Introdu��o Show Para se entender a import�ncia dos esportes adaptados para pessoas com defici�ncias de ordem f�sica, sensorial ou intelectual faz-se necess�rio um retrocesso �s origens dos mesmos, principalmente pelas finalidades a que foram utilizados em cada contexto hist�rico. Gorgatti e Gortatti (2008) enfatizam que as atividades f�sicas ou mesmo os esportes para pessoas com defici�ncia v�m desde a Gr�cia Antiga e iniciou-se como tentativa de colaborar com o processo terap�utico, tinha a finalidade primordialmente m�dica visando prevenir e tratar les�es ou doen�as. Ara�jo (2009) acrescenta, ainda, que a pr�tica de esportes por pessoas com defici�ncia tiveram grande evid�ncia ap�s a Segunda Guerra Mundial (1945) e propunha minimizar as sequelas nos soldados vitimados por traumatismos em decorr�ncia da guerra e �o esporte era entendido como acelerador do processo de reabilita��o� (ARA�JO, 2009, p. 337). Todavia, o esporte para pessoas com defici�ncia, da forma como � conhecido atualmente, n�o tem objetivos relacionados apenas a reabilita��o: �Mais do que terapia, o esporte para esta popula��o caminha para o alto rendimento e o n�vel t�cnico dos atletas impressiona cada vez mais o p�blico e os estudiosos da �rea da atividade f�sica e dos esportes� (GORGATTI; GORGATTI, 2008, p. 532). Surge assim o esporte adaptado, entendido como a adequa��o ou adapta��o de um esporte j� conhecido pela sociedade para atender as especificidades de pessoas com defici�ncia.
Atualmente, acredita-se que o esporte adaptado contribui significativamente para a inser��o das pessoas com defici�ncia � sociedade, bem como trazem benef�cios relacionados � melhor aceita��o da defici�ncia, melhor intera��o com as pessoas ao seu redor, melhora da aptid�o f�sica, ganho de independ�ncia e autoconfian�a para a realiza��o das atividades di�rias, melhora do autoconceito e autoestima, dentre outros benef�cios. Buscando refutar, respaldar ou encontrar outros benef�cios e contribui��es do esporte para as pessoas com defici�ncia, a presente pesquisa tem como objetivo: investigar as contribui��es do esporte adaptado para a inser��o das pessoas com defici�ncia � sociedade, a partir da voz das pessoas com defici�ncia que praticam algum esporte adaptado as suas especificidades. M�todo Est� pesquisa teve enfoque qualitativo, delineado pelo modelo descritivo. Contou com a participa��o de 8 atletas, 5 com defici�ncia f�sica e 3 com defici�ncia visual, do g�nero masculino e de diferentes idades, que participam de projetos voltados ao esporte adaptado em um munic�pio de m�dio porte do interior paulista. Ressalta-se que, que estes atletas participam de projetos voltados ao Handebol em Cadeira de Rodas e ao Goalball. A escolha dos participantes da pesquisa seguiu os seguintes crit�rios: aceitar participar voluntariamente da pesquisa; ser maior de idade; apresentar defici�ncia; participar de equipes voltadas ao esporte adaptado. Para a coleta de dados utilizou-se de um roteiro de entrevista semiestrutura elaborado pelos pesquisadores, o qual foi testado a fim de verificar se o roteiro da entrevista respondia ao objetivo proposto na pesquisa e, para o registro dos dados coletados durante as entrevistas utilizou-se de um gravador. Para manter a identidade e integridade dos oito participantes da pesquisa, estes foram identificados como P1, P2, P3, P4, P5, P6, P7 e P8. Apresenta��o, discuss�o e an�lise de dados As informa��es pertinentes ao perfil e informa��es da defici�ncia dos participantes da pesquisa ser�o apresentados no quadro 1. Em seguida, ser�o abordas as contribui��es do esporte adaptado para a inser��o das pessoas com defici�ncia � sociedade, a partir das falas dos participantes desta pesquisa. Quadro 1. Perfil dos participantes - (*) DV: Defici�ncia Visual, (**) DF: Defici�ncia F�sica. Observando o quadro 1, percebe-se que todos os participantes da pesquisa s�o do g�nero masculino, evidenciando a pouca participa��o do p�blico do g�nero feminino nos esportes adaptados. Segundo Mour�o (2000), isso acontece devido � falta de incentivo cultural voltado a pr�tica esportiva por parte das mulheres, ainda persistindo o entendimento de que as mulheres deveriam ficar em casa cuidando dos afazeres dom�sticos e da educa��o dos filhos. Mour�o (2000) acrescenta, ainda, que historicamente se as mulheres viessem a praticar algum esporte seria, aquelas pertencente � elite, ou seja, aquelas mulheres que pertencessem a uma classe social economicamente mais favorecida. Em rela��o � idade, como crit�rio de inclus�o nesta pesquisa estabeleceu-se que todos os participantes fossem maiores de idade, ou seja, tivessem mais de 18 anos de idade. Deste modo, observando o quadro percebe-se que a m�dia de idade ficou de 35 anos sendo que o mais novo possuiu 20 e o mais velho 53. Dos oito participantes da pesquisa P1, P2, P3, P4, P5 apresentam Defici�ncia Visual, P2, P3, P4 e P5 com cegueira e P1 com baixa vis�o, e P6, P7 e P8 com Defici�ncia F�sica. 3 dos 8 participantes possuem defici�ncia f�sica, sendo que P6 e P8 adquiriram a defici�ncia por meio da Poliomielite e P7 por sua vez adquiriu a defici�ncia por meio de amputa��o, devido um c�ncer aos onze anos de idade. Os outros 5 participantes possuem defici�ncia visual, dois deles (P3 e P4) de forma adquirida. Os outros 3 de forma cong�nita, sendo que todos foram acometidos por doen�as que afetam de alguma forma o globo ocular, tais como: Catarata, diabetes, glaucoma/m� forma��o de c�rnea, exceto P2 que n�o teve sua defici�ncia diagnosticada, por�m segundo relatos do participante, sua defici�ncia possivelmente deve-se ao fato de que seus pais sejam parentes de primeiro grau. Quando aos esportes praticados, P1, P2, P3, P4 e P5 s�o atletas que participam de competi��es relacionadas ao Goaball e P6, P7 e P8 s�o atletas do Handebol em Cadeira de Rodas. Para investigar as poss�veis formas de inser��o que o esporte adaptado possibilitou aos participantes, questionou-se, primeiramente, se os mesmos acreditavam que o esporte poderia ser um facilitador ou um dificultador para a socializa��o e inser��o/inclus�o na sociedade. Foi un�nime a resposta que o esporte adaptado � um facilitador. Destaca-se que P1, P2, P4, P5 e P8 informaram que a facilita��o ocorre pelo conhecimento de novas pessoas, novas amizades. P2, P3, P5 e P8 entendem que a vis�o da sociedade tamb�m � alterada quando tratam de pessoas que praticam esporte adaptado e as n�o praticantes, ou seja, as pessoas sem defici�ncia ao observarem que as com defici�ncia podem e conseguem praticar esportes ficam surpreendidas, curiosas e abordam os atletas em busca de maiores informa��es, como foi refor�ado por P3 e P8.
Outro aspecto relacionado por P4 e P5 foi a possibilidade de adquirirem novos conhecimentos e P1, ainda, afirma que � um meio de se desenvolver de um modo geral para se adaptar e ficar mais a vontade frente as situa��es de conviv�ncia que a vida exige. P7 n�o soube responder a estes questionamentos. Notou-se que, a inser��o e socializa��o das pessoas com defici�ncia f�sica e visual por meio do esporte adaptado se d� com o estabelecimento de redes de amizades. Rocha e Miranda (2009) ressaltam que por meio do contato com outras pessoas � poss�vel que se conhe�a mais sobre as defici�ncias, possibilitando uma inser��o social, minimizando a exclus�o e, para isso deve-se ter o conhecimento sobre as defici�ncias e assim, adaptar o contexto para minimizar as dificuldades geradas pela defici�ncia, focando nas possibilidades da pessoa antes de suas limita��es. Posteriormente, indagou-se aos participantes da pesquisa se o esporte adaptado teria os ajudado na inser��o social. Ressaltam-se aqui as respostas de P4, P5 e P6, os quais acreditam que a inser��o ocorreu apenas no mundo esportivo, melhorando a inclus�o no esporte, pois j� se sentiam inclu�dos perante a sociedade, como se pode verificar em suas falas:
P4 refor�a, ainda, que n�o se sente inteiramente participante desta inser��o social, contudo o pouco que se sente foi o esporte adaptado que proporcionou.
Outras contribui��es citadas foram � possibilidade de fazer novas amizades por meio do esporte (P1, e P8), bem como uma maior visibilidade das pessoas com defici�ncia por meio das pr�ticas esportivas (P2), al�m a possibilidade de viajar e conhecer lugares (P7, P8). Apesar da vis�o m�dica da defici�ncia ainda estar presente na sociedade, na qual a defici�ncia ainda � vista em primeiro plano, colocando o indiv�duo a sombra de sua defici�ncia e segregando-os por tipos de limita��es, percebe-se que a sociedade quando toma consci�ncia das potencialidades das pessoas com defici�ncia j� diminui os estigmas colocados, podendo proporcionar uma maior inser��o dos mesmos. Para maiores aprofundamentos sobre os benef�cios advindos do esporte para a vida dos atletas participantes da pesquisa, perguntou-se aos mesmos quais eram estes benef�cios, especificamente aqueles relacionados aos aspectos f�sicos, psicol�gicos e sociais. Na quest�o do aspecto f�sico foi apontado por P1 e P5 melhorias na sa�de, por P3, P7 e P8 no condicionamento f�sico, quando este cita que � adepto da muscula��o. Para P7 e P8 a condi��o f�sica melhorou em fun��o da redu��o das dores no corpo devido ao uso de pr�tese e a defici�ncia em si.
Em se tratando dos aspectos sociais, os participantes citaram que houve maiores oportunidades de sair mais de suas resid�ncias, redu��o da timidez de freq�entar outros ambientes da sociedade (espa�os de lazer, com�rcio, etc.), melhora na conviv�ncia com outras pessoas, al�m de observarem que existe uma mudan�a na maneira com que a sociedade �olha� os atletas com defici�ncia, como menciona o P3 e o P8:
Sobre os aspectos psicol�gicos os atletas acreditam que o esporte proporciona uma mudan�a de pensamento, fazendo com que eles adquiram pensamentos pautados na autoestima, na paci�ncia, no respeito as regras e as pr�prias limita��es e potencialidades, al�m da redu��o do stress e esquecimento dos problemas/dificuldades da vida cotidiana. No caso do psicol�gico voc� n�o fica parado dentro de casa amontoando um monte de besteira na mente (P3). Voc� aprende a respeitar mais as regras da vida. Respeita at� mesmo o que sua defici�ncia te imp�e e o que ela te possibilita. Voc� n�o se faz mais de coitadinho (P4) [...] porque �s vezes voc� sai estressado do trabalho, ai voc� vem aqui joga, relaxa. Seu corpo e metabolismo melhoram e o seu corpo tamb�m e chega em casa relaxado (P5). Fica evidente que os participantes acreditam que existem muitos aspectos positivos na pr�tica do esporte adaptado, sendo que os mesmos mencionam que adquirem benef�cios na esfera psicol�gica, f�sica e social, al�m disso, �� a oportunidade de testar seus limites e potencialidades, prevenir as enfermidades secund�rias da sua defici�ncia e promover a integra��o social e a reabilita��o da pessoa com defici�ncia� (CARDOSO, 2011, p. 533). Gorgatti e Gorgatti (2008) enfatizam que embora o objetivo maior do esporte adaptado n�o seja a reabilita��o das pessoas com defici�ncia e sim a competi��o, s�o ineg�veis os benef�cios que a sua pr�tica pode proporcionar, principalmente nos aspectos psicossociais. Percebe-se assim que a pr�tica de atividades relacionadas ao esporte adaptado atinge a pessoa com defici�ncia em v�rias perspectivas. A pr�tica de atividades esportivas acaba contribuindo para o reingresso social, al�m de proporcionar melhorias em quest�es relacionadas a sa�de, reabilita��o e qualidade de vida. Deste modo, conv�m ressaltar a import�ncia que o esporte adaptado trouxe a respeito da supera��o de limites e descobrimento de potencialidades por parte dos participantes da pesquisa, os quais s�o atletas de Handebol em Cadeira de Rodas e Goalball. Obviamente que, nas respostas de muitas das quest�es indagadas os participantes mencionaram que o fato de fazer novas amizades dentro do esporte tem grande import�ncia na socializa��o e inser��o social. Entretanto, P4 chama a aten��o ao mencionar que:
Desta forma, complementa afirmando que a pr�tica do esporte aumentou a possibilidade de se relacionar com pessoas apenas dentro da modalidade esportiva, como citado na pesquisa de Oliveira et al. (2013, p. 169) quando o autor enfatiza que �o esporte adaptado indica agir positivamente nos aspectos sociais no que tange no relacionamento com amigos, passando de uma predomin�ncia baixa de relacionamentos (antes) para alto (ap�s) a inser��o na modalidade [...] entretanto, essas rela��es mostraram-se mais favor�veis quanto ao aumento das rela��es s�cias com atletas e t�cnicos� P3 enfatiza que a conviv�ncia com a sociedade tem melhorado, pois as pessoas come�am a olhar a defici�ncia de uma nova perspectiva, n�o a vendo como primeiro plano, olhando desta forma para as potencialidades do indiv�duo e n�o mais para as limita��es decorrentes das defici�ncias. Acredita-se, assim, que a principal contribui��o proporcionada pela pr�tica de esportes adaptados � o aumento da rede de relacionamentos que, se amplia principalmente no �mbito das pr�prias modalidades. Considera��es finais A presente pesquisa teve como prop�sito investigar as contribui��es do esporte adaptado para a inser��o das pessoas com defici�ncia � sociedade, a partir da voz das pessoas com defici�ncia que praticam algum esporte adaptado as suas especificidades. Levando em considera��o as respostas obtidas nas entrevistas realizadas percebeu-se que a pr�tica do esporte adaptado traz benef�cios aos seus praticantes, sejam ele nos aspectos de ordem f�sica, psicol�gica ou social. Nos aspectos f�sicos, os participantes relataram melhoria da sa�de, reabilita��o e qualidade de vida, maior mobilidade ou h�bitos saud�veis. Quanto aos aspectos psicol�gicos nota-se a redu��o de stress, melhoria na autoestima, melhor rela��o no autoconceito e pensamentos positivos em rela��o � vida e, no aspecto social foi poss�vel perceber aumento da rede de relacionamentos de amizade no �mbito das modalidades esportivas adaptadas e modifica��es nos entendimentos que as pessoas n�o acometidas por defici�ncias tem em rela��o as possibilidades das pessoas com defici�ncia. Constatou-se que, ao contr�rio das expectativas das pesquisadoras e conforme �a voz das pessoas com defici�ncia� que o esporte adaptado, nos moldes da cidade onde foi aplicada a pesquisa, apesar dos benef�cios nos aspectos de ordem f�sica, psicol�gica ou social, n�o contribui para uma inser��o social ampla por parte dos atletas que participam de projetos voltados ao esporte adaptado. Segundo os participantes desta pesquisa, a inser��o social s� acontece no mundo esportivo adaptado. Os relatos dos 8 participantes da pesquisa apontam que o principal benef�cio do esporte para a inser��o social de pessoas com defici�ncia � a amplia��o da rede de amizades, todavia, esta s� ocorre no �mbito das pr�prias modalidades esportivas adaptadas, proporcionando uma inser��o social apenas neste meio. Neste sentido, seria necess�rio promover uma inser��o que ultrapassasse os muros e limites dos locais onde se desenvolve o esporte adaptado. Conforme citado, embora haja um aumento significativo das redes de amizades e acesso a diferentes ambientes sociais (espa�os de lazer, com�rcio, etc.), a vida das pessoas com defici�ncia n�o se resume apenas a tais ambientes. Deste modo, ainda h� muito a ser feito para a inser��o das pessoas com defici�ncia em todos os ambientes e contextos da sociedade se fa�a de forma concreta. Ressalta-se, tamb�m, que a lenta evolu��o e conhecimento a respeito do esporte adaptado se d�o pela falta de investimentos no esporte adaptado, aus�ncia de interesse do poder p�blico, insufici�ncia de apoio de patrocinadores, car�ncia de pol�ticas p�blicas, escassez de investimentos na infraestrutura e nos recursos espec�ficos para a pr�tica de modalidades esportivas adaptadas, as quais desaceleram os entendimentos sobre os benef�cios e contribui��es do esporte adaptado para as pessoas com defici�ncia. Constata-se, portanto, que apesar da evolu��o ao longo dos anos do esporte adaptado, h� a necessidade de maior ader�ncia, maior participa��o da popula��o, bem como a amplia��o de pol�ticas p�blicas para o esporte e lazer da popula��o com defici�ncia. Refer�ncias
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