Qual o papel dos EUA nas ditaduras Latino

A América Latina e o Caribe tiveram sua história marcada pela presença de ditaduras, grande parte delas protagonizadas por militares. Nos anos 1920 e 1930, países como a Venezuela, Cuba, Nicarágua, República Dominicana, Peru e Haiti experimentaram esse tipo de regime.

Qual o papel dos EUA nas ditaduras Latino
Richard Nixon com Emilio G. Medici, presidente do Brasil, em dezembro de 1971, nos Estados Unidos (NARA)

No entanto, o tipo característico de regime ditatorial das últimas décadas do século XX foi o governo militar baseado na doutrina de segurança nacional, que se concentrou no Cone Sul do continente. Iniciado no Brasil em 1964, esse ciclo de ditaduras militares disseminou-se pela região, chegando à Bolívia (1964), à Argentina (1966, e depois 1976), ao Chile e ao Uruguai (1973). Como características comuns esses regimes impuseram uma militarização do Estado, com as Forças Armadas assumindo o papel de dirigentes políticos e agentes da repressão, e mantiveram-se no poder por meio de violenta repressão contra as forças populares e as instituições democráticas. Para ocupar os cargos econômicos e jurídicos foram destacados técnicos ligados ao grande capital privado e ao pensamento conservador.

Tais regimes inseriram-se no clima de guerra fria vigente no mundo bipolar, assumiram alianças estratégicas e programáticas com os Estados Unidos na luta contra o comunismo, caracterizado não apenas pelas forças anticapitalistas, mas por todas as expressões dos dissensos sociais – sindicatos, universidades, intelectuais, forças democráticas e liberais. Foram ditadores que promoveram a hegemonia do grande capital internacionalizado, reprimiram as reivindicações sociais dos trabalhadores, debilitaram os serviços públicos em favor dos privados, aderiram às posições norte-americanas em política externa e impuseram um Estado ditatorial.

Houve diferenças entre as ditaduras militares. A brasileira, instalada ainda no longo ciclo expansivo do capitalismo internacional, pôde beneficiar-se de investimentos, imprimir um novo ciclo expansivo à economia do país e manter a presença do Estado na economia, particularmente mediante empresas estatais. A ditadura militar argentina, instalada em 1966, fracassou e, quando os militares voltaram ao poder, em 1976, a economia mundial já se encontrava em recessão, condenando o regime militar à estagnação. A mesma coisa aconteceu com a ditadura militar uruguaia.

A ditadura chilena, depois de enfrentar uma recessão inicial, optou por introduzir políticas neoliberais, provenientes da Escola­ de Chicago, com o que modernizou a economia do país, conforme os cânones neoliberais. Foi pioneira – junto com a ditadura boliviana – no experimento do novo modelo. Pôde imprimir um novo ciclo de expansão da economia, às custas da destruição do que havia de desenvolvimento industrial e da forte repressão ao nível de vida dos trabalhadores e a seus direitos sociais.

Qual o papel dos EUA nas ditaduras Latino
Jorge Rafael Videla, presidente de facto da Argentina, em parada militar em Buenos Aires, na Argentina, em 1978 (www.casarosada.gov.ar)

Essas ditaduras militares conseguiram impor duras derrotas às forças populares de seus países – sindicatos, partidos políticos, movimentos sociais, intelectualidade crítica e imprensa independente. Liberalizaram as economias argentina e chilena e alinharam seus países com as políticas imperialistas, mas não lograram institucionalizar-se. Quando tentaram fazê-lo, foram derrotadas. Nos casos chileno e uruguaio, a derrota aconteceu em plebiscitos convocados por elas mesmas. A ditadura brasileira não conseguiu eleger seu candidato, nem sequer impedindo as eleições diretas para presidente da República. A ditadura argentina tentou uma sobrevida com a Guerra das Malvinas, mas sua derrota acelerou o final do regime militar.

Os crimes cometidos pelas ditaduras ficaram em grande parte impunes em todos os países em que elas existiram. Em alguns países, como o Chile e a Argentina, há processos em andamento – o general Jorge Videla foi condenado à prisão, junto com vários de seus pares; Augusto Pinochet foi processado. Em geral, no entanto, os responsáveis pelos crimes cometidos não sofreram as condenações correspondentes – tanto as altas patentes das Forças Armadas, como as grandes empresas que lucraram com os regimes de terror impostos.

Os responsáveis pela Operação Condor, comprometidos pelas investigações do juiz espanhol Baltasar Garzón, tampouco foram condenados nos seus países.

A América Latina viveu como num jogo de War do fim da Segunda Guerra até a década de 80. Para evitar revoluções comunistas, os Estados Unidos apoiaram militares contra a democracia em mais da metade das nações. Esses governos duraram pouco mais que três décadas e marcaram para sempre o destino de países como o Brasil.

1954 – Guatemala e Paraguai

A primeira intervenção direta dos Estados Unidos no continente derruba Jacobo Arbenz, presidente da Guatemala. Em 11 de julho, o chefe do Estado-Maior do Paraguai, general Alfredo Stroessner, comanda um golpe contra o presidente Federico Chávez e assume o poder. Até o fim do ano, 13 das 20 nações da América Latina são dominadas por militares

1962 – Argentina

Em fevereiro, militares argentinos depõem Arturo Frondizi, presidente desde 1958. É apenas mais um golpe na Argentina, que teve depostos todos os seus presidentes desde Perón, que assumiu em 1946, a Isabelita Perón, em 1976

1964 – Brasil

Na madrugada de 31 de março, um golpe militar derruba o presidente João Goulart. O governo não reagiu, assim como os grupos que lhe davam apoio. Em 15 de abril, o general Humberto de Alencar Castelo Branco assume a presidência

1968 – Peru

Uma junta militar liderada pelo general Juan Velasco Alvarado instala-se no poder ao depor o líder Belaunde Terry. O primeiro ato de Alvarado foi polêmico e surpreendente: ele nacionalizou a empresa International Petroleum Company, que detinha a principal concessão de exploração de óleo e que estava com impostos atrasados. O governo Velasco foi a primeira ditadura do continente a promover uma reforma agrária.

1973 – Uruguai e Chile

Em junho, é a vez do governo democrático do Uruguai, liderado pela Frente Ampla, cair perante os militares. Em setembro, no Chile, uma ação militar cerca o presidente comunista Salvador Allende, que se suicida. Quem assume é o general Augusto Pinochet

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1978 – República Dominicana

As ditaduras começam a perder prestígio a partir de 1977, com a política de valorização dos direitos humanos do presidente americano Jimmy Carter. Uma das primeiras a cair foi a da República Dominicana, que teve início em 1965, com a invasão do país por 22 mil soldados da Organização dos Estados Americanos

1979 – Nicarágua

Enquanto a maioria dos países do continente está tomada por ditaduras, uma revolução popular provoca um golpe de esquerda na Nicarágua. Os revolucionários conseguem chegar ao poder em julho, depondo Anastasio Somoza, ditador desde 1967. O novo governo, de Daniel Ortega, passa a enfrentar uma contra-revolução apoiada pelos Estados Unidos

1982 – Bolívia

País campeão em quarteladas e contragolpes em todo o século 20, a Bolívia teve dezenas de presidentes desde 1964, quando foi derrubado o presidente de esquerda Paz Estenssoro (golpista e depois eleito democraticamente), Ele voltou ao cargo em 1985, com a democratização do país, mas enfrentou fortes crises econômicas e não estabilizou a política

1985 – Brasil

O processo de abertura política brasileira já vinha acontecendo desde 1974, com o crescimento da oposição parlamentar. Em 1985, Tancredo Neves, um não-militar da oposição, é eleito pelo Colégio Eleitoral – um dos marcos do fim da ditadura

1990 – Chile

O começo do fim da última ditadura do continente foi em 1988, quando a população disse não num plebiscito à proposta de o ditador Augusto Pinochet seguir no poder até 1997. No ano seguinte, Patricio Aylwin, candidato democrata-cristão da aliança com os socialistas, vence a eleição presidencial. Ele assume em 1990, quando o Congresso é reaberto 1990

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Qual o interesse dos Estados Unidos em apoiar o regime militar?

O principal interesse dos Estados Unidos ao apoiar golpes e governos militares na América Latina estava ligado sobretudo a manter afastada a influência soviética desses países e também mantê-los sob a dependência norte americana.

Qual o papel dos EUA na Operação Condor?

Os Estados Unidos apoiaram os golpes contra governos comunistas e tinham ciência da perseguição e tortura contra seus opositores. A Operação Condor ainda causa discussões entre estudiosos das ditaduras militares quanto às ações dos governos militares.

Em que países latinos americanos foi implantado o regime militar?

Foi o caso do Brasil, Bolívia, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, que sofreram golpes de Estado e a instauração de ditaduras militares logo em sequência (em 1954, no Paraguai; em 1964, na Bolívia e no Brasil; em 1973, no Chile e no Uruguai; e em 1976 na Argentina).