá Vicêncio, foi publicado, pela primeira vez, em 2003. Leia também: Carolina Maria de Jesus – uma das primeiras autoras negras publicadas no Brasil Biografia de Conceição EvaristoConceição Evaristo nasceu em 29 de novembro de 1946, em uma favela na cidade de Belo Horizonte, em Minas Gerais. Em 1973, mudou-se para o Rio de Janeiro. Fez graduação em Letras, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mestrado em Literatura Brasileira, na PUC Rio, e doutorado em Literatura Comparada, na Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 1958, ao terminar o primário, segundo Conceição Evaristo, ela ganhou seu primeiro prêmio de literatura, pois venceu o concurso de redação da escola. O título de seu texto premiado: Por que me orgulho de ser brasileira. Aos 17 anos, aderiu ao movimento da Juventude Operária Católica (JOC), que promovia reflexões sobre a realidade brasileira. Após terminar o Curso Normal no Instituto de Educação de Minas Gerais, em 1971, ela decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro. A partir daí, as reflexões sobre questões étnicas passaram a ser mais constantes na vida da escritora. Conceição Evaristo é um grande nome da literatura negra atual. [1]Seus primeiros contos e poemas foram publicados na série Cadernos negros|1|, e seu primeiro e mais famoso romance, Ponciá Vicêncio, foi publicado, pela primeira vez, em 2003. Em 2016, ganhou o Prêmio Faz Diferença, na categoria prosa, do jornal O Globo. Já em 2018, ganhou o Prêmio de Literatura do Governo de Minas Gerais, pelo conjunto da obra. Em 2019, ganhou o Prêmio Jabuti, na categoria Personalidade Literária do Ano. Não pare agora... Tem mais depois da publicidade ;) Em depoimento, no I Colóquio de Escritoras Mineiras, em 2009, na Faculdade de Letras da UFMG, Conceição Evaristo declarou:
Assim, nos textos da escritora, estão presentes os marginalizados, negros e/ou pobres, mulheres, que muito têm a ver com a história da sua vida. Não são textos propriamente autobiográficos, mas resultado de uma experiência de exclusão, da observação de uma realidade brasileira que a escritora transpõe para eles e suas personagens. Em seu depoimento, a escritora acrescenta:
A autora fala também sobre o início de sua vida escolar:
Assim, essa menina questionadora trabalhou como empregada doméstica para concluir o Curso Normal aos 25 anos de idade, depois prestou concurso para o magistério no Rio de Janeiro, onde trabalhou como professora da rede pública de ensino, fez faculdade, mestrado, doutorado e transformou-se numa das escritoras negras mais conhecidas do Brasil. Veja também: Cora Coralina – poetisa brasileira que não se vinculou às escolas literárias Principais obras de Conceição EvaristoAté o momento, Conceição Evaristo publicou, além de inúmeros textos acadêmicos, as seguintes obras literárias:
Sua obra mais famosa é Ponciá Vicêncio. Nesse romance, a protagonista Ponciá Vicêncio vai para a cidade grande em busca de uma vida melhor, e acaba afastando-se de sua mãe e de seu irmão, de sua família, de sua origem. Nesse livro, é colocada em foco a questão da ancestralidade e da memória, impressa em Ponciá desde o nascimento:
Essa sua semelhança com o avô é tomada como algo místico pela sua mãe. Contudo, nada mais é do que a marca de ancestralidade metaforicamente manifesta. A menina é Ponciá, mas também é ele, Vô Vicêncio, a sua história e a história dos que vieram antes dele. Herança não só genética e cultural, mas também da opressão histórica sofrida, como bem demonstra a fala do narrador sobre o pai ausente de Ponciá:
Ponciá possui o talento de trabalhar o barro, fazer esculturas. Ainda criança, ela fez um “homem baixinho, curvado, magrinho, graveto e com o bracinho cotoco para trás”. Essa reprodução em barro de Vô Vicêncio assustou a mãe de Ponciá: “Ela era tão pequena, tão de colo ainda quando o homem fez a passagem. Como, então, Ponciá Vicêncio havia guardado todo o jeito dele na memória?”. É a memória, fato inevitável, que parece acompanhar a protagonista desde o nascimento. Memória de opressão, impressa em seu sobrenome:
Vô Vicêncio nasceu escravo, alguns de seus filhos tinham nascido depois da Lei do Ventre Livre, mas, ainda assim, foram vendidos. Desesperado, Vô Vicêncio então matou a esposa e tentou matar-se, decepou a própria mão com uma foice. A tentativa de suicídio de Vô Vicêncio foi mal sucedida, mas ele ficou cotó, herança mística de Ponciá, lembrança do desespero diante da falta de liberdade. A protagonista também não demonstra um espírito passivo. Em criança, Ponciá Vicêncio começou a aprender a ler com padres missionários. Quando eles foram embora, sem terminar o serviço, ela continuou a estudar e conseguiu aprender a ler sozinha. Adulta, migra em busca de uma vida melhor:
Na cidade grande, ela encontra a solidão, não tem para onde ir, passa a noite na rua. Logo busca trabalho, consegue um emprego como empregada doméstica. Depois de muitos anos, consegue comprar um quartinho na periferia. Ainda, não sabe que seu irmão Luandi está na mesma cidade que ela, em busca de uma vida melhor e com um sonho, impedido pelo fato de não saber ler:
Na capital, longe dos seus, a mulher Ponciá passa a desenvolver certa melancolia, resultado da perda de sua identidade e da desilusão diante da dura realidade, capaz de matar até mesmo os sonhos:
Assim, irmã e irmão, cada um com o seu sonho, vivem em um contexto de opressão e injustiças iniciado bem antes do nascimento de Ponciá, na época da escravidão impressa em seu sobrenome: Vicêncio. Leia também: Castro Alves – poeta abolicionista do romantismo brasileiro Poemas de Conceição EvaristoSelecionamos três poemas de Conceição Evaristo para ler e comentar, todos do livro Poemas de recordação e outros movimentos. O primeiro deles é “Vozes-mulheres”. Nele o eu lírico resgata a sua ancestralidade, ao falar das mulheres que a precederam, todas com uma história de opressão por serem negras e pobres. Entretanto o texto traz um tom otimista em relação à nova geração de mulheres negras: Vozes-mulheres A voz de minha bisavó A voz de minha avó A voz de minha mãe A minha voz ainda A voz de minha filha A voz de minha filha O segundo poema é “Da calma e do silêncio”. Na sua primeira estrofe, a metalinguagem faz-se presente na personificação da palavra, como se o ato da criação poética fosse antropofágico: Quando eu morder Na segunda estrofe, o olhar da poetisa vê aquilo que os versos um dia mostrarão, pois a escrita é também exercício de observação: Quando meu olhar Na terceira estrofe, o eu lírico evidencia a imaginação como impulso criador e a existência de outros mundos, “mundos submersos”, sem estradas, habitados por artistas da palavra: Quando meus pés Já na última estrofe, o eu lírico atrela o mundo da imaginação ao da recordação. Dessa maneira, a memória é esse “mundo submerso” e inevitável na “calma e no silêncio” do processo criativo. Assim, inevitável também é a emoção: Recordar é preciso Por fim, o poema “Certidão de óbito”, que traz também o resgate da memória — elemento típico das obras da autora —, de forma a entrelaçar passado e presente em um mesmo lugar de opressão e violência. Nele estão evidenciados o sangue e a morte que compõem a história da pessoa negra no Brasil: Certidão de óbito Os ossos de nossos
antepassados Os olhos de nossos antepassados, A terra está coberta de valas Notas |1| A série Cadernos negros é uma publicação, criada em 1978, que traz contos e poemas com temática afro-brasileira, de autores e autoras negras. Créditos das imagens [1] PaulaA75/Commons [2] Editora Pallas (Reprodução) Qual a função da metáfora no poema?A metáfora é o recurso estilístico responsável por transpor o sentido literal para o figurado. Os recursos estilísticos são ferramentas que garantem maior expressividade aos textos e à fala.
Qual é a função da metáfora no poema que efeito de sentido ela gera?b) Qual é a função dessa metáfora no poema? Que efeito de sentido ela gera? Por meio dessa metáfora, o eu lírico intensifica o sentido de profundidade da palavra poética, atribuindo a ela um caráter visceral, orgânico, vivo.
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