A arte de conhecer a si mesmo pdf download

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Schopenhauer não escondera de amigos e seguidores a existência de um manual zelosamente guardado que costumava chamar de Eis heuatón – como as célebres memórias de Marco Aurélio. Depois de sua morte, o executor testamentário, Willen von Gwinner as utilizara para escrever uma biografia do filósofo. Iniciado em 1821 e continuado nas décadas seguintes, este “livro secreto” era constituído provavelmente por mais ou menos trinta páginas repletas de anotações autobiográficas, recordações, reflexões,normas de comportamento, máximas e citações que Schopenhauer registrara como aquilo que era mais importante para ele, como uma espécie de essência de sua própria sabedoria de vida: as regras de uma arte de conhecer a si mesmo e, ao mesmo tempo, tornar menos difícil a convivência com os outros e a orientação no mundo.

Resumo Arthur Schopenhauer (1788-1860) é definido frequentemente pelos manuais de filosofia como um autor misantropo, sem voz e seguidores. Contudo, um trabalho recente da autoria de D. Fazio, M. Kossler e L. Lütkehaus desmentiu esse preconceito, ao demonstrar que o pensador construiu uma escola filosófica em sentido estrito e lato. Na primeira conotação se incluem doze intelectuais menos conhecidos que apreciaram Schopenhauer em vida e foram designados pelo mestre como os seus “apóstolos”. No segundo significado se destacam os “metafísicos” E. von Hartmann, P. Mainländer e J. Bahnsen, os “hereges” F. Nietzsche, P. Rée, G. Simmel e M. Horkheimer, e os “pais da igreja” P. Deussen, H. Zint, A. Hübscher e R. Malter, que embora não tenham conhecido o filósofo em vida, ampliaram o seu pensamento para múltiplas direções. Diante dessa historiografia, questionamos se Sigmund Freud (1856 – 1939) não merece compor a “escola schopenhaueriana em sentido lato”, em virtude de suas diversas referências a e concordâncias com o filósofo, nos temas do inconsciente, sexualidade, repressão, morte e etc.. Em busca de uma resposta a essa questão, investigamos os pensamentos de Schopenhauer e de Freud sobre um tema pouco estudado: a religião. Entre as semelhanças encontradas em suas concepções desse objeto, se incluem o fato de ambos serem ateus e explanarem a religião como uma criação destinada a consolar o homem da morte, da culpa e do sofrimento. Além disso, os autores acedem em que os mitos possam expressar a verdade indiretamente, denunciam que a interpretação literal dos dogmas conduz a ilusões e encorajam a eutanásia da religião. Entre as diferenças, se destacam o fato de Schopenhauer abordar essa instituição pelo viés filosófico e metafísico e ser mais crente do que Freud quanto à cognição humana da coisa em si; enquanto Freud a interpela a partir da ciência psicanalítica e é mais otimista do que Schopenhauer na capacidade racional e popular humana de autossuperação da religião. Com base nesse confronto, concluímos que, a despeito da originalidade e autonomia científica da psicanálise, Freud é um autor próximo da fortuna schopenhaueriana, de modo que propomos que a “escola de Schopenhauer” reconheça em sua proximidade duas classes complementares: a dos cientistas, encabeçada por Freud, e a dos artistas, que abrange outros nomes. Além de uma tese historiográfica, esse reconhecimento também é fundamental para que o schopenhauerianismo e o freudismo não se confundam com duas religiões estatuárias, pois ambos foram acusados de conservarem resquícios de religiosidade, de modo que nada é mais justo para eles do que a evidência de suas buscas da complementação entre a filosofia e as ciências, em nome de uma ‘universitas literarum’ (literatura universal), multidisciplinar e coesa. Abstract Arthur Schopenhauer (1788-1860) is often defined by the philosophy manuals as a voiceless thinker, with no followers. However, a recent research written by D. Fazio, M. Kossler and L. Lütkehaus denied this prejudice by showing that Schopenhauer built a philosophical school in a broad and narrow sense. The first connotation includes twelve less renowned intellectuals, who knew Schopenhauer in life and were designated “apostles” by him. In the second meaning stand out the “metaphysics” E. von Hartmann, P. Mainländer and J. Bahnsen, the “heretics” F. Nietzsche, P. Ree, G. Simmel and M. Horkheimer, and the “church- parents” P. Deussen, H. Zint, A. Hübscher and R. Malter. Even though they never met Schopenhauer in life, these authors were also touched by his philosophy and extended it to multiple and diverse directions. Given this systematic historiography, I will argue that Sigmund Freud (1856 – 1939) deserves to compose the “Schopenhauer’s school” in a broad sense. To support this argument, I will take into consideration that Freud agrees with the philosopher on the subjects of the unconscious, sexuality, repression, death, etc.. In search of an answer to this question, I analyze and interpret the thoughts of Schopenhauer and Freud on a object less studied by experts, namely, religion. Among the similarities found in their conception of that subject, I will include the fact that both are atheists and explain religion as a human creation designed to comfort men regarding death, guilt and suffering. Besides that, both thinkers accept that myths can indirectly express the truth, but denounce that literal interpretation of religious dogmas leads to illusions and encourage the euthanasia of religion. Among the differences between both authors, I highlight that Schopenhauer broaches religion with a metaphysical methodology and is more optimistic than Freud about human cognition of the thing in itself; while Freud challenges religion from the psychoanalytic science and is more sure than Schopenhauer about popular human capacity of overcoming religion. Based on this comparison, I conclude that, despite the originality and scientific autonomy of psychoanalysis, Freud is an author whose performance is very close to Schopenhauer’s fortune in the history of thought. Therefore, I propose that “Schopenhauer’s school” in a broad sense should recognize in this proximity the scientists class, led by Freud, as well as that of artists, which would include other names. In addition to this historiographical thesis, I argue that this recognition is also important in order to avoid that Schopenhauerianism and Freudianism being confused with two statutory religions, because both traditions retain religious remnants, and therefore there should be nothing better to them than to cultivate the complementation between philosophy and sciences, on behalf of a multidisciplinary and well-founded “universitas literarum” (universal literature).