Show Existem filmes bons, existem filmes interessantes, existem até filmes importantes. E existem também filmes fundamentais. O brasileiro "Que horas ela volta?", escrito e dirigido pela Anna Muylaerte, faz parte de um restritíssimo grupo de obras que se enquadra nesta última categoria. Trata-se de um filme fundamental para entender o nosso mundo - e mais especificamente a sociedade brasileira. Mas não só. Penso que o filme, além de abrir os olhos de muitos para a absurda desigualdade social que vivemos (e que apesar dos inúmeros avanços, ainda permanece), pode ainda favorecer uma necessária mudança social. É claro que mudanças são lentas, mas os debates que tem se espalhado pelo Brasil sobre este filme, podem gerar consequências positivas. Quero acreditar nisso. No cinema onde fui - em um bairro de classe média-alta - não havia somente os espectadores típicos dos cinemas. Vi também pessoas que muito provavelmente trabalham como empregadxs, porteirxs e motoristxs destes espectadores típicos. Não eram muitos, claro, mas estavam lá. E isto tem ocorrido em vários cinemas do país. E estas pessoas vão lá e muito provavelmente se identificam plenamente com a personagem Val, vivida de forma soberba pela Regina Casé (tenho lá minhas críticas ao programa Esquenta e até à própria pessoa da Regina Casé mas tenho que admitir que, como atriz, ela é sensacional). Se você já leu alguma coisa sobre o filme deve saber que Val é empregada doméstica, já há muitos anos, de uma família de classe média alta de São Paulo - ela é "praticamente" da família (#sqn). O filme retrata, do ponto de vista de Val e de sua filha a complexa e verticalizada relação entre patrões e empregados - que reproduz de forma mais ou menos explícita a relação Casa Grande e Senzala. Mas o que este filme traz de interessante não é simplesmente essa constatação, mas a produção de um incômodo constante ao colocar determinadas pessoas fazendo o que elas não "deveriam" estar fazendo. Exemplifico: é "sabido" que empregadas não devem almoçar na mesa com os patrões nem desfrutar da piscina da casa. Isto é entendido, normalmente, sem qualquer questionamento nem das empregadas nem dos patrões. Como diz Val, “a pessoa já nasce sabendo". Simplesmente "é" assim - como, supostamente, sempre teria sido. Mas e se de repente, não mais que de repente, a empregada (no caso a filha da empregada) almoçasse na mesa do patrão e nadasse na piscina? O que o filme nos causa todo o tempo é este incômodo de ver pessoas não seguindo os papéis sociais que elas "deveriam" estar seguindo. Com isto, o filme consegue desnaturalizar determinadas regras sociais e com uma vantagem: sem demonizar os patrões. Estes não são retratados como sujeitos cruéis e sádicos que adoram submeter as empregadas a regras escrotas e sem sentido. Não. Eles são pessoas como eu ou você que simplesmente
reproduzimos, muitas vezes sem pensar, determinadas regras implícitas e nos incomodamos quando elas são rompidas. Na verdade, a família retratada no filme é muito mais "progressista" do que muitas famílias de outros filmes e séries do tipo (e eu penso especialmente no filme francês Mulheres do sexto andar e na série Downton Abbey) e mesmo do que muitas das famílias classe-média-alta que se vê por aí. Em muitos momentos eles demonstram se importar com Val e parecem realmente gostar dela. A grande
questão é que eles gostam e se importam com ela na medida em que ela (e por pressuposto, sua filha), segue determinadas regras. Quando estas são questionadas ou rompidas todo este aparente progressismo começa a ruir e a relação Casa Grande-Senzala fica evidente como nunca. Neste momento fica claro que Val não é "praticamente" da família: ela é empregada e eles patrões. Todo o véu de hipocrisia que cobre a relação patrão-empregado é exposto de forma nua e crua nesta obra fundamental do cinema
brasileiro contemporâneo. #ficaadica Que horas ela volta é desigualdade social?O longa aborda a desigualdade social no Brasil a partir da relação entre a empregada doméstica nordestina e seus patrões paulistanos. Trata-se de um drama, com passagens cômicas propiciadas pela personagem Val, a empregada interpretada por Regina Casé (1954).
O que diz o filme Que horas ela volta?O filme é o relato sutil das diferenças e conflitos sociais presentes entre as camadas mais altas e mais baixas da sociedade. Portanto, nos concentramos na função que a empregada doméstica desempenha na trama e qual papel assume em sociedade, além da construção socioespacial relacionada às barreiras e divisões sociais.
Que horas ela volta relacionando com as questões de direito do trabalho?QUE HORAS ELA VOLTA? apresenta uma crítica ao direito e à sociedade brasileira, que mesmo após a abolição da escravidão, manteve o trabalho doméstico acorrentado a uma legislação atrelada a uma episteme de servidão.
Que horas ela volta crítica social Brainly?Resposta. O filme quis criticar a visão que os ricos tem de dos pobres, por exemplo: a personagem da Regina Casé trabalha na casa da mulher a 20 anos,criou o filho dela e é vista apenas como uma empregada, nada além disso. Enquanto está personagem vê seus patrões como uma família,eles a veem como uma mera empregada.
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