Por que os portugueses usaram a mão de obra escrava?

Graduada em História (Udesc, 2010)
Mestre em História (Udesc, 2013)
Doutora em História (USP, 2018)

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A escravização indígena ocorreu desde o início da colonização portuguesa no Brasil. Ao chegarem na costa brasileira os europeus começaram a explorar a nova terra e carregar suas naus com pau-brasil e indígenas, que foram levados à Europa e já escravizados, especialmente nas atividades domésticas.

É a partir da demarcação e distribuição das capitanias hereditárias e do início das atividades produtivas que os europeus passaram a utilizar a mão de obra indígena como força de trabalho escravo. Desta forma os indígenas constituíam a base da economia colonial, ainda em formação.

Fazer do indígena um escravo foi um desafio para os portugueses. Precisavam manter uma relação amistosa com os nativos para garantir a ocupação do novo território e assegurar a defesa dele. Eram eles que defendiam os europeus de ataques de outros grupos, além de auxiliarem no conhecimento de trilhas, alimentos e locais em terras desconhecidas.

Muitos eram os grupos indígenas que habitavam as terras brasileiras no século XVI e as práticas de disputa entre eles era bastante comum, gerando, inclusive, prisioneiros. No início da colonização houve a venda de prisioneiros – que seriam destinados aos rituais antropofágicos – aos portugueses, que passaram a utilizá-los como mão de obra escrava. Mas esses poucos casos não eram suficientes para garantir a produção que esperavam os europeus. A partir do momento que o aprisionamento passou a ser encarado como negócio pelos portugueses, muda a configuração das relações de trabalho.

A questão moral era preocupação constante entre os portugueses. Foi preciso pensar numa forma de garantir a escravização ao mesmo tempo que a aliança com alguns grupos continuasse. Para isso os colonos separaram os indígenas entre aliados e inimigos, assim, garantiam diferente tratamento aos diversos grupos indígenas.

Tomé de Souza, primeiro Governador Geral em 1549, que vai determinar a relação entre portugueses e indígenas e estabelecer duas ações. A primeira diz respeito às garantias aos indígenas aliados. Estes tinham o direito à liberdade, que consistia em remuneração e propriedade coletiva da terra. A segunda é a garantia da presença dos jesuítas, que muito se envolveram com as questões indígenas.

A escravização passou então a ser permitida em duas situações: no resgate de prisioneiros de outros grupos e no que chamavam de guerra justa, que era garantida caso os indígenas atacassem os portugueses. Estes dois casos muitas vezes serviam de pretexto para obtenção de mais escravos, em situações por vezes forjadas.

Ao passo que a economia colonial se desenvolvia, como o caso do açúcar no Nordeste, os colonos passaram a utilizar a mão de obra escrava africana. Mesmo que o trabalho indígena continuasse existindo eles não formavam mais a base da força de trabalho colonial. Ainda que no Nordeste a substituição do trabalho indígena pelo africano tenha sido mais evidente não significa que o primeiro tenha deixado de acontecer.

Já no século XVII os jesuítas estavam em busca da proibição das expedições paulistas – bandeiras – para o interior, que visavam a conquista de cativos. Mesmo com a aprovação do Papa e do Rei para a proibição, na prática foi difícil de conter os bandeirantes.

Somente no século XVIII que a liberdade indígena é declarada, que, apesar dos diversos aspectos mostrando seu declínio, esta forma de exploração do trabalho ainda era bastante comum entre os paulistas.

Por fim é preciso salientar que a subjugação de indígenas e africanos foi base de todo o processo de colonização, a partir de justificativas religiosas, morais e científicas. Além disso cabe destacar que nem indígenas nem africanos foram passivos à colonização e são protagonistas de resistência através de revoltas ou mesmo da justiça colonial, pois adaptaram-se ao sistema jurídico para resistir à colonização.

Texto originalmente publicado em https://www.infoescola.com/historia/escravizacao-indigena/

Sempre que ouvimos falar da colonização portuguesa na América, lembramos logo da colonização do Brasil. Será que o Brasil foi realmente descoberto pelos portugueses? Ou o processo de colonização portuguesa foi uma conquista?

A colonização portuguesa no Brasil teve como principais características: civilizar, exterminar, explorar, povoar, conquistar e dominar. Sabemos que os termos civilizar, explorar, exterminar, conquistar e dominar estão diretamente ligados às relações de poder de uma determinada civilização sobre outra, ou seja, os portugueses submetendo ao domínio e conquista os indígenas. Já os termos explorar, povoar remete-se à exploração e povoamento do novo território (América).

A partir de então, já sabemos de uma coisa, que o Brasil não foi descoberto pelos portugueses, pois afirmando isto, estaremos negligenciando a história dos indígenas (povoadores) que viviam há muito tempo neste território antes da chegada dos europeus. Portanto, o processo de colonização portuguesa no Brasil teve um caráter semelhante a outras colonizações europeias, como, por exemplo, a espanhola: a conquista e o extermínio dos indígenas. Sendo assim, ressaltamos que o Brasil foi conquistado e não descoberto. 

A Coroa portuguesa, quando empreendeu o financiamento das navegações marítimas portuguesas no século XV, tinha como principal objetivo a expansão comercial e a busca de produtos para comercializar na Europa (obtenção do lucro), mas não podemos negligenciar outros motivos não menos importantes como a expansão do cristianismo (Catolicismo), o caráter aventureiro das navegações, a tentativa de superar os perigos do mar (perigos reais e imaginários) e a expansão territorial portuguesa (territórios além-mar).

No ano de 1500, os primeiros portugueses chegaram ao chamado “Novo Mundo” (América), e com eles o navegador Pedro Álvares Cabral desembarcou no litoral do novo território. Logo, os primeiros europeus tomaram posse das terras e tiveram os primeiros contatos com os indígenas denominados pelos portugueses de “selvagens”. Alguns historiadores chamaram o primeiro contato entre portugueses e indígenas de “encontro de culturas”, mas percebemos com o início do processo de colonização portuguesa um “desencontro de culturas”, começando então o extermínio dos indígenas tanto por meio dos conflitos entre os portugueses quanto pelas doenças trazidas pelos europeus, como a gripe e a sífilis.

Entre 1500 a 1530, os portugueses efetivaram poucos empreendimentos no novo território conquistado, algumas expedições chegaram, como a de 1501, chefiada por Gaspar de Lemos e a expedição de Gonçalo Coelho de 1503, as principais realizações dessas expedições foram: nomear algumas localidades no litoral, confirmar a existência do pau-brasil e construir algumas feitorias.

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Em 1516, Dom Manuel I, rei de Portugal, enviou navios ao novo território para efetivar o povoamento e a exploração, instalaram-se em Porto Seguro, mas rapidamente foram expulsos pelos indígenas. Até o ano de 1530, a ocupação portuguesa ainda era bastante tímida, somente no ano de 1531, o monarca português Dom João III enviou Martin Afonso de Souza ao Brasil nomeado capitão-mor da esquadra e das terras coloniais, visando efetivar a exploração mineral e vegetal da região e a distribuição das sesmarias (lotes de terras).

No litoral do atual estado de São Paulo, Martin Afonso de Souza fundou no ano de 1532 os primeiros povoados do Brasil, as Vilas de São Vicente e Piratininga (atual cidade de São Paulo). No litoral paulista, o capitão-mor logo desenvolveu o plantio da cana-de-açúcar; os portugueses tiveram o contato com a cultura da cana-de-açúcar no período das cruzadas na Idade Média. 

As primeiras experiências portuguesas de plantio e cultivo da cana-de-açúcar e o processamento do açúcar nos engenhos aconteceram primeiramente na Ilha da Madeira (situada no Oceano Atlântico, a 978 km a sudoeste de Lisboa, próximo ao litoral africano). Em razão da grande procura e do alto valor agregado a este produto na Europa, os portugueses levaram a cultura da cana-de-açúcar para o Brasil (em virtude da grande quantidade de terras, da fácil adaptação ao clima brasileiro e das novas técnicas de cultivo), desenvolvendo os primeiros engenhos no litoral paulista e no litoral do nordeste (atual estado de Pernambuco), a produção do açúcar se tornou um negócio rentável.

Para desenvolver a produção do açúcar, os portugueses utilizaram nos engenhos a mão de obra escrava, os primeiros a serem escravizados foram os indígenas, posteriormente foi utilizada a mão de obra escrava africana, o tráfico negreiro neste período se tornou um atrativo empreendimento juntamente com os engenhos de açúcar.

Leandro Carvalho
Mestre em História

Porque os portugueses passaram a utilizar a mão de obra escrava?

Os portugueses passaram a cultivar a cana-de-açúcar e para isso explorou a mão de obra escrava. Os africanos foram trazidos para o Brasil para realizar trabalho forçado, sem pagamento, mediante relação de subsistência e sob ameaças e violência.

Por que os portugueses foram buscar mão de obra na África?

No decorrer do século XV, os europeus, no intuito de expandir suas atividades comerciais, exploraram a costa africana. Com a colonização da América, necessitavam de mão de obra para trabalhar nas terras conquistadas no “Novo Mundo”.

Por que os portugueses utilizaram a mão de obra escrava africana e indígena durante o período colonial?

A escravização do indígena aconteceu, principalmente, na extração do pau-brasil. Desde o momento em que a produção do açúcar, a partir do cultivo da cana-de-açúcar, impôs-se como principal produto econômico da colônia, ocorreu a transição para a utilização da mão de obra do escravo africano.