Por que na década de 1980 Cubatão ficou conhecido como o Vale da Morte?

Oportuno discutir um dos maiores desastres ambientais do Brasil, no século XX, no momento em que acontece a 15ª Conferência das Partes da Convenção do Clima (COP15), em Copenhague (Dinamarca). O Vale da Morte, como ficou conhecida, na década de 1980, a cidade de Cubatão (a 68 km de São Paulo), ainda não está totalmente “curada” de todo o lixo industrial jogado no ar, água e solo por quase 40 anos. Apesar de indústria e autoridades exaltarem os avanços significativos no controle da poluição dos resíduos provenientes dos vários processos produtivos realizados no polo industrial da cidade, que vai de fertilizantes, petroquímica à siderurgia, o passivo ambiental ainda existe. Ainda é difícil falar em Cubatão sem lembrar das notícias sobre crianças nascidas sem cérebro, por exemplo.

* A poluição da Usiminas
* Situação do canal da Cosipa é gravíssima, diz especialista

O assessor da Diretoria de Tecnologia, Qualidade e Avaliação Ambiental da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), José Eduardo Bevilacqua, observa que a instalação das diversas indústrias de base em Cubatão “em meio a uma ampla rede de canais estuarinos e extensos manguezais, confinados entre o oceano e as escarpas da Serra do Mar causou um impacto significativo, em particular, nos ambientes aquáticos”.

Segundo o técnico, a partir do “Programa de Recuperação da Qualidade Ambiental de Cubatão” da companhia ambiental do Estado, no final da década de 1980, houve um controle maior sobre a carga de poluentes despejada para o sistema hídrico. “Para se ter uma idéia desses valores, houve uma redução de 93% em carga orgânica, de 97% em metais pesados, de 78% em fenóis e de 90% em resíduos sedimentáveis, cujos resultados foram percebidos rapidamente no ambiente”.

Ainda de acordo com o técnico, com o propósito de acompanhar os efeitos das medidas de controle adotadas pelas indústrias da região foram realizados pela Cetesb estudos de avaliação da qualidade das águas, sedimentos e organismos no ambiente aquático, de modo que os resultados obtidos nas campanhas de 1979, 1989 e 1999 mostraram uma progressiva recuperação do estuário.

No entanto, explica Bevilacqua, como o impacto anterior às medidas de controle foi de significativa intensidade, inclusive devido à disposição inadequada de resíduos, alguns contaminantes considerados persistentes ainda se fazem presentes.

O último estudo disponível, de 1999, mostra que a qualidade das águas atendeu aos padrões de qualidade às variáveis de origem industrial, mas os sedimentos apresentaram, em comparação com a água e os organismos, a maior variedade de contaminantes, sendo que as áreas que apresentaram as maiores concentrações de contaminantes localizam-se próximas às fontes de poluição. É a informação do técnico do órgão ambiental do governo de São Paulo.

“Além desses estudos, a Cetesb realiza de forma sistemática o monitoramento das águas interiores da Baixada Santista, por meio de 14 pontos de amostragem nos rios dos municípios de Cubatão, São Vicente, Bertioga e Itanhaém. Destacam-se, em 2009, os resultados das águas do Moji e Piaçaguera que indicaram a ocorrência de eutrofização devido à presença de níveis elevados de nutrientes tais como fósforo e nitrogênio, oriundos em parte, de fontes industriais. Este fenômeno mostra-se acentuado pela baixas vazões médias anuais, que proporcionam pequena capacidade de diluição”.

Herança tóxica
Mesmo tendo mudado de nome, a Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), que agora se chama Usiminas, o nome da empresa compradora da estatal Cosipa, em 1993, a herança ou passivo ambiental da siderúrgica paulista, agora mineira, está mais vivo do que nunca.

O monitoramento dos sedimentos feito pela Cetesb no rio Moji, em Cubatão, e os resultados de 2009 mostram, relata José Eduardo Bevilacqua, que muito embora o controle das fontes industriais tenha atingido um nível significativamente satisfatório, como demonstrado, ainda são encontrados contaminantes, tais como benzo(a)antraceno, benzo(a)pireno e criseno, todos associados à fontes pregressas de poluição industrial.

Qual o nível de comprometimento do estuário hoje por conta do despejo de produtos químicos de uma das maiores poluidoras do estuário, a Usiminas/Cosipa? O técnico da Cetesb responde: “a Cetesb constatou em seus estudos que as maiores concentrações de contaminantes são encontradas próximas às fontes de poluição. No caso do Complexo Usiminas essa regra se aplica, pois constata-se que os sedimentos mais contaminados encontram-se predominantemente na bacia de evolução do Canal Piaçaguera, perfazendo um volume de cerca de 400 mil m3, os quais, se dragados, serão destinados ao Dique do Furadinho, em local especialmente construído para confinar os sedimentos mais contaminados e que não podem ser lançados no quadrilátero oceânico, conforme preconiza a Resolução CONAMA 344/04”.

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