Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

INSTRUÇÃO: Leia atentamente o texto a seguir, que servirá de base para as respostas das questões 01 a 04.

Os sertões A Serra do Mar tem um notável perfil em nossa história. A prumo sobre o Atlântico desdobra-se como a cortina de baluarte desmedido. De encontro às suas escarpas embatia, fragílima, a ânsia guerreira dos Cavendish e dos Fenton. No alto, volvendo o olhar em cheio para os chapadões, o forasteiro sentia-se em segurança.
Estava sobre ameias intransponíveis que o punham do mesmo passo a cavaleiro do invasor e da metrópole.
Transposta a montanha, arqueada como a precinta de pedra de um continente. Era um isolador étnico e um isolador histórico. Anulava o apego irreprimível ao litoral, que se exercia ao norte; reduzia-o a estreita faixa de mangues e restingas, ante a qual se amorteciam todas as cobiças, e alteava, sobranceira às frotas, intangível no recesso das matas, a atração misteriosa das minas… Ainda mais o seu relevo especial torna-a um condensador de primeira ordem, no precipitar a evaporação oceânica. Os rios que se derivam pelas suas vertentes nascem de algum modo no mar. Rolam as águas num sentido oposto à costa.
Entranham-se no interior, correndo em cheio para os sertões. Dão ao forasteiro a sugestão irresistível das entradas. A terra atrai o homem; chama-o para o seio fecundo; encanta-o pelo aspecto formosíssimo; arrebata-o, afinal, irresistivelmente, na correnteza dos rios.
Daí o traçado eloquentíssimo do Tietê, diretriz preponderante nesse domínio do solo. Enquanto no S. Francisco, no Parnaíba, no Amazonas, e em todos os cursos d’ água da borda oriental, o acesso para o interior seguia ao arrepio das correntes, ou embatia nas cachoeiras que tombam dos socalcos dos planaltos, ele levava os sertanistas, sem uma remada, para o rio Grande e daí ao Paraná e ao Paranaíba. Era a penetração em Minas, em Goiás, em Santa Catarina, no Rio Grande do Sul, no Mato Grosso, no Brasil inteiro. Segundo estas linhas de menor resistência, que definem os lineamentos mais claros da expansão colonial, não se opunham, como ao norte, renteando o passo às bandeiras, a esterilidade da terra, a barreira intangível dos descampados brutos. Assim é fácil mostrar como esta distinção de ordem física esclarece as anomalias e contrastes entre os sucessos nos dous pontos do país, sobretudo no período agudo da crise colonial, no século XVII.
Enquanto o domínio holandês, centralizando-se em Pernambuco, reagia por toda a costa oriental, da Bahia ao Maranhão, e se travavam reecontros memoráveis em que, solidárias, enterreiravam o inimigo comum as nossas três raças formadoras, o sulista, absolutamente alheio àquela agitação, revelava, na rebeldia aos decretos da metrópole, completo divórcio com aqueles lutadores. Era quase um inimigo tão perigoso quanto o batavo. Um povo estranho de mestiços levantadiços, expandindo outras tendências, norteado por outros destinos, pisando, resoluto, em demanda de outros rumos, bulas e alvarás entibiadores.
Volvia-se em luta aberta com a corte portuguesa, numa reação tenaz contra os jesuítas. Estes, olvidando o holandês e dirigindo-se, com Ruiz de Montoya a Madri e Díaz Taño a Roma, apontavam-no como inimigo mais sério.
De feito, enquanto em Pernambuco as tropas de van Schkoppe preparavam o governo de Nassau, em São Paulo se arquitetava o drama sombrio de Guaíra. E quando a restauração em Portugal veio alentar em toda a linha a repulsa ao invasor, congregando de novo os combatentes exaustos, os sulistas frisaram ainda mais esta separação de destinos, aproveitando-se do mesmo fato para estadearem a autonomia franca, no reinado de um minuto de Amador Bueno.
Não temos contraste maior na nossa história. Está nele a sua feição verdadeiramente nacional. Fora disto mal a vislumbramos nas cortes espetaculosas dos governadores, na Bahia, onde imperava a Companhia de Jesus com o privilégio da conquista das almas, eufemismo casuístico disfarçando o monopólio do braço indígena.
(EUCLIDES DA CUNHA. Os sertões. Edição crítica de Walnice Nogueira Galvão. 2 ed. São Paulo: Editora Ática, 2001, p. 81-82.)
1. Por que Euclides da Cunha considera o rio Tietê fundamental para a exploração colonial e qual é a sua situação nos tempos atuais, em seu trecho paulistano?
RESPOSTA
O texto de Euclides da Cunha descreve a utilização do Rio Tietê no processo de ocupação do interior do território brasileiro. A descrição do autor detalha as facilidades encontradas pelos desbravadores paulistas no acesso a regiões distantes do litoral, em direção ao Centro-oeste e Sul do atual território nacional. O fato de o Tietê serpentear em direção oposta ao mar, possuir correnteza e ser bastante navegável facilitou em muito esse processo, tanto para bandeirantes quanto para as monções que deixavam São Paulo rumo ao interior.
Atualmente o Rio Tietê perdeu sua possibilidade de navegação em trechos importantes, em especial no seu trajeto urbano. A poluição, o assoreamento e até mesmo a falta de capacidade política ou mesmo de interesse do poder público inviabilizam a utilização do rio para fins de transporte de carga e pessoas.

2. Segundo o texto de Euclides da Cunha, houve duas colonizações portuguesas no Brasil, diferentes e contrastantes. Escreva sobre as diferenças apresentadas pelo texto entre a colonização do norte e a do sul, no que se refere à relação dos colonos com a metrópole portuguesa.
RESPOSTA:
A colonização portuguesa foi bastante diversa se comparada à realidade nordestina e a sulista. No Nordeste, a presença holandesa foi determinante para a reestruturação da produção da cana-de-açúcar. Houve nesse contexto certa conivência dos senhores de engenho frente à política generosa de Maurício de Nassau e a WIC. As bases tradicionais do latifúndio monocultor e escravista foram mantidas e colocadas a serviço do novo senhor em terras brasileiras, ou seja, o “batavo”. No extremo sul da colônia, o isolamento geográfico e étnico, foi responsável pelo surgimento de um tipo de colono rebelde que questionava as determinações tanto da coroa portuguesa quanto da Igreja Católica. Embates constantes desde a Aclamação efêmera do rei Amador Bueno em São Paulo até os choques entre colonos e jesuítas, tendo como elemento propulsor a escravização do indígena.

3. Sobre o “domínio holandês” citado por Euclides da Cunha, explique os interesses econômicos em jogo e identifique os grupos sociais envolvidos nos “choques memoráveis” travados no período dessa ocupação.
RESPOSTA
A ocupação holandesa no Nordeste brasileiro está relacionada ao contexto da União Ibérica e às disputas envolvendo os governos de Espanha e Holanda. Quando o governo holandês entra em guerra contra o Império Espanhol, esse determina que os flamengos não poderiam mais fazer o comércio do açúcar com o Brasil, indiretamente sobre controle espanhol. Esse impedimento determina a ação da WIC no Nordeste. A ocupação de pouco mais de duas décadas (1630-1654) isola a região e transforma completamente as relações comerciais estabelecidas até então entre Portugal e sua colônia. Os choques para a expulsão dos holandeses envolveram vários elementos sociais como destaca o autor e compõem um dos elementos definidores da identidade pernambucana. No entanto, os principais envolvidos na saída dos holandeses da região foram os grandes proprietários que viram seus interesses ameaçados pela política opressiva da WIC depois da demissão de Maurício de Nassau em 1644. Estudos mais recentes como os realizados pelo historiador Evaldo Cabral, sugerem inclusive um acordo entre os portugueses e holandeses para a definitiva saída dos holandeses da região.
4. Processos de colonização distintos, como os apresentados pelo texto, dificultaram a integração econômica do vasto território brasileiro. Qual foi a contribuição da exploração de metais preciosos, no século XVIII, e a da industrialização, no século XX, para uma maior integração econômica e territorial do país?
RESPOSTA:
A economia mineradora foi importante fator de integração econômica na medida em que transformou a região das minas em polo de atração de imigrantes (principalmente reinóis) assim como de comerciantes de várias partes da colônia. Assim, o gado nordestino e sulista, as tropas de mulas de São Paulo e as monções fluviais tomavam a direção das minas para atender uma população cada vez maior, garantindo a ocupação do interior do território colonial. A integração regional ocorreu à revelia da metrópole portuguesa e dinamizou de maneira significativa a sociedade brasileira. Já a industrialização no século XX, possibilitou a integração através de estradas para escoamento da produção e circulação de mercadorias e pessoas, além de criar polos de atração de mão-de-obra e investimentos na região Sudeste. A demanda por matérias primas para movimentar a indústria também contribuiu de maneira indireta para a integração de diversas áreas do território nacional. Ao mesmo tempo, no entanto, essa integração territorial conviveu com o agravamento do desequilíbrio regional, pois as regiões Norte e Nordeste, salvo exceções, foram relegadas a um segundo plano.

5. (UFRJ)- “Canudos ficava num cenário que lembrava as paisagens descritas na Bíblia: uma região árida repleta de caatingas, rodeada por cinco serras ásperas e atravessada por um rio, o Vaza-Barris. Decidido a permanecer naquela autêntica fortaleza natural, e isso não deve ter escapado à percepção de Conselheiro, ele e seu grupo entraram em ação para construir uma comunidade onde estivessem livres do incômodo das autoridades religiosas católicas e políticas, bem como das leis republicanas, dos “coronéis”, dos juízes, dos impostos, da justiça arbitrária, da política etc”. (COSTA, Nicola S. Canudos – Ordem e Progresso no Sertão. São Paulo, Moderna, 1990.)
O movimento de Canudos (1896-97), liderado pelo beato Antônio Vicente Mendes Maciel, o “Antônio Conselheiro”, no sertão nordestino, é um dos mais conhecidos exemplos de movimentos místico-populares que marcou o início da República no Brasil. As problemáticas sociais que deram vida àquele movimento permanecem, até hoje, em grande parte sem solução.
Cite e justifique dois motivos pelos quais o povoado de Canudos incomodava as “autoridades políticas locais e religiosas”.
RESPOSTA:
Permitir o acesso a terra e combater a injustiça. Ao permitir o acesso a terra a experiência de Canudos acabava na prática com a dependência dos sertanejos aos favores do coronel destruía o esquema de manutenção do poder das elites políticas ao reagir em relação a sujeição da população pobre ao mando dos coronéis e padres representantes do poder vigente

6. Porque Euclides da Cunha afirma, na Nota Preliminar de Os Sertões, que a Campanha de Canudos “foi, na significação integral da palavra, um crime”

RESPOSTA:

O crime reside na incompreensão de Canudos por parte do Litoral. Aquele povo em um cenário de miséria e abandono, em um lugar perdido entre a caatingas e serras chamada Canudos disparou o grito do país até então não conhecido. O grito não pôde ser ouvido porque não foi entendido pelos dirigentes que preferiram suplantá-los com armas, sufoca-los com balas.

7. (FUVEST) No decênio de 1930 houve uma renovação do romance brasileiro de tema regional, que passou de descritivo e sentimental a crítico e realista.
a) Lembre um romance que pode exemplificar essa renovação. Justifique sua escolha com elementos desse romance.
b) A obra OS SERTÕES, de Euclides da Cunha, está na gênese dessa transformação. Por quê?
RESPOSTAS:

a) VIDAS SECAS, de Graciliano Ramos, pois trata de forma crítica e realista do problema da seca e da vida dura dos retirantes.
b) Porque se ocupa também de retratar criticamente a realidade, ainda que influenciado pelo determinismo do século XIX.

8. O episódio de Canudos resultou em um dos clássicos da literatura brasileira: Os Sertões. Euclides da Cunha, seu autor, na época era jornalista e acompanhou a luta no próprio local como correspondente do jornal O Estado de S. Paulo.

Apesar de demonstrar preconceitos de “civilizado” falando de “incultos” e apesar de dar ênfase exagerada às condições geográficas e étnicas, configurando um determinismo geográfico e racial nas suas explicações, Euclides da Cunha deu atenção ao caráter comunitário da economia de Canudos. Deixou claro que o movimento não era isolado, revelando a revolta desesperada das populações miseráveis ignoradas por um sistema sociopolítico que lhes exigia fidelidade sem lhes dar nada em troca.(NADAI; NEVES, 1995, p. 271).

Os movimentos messiânicos — expressões dos desequilíbrios socioeconômicos entre o litoral e o interior do Brasil no final do século XIX — ocorreram, sobretudo, em contextos rurais, dentre os quais o arraial de Canudos representa uma das mais importantes experiências.

Com base nessas considerações e no conteúdo do texto, cite uma forma de sobrevivência econômica e uma prática espiritual da população referida.

RESPOSTA:

Sobrevivência econômica — produção agrícola de subsistência, comércio com localidades próximas.

Prática espiritual — messianismo / catolicismo popular / atuação profética de Antônio Conselheiro.  

9. NA Obra lida,  o autor ao descrever o sertanejo, apresenta como contraditórios certos aspectos de sua constituição física e seu comportamento. Comente essa contradição.

RESPOSTA:

Por um lado, o sertanejo mostra-se forte e impulsivo: por outro, mostra-se frágil, fisicamente, e apático

10.O autor critica a guerra em si e afirma que outra “guerra mais demorada e digna” deveria ser travada. Qual é essa guerra?

RESPOSTA:

A que visasse trazer o sertanejo para a civilização, incorporá-lo a vida do país.

11. Na obra ”Os Sertões”, de Euclides da Cunha revela influência da época e, ao mesmo empo, o empenho em chegar à verdade dos fatos. Cite da obra em questão o argumento que comprova a influência de teorias raciais existentes no começo do século XX. 

RESPOSTA

Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral.

12. Ao dividir a obra em três partes A terra, O homem e A luta mostra a intensão do autor em afirmar que a própria estrutura da obra revela uma concepção naturalista. Explique.

RESPOSTA:

Porque a estrutura tem relação com o enfoque determinista do autor: o meio determina o homem e da interação entre homem e meio resulta a guerra

13. Euclides da Cunha não aceita a versão oficial dada pelo Exército: a de que Canudos era um foco monarquista. Na visão do autor, quais tinham sido as causas daquele fenômeno social?

RESPOSTA:

A miséria, a ignorância, o fanatismo religioso, advindo das duas primeiras, e marginalização política

14. O livro Os sertões foi publicado pela primeira vez em 1902 e recebeu grande atenção da crítica e do público. Leia o trecho a seguir e assinale a opção falsa.

“Canudos tinha muito apropriadamente, em roda, uma cercadura de montanhas. Era um parêntesis; era um hiato. Era um vácuo. Não existia. Transposto aquele cordão de serras, ninguém mais pecava.” (Os sertões. São Paulo: Circulo do Livro, 1975. p. 444)

a)Trata-se de um romance modernista, em que a personagem central, Fabiano, vive uma vida miserável no sertão nordestino, em companhia de sua esposa e de seus dois filhos.

b)Este livro foi escrito por João Cabral de Melo Neto, escritor pernambucano, cuja obra aborda com frequência temas e personagens vinculados ao sertão nordestino.

c) O romance de Euclides da Cunha tem como centro um episódio da história brasileira, conhecido como a Guerra de Canudos, que ocorreu no sertão baiano, no final do século passado, e tinha como principal líder Antônio Conselheiro.

d)É uma peça de teatro, na qual as personagens centrais são jagunços e fanáticos que enfrentam o exército brasileiro no sertão baiano.

e)O poema épico escrito por Euclides da Cunha, em versos decassílabos, é uma obra consagrada da literatura brasileira e apresenta descrições muito líricas da paisagem nordestina, acentuando seus elementos fantásticos.

15. (PUC-RIO) Para responder à questão, ler o fragmento que segue.

“A travessia foi penosamente feita. O terreno inconsistente e móvel fugia sob os passos aos caminhantes; remorava a tração das carretas absorvendo as rodas até ao meio dos raios; opunha, salteadamente, flexíveis barreiras de espinheirais, que era forçoso

destramar a facão; e reduplicava, no reverberar intenso das areias, a adustão da canícula. De sorte que ao chegar à tarde, à “Serra Branca”, a tropa estava exausta. Exausta e sequiosa. Caminhara oito horas sem parar, em pleno arder do sol bravio do verão.”

O fragmento pertence ao livro Os sertões, de Euclides da Cunha, que relata a Guerra de Canudos, travada no Nordeste brasileiro entre os homens liderados por Antônio Conselheiro e as tropas militares republicanas.

Neste trecho da obra,

I. alternam-se a linguagem coloquial e a inconformidade com a exploração do homem pelo homem.

II. a complexidade vocabular e o predomínio da descrição constituem características marcantes.

III. a reiteração de expressões regionais e a preocupação com a condição humana permeiam o ponto de vista do narrador.

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são

a) I, apenas.

b) II, apenas.

c) III, apenas.

d) I e III, apenas.

e) I, II e III.

Considerando o texto responda as questões 16 a 18 do livro sertões abaixo

“Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua.

Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante” (CUNHA, Euclides da. Os sertões. 29. Ed. Rio de Janeiro: Círculo do livro, 1975. p. 38).

15. A respeito do livro Os sertões, afirmou o crítico Massaud Moisés: “É um ensaio recheado de elementos estéticos e literários”. Usando como exemplo o excerto acima, a opinião do crítico traduz-se em:

a) A relação empática entre o sujeito e o objeto observado determina os caracteres ensaísticos do texto.

b) Em essência, o texto revela fatos observados e sentidos numa simbiose entre a imaginação e a concepção estética da linguagem.

c) O texto apresenta um substrato linguístico de perfil estético, mas não se desvencilha de seu caráter dissertativo argumentativo.

d) O caráter ensaístico do texto esvazia de sentidos a atuação do sujeito.

e) Evidenciam-se os constituintes ficcionais que fazem do texto um produto da imaginação e da recriação estética.

17. Numa visão generalista, os sertões

a) apresenta imagens de um ambiente hostil, completamente recriadas pela imaginação do sujeito.

b) é exemplo de uma construção linguística mapeada por elementos constituintes de um texto dissertativo.

c) fundamenta-se nas circunstâncias, visto que, para o processo criador, seria impossível apresentar imagens da caatinga sem ser dependente daquele mundo hostil.

d) abdica das metáforas para não sucumbir aos apelos fantasiosos de uma narrativa ficcional.

e) não está centrado apenas na referência aos dados da realidade; consta-lhe também um tratamento estético, tanto na ordem dos sentidos quanto na estruturação semântica.

18. Mas, sendo também uma obra de ficção, o texto de Euclides da Cunha

a) vale-se da impessoalidade do discurso para revelar uma imagem do ambiente sertanejo esteticamente concebida.

b) privilegia uma ação cognoscitiva diante da realidade, ou seja, quer descrever o mundo exterior sem transpor as relações lógicas entre os significantes e os significados.

c) institui ao ambiente uma forma de expressão da caatinga a partir das correlações temporais lineares que se processam entre o mundo sensível e o sujeito.

d) constitui-se de uma concepção linguística tradicional para rever imagens preexistentes e singularizadas no processo criador.

e) é também um construto linguístico de caráter estético  esboçado por nuances subjetivas que evidenciam as interferências da emoção do sujeito sobre o ambiente. 

19. (PUC-RS) Para responder à questão, ler o texto que segue.

Em Marcha para Canudos

“Foi nestas condições desfavoráveis que partiram a 12 de janeiro de 1897.
Tomaram pela Estrada de Cambaio. É a mais curta e a mais acidentada. Ilude a princípio, perlongando o vale de Cariacá, numa cinta de terrenos férteis sombreados de cerradões que prefiguram verdadeiras matas.
Transcorridos alguns quilômetros, porém, acidenta-se; perturba-se em trilhas pedregosas e torna-se menos praticável à medida que se avizinha do sopé da serra do Acaru.
[…]
Tinha meio caminho andado. As estradas pioravam crivadas de veredas, serpeando em morros, alçando-se em rampas, caindo em grotões, desabrigadas, sem sombras…
[…]
Entretanto era imprescindível a máxima celeridade. Tornava-se suspeita a paragem: restos de fogueira à margem do caminho e vivendas incendiadas, davam sinais do inimigo.”

Todas as afirmativas que seguem estão associadas ao trecho selecionado de Os sertões, em que os homens se dirigem para o local do embate, EXCETO

a) Atenção e rapidez são necessárias numa trajetória que leva os viajantes a uma experiência belicosa.

b) A presença do inimigo é percebida pelo rastros de sua passagem ainda recente.

c) Os obstáculos que se apresentam prenunciam os trágicos eventos que ocorrerão.

d) Pelo assunto do trecho, é possível inferir que se trata de um episódio constante na segunda parte da obra .

e) A estrada referida perturba a avaliação inicial do viajante dada a riqueza natural da área.

20.Na manhã do dia seis

Canudos foi destruída

Com bombardeios e incêndios

Não ficou nada com vida

Dizem que o Conselheiro

Tinha morrido primeiro

Na Belo Monte Querida FRANÇA, A.Q. de; RINARÈ, R. do. Antônio Conselheiro e a Guerra de Canudos. Fortaleza; Tupynanquim, 2002, p. 32.

(UFC) Em relação aos movimentos como o de Canudos, é correto afirmar que:

a)foram movimentos que se limitaram às regiões Norte e Nordeste do Brasil, marcadas pela presença dos latifúndios.

b) foram movimentos sem grande repercussão, visto que se situavam no campo e a maior parte dos trabalhadores do país encontrava-se nas cidades.

c) no campo o domínio dos coronéis era absoluto, e esses movimentos sociais tiveram que se disfarçar como um movimento de conteúdo religioso, para evitar a repressão.

d) foram movimentos nos quais se combinavam conteúdos religioso e social, pois questionavam o poder das autoridades civis e religiosas.

e) foram movimentos de conteúdo exclusivamente religioso, marcados pelo fanatismo, reprimidos por Pedro II e pelos republicanos que se esforçavam para construir um país civilizado.

21. (UFRS) Considere as seguintes afirmações sobre OS SERTÕES, de Euclides da Cunha.
I – Nas duas primeiras partes do livro, o autor descreve, respectivamente, o homem e o meio ambiente que constituíam o sertão baiano, valendo-se, para tanto, das teorias científicas desenvolvidas na época.
II – Ao descrever os sertanejos, o autor idealiza suas qualidades morais e físicas e conclui que seu heroísmo era resultado da fé nos ensinamentos religiosos do líder Antônio Conselheiro.
III – O autor descreve, na terceira parte do livro, as várias etapas da guerra de Canudos e denuncia o massacre dos sertanejos pelas tropas do exército brasileiro, revelando a miséria e subdesenvolvimento da região.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas III.
d) Apenas I e III.
e) I, II e III.

22. (UFPR) “Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a caatinga o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças; e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado: árvores sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante…”. (CUNHA, 2011, p. 70)
O trecho acima, do livro Os Sertões (Campanha de Canudos), de Euclides da Cunha, apresenta algumas características da vegetação da caatinga, segundo as impressões do autor. Assinale a alternativa que indica corretamente outras características desse domínio.
a) O tipo climático predominante na área da caatinga é o árido, em que se destacam a elevada temperatura e a precipitação altamente irregular.

b) Um dos graves problemas ambientais na caatinga tem sido a ampliação das áreas afetadas ou suscetíveis à desertificação, potencializada pelo modo de ocupação do território.

c) As principais bacias hidrográficas dessa região são as do São Francisco e do Paranaíba, no entanto, vários dos afluentes desses dois rios são intermitentes.

d) As características da caatinga favorecem a existência de fauna e floras únicas, porém de pouca diversidade biológica e pobres em recursos energéticos.

e) A área da caatinga apresenta paisagens morfológicas e fitogeográficas de forte apelo ao turismo, destacando-se principalmente as Chapadas Diamantina e dos Guimarães. 

23. (UFSM-RS) “(…) esta aparência de cansaço ilude. Nada é mais surpreendedor do que vê-la desaparecer de improviso. Naquela organização combalida operam-se, em segundos, transmutações completas. Basta o aparecimento de qualquer incidente exigindo-lhe o desencadear das energias adormecidas. O homem transfigura-se.”

Assinale a frase que, retirada de Os sertões, sintetiza o trecho citado.

a)         “é o homem permanentemente fatigado”

b)        “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”

c)         “a raça forte não destrói a fraca pelas armas, esmaga-a pela civilização”

d)        “Reflete a preguiça invencível (…) em tudo”

e)         “a sua religião é como ele — mestiça”

24. (SERRITA PE ) “O sertanejo é, antes de tudo, um forte. Não tem o raquitismo exaustivo dos mestiços neurastênicos do litoral. A sua aparência, entretanto, no primeiro lance de vista, revela o contrário…” 
Os Sertões – Euclides da Cunha
a) O autor quis mostrar que a superioridade do sertanejo em relação ao litorâneo tem um fundamento racial.

b) O autor valoriza a raça do homem do litoral

c) O autor usa uma linguagem romântica para descrever o sertanejo e os sertões.

d) A denúncia do crime cometido pela nação conta si própria na Guerra de Canudos não é o tema de “Os Sertões”.

25. (UFRGS) Assinale com V (Verdadeiro) ou F (Falso) as afirmações abaixo sobre a obra “Os Sertões”, de Euclides da Cunha.
( ) No texto de Euclides da Cunha, misturam-se o requinte da linguagem, a intenção científica e o propósito jornalístico.
( ) A obra euclideana insere-se numa tradição da literatura brasileira que tematiza o povoamento do sertão, iniciada ainda no Romantismo com Bernardo Guimarães.
( ) Euclides da Cunha escreveu “Os Sertões” com base nas reportagens que realizou como correspondente do jornal “O Estado de São Paulo”.
( ) Antônio Conselheiro é uma personagem fictícia criada pelo imaginário do autor.
( ) O episódio de Canudos, retratado no texto de Euclides da Cunha, faz parte dos movimentos de protesto surgidos logo após a proclamação da Independência do Brasil.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) V- F- V- F- F
b) V- V- V- F- F
c) F- F- V- V- F
d) F- V- F- F- V
e) V- V- F- F- F

26. (MACKENZIE) Sobre “Os Sertões”, é INCORRETO afirmar que:
a) o autor, militar em sua origem, desaprova a causa dos sertanejos.
b) apresenta certa dificuldade em termos de enquadramento em um único gênero literário.
c) sua linguagem tende ao solene, com vocabulário erudito e tom grandiloquente.
d) origina-se de reportagens para “O Estado de São Paulo”, nas quais o autor expõe fatos relacionados à Guerra de Canudos.
e) Euclides da Cunha segue um esquema determinista na estrutura das três partes da obra.

27. NÃO constitui recurso utilizado pelo autor para demonstrar o vínculo de sua estória com “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, a (o)
a) semelhança entre os personagens Antônio Conselheiro e Jesuíno Pregador.
b) utilização de citações da obra “Os Sertões” em vários momentos da narrativa.
c) local escolhido como cenário de sua história, uma cidade no interior do sertão.
d) desfecho trágico para o movimento religioso, mobilizando milhares de sertanejos.

28. (UFV-MG) Observe a seguinte declaração sobre o Pré-Modernismo

Creio que se pode chamar pré-modernismo (no sentido forte de premonição dos temas vistos em 22) tudo o que, nas primeiras décadas do século, problematiza a nossa realidade social e cultural. BOSI, Alfredo, História concisa da literatura brasileira. São Paulo: Cultrix, 1994. p. 306.

Atente agora para o que se afirma a respeito de algumas obras e autores brasileiros e assinale a alternativa cujo conteúdo NÃO contempla a síntese crítica de Alfredo Bosi:

a)         Um dos grandes temas de Os Sertões é a denúncia que Euclides da Cunha faz sobre o crime que a nação cometeu contra si própria na Guerra dos Canudos.

b)         Monteiro Lobato imortalizou o personagem Jeca Tatu, transformando-o no símbolo do caipira subdesenvolvido que vive na indolência e pratica sempre a “lei do menor esforço”.

c)         Lima Barreto expressou sempre o inconformismo face às injustiças sociais e, na obra Triste Fim de Policarpo Quaresma, construiu uma imagem caricata do Brasil com todas as suas contradições.

d)        Mário e Oswald de Andrade notabilizaram-se como os grandes líderes da revolução de 22 e, portanto, do processo de ruptura em relação à tradição intelectual, libertando a literatura brasileira da “calmaria” em que se encontrava.

e)         Em Os Sertões, Euclides da Cunha opõe o homem do sertão ao homem do litoral, acentuando-lhes as diferenças econômicas e socioculturais.

29. TEXTO 1 
“… Como se sabia, o supremo pavor dos sertanejos era morrer a ferro frio, não pelo temor da morte senão pelas suas consequências, porque acreditavam que, por tal forma, não se lhes salvaria a alma. Exploravam esta superstição ingênua. Prometiam-lhes não raro a esmola de um tiro, à custa de revelações. Raros as faziam. Na maioria emudeciam, estoicos, inquebráveis – defrontando a perdição eterna. Exigiam-lhes vivas à República.”
TEXTO 2
” – Mas você está muito enganada, mana. É preconceito supor-se que todo homem que toca violão é um desclassificado. A modinha é a mais genuína expressão da poesia nacional e o violão é o instrumento que ela pede. (…) Convém que nós não deixemos morrer as nossas tradições, os usos genuinamente nacionais.”
Após a leitura atenta dos textos 1 e 2, analise as afirmativas a seguir:
1) Ambos pertencem a obras pré-modernistas, pois refletem temáticas nacionalistas e contemporâneas aos autores, mas com um viés crítico e exaltador.
2) O texto 1 é um trecho de’ “Os Sertões”, obra em que Euclides da Cunha descortina o interior do Brasil, traçando um retrato do Arraial de Canudos e do líder místico Antônio Conselheiro.
3) O texto 2 é parte do romance “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto, de estilo simples e despojado. Seus cenários são os subúrbios cariocas, onde denunciava preconceitos sociais.
Está(ão) correta(s):
a) 2 apenas       

b) 1, 2 e 3          

c) 2 e 3 apenas         

d) 1 e 3 apenas         

e) 1 apenas30. (UFAM) Das frases abaixo, apenas uma NÃO se refere a Os Sertões, a obra-prima de Euclides da Cunha. Assinale-a:

a) Divide-se em três partes, as quais, pela ordem, estudam o homem nordestino, o meio físico e as escaramuças entre os revoltosos e as tropas do governo.

b) Foi produzido a partir de uma série de reportagens sobre a Campanha de Canudos, que ocorreu na Bahia no final do século XIX.

c) A obra não possui matrizes exclusivamente literárias, abrindo-se para outros gêneros, como a sociologia, a geografia e a história.

d) O embasamento científico da obra funcionou como freio ao sentimentalismo romanesco, evitando, com isso, episódios imaginários próprios da ficção.

e) A figura central é Antônio Conselheiro, chefe carismático de uma multidão de fanáticos religiosos.

31. (UNB) Essa obra de Domingos Olympio, publicada em 1903, é contemporânea de CANAÃ, de Graça Aranha, e de OS SERTÕES, de Euclides da Cunha. Julgue os itens abaixo, relativos ao fragmento apresentado.
(1) Nos parágrafos 3 e 6, o adjetivo com que é caracterizada Luzia – “extraordinária” – aponta para duas leituras diferentes, mas complementares, a respeito dessa personagem.
(2) A força física com que é destacada a atuação da personagem não é um empecilho para que nela o narrador perceba sensualidade e feminilidade.
(3) A atitude de timidez e recato assumida por Luzia era falsa e deliberadamente construída com o propósito de obter privilégios.
(4) No texto, fica implícito um contraste entre a situação socioeconômica de Luzia e a do francês Paul.
RESPOSTA: V V F V

32. (ENEM) Então, a travessia das veredas sertanejas é mais exaustiva que a de uma estepe nua. Nesta, ao menos, o viajante tem o desafogo de um horizonte largo e a perspectiva das planuras francas. Ao passo que a outra o afoga; abrevia-lhe o olhar; agride-o e estonteia-o; enlaça-o na trama espinescente e não o atrai; repulsa-o com as folhas urticantes, com o espinho, com os gravetos estalados em lanças, e desdobra-se-lhe na frente léguas e léguas, imutável no aspecto desolado; árvore sem folhas, de galhos estorcidos e secos, revoltos, entrecruzados, apontando rijamente no espaço ou estirando-se flexuosos
pelo solo, lembrando um bracejar imenso, de tortura, da flora agonizante…
CUNHA, E. Os sertões. Disponível em: http://pt.scribd.com. Acesso em: 2 jun. 2012.
Os elementos da paisagem descritos no texto correspondem a aspectos biogeográficos presentes na
a) composição de vegetação xerófila.
b) formação de florestas latifoliadas.
c) transição para mata de grande porte.
d) adaptação à elevada salinidade.
e) homogeneização da cobertura perenifólia.

33. “Não é por acaso que as autoridades brasileiras recebem o aplauso unânime das autoridades internacionais das grandes potências, pela energia implacável e eficaz de sua política saneadora das epidemias […]. O mesmo se dá com a repressão dos movimentos populares de Canudos e do Contestado, que no contexto rural […] significavam praticamente o mesmo que a Revolta da Vacina no contexto urbano”. Nicolau Sevcenko. A revolta da vacina. 
De acordo com o texto, a Revolta da Vacina, o movimento de Canudos e o do Contestado foram vistos internacionalmente como MOVIMENTOS : 
a) provocados pelo êxodo maciço de populações saídas do campo rumo às cidades logo após a abolição.
b) retrógrados, pois as agitações provocadas por estes movimentos populares dificultavam a modernização do país.
c) decorrentes da política sanitarista de Oswaldo Cruz.
d) indícios de que a escravidão e o império chegavam ao fim para dar lugar ao trabalho livre e à república.
e) conservadores, porque ameaçavam o avanço do capital norte-americano no Brasil.

34. Com a obra Os Sertões (1902), Euclides da Cunha foi um escritor pré-modernista pioneiro ao aproximar a literatura e a história quando recriou literariamente o sangrento conflito da Guerra de Canudos (1897). Além de retratar os conflitos ocorridos durante o período, o autor atribuiu maior destaque a três principais aspectos:

a) a escravidão, o povo e a luta;

b) a terra, o homem e a luta;

c) o povo, a raça e a luta;

d) o homem, a luta, a guerra;

e) o sertão, o homem, a luta.

35. (UFRS) Assinale a única alternativa INCORRETA a respeito da obra de Euclides da Cunha.
a) Em OS SERTÕES, o autor se utiliza de uma linguagem preciosista e rebuscada, em que pontificam os termos emprestados à ciência da época, os adjetivos exagerados e os verbos cuidadosamente escolhidos.
b) OS SERTÕES é o produto final de um longo trabalho de pesquisa bibliográfica, de uma engajada cobertura jornalística realizada ‘in loco’ pelo autor e da revisão de anotações detalhadas feitas por Euclides da Cunha durante sua estada no sertão baiano.
c) A utilização de personagens ficcionais lado a lado com as figuras históricas que protagonizam os acontecimentos de OS SERTÕES permite a Euclides da Cunha inserir suas impressões pessoais sobre o episódio e, além disso, estabelece nexos entre as ações isoladas.
d) Nas duas primeiras partes de OS SERTÕES o autor se mostra adepto das doutrinas científicas da época, que não viam com bons olhos a mestiçagem e estabeleciam uma relação direta entre herança biológica e progresso material dos povos.
e) Na última parte de OS SERTÕES, A LUTA, opera-se uma transformação do ponto de vista do autor, que, graças à técnica narrativa utilizada, contagia o leitor: inicialmente vistos como fanáticos, os sertanejos de Canudos conquistam o respeito e a admiração.

36. Em Os Sertões, de Euclides da Cunha, a natureza:
 a) condiciona o comportamento do homem, de acordo com as concepções do determinismo cientifico de fins do século XIX;
b) é objeto de uma descrição romântica impregnada dos sentimentos humanos do autor;
c) funciona como  contraponto à narração, ressaltando o contaste entre o meio inerte e o homem
agressivo;
d) é o tema da primeira parte da obra, A Terra, mas não funciona como elemento determinante da ação;
e) é cenário desolador, dentro do qual vivem e lutam os homens que podem transformá-la, sem que sejam por ela transformados.

37. (PUC – MG) Em fins do século XIX e principio do atual, a expansão do capitalismo provocou importantes transformações no mundo, ocorrendo reajustes sociais, que reforçaram a adaptação e modificaram as antigas formas de convívio social. Eclodiram vários movimentos populares de resistência, como a guerra de Canudos e Contestado, ocorridos no Brasil. Sobre esses movimentos, é correto afirmar, EXCETO:
a) foram movimentos isolados que fracassaram ante as forças repressivas dos poderes constituídos.
b) Foram rebeliões de protesto contra a opressão e miséria, porém sem um projeto claro e definido.
c) as aspirações dos revoltosos mesclavam-se à profunda religiosidade sem orientação política.
d) defendiam a permanência das tradicionais formas de dominação, embora exaltassem o progresso trazido pela modernização.

38. (UFC) No cordel Antônio Conselheiro, lemos:
“Este cearense nasceu / lá em Quixeramobim, / se eu sei como ele viveu, / sei como foi o seu fim. / Quando em Canudos chegou, / com amor organizou / um ambiente comum / sem enredos nem engodos, / ali era um por todos / e eram todos por um”
A história de Antônio Conselheiro, líder da Revolta de Canudos, evocada por Patativa, é tema também de:
a) “O Quinze”, de Raquel de Queiroz.
b) “Os Sertões”, de Euclides da Cunha.
c)” Macunaíma”, de Mário de Andrade.
d) “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos.
e) “Grande Sertão: Veredas”, de Guimarães Rosa.

39. (PUC-RS) A viagem de Euclides da Cunha à região de Canudos, onde ocorre a revolta dos seguidores de Antonio Conselheiro

a) Ratifica sua posição em relação aos fanáticos rebeldes, expressa em seu artigo A Nossa Vendeia.

b) Impulsiona-o a produzir Os sertões, baseando-se somente no que realmente pôde presenciar.

c) Demove-o da concepção determinista vigente na época, que concebe o homem como um cruzamento de condicionamentos.

d) Retifica a opinião vigente, passando a considerar a revolta como resultante do atraso da nação.

e) Influencia a prosa do autor, antes impregnada de cientificismo e reacionarismo.

40. (FHA-MG/IBFC) Considere o trecho abaixo, extraído de Os sertões, de Euclides da Cunha.
“Decididamente era indispensável que a campanha de Canudos tivesse um objetivo superior à função estúpida e bem pouco gloriosa de destruir um povoado dos sertões. Havia um inimigo mais sério a combater, em guerra mais demorada e digna. Toda aquela campanha seria um crime inútil e bárbaro, se não se aproveitassem os caminhos abertos à artilharia para uma propaganda tenaz, contínua e persistente, visando trazer para o nosso tempo e incorporar à nossa existência aqueles rudes compatriotas retardatários.”
Analise as afirmações abaixo.

I. O trecho indica a imparcialidade e a neutralidade de Euclides da Cunha, escritor e jornalista, apenas preocupado, com uso do narrador em terceira pessoa, em registrar o conflito.

II. Observa-se na obra, representante do Pré-Modernismo, a descrição apoiada no cientificismo para explicar o conflito, o povo e o cenário.

Está correto o que se afirma em
a) somente I 

b) somente II

c) I e II

d) nenhuma

41. (UFSC) “Não lhes bastavam seis mil mannlichers e seis mil sabres; e o golpear de doze mil braços, e o acalcanhar de doze mil coturnos; e seis mil revólveres; e vinte canhões, e milhares de granadas, e milhares de schrapnells, e os degolamentos, e os incêndios, e a fome, e a sede; e dez meses de combates, e cem dias de canhoneio contínuo; e o esmagamento das ruínas; e o quadro indefinível dos templos derrocados; e, por fim, na ciscalhagem das imagens rotas, dos altares abatidos, dos santos em pedaços – sob a impassibilidade dos céus tranquilos e claros – a queda de um ideal ardente, a extinção absoluta de uma crença consoladora e forte…
Impunham-se outras medidas. Ao adversário irresignável as forças máximas da natureza, engenhadas à destruição e aos estragos. Tinha-as, previdentes. Havia-se prefigurado aquele epílogo assombroso do drama. Um tenente, ajudantes-de-ordens do comandante geral, fez conduzir do acampamento dezenas de bombas de dinamite. Era justo; era absolutamente imprescindível. Os sertanejos invertiam toda a psicologia da guerra: enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia-os a derrota.”
CUNHA, Euclides da. “Os sertões”. São Paulo: Martin Claret, 2003, p. 520-521.
Com base no texto, e na obra de Euclides da Cunha, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).
(01) O texto é exemplo de como o sertanejo é descrito também em outras passagens do livro “Os sertões” e confirma a consagrada frase de Euclides da Cunha: “O sertanejo é antes de tudo um forte”, p. 115.
(02) A narrativa de Euclides da Cunha propõe uma antítese entre a força física ou material do exército e a força do sertanejo, adaptado às condições de seu lugar e amparado pela crença religiosa.
(04) Quando afirma que “Impunham-se outras medidas” (ref. 1), pois todo aquele arsenal não lhes bastava, o narrador quer dizer que os soldados apelaram para os “céus tranquilos e claros” (ref. 2).
(08) Há dois planos opostos que descrevem os dois lados desiguais da luta em Canudos. De um lado, o exército de São Sebastião e, de outro, os sertanejos com suas ruínas, na ciscalhagem das imagens rotas e em pedaços.
(16) A construção do texto por meio de paradoxos como “enrijavam-nos os reveses, robustecia-os a fome, empedernia-os a derrota” (ref. 3) confirma uma das características da obra: a presença de elementos contrastantes como resultado de ideias antagônicas.
(32) A correta “psicologia da guerra” (ref. 4), aplicada pelo exército, não foi suficiente para a tomada de Canudos, já que os sertanejos a invertiam.
RESPOSTA:  01 + 02 + 16 + 32 = 51

42. A campanha militar empreendida para exterminar o arraial de Canudos contou com a participação de um célebre escritor que, a partir do que viu, escreveu uma das obras clássicas da literatura brasileira. Indique a alternativa que aponta corretamente o nome do escritor e a obra produzida.

a)Euclides da Cunha – Os Sertões.

b) Lima Barreto – Os bruzundangas.

c) Mário de Andrade – Macunaíma.

d) Castro Alves – Os Escravos.

e) Graciliano Ramos – Vidas Secas.

43. Sobre a Revolta de Canudos, assinale a alternativa INCORRETA. 
a) O seu principal líder foi Antônio Conselheiro. 
b) Os sertanejos de Canudos lutavam contra a injustiça e a miséria persistente na região. 
c) Caracterizou-se como um movimento de caráter messiânico. 
d) A Guerra de Canudos foi tema do livro “Os Sertões”, do escritor Euclides da Cunha. 
e) Os revoltosos de Canudos receberam apoio incondicional dos coronéis da região.

44. (UFRS) Leia o trecho abaixo de “Os Sertões,” de Euclides da Cunha.
“Daquela data ao termo da campanha a tropa iria viver em permanente alarma.
(…)
A tática invariável do jagunço, expunha-se temerosa naquele resistir às recuadas, restribando-se* em todos os acidentes da terra protetora. Era a luta da sucuri flexuosa* com o touro pujante. Laçada a presa, distendia os anéis; permitia-lhe a exaustão do movimento livre e a fadiga da carreira solta; depois se constringia repuxando-o, maneando-o nas roscas contráteis, para relaxá-las de novo, deixando-o mais uma vez se esgotar no escarvar*, a marradas, o chão; e novamente o atrair, retrátil, arrastando-o – até ao exaurir completo…”
*restribar – estar firme, estar escorado.
*flexuoso – sinuoso, torcido, tortuoso.
*escarvar – cavar superficialmente.
Assinale a alternativa INCORRETA em relação ao trecho.
a) O jagunço, ao aproveitar-se dos “acidentes da terra protetora”, conseguia superar-se e confrontar-se com o inimigo, trazendo-lhe novas dificuldades.
b) O “touro pujante”, apesar de sua força, na ilusão do movimento livre, acaba se exaurindo.
c) No confronto, a “sucuri flexuosa” vence, pois usa os recursos de que dispõe.
d) No trecho, a imagem da luta entre a “sucuri flexuosa” e o “touro pujante” é uma metáfora da luta entre jagunços e expedicionários.
e) A “sucuri flexuosa” e o “touro pujante” estão em constante confronto sem que haja um vencedor.

45. (FCC-BA) Fazendo um paralelo entre Os Sertões, de Euclides da Cunha, e Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, pode-se afirmar:

a)em ambas as obras predomina o espírito científico, sendo analisados aspectos da realidade brasileira.

b)ambas têm por cenário o sertão do Brasil setentrional, sendo numerosas as referências à flora e à fauna.

c) ambas as obras, criações de autores dotados de gênio, muito enriqueceram a nossa literatura regional de ficção.

d) ambas têm como principal objetivo denunciar o nosso subdesenvolvimento, revelando a miséria física e moral do homem do sertão.

e) tendo cada uma suas peculiaridades estilísticas, são ambas produto de intensa elaboração de linguagem.

46. (CHAPECÓ /FEPESE) “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram seus últimos defensores, que todos morreram. Eram quatro apenas: um velho, dois homens feitos e uma criança, na frente dos quais rugiam raivosa mente cinco mil soldados”. (CUNHA, 1987, p. 4017)
Esse trecho, retirado da obra Os Sertões, de Euclides da Cunha, retrata a chamada Guerra de Canudos. Sobre esse conflito, assinale a alternativa correta.

a. Envolveu a população sertaneja do nordeste, em especial da Bahia, que lutava basicamente contra a injusta situação fundiária e de miséria.

b. Entre as lideranças de Canudos destaca-se o monge João Maria, cujas promessas de salvação eterna foram capazes de mobilizar aproximadamente 30 mil pessoas para o arraial de Canudos.

c. Já na primeira expedição, o Exército conseguiu sitiar Canudos que não conseguiu resistira o cerco das tropas armadas com metralhadores e com canhões.

d.  Canudos era considerado um “mau exemplo” pelo governo do Estado da Bahia por dividiras terras de forma igual entre os seus habitantes, garantindo que todos possuíssem sua propriedade privada.

e.  Antônio Conselheiro foi uma das lideranças de Canudos e, por ser um defensor da República, ganhou diversos simpatizantes entre os membros do governo.

47. Embora fossem movimentos ligados a questão agrária e a falta de justiça no campo Canudos e o Cangaço possuem finalidades distintas. Em relação a esta diferenciação dos objetivos do Cangaço e de Canudos podemos afirmar como correto que:
a)O cangaceiro tinha um fim social na sua prática, pois busca a posse da terra e a justiça social, saqueando e roubando dos ricos para doar aos pobres. Eram considerados os justiceiros pobres.
b)O cangaceiro não tinha nenhum fim social na sua prática, não busca a posse da terra e tampouco a justiça social. Luta simplesmente pela sobrevivência praticando a violência.
c)O cangaceiro é um tipo de bandido social que procura aplicar a justiça contra os desmandos dos poderosos no sertão nordestino.
d)Canudos não tinha nenhum fim social na sua prática, não busca a posse da terra e tampouco a justiça social. Luta simplesmente pela sobrevivência praticando o fanatismo religioso.
e)Canudos tinha um fim social, mas não busca a posse da terra apenas a justiça social mesmo que fosse alcançada por métodos violentos justificados pelo fanatismo religioso.

48. (UFSM) A – “Até esta data, o brasileiro era, antes de tudo, um envergonhado.”
B – “No plano das ideias, o século gerou três obras que se tornariam clássicos da reflexão sobre o país.”
Considere o que se afirma sobre os fragmentos destacados.
I. Em OS SERTÕES, Euclides da Cunha declara que “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. No fragmento A, o autor retoma a declaração de Euclides da Cunha reafirmando seu conteúdo elogioso.
II. Em B, a escolha de “século” como sujeito torna a frase mais expressiva, porque contraria a expectativa de encontrar essa palavra como parte de um adjunto adverbial de tempo.
III. Em B, a opção por “o século gerou” leva à associação com a idéia de criar, fecundar, o que reforça o sentido de que o século XX propiciou a concepção das obras destacadas.
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas II.
c) apenas III.
d) apenas II e III.
e) I, II e III.

49. (CEFET-MG) NÃO constitui recurso utilizado pelo autor para demonstrar o vínculo de sua estória com “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, a (o)
a) semelhança entre os personagens Antônio Conselheiro e Jesuíno Pregador.
b) utilização de citações da obra “Os Sertões” em vários momentos da narrativa.
c) local escolhido como cenário de sua história, uma cidade no interior do sertão.
d) desfecho trágico para o movimento religioso, mobilizando milhares de sertanejos.

50. Os vaqueiros e os peões do interior escutavam o Conselheiro em silêncio, intrigados, atemorizados, comovidos… Alguma vez, alguém o interrompia para tirar uma dúvida. Terminaria o século? Chegaria o mundo ao ano 1900? Ele respondia (…) Em 1896, mil rebanhos correriam da praia para o sertão e o mar se tornaria sertão e o sertão mar (…). Mario Vargas Llosa 
O carismático Antonio Conselheiro, de que fala o texto acima, liderou a Revolta de Canudos em 1897. Podemos apontar como principais fatores da revolta:
a) o crescimento e a modernização da economia nordestina.
b) o apoio incondicional do sertanejo à Monarquia.
c) a impossibilidade de adaptação do sertanejo aos valores republicanos.
d) o abandono em que vivia o sertanejo, o coronelismo e a luta pelo acesso à terra. 
e) a oposição contra a Igreja Católica, aliada dos monarquistas.

51. (PUC) A Rebelião de Canudos foi fruto:
a) Do fanatismo religioso de populares sem condições econômicas de subsistência;
b) Do desejo de restaurar a monarquia portuguesa no Brasil;
c) Da conspiração de grupos conservadores;
d) Da organização de grupos de jagunços no sertão;
e) n.d.a.

52. A comunidade de Canudos, formada na década final do século XIX, contestava a distribuição de terras no sertão nordestino e buscava, com a formação do arraial, tirar parte da população sertaneja da situação de miséria e abandono em que se encontrava. À frente da comunidade havia um líder religioso conhecido como:

a)monge José Maria

b) João Maria

c) João Campos

d) Antônio Conselheiro

e) Antônio Milagreiro

53. (MACKENZIE) O planalto central do Brasil desce, nos litorais do Sul, em escarpas inteiriças, altas e abruptas. Assoberba os mares; e desata-se em chapadões nivelados pelos visos das cordilheiras marítimas, distendidas do Rio Grande a Minas. Mas ao derivar para as terras setentrionais diminui gradualmente de altitude, ao mesmo tempo que descamba para a costa oriental em andares, ou repetidos socalcos, que o despem da primitiva grandeza afastando-o consideravelmente para o interior.

De sorte que quem o contorna, seguindo para o norte, observa notáveis mudanças de relevos: a princípio o traço contínuo e dominante das montanhas, precintando-o, com destaque saliente, sobre a linha projetante das praias, depois, no segmento de orla marítima entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, um aparelho litoral revolto, feito da envergadura desarticulada das serras, riçado de cumeadas e corroído de angras, e escancelando-se em baías, e repartindo-se em ilhas, e desagregando-se em recifes desnudos, à maneira de escombros do conflito secular que ali se trava entre os mares e a terra; em seguida, transposto o 15º paralelo, a atenuação de todos os acidentes — serranias que se arredondam e suavizam as linhas dos taludes, fracionadas em morros de encostas indistintas no horizonte que se amplia; até que em plena faixa costeira da Bahia, o olhar, livre dos anteparos de serras que até lá o repulsam e abreviam, se dilata em cheio para o ocidente, mergulhando no âmago da terra amplíssima lentamente emergindo num ondear longínquo de chapadas… Este facies geográfico resume a morfogenia do grande maciço continental. Euclides da Cunha, Os Sertões.

Assinale a alternativa INCORRETA sobre o contexto histórico e literário da prosa pré-modernista a que pertence o fragmento de Os Sertões.

a) Os prosadores pré-modernistas produziram uma literatura problematizadora da realidade brasileira de sua época.

b) Entre os temas pré-modernistas, está o subdesenvolvimento do sertão nordestino.

c) A investigação social presente na prosa pré-modernista colabora para o aprofundamento do sentimento ufanista nacional.

d) A prosa da época é marcada por obras de análise e interpretação social significativas para a literatura brasileira.

e) O pré-modernismo antecipou formal ou tematicamente práticas e ideias que foram desenvolvidas pelos modernistas.

54. (FCC-BA) Obra pré-modernista eivada de informações histórias e científicas, primeira grande interpretação da realidade brasileira, que, buscando compreender o meio áspero em que vivia o jagunço nordestino, denunciava uma campanha militar que investia contra o fanatismo religioso advindo da miséria e do abandono do homem do sertão. Trata-se de:

a)O sertanejo, de José de Alencar.

b) Pelo sertão, de Afonso Arinos.

c) Os Sertões, de Euclides da Cunha.

d) Grande Sertão: veredas, de Guimarães Rosa.

e) Sertão, de Coelho Neto.

55. (PUC-RS) A obra pré-modernista de Euclides da Cunha situa-se a ________ e a _________ . 

a) História – Psicologia. 

b) Geografia – Economia. 

c) Literatura – Sociologia. 

d) Arte – Filosofia. 

e) Teologia – Geologia.

(UEMA) Leia o texto A e responda às questões de 56 a 59.

      Assim se apresentou o Conselheiro, em 1876, na vila do Itapicuru de Cima. Já tinha grande renome.

      Di-lo documento expressivo publicado aquele ano, na Capital do Império.     “Apareceu no norte um indivíduo que se diz chamar Antonio Conselheiro, e que exerce grande influência no espírito das classes populares, servindo-se de seu exterior misterioso e costumes ascéticos, com que impõe à ignorância e à simplicidade.

      Deixou crescer a barba e cabelos, veste uma túnica de algodão e alimenta-se tenuemente, sendo quase uma múmia. Acompanhado de duas professas, vive a rezar terços e ladainhas e a pregar e a dar conselhos às multidões, que reúne, onde lhe permite os párocos; e, movendo sentimentos religiosos, vai arrebanhando o povo e guiando-o a seu gosto. Revela ser homem inteligente, mas sem cultura.” CUNHA, Euclides da. Os sertões. Coleção Os grandes Clássicos.São Paulo: Circulo do Livro, 1979.p 218-219.

56. Considerando que o texto transcrito é um documento publicado na capital do Império sobre Antônio Conselheiro, segundo Euclides da Cunha, acerca da passagem “… e, movendo sentimentos religiosos, vai arrebanhando o povo e guiando-o a seu gosto.” pode-se inferir que o processo histórico vivido pelas sociedades humanas é quase sempre traduzido ou revelado pelo (a) (s)

a) respeito total do governo a manifestações populares.

b) identificação cultural satisfatória entre governo e povo.

c) linguagem da supremacia, revelada com ironia.

d) discurso dos mandatários, de teor técnico e impessoal.

e) documentos éticos marcantes em defesa dos não esclarecidos.

57. Figurativamente, o termo múmia está apoiado em trechos

citados anteriormente, marcado, sobretudo, por

a) alimenta-se tenuemente.

b) deixou crescer a barba.

c) veste uma túnica de algodão.

d) vive a rezar.

e) deixou crescer a barba e o cabelo.

58. Considere as seguintes afirmativas sobre o trecho transcrito.

I- É tipicamente dissertativo, analisando com argumentação o retrato de um fanático, construindo uma tese sobre o assunto.

II- Caracteriza-se como narrativo posto que relata ações do protagonista, utilizando um foco descritivo em que apresenta aspectos físicos do protagonista.

III- O narrador apresenta fatos que determinam as ações dos personagens, de modo discursivo, sem caracterizações pessoais ou ambientais.

IV- O narrador ao fazer uso de aspectos descritivos escolhe aspectos físicos relacionados a aspectos psicológicos, que marcam as ações comportamentais dos

personagens.

Está correto o que se afirma em:

a) IV, apenas.

b) III, apenas.

c) II, apenas.

d) II e IV, apenas.

e) II e III, apenas.

59. Considerando o texto A, julgue os itens que se seguem

e assinale a opção correta, segundo a norma padrão.

a) Em “Revela ser homem inteligente, mas sem cultura.” O termo destacado estabelece uma relação de explicação.

b) Em “… dar conselhos às multidões, que reúne, onde lhe permite os párocos…” a palavra destacada é uma conjunção explicativa.

c) No trecho “Apareceu no norte um indivíduo que se diz chamar Antonio Conselheiro…” o termo destacado estáempregado como sujeito.

d) Em “… vive a rezar terços e ladainhas e a pregar e a dar conselhos…” as palavras destacadas estãoempregadas como artigos definidos.

e) Em “Revela ser homem inteligente, mas sem cultura.” o termo destacado é um objeto direto.

60. (UFPE) Ao se referir à obra de Euclides da Cunha, Alfredo Bosi declarou: “Os Sertões são um livro de ciência e de paixão, de análise e de protesto: eis o paradoxo que assistiu à gênese daquelas páginas em que se alternam a certeza do fim das ‘raças retrógradas’ e a denúncia do crime que a carnificina de Canudos representou”. Tomando como foco características referentes a Os Sertões e ao seu momento histórico, analise as proposições a seguir.

0-0) Tendo sofrido influência das teorias deterministas de seu tempo, Euclides, em Os Sertões, analisa o sertanejo como sujeito determinado pelo espaço geográfico e pela raça. Isso permite inserir a obra no movimento naturalista, que, no Brasil, contou com a adesão de alguns grandes escritores.

1-1) Em sua obra grandiosa, Euclides da Cunha, para chegar ao relato da luta travada em Canudos, percorre, com sua pena, o espaço inóspito que conduz ao local da chacina (no livro A Terra) e envereda pela análise do homem dessa árida região (no livro O Homem).

2-2) Considerando o que diz Alfredo Bosi, é possível compreender que, em Os Sertões, Euclides da Cunha, defensor do governo republicano, justifica a matança em Canudos em razão de ser necessário pôr fim a uma raça atrasada.

3-3) Se, em Os Sertões, Euclides da Cunha escreve com paixão, é possível identificar traços significativos do Romantismo, daí por que sua visão do sertão pouco se aproxima da realidade do sertão nordestino.

4-4) Do ponto de vista literário, é tarefa complexa enquadrar Os Sertões num determinado gênero literário, pois seu texto apresenta uma abordagem científica e histórica, mas num estilo que revela uma forma apaixonada e, por vezes, dramática de exprimir os acontecimentos, o que, para alguns, constituiria seu caráter literário.

RESPOSTA: FVFFV

61. (MACKENZIE)  Texto I

Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos […]. A vida americana e a natureza do Brasil patenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam […].

E assim, pouco a pouco, se foram reformando todos os seus hábitos singelos de aldeão português: e Jerônimo abrasileirou-se. Aluísio Azevedo, O cortiço

Texto II

Atravessa a vida entre ciladas, surpresas repentinas de uma natureza incompreensível, e não perde um minuto de tréguas. É o batalhador perenemente combalido e exausto, perenemente audacioso e forte […]. Reflete, nestas aparências que se contrabatem, a própria natureza que o rodeia. Euclides da Cunha, Os sertões

Texto III

Vivia longe dos homens, só se dava bem com os animais. Os seus pés duros quebravam espinhos e não sentiam a quentura da terra. Montado, confundia-se com o cavalo, grudava-se a ele. E falava uma linguagem cantada, monossilábica e gutural, que o companheiro entendia. Graciliano Ramos, Vidas secas

Considere as seguintes afirmações acerca dos textos I, II e III:

I. Nos três fragmentos o narrador descreve aspectos físicos e comportamentais de personagens do sertão brasileiro, marcados pela vida agreste e miserável.

II. Embora publicadas em contextos diferentes, as respectivas obras se enquadram no mesmo estilo de época: o Realismo.

III. Nos três fragmentos revela-se uma concepção determinista do homem.

Assinale:

a) se apenas a afirmação I estiver correta.

b) se apenas a afirmação II estiver correta.

c) se apenas a afirmação III estiver correta.

d) se apenas as afirmações I e III estiverem corretas.

e) se nenhuma afirmação estiver correta.

62. (IBMEC) Antônio Maciel, ainda moço, já impressionava vivamente a imaginação dos sertanejos. Aparecia por aqueles lugares sem destino fixo, errante. Nada referia sobre o passado. Praticava em frases breves e raros monossílabos. Andava sem rumo certo, de um pouso para outro, indiferente à vida e aos perigos, alimentando-se mal e ocasionalmente, dormindo ao relento à beira dos caminhos, numa penitência demorada e rude… Tornou-se logo alguma coisa de fantástico ou malassombrado para aquelas gentes simples. Ao abeirar-se das rancharias1 dos tropeiros aquele velho singular, de pouco mais de trinta anos, fazia que cessassem os improvisos e as violas festivas. Era natural. Ele surdia2 esquálido e macerado – dentro do hábito escorrido, sem relevos, mudo, como uma sombra, das chapadas povoadas de duendes… Passava, buscando outros lugares, deixando absortos os matutos supersticiosos. Dominava-os, por fim, sem o querer. No seio de uma sociedade primitiva que pelas qualidades étnicas e influxo das santas missões3 malévolas compreendia melhor a vida pelo incompreendido dos milagres, o seu viver misterioso rodeou-o logo de não vulgar prestígio, agravando-lhe, talvez, o temperamento delirante. A pouco e pouco todo o domínio que, sem cálculo, derramava em torno, parece haver refluído sobre si mesmo. Todas as conjeturas ou lendas que para logo o circundaram fizeram o ambiente propício ao germinar do próprio desvario. A sua insânia estava, ali, exteriorizada. (…) Aquele dominador foi um títere. Agiu passivo, como uma sombra. Mas esta condensava o obscurantismo de três raças. E cresceu tanto que se projetou na História… Euclides da Cunha. Os sertões. Parte II.

Notas:

1. rancharias: arranchamento, conjunto de ranchos ou casebres; povoado pobre.

2. surdia: surgia.

3. santas missões: instalação de missionários para pregação da fé cristã. Esses propagandistas do cristianismo agem em grupo, criando um ambiente de histeria, que favorece a persuasão da mensagem cristã.

Considere as seguintes afirmações:

I.Euclides da Cunha apresenta Conselheiro de acordo com a visão positivista, dominante no fim do século XIX e início do XX.

II. No texto de Euclides predomina a norma culta, imposta pelo rigor científico mas de rara beleza literária, com toques de erudição.

III. Na opinião de Euclides, o domínio do Conselheiro sobre as povoações que ele visitava foi se impondo pelo carisma da figura messiânica do líder religioso. Para isso, contribuiu o ambiente atrasado e supersticioso da região.

Assinale:

a) se todas as afirmações estiverem corretas.

b) se todas as afirmações estiverem incorretas.

c) se apenas I e II estiverem corretas.

d) se apenas II e III estiverem corretas.

e) se apenas III estiver correta

63. (UFSM) Leia as seguintes afirmativas a respeito da literatura pré-modernista.
I. Simões Lopes Neto destaca-se por um conjunto de contos que expressam costumes e incorporam registros da oralidade sul-rio-grandense.
II. Em OS SERTÕES, Euclides da Cunha focaliza o episódio de Canudos e descreve o homem e a terra, fatores que situam a obra no nível da cultura científica e histórica.
III. Lima Barreto, em seus romances, recupera quadros das regiões que cultivam cana-de-açúcar no interior fluminense.
Está(ão) correta(s)
a) apenas I.
b) apenas I e II.
c) apenas III.
d) apenas II e III.
e) I, II e III.

64. (UFRGS) Os Sertões, de Euclides da Cunha, é uma obra que

a) narra um episódio de messianismo ocorrido em vilarejos do interior de Pernambuco e do Sergipe no início do século XX.

b) narra a formação e a destruição de um povoado sertanejo liderado por Antônio Conselheiro na segunda metade do século XIX.

c) denuncia a ocupação de um povoado sertanejo por forças armadas de Pernambuco e do Sergipe aliadas a jagunços locais.

d) expõe a liderança carismática de Antônio Conselheiro em seu esforço para converter sertanejos monarquistas em republicanos.

e) denuncia a campanha difamatória contra o exército brasileiro promovida por jornais e políticos interessados em restaurar a monarquia.

65. (CESMAC) Os Sertões, de Euclides da Cunha, narra uma das maiores hecatombes da história brasileira: a Guerra de Canudos (1893-1897). Dividido em três partes — a Terra, o Homem e a Luta —, Os Sertões busca conhecer em verticalidade as causas e os motivos que levaram à formação do Arraial de Antônio Conselheiro e, por decorrência, à guerra entre os conselheiristas e o Exército Brasileiro. Ainda sobre Os Sertões podemos afirmar como verdadeiro.

a) Euclides em sua narrativa lança mão de um português coloquial, inaugurando o nosso romance regionalista.

b) Euclides descreve o sertanejo como um tipo forte, alto, falastrão e pouco miscigenado.

c) Em Os Sertões prevalecem os aspectos cômicos da guerra em detrimento dos episódios trágicos.

d) Tanto Antônio Conselheiro quanto os seus seguidores são descritos como fanáticos religiosos.

e) Antônio Conselheiro é visto como um líder sóbrio, equilibrado e que poderia conduzir o Brasil para um futuro grandioso.

66. (FPS) Publicado em 1902, Os Sertões, de Euclides da Cunha, fundamenta os seus princípios teóricos e metodológicos nas teorias positivistas, no Evolucionismo Social e no Determinismo. Assentado nesses princípios, Euclides declina as suas interpretações do Brasil, em geral, e do Sertão nordestino, em particular. Ainda sobre a obra máxima de Euclides da Cunha, é correto afirmar o que segue.

a) O livro é dividido em 4 partes: A Terra, A Água, O Homem e A Luta.

b) O livro trata da Guerra de Canudos e do misticismo do sertanejo.

c) O livro defende de maneira veemente a monarquia brasileira.

d) O livro mostra o Sertão como uma região de grande futuro econômico.

e) O livro exalta a inteligência e a erudição de Antônio Conselheiro.

67. (FPS) Insistamos sobre esta verdade: a guerra de Canudos foi um refluxo em nossa história. Tivemos, inopinadamente, ressurrecta e em armas em nossa frente, uma sociedade velha, uma sociedade morta, galvanizada por um doudo. Não a conhecemos. Não podíamos conhecê-la. Os aventureiros do século XVII, porém, nela topariam relações antigas, da mesma sorte que os iluminados da Idade Média se sentiriam à vontade, neste século (…). Porque essas psicoses epidêmicas despontam em todos os tempos e em todos os lugares como anacronismos palmares, contrastes inevitáveis na evolução desigual dos povos, patentes sobretudo quando um largo movimento civilizador lhes impele vigorosamente as camadas superiores.

Voc.: palmares – indiscutíveis.

Euclides da Cunha. Os Sertões. 21. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 2000. p. 190. Adaptado

Considerando o contexto de produção da obra em que o Texto  se insere, assinale a alternativa correta.

a) Com a expressão: “uma sociedade velha, uma sociedade morta”, o autor critica a classe privilegiada de ricos proprietários de terras no Nordeste que dominava e oprimia o povo.

b) No trecho “galvanizada por um doudo”, o autor faz referência a Lampião, conhecido como “o rei do cangaço”, bandoleiro que aterrorizou o Nordeste, enquanto alegava fazer justiça ao povo.

c) Ao afirmar que “os iluminados da Idade Média se sentiriam à vontade”, Euclides da Cunha mostra que reconhece características de superioridade na sociedade que é objeto de sua análise.

d) Com o termo “essas psicoses epidêmicas”, Euclides da Cunha se refere, de maneira genérica, às diversas revoltas populares que surgiram no Brasil no período do Império.

e) O autor evidencia sua visão determinista quando admite a “evolução desigual dos povos” e que existem “camadas superiores” fortemente impelidas por um grande “movimento civilizador”.

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

1.(UFBA) Como no dia seguinte fosse passear ao roçado do padrinho, aproveitou a ocasião para interrogar a respeito o tagarela Felizardo.[…] Olga encontrou o camarada cá embaixo, cortando a machado as madeiras mais grossas; Anastácio estava no alto, na orla do mato, juntando, a ancinho, as folhas caídas.

Ela lhe falou.

— Bons dias, “sá dona”.

— Então trabalha-se muito, Felizardo?

— O que se pode.

— Estive ontem no Carico, bonito lugar… Onde é que você mora, Felizardo?

— É doutra banda, na estrada da vila.

— É grande o sítio de você?

— Tem alguma terra, sim senhora, “sá dona”.

— Você por que não planta para você?

— “Quá sá dona!” O que é que a gente come?

— O que plantar ou aquilo que a plantação der em dinheiro.

— “Sá dona tá” pensando uma coisa e a coisa é outra. Enquanto planta cresce, e então? “Quá, sá dona”, não é assim.

[…]

— Terra não é nossa… E “frumiga”? … Nós não “tem” ferramenta… isso é bom para

italiano ou “alemão”, que governo dá tudo… Governo não gosta de nós…

[…]

Ela voltou querendo afastar do espírito aquele desacordo que o camarada indicara, mas não pôde. Era certo. […]LIMA BARRETO, A. H. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Ática, 1996. p. 103.

O diálogo entre Olga e o afrodescendente Felizardo — extraído de uma narrativa

ambientada no final do século XIX, durante o governo de Floriano Peixoto, — revela, a partir do que diz Felizardo, uma concepção de Brasil e dos programas sociais do governo da época, o que contrasta com a visão utópica de Quaresma. O filme “A invenção do Brasil”, de Guel Arraes, projeta também uma concepção de Brasil.

Com base na leitura do livro de Lima Barreto e no enredo do filme citado, faça um comentário sobre os três pontos de vista em questão, utilizando sua reflexão sobre a realidade brasileira. Aponte diferenças e semelhanças e justifique sua resposta.

RESPOSTA:

No romance “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, percebe-se a visão idílica do personagem Quaresma sobre o Brasil, alimentada pela leitura de obras passadas que difundiram uma imagem da terra que “em se plantando tudo dá”, onde haveria harmonia e paz social. Nesse contexto, a fala de Felizardo é reveladora de uma outra realidade, marcada pela injustiça social, em que os programas de governo visam ao favorecimento da mão-de-obra de origem europeia. Além disso, Felizardo chama a atenção para aspectos problemáticos da terra: as pragas naturais e a falta de ferramentas e recursos financeiros.

A narrativa fílmica “A Invenção do Brasil” constitui-se como uma paródia das relações entre Portugal e Brasil difundidas pela história oficial. No filme, o português Diogo se transforma através do contato com a terra e seus nativos, com destaque para a índia Paraguaçu e sua irmã Moema, o que permite afirmar que Diogo se integra aos costumes aborígines. O filme reinventa a história da descoberta do país pelos portugueses, em forma de paródia, e mostra uma imagem da terra deslumbrante, maravilhosa, cheia de riquezas naturais, logo uma visão paradisíaca, boa para o comércio de ouro, pau-brasil etc.

2. (FUVEST) No capítulo “O Boqueirão”, de TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, a personagem principal vive uma experiência decisiva, que faz mudar radicalmente seu ponto de vista quanto ao processo de consolidação do regime republicano no Brasil.
a) Descreva essa mudança de ponto de vista pelo qual passou Quaresma.
b) Aponte, no capítulo citado, a experiência decisiva que determinou essa mudança e identifique o que tal experiência veio revelar à personagem.
RESPOSTA:

a) Quaresma discorda dos excessos repressivos do regime de Floriano.
b) O seu ferimento em batalha revelou-lhe a inutilidade do seu idealismo diante dos mesquinhos jogos políticos.

3. (UFU) Sobre “Triste fim de Policarpo Quaresma”, Alfredo Bosi faz a seguinte afirmação:
tem Policarpo algo de quixotesco, e o romancista soube explorar os efeitos cômicos que todo quixotismo deve fatalmente produzir, ao lado do patético que fatalmente acompanha a boa-fé desarmada.
“História concisa da literatura brasileira”.
Com base em “Triste fim de Policarpo Quaresma”, cite e comente:
a) dois efeitos cômicos.
b) dois efeitos patéticos (trágicos).
RESPOSTAS:

a) Cômico:
1. Após ter sugerido à Assembleia Legislativa republicana a adoção do Tupi como língua oficial – e ser motivo de chacota de toda a imprensa e dos colegas de repartição.
2. Policarpo recebe a afilhada e o compadre aos prantos.
b) Policarpo redige, distraído, um documento oficial na língua Tupi e termina, após uma elipse temporal, internado num manicômio.

4. (UNICAMP) O trecho a seguir, escolhido por Lima Barreto como epígrafe para introduzir sua obra, TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, comenta o confronto entre o ideal e o real:
“O grande inconveniente da vida real e o que a torna insuportável ao homem superior é que, se transportamos para ela os princípios do ideal, as qualidades passam a ser defeitos, de tal modo que, na maioria das vezes, o homem íntegro não consegue se sair tão bem quanto aquele que tem por estímulo o egoísmo ou a rotina vulgar.”  (Renanm Marc-Aurele)
a) Cite dois episódios do livro em que o comportamento idealista de Policarpo é ridicularizado por outras personagens.
b) Considerando-se a epígrafe citada, como pode ser analisada a trajetória de Policarpo Quaresma?

RESPOSTAS

a) A sugestão de tornar o tupi-guarani língua oficial do Brasil e a adoção de hábitos indígenas.
b) Policarpo parte do ideal e choca-se com o real, que o consome.

5. (UFV) Por qual razão o narrador de “Triste Fim de Policarpo Quaresma” chega à conclusão de que “a pátria que [o protagonista] quisera ter era um mito”?

RESPOSTA:

Policarpo sonhou com uma pátria criada em seu gabinete, um mito. Fica desiludido por não conseguir realizar as reformas radicais em seu país

6. (FUVEST) “O seu último truque intelectual era este do clássico. (…) O processo era simples: escrevia de modo comum, com as palavras e o jeito de hoje, em seguida invertia as orações, picava o período com vírgulas e substituía incomodar por molestar, ao redor por derredor, isto por isto, quão grande ou tão grande por quamanho, sarapintava tudo de ao invés, empós, e assim obtinha o seu estilo clássico que começava a causar admiração aos seus pares e ao público geral.”
a) O fato de Armando Borges escrever em “estilo clássico” reforça a caracterização da personagem. Por quê? Justifique sua resposta.
b) De que maneira esse “estilo clássico” se contrapõe à linguagem do romance “Triste fim de Policarpo Quaresma”?

RESPOSTA:

a)Porque ele é mau-caráter, vive de enganar os outros, apropriando-se de artigos médicos alheios.
b) O romance tem uma linguagem coloquial, que se afasta da erudição pedante da personagem.

7. (UFU) Leia o fragmento seguinte, da obra “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto.
“O preto considerava um instante, como se estivesse recebendo as últimas comunicações do que não se vê nem se percebe, e dizia com a sua majestade de africano:
Vô vê, nhãnhã… Tô crotando mandinga…
Ela e o general tinham assistido à cerimônia e o amor de pais e também esse fundo de superstição que há em todos nós, levavam a olhá-lo com respeito, quase com fé.
Então foi feitiço que fizeram à minha filha? perguntava a senhora.
Foi, sim, nhãnhã..
Quem?
Santo não qué dizê.”
a) Contextualize esse fragmento no enredo de “Triste fim de Policarpo Quaresma”.
b) Por meio desta passagem, estabeleça relações da obra com o modernismo brasileiro.

RESPOSTAS:

a) Valorizar e respeitar a cultura nacional.
b) Valorização das crenças, cultura, linguagem populares.

8. (UNIFESP) Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais que o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios. (…) Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani. Todas as manhãs, antes que a “Aurora com seus dedos rosados abrisse caminho ao louro Febo”, ele se atracava até ao almoço com o Montoya, Arte y diccionario de la lengua guarani ó más bien tupi, e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão. Na repartição, os pequenos empregados, amanuenses e escreventes, tendo notícia desse seu estudo do idioma tupiniquim, deram não se sabe por que em chamá-lo – Ubirajara. Certa vez, o escrevente Azevedo, ao assinar o ponto, distraído, sem reparar quem lhe estava às costas, disse em tom chocarreiro: “Você já viu que hoje o Ubirajara está tardando?” Quaresma era considerado no Arsenal: a sua idade, a sua ilustração, a modéstia e honestidade do seu viver impunham-no ao respeito de todos. Sentindo que a alcunha lhe era dirigida, não perdeu a dignidade, não prorrompeu em doestos e insultos. Endireitou- se, consertou o seu pince-nez, levantou o dedo indicador no ar e respondeu: — Senhor Azevedo, não seja leviano. Não queira levar ao ridículo aqueles que trabalham em silêncio, para a grandeza e a emancipação da Pátria. Vocabulário: amanuenses: escreventes; doestos: injúrias. (Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto) Examine a frase: Havia um ano a esta parte que se dedicava ao tupi-guarani.

a) No conjunto da obra, que relação há entre nacionalismo e o estudo de tupi-guarani?

b) Quanto ao sentido, explique o emprego da forma verbal dedicava e justifique sua resposta com uma expressão presente no texto.

RESPOSTA:

a) Policarpo Quaresma defendia a ideia de que no Brasil se deveria falar o tupi-guarani, a língua dos nativos. O português, segundo ele, era uma língua importada, estrangeira. Portanto, o estudo do idioma indígena era uma expressão de seu nacionalismo xenofóbico.

b) O uso do pretérito imperfeito indica uma ação que se iniciou no passado e não foi concluída. “Todas as manhãs (…) ele se atracava até ao almoço (…) e estudava o jargão caboclo com afinco e paixão” (a ação se prolonga, é continuada, não se interrompe).

9. (UNCISAL )   Triste Fim de Policarpo Quaresma lançado em 1911, é considerado uma das obras mais significativas do Pré-Modernismo brasileiro.

Nesse contexto, constata-se que

a)empreende uma crítica impiedosa aos costumes da sociedade carioca do começo do século X ao preconceito racial sofrido pelos praticantes da capoeira.

b)oferece, especialmente nas passagens em que Policarpo sugere a mudança do idioma brasileiro para o Tupi, uma visão baseada na vasta experiência de Lima Barreto como professor de línguas indígenas no Amazonas.

c)dialoga diretamente com Cubas, romance de Machado de Assis, em que Brás Cubas também propõe uma mudança no idioma nacional, quando consegue ser eleito deputado.

d) opera, por meio das ideias extravagantes do Major Quaresma, uma problematização da ideia de nacionalidade, antecipando procedimentos críticos que seriam radicalizados depois da Semana de 22.

e)é o relato autobiográfico de Lima Barreto, uma vez que o escritor, assim como Policarpo Quaresma, a num hospício depois de diversas tentativas de fazer as pessoas se conscientizarem das riquezas nacionais.

10. (PUC-RS) Para responder à questão, leia o excerto a seguir.

“Como de hábito, Policarpo Quaresma, mais conhecido por Major Quaresma, bateu em casa às quatro e quinze da tarde. Havia mais de vinte anos que isso acontecia (…). Vivendo em casa própria e tendo outros rendimentos além do seu ordenado, o Major Quaresma podia levar um trem de vida superior aos seus recursos burocráticos, gozando, por parte da vizinhança, da consideração e respeito de homem abastado. Não recebia ninguém, vivia num isolamento monacal, embora fosse cortês com os vizinhos que o julgavam esquisito e misantropo (…)”.

Esse trecho alude a um personagem solitário e visionário, um dos mais representativos da Literatura Brasileira.

Quem é o autor que criou este personagem?

a) Monteiro Lobato.

b) Joaquim Manuel de Macedo.

c) Manuel Antônio de Almeida.

d) Machado de Assis.

e) Lima Barreto

11. (UNCISAL ) Os subúrbios do Rio de Janeiro são a mais curiosa coisa em matéria de edificação de cidade. A topografia do local, caprichosamente montuosa, influiu decerto para tal aspecto, mais influíram, porém, os azares das construções. Nada mais irregular, mais caprichoso, mais sem plano qualquer, pode ser imaginado. As casas surgiam como se fossem semeadas ao vento e, conforme as casas, as ruas se fizeram. Há algumas delas que começam largas como boulevares e acabam estreitas que nem vielas; dão voltas, circuitos inúteis e parecem fugir ao alinhamento reto com um ódio tenaz e sagrado.

Às vezes se sucedem na mesma direção com uma frequência irritante, outras se afastam, e deixam de permeio um longo intervalo coeso e fechado de casas. Num trecho, há casas amontoadas umas sobre outras numa angústia de espaço desoladora, logo adiante um vasto campo abre ao nosso olhar uma ampla perspectiva.

Marcham assim ao acaso as edificações e conseguintemente o arruamento. Há casas de todos os gostos e construídas de todas as formas.

Vai-se por uma rua a ver um correr de chalets, de porta e janela, parede de frontal, humildes e acanhados, de repente se nos depara uma casa burguesa, dessas de compoteiras na cimalha rendilhada, a se erguer sobre um porão alto com mezaninos gradeados. Passada essa surpresa, olha-se acolá e dá-se com uma choupana de pau-a-pique, coberta de zinco ou mesmo palha, em torno da qual formiga uma população; adiante, é uma velha casa de roça, com varanda e colunas de estilo pouco classificável, que parece vexada a querer ocultar-se, diante daquela onda de edifícios disparatados e novos. BARRETO, Lima. Triste Fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001. (Fragmento).

O texto acima apresenta, como características da escrita de Lima Barreto,

a) a análise da Guerra de Canudos e o otimismo acerca do futuro da nação.

b) o nacionalismo ufanista e a tematização da escravidão indígena e africana.

c) o uso de uma linguagem rebuscada e o tema da loucura nas classes menos abastadas.

d) o olhar para a realidade social do país e a opção por uma linguagem não rebuscada.

e) a predileção por figuras de linguagem que expressam contraste e o nacionalismo ufanista.

12. (UFRGS ) Considere as seguintes afirmações a respeito do romance “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto.

I – O protagonista não compreende bem o mundo em que vive, passando da ingênua crença no idealismo dos homens, vistos como capazes de construir um Brasil melhor, para o desencanto melancólico em relação às instituições e às suas escolhas pessoais.

II – Quaresma é condenado à morte, porque ofendeu moralmente o presidente da República, quando este não analisou suas propostas de reforma rural, nem atendeu às suas reivindicações.

III – No romance, são introduzidos personagens representativos do subúrbio do Rio de Janeiro, como Ricardo Coração dos Outros, com a sua fala popular e expressões típicas do brasileiro da época.

Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas I e II.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) I, Il e III.

13. (PUC-MG) O título da obra de Lima Barreto, TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, antecipa ao leitor sobre o protagonista:
a) a indiferença com que passou a lidar com a pátria.
b) o fim de vida em um hospício no qual o enclausuraram.
c) a sua morte terrível motivada pela loucura.
d) o seu final dramático determinado pela sua trajetória de vida.
e) a sua trajetória de vida reveladora de um destino trágico.

14. (UNEMAT)  Leia as afirmações abaixo sobre o romance Triste fim de Policarpo Quaresma.

I. O romance está estruturado em 3 partes que formam um painel da realidade brasileira do período republicano.

II. Para hostilizar abertamente o estilo parnasiano e a linguagem clássica, Lima Barreto utiliza-se da personagem Maria Rita, uma preta velha que morava em Benfica.

III. O requerimento de Policarpo Quaresma pretende que o tupi-guarani seja a língua oficial e nacional do povo brasileiro, em substituição à língua portuguesa.

IV. A personagem Ricardo Coração dos Outros representa o artista alienado que produz obra desvinculada da realidade.

Assinale a alternativa correta.

a. Apenas I e II estão corretas.

b. Apenas I, II e IV estão corretas.

c. Apenas I, III e IV estão corretas.

d. Apenas II e III estão corretas.

e. Todas estão corretas.

15. (ENEM )

Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. O que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… Em que lhe contribuía para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante e que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das coisas do tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma!

O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.

A pátria que quisera ter era um mito; um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. Disponível em: http://www.dominiopubIico.gov.br. Acesso em: 8 nov. 2011.

O romance Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, foi publicado em 1911. No fragmento destacado, a reação do personagem aos desdobramentos de suas iniciativas patrióticas evidencia que

a) A dedicação de Policarpo Quaresma ao conhecimento da natureza brasileira levou-o a estudar inutilidades, mas possibilitou-lhe uma visão mais ampla do país.

b) A curiosidade em relação aos heróis da pátria levou-o ao ideal de prosperidade e democracia que o personagem encontra no contexto republicano.

c) A construção de uma pátria a partir de elementos míticos, como a cordialidade do povo, a riqueza do solo e a pureza linguística, conduz ã frustração ideológica.

d) A propensão do brasileiro ao riso, ao escárnio, justifica a reação de decepção e desistência de Policarpo Quaresma, que prefere resguardar-se em seu gabinete.

e) A certeza da fertilidade da terra e da produção agrícola incondicional faz parte de um projeto ideológico salvacionista, tal como foi difundido na época do autor.

16. (PUC-MG) Assinale o aspecto que se refere à obra “Triste fim de Policarpo Quaresma”.

a) linguagem rebuscada.

b) criticidade.

c) distanciamento da realidade.

d) determinismo.

e) visão idealizada do mundo.

17. (UNEMAT)  No romance Triste fim de Policarpo Quaresma, Lima Barreto torna caricatural o nacionalismo ingênuo e ufanista através do Major Policarpo Quaresma. Nesse sentido o autor realiza:

a. uma representação das conquistas utópicas do Major.

b. uma crítica bem humorada dos acontecimentos históricos e políticos durante a fase de instalação da República.

c. o ridículo da reivindicação do Major de tornar oficial a língua portuguesa.

d. a presença de senso crítico do Major levando suas ideias à vitória.

e. uma versão brasileira do protagonista bem sucedido.

18. (FEI) Leia com atenção:
“Data de 1915 a publicação de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, romance de grande densidade critica e carregado de uma visão agressiva e realista que, entre outras coisas, retrata a vida no subúrbio carioca, através de uma linguagem rica de comunicações e de recursos expressivos”.
O autor desse romance é:
a) Monteiro Lobato
b) Euclides da Cunha
c) Graça Aranha
d) Alcântara Machado
e) Lima Barreto

19. (UFU) Considere os trechos a seguir:
No final de “Triste fim de Policarpo Quaresma”, o Major Quaresma está preso na Ilha das Cobras. Ali ele lembra que há cem anos, naquele mesmo lugar, “homens generosos e ilustres estiveram presos por quererem melhorar o estado de coisas de seu tempo”.
“Onde estariam eles? Sobre o Ricardo Coração dos Outros, tão simples e tão inocente na sua mania de violão, ele não poria mais os olhos? Era tão bom que o pudesse, para mandar à sua irmã o último recado, ao preto Anastácio um adeus, à sua afilhada um abraço! Nunca mais vê-los-ia, nunca!
E ele chorou um pouco”.
Lima Barreto, “Triste fim de Policarpo Quaresma”.

“Que diversas que são, Marília, as horas,
Que passo na masmorra imunda, e feia,
Dessas horas felizes, já passadas
Na tua pátria aldeia!”
Tomás Antônio Gonzaga, “Marília de Dirceu”.
Tendo em vista os textos apresentados, e os contextos em que estão inseridos, marque a alternativa correta.
a) Os versos do poeta e o pensamento de Quaresma mostram a solidão experimentada no cárcere, mas poeta e personagem sentem-se reconfortados com a lembrança das pessoas queridas.
b) A História registra que, por sua postura política, o poeta Gonzaga foi julgado e condenado ao exílio em Moçambique. Quanto à personagem Quaresma, “que não tinha crime algum”, não seria ouvida nem julgada, mas executada sumariamente.
c) Durante toda a sua vida, Quaresma amou a pátria e lutou por ela. Neste momento, seu choro ainda é um testemunho desse amor ardoroso e da crença que o acompanha até a sua morte.
d) Na iminência da morte, Quaresma ainda quer fazer alguma coisa pela pátria, o que seria possível se ele se encontrasse com Ricardo. Por sua vez, o poeta Gonzaga fala a Marília que, se estivesse em Vila Rica, também retomaria seus ideais políticos.

20. (PUC) Associe as obras pré-modernistas (primeira coluna) aos respectivos fragmentos a elas pertencentes (segunda coluna).
I. Triste Fim de Policarpo Quaresma (Lima Barreto) II. Os Sertões (Euclides da Cunha)
III. Lendas do Sul (Simões Lopes Neto)
( ) “Canudos não se rendeu. Exemplo único em toda a história, resistiu até o esgotamento completo. Expugnado palmo a palmo, na precisão integral do termo, caiu no dia 5, ao entardecer, quando caíram os seus últimos defensores, que todos morreram.”
( ) “Foi assim e por isso que os homens, quando pela primeira vez viram a boiguaçu tão demudada, não a conheceram mais. Não conheceram e julgando que era outra, muito outra, chamam-na desde então de boitatá cobra de fogo, boitatá, a boitatá!”
( ) “Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da Pátria tomou-o todo inteiro. (…) estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política.”
A sequência correta, de cima para baixo, na segunda coluna, é
a) II – III – I
b) III – II – I
c) I – II – III
d) II – I – III
e) I – III – II

21. (UFV) “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, como narrativa datada, tem certamente um lugar de destaque na Literatura Brasileira. A respeito da obra, somente é CORRETO deduzir que:
a) representa os problemas que são da sociedade brasileira como um todo mas que, através do jogo ficcional e pela dramatização particular, apontam para sentidos muito mais precisos porque recontextualizados e focalizados pelo olhar atento e crítico do sujeito narrador.
b) revitaliza o indianismo romântico uma vez que o protagonista não mede esforços para implantar o tupi-guarani como língua oficial do país, além de defender o restabelecimento de outros costumes, a exemplo dos rituais de encontro e despedida.
c) utiliza uma técnica de narração verdadeiramente inovadora, pela pluralidade das vozes narrativas, pelo dinamismo do ritmo das ações e pela incorporação do monólogo interior.
d) rejeita as tentativas de pseudo-objetividade do movimento pós-romântico e investe numa dicção plena de sugestões e de atmosferas, em que o registro dos fatos é apenas pano de fundo para a crise individual que é posta em cena.
e) apresenta uma revisão conceitual de todas as temáticas até então exploradas, especialmente aquelas cuja maior manifestação se deu no Romantismo, quais sejam o amor e a morte.

22. (UNEMAT)  Leia o texto.

“À proporção que falava, mais Quaresma se entusiasmava. Ele não podia ver bem a fisionomia do ditador, encoberto agora como lhe restava o rosto pelas abas do chapéu de feltro; mas, se a visse, teria de esfriar, pois havia na sua máscara sinais do aborrecimento mais mortal. Aquele falatório de Quaresma, aquele apelo à legislação, a medidas governamentais, iam mover-lhe o pensamento, por mais que não quisesse. O presidente aborrecia-se.

Num dado momento disse:

– Mas, pensa você, Quaresma, que eu hei de por a enxada na mão de cada um desses vadios?! Não havia exército que chegasse… Quaresma espantou-se, titubeou, mas retorquiu:

– Mas, não é isso, Marechal. Vossa Excelência, com o seu prestígio e poder, está capaz

de favorecer, com medidas enérgicas e adequadas, o aparecimento de iniciativas, de encaminhar o trabalho, de favorecê-lo e torná-lo remunerador… Bastava, por exemplo…

[…]

Floriano já ouvia Quaresma muito aborrecido. O bonde chegou; ele se despediu do Major, dizendo com aquela sua placidez de voz:

– Você, Quaresma, é um visionário…” (p.128)

Do texto acima, depreende-se que a personagem Policarpo Quaresma é:

a. corrompível, sempre disposto a se vender em qualquer oportunidade.

b. desiludido, quase sempre indiferente aos acontecimentos em volta.

c. quixotesco, em busca de projetos ideais e abstratos para problemas reais.

d. psicótico, conduzindo ao extremo as soluções drásticas dos problemas.

e. apático, preocupado apenas com os livros e as artes.

23. (UNIVEST) Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, é

a) a narrativa da vida e morte de um funcionário humilde conformado com a realidade social do seu tempo.

b) uma autobiografia em que a personagem-título expõe sua insatisfação com relação a burocracia carioca.

c) o relato das aventuras de um nacionalista ingênuo e fanático que lidera um grupo de oposição no início da República.

d) um livro de memórias em que o personagem-título, através de um artifício narrativo, conta as atribulações de sua vida até a hora da morte.

e) a história de um nacionalista fanático que, quixotescamente, tenta resolver sozinho os males sociais de seu tempo.

24. (UFRS) Considere as seguintes afirmações sobre “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto.
I – Na primeira parte, o autor apresenta um funcionário público exemplar, um patriota e um nacionalista obcecado.
II – Na segunda parte, Policarpo está no campo, dedicando-se à lavoura nas terras férteis do país, mas as saúvas põem fim ao seu projeto.
III – Na terceira parte, em que prevalece a sátira política, Policarpo rebela-se contra a República e o militarismo, acabando preso e condenado à morte.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

25. (UNEMAT)  Sobre Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, pode-se afirmar:

a. É um poema épico que conta a história de Marechal Floriano.

b. É uma narrativa de ficção que conta a história de Brás Cubas.

c. É um livro de memórias escrito por Riobaldo Tatarana.

d. É um conto que narra a história de amor de Olga e Marechal Floriano.

e. É um romance em que é narrada a história de um brasileiro visionário.

26. (PUC-MG) Sobre a obra “Triste fim de Policarpo Quaresma”, é INCORRETO afirmar que:
a) mantém em sequência o plano ideológico romântico, tratado humoristicamente.
b) reflete a tendência da época pré-modernista de inconformismo e renovação.
c) expõe um cenário urbano, com tipos peculiares do cotidiano.
d) indica ruptura no plano estético, pois apresenta linguagem inovadora.
e) retrata a postura do autor de observador da realidade.

27. (UPF ) Em Triste fim de Policarpo Quaresma, a personagem principal, nos instantes que antecedem sua morte, conclui que todos os seus projetos haviam resultado em sucessivas decepções e que a pátria que idealizara não existia. Nesses momentos, __________ do protagonista e ___________ do narrador é que propiciam ao leitor a possibilidade de tomar conhecimento de tais conclusões.

A alternativa que completa corretamente as lacunas do texto anterior é:

a) o ufanismo – a onisciência

b) o patriotismo – a onisciência

c) a tristeza – o ufanismo

d) a tristeza – o patriotismo

e) a reflexão – a onisciência

28. (UFV) A respeito de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, SOMENTE podemos concluir que:
a) é uma NARRATIVA MODERNISTA, na qual se enfatiza a crítica ao nacionalismo romântico pelo constrangimento por que passa o protagonista devido às suas obstinadas ideias de igualdade, liberdade e fraternidade.
b) é um ROMANCE DE TESE, nos moldes do Realismo-Naturalismo, no qual o autor tenta demonstrar que no Brasil da Primeira República não havia lugar para visionários do tipo de Policarpo Quaresma.
c) é uma SÁTIRA SOCIAL, com predomínio de situações cômicas e nítida intenção de ridicularizar o protagonista e atacar as instituições.
d) é uma NARRATIVA DE TRANSIÇÃO, importante enquanto denúncia veemente das mazelas sociais e políticas da época, sintetizadas em bacharelismo e coronelismo, embora contenha alguns defeitos de estrutura e de linguagem.
e) é um ROMANCE PSICOLÓGICO pela valorização do tom intimista, no qual narrador e protagonista praticamente se confundem, num jogo todo próprio, construído em semitons e matizes.

29. (PUC) O autor de Triste Fim de Policarpo Quaresma é um pré-modernista e aborda em seus romances a vida simples dos pobres e dos mestiços. Reveste seu texto com a linguagem descontraída dos menos privilegiados socialmente.
O autor descrito acima é:
a) Euclides da Cunha
b) Graça Aranha
c) Manuel Bandeira
d) Lima Barreto
e) Graciliano Ramos

30. (UNEMAT)  Assinale a alternativa correta com relação ao romance de Lima Barreto, considerando que, em Triste fim de Policarpo Quaresma, a tragédia do protagonista está relacionada à/ao:

a. falta de caráter de Policarpo.

b. conluio político do protagonista com o marechal Floriano Peixoto.

c. discordância de Policarpo quanto à realidade política brasileira.

d. relação amorosa impossível com a recatada Olga.

e. defesa dos vícios políticos e ideológicos do país.

31. (UFU) Leia o trecho seguinte, de “Triste fim de Policarpo Quaresma”, que reproduz um diálogo de Ricardo Coração dos Outros com Quaresma e D. Adelaide.
“- Oh! Não tenho nada novo, uma composição minha. O Bilac – conhecem? – quis fazer-me uma modinha, eu não aceitei; você não entende de violão, Seu Bilac. A questão não está em escrever uns versos certos que digam coisas bonitas; o essencial é achar-se as palavras que o violão pede e deseja. (…)
– (…) vou cantar a Promessa, conhecem?
– Não – disseram os dois irmãos.
– Oh! Anda por aí como as “Pombas” do Raimundo.”
Lima Barreto. “Triste fim de Policarpo Quaresma”.
Parta do trecho lido para marcar a alternativa INCORRETA.
a) Olavo Bilac e Raimundo Correia deram vazão à sensibilidade pessoal, evitando como compromisso único o esmero técnico e produziram uma poesia lírica amorosa e sensual (Olavo Bilac), marcada por uma certa inquietação filosófica (Raimundo Correia).
b) Bilac (Olavo Bilac), Raimundo (Raimundo Correia) e Alberto de Oliveira formaram a “tríade parnasiana” da literatura brasileira, escrevendo uma poesia de grande qualidade técnica, que concebia a atividade poética como a habilidade no manejo do verso.
c) O Parnasianismo, pela supervalorização da linguagem preciosa, pela busca da palavra exata, do emprego da rima rica e da métrica perfeita, foi um estilo literário de curta duração que se restringiu à elite literária do Rio de Janeiro.
d) Assim como Ricardo, que deseja “a palavra que o violão pede”, Lima Barreto acreditava que a linguagem literária clássica, formal, não era adequada para o tipo de literatura que produzia: marcada pela visão crítica, pela objetividade da denúncia, pela simplicidade comunicativa.

32. (UFRS) Considere as seguintes afirmações a respeito do romance “O Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto.  
I – O protagonista não compreende bem o mundo em que vive, passando da ingênua crença no idealismo dos homens, vistos como capazes de construir um Brasil melhor, para o desencanto melancólico em relação às instituições e às suas escolhas pessoais.
II – Quaresma é condenado à morte, porque ofendeu moralmente o presidente da República, quando este não analisou suas propostas de reforma rural, nem atendeu às suas reivindicações.
III – No romance, são introduzidos personagens representativos do subúrbio do Rio de Janeiro, como Ricardo Coração dos Outros, com a sua fala popular e expressões típicas do brasileiro da época.
Quais estão corretas?
a) Apenas I.
b) Apenas I e II.
c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III.

33. (PUC-MG) Antônio Cândido, em sua obra “Formação da literatura brasileira”, ao escrever sobre Romantismo, considera que, nesse estilo, o patriotismo se aponta ao escritor como estímulo e dever. Com efeito, a literatura foi considerada parcela dum esforço construtivo mais amplo, denotando o intuito de contribuir para a grandeza da nação. Manteve-se durante todo o Romantismo este senso de dever patriótico, que levava os escritores não apenas a cantar a sua terra, mas a considerar as suas obras como contribuição ao progresso. Acrescenta ainda três elementos românticos nacionalistas: desejo de exprimir uma nova ordem de sentimentos, agora reputados de primeiro plano, como o orgulho patriótico, extensão do antigo nativismo, desejo de criar uma literatura independente, diversa, não apenas uma literatura, (…); a noção já referida de atividade intelectual não mais apenas como prova de valor do brasileiro e esclarecimento mental do país, mas tarefa patriótica de construção nacional”
A obra de Lima Barreto, TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA,
a) é romântica e exemplifica as palavras de Antônio Cândido, já que seu protagonista se comporta como um romântico.
b) não é romântica e contraria as palavras de Antônio Cândido, à medida que as atitudes do protagonista vão se revestindo de heroísmo romântico.
c) não é romântica e contradiz as palavras de Antônio Cândido, tendo em vista que o protagonista acaba por se submeter a uma visão antinacionalista e, portanto, antirromântica.
d) é romântica e ratifica as palavras de Antônio Cândido, porque o orgulho patriótico-romântico do protagonista encontra lugar de ação no decorrer da narrativa.
e) opõe-se ao Romantismo e não retrata as palavras de Antônio Cândido, pois ironiza as posturas nacionalistas românticas através do protagonista.

34. (UFPR) “E era agora que ele [Policarpo Quaresma] chegava a essa conclusão, depois de ter sofrido a miséria da cidade e o emasculamento da repartição pública, durante tanto tempo! Chegara tarde, mas não a ponto de que não pudesse antes da morte, travar conhecimento com a doce vida campestre e a feracidade das terras brasileiras.(…)
E ele viu então diante dos seus olhos as laranjeiras, em flor, olentes, muito brancas, a se enfileirar pelas encostas das colinas, como teorias de noivas; os abacateiros, de troncos rugosos, a sopesar com esforço os grandes pomos verdes; as jabuticabas negras a estalar dos caules rijos; os abacaxis coroados que nem reis, recebendo a unção quente do sol; as abobreiras a se arrastarem com flores carnudas cheias de pólen; as melancias de um verde tão fixo que parecia pintado; os pêssegos veludosos, as jacas monstruosas, os jambos, as mangas capitosas;…”
A respeito do romance TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, de Lima Barreto, do qual foi transcrito o trecho anterior, é correto afirmar:
(01) Narrador e protagonista, elementos que se fundem ao longo do romance, concluem que as melhores alternativas para a construção de um projeto nacional estariam no ambiente interiorano e numa economia de base agrícola.
(02) O mesmo patriotismo exaltado que conduzira Quaresma às suas experiências no campo é responsável, mais adiante, pelo abandono abrupto de seus projetos rurais.
(04) Este trecho integra a segunda parte do romance, que corresponde à empreitada do protagonista no campo, antecedida pelo malogro reformista experimentado na seção inicial e seguida por seu “triste fim” nos desdobramentos de seu retorno ao Rio de Janeiro.
(08) O preciosismo vocabular e a acumulação descritiva que marcam o parágrafo final do trecho citado são reveladores das influências parnasianas que marcam o estilo de Lima Barreto.
(16) A técnica do romance confessional, onde a narrativa é construída através da rememoração de experiências do próprio protagonista, pode ser assinalada como uma das inovações desta obra de Lima Barreto, procedimento que só voltaria a ser exercitado em nossa literatura pelos autores modernistas.
SOMA:
  02 + 04 = 06

35. (ENEM) A sua concepção de governo [do Marechal Floriano Peixoto] não era o despotismo, nem a democracia, nem a aristocracia; era a de uma tirania doméstica. O bebê portou-se mal, castiga-se. Levada a coisa ao grande o portar-se mal era fazer-lhe oposição, ter opiniões contrárias às suas e o castigo não eram mais palmadas, sim, porém, prisão e morte. Não há dinheiro no tesouro; ponham-se as notas recolhidas em circulação, assim como se faz em casa quando chegam visitas e a sopa é pouca: põe-se mais água. (BARRETO, L. Triste fim de Policarpo Quaresma. São Paulo: Brasiliense, 1956)

A obra literária de Lima Barreto faz uma crítica incisiva ao período da Primeira República no Brasil. No fragmento do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, a expressão “tirania doméstica”, como concepção do governo florianista, significa que:

a)o regime político era omisso e elitista.

b) a visão política de governo era infantilizada.

c) o presidente empregava seus parentes no governo.

d) o modelo de ação política e econômica era patriarcal.

e) o presidente assumiu a imagem populista de pai da nação

36. (UFU ) “Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois que fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas coisas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas… Restava disso tudo em sua alma uma satisfação? Nenhuma! Nenhuma! O tupi encontrou a incredulidade geral, o riso, a mofa, o escárnio; e levou-o à loucura. Uma decepção. E a agricultura? Nada. As terras não eram ferazes e ela não era fácil como diziam os livros. Outra decepção. E, quando o seu patriotismo se fizera combatente, o que achara? Decepções. Onde estava a doçura de nossa gente? Pois ele não a viu combater como feras? Pois não a via matar prisioneiros, inúmeros? Outra decepção. A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções.”

(Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma).

Verifica-se que:

a) O trecho mostra que em todos os momentos de sua vida, Quaresma preocupou-se com o bem coletivo. Mas, neste momento, ele pensa em si próprio e vê que é um homem abandonado, incompreendido, injustiçado. Toda a sua dedicação à pátria não lhe deu felicidade nenhuma: é um homem só e decepcionado.

b) O trecho foi extraído do 1º capítulo do romance em questão, que introduz o major Quaresma em seu sítio, fazendo uma reflexão de sua vida passada. A partir daí, em tempo psicológico, a narrativa resgata os episódios marcantes da vida de Quaresma envolvido na consolidação de seus projetos nacionalistas.

c) Este trecho mostra que em todos os momentos de sua vida, Quaresma agiu como um cidadão nacionalista, envolvido, sobretudo, com o bem da pátria. Em sua reflexão fica claro que, mesmo após sua vida ter sido “um encadeamento de decepções”, ele, o indivíduo, não se importa.

d) Nas últimas linhas do trecho acima há a afirmação de que “A sua vida era uma decepção, uma série, melhor, um encadeamento de decepções”. A última grande decepção de Quaresma, dentro de seu projeto de mostrar que o Brasil era uma nação viável e grandiosa, foi descobrir que o rio Amazonas era menor que o rio Nilo.

37. (PUC-SP)  “Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela o premiava, como ela o condenava? matando-o. E o que não deixará de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.

Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas… Restava disto tudo em sua alma uma sofisticação? Nenhuma! Nenhuma!” (Lima Barreto)

As obras do autor desse trecho integram o período literário chamado Pré-Modernismo. Tal designação para este período se justifica, porque ele:

a) desenvolve temas do nacionalismo e se liga às vanguardas europeias.

b) engloba toda a produção literária que se fez antes do Modernismo.

c) antecipa temática e formalmente as manifestações modernistas.

d) se preocupa com o estudo das raças e das culturas formadoras do nordestino brasileiro.

e) prepara pela irreverência de sua linguagem as conquistas estilísticas do Modernismo.

39. (ITA) Assinale a alternativa que rotula adequadamente o tratamento dado ao elemento indígena, nos romances “O Guarani”, de José de Alencar, e “Triste fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, respectivamente:
a) Nacionalismo exaltado, nacionalismo caricatural.
b) Idolatria nacionalista, derrotismo nacional.
c) Aversão ao colonizador, aversão ao progresso.
d) Aversão ao colonizador, derrotismo nacional.
e) Nacionalismo exaltado, aversão ao progresso.

39. (UFF) No final do romance Triste fim de Policarpo Quaresma, o personagem Quaresma adota uma postura crítica em relação ao nacionalismo que ele adotara no texto II (questão anterior).
Assinale a alternativa em que esta postura crítica aparece:
a) “Nada de ambições políticas ou administra-tivas; o que Quaresma pensou, ou melhor: o que o patriotismo o fez pensar, foi um conhecimento inteiro do Brasil, (…) para depois então apontar os remédios, as medidas progressivas, com pleno conhecimento de causa.”
b) “E o que não deixara de ver, de gozar, fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.”
c) “É preconceito supor-se que todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentara.”
d) “A pátria que quisera ter era um mito; era um fantasma criado por ele no silêncio de seu gabinete. Nem a física, nem a moral, nem a intelectual, nem a política que julgava existir, havia.”
e) “Policarpo era patriota. Desde moço, aí pelos vinte anos, o amor da pátria tomou-o todo inteiro.”

40. (JUIZ DE FORA) O personagem Policarpo Quaresma, do romance de que se transcreveu o trecho (questão anterior), é:

a) venal, sempre disposto a se vender a qualquer aceno;

b) quixotesco, buscando soluções ideais e abstratas para problemas  concretos;

c) desiludido, mantendo-se indiferente a todos os acontecimentos a  sua volta;

d) psicótico, levando ao extremo soluções sangrentas para qualquer problema; preocupado apenas com seus livros, suas músicas e suas danças;

e) apático.

41. (PUC-SP) “Iria morrer, quem sabe naquela noite mesmo? E que tinha ele feito de sua vida? Nada. Levara toda ela atrás da miragem de estudar a pátria, por amá-la e querê-la muito bem, no intuito de contribuir para a sua felicidade e prosperidade. Gastara a sua mocidade nisso, a sua virilidade também; e, agora que estava na velhice, como ela o recompensava, como ela a premiava, como ela o condenava? Matando-o. E o que não deixara de ver, de gozar, de fruir, na sua vida? Tudo. Não brincara, não pandegara, não amara – todo esse lado da existência que parece fugir um pouco à sua tristeza necessária, ele não vira, ele não provara, ele não experimentá-la.Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. Que lhe importavam os rios? Eram grandes? Pois se fossem… Em que lhe contribuiria para a felicidade saber o nome dos heróis do Brasil? Em nada… O importante é que ele tivesse sido feliz. Foi? Não. Lembrou-se das suas causas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas… Restava disto tudo em sua alma uma sofisticação? Nenhuma! Nenhuma!” (Lima Barreto)
O trecho acima pertence ao romance Triste Fim de Policarpo Quaresma. Da personagem que dá título ao romance, podemos afirmar que:
a) foi um nacionalista extremado, mas nunca estudou com afinco as coisas brasileiras.
b) perpetrou seu suicídio, porque se sentia decepcionado com a realidade brasileira.
c) defendeu os valores nacionais, brigou por eles a vida toda e foi condenado à morte justamente pelos valores que defendia.
d) foi considerado traidor da pátria, porque ele participou da conspiração contra Floriano Peixoto.
e) era um louco e, por isso, não foi levado a sério pela pessoas que o cercavam.

42. (FUVEST) No romance Triste Fim de Policarpo Quaresma, o nacionalismo exaltado e delirante da personagem principal motiva seu engajamento em três diferentes projetos, que objetivam “reformar” o país. Esses projetos visam, sucessivamente, aos seguintes setores da vida nacional:
a) escolar, agrícola e militar;
b) linguístico, industrial, e militar;
c) cultural, agrícola e político;
d) linguístico, político e militar;
e) cultura, industrial e político.

43. (UFSM) Analise as afirmações a seguir.
I. Obra que, ambientada no universo do Rio de Janeiro, recupera, em linguagem fluente, cenas cotidianas, tipos de subúrbio, flagrantes da rua e da atividade burocrática.
II. Livro que, composto em prosa fragmentada, tematiza a rejeição a partir da história de uma família de retirantes que vive em pleno agreste.
Assinale a alternativa que identifica, respectivamente, as obras que se referem às afirmações I e II.
a) Clarissa – Vidas Secas
b) A Hora da Estrela – Terras do Sem Fim
c) Triste fim de Policarpo Quaresma – Vidas Secas
d) Verão no Aquário – Terras do Sem Fim
e) A Hora da Estrela – Os Sertões

44. (UFF) TEXTO I
CANÇÃO DO EXÍLIO

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá;

Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho –, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o sabiá.

Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras
Onde canta o sabiá.  DIAS, Antônio Gonçalves. Poesia completa e prosa escolhida. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1959, p.103

TEXTO II
Errava quem quisesse encontrar nele qualquer regionalismo; Quaresma era antes de tudo brasileiro. Não tinha predileção por esta ou aquela parte de seu país, tanto assim que aquilo que o fazia vibrar de paixão não eram só os pampas do Sul com seu gado, não era o café de São Paulo, não eram o ouro e os diamantes de Minas, não era a beleza da Guanabara, não era a altura da Paulo Afonso, não era o estro de Gonçalves Dias ou o ímpeto de Andrade Neves – era tudo isso junto, fundido, reunido, sob a bandeira estrelada do Cruzeiro.
Logo aos dezoito anos quis fazer-se militar; mas a junta de saúde julgou-o incapaz. Desgostou-se, sofreu, mas não maldisse a Pátria. O ministério era liberal, ele se fez conservador e continuou mais do que nunca a amar a “terra que o viu nascer.” Impossibilitado de evoluir-se sob os dourados do Exército, procurou a administração e dos seus ramos escolheu o militar.
……………………………………………………………………….
Durante os lazeres burocráticos, estudou, mas estudou a Pátria, nas suas riquezas naturais, na sua história, na sua geografia, na sua literatura e na sua política. Quaresma sabia as espécies de minerais, vegetais e animais, que o Brasil continha; sabia o valor do ouro, dos diamantes exportados por Minas, as guerras holandesas, as batalhas do Paraguai, as nascentes e o curso de todos os rios. Defendia com azedume e paixão a proeminência do Amazonas sobre todos os demais rios do mundo. Para isso ia até ao crime de amputar alguns quilômetros ao Nilo e era com este rival do “seu” rio que ele mais implicava. Ai de quem o citasse na sua frente ! Em geral, calmo e delicado, o major ficava agitado e malcriado, quando se discutia a extensão do Amazonas em face da do Nilo.
BARRETO, Lima. Triste fim de Policarpo Quaresma. In: Três Romances. Rio de Janeiro: Garnier, 1990, p. 17-18
A valorização do nacional, expressa no poema de Gonçalves Dias (texto I) e nas ideias de Quaresma (texto II), é uma característica presente nos seguintes períodos literários:
a) Simbolismo e Modernismo
b) Arcadismo e Romantismo
c) Realismo e Simbolismo
d) Romantismo e Modernismo
e) Barroco e Arcadismo

45. (UNIFRA) Associe corretamente as colunas:

1. O Moço Loiro ( ) …“Raquel tinha a cabeça inclinada para baixo e os olhos fitos no fundo do batel; cedendo a inexplicáveis movimentos de desassossego, suas mãos, que se achavam unidas uma à outra sobre o colo, apertavam-se”.(…) “Dir-se-ia que Raquel tinha n’alma um pensamento doloroso. (…) … Honorina, ao contrário, estava um pouco voltada para fora.”
2. Senhora ( ) …“Aurélia reuniu o cheque e os maços de dinheiro que estavam sobre a mesa.
Este dinheiro é abençoado. Diz o senhor que ele o regenerou, e acaba de o restituir muito a propósito para realizar um pensamento de caridade e servir a outra regeneração.”
3. Dom Casmurro ( ) … “Olga tocou no velho piano de Dona Adelaide; e, antes das onze horas, estavam todos recolhidos. Quaresma chegou a seu quarto, despiu-se, enfiou a camisa de dormir e, deitado, pôs-se a ler um velho elogio das riquezas e opulências do Brasil.”
4. Triste fim de Policarpo Quaresma ( ) …“Capitu estava ao pé do morro fronteiro, voltada para ele, riscando com um prego. O rumor da porta fê-la olhar para trás; ao dar comigo, encostou-se no muro, como se quisesse esconder alguma cousa. Caminhei para ela; naturalmente levava o gesto mudado, porque ela veio a mim, e perguntou-me inquieta: – que é que você tem? (…)”
5. Os Sertões ( ) … “O povoado novo surgia, dentro de algumas, já feito ruínas. Nascia velho. Visto de longe, desdobrado pelas câmeras, atrelando as canhadas, cobrindo área enorme, truncado nas quebradas, revolto nos pendores – tinha o aspecto perfeito de uma cidade cujo solo houvesse sido sacudido e brutalmente dobrado por um terremoto.”

A sequência correta é:

a) 1 – 3 – 4 – 5 – 2.

b) 1 – 4 – 3 – 2 – 5.

c) 4 – 3 – 2 – 1 – 5.

d) 1 – 2 – 3 – 4 – 5.

e) 1 – 2 – 4 – 3 – 5.

46. (UFU) Leia e compare os textos seguintes.
Estou no hospício ou, melhor, em várias dependências dele, desde o dia 25 do mês passado. (…) Eu sou dado ao maravilhoso, ao fantástico, ao hipersensível; nunca, por mais que quisesse, pude ter uma concepção mecânica, rígida do Universo e de nós mesmos. No último, no fim do homem e do mundo, há mistério e eu creio nele. (…) O que há em mim, meu Deus? Loucura? Quem sabe lá? (…) Que dizer da loucura? Mergulhado no meio de quase duas dezenas de loucos, não se tem absolutamente uma impressão geral dela. (Lima Barreto. Diário do hospício)

E essa mudança não começa, não se sente quando começa e quase nunca acaba. Com o seu padrinho, como fora? A princípio, aquele requerimento… mas que era aquilo? Um capricho, uma fantasia, coisa sem importância, uma ideia de velho sem consequência. Depois, aquele ofício? Não tinha importância, uma simples distração, coisa que acontece a cada passo… E enfim? A loucura declarada, a torva e irônica loucura que nos tira a nossa alma e põe uma outra, que nos rebaixa… (Lima Barreto. Triste fim de Policarpo Quaresma)
Assinale a alternativa correta:
a) Sem a experiência pessoal de Lima Barreto sobre a loucura, o autor não teria elementos suficientes para compor sua personagem nem para refletir sobre o tema.
b) Em ambos os textos, os narradores creem que o universo e o homem estão sujeitos a uma ordem suprassensível, misteriosa, que impede a demarcação exata da lucidez e da loucura.
c) Seguindo padrões estabelecidos, a personagem Quaresma pauta-se por uma conduta racional e objetiva, comportamento esse positivista, que a leva à loucura.
d) Ainda que não saiba definir a loucura, Lima Barreto faz uma exaltação dela, por meio de sua vida e da personagem Quaresma.

47. (PUC-RS) Triste fim de Policarpo Quaresma, romance de Lima Barreto publicado em 1911, trata do drama de um velho aposentado que se propõe a salvar o Brasil de suas mazelas sociais. Neste romance, a figura feminina
a) vive uma relação amorosa extremamente sensual com Policarpo.
b) representa o ideal de mulher com que sonha Policarpo.
c) é a personagem que, como amiga de Policarpo, ao término, melhor entende a dinâmica da sociedade.
d) idealiza a vida brasileira e acompanha Policarpo em suas ideias de transformar o País.
e) cria empecilhos, como vilã, para que Policarpo realize seu sonho.

48. (JUIZ DE FORA) Leia atentamente o fragmento de texto abaixo:

“E, bem pensando, mesmo na sua pureza, o que vinha a ser a Pátria? Não teria levado toda a sua vida norteado por uma ilusão, por uma ideia a menos, sem base, sem apoio, por um Deus ou uma Deusa cujo império se esvaía?” (Lima Barreto. Triste Fim de Policarpo Quaresma)

No fragmento transcrito percebe-se:

a) o desdém de Policarpo Quaresma pela ideia de Pátria ou de nação;

b) a recusa de Policarpo em aderir à ideia de patriotismo ou defesa  do país;

c) a intransigência de Policarpo Quaresma em relação aos que  queriam vender a Pátria e os princípios;

d) a consciência de Policarpo a respeito do idealismo abstrato que  sempre o leva à ação;

e) a indecisão de Policarpo Quaresma diante da necessidade de servir  ao governo florianista.

49. (UNESP) Assinale a alternativa que contém, respectivamente: um romance romântico indianista, um romance realista, um romance naturalista, um romance pré-modernista e um romance modernista.
a) O Guarani, O Cortiço, Dom Casmurro, Os Sertões e Memórias Sentimentais de João Ribamar.
b) O Guarani, Memórias Póstumas de Brás Cubas, O Cortiço, Triste Fim de Policarpo Quaresma e Macunaíma.
c) Iracema, A Carne, O Mulato, Quarup e Menino de Engenho.
d) Iracema, O Sertanejo, A Carne, Macunaíma e Urupês.
e) Ubirajara, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Luzia-Homem, O Ateneu e Os Sertões.

50. (UFRS) Em TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, romance de Lima Barreto, o personagem principal
a) é um funcionário público que, após se retirar para seu sítio, adota hábitos dos índios e pratica rituais de origem africana.
b) é um jornalista que se dispõe a defender, de arma na mão, o governo de Floriano Peixoto contra a revolta da Armada.
c) é um jornalista que, depois da crise que o levou a ser internado em um manicômio, se apaixona por sua sobrinha, Olga.
d) é um funcionário público que, depois de ter cometido um desfalque lesando o tesouro nacional, se retira para seu sítio.
e) é um funcionário público idealista que, embora tenha perdido seu emprego, se dispõe a defender a Pátria e a República.

51. (MACKENZIE) OLGA, RICARDO CORAÇÃO DOS OUTROS, ALBERNAZ e GENELÍCIO são personagens representativos de um romance que apresenta tendências pré-modernistas. Tais personagens são encontrados em:
a) Os Sertões
b) Urupês.
c) Cidades Mortas.
d) A Nova Califórnia.
e) Triste Fim de  Policarpo Quaresma.

52. (UFSM) Sobre a temática de TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, de Lima Barreto, é correto afirmar que
a) aborda o nacionalismo de um modo satírico.
b) focaliza o surgimento das festas carnavalescas.
c) propõe o ensino da escrita para os índios.
d) destaca ritos religiosos da quaresma.
e) critica Dom Pedro e a Independência.

53. (UFSC) Em qual(is) proposição(ões) a relação texto, obra e autor está CORRETA?
01. O trecho “Luisinha e Leonardo haviam reatado o antigo namoro; e quem quiser ver coisa de andar depressa é namoro de viúva” pertence à obra MEMÓRIAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS, de Manoel Antônio de Almeida.
02. O fragmento “O traficante pensou em Cenoura, ele poderia matar Mané Galinha na escama, pressupondo que Galinha conhecesse todo mundo de sua quadrilha e como Sandro morava Lá em Cima, naturalmente Galinha não desconfiaria dele”. Faz parte da obra CIDADE DE DEUS, de Machado de Assis.
04. “Vasco não tirava os olhos do defunto. Sentia os pés presos ao chão, como se tivessem raízes naquele soalho secular do casarão dos Albuquerques. Tinha vontade de gritar:
– João de Deus! João de Deus! Levanta, homem, não vês que assim transtornas tudo, fazes a tua filha sofrer?” refere-se à obra UM LUGAR AO SOL, de Érico Veríssimo.
08. O trecho “Quando Alexandre viu que o susto ia passando, começou a mostrar tudo quanto é cor que o Pavão tinha. Alisava as penas devagar, dizendo que elas eram que nem seda. Seda era coisa que quase ninguém por ali conhecia” pertence à obra A CASA DA MADRINHA, de Deonísio da Silva.
16. O fragmento “Desde dezoito anos que o tal patriotismo lhe absorvia e por ele fizera a tolice de estudar inutilidades. (…) Lembrou-se das suas cousas de tupi, do folclore, das suas tentativas agrícolas…” refere-se à obra TRISTE FIM DE POLICARPO QUARESMA, de Lima Barreto.
32. Nos versos de BROQUÉIS, Cruz e Sousa utiliza partes do corpo humano como personagens em “Braços nervosos / Tentadores serpes / que prendem, tetanizam com os herpes / dos delírios na trêmula coorte”.
SOMA: 01 + 04 + 16 + 32 = 53

54. (UFU) Leia o trecho a seguir e assinale a alternativa correta, considerando o desdobramento deste trecho na narrativa “Triste Fim de Policarpo Quaresma”.
“O que mais a impressionou no passeio foi a miséria geral, a falta de cultivo, a pobreza das casas, o ar triste, abatido da gente pobre. Educada na cidade, ela tinha dos roceiros ideia de que eram felizes, saudáveis e alegres. Havendo tanto barro, tanta água, por que as casas não eram de tijolos e não tinham telhas? […] Por que ao redor dessas casas não havia culturas, uma horta, um pomar? Não seria tão fácil, trabalho de horas? […] Por quê?”
Lima Barreto. “Triste fim de Policarpo Quaresma.”
a) Sobre a falta de cultivo da terra e a consequente miséria, Felizardo explica a Olga que a terra não é deles e que, além do mais, não recebem incentivo por parte do governo, incentivo esse que é fornecido aos colonos estrangeiros.
b) A personagem Olga, mulher progressista e criada na cidade, constata que a miséria e a tristeza dos pobres trabalhadores rurais é fruto da preguiça deles mesmos, uma vez que eles podiam trabalhar e produzir como seu padrinho Quaresma.
c) Por meio de Olga, Lima Barreto defende a mesma postura política de todos os pré-modernistas, em relação ao trabalhador rural. Preguiça, desânimo e falta de iniciativa própria são os fatores responsáveis pelo estado de miséria e abandono desse trabalhador.
d) Durante o passeio, Olga percebe os “latifúndios inúteis e improdutivos” e volta para casa determinada a reverter essa situação deprimente, ajudando seu padrinho a redigir o projeto de melhorias para a agricultura, que seria endereçado a Floriano Peixoto.

55. (UFV) A respeito de “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto, SOMENTE podemos concluir que:
a) é uma narrativa modernista, na qual se enfatiza a crítica ao nacionalismo romântico pelo constrangimento por que passa o protagonista devido às suas obstinadas ideias de igualdade, liberdade e fraternidade.
b) é um romance de tese, nos moldes do Realismo-Naturalismo, no qual o autor tenta demonstrar que no Brasil da Primeira República não havia lugar para visionários do tipo de Policarpo Quaresma.
c) é uma sátira social, com predomínio de situações cômicas e nítida intenção de ridicularizar o protagonista e atacar as instituições.
d) é uma narrativa de transição, importante enquanto denúncia veemente das mazelas sociais e políticas da época, sintetizadas em bacharelismo e coronelismo, embora contenha alguns defeitos de estrutura e de linguagem.
e) é um romance psicológico pela valorização do tom intimista, no qual narrador e protagonista praticamente se confundem, num jogo todo próprio, construído em semitons e matizes.

(MACKENZIE) Texto para as questões de 56 a 58

De acordo com sua paixão dominante, Quaresma estivera muito tempo a meditar qual seria a expressão poético-musical característica da alma nacional. Consultou historiadores, cronistas e filósofos e adquiriu a certeza que era a modinha acompanhada pelo violão. […] Ricardo vinha justamente dar-lhe lição mas, antes disso, por convite especial do discípulo, ia compartilhar o seu jantar; e fora por isso que o famoso trovador chegou mais cedo à casa do subsecretário.

[…]

E o jantar correu assim, nesse tom. Quaresma exaltando os produtos nacionais: a banha, o toucinho e o arroz; a irmã fazia pequenas objeções e Ricardo dizia: “é, é, não há dúvida” – rolando nas órbitas os olhos pequenos, franzindo a testa diminuta que se sumia no cabelo áspero, forçando muito a sua fisionomia miúda e dura a adquirir uma expressão sincera de delicadeza e satisfação. Acabado o jantar foram ver o jardim. Era uma maravilha; não tinha nem uma flor. Certamente não se podia tomar por tal míseros beijos-de-frade, palmas-de-santa-rita, quaresmas lutulentas, manacás melancólicos e outros belos exemplares dos nossos campos e prados. Como em tudo o mais, o major era em jardinagem essencialmente nacional. Nada de rosas, de crisântemos, de magnólias – flores exóticas; as nossas terras tinham outras mais belas, mais expressivas, mais olentes, como aquelas que ele tinha ali. Lima Barreto, Triste fim de Policarpo Quaresma

Observação – lutulentas: lamacentas

olentes: perfumadas

56. Assinale a alternativa correta.

a) No período que vai da linha 15 a 17, o narrador onisciente, por meio do discurso indireto livre, expressa a opinião do major Quaresma a respeito do jardim.

b) De acordo com o primeiro parágrafo do texto, a coisa mais importante do mundo para o major era a música, a linguagem universal da arte.

c) O narrador manifesta, jocosamente, seu juízo de valor a respeito do jardim do major: Era uma maravilha; não tinha nem uma flor (linhas 14 e 15).

d) Nas linhas 20 e 21, tem-se ponto de vista do narrador acerca da flora brasileira: as nossas terras tinham outras mais belas, mais expressivas, mais olentes.

e) A fala de Ricardo – “é, é, não há dúvida” (linha 10) – confirma a intimidade e a afinidade que existiam entre ele e o major.

57. Considerado o fragmento no contexto da obra do autor, assinale a alternativa correta a respeito desse romance de Lima Barreto.

a) O nacionalismo do major Quaresma é um dos aspectos que comprovam tratar-se de obra romântica, especificamente da primeira geração.

b) Embora apresente linguagem romântica, trata-se de um texto típico do Realismo brasileiro, em que a crítica aos costumes aristocráticos está ironicamente tematizada.

c) A defesa de valores nacionalistas e populares, como a modinha de viola, comprova tratar-se de um romance experimental do Modernismo brasileiro.

d) Trata-se de obra de cunho regionalista, típica da segunda geração modernista brasileira.

e) A perspectiva crítica com que o ideal nacionalista é tratado corresponde a um dos aspectos que filiam a obra ao chamado Pré-Modernismo brasileiro.

58. “No dizer arguto de Oliveira Lima, tem Policarpo algo de quixotesco” (Alfredo Bosi).

Considere as seguintes justificativas para o comentário acima:

I. A figura do major Quaresma é, em várias situações do romance, personagem cômica e, em outras, personagem patética.

II. Devido a seu idealismo exacerbado, Policarpo perde muitas vezes a noção da realidade.

III. O caráter virtuoso e exemplar de Quaresma aproxima-o de outros heróis da literatura brasileira, como, por exemplo, Macunaíma.

Assinale:

a) se as afirmações I, II e III estiverem corretas.

b) se as afirmações I, II e III estiverem incorretas.

c) se apenas as afirmações I e III estiverem corretas.

d) se apenas as afirmações II e III estiverem corretas.

e) se apenas as afirmações I e II estiverem corretas.

59. (MACK) Havia bem dez dias que o Major Quaresma não saía de casa. Estudava os índios. Não fica bem dizer “estudava”, porque já o fizera há tempos (…). Recordava (é melhor dizer assim), afirmava certas noções dos seus estudos anteriores, visto estar organizando um sistema de cerimônias e festas que se baseasse nos costumes dos nossos silvícolas e abrangesse todas as relações sociais. (…) A convicção que sempre tivera de ser o Brasil o primeiro país do mundo e o seu grande amor à pátria eram agora ativos e impeliram-no a grandes cometimentos. Lima Barreto No fragmento anterior,

a) o protagonista, tecendo comentários livremente, apresenta ao leitor ações e intenções da personagem quixotesca.

b) o narrador revela-se preocupado com a precisão ao relatar as ações do protagonista idealizador.

c) o narrador manifesta suas dúvidas quanto aos fatos ocorridos, em virtude de seu desconhecimento do universo focalizado.

d) o narrador-personagem, ao estabelecer paralelo entre o passado e o presente do Major, manifesta sua decepção pela ingenuidade do sonhador.

e) o narrador-personagem anuncia o fim trágico do protagonista e ironiza seu perfil fantasioso e idealista.

1. (FUVEST) Leia com atenção os seguintes versos de João Cabral de Melo Neto em Morte e Vida Severina:
E belo porque o novo
todo o velho contagia.
Belo porque corrompe
com sangue novo a anemia.
Infecciona a miséria
com vida nova e sadia.
Com oásis, o deserto.
Com ventos, a calmaria.
a) Contextualize esses versos no poema de João Cabral de Melo Neto, indicando o evento a que se referem e a relação desse evento com a fala final de Seu José ao retirante.
b) Que valor deu o poeta aos verbos contagiar, corromper e infeccionar no contexto da estrofe acima? Explique

RESPOSTAS:

a)Os versos transcritos ocorrem no episódio propriamente “natalino” da peça de João Cabral: o nascimento da criança. Este episódio funciona, no contexto da obra, como defesa da vida, ainda que se trate de uma defesa fraca e hesitante (apenas mais uma “vida severina”). Por isso, o mestre Carpina toma o evento como argumento contra o pretendido suicídio do retirante.
b) Os verbos em questão têm, no contexto, o seu sentido alterado, invertido: em vez das ações deletérias (destrutivas) que habitualmente indicam, eles ganham sentido positivo, pois operam em favor do “novo” (a nova vida, a esperança de redenção social). 

2. (UNICAMP) No final de MORTE E VIDA SEVERINA, encontramos o seguinte trecho:
( .. ) é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
a) Essas palavras são dirigidas a Severino, o retirante, em resposta a uma pergunta feita por ele. Quem as pronuncia? Que pergunta tinha sido feita por Severino?
b) Qual o significado de “severina”, adjetivando “vida”?
c) Relate o episódio em que se apoia a afirmação contida nos dois últimos versos do trecho citado.
RESPOSTAS:

a) Seu José, mestre carpina, é quem pronuncia.
A pergunta que Severino lhe fizera é: “que diferença faria / em vez de continuar / tornasse a melhor saída: / a de saltar, numa noite, / fora da ponte e da vida?”.
b) A vida severina é a vida sujeita à seca, à precariedade, à injustiça.
c) É o nascimento da criança, filha do mestre carpina.

3. (UFU) A revista “Cadernos de Literatura Brasileira” perguntou a João Cabral de Melo Neto se haveria algum aspecto de sua obra com o qual a crítica não havia trabalhado, ao que o poeta respondeu:
“A crítica nunca se preocupa com o humor negro de minha poesia. Leia “Dois parlamentos”, por exemplo. É puro humor negro. Em “Morte e vida severina”, também existe humor negro. Você lembra daquele trecho
– Mais sorte tem o defunto,
irmãos das almas,
pois já não fará na volta
a caminhada.”?
(Trecho da segunda cena da obra, em que Severino encontra dois homens carregando um defunto)
Explique, pelo contexto da obra, o “humor negro” desses versos.
RESPOSTA:

O humor negro aparece na ironia feita em relação à sorte do defunto, que seria melhor do que a dos irmãos das almas, ou seja, morrer é melhor do que a vida que se leva no sertão.

4. (FUVEST) Mas não senti diferença
entre o Agreste e a Caatinga,
e entre a Caatinga e aqui a Mata
a diferença é a mais mínima.
Está apenas em que a terra
é por aqui mais macia;
está apenas no pavio,
ou melhor, na lamparina:
pois é igual o querosene
que em toda parte ilumina,
e quer nesta terra gorda
quer na serra, de caliça,
a vida arde sempre com
a mesma chama mortiça. (João Cabral de Melo Neto, “Morte e vida Severina”)
Neste excerto, o retirante, já chegado à Zona da Mata, reflete sobre suas experiências, reconhecendo uma diferença e uma semelhança entre as regiões que conhecera ao longo de sua viagem. Considerando o excerto no contexto da obra a que pertence,
a) explique sucintamente em que consistem a diferença e a semelhança reconhecidas pelo retirante.
b) Depois de chegar ao Recife, o retirante mudará substancialmente o julgamento que expressa neste excerto? Justifique brevemente sua resposta.
RESPOSTAS:

a) O retirante reconhece que as diferenças entre as regiões inóspitas do Sertão (“caatinga”) e do Agreste e a fértil e abundante Zona da Mata residem na geografia, no âmbito físico: a terra da Zona da Mata é “mais macia”. Mas há semelhanças na organização social, que, nas três regiões, faz a vida arder “sempre com a mesma chama mortiça”. A metáfora da lamparina traduz essa relação perfeitamente: a diferença é o exterior (“pavio”, “lamparina”), que remete ao meio físico, e a semelhança está no interior (“querosene”), que se associa à organização social.
b) Logo ao chegar ao Recife, objetivo último de sua peregrinação, Severino ouve o diálogo pessimista de dois coveiros. Isso reforça ainda mais sua sensação de desespero diante da desigualdade social que impera tanto no meio rural do Sertão, do Agreste e da Zona da Mata, quanto na cidade do Recife. Assim, o retirante não muda substancialmente o julgamento que expressa no excerto. Embora as cenas finais, do nascimento da criança, apontem para uma visão de mundo menos pessimista, em momento algum minimizam a crítica à péssima distribuição de renda nordestina.

5. (UNICAMP) Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, traz como subtítulo “auto de natal pernambucano”. Sabendo-se que a palavra auto ”designa toda peça breve, de tema religioso ou profano, em circulação durante a Idade Média” (Massaud Moisés, Dicionário de termos literários), responda:

a) Explique o porquê das adjetivações “de natal” e “pernambucano”, contidas no subtítulo, considerando o enredo da peça.

b) Qual é o sentido do adjetivo “severina” aplicado a “morte e vida”?

c) Comumente usa-se a expressão “vida e morte”; no título da peça de João Cabral, entretanto, a sequência é “morte e vida”. Explique o porquê dessa inversão.

RESPOSTAS:

a) No poema, o retirante Severino percorre o estado de Pernambuco até chegar a Recife, onde tem sua primeira experiência positiva: o nascimento de uma criança, filha de José, o Mestre Carpina, fato que o dissuade da ideia de suicídio. Está aí o sentido de “natal”: nascimento (além da conotação religiosa: a criança que nasce é filha de um carpinteiro de nome José, recebe visitas e presentes etc.). O adjetivo pernambucano refere-se ao espaço em que transcorre a ação.
b) O adjetivo severina, derivado de nome próprio muito comum no Nordeste, refere-se a uma vida árida, difícil, marcada pelo sofrimento. Também refere-se ao anonimato em que vivem tantos “severinos”, semelhantes na vida e nas formas de morrer geradas pela miséria.
c) A inversão da expressão reproduz a trajetória de Severino, que ao sair de sua terra depara-se com inúmeras situações de morte (enterros, velórios, até mesmo o rio seco), para só no final ter uma experiência de vida (o nascimento da criança).

6. Com relação à obra Morte e vida severina, responda às questões:

a) Explique o título acima.

b) Severina pode ser um substantivo e um adjetivo. Por quê?

c) Por que o subtítulo Auto de natal pernambucano?

RESPOSTAS:

a) Em sua retirada, Severino se depara a todo instante com a morte, fazendo com que, já no Recife, a ideia do suicídio povoe a sua mente, entretanto, com o nascimento de mais uma vida severina, a vida acaba se sobrepondo à morte.

b) Severina pode ser nome próprio como também severidade, rudeza, miséria.

c) Porque se trata da metáfora do nascimento de Jesus Cristo, o que caracteriza a fundamentação religiosa do texto, justificando a identificação como Auto de Natal.

7. (UFU) Leia o trecho a seguir.
“- Severino, retirante,
o meu amigo é bem moço;
sei que a miséria é mar largo,
não é como qualquer poço:
mas sei que para cruzá-la
vale bem qualquer esforço.
– Seu José, mestre carpina,
e quando é fundo o perau?
quando a força que morreu
nem tem onde se enterrar,
por que ao puxão das águas
não é melhor se entregar?
– Severino, retirante,
o mar de nossa conversa
precisa ser combatido,
sempre, de qualquer maneira,
porque senão ele alaga
e devasta a terra inteira.
– Seu José, mestre carpina,
e em que nos faz diferença
que como frieira se alastre,
ou como rio na cheia,
se acabamos naufragados
num braço do mar miséria?” João Cabral de Melo Neto. “Morte e vida severina”.
Baseado nos versos anteriores, responda.
a) Além de ser escrito em versos, o trecho acima apresenta outros recursos estilísticos que são usados pela literatura. Cite e exemplifique DOIS desses procedimentos, que nos levam a considerar esse trecho como literário.
b) Comente UMA crítica social implícita nesses versos.
RESPOSTAS:

a) uso de conotação e de rimas.
Exemplos:
Rimas
“sempre, de qualquer maneira,
porque senão ele alaga
e devasta a terra inteira”.
Conotação
“a miséria é mar largo,”
b) Fome, miséria, desigualdade.

8. Morte e vida Severina representa uma das facetas que nortearam a poesia de João Cabral de Melo Neto. Assim, lendo alguns fragmentos, os quais se encontram abaixo evidenciados, dê vida aos seus conhecimentos e registre suas impressões acerca da materialidade discursiva nele presente, levando em conta, é claro, os posicionamentos ideológicos tão pontuados numa análise literária:

[…]

Somos muitos Severinos  
iguais em tudo na vida:   
na mesma cabeça grande   
que a custo é que se equilibra,   
no mesmo ventre crescido   
sobre as mesmas pernas finas   
e iguais também porque o sangue,   
que usamos tem pouca tinta.   

E se somos Severinos   
iguais em tudo na vida,   
morremos de morte igual,   
mesma morte severina:   
que é a morte de que se morre   
de velhice antes dos trinta,   
de emboscada antes dos vinte   
de fome um pouco por dia   
(de fraqueza e de doença   
é que a morte severina   
ataca em qualquer idade,   
e até gente não nascida).   

Somos muitos Severinos   
iguais em tudo e na sina:   
a de abrandar estas pedras   
suando-se muito em cima,   
a de tentar despertar   
terra sempre mais extinta,

a de querer arrancar   
alguns roçado da cinza.   
Mas, para que me conheçam   
melhor Vossas Senhorias   
e melhor possam seguir   
a história de minha vida,   
passo a ser o Severino   
que em vossa presença emigra.

[…]

RESPOSTA:Tem-se que a criação artística ora em questão representa a outra faceta que demarcou o trabalho de João Cabral de Melo Neto, atestando que seu “veio” poético agora se voltava para uma poesia participante, voltada para um verdadeiro engajamento com os problemas sociais, sobretudo os que assolavam a região nordestina. Dessa forma, mediante a habilidade artística de que dispunha, conseguiu fazer de alguns obstáculos, tais como a miséria, a fome, a seca da região Nordeste, sua materialidade poética, camuflando a dureza da situação por detrás das palavras.  

Assim, criou o personagem Severino, retirante por excelência, que saiu lá da Serra da Costela em busca de melhores condições de vida, retratando, portanto, o cenário histórico, político e econômico da época em que o poema foi escrito. Equivale dizer, por que não, que as denúncias se encontram presentes em todos os trechos, entre eles:

Somos muitos Severinos  
iguais em tudo na vida:   
na mesma cabeça grande   
que a custo é que se equilibra,   
no mesmo ventre crescido   
sobre as mesmas pernas finas   
e iguais também porque o sangue,   
que usamos tem pouca tinta.

Nota-se que por meio deles o autor se refere à miséria, sobretudo demarcada pela subnutrição (pernas finas/sangue com pouca tinta.).

9. (FUVEST) E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio,
que também se chama vida,
ver a fábrica que ela mesma,
teimosamente, se fabrica,
vê-la brotar como há pouco
em nova vida explodida;
mesmo quando é assim pequena
a explosão, como a ocorrida;
mesmo quando é uma explosão
como a de há pouco, franzina;
mesmo quando é a explosão
de uma vida severina. (João Cabral de Melo Neto, “Morte e vida severina”)
a) A fim de obter um efeito expressivo, o poeta utiliza, em “a fábrica” e “se fabrica”, um substantivo e um verbo que têm o mesmo radical.
Cite da estrofe outro exemplo desse mesmo recurso expressivo.
b) A expressividade dos seis últimos versos decorre, em parte, do jogo de oposições entre palavras. Cite desse trecho um exemplo em que a oposição entre as palavras seja de natureza semântica.
RESPOSTAS:

a) Nota-se o mesmo recurso em “fio” e “desfiar”, ou seja, substantivo e verbo formados a partir de um mesmo radical.
b) Exemplo de oposição semântica se dá entre os termos explosão e franzina ou explosão e pequena. A palavra “explosão” cria a expectativa de potência, amplitude, grandiosidade; os adjetivos franzina (o mesmo que enfraquecida, débil) e pequena contrariam essa expectativa, configurando a oposição semântica.

10. (UFU) ASSISTE AO ENTERRO DE UM TRABALHADOR DE EITO E OUVE O QUE DIZEM DO MORTO OS AMIGOS QUE O LEVARAM AO CEMITÉRIO

— Essa cova em que estás,

com palmos medida,

é a conta menor

que tiraste em vida.

— É de bom tamanho,

nem largo nem fundo,

é a parte que te cabe

deste latifúndio.

— Não é cova grande,

é cova medida,

é a terra que querias

ver dividida.

— É uma cova grande

para teu pouco defunto,

mas estarás mais ancho

que estavas no mundo.

— É uma cova grande

para teu defunto parco,

porém mais que no mundo

te sentirás largo.

— É uma cova grande

para tua carne pouca,

mas a terra dada

não se abre a boca.

MELO NETO, João Cabral de. Serial e antes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997. p.159-160.

A partir do trecho acima, de Morte e vida Severina, e de seu conhecimento sobre a obra, assinale a alternativa correta.

a) Como grande parte dos poetas do Modernismo, João Cabral de Melo Neto abdica totalmente da rima em seu texto.

b) Conhecido como o “poeta-engenheiro”, João Cabral de Melo Neto arquiteta todo o seu poema em redondilhas maiores, ou seja, com sete sílabas poéticas.

c) O trecho aborda, a partir dos comentários dos amigos do trabalhador morto, temas sociais amplos, como a desigualdade na distribuição de terras e a fome.

d) No trecho, ambientado no enterro do personagem-narrador Severino, questiona-se a falência da reforma agrária no nordeste, na época marcada pela presença dos latifúndios.

11. (PUC-PR) Sobre a peça Auto da Compadecida, de Ariano Suassuna, é CORRETO somente o que se afirma em:

a) João Grilo, o protagonista, é uma espécie de pícaro, alguém que só conta com sua esperteza para sobreviver.

b) Assim, como Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, Auto da compadecida é um auto de Natal.

c) Apesar de inspirado nos autos medievais de Gil Vicente, Auto da Compadecida segue os padrões da dramaturgia clássica, com três atos.

d) Foi com essa peça, encenada pela primeira vez em 1943, sob a direção de Zbigniew Ziembinski, que se inaugurou o teatro moderno no Brasil.

e) Todos seus personagens são pobres diabos que vivem à margem do Estado, explorados por latifundiários comerciantes e clérigos inescrupulosos.

12. (PUC-PR) Sobre “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto, é incorreto afirmar:
a) O nascimento de uma criança, no final do poema, relativiza a ideia de que, no Nordeste, a morte sempre se sobrepõe à vida.
b) Escrito na década de 50, o poema tem sido adaptado frequentemente para o teatro e a televisão, o que contribuiu grandemente para sua popularização.
c) Trata-se de um poema dramático que tem como subtítulo “Auto de Natal pernambucano”.
d) O contraste entre vida e morte ganha contornos paradoxais quando, chegando ao Recife, Severino, em vez de se encantar com o rio que “não seca, vai toda vida”, pensa em suicidar-se em suas águas.
e) No poema, o único espaço social em que ricos e pobres se igualam é o cemitério.

13. (FUVEST) Em MORTE E VIDA SEVERINA, no diálogo entre o retirante e a mulher na janela (a “rezadora titular”), indicam-se vários motivos pelos quais Severino não encontrará emprego no local a que chegara. Um desses motivos, de fato presente na obra citada, encontra-se em:
a) Ao homem rústico falta competência para enfrentar o meio agreste e desenvolver técnicas necessárias para fazê-lo.
b) Os interesses da modernização financeira e industrial tornam ainda mais difícil para o homem rústico a obtenção de emprego.
c) Por ser desprovido de cultura religiosa e de vínculos com o Catolicismo, o sertanejo marginaliza-se ao chegar à Zona da Mata.
d) A grande fragilidade física a que chegou o retirante torna-o inapto para o trabalho pesado exigido na região.
e) Tendo experiência apenas na criação de gado, o sertanejo encontra-se deslocado em meio à cultura da cana-de-açúcar.

14. (U.F. OURO PRETO) Sobre Morte e vida Severina é incorreto afirmar:

a) O auto utiliza-se de uma linguagem grandiosa, de tom eufórico, para exaltar a capacidade de resistência do nordestino que a todas as privações resiste sem sucumbir. O nordestino é visto aqui sobretudo como um forte e é justamente esta sua qualidade que o texto de João Cabral celebra.

b) Severino retirante, em sua viagem, encontra sempre à morte, até que, já em Recife, chega-lhe a notícia do nascimento de um menino, signo de que ainda resiste à constante negação da existência “severina”.

c) Os versos breves e concisos de Morte e vida Severina acentuam o que tematicamente o poema enfoca: o sufocamento das “vidas severinas”, confinadas no horizonte estreito da vivência nordestina.

d) O auto realiza uma personalização dramática de um sujeito coletivo: os “severinos” que a seca escorraça do sertão e que o latifúndio escorraça da terra.

e) Pela fala final do mestre carpina, Seu José, o auto parece sugerir que a “severinidade” não é condição, mas estado, não é permanente nem intrínseca ao sujeito e, portanto, pode ser transformada.

15. (UEL) Em Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, a palavra “severino(a)” apresenta-se como substantivo próprio, substantivo comum e adjetivo. Tal fato ocorre porque, nessa obra, a palavra “severino(a)”:

a) Designa aquele que fala, além de outras personagens que, em virtude das dificuldades impostas pela vida, caracterizam-se por assumir a disciplina como norma de conduta. O termo qualifica a existência como permanente cuidado de não se expor a repreensões e censuras.
b) Designa a individualidade austera do protagonista e a individualidade flexível de outros homens e mulheres escorraçados do sertão pela seca. O termo qualifica a existência como busca constante de superação das dificuldades.
c) Designa o protagonista como ser inflexível, bem como outros retirantes que também se caracterizam pela rigidez diante da vida. O termo qualifica a existência como possibilidade de impor condições com rigor.
d) Designa aquele que fala, além de outros homens e mulheres que se caracterizam pelo rigor consigo mesmos e com os outros. O termo qualifica a existência humana como marcada pela austeridade nas opiniões.
e) Designa aquele que fala, o protagonista do auto, bem como os retirantes que, como ele, foram escorraçados do sertão pela seca e da terra pelo latifúndio. O termo qualifica a existência como realidade dura, áspera.

16. (UFPR)

Em Morte e vida severina, Severino é um retirante que sai do interior com a intenção de chegar ao litoral, à cidade do Recife. Quando atinge a Zona da Mata, última região antes da chegada ao Recife, diz ele: – Nunca esperei muita coisa, digo a Vossas Senhorias. O que me fez retirar não foi a grande cobiça; o que apenas busquei foi defender minha vida da tal velhice que chega antes de se inteirar trinta; se na serra vivi vinte, se alcancei lá tal medida, o que pensei, retirando, foi estendê-la um pouco ainda. Mas não senti diferença entre o Agreste e a Caatinga, e entre a Caatinga e aqui a Mata a diferença é a mais mínima. Está apenas em que a terra é por aqui mais macia; está apenas no pavio, ou melhor, na lamparina: pois é igual o querosene que em toda parte ilumina, e quer nesta terra gorda quer na serra, de caliça, a vida arde sempre com a mesma chama mortiça. […]         Sim, o melhor é apressar o fim dessa ladainha, fim do rosário de nomes que a linha do rio enfia; é chegar logo ao Recife, derradeira ave-maria do rosário, derradeira invocação da ladainha, Recife, onde o rio some e esta minha viagem se finda. (MELLO NETO, João Cabral de. Obra completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 186-187.)

Considerando o trecho acima e a leitura integral do auto de João Cabral de Melo Neto, assinale a alternativa correta.

a) O auto de João Cabral foi concluído em 1955, tempo em que ainda se iluminavam as casas com lamparinas, e, nessa situação, a percepção que Severino tem dos lugares que conhece é prejudicada pelas limitações da época e por sua própria ignorância.

b) A comparação de Recife com a “derradeira ave-maria/ do rosário”, assim como as várias rezas que Severino testemunha ao longo da viagem, mostra a presença constante da religiosidade como um fator de atraso na vida dos nordestinos.

c) Ao final, fica claro para o leitor que a vida no Recife também seria semelhante à das regiões menos desenvolvidas da Caatinga, do Agreste e da Zona da Mata, porque a pobreza não é causada pelas condições naturais, mas por uma estrutura social excludente.

d) O empenho social de João Cabral de Melo Neto é o de sugerir aos retirantes que não saiam de sua terra, visto que, sem preparo, eles enfrentam dificuldades enormes no Recife, valendo mais a pena procurar desenvolver sua própria região.

e) Ao chegar ao Recife, Severino ouve uma longa conversa entre dois coveiros e, percebendo que sua viagem havia sido inútil, entende a conversa como uma sugestão e se suicida, atirando-se no rio Capibaribe.

17. (UEL-PR) Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, identifica-se como:

a) uma obra que, refletindo inovações e experimentações linguísticas do autor, torna tênues as barreiras entre a prosa e poesia.

b) um auto que explora a temática do nascimento como signo do ressurgir da esperança.

c) um auto de Natal que rememora a visita dos reis Magos e pastores ao Deus Menino.

d) um poema que encerra uma síntese das propostas vanguardistas contidas na obra geral do autor.

e) um conto cujo interesse se centraliza na preocupação do autor como problema da seca no Nordeste.

18. Sobre MORTE E VIDA SEVERINA, de João Cabral de Melo Neto, é correto afirmar que
a) narra as agruras por que passa uma família nordestina composta por um vaqueiro despossuído, sua mulher e dois meninos, acompanhados por uma cadela.
b) expõe as dificuldades por que passa o nordestino despossuído que migra do árido sertão, passa pelo agreste e chega aos alagados de Recife.
c) expõe a miséria e a insalubridade da vida nos morros de Salvador ao narrar a experiência de um sertanejo que se adapta com dificuldades ao hostil ambiente urbano.
d) narra a experiência de um nordestino que, para sobreviver no sertão dominado pelo coronelismo e pela arbitrariedade, se converte em romeiro e pregador da palavra divina.
e) expõe os dilemas do nordestino pobre que, oprimido pelo chefe político do povoado, oscila entre tornar-se cangaceiro ou migrar para a cidade grande.

19. (CEFET) Leia as seguintes afirmações sobre Morte e Vida Severina:

I.O nascimento do filho do compadre José é antagônico em relação aos outros fatos apresentados na obra, já que esses são marcados pela morte.

II) Podemos dizer que o conteúdo é completamente pessimista, considerando-se que a jornada é marcada pela tragédia da seca, o que leva Severino à tentativa de suicídio. III) Mais do que a seca, as desigualdades sociais do Nordeste são o tema da obra. Assinale a alternativa correta sobre as afirmações:

a) Somente I e II estão corretas.

b) Somente I e III estão corretas.

c) Somente II e III estão corretas.

d) As três estão corretas.

e) As três estão incorretas.

20. (UFU) O retirante explica ao leitor quem é e a que vai

– O meu nome é Severino,

não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria,

deram então de me chamar

Severino de Maria;

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias.

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem fala

ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino

da Maria do Zacarias

lá da Serra da Costela,

limites da Paraíba,

Mas isso ainda diz pouco:

se ao menos mais cinco havia

com nome de Severino

filhos de tantas Marias

mulheres de outros tantos,

já finados, Zacarias,

vivendo na mesma serra

magra e ossuda em que eu vivia.

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas,

e iguais também porque o sangue

que usamos tem pouca tinta.NETO. João Cabral de Melo. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000.

Nesse primeiro quadro de Morte e vida severina, depreende-se, por meio de seu contexto, que

a) ‘na mesma cabeça grande que a custo é que se equilibra’ apresentam-se aspectos físicos e psicológicos.

b) ‘um coronel que se chamou Zacarias’ faz alusão aos defensores de uma igualdade social.

c) ‘o sangue que usamos tem pouca tinta’ indica uma estrutura corporal sem contaminações.

d) ‘O meu nome é Severino, não tenho outro de pia’ é verso que faz referência ao universo religioso.

21. (FUVEST) É correto afirmar que, em Morte e Vida Severina:  a) A alternância das falas de ricos e de pobres, em contraste, imprime à dinâmica geral do poema o ritmo da luta de classes.
b) A visão do mar aberto, quando Severino finalmente chega ao Recife, representa para o retirante a  primeira afirmação da vida contra a morte.
c) O caráter de afirmação da vida, apesar de toda a miséria, comprova-se pela ausência da ideia de  suicídio.
d) As falas finais do retirante, após o nascimento de seu filho, configuram o “momento afirmativo”, por  excelência, do poema.
e) A viagem do retirante, que atravessa ambientes menos e mais hostis, mostra-lhe que a miséria é a mesma, apesar dessas variações do meio físico.

22. (UFOP) A partir da leitura de Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, é correto afirmar que:

a) trata-se de um texto exclusivamente narrativo, uma vez que traz o relato dos episódios de uma viagem da personagem Severino do sertão até o mar.
b) trata-se de um texto exclusivamente dramático, uma vez que é composto de falas das personagens, além de comportar rubricas com marcações cênicas bastante nítidas.
c) trata-se de um texto exclusivamente lírico, uma vez que apresenta o discurso individual de Severino, que fala de si todo o tempo.
d) trata-se de um texto cuja classificação é de tragédia pura e simples.
e) trata-se de um texto cujo gênero é múltiplo, por não se prender exclusivamente a nenhum.

23. (UFPR) Tanto “MORTE E VIDA SEVERINA,” de João Cabral de Melo Neto, como “A MORATÓRIA”, de Jorge Andrade, são textos teatrais.
Sobre eles, é correto afirmar:
(01) MORTE E VIDA SEVERINA pertence a um tipo tradicional e popular de teatro, o auto, enquanto A MORATÓRIA não se filia a formas teatrais tradicionais.
(02) O fato de A MORATÓRIA ter sido escrita em versos torna esta obra formalmente próxima a MORTE E VIDA SEVERINA, embora Jorge Andrade utilize versos longos, ao invés das redondilhas utilizadas por João Cabral.
(04) Ambos os textos fazem referências a fenômenos sociais do Brasil moderno: a migração de massas empobrecidas para os grandes centros, no texto de João Cabral, e a decadência da elite rural, no de Jorge Andrade.
(08) O protagonista de A MORATÓRIA, embora paulista, assemelha-se a um coronel nordestino, o que o aproxima do protagonista de MORTE E VIDA SEVERINA.
(16) Os valores familiares são destacados nos dois textos, já que em A MORATÓRIA é a união da família que permite a Joaquim superar a perda da fazenda, enquanto em MORTE E VIDA SEVERINA é o nascimento de um novo filho que faz renascer as esperanças de Severino.
SOMA: 01 + 04 = 05

24. (UEMS)  Em Morte e Vida Severina, a obra mais popular da produção de João Cabral de

Melo Neto, o autor compõe um Auto de Natal Pernambucano. Considerando a leitura dessa obra, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).  

(01) Em Morte e Vida Severina, enfatizam-se a decadência histórica dos engenhos, substituídos pelas usinas, e a consequente expulsão dos trabalhadores da zona rural para a cidade.

(02) O adjetivo “severina”, que acompanha o itinerário de vida e morte do sertanejo, é resultado da coisificação do nome próprio Severino, passando a representar todos os retirantes que morrem “de velhice antes dos trinta, / de emboscada antes dos vinte, / de fome um pouco por dia.”.

(04) O clímax do drama de Severino é atingido quando o personagem, já sem esperanças, decide suicidar-se no rio Capibaribe. Há um aprofundamento desse clímax quando Severino dialoga com seu José, morador de um dos mocambos entre o cais e a água do rio, e o diálogo é interrompido por uma mulher que anuncia: “Compadre José, compadre, / que na relva estais deitado: / conversais e não sabeis / que vosso filho é chegado?”.

(08) A criança que nasce no mangue não é uma criança qualquer, ela levará uma existência diferente daquela vivida por seu pai, sem sofrimento, e que ultrapassará sua origem “severina”. Isto é o que afirma uma das ciganas: “trago papel de jornal / para lhe servir de cobertor; / cobrindo-se assim de letras / vai um dia ser doutor.”.

Dê, como resposta, a soma das alternativas corretas.

SOMA: 06

25. Com relação à obra Morte e vida severina, assinale a alternativa incorreta:

a) Quanto ao número de sílabas poéticas, o poeta deu preferência aos versos redondilhos maiores.

 b) Quanto à estrutura, a obra é formada por monólogos e diálogos, à maneira dos romanceiros medievais.

c) João Cabral optou por uma linguagem coloquial, já que os personagens são gente humilde e sem escolaridade.

d) João Cabral sofreu influência dos autos pastoris de Juan Del Encina, teatrólogo espanhol que sucedeu Gil Vicente.

e) O personagem Severino, ao se despersonalizar, passa a representar o coletivo, isto é, os sertanejos desvalidos.

26. (FEI-SP) Leia o texto com atenção e responda à questão.
— O meu nome é Severino
não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muito na freguesia,
por causa de um coronel
que se chamou Zacarias
e que foi o mais antigo
senhor desta sesmaria.
Como então dizer quem fala
ora a Vossas Senhorias?
Vejamos: é o Severino
da Maria do Zacarias,
lá da Serra da Costela,
limites da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
se ao menos mais cinco havia
com nome de Severino
filhos de tantas Marias
mulheres de outros tantos,
já finados, Zacarias,
vivendo na mesma serra
magra e ossuda em que eu vivia.
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida). (João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina)
É possível identificar nesse excerto características:
a) regionalistas, uma vez que há elementos do sertão brasileiro.
b) vanguardistas, pois o tratamento dispensado à linguagem é absolutamente original.
c) existencialistas, pois há a preocupação em revelar a sensação de vazio do homem do sertão.
d) naturalistas, porque identifica-se em Severino as características típicas do herói do século XIX.
e) surrealistas, já que existe uma apelação ao onírico e ao fantástico

27. (FUVEST) É correto afirmar que no poema dramático Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto:
a) A sucessão de frustrações vividas por Severino faz dele um exemplo típico de herói moderno, cuja 
tragicidade se expressa na rejeição à cultura a que pertence.
b) A cena inicial e a final dialogam de modo a indicar que, no retorno à terra de origem, o retirante estará munido das convicções religiosas que adquiriu com o mestre carpina.
c) O destino que as ciganas preveem para o recém-nascido é o mesmo que Severino já cumprira ao longo de sua vida, marcada pela seca, pela falta de trabalho e pela retirada.
d) O poeta buscou exprimir um aspecto da vida nordestina no estilo dos autos medievais, valendo-se da retórica e da moralidade religiosa que os caracterizam.
e) O “auto de natal” acaba por definir-se não exatamente num sentido religioso, mas enquanto reconhecimento da força afirmativa e renovadora que está na própria natureza.

28. (UNIOESTE) Em relação à peça Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, todas as afirmativas abaixo são válidas, EXCETO

a) O fato em Morte e Vida Severina que comprova o subtítulo “auto de Natal” do poema-peça é o nascimento de um menino. 

b) Em Morte e Vida Severina, João Cabral de Melo Neto apresenta uma atitude de resignação e conformismo ante as desgraças e desesperos dos muitos Severinos.
c) O êxodo do sertão em busca do litoral não é uma solução para o retirante, pois na cidade grande encontra sempre a mesma morte severina, como revelam os dois coveiros.
d) Na cidade grande, quando não encontra uma morte severina, tem que levar uma vida severina, vivendo no meio da lama, comendo os siris que apanha em mocambos infectos.
E) A problemática apresentada em Morte e Vida Severina é basicamente de caráter social e envolve a caótica e degradante situação do homem nordestino, vitimado pelas secas, pela fome e pela miséria.

29. (PUC-SP) Antes de sair de casa
aprendi a ladainha
das vilas que vou passar
na minha longa descida.
Sei que há muitas vilas grandes,
cidades que elas são ditas;
sei que há simples arruados,
sei que há vilas pequeninas,
todas formando um rosário
cujas contas fossem vilas,
todas formando um rosário
de que a estrada fosse a linha.
Devo rezar tal rosário
até o mar onde termina,
saltando de conta em conta,
passando de vila em vila.
Vejo agora: não é fácil
seguir essa ladainha;
entre uma conta e outra conta,
entre uma e outra ave-maria,
há certas paragens brancas,
de planta e bicho vazias,
vazias até de donos,
e onde o pé se descaminha.
Não desejo emaranhar
o fio de minha linha
nem que se enrede no pelo
hirsuto desta caatinga.

Pensei que seguindo o rio
eu jamais me perderia:
ele é o caminho mais certo,
de todos o melhor guia.
Mas como segui-lo agora
que interrompeu a descida?
Vejo que o Capibaribe,
como os rios lá de cima,
é tão pobre que nem sempre
pode cumprir sua sina
e no verão também corta,
com pernas que não
caminham.
Tenho de saber agora
qual a verdadeira via
entre essas que escancaradas
frente a mim se multiplicam.
Mas não vejo almas aqui,
nem almas mortas nem vivas;
ouço somente à distância
o que parece cantoria.
Será novena de santo,
será algum mês-de-maria;
quem sabe até se uma festa ou
uma dança não seria? (Melo Neto, J. Cabral de. MORTE E VIDA SEVERINA. R. Janeiro: Ed. Sabiá, 1967.)
Do trecho em questão, que integra o poema MORTE E VIDA SEVERINA, de João Cabral de Melo Neto, pode-se afirmar que
a) revela convicção religiosa, justificada pela presença das palavras ladainha, rosário, ave-maria.
b) utiliza a palavra rosário como metáfora para representar a sequência de lugares por onde o retirante deve passar em sua caminhada.
c) expressa-se em linguagem figurada, o que dificulta ao leitor o entendimento do texto.
d) indica que o retirante se perdeu no emaranhado dos caminhos porque abandonou deliberadamente o curso do rio, seu guia natural.
e) apresenta linguagem simples dominada pela objetividade da informação e desprovida de características poéticas.

30. (UFPE)

“— Severino retirante,

Deixe agora que lhe diga:

Eu não sei bem a resposta

Da pergunta que fazia

Se não vale mais saltar

Fora da ponte e da vida:

Nem conheço essa resposta,

Se quer mesmo que lhe diga;

Ainda mais quando ela é

Esta que vê, severina;

Mas se responder não pude

à pergunta que fazia,

Ela, a vida, a respondeu

Com sua presença viva.”

MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina.

Sobre o poema de João Cabral, assinale a alternativa incorreta.

a) Escrito em versos, é um auto de Natal nordestino e tem como personagem principal, Severino, um favelado recifense, que quer saltar “fora da ponte e da vida”.

b) Os versos transcritos representam a voz de outro personagem (seu José, o mestre Carpina), que dá a Severino alguma esperança.

c) “A vida a respondeu com sua presença viva” é alusão ao filho recém-nascido de seu José.

d) A expressão severina (formada por derivação imprópria) significa aqui, anônimo, igual aos demais, e realça a linguagem despojada do texto.

e) A poesia de Cabral é engajada com o seu meio, embora contida, chegando a demonstrar desprezo pela confissão sentimental.

31. (FUVEST)Em Vidas secas e em Morte e vida severina, os retirantes Fabiano e Severino

a) são quase desprovidos de expressão verbal, o que lhes dificulta a comunicação até mesmo com os mais próximos.

b) encontram na relação carinhosa com os filhos sua única fonte permanente de ternura em um meio hostil.

c) surgem como flagelados, que fogem das regiões secas, mas se decepcionam quando chegam ao Recife.

d) são homens rústicos e incultos, que não possuem habilidades técnicas ou ofícios que lhes permitam trabalhar.

e) aparecem como oprimidos tanto pelo meio agreste quanto pelas estruturas sociais.

32. (POLI) O trecho abaixo é um fragmento de Morte e vida severina, poema escrito por João Cabral de Melo Neto. O poema conta a história de Severino, um retirante que foge da seca, saindo dos confins da Paraíba para chegar ao litoral de Pernambuco (Recife). Lá, o retirante acredita que irá encontrar melhores condições de vida. Este excerto (trecho) conta o momento em que, no final de sua caminhada, Severino chega ao litoral. Mas, mesmo ali, encontra apenas sinais de morte, como quando estava no sertão. Completamente desacreditado, sugere a um morador da região que pretende o suicídio. Então, inicia com ele uma discussão. Acompanhe:

“- Seu José, mestre Carpina

Para cobrir corpo de homem

Não é preciso muita água.

Basta que chegue ao abdômen

Basta que tenha fundura igual a de sua fome.

 – Severino retirante,

 O mar de nossa conversa

Precisa ser combatido

Sempre, de qualquer maneira.

Porque senão ele alaga e destrói a terra inteira.

 – Seu José, mestre Carpina,

Em que nos faz diferença

Que como frieira se alastre,

Ou como rio na cheia

Se acabamos naufragados

num braço do mar da miséria?” (trecho tirado de teatro representado no Tuca)

O argumento central de Severino para defender sua intenção de suicidar-se é:

a) o de que o rio, tendo fundura suficiente, será o melhor meio, naquela situação, para conseguir seu intento.

b) o de que não é possível lutar com as mãos, já que as mãos não podem conter a água que se alastra.

c) o de que não é possível conter o mar daquela conversa, dada sua extensão e volume.

d) o de que a miséria, entendida como mar, irá naufragar mesmo a todos, independentemente do que se faça.

e) o de que abandonando as mãos para trás será mais fácil afogar-se, já que não poderá nadar

33. (UFSC) Em relação às obras Riacho Doce e Morte e vida severina, a seus respectivos autores e aos excertos abaixo, é CORRETO afirmar que:

Texto I

“O vento norte gelara o seu Nô, secara o verde de suas folhas. Estava seco, frio, duro, ao abandono , acabado para sempre. Não havia primavera ou sol de primavera que fizesse brotar outra vez o Nô da beira do mar, o que cantava e amava como um filho de Deus.” REGO, José Lins do. Riacho Doce.
15. ed. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2000, p. 319.

Texto II

“O meu nome é Severino,/Não tenho outro de pia./Como há muitos Severinos,/que é santo de romaria,/deram então de me chamar/Severino de Maria;/como há muitos Severinos/com mães chamadas Maria,/fiquei sendo o da Maria/do finado Zacarias.” MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina. 4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, p. 45.

01. Riacho Doce e Morte e vida severina são obras de caráter regionalista ambientadas no Nordeste, que abordam, entre outros aspectos, desigualdades sociais e econômicas.

02. O Texto 3 faz alusão a características marcantes de Nô, identificando-o, metaforicamente, com a natureza e ressaltando, comparativamente, a pureza de seu canto e de seu amor.

04. No Texto 3, as palavras verde e abandono estão funcionando como substantivos.

08. No trecho ‘O vento norte gelara o seu Nô, secara o verde de suas folhas’, as palavras sublinhadas podem ser substituídas por tinha gelado e tinha secado , respectivamente, sem alteração de seu valor temporal.

16. O nome ‘Severino’, no Texto 4, caracteriza o personagem narrador, que se identifica, em relação aos muitos Severinos, pela descrição definida encontrada nos versos ‘fiquei sendo o da Maria/do finado Zacarias’.

SOMA:  01+02+04+08+16 = 31

34. (FUVEST )

 Finado Severino,

quando passares em Jordão

e os demônios te atacarem

perguntando o que é que levas…

– Dize que levas somente

coisas de não:

fome, sede, privação

As “coisas de sim” estão , correspondentemente, em:

a) Vacuidade – repleção – carência.

b) Fartura – carência – vacuidade.

c) Repleção – carência – saciedade.

d) Satisfação – saciedade – fartura.

e) Vacuidade – fartura – repleção.

35. (IBMEC) Utilize o texto abaixo, fragmento de Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, para responder o teste.

O RETIRANTE EXPLICA AO LEITOR QUEM É E A QUE VAI

 — O meu nome é Severino,

não tenho outro de pia.

Como há muitos Severinos,

que é santo de romaria.

Deram então de me chamar

Severino de Maria;

como há muitos Severinos

com mães chamadas Maria,

fiquei sendo o da Maria

do finado Zacarias. 10

Mas isso ainda diz pouco:

há muitos na freguesia,

por causa de um coronel

que se chamou Zacarias

e que foi o mais antigo

senhor desta sesmaria.

Como então dizer quem fala

Ora a Vossas Senhorias?

Vejamos: é o Severino

da Maria do Zacarias,

lá da serra da Costela,

limites da Paraíba. (CAMPESTRINI, Hildebrando. Literatura Brasileira. São Paulo: FTD, 1989, p. 197-8)

Assinale a alternativa incorreta com relação ao texto de João Cabral de Melo Neto:

a) A expressão “pia”(segundo verso) refere-se à pia batismal e traz o sentido de que o personagem não tem outro nome de batismo.

b) A filiação paterna, a partir do nome Zacarias, não constitui ponto de referência para o personagem.

c) O personagem não foi batizado por ser santo de romaria e ter a paternidade desconhecida.

d) A expressão “senhor desta sesmaria” refere-se a posse de terras.

e) Fazendo uso do pronome de tratamento “Vossas Senhorias”, o personagem coloca o interlocutor numa posição hierarquicamente superior

36. (UEPG) “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto, é um auto de Natal pernambucano. Acerca dessa obra, assinale o que for correto.
01) Ela conta a história de Severino, homem do agreste que, em busca do litoral, defronta-se a cada parada com a morte.
02) Nela, João Cabral de Melo Neto pratica um lirismo confessional por intermédio de uma linguagem grandiloquente, característica bastante comum de sua poética.
04) O título aponta para os movimentos que sustentam sua linha narrativa: morte e vida.
08) Severino, personagem-protagonista, representa o retirante nordestino.
16) O autor procura mostrar como, apesar da suspeita de adultério, o amor consegue superar tudo.
SOMA:13

37. (PUCCAMP) A leitura integral de Morte e Vida Severina, de João Cabral de Melo Neto, permite a correta compreensão do título desse “auto de natal pernambucano”: 
a) Tal como nos Evangelhos, o nascimento do filho de Seu José anuncia um novo tempo, no qual a 
experiência do sacrifício representa a graça da vida eterna para tantos “severinos”.
b) Invertendo a ordem dos dois fatos capitais da vida humana, mostra-nos o poeta que, na condição 
“severina”, a morte é a única e verdadeira libertação.
c) O poeta dramatiza a trajetória de Severino, usando o seu nome como adjetivo para qualificar a 
sublimação religiosa que consola os migrantes nordestinos.
d) Severino, em sua migração, penitencia-se de suas faltas, e encontra o sentido da vida na confissão final que faz a Seu José, mestre capina.
e) O poema narra as muitas experiências da morte, testemunhadas pelo migrantes, mas culmina com a cena de um nascimento, signo resistente da vida nas mais ingratas condições.

38. (UFMG) Sobre o adjetivo severina, da expressão Morte e vida Severina que intitula a peça de João Cabral de Melo Neto, todas as alternativas estão certas, exceto:

a) Refere-se aos migrantes nordestinos que, revoltados, lutam contra o sistema latifundiário que oprime o camponês.

b) Pode ser sinônimo de vida árida, estéril, carente de bens materiais e de afetividade.

c) Designa a vida e a morte dos retirantes que a seca escorraça do sertão e o latifúndio escorraça da terra.

d) Qualifica a existência negada, a vida daqueles seres marginalizados determinada pela morte.

e) Dá nome à vida de homens anônimos, que se repetem física e espiritualmente, sem condições concretas de mudança.

39. (FUVEST)

“Decerto a gente daqui

jamais envelhece aos trinta

nem sabe da morte em vida,

vida em morte, severina” NETO, João Cabral de Melo. Morte e vida severina.

Neste excerto, a personagem do “retirante” exprime uma concepção da “morte e vida severina”, ideia central da obra, que aparece em seu próprio título. Tal como foi expressa no excerto, essa concepção só não encontra correspondência em:

a) “morre gente que nem vivia”.

b) “meu próprio enterro eu seguia”.

c) “o enterro espera na porta:

o morto ainda está com vida”.

d) “vêm é seguindo seu próprio enterro”.

e) “essa foi morte morrida

ou foi matada?”.

40. (UFBA)

“— O dia de hoje está difícil;

não sei onde vamos parar.

Deviam dar um aumento,

ao menos aos deste setor de cá.

As avenidas do centro são melhores,

mas são para os protegidos:

há sempre menos trabalho

e gorjetas pelo serviço;

e é mais numeroso o pessoal

(toma mais tempo enterrar os ricos).

………………………………………………..

— Mas não foi pelas gorjetas, não,

que vim pedir remoção:

é porque tem menos trabalho

que quero vir para Santo Amaro

aqui ao menos há mais gente

para atender a freguesia;

para botar a caixa cheia

dentro da caixa vazia.

— E que disse o Administrador,

se é que te deu ouvido?

………………………………………………..

— No de Casa Amarela me deixou

mas me mudou de arrabalde.

— E onde vais trabalhar agora,

qual o subúrbio que te cabe?

— Passo para o dos industriários,

que é também o dos ferroviários,

de todos os rodoviários

e praças-de-pré dos comerciários.

— Passa para o dos operários,

deixas o dos pobres vários;

melhor: não são tão contagiosos

e são muito menos numerosos.

— É, deixo o subúrbio dos indigentes

onde se enterra toda essa gente

que o rio afoga na preamar

e sufoca na baixa-mar.

………………………………………………..

— É a gente retirante

que vem do Sertão de longe.

………………………………………………..

— E da maneira em que está

não vão ter onde se enterrar.

………………………………………………..

— E esse povo lá de riba

de Pernambuco, da Paraíba,

que vem buscar no Recife

poder morrer de velhice,

encontra só, aqui chegando

cemitérios esperando.

— Não é viagem o que fazem,

vindo por essas caatingas, vargens;

aí está o seu erro:

vêm é seguindo o seu próprio enterro. “MELO NETO, João Cabral de. Morte e Vida Severina.

A leitura desses fragmentos e de todo o poema permite concluir:

(01) As falas dos coveiros são marcadas por um tom crítico, bem como por um realismo impiedoso, mas involuntário.

(02) O diálogo entre os dois personagens individualiza-os, distanciando-os do caráter simbólico de outros personagens da obra.

(04) O cemitério é o lugar em que o protagonista toma conhecimento da existência da morte hierarquizada.

(08) O encontro de Severino com a morte, tema recorrente em todo o poema, ilustra bem o descompasso entre o esperado e o acontecido.

(16) O personagem-símbolo — Severino — é mostrado, no desenrolar de toda a ação, sempre na condição de observador distanciado, ouvindo diálogos e solilóquios de outros personagens, exceto na fala inicial, quando ele se apresenta.

(32) Severino, ao chegar ao cemitério, descobre o verdadeiro sentido da morte, e sua vida toma um novo rumo: o retorno ao ponto de origem.

(64) O poema trabalha no sentido de valorizar positivamente a morte como o fim desejável para uma vida de desafios insuperados.

Dê, como resposta, a soma das alternativas corretas.  13

41. (UEL) A recorrência temática verificada nos textos e nas imagens destaca mazelas presentes no cenário social brasileiro. Sobre o tema, considere as afirmativas a seguir.

I. No poema Morte e Vida Severina, a descrição do biótipo próprio aos “Severinos” remete para uma outra forma de morte: a negação da existência pela privação das condições materiais, a morte Severina.

II. Na pintura “Os Retirantes”, Portinari aborda a miséria a partir de um foco diferenciado, que situa os indivíduos como sujeitos ativos de suas histórias.

III. Em Graciliano Ramos, o abraço dos esfarrapados revela a inquietação dos que ousam superar o pavor e temem retornar ao estado de prostração anterior.

IV. A fotografia de Sebastião Salgado contextualiza as mudanças observadas na paisagem nordestina, decisivas para conter o fluxo migratório.

Estão corretas apenas as afirmativas:

a) I e III.

b) I e IV.

c) II e III.

d) I, II e IV.

e) II, III e IV.

42. (UFPR) Assinale as alternativas corretas a respeito de “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto.
(01) Ao contrário de Jesus Cristo que, ao nascer, recebeu incenso, ouro e mirra, presentes valiosos, o filho de Severino recebe presentes insignificantes, destituídos de valor simbólico no contexto do poema.
(02) A conversa entre Severino e seu José, o mestre carpina, revela o otimismo ingênuo do segundo, pois ele tenta convencer o retirante de que a felicidade é um bem natural, independentemente das dificuldades, bastando estar vivo para ser feliz.
(04) “É tão belo como um sim/ numa sala negativa” são versos que, somados à cena final, permitem compreender o poema como uma afirmação da vida possível em meio a uma atmosfera desesperançada, preenchida por “coisas de não”.
(08) Duas ciganas visitam o recém-nascido e, embora uma delas preveja para a criança uma vida igual à que seus pais tiveram, e a outra enxergue uma mudança de destino, ambas anunciam um futuro cheio de dificuldades para o menino.
(16) No início do texto, Severino fracassa ao tentar individualizar-se em relação a outros Severinos; dessa maneira, estabelece-se o sentido da palavra “severina”, adjetivo criado a partir do nome próprio que designa a dificuldade da vida no Nordeste, partilhada por todos os pobres.
(32) Os momentos de alegria do retirante estão relacionados a sua esperança de que existam lugares onde a luta pela sobrevivência seja menos árdua do que no lugar de onde ele emigrou.
SOMA: 04 + 08 + 16 + 32 = 60

43. (UFRN) Os versos seguintes pertencem ao poema Morte e Vida Severina (1954), de João Cabral de Melo Neto.     

“– Todo o céu e a terra
lhe cantam louvor.
Foi por ele que a maré
esta noite não baixou.
– Foi por ele que a maré
fez parar o seu motor:
a lama ficou coberta
e o mau-cheiro não voou.
[…]
– E este rio de água cega,
ou baça, de comer terra,
que jamais espelha o céu,
hoje enfeitou-se de estrelas.”

MELO NETO, J.C. de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes.
4. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 73-74.

No contexto desse auto de Natal, os versos citados significam

a) A esperança que surge com o nascimento do filho do mestre carpina, após a trajetória frustrante do retirante em direção ao Recife.

b) A esperança que surge com o nascimento do filho de Severino, após a perda dos seus parentes no caminho do sertão para o litoral.

c) O louvor da natureza em homenagem à chegada do retirante à cidade grande, com previsão de um futuro promissor.

d) O louvor da natureza em homenagem à chegada do retirante, apesar da certeza de que a morte o espera no Recife.

44. (UFU) A respeito da questão do gênero em “Morte e vida severina”, podemos afirmar que:
a) apresenta o típico drama pastoril, com sentido religioso e sobrenatural de uma mensagem natalina, escrito em redondilhas e oitavas.
b) é um auto com influências de Gil Vicente, pois apresenta justaposição de cenas, temática social, personagens alegóricos e uso de redondilhas.
c) apresenta-se como um auto por incorporar elementos biográficos do autor e por desenvolver-se em uma única cena.
d) sendo um texto escrito exclusivamente para a apresentação teatral, não permite trechos narrativos ou líricos.

45. (FUVEST) É correto afirmar que, em Morte e Vida Severina:
a) O caráter de afirmação da vida, apesar de toda a miséria, comprova-se pela ausência da ideia de suicídio
b) A viagem do retirante, que atravessa ambientes menos e mais hostis, mostra-lhe que a miséria é a mesma, apesar dessas variações do meio físico
c) As falas finais do retirante, após o nascimento de seu filho, configuram o “momento afirmativo”, por  excelência, do poema
d) A visão do mar aberto, quando Severino finalmente chega ao Recife, representa para o retirante a  primeira afirmação da vida contra a morte
e) A alternância das falas de ricos e de pobres, em contraste, imprime à dinâmica geral do poema o ritmo  da luta de classes.

46. (UFRS) Assinale a alternativa INCORRETA em relação a “Morte e Vida Severina”.
a) Nesse auto de natal estão representadas tanto “coisas de não” – a fome, a sede, a morte – quando a religiosidade e os sentimentos de solidariedade humana.
b) O nascimento de uma criança, filho de José, mestre carpina, é motivo de celebração e de predições feitas por ciganas.
c) Trata-se de uma obra de caráter erudito em que até mesmo os aspectos regionais da morte são substituídos por reflexões de cunho universal.
d) A participação de muitas vozes representa a situação coletiva de privação, enfraquecimento e resistência.
e) O desejo do retirante de saltar fora da ponte e da vida contrasta com a chegada do recém-nascido, que intervém como uma mensagem de esperança.

47. (UFU) Em entrevista aos “Cadernos de Literatura Brasileira”, João Cabral de Melo Neto afirmou:
“Eu acho que a queda do comunismo deixou feridas na alma de alguns indivíduos (…) Quando o Muro de Berlim caiu, meu mundo ideológico veio abaixo.”
Sobre “Morte e vida Severina”, marque a afirmativa que NÃO expressa, de modo estrito, as crenças ideológicas do autor.
a) A linguagem poética de “Morte e vida Severina” se enriquece na medida em que valoriza a oralidade; vários elementos cruzam-se no texto: elementos das literaturas ibéricas, do folclore pernambucano, da tradição judaico-cristã.
b) Cabral toma a poesia como instrumento de conhecimento da realidade brasileira. Em “Morte e vida severina”, o autor não só dá voz ao oprimido, mas faz dele o principal elemento do texto.
c) Na segunda cena do auto, surgem os irmãos das almas que carregam um defunto também chamado Severino, o que aponta para o destino dos muitos severinos da realidade miserável nordestina.
d) Na quarta cena, os versos “Dize que levas somente/ coisas de não:/ fome, sede, privação” encerram profundas implicações humanas e políticas, pois trata-se daquilo que poderia ser garantido com ações capazes de diminuir a privação das populações rurais.

48. (UFRN) Mesmo sob perspectivas diversas, muitas produções literárias brasileiras dialogam com a tradição que particulariza os valores de culturas originadas fora dos grandes centros urbanos. Encontram-se registros dessa tradição nas seguintes obras:
a) “Várias Histórias” (Machado de Assis), “Auto da Compadecida” (Ariano Suassuna) e “Iracema” (José de Alencar).
b) “Auto da Compadecida” (Ariano Suassuna), “Morte e Vida Severina” (João Cabral de Melo Neto) e “Lendas Brasileiras” (Câmara Cascudo).
c) “Morte e Vida Severina” (João Cabral de Melo Neto), “Iracema” (José de Alencar) e “Memórias de um Sargento de Milícias” (Manuel Antônio de Almeida).
d) “Memórias de um Sargento de Milícias” (Manuel Antônio de Almeida), “Lendas Brasileiras” (Câmara Cascudo) e “Várias Histórias” (Machado de Assis).

49. (F. PEQUENO  PRÍNCIPE) Leia com atenção o seguinte trecho de Morte e vida Severina, de João Cabral de Melo Neto. […] desde já posso ver na vida desse menino acabado de nascer: aprenderá a engatinhar por aí, com aratus, aprenderá a caminhar na lama, com goiamuns, e a correr o ensinarão os anfíbios caranguejos, pelo que será anfíbio como a gente daqui mesmo. MELO NETO, João Cabral de. Morte e vida severina e outros poemas para vozes. 4.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000, p. 76.

A partir desse excerto, e com base na totalidade de obra, assinale a alternativa CORRETA.

a) Depois de chegar ao Recife, Severino consulta uma mãe de santo sobre o futuro de seu filho: aqui está a resposta dela.

b) Essa passagem é a profecia que um beato faz ao retirante no seu caminho rumo ao Recife; depois se descobrirá que se trata de uma falsa profecia, pois Severino trabalhará como operário numa fábrica.

c) Aqui se trata da predição da primeira cigana, após o nascimento do filho de Seu José, mestre carpina.

d) Depois de batizado o pequeno Severino, seus pais ouvem esse augúrio da parte de uma das rezadeiras que se aproximara debaixo de um véu negro.

e) Essas são palavras da segunda cigana, prevendo para a criança recém-nascida uma vida de agruras numa vila operária.

50. (PUC-PR) Trecho do poema “Morte e vida severina”, de João Cabral de Melo Neto:
“O que me fez retirar
não foi a grande cobiça;
o que apenas busquei
foi defender minha vida
da tal velhice que chega
antes de se inteirar trinta;
se na serra vivi vinte,
se alcancei lá tal medida,
o que pensei retirando,
foi estendê-la um pouco ainda.
Mas não senti diferença
entre o Agreste e a Caatinga,
e entre a Caatinga e aqui a Mata
a diferença é a mais mínima.
Está apenas em que a terra
é por aqui mais macia;
está apenas no pavio,
ou melhor na lamparina:
pois é igual o querosene
que em toda parte ilumina,
e quer nesta terra gorda
quer na serra de caliça,
a vida arde sempre com
a mesma chama mortiça.”
Aponte a alternativa que contém os versos que expressam a síntese da ideia principal do poema “Morte e vida severina”:
a) “O que me fez retirar não foi a grande cobiça;”
b) “entre o Agreste e a Caatinga, e entre a Caatinga e aqui a Mata;”
c) “Está apenas em que a terra é por aqui mais macia;”
d) “e quer nesta terra gorda quer na serra de caliça;”
e) “a vida arde sempre com a mesma chama mortiça.”

51. (CEFET) Assinale a alternativa INCORRETA sobre “Morte e Vida Severina”:

a) Apesar das dificuldades que se anunciam para o filho do Seu José, a perspectiva do final do poema é positiva em relação à vida.

b) Existe no poema um grande contraste causado pelo nascimento do filho do Seu José em relação à figura da morte, presente em toda a obra.

c) O adjetivo Severina, do título, tanto se refere ao nome do personagem central como às condições severas em que ele, como tantos outros, vive.

d) A indicação auto de natal não se refere somente ao sentido de religiosidade, mas também à aceitação do poder de renovação que existe na própria natureza.

e) Como em muitas outras obras de tendência regionalista, o tema central do poema é a seca nordestina e a miséria por ela criada.

52. (UEL-PR) No poema Morte e vida severina, podem-se reconhecer as seguintes características da poesia de João Cabral de Melo Neto:

a) sátira aos coronéis do Nordeste e versos inflamados.

b) experimentalismo concretista e temática urbana.

c) memorialismo nostálgico e estilo oral.

d) personagens da seca e linguagem disciplinada.

e) descrição da paisagem e intenso subjetivismo.


53. (UFOP) A respeito de Morte e vida severina, de João Cabral de Melo Neto, é incorreto dizer que:

a) a mudança de categoria gramatical (substantivo / adjetivo) do nome Severino / Severina corresponde certamente a uma mudança na categoria social do protagonista.
b) Morte e vida severina poderia intitular-se Vida e morte severina pelo desenvolvimento da narrativa.
c) o texto adquire dimensões universais, por ampliar significativamente o drama dos desvalidos, apesar de apresentar um tema eminentemente regional.
d) uma sensível diferença existe no ritmo da narrativa: o da viagem, lento e arrastado, correspondendo à morte, e o do auto natalino, mais leve e ágil, correspondendo à vida.
e) as formas discursivas presentes no texto são diversas, notadamente os monólogos, diálogos, lamentos e elogios.

54. (FUVEST)

Só os roçados da morte

compensam aqui cultivar,

e cultivá-los é fácil:

simples questão de plantar;

não se precisa de limpa,

de adubar nem de regar;

as estiagens e as pragas

fazem-nos mais prosperar;

e dão lucro imediato;

nem é preciso esperar

pela colheita: recebe-se

na hora mesma de semear. (João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina)

Nos versos acima, a personagem da “rezadora” fala das vantagens de sua profissão e de outras semelhantes. A sequência de imagens neles presente tem como pressuposto imediato a ideia de:

a) sepultamento dos mortos.

b) dificuldade de plantio na seca.

c) escassez de mão-de-obra no sertão.

d) necessidade de melhores contratos de trabalho.

e) técnicas agrícolas adequadas ao sertão.

55. (PUC-SP) Esta questão refere-se às obras AUTO DA BARCA DO INFERNO, de Gil Vicente, e MORTE E VIDA SEVERINA (auto de natal pernambucano), de João Cabral de Melo Neto.
Leia as alternativas a seguir e assinale a correta.
a) As duas obras apresentam uma critica à sociedade de suas épocas: a de Gil Vicente, a partir das almas que representam classes sociais e profissionais de Portugal, a de João Cabral, a partir de personagens representativas de tipos sociais do Nordeste.
b) As duas obras apresentam construções poéticas diametralmente opostas, uma vez que uma emprega o verso decassílabo e a outra, a redondilha.
c) As duas obras apresentam aspectos em comum, como o julgamento e a condenação, isto é, em ambas, as personagens são julgadas e condenadas após a morte.
d) As duas obras apresentam o julgamento ocorrendo na consciência de cada personagem. Entretanto, a execução da justiça, em AUTO DA BARCA DO INFERNO, é somente realizada pelo Diabo, e, em MORTE E VIDA SEVERINA, pela miserabilidade da vida.
e) As duas obras apresentam estrutura de auto; assimilam, portanto, tradições populares e constroem a realidade por meio da crítica. Como autos, são representações teatrais que contêm vários atos.

56. (UEL) “Os rios que correm aqui
têm a água vitalícia.
Cacimbas por todo lado;
Cavando o chão, água mina.
Vejo agora que é verdade
O que pensei ser mentira
Quem sabe se nesta terra

Não plantarei minha sina?
Não tenho medo de terra
(cavei pedra toda a vida),
e para quem buscou a braço
contra a piçarra da Caatinga
será fácil amansar
esta aqui, tão feminina”
(MELO NETO, João Cabral de. “Morte e vida Severina e outros poemas para vozes”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1994. p. 41.)
piçarra: material semi decomposto da mistura de fragmentos de rocha, areia e concreções ferruginosas.
Em relação ao trecho acima, de “Morte e Vida Severina”, considere as afirmativas.
I. Esses versos referem-se ao momento em que Severino chega à zona da mata e encontra a terra mais macia. Isso nos é revelado num estilo suave e melodioso, em que a sonoridade das palavras expressa o entusiasmo do retirante.
II. “Rios”, “cacimbas”, “água vitalícia” e “água mina” são expressões que remetem a um pensamento positivo sobre a região por onde passa o retirante Severino. Isso mostra a sua alegria por ter encontrado um lugar onde ele viverá com toda a sua família até a morte.
III. Nesse trecho Severino encontra o que procura: água e, consequentemente, vida. Isso está retratado nos versos “Não tenho medo de terra/ (cavei pedra toda a vida)”.
IV. A expressão “tão feminina” do último verso é uma metáfora de terra macia, fácil de trabalhar, e se opõe à expressão “piçarra da Caatinga”, que significa terra dura, pedregosa.
V. Os versos “Os rios que correm aqui/ têm a água vitalícia” significam que os rios nunca morrem. Essa constatação refere-se à região da Caatinga, onde Severino vive sua saga.
Assinale a alternativa correta.
a) Apenas as afirmativas I, III e V são corretas.
b) Apenas as afirmativas I e IV são corretas.
c) Apenas as afirmativas I, II e V são corretas.
d) Apenas as afirmativas I, II e IV são corretas.
e) Apenas as afirmativas IV e V são corretas.

57. (UFPE)
Essa cova em que estás,

Com palmos medida,

É a conta menor

Que tiraste em vida.

É de bom tamanho,

Nem largo nem fundo,

É a parte que te cabe

Deste latifúndio.

Não é cova grande,

É cova medida,

é a terra que querias

ver dividida.

É uma cova grande

para teu pouco defunto,

mas estarás mais ancho

que estavas no mundo.

É uma cova grande

para teu defunto parco,

porém mais que no mundo

te sentirás largo.

É uma cova grande

para tua carne pouca,

mas à terra dada

não se abre a boca. […]

(João Cabral de Melo Neto. Morte e vida severina. Fragmento.)

Somem canivetes

Fica proibido o canivete

em aula, no recreio, em qualquer parte

pois em um país civilizado

entre estudantes civilizadíssimos,

a nata do Brasil,

o canivete é mesmo indesculpável.

Recolham-se, pois, os canivetes

sob a guarda do irmão da Portaria.

Fica permitido o canivete

nos passeios à chácara

para cortar cipó

descascar laranja

e outros fins de rural necessidade.

Restituam-se, pois, os canivetes

a seus proprietários

com obrigação de serem recolhidos

na volta do passeio, e tenho dito.

Só que na volta do passeio

verificou-se com surpresa:

no matinho ralo da chácara

todos os canivetes tinham sumido.

(Carlos Drummond de Andrade)

A partir da análise da temática dos dois poemas acima, avalie as proposições abaixo.

0-0) O poema de João Cabral é uma peça literária emblemática da luta que tem sido travada em relação às desigualdades sociais advindas da má distribuição na posse da terra.

1-1) Em Somem canivetes, Drummond, com fina ironia, admite que o uso do canivete é ‘indesculpável’, pois se trata de um país, “civilizado” e de estudantes, “civilizadíssimos”, “a nata do Brasil”.

2-2) No verso: “é uma cova grande para tua carne pouca”, a antítese reformula um conhecido provérbio popular.

3-3) João Cabral inspira-se nos padrões da poesia clássica. Drummond, ao contrário, reflete as pretensões estéticas da vanguarda modernista.

4-4) No poema de João Cabral, o suposto interlocutor é evocado explicitamente: as desinências verbais são indícios disso. Em Drummond, prevalece um discurso normativo: daí o predomínio do uso do imperativo.

RESPOSTA: VVFFV

(UFU) Morte e vida severina e O santo e a porca foram concebidas como peças de teatro, ou seja, foram projetadas para interpretação no palco. Considerando-se tal especificidade e seus enredos,

assinale a alternativa que apresenta características comuns às obras.

a) Estrutura do texto dramático; humor como recurso prevalente; crítica social.

b) Retrato do sertão nordestino; divisão em três atos; presença de rubricas.

c) Estrutura do texto dramático; retrato do sertão nordestino; presença de rubricas.

d) Humor como recurso prevalente; escrita em versos; crítica social.

58. (UNITAU) Nesse poeta se reconhece grande apuro formal; é o autor de “A Educação pela Pedra”, “Uma Faca só Lâmina”, “Morte e Vida Severina”. É seu o poema “Tecendo a Manhã”:
“Um galo sozinho não tece uma manhã: / ele precisará sempre de outros galos. / De um que apanhe esse grito que ele / e o lance a outro; de um outro galo / que apanhe o grito que um galo antes /e o lance a outro; e de outros galos/ que com muitos outros galos se cruzem /os fios de sol de seus gritos de galo, / para que a manhã, desde uma tênue teia tênue, / se vá tecendo, entre todos os galos (…)”
Trata-se de:
a) Vinícius de Moraes.
b) João Cabral de Melo Neto.
c) Cassiano Ricardo.
d) Augusto dos Anjos.
e) Guilherme de Almeida.

60. (ENEM)

Morte e vida Severina

Somos muitos Severinos

iguais em tudo na vida:

na mesma cabeça grande

que a custo é que se equilibra,

 no mesmo ventre crescido

sobre as mesmas pernas finas,

e iguais também porque o sangue

 que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos

iguais em tudo na vida,

morremos de morte igual,

mesma morte Severina:

que é a morte de que se morre

de velhice antes dos trinta

de emboscada antes dos vinte,

de fome um pouco por dia. MELO NETO, J. C. Obra completa. Rio Janeiro: Nova Aguilar, 1994 (fragmento). Nesse fragmento, parte de um auto de Natal, o poeta retrata uma situação marcada pela

a) presença da morte, que universaliza os sofrimentos dos nordestinos.

b) figura do homem agreste, que encara ternamente sua condição de pobreza.

c) descrição sentimentalista de Severino, que divaga sobre questões existenciais.

d) miséria, à qual muitos nordestinos estão expostos, simbolizada na figura de Severino.

e) opressão socioeconômica a que todo ser humano se encontra submetido.

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

1. (UNICAMP) O capítulo XII de RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA, de Lima Barreto, fala de um motim desencadeado pelo jornal “O Globo”:
“Exagerava-se, mentia-se, para se exaltar a população. Em tal lugar, a polícia foi repelida, em tal outro, recusou-se a atirar sobre o povo. Eu não fui para casa, dormi pelos cantos da redação e assisti à tiragem do jornal: tinha aumentado cinco mil exemplares.
a) Que motim era esse?

b) Relacione o motim com o seguinte trecho: “Era a Imprensa, a Onipotente Imprensa, o quarto poder fora da Constituição”.

c) O narrador, no trecho dado, não começou ainda sua escalada social, que se dará quando um acaso o leva a tornar-se considerado por Loberant. Que acaso foi esse?

RESPOSTAS:

a)Um motim popular contra um projeto de obrigatoriedade do uso de calçados e pelo medo de que os pés grandes seriam operados.
b) A imprensa insuflou o motim em suas páginas.
c) Ter flagrado Loberant numa orgia.

2. (UFF) TEXTO I

Eu estava deitado num velho sofá amplo. Lá fora, a chuva caía com redobrado rigor e ventava fortemente. A nossa casa frágil parecia que, de um momento para outro, ia ser arrasada. Minha mãe ia e vinha de um quarto próximo; removia baús, arcas; cosia, futicava. Eu devaneava e ia-lhe vendo o perfil esquálido, o corpo magro, premido de trabalhos, as faces cavadas com os malares salientes, tendo pela pele parda manchas escuras, como se fossem de fumaça entranhada. De quando em quando, ela lançava-me os seus olhos aveludados, redondos, passivamente bons, onde havia raias de temor ao encarar-me. Supus que adivinhava os perigos que eu tinha de passar; sofrimentos e dores que a educação e inteligência, qualidades a mais na minha frágil consistência social, haviam de atrair fatalmente. Não sei que de raro, excepcional e delicado, e ao mesmo tempo perigoso, ela via em mim, para me deitar aqueles olhares de amor e espanto, de piedade e orgulho. LIMA BARRETO. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Rio de Janeiro; Belo Horizonte: Livraria Garnier, 1989. p.26-27.

TEXTO II

TEIA de aranha, galho seco da roseira,

quem sou?

Luz calçada em alpargatas de prata

rapta as flores da fronha,

quem sou?

Pássaro que mora na neblina

destila seu canto de água limpa

– longe, sozinho –

me diga quem sou. ROQUETTE-PINTO, Claudia. Corola. São Paulo: Ateliê Editorial, 2000. p. 67.

a)Identifique, no discurso confessional do narrador do texto I, aspectos que apontam para a contundente crítica social que se tornou marca da ficção pré-modernista de Lima Barreto.

b) O trecho do romance de Lima Barreto (Texto I) e o poema de Cláudia Roquette-Pinto (Texto II) têm em comum reflexões sobre a identidade, desenvolvidas por meio de indagações e dúvidas. Transcreva, de cada texto, um período que exemplifique esse modo de tematizar a questão da identidade.

RESPOSTAS:

a)A crítica social se faz presente na descrição da casa frágil, no aspecto físico da mãe, magra e esquálida, por conta do pesado trabalho, e na referência ao descompasso entre a educação e inteligência do narrador e sua condição social.

b) No texto I, “Não sei que de raro, excepcional e delicado, e ao mesmo tempo perigoso, ela via em mim, para me deitar aqueles olhares de amor e espanto, de piedade e orgulho.”

Ou: “Supus que adivinhava os perigos que eu tinha de passar; sofrimentos e dores que a educação e inteligência, qualidades a mais na minha frágil consistência social, haviam de atrair fatalmente.”

No texto II: “TEIA de aranha, galho seco da roseira,/quem sou?”

Ou: “Luz calçada em alpargatas de prata/rapta as flores da fronha,/quem sou?”

Ou: “Pássaro que mora na neblina/destila seu canto de água limpa/- longe, sozinho –/me diga quem sou.”

3. A abertura do livro é feita por Isaías que se lembra da educação que recebeu na infância e já claramente estabelece uma distinção entre a relação com o pai – padre instruído e sua mãe, leiga. De que maneira se percebe no livro a influência do pai como maior que a mãe?

RESPOSTA:

Isaias escolhe estudar e doutorar-se, inclusive como forma de livrar-se de sua condição racial – azeitonado. Aliado a isso, em suas memórias, lembra-se sempre a da superioridade do pai sobre a mãe que lhe aparecia triste e humilde diante da capacidade do pai de dizer os nomes das estrelas do céu e explicar a natureza da chuva.

4. Leia o trecho:

Passava por um largo descampado e olhei o céu. Pardas nuvens cinzentas galopavam, e, ao longe, uma pequena mancha mais escura parecia correr engastada nelas. A mancha aproximava-se e, pouco a pouco, via-a subdividir-se, multiplicar-se; por fim, um bando de patos negros passou por sobre a minha cabeça, bifurcado em dois ramos, divergentes de um pato que voava na frente, a formar um V. Era a inicial de “Vai”. Tomei isso como sinal animador, como bom augúrio do meu propósito audacioso. No domingo, de manhã, disse de um só jato à minha mãe:

— Amanhã, mamãe, vou para o Rio.

Com base no trecho acima comente sobre a visão de Isaías, aliado a circunstância em que tal visão acontece e a realidade encontrada no Rio de Janeiro.

RESPOSTA:

Ao concluir os estudos Isaías, com uma boa reputação de estudante, ainda esperou pelo menos dois anos para ir ao Rio de Janeiro. A maior parte do tempo vivia pela manhã decidido a ir a cidade grande e a tarde a pensar nas dificuldades da cidade com seus egoísmo e sua falta de protetores para vencer nela. Ao ler uma notícia no jornal sobre seu colega Felício que recebia o elogio pela formação em farmácia pensou que se seu amigo tão burro a quem deu aula de português tinha conseguido, porque ele não.  Pouco depois viu os pássaros no trecho acima e tomou isso com um sinal de que deveria partir.

Diferente de Felício não se formou no Rio, apenas transformou-se em jornalista, não por mérito, mas por depois de muito tempo trabalhando como auxiliar ter descoberto um segredo do chefe do jornal. E, antes da condição de trabalhar no Globo enfrentou a fome, o preconceito racial e  a solidão na grande cidade do Rio.

5. “O trem parara e eu abstinha-me de saltar. Uma vez, porém, o fiz; não sei mesmo em que estação. Tive fome e dirigi-me ao pequeno balcão onde havia café e bolos. Encontravam-se lá muitos passageiros. Servi-me e dei uma pequena nota a pagar. Como se demorassem em trazer-me o troco reclamei: “Oh! fez o caixeiro indignado e em tom desabrido. Que pressa tem você?! Aqui não se rouba, fique sabendo!” Ao mesmo tempo, a meu lado, um rapazola alourado reclamava o dele, que lhe foi prazenteiramente entregue. O contraste feriu-me, e com os olhares que os presentes me lançaram, mais cresceu a minha indignação. … Mesmo de rosto, se bem que os meus traços não fossem extraordinariamente regulares, eu não era hediondo nem repugnante. Tinha-o perfeitamente oval, e a tez de cor pronunciadamente azeitonada”.

Trecho em que o autor deixa claro a questão racial.

Machado de Assis em suas obras e também em Papéis Avulsos ressalta a questão do título como importante na sociedade. Explique  como tal questão aparece nas  obras de Machado e de Lima Barreto respectivamente.

RESPOSTA:

Em Memórias Póstumas Machado propõe  a ideia de Brás de tornar-se doutor para apenas aprender o esqueleto do código, deixando antever a busca do título  não pelo conhecimento, mas pelo reconhecimento social que esse porventura vem a oferecer. No conto Machadiano em Papéis Avulsos o pai chega a aconselhar o filho para que esse busque parecer, mais do que ser sábio. Não é diferente de Isaias Caminha: seu desejo de ser doutor revela seu anseio de ser esquecido pela condição racial e social. Afirma inclusive que a palavra doutor na sociedade era mágica (As pessoas, de fato, respeitavam). Quando se fez jornalista aprendeu a servir-se de outros jornais, a calcar seus artigos no que todo mundo dizia, não ter opinião divergente e assimilou de outros jornalistas o hábito de aprender ciências como Finanças e Economia Política lendo as notícias superficiais do jornal e citações de autores Célebres. Ao comportar-se assim age tal qual as recomendações do pai ao seu filho quando alcançou a maioridade em A Teoria do Medalhão.

6. “Escrevendo estas linhas, com que saudades me não recordo desse heroico anseio dos meus dezoito anos esmagados e pisados! Hoje… É noite.

Descanso a pena. No interior da casa, minha mulher acalenta meu filho único. A sua cantiga chega-me aos ouvidos cheia de um grande acento de resignação. Levanto-me, vou à varanda. A lua, no crescente, banha-me com meiguice, a mim e a minha humilde casa roceira. Por momentos deixo -me ficar sem pensamentos, envolto na fria luz da lua, e embalado pela ingênua cantilena de minha mulher. Correm alguns instantes; ela cessa de cantar e o brilho do luar é empanado por uma nuvem passageira. Volto às minhas reminiscências: vejo o bonde, a gente que o enchia, os sofrimentos que me agitavam, a rua transitada…

Os meus desejos de vingança fazem-me agora sorrir e não sei por que, do fundo da minha memória, com essas recordações todas, chega-me também a imagem de uma pesada carroça, com um grande lajedo suspenso por fortes correntes de ferro, vagarosamente arrastada sobre o calçamento de granito, por uma junta de bois enormes, que o carreteiro fazia andar com gritos e ferroadas desapiedadas…”

A partir do trecho acima e considerando a totalidade da obra comente sobre as características do narrador nessa obra.

RESPOSTA:

Ao afirmar que seus sonhos de dezoito anos estão esmagados e pisados o autor remete-se ao menino estudioso do interior que sonhava em fazer-se doutor no Rio de Janeiro. Em seguida ao utilizar o termo “ é Noite” revela ao leitor que não conseguiu, fruto de um comodismo como um auxiliar no jornal o Globo e um jornalista, não por mérito.

7. Quando Isaías vai procurar o deputado Castro na câmara o narrador revela a admiração que esse tem pelos legisladores em seguida mostra a grande decepção que terá depois da visita a que se deve sua decepção?

RESPOSTA:

No seu imaginário Isaías pensava numa câmera de deputados associando-a aos grandes reis Assírios e aos filósofos Gregos. Sua decepção foi perceber que os legisladores da pátria eram sem organização e grandes causas.  Estranhou inclusive que em tal lugar de arquibancada grosseira e tanto barulho  se produzisse leis. Não foi diferente sua decepção com o deputado Castro – tinha uma carta do coronel pedindo emprego para ele. Não o encontrou na câmera, nem em casa, só na casa de sua amantes.

8. Sobre ele mesmo e sua personalidade ele vai propondo ao  leitor:

“O caminho na vida parecia-me fechado completamente, por mãos mais fortes que as dos homens. Não eram eles que não me queriam deixar passar, era o meu sangue covarde, era a minha doçura, eram os defeitos de meu caráter que não sabiam abrir um. Eu mesmo amontoava obstáculos à minha carreira; não eram eles…

Não seria tolice, pusilanimidade escondida fazer repousar a minha felicidade na presteza com que um qualquer deputado atendesse um pedido de emprego? Era possível tê-los sempre à mão para os dar ao primeiro que aparecesse?

As condições de minha felicidade não deviam repousar senão em mim mesmo — conclui… Mas não era só isso que eu via. O que me fazia combalido, o que me desanimava eram as malhas de desdém, de escárnio, de condenação em que me sentia preso.”

A partir do trecho acima trace a personalidade de Isaías Caminha:

A personagem narradora associa a ideia de seu fracasso na vida ao elemento do destino, proposto com a ideia de que possuía um sangue covarde e um caráter defeituoso. Seu caráter fica bem visível quando aceita viver “a vidinha” no jornal em detrimento de sua ambição: estudar e virar doutor. Também reflete que o sonho de chegar no Rio e encontrar um emprego dado por um deputado e uma vida sem dificuldades parece, com os olhos do presente, um sonho tolo e que a sua felicidade ou a vida no Rio deveria provir dele mesmo. De seu esforço.

 9. Um tema importante no livro, senão o mais importante é o tema do jornalismo. Como ele é produzido, a mediocridade que o cerca, o poder da mídia sobre a sociedade, a defesa de interesses pessoais. Segue em seguida algumas das importantes reflexões que o livro  faz a esse  respeito:

“Pagou sim, apressou-se em responder Plínio de Andrade; mas um dos empregados da livraria disse-lhe insolentemente: Você paga este sobre a Grécia, que queria levar agora e também o romance francês que levou anteontem… A Imprensa! Que quadrilha! Fiquem vocês sabendo que, se o Barba-Roxa ressuscitasse, agora com os nossos velozes cruzadores e formidáveis couraçados, só poderia dar plena expansão à sua atividade se se fizesse jornalista. Nada há tão parecido como o pirata antigo e o jornalista moderno: a mesma fraqueza de meios, servida por uma coragem de salteador; conhecimentos elementares do instrumento de que lançam mão e um olhar seguro, uma adivinhação, um faro para achar a presa e uma insensibilidade, uma ausência de senso moral a toda a prova… E assim dominam tudo, aterram, fazem que todas as manifestações de nossa vida coletiva dependam do assentimento e da sua aprovação… Todos nós temos que nos submeter a eles, adulá-los, chamá-los gênios, embora intimamente os sintamos ignorantes, parvos, imorais e bestas… Só se é geômetra com o seu placet, só se é calista com a sua confirmação e se o sol nasce é porque eles afirmam tal coisa… E como eles aproveitam esse poder que lhes dá a fatal estupidez das multidões! Fazem de imbecis gênios, de gênios imbecis; trabalham para a seleção das mediocridades, de modo que…”

—Oh! Caminha! Onde tens andado? Que tens, rapaz?

Era Gregoróvitch Rostóloff. Falei, contei-lhe a vida. Os seus olhos de conta mais se arredondaram de desconfiança; mas, depois de duas ou três perguntas, de examinar-se o vestuário e algumas palavras de consolo, ao despedir-se, assim me convidou:

—Aparece-me logo, à noitinha, na redação do O Globo.

Qual a importância dessa cena  para a  vida de  Isaías  Caminha?

RESPOSTA:

Isaías Caminha acreditou que sua chegada ao Rio fosse garantir-lhe uma vida melhor do que a que tinha no interior. No curto período, porém, ele não conseguiu o emprego que supostamente teria do deputado como garantia do coronel do interior que utilizou inclusive meios ilícitos para elegê-lo; a família enfrenta as doenças da mãe que impede de enviar mais ajuda financeira; é acusado de roubo no hotel por causa da sua cor e chega mesmo a passar fome. Quando recebe o convite do jornalista tem também a oportunidade de ser contínuo do jornal. E assim, condições de viver no Rio de Janeiro – não na vida que imaginava.

A  construção de  um herói

O homem que acaba de morrer não era um homem vulgar. No domínio de sua difícil arte, era uma notabilidade respeitada. Para nós, era muito mais: era um amigo, um dedicado e leal amigo a quem muito devíamos e prezávamos. Todos os que mourejam nesta tenda de trabalho, certamente não hão de esquecê-lo e não há nenhum que não tenha recebido um favor, uma alegria, uma satisfação de suas mãos.

O público que nos lê, não sabe o quanto esta vida de jornalista é esgotante e ingrata; não sabe que soma de energia ela exige e como nos tira os melhores momentos de ócio e os melhores minutos de prazer. Vivemos por assim dizer para os outros; e quem vive para os outros, é claro que muito pouco pode viver para si.

Charles de Foustangel atravessava a nossa vida como um anjo protetor; dele, tirávamos alguns raros instantes de alegria no meio das agruras que nos cercam. Era de ver como ele sabia desenvolver um menu, como imaginava um ‘quitute’ inédito, um prato saboroso, que verve especial punha nos nomes com que os batizava e que raros gozos eles traziam aos nossos paladares fatigados por esses hotéis detestáveis que nos impingem solas duríssimas por bifes de grelha. Quantas ocasiões não fomos nós de mau humor para a mesa de jantar, enervados, sem vontade de trabalhar, com a encomenda do artigo, da reportagem, da crônica para o dia seguinte e sem coragem para fazê-los, e nos levantávamos, graças à brandura do seu tempero e a eurritmia dos seus molhos, satisfeitos, solertes, cheios de novas energias!

……

Todos os jornais se referiram ao inditoso Charles de Foustangel e alguns abriram subscrições para socorrer a família do cozinheiro. Fora do convívio jornalístico, as manifestações de pesar não foram menores: o Centro dos Estudantes passou um telegrama de pêsames ao presidente da República Francesa e ao cortejo do enterro concorreram mais de cinquenta carros, levando perto de uma centena de pessoas, entre as quais altas patentes do Exército e Marinha, diretores de repartições, homens da bolsa, literatos aclamados, revolucionários temidos e um capitão do Estado Maior, representando o presidente da República.

…………………………

Seguiam-se-lhe as caleças, as vitórias e coupés, transportando a alta administração, civil e militar, as finanças, as letras e a revolução profissional, em tocante homenagem ao grande homem que era o cozinheiro do doutor Ricardo Loberant, diretor-proprietário d’O Globo.

10. Qual é o juízo crítico que se pode estabelecer do texto acima?

RESPOSTA:

O trecho, mas, sobretudo, o livro passa a limpo o cotidiano num jornal fazendo reflexões sobre a produção da notícia, o poder da mídia e as construções alienantes que essa propõe. Essa é tida como um quarto poder que subjuga políticos e homens importantes a um jornalista. A trecho em destaque possui uma crítica sutil à construção de um herói póstumo. O tal homem não passava de um cozinheiro do diretor do jornal que assume notoriedade post-mortem depois de uma nota no Jornal O Globo que leva a produção em cadeia de condolências ao cozinheiro – visto agora como herói. Não é incomum casos de construções de noticias em cadeia como o Caso Bruno, Menino Hélio ou outros que a mídia explora e demoniza ou exalta.

Leia as passagens abaixo, extraídas, respectivamente, do primeiro e do último capítulo do romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto:
Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplício premente, cruciante e onímodo de minha cor… Nas dobras do pergaminho da carta, traria presa a consideração de toda a gente. Seguro do respeito à minha majestade de homem, andaria com ela mais firme pela vida em fora. Não titubearia, não hesitaria, livremente poderia falar, dizer bem alto os pensamentos que se estorciam no meu cérebro.

Desesperava-me o mau emprego dos meus dias, a minha passividade, o abandono dos grandes ideais que alimentara. Não; eu não tinha sabido arrancar da minha natureza o grande homem que desejara ser; abatera-me diante da sociedade; não soubera revelar-me com força, com vontade e grandeza… Sentia bem a desproporção entre o meu destino e os meus primeiros desejos; mas ia. (BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 2008. p.26; 163.)

11. Explique a que se deve a desproporção percebida pelo próprio escrivão Isaías Caminha entre o seu destino e os seus primeiros desejos.

 RESPOSTA:

Isaías dedicou sua vida ao estudo. Ao mudar para o Rio de Janeiro, no início do século XX, pretendia se tornar doutor. Porém percebe que o país possui um forte o preconceito racial e está atrelado às condições sociais dos negros e mulatos do período subsequente à abolição. A intenção crítica é evidente, porque Lima Barreto procura desnudar a hipocrisia burguesa e a imprensa. O rapaz não consegue emprego, é acusado de roubo no hotel em que está hospedado. Enfim descobre a oposição entre o querer ser e o que é realmente aos olhos da sociedade.

Recordações do escrivão Isaías Caminha focaliza os temas críticos que sempre estiveram presentes na maioria das obras de Lima Barreto: o artificialismo cultural da intelectualidade tupiniquim, a cultura de aparência, a política de nomeação para cargos públicos por favorecimento, o carreirismo, o empreguismo e o protecionismo no funcionalismo, no jornalismo e na política, a ambição e a ganância desmedidas, o comportamento mecânico do funcionalismo público, a rigidez gramatical do pseudo-intelectual, a tendência à dissimulação e à mentira, a hipocrisia.

12. (UNICAMP) Em RECORDAÇÕES DO ESCRIVÃO ISAÍAS CAMINHA, o estudante Isaías, excelente aluno e respeitado por sua inteligência, deixa o interior com a esperança de tornar-se doutor no Rio de Janeiro. Numa parada do trem, entretanto, Isaías sente-se desconsiderado pelo dono do bar, o que o leva às seguintes reflexões:
“Trôpego e tonto, embarquei e a tentei decifrar a razão da diferença dos dois tratamentos. Não atinei; em vão passei em revista a minha roupa e a minha pessoa… Os meus dezenove anos eram sadios e poupados, e o meu corpo regularmente talhado. Tinha os ombros largos e os membros ágeis e elásticos. As minhas mãos fidalgas, com dedos afilados e esguios, eram herança de minha mãe, que as tinha tão valentemente bonitas que se mantiveram assim, apesar do trabalho manual a que sua condição a obrigava. Mesmo de rosto, se bem que os meus traços não fossem extraordinariamente regulares, eu não era hediondo nem repugnante. Tinha-o perfeitamente oval, e a tez de cor pronunciadamente azeitonada.
Além de tudo, eu sentia que minha fisionomia era animada pelos meus olhos castanhos, que brilhavam doces e ternos nas arcadas superciliares profundas, traço de sagacidade que herdei de meu pai. Demais, a emanação da minha pessoa, os desprendimentos da minha alma, deviam ser de mansuetude, de timidez e bondade… Por que seria então, meu Deus?”
a) Uma expressão contida no trecho citado é fundamental para que o leitor consiga decifrar a razão da diferença de tratamento, enquanto o próprio narrador não o consegue. Cite a expressão.
b) No trecho citado, insinua-se a diferença social entre o pai e a mãe de Isaías, que se explicitará mais adiante, no decorrer da narrativa. Que diferença é essa?
RESPOSTAS:

a) “tez de core cor pronunciadamente azeitonada”
b) Sua mãe era empregada de um padre que era seu pai.

13. (UESC) Chegou e eu esperei ainda. Afinal, fui levado à sua presença. Ao lado, em uma mesa mais baixa, lá estava o Capitão Viveiros, o tal escrivão, muito solene, com a pena atrás da orelha, o seu olhar cúpido e a sua papada farta. O delegado pareceu-me um medíocre bacharel, uma vulgaridade com desejos de chegar a altas posições; no entanto, havia na sua fisionomia uma assustadora irradiação de poder e de força. Talvez se sentisse tão ungido da graça especial de mandar, que na rua, ao ver tanta gente mover-se livremente, havia de considerar que o fazia porque ele deixava. Interrogou-me de mau humor, impaciente, distraído, às sacudidelas. Repisava uma mesma pergunta; repetia as minhas respostas.

BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1994. p. 63. (Série Bom Livro).

Com base no fragmento inserido na obra, está correto o que se afirma na alternativa

01) A mudança de condição de vida de Isaías, quando passa de contínuo a repórter no jornal “O Globo”, provoca uma alteração radical em seus conceitos sobre os outros e sobre si mesmo.

02) O escrivão Isaías Caminha considera os literatos com os quais conviveu,  quando  trabalhou na  redação de um jornal, como modelos a imitar no seu fazer literário.

03) O narrador escreve as suas “Recordações” com o intuito de alcançar a glória literária e, com ela, a ascensão social.

04) O delegado representa a autoridade que, movida pelo preconceito, exerce, de forma arbitrária, o poder.

05) O narrador-personagem, ao descrever o delegado, revela-se imparcial.

TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 14 A 19

(UERJ)  Recordações do escrivão Isaías Caminha

Eu não sou literato, detesto com toda a paixão essa espécie de animal. O que observei neles, no tempo em que estive na redação do O Globo, foi o bastante para não os amar, nem os imitar. São em geral de uma lastimável limitação de ideias, cheios de fórmulas, de receitas, só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar, curvados aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas, adstritos a um infantil fetichismo do estilo e guiados por conceitos obsoletos e um pueril e errôneo critério de beleza. Se me esforço por fazê-lo literário é para que ele possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao espírito geral e no seu interesse, com a linguagem acessível a ele. É esse o meu propósito, o meu único propósito. Não nego que para isso tenha procurado modelos e normas. Procurei-os, confesso; e, agora mesmo, ao alcance das mãos, tenho os autores que mais amo. (…) Confesso que os leio, que os estudo, que procuro descobrir nos grandes romancistas o segredo de fazer. Mas não é a ambição literária que me move ao procurar esse dom misterioso para animar e fazer viver estas pálidas Recordações. Com elas, queria modificar a opinião dos meus concidadãos, obrigá-los a pensar de outro modo, a não se encherem de hostilidade e má vontade quando encontrarem na vida um rapaz como eu e com os desejos que tinha há dez anos passados. Tento mostrar que são legítimos e, se não merecedores de apoio, pelo menos dignos de indiferença. Entretanto, quantas dores, quantas angústias! Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de qualquer ordem. Cercam-me dois ou três bacharéis idiotas e um médico mezinheiro, repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram. (…) Entretanto, se eu amanhã lhes fosse falar neste livro – que espanto! Que sarcasmo! que crítica desanimadora não fariam. Depois que se foi o doutor Graciliano, excepcionalmente simples e esquecido de sua carta apergaminhada, nada digo das minhas leituras, não falo das minhas lucubrações intelectuais a ninguém, e minha mulher, quando me demoro escrevendo pela noite afora, grita-me do quarto:

– Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã!

De forma que não tenho por onde aferir se as minhas Recordações preenchem o fim a que as destino; se a minha inabilidade literária está prejudicando completamente o seu pensamento. Que tortura! E não é só isso: envergonho-me por esta ou aquela passagem em que me acho, em que me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pública… Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo, vem dela, unicamente dela. Quero abandoná-la; mas não posso absolutamente. De manhã, ao almoço, na coletoria, na botica, jantando, banhando-me, só penso nela. À noite, quando todos em casa se vão recolhendo, insensivelmente aproximo-me da mesa e escrevo furiosamente. Estou no sexto capítulo e ainda não me preocupei em fazê-la pública, anunciar e arranjar um bom recebimento dos detentores da opinião nacional. Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil que a refaça e que diga o que não pude nem soube dizer.

(…) Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o que eu senti lá dentro. Eu que sofri e pensei não o sei narrar. Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco expressiva do que eu de fato tinha sentido. LIMA BARRETO Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Penguin Classics Companhia das Letras, 2010.

14. O texto de Lima Barreto explora o recurso da metalinguagem, ao comentar, na sua ficção, o próprio ato de compor uma ficção. Esse recurso está exemplificado principalmente em:

a) São em geral de uma lastimável limitação de ideias,

b) Vivo aqui só, isto é, sem relações intelectuais de qualquer ordem.

c) — Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório para amanhã!

d) Já por duas vezes, tentei escrever; mas, relendo a página, achei-a incolor, comum,

15. O personagem Isaías Caminha faz críticas àqueles que ele denomina “literatos”.

No primeiro parágrafo, podemos entender que os chamados literatos são escritores com a característica de:

a) carecer de bons leitores

b) negar o talento individual

c) repetir regras consagradas

d) apresentar erros de escrita

16. O personagem parece julgar quase todos que o rodeiam, mas não se exime de julgar também a si mesmo. Um julgamento autocrítico de Isaías Caminha está melhor ilustrado no seguinte trecho:

a) Confesso que os leio, que os estudo,

b) Mas não é a ambição literária que me move)

c) Entretanto, quantas dores, quantas angústias!

d) Imagino como um escritor hábil não saberia dizer o que eu senti

17. só capazes de colher fatos detalhados e impotentes para generalizar,

Esse trecho se refere à utilização do seguinte método de argumentação:

a) indutivo

b) dedutivo

c) dialético

d) silogístico

18. Na descrição de sua situação e de seus sentimentos, o narrador utiliza diversos recursos coesivos, dentre eles o da adição. O fragmento do texto que exemplifica o recurso da adição está em:

a) repletos de orgulho de suas cartas que sabe Deus como tiraram.

b) me dispo em frente de desconhecidos, como uma mulher pública…

c) Sofro assim de tantos modos, por causa desta obra, que julgo que esse mal-estar, com que às vezes acordo, vem dela,

d) Que ela tenha a sorte que merecer, mas que possa também, amanhã ou daqui a séculos, despertar um escritor mais hábil.

19. O emprego de sinais de pontuação contribui para a construção do sentido dos textos.

O emprego de exclamações, no segundo parágrafo, reforça o seguinte elemento relativo ao narrador:

a) ironia

b) mágoa

c) timidez

d) insegurança

20. E seu tio Valentim – quase um pai, conseguiu para Isaías o que considerava elemento fundamental para a vida no Rio: uma carta do coronel Belmiro para o deputado Castro que ele ajudou a eleger. Na carta pedia para que o deputado providenciasse um trabalho para Isaías. Aqui o narrador deixa antever a sensação de poder do coronel. Porém, quando Isaías chega ao Rio Isaías percebe que a carta não tem validade alguma e que ele não é sequer bem recebido pelo deputado. Esse inclusive lhe manda voltar num dia em que sabe que não vai estar. Logo, as impressões primeiras sobre sua vida no Rio se desfazem e ele vivencia um Rio de Janeiro cruel e não acolhedor como esperava que fosse. O leitor também percebe um coronel que já não tem poder  na  sociedade do século XX. Denúncia do voto de cabresto, da política do interior.

O livro aborda um tema constante na obra de Lima Barreto: o do preconceito racial. Assinale a alternativa que não contenha um trecho que permita antever isso:

a) “Ah! Seria doutor! Resgataria o pecado original do meu nascimento humilde, amaciaria o suplício premente, cruciante e onímodo de minha cor…”

b)” Doutor, como passou? Como está, doutor? Era sobre-humano!…”

c) “ Não tenho pejo em confessar  hoje que quando me ouvi tratado assim, as lágrimas me vieram aos olhos.”

d) “ Entretanto, isso tudo é uma  questão de semântica: amanhã, dentro de um século, não terá mais significação injuriosa.”

e) “ se me esforço em fazê-lo literário é para que possa ser lido, pois quero falar das minhas dores e dos meus sofrimentos ao espírito geral eno seu interesse, com a linguagem acessível a ele.

21. (UESC) […] Considerei-me feliz no lugar de contínuo da redação do O Globo. Tinha atravessado um grande braço de mar, agarrara-me a um ilhéu e não tinha coragem de nadar de novo para a terra firme que barrava o horizonte a algumas centenas de metros. Os mariscos bastavam-me e os insetos já se me tinham feito grossa a pele…

De tal maneira é forte o poder de nos iludirmos, que um ano depois cheguei a ter até orgulho da minha posição. Senti-me muito mais que um contínuo qualquer mesmo mais que    um contínuo de ministro. As conversas da redação tinham-me dado a convicção de que o doutor Loberant era o homem mais poderoso do Brasil; fazia e desfazia ministros, demitia diretores, julgava juízes e o presidente. Logo ao amanhecer, lia o seu jornal, para saber se tal ou qual ato seu tinha tido o placet desejado do doutor Ricardo. BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. 3. ed. São Paulo: Ática, 1994. p. 99.

O texto, articulado com a obra, permite considerar correta a alternativa

01) Isaías Caminha revela-se um ser humano desprovido de qualquer vaidade.

02)  O   narrador utiliza no seu relato uma linguagem essencialmente objetiva e precisa.

03) O narrador atribui tão somente aos outros a não realização de seus projetos de vida.

04) O narrador reconhece, na narrativa, a atuação da imprensa  de seu tempo como marcada pela ética e pelo compromisso com o social.

05) Isaías, através do relato de sua trajetória de vida, mostra o ambiente social como discriminador de pessoas pobres e de negros e mulatos.

22. (UFMS) A propósito de Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).

(001) A visão de mundo, marcadamente influenciada pela filosofia européia do final do século XIX, faz Isaías Caminha educar seu filho único nos preceitos do super-homem do pensador alemão Friedrich Nietzsche, para que a criança não sucumba aos preconceitos racial e social.

(002) É uma espécie de roman à clef, ao reproduzir uma realidade que o autor conhecia de perto, a dos homens de letras e do jornalismo no Rio de Janeiro.

(004) A narrativa, escrita com sinceridade, concebe as personagens em função da sociedade na qual elas vivem.

(008) É obra pré-modernista, com linguagem coloquial, personagens das classes populares e um certo tom satírico.

(016) Engajado antes de tal concepção surgir nas letras, o romance discute, entre outros temas

candentes, o racismo, a hipocrisia social e o compadrio nas letras, sempre, no entanto, norteado

por profundo sentimento humano.

SOMA:  030 (002+004+008+016)

23. Sobre o romance “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto, é correto afirmar:
a) É uma obra memorialista, cujo narrador-personagem, Isaías Caminha, já idoso e desacreditado, decide relatar, de modo saudosista, os momentos de glória de sua carreira jornalística no jornal “O Globo”, durante sua juventude.
b) Constitui, juntamente com o romance “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, do mesmo autor, uma obra de análise social, cujo tema principal é a crítica ao sistema político do início do século XX, pautado na corrupção e no empreguismo.
c) É, ao lado de “Macunaíma”, de Mário de Andrade, e de “Serafim Ponte Grande”, de Oswald de Andrade, uma das principais obras do Modernismo brasileiro da década de 20, adotando muitas das inovações estéticas propostas pelos modernistas, como a desestruturação do enredo, a linguagem coloquial e a aproximação entre prosa e poesia.
d) Pode ser considerado uma obra neonaturalista, pois a conduta do protagonista Isaías Caminha transforma-se radicalmente a partir do momento em que ele passa a viver dentro do mundo jornalístico, já que, de rapaz tímido e sério, vindo do interior, transforma-se em um homem interesseiro e sem escrúpulos, cujo objetivo maior é obter espaço dentro da imprensa carioca.
e) É uma obra que, através do relato memorialista do narrador-personagem, expõe, de forma realista e crítica, a existência, no Rio de Janeiro do início do século

24. (UFMS) A propósito de Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

(001) Isaías Caminha narra, em uma reminiscência longínqua, em linguagem grandiloquente, suas dores e seus sofrimentos.

(002) O primeiro emprego de Isaías Caminha, em uma repartição pública, lhe foi arrumado pelo Deputado Castro.

(004) A narrativa remete sempre ao passado, sendo interrompida apenas quando o narrador faz reflexões sobre o que sente e quando é chamado pela esposa.

(008) Enquanto espera a chegada de Gregoróvitch Rostóloff na redação de O Globo, Isaías traça o perfil dos homens da imprensa jornalística.

(016) O tempo surge no romance marcado pelo mítico e pelo a-histórico.

SOMA: 012 (004+008)

25. (UEL) Leia o trecho abaixo.
Para um artista militante, sua função não é exclusivamente produzir uma obra de arte esteticamente válida, mas, e sobretudo, realizar uma obra que contenha um sentido revolucionário do ponto de vista social. Sua posição consiste em afirmar não unicamente o caráter ideológico da obra literária, mas, e principalmente, em afirmar a necessidade de que ela atue como veículo de conscientização e de esclarecimento do público.
(FANTINATI, Carlos Erivany. O profeta e o escrivão: estudo sobre Lima Barreto. São Paulo: Hucitec, 1978. p. 3.)
Com base no comentário transcrito acima, quanto ao romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, é correto afirmar:
a) Enquanto escritor militante, que via na literatura um meio de levar à mudança social, Lima Barreto narra sua história pessoal no romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, no sentido de mostrar que toda literatura engajada deve partir de fatos reais, que podem ser comprovados historicamente, e não de fatos fictícios.
b) Visando o engajamento social, Lima Barreto, na obra Recordações do escrivão Isaías Caminha, utiliza-se de referências históricas retiradas de livros de História do Brasil e de crônicas jornalísticas da segunda metade do século XX, sendo seu livro considerado uma obra essencialmente sociológica.
c) Em Recordações do escrivão Isaías Caminha, a conscientização e o esclarecimento do público quanto à arte e sua finalidade, quanto à posição do artista e ao dever do crítico, são resultados da postura militante de Lima Barreto e encontram -se nas reflexões e nas críticas feitas por ele à ditadura exercida pela imprensa da época, começo do século XX. Nesse contexto, o modelo de jornalismo pautava-se pela crítica elogiosa aos escritores apadrinhados, mantendo no anonimato ou mesmo descompondo aqueles que não o eram, como ocorre no jornal em que trabalha o protagonista Isaías.
d) O aspecto revolucionário do romance Recordações do escrivão Isaías Caminha encontra-se, sobretudo, no trabalho dispensado à linguagem, devido às influências de princípios estéticos das vanguardas europeias do início do século XX, como o Futurismo e o Cubismo. Nesse romance Lima Barreto rompe com as normas da sintaxe tradicional, quebra a linearidade do enredo, passando a utilizar-se de um vocabulário pouco erudito, próximo ao falar cotidiano do homem comum, conforme se observa nos artigos de jornal escritos pela personagem Isaías Caminha.
e) O romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, ao discutir a posição do negro, Isaías Caminha, dentro da sociedade carioca do começo do século XX, resgata o tema da escravidão, bastante discutido pelos escritores românticos, sobretudo por José de Alencar, o que revela o caráter social da literatura de Lima Barreto e a postura engajada do escritor.

26. (UFMS) Os historiadores da literatura brasileira normalmente incluem o romance Recordações do escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, no Pré-Modernismo, por adiantar características do Modernismo sem romper com opções estéticas ou ideológicas das correntes predecessoras. Considerando essa definição, assinale a(s) alternativa(s) correta(s). 

(001) Na linguagem, o romance apresenta coloquialismo muito próximo do modernista.

(002) No ideário político, o romance não visa a nenhuma crítica social, aproximando-se do alheamento próprio dos nefelibatas do Simbolismo.

(004) Na construção das personagens, o romance rompe a estereotipia do embate entre os bons e os maus, como as soluções que eram empreendidas por grande parcela dos autores românticos.

(008) Na estrutura da narrativa, o romance empreende fragmentação estilística moldada pela influência das vanguardas europeias do início do século XX.

(016) No desdobramento da personalidade do protagonista, marcado pela origem genética da qual decorrem taras e conformação psicológica, o romance é devedor da estética do Naturalismo.

SOMA:  005 (001+004)

27. (UFLA) No romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha, de Lima Barreto, Isaías Caminha procura estudar na capital porque:
a) pretende casar-se com uma moça que tenha instrução.
b) quer ter as regalias e prestígios que só um diploma pode fornecer.
c) seu tio Valentim não suporta mais sua presença.
d) quer fugir da extrema miséria vivenciada por todos os seus parentes.
e) acredita que só será completo com um diploma nas mãos.

28. (UFMS) Isaías Caminha assim resume sua vida: “Sentia-me sempre desgostoso por não ter tirado de mim nada de grande, de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um outro qualquer.” Dentre as considerações quanto ao desenvolvimento romanesco das Recordações do Escrivão Isaías Caminhas, de Lima Barreto, assinale a(s) correta(s). 

(001) O estigma do preconceito racial marca a vida de Isaías desde a infância, em especial nos seus primeiros tempos no Rio de Janeiro, a capital do país.

(002) Isaías pouco fala de sua família; ainda assim, somos informados que se casou e que teve um filho, filho esse que morreu na infância.

(004) O cerne do romance se prende à exposição e crítica do jornalismo que se praticava no Rio de Janeiro no início do século XIX. Além do libelo satírico, ao cair nas graças do chefe, o capitalista Loberant, Isaías apresenta um projeto de jornalismo renovador, que no entanto – em mais uma de suas frustrações – não é implantado.

(008) Com Loberant e Leda, Isaías se perde em um passeio pela Ilha do Governador. Leda se interessa por Isaías e, sob complacência de Loberant, que o chama jocosamente de “tolo”, Isaías e Leda vivem uma noite de amor na casa dela.

(016) Foi com o suicídio de seu protetor Gregoróvitch que Isaías, ocupando as funções do amigo em “O Globo”, iniciou sua carreira de jornalista.

SOMA:  003 = 001+002

29. (UFLA) Em um determinado momento da narrativa, Isaías Caminha, o protagonista do romance de Lima Barreto, diz que “fosse qual fosse o fim da minha vida os esforços haviam de ser titânicos.” O personagem quis dizer que:
a) sem violência não é possível controlar o preconceito da sociedade.
b) somente com muita força de vontade é possível conviver com a hipocrisia da sociedade capitalista.
c) sem diploma é quase impossível sobreviver no Rio de Janeiro.
d) por ser pobre e negro teria que fazer grandes esforços na vida para provar sua identidade.

e) a miséria é um grande empecilho para o sucesso.

30. (FMC) Recordações do escrivão Isaías Caminha, de 1909, exibe, em seu núcleo crítico e temático, um espaço que é também abordado numa narrativa da modernidade. Assinale a passagem que faça referência à problemática tratada por Lima Barreto:

a) As professoras permanecem imóveis. Na sala de aula, Zejosé é o último a acabar a prova. Garranchos ilegíveis ocupam três das quatro páginas de almaço, que entrega a dona Selma. (ARAÚJO, A. Ventania. Rio de Janeiro: Record, 2012. p.125)

b) Fiquei trancado três dias no quarto do hotel escrevendo o argumento do filme. Várias vezes Dietrich ligou para mim. Falou em Veronika. (FONSECA, R. Vastas emoções e pensamentos imperfeitos. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p.134)

c) Nunca se viu pênalti batido tão devagar, com o goleiro se esparramando ridiculamente no seu canto esquerdo, e a bola vindo de mansinho, quase parando, no outro canto, batendo caprichosamente na trave e permanecendo nas suas imediações, até que veio um zagueiro do Olaria e despachou-a para a lateral. (SANT’ANNA, S. Páginas sem glória. São Paulo: Companhia das Letras, 2012. p.122)

d) – Esse jornal me dá nojo. Não é só o Nelinho, é quase todo mundo que trabalha nele, com raras e honrosas exceções. Uma feira de vaidades, mais nada. (VILELA, O inferno é aqui mesmo. São Paulo: Ática, 1983. p.138).

31.Assinale a passagem extraída do romance Recordações do escrivão Isaías caminha, de Lima Barreto, que NÃO apresente o tom pessimista da narrativa:

a) Sentia-me sempre desgostoso por não ter tirado de mim nada de grande, de forte e ter consentido em ser um vulgar assecla e apaniguado de um outro qualquer.

b) Sentia-me repelente, repelente de fraqueza, de falta de decisão e mais amolecido agora com o álcool e com os prazeres… Sentia-me parasita, adulando o diretor para obter dinheiro.

c) Que emprego dera à minha inteligência e à minha atividade? Essas perguntas angustiavam-me.

d) Estive por instantes espamodicamente arrebatado, para um outro mundo, adivinhado além das cousas sensíveis e materiais.

32.Leia com atenção o trecho a seguir. Foram os primeiros legisladores que deram à carta esse prestígio extraterrestre… Naturalmente, teriam escrito nos seus códigos: tudo o que há no mundo é propriedade do doutor, e se de alguma coisa outros homens gozam, devem-no à generosidade do doutor. Era uma outra casta, para a qual eu entraria, e desde que penetrasse nela, seria de osso, sangue e carne diferente dos outros – tudo isso de uma qualidade transcendente, fora das leis gerais do Universo e acima das fatalidades da vida comum. (BARRETO, L. Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo: Ática, 1984. p.23) A passagem transcrita demonstra que Lima Barreto é um escritor

a) filosófico.

b) naturalista.

c) irônico.

d) erudito.

Texto 1
1 “Tendo surpreendido na casa da Rosalina, em plena orgia, o terrível diretor, vexei-o.
(…)
2 Percebi que o espantava muito o dizer-lhe que tivera mãe, que nascera num ambiente familiar e que me educara. Isso, para ele, era extraordinário. O que me parecia extraordinário nas minhas aventuras, ele achava natural; mas ter eu mãe que me ensinasse a comer com o garfo, isso era excepcional. Só atinei com esse seu íntimo pensamento mais tarde. Para ele, como para toda a gente mais ou menos letrada do Brasil, os homens e as mulheres do meu nascimento são todos iguais, mais iguais ainda que os cães de suas chácaras. Os homens são uns malandros, planistas, parlapatões quando aprendem alguma coisa, fósforos dos politicões; as mulheres (a noção aí é mais simples) são naturalmente fêmeas.”
(LIMA BARRETO. “Recordações do escrivão Isaías Caminha”. 10 ed. São Paulo: Ática, 2001. p.157-158.)

Texto 2

“O que a senhora deseja, minha amiga, é chegar já ao capítulo do amor, ou dos amores, que é o seu interesse particular nos livros. Daí a habilidade da pergunta, como se dissesse: ‘Olhe que o senhor ainda nos não mostrou a dama ou damas que têm de ser amadas ou pleiteadas por estes dois jovens inimigos. Já estou cansada de saber que os rapazes não se dão ou se dão mal; é a segunda ou a terceira vez que assisto às blandícias da mãe ou aos seus ralhos amigos. Vamos depressa ao amor, às duas, se não é uma só a pessoa…’
Francamente, eu não gosto de gente que venha adivinhando e compondo um livro que está sendo escrito com método. A insistência da leitora em falar de uma só mulher chega a ser impertinente. Suponha que eles deveras gostem de uma só pessoa; não parecerá que eu conto o que a leitora me lembrou, quando a verdade é que eu apenas escrevo o que sucedeu e pode ser confirmado por dezenas de testemunhas? Não, senhora minha, não pus a pena na mão, à espreita do que me viessem sugerindo. Se quer compor o livro, aqui tem a pena, aqui tem papel, aqui tem um admirador; mas, se quer ler somente, deixe-se estar quieta, vá de linha em linha; dou-lhe que boceje entre dois capítulos, mas espere o resto, tenha confiança no relator destas aventuras.”
(MACHADO DE ASSIS, J.M. “Esaú e Jacó”. 12 ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 58-59.)
33. Considerando os textos, as obras das quais foram extraídos, e seus autores, é CORRETO afirmar que:
(01) “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, obra da qual foi extraído o texto 1, critica a imprensa brasileira dos primeiros anos da República e denuncia a hipocrisia da sociedade de então. O romance “Esaú e Jacó”, ao qual pertence o texto 2, aborda, irônica e criticamente, os acontecimentos históricos da transição do Império para a República.
(02) São comuns a Lima Barreto e Machado de Assis: a citação de episódios das histórias geral e nacional, de personagens conhecidos da Literatura Universal e a menção de autores brasileiros e estrangeiros.
(04) No texto 1, percebe-se que Lima Barreto ironiza a discriminação social e racial que sofriam os que, como ele, eram mulatos. Já no texto 2, Machado de Assis ironiza a leitora formada dentro da concepção romântica.
(08) O texto 2 marca o estilo realista de Machado de Assis, com sua provocação constante ao leitor, para que este participe do que está sendo escrito.
(16) O romance “Esaú e Jacó” possui uma série de referências bíblicas, seja através dos nomes dos personagens, seja por citações diretas de passagens da Bíblia.
(32) “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, de Lima Barreto, caracteriza-se como uma obra de ambiência urbana do Romantismo, movimento literário de transição, em que se iniciaram as tendências e os temas que se firmariam no Modernismo.
SOMA: 01 + 02 + 04 + 08 + 16 = 31

 34. (UEL) A questão refere-se à passagem de Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909), de Lima Barreto (1881-1922).

[…] Aquele começo de mês foi para mim de grande sossego e de muito egoísmo. Embora minha mãe tivesse afinal morrido havia alguns meses, eu não tinha sentido senão uma leve e ligeira dor. Depois de empregado no jornal, pouco lhe escrevi. Sabia-a muito doente, arrastando a vida com esforço. Não me preocupava… Os ditos do Floc, as pilhérias de Losque, as sentenças do sábio Oliveira, tinham feito chegar a mim uma espécie de vergonha pelo meu nascimento, e esse vexame me veio diminuir em muito a amizade e a ternura com que sempre envolvi a sua lembrança. Sentia-me separado dela. Conquanto não concordasse ser ela a espécie de besta de carga e máquina de prazer que as sentenças daqueles idiotas a abrangiam no seu pensamento de lorpas, entretanto eu, seu filho, julgava-me a meus próprios olhos muito diverso dela, saído de outra estirpe, de outro sangue e de outra carne. Ainda não tinha coordenado todos os elementos que mais tarde vieram encher-me de profundo desgosto e a minha inteligência e a minha sensibilidade não tinham ainda organizado bem e disposto convenientemente o grande stock de observações e de emoções que eu vinha fazendo e sentindo dia a dia. Vinham uma a uma, invadindo-me a personalidade insidiosamente para saturar-me mais tarde até ao aborrecimento e ao desgosto de viver. Vivia, então, satisfeito, gozando a temperatura, com almoço e jantar, ignobilmente esquecido do que sonhara e desejara. Houve mesmo um dia em que quis avaliar ainda o que sabia. Tentei repetir a lista dos Césares ⎯ não sabia; quis resolver um problema de regra de três composta, não sabia; tentei escrever a fórmula da área da esfera, não sabia. E notei essa ruína dos meus primeiros estudos cheio de indiferença, sem desgosto, lembrando-me daquilo tudo como impressões de uma festa a que fora e a que não devia voltar mais. Nada me afastava da delícia de almoçar e jantar por sessenta mil-réis mensais.BARRETO, Lima. Recordações do escrivão Isaías Caminha. Rio de Janeiro: Garnier, 1989. p. 194-195.

Com base no texto, é correto afirmar:

a) Isaías Caminha sente-se sossegado, afinal agora é um jornalista de renome, tem amigos e está sem problemas com sua mãe.

b) O egoísmo a que se refere Isaías diz respeito à forma como lidava com seus amigos de infância Oliveira, Losque e Floc.

c) Sua relação com a mãe foi boa até que revelações sobre a sua origem bastarda abalaram de vez a confiança do jovem.

d) Losque, Oliveira e Floc sentiam inveja do talento de Caminha, por isso tentavam desmoralizar sua mãe, o que agora não era mais possível.

e) Caminha não gosta das insinuações maldosas que Losque, Oliveira e Floc fazem sobre sua mãe, mas ele próprio se sente desconfortável em relação à sua origem.

35. (MILTON CAMPOS ) Nos diálogos presentes em Recordações do escrivão Isaías Caminha, transparecem críticas à sociedade brasileira.

Isso NÃO se verifica em:

a)– Ah, bom! Diga isso! Pela polícia, não; ela vive com os bicheiros… Não serve pra nada, fique certo.

b)– Você tem direito, seu Valentim… É… Você trabalhou pelo Castro… Aqui para nós: se ele está eleito, deve-o a mim e aos defuntos, e você que desenterrou alguns.

c)– Nada há tão parecido como o pirata antigo e o jornalista moderno: a mesma fraqueza de meios, servida por uma coragem de salteador.

d) – Sou muito moço, tenho vinte e dois anos, faço versos desde os dezoito; agora, fiz uma escolha e publiquei este volume…

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

1.(UNICAMP) O poema abaixo pertence ao livro A rosa do povo (1945):

Cidade prevista

Irmãos, cantai esse mundo
que não verei, mas virá
um dia, dentro em mil anos,
talvez mais… não tenho pressa.
Um mundo enfim ordenado,
uma pátria sem fronteiras,
sem leis e regulamentos,
uma terra sem bandeiras,
sem igrejas nem quartéis,
sem dor, sem febre, sem ouro,
um jeito só de viver,
mas nesse jeito a variedade,
a multiplicidade toda
que há dentro de cada um.
Uma cidade sem portas,
de casas sem armadilha,
um país de riso e glória
como nunca houve nenhum.
Este país não é meu
nem vosso ainda, poetas.
Mas ele será um dia
o país de todo homem.
(Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo, em Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992, p.158-159.)
a) A quem se dirige o eu lírico e com que finalidade?
b) A que “cidade” se refere o título do poema e como ela é representada?
c) Que características centrais de A Rosa do Povo se encontram nesse poema?
RESPOSTAS:
a) O eu lírico dirige-se a seus “irmãos”, ou seja, a outros poetas, como indicado no antepenúltimo verso, com a finalidade de fazer-lhes um apelo: o de cantar (defender, propagar, difundir, exaltar etc.) a esperança de um mundo bom e justo.
b) A “cidade” a que o eu lírico se refere não é especificamente uma cidade definida ou espaço territorial específico: trata-se de uma forma de sociedade que viria possibilitar a efetivação da justiça social e a possibilidade de realização do potencial de cada ser humano.
c) A poesia marcada por fortes preocupações sociais, a busca de realização do indivíduo, o sentimento do mundo que o leva a irmanar-se com o outro, a
utopia social e política que leva à “poesia engajada” de que o texto é exemplo.

2. (UFBA) FRAGILIDADE

Este verso, apenas um arabesco
em torno do elemento essencial – inatingível.
Fogem nuvens de verão, passam aves, navios, ondas,
e teu rosto é quase um espelho onde brinca o incerto movimento,
ai! já brincou, e tudo se fez imóvel, quantidades e quantidades
de sono se depositam sobre a terra esfacelada.
Não mais o desejo de explicar, e múltiplas palavras em feixe
subindo, e o espírito que escolhe, o olho que visita, a música
feita de depurações e depurações, a delicada modelagem
de um cristal de mil suspiros límpidos e frígidos: não mais
que um arabesco, apenas um arabesco
abraça as coisas, sem reduzi-las.
ANDRADE, Carlos Drummond de. A rosa do povo. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Carlos Drummond de Andrade: obra completa: poesia. Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 154-155.
Na seleção dos signos verbais, o sujeito poético cria metáforas estabelecendo analogias entre elementos distintos. Na linguagem de Drummond, “isso é aquilo”.
Identifique e transcreva uma das analogias referidas, explicando-a com base no contexto do poema.
RESPOSTA: Espera-se que o candidato identifique uma das metáforas “verso” e “arabesco”, “rosto” e “espelho”, “cristal”. Em seguida deverá atribuir sentidos como: poesia e realidade, linguagem poética e essência da poesia, fragilidade do homem, do verso, da palavra em face da captação da essência das coisas.

“Uma flor ainda desbotada
ilude à polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem.
Seu nome não está nos livros.
É feia. Mas é realmente uma flor.

É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o
[nojo e o ódio. “
3. ( FUVEST) Este é um fragmento do poema “A Flor e a Náusea” do livro A ROSA DO POVO de Carlos Drummond de Andrade.
a) O que o nascimento da flor representa?
b) Que relação se poderia estabelecer entre este poema e o momento histórico em que foi elaborado?
RESPOSTAS:

a)A esperança que brota em meio às dificuldades e adversidades.
b) Relaciona-se com a ditadura de Vargas no Brasil e com a negação do nazifascismo.

4. É noite. Sinto que é noite
não porque a sombra descesse
(bem me importa a face negra)
mas porque dentro de mim,
no fundo de mim, o grito
se calou, fez-se desânimo.
Sinto que nós somos noite,
que palpitamos no escuro
e em noite nos dissolvemos.
Sinto que é noite no vento,
noite nas águas, na pedra.
E que adianta uma lâmpada?
E que adianta uma voz?
É noite no meu amigo.
É noite no submarino.
É noite na roça grande.
É noite, não é morte, é noite
de sono espesso e sem praia.
Não é dor, nem paz, é noite,
é perfeitamente a noite.

Mas salve, olhar de alegria!
E salve, dia que surge!
Os corpos saltam do sono,
o mundo se recompõe.
Que gozo na bicicleta!
Existir: seja como for.
A fraterna entrega do pão.
Amar: mesmo nas canções.
De novo andar: as distâncias
as cores, posse das ruas.
Tudo que à noite perdemos
se nos confia outra vez.
Obrigado, coisas fiéis!
Saber que ainda há florestas,
sinos, palavras; que a terra
prossegue seu giro, e o tempo
não murchou; não nos diluímos.
Chupar o gosto do dia!
Clara manhã, obrigado,
o essencial é viver!   (A Rosa do Povo)

a) O poema anterior pode ser dividido em duas partes. Quais são elas e qual palavra as caracteriza?

b) O que expressa o poeta em cada uma delas?

RESPOSTAS:

a) A primeira parte é formada pelas duas primeiras estrofes e apresenta a palavra “noite” como núcleo da ideia central; a segunda parte tem início com a terceira estrofe e apresenta o “dia” como núcleo.

b) Na primeira parte, a palavra “noite” é empregada como símbolo das forças opressoras que forçam o sujeito a acreditar-se incapaz de modificar a realidade exterior; na segunda parte, a palavra “dia” surge como metáfora da esperança, da sucessão das trevas que aprisionam e pela luz que liberta.

5. (UNIRIO) A Flor e a Náusea (fragmento)
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.     (Carlos Drummond de Andrade)
1- Que representa a “flor” no fragmento apresentado no texto?
2- A que fase do Modernismo pertence esse fragmento?
3- Cite uma característica desse movimento existente no texto.
RESPOSTA:

1- Esperança.
2- À segunda fase.
3- Liberdade formal; a linguagem se aproxima do nível coloquial…

6. (FUVEST)

A flor e a náusea

Preso à minha classe e a algumas roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?

Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.

Em vão me tento explicar, os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.

(…) Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.

a) Em A rosa do povo, o poeta se declara anticapitalista. Nos três primeiros versos do excerto, esse anticapitalismo se manifesta? Justifique sucintamente sua resposta.

b) De acordo com os dois últimos versos do excerto, como se manifesta, no campo da linguagem, o impasse de que fala o poeta? Explique resumidamente.

RESPOSTA:

a) Este poema revela-se anticapitalista a partir do primeiro verso: “Preso à minha classe e algumas roupas”, que já indica uma consciência da divisão da sociedade em classes sociais e a oposição entre opressores e oprimidos. O eu lírico revela o mal-estar de saber que sua condição social lhe impõe limites.
b) O impasse seria a dificuldade do próprio exercício poético, em um “tempo pobre”, marcado pela censura, pela opressão, pela guerra, pela dificuldade de comunicação: “os muros são surdos”, levando à criação de “cifras” e “códigos”, que impedem a clareza e a criação de bons poemas.

7. Leia com atenção os dois fragmentos a seguir, extraídos do poema de Carlos Drummond de Andrade cujo título, “Procura da poesia”, também indica o tema. Compare-os e explique como o tema é desenvolvido em cada um deles

Fragmento 1

Não faças versos sobre acontecimentos.

Não há criação nem morte perante a poesia.

Diante dela, a vida é um sol estático,

não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.

Não faças poesia com o corpo,

esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

Fragmento 2

Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

RESPOSTA:

O tema do poema é o fazer poético. No fragmento 1, por meio de negativas, o poeta expõe o que não é matéria de poesia; no fragmento 2, por meio de afirmativas, o poeta define o fazer poético como sendo a exploração dos sons e dos sentidos da palavra, ou seja, fazer poesia é essencialmente lidar com palavras.

Texto para as questões 8 e 9

 NOSSO TEMPO

Esse é tempo de partido,

tempo de homens partidos.

Em vão percorremos volumes,

viajamos e nos colorimos.

A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua.

Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos.

As leis não bastam. Os lírios não nascem

da lei. Meu nome é tumulto, e escreve-se

na pedra.

Visito os fatos, não te encontro.

Onde te ocultas, precária síntese,

penhor de meu sono, luz

dormindo acesa na varanda?

Miúdas certezas de empréstimos, nenhum beijo

sobe ao ombro para contar-me

a cidade dos homens completos.

Calo-me, espero, decifro.

As coisas talvez melhorem.

São tão fortes as coisas!

Mas eu não sou as coisas e me revolto.

Tenho palavras em mim buscando canal,

são roucas e duras,

irritadas, enérgicas,

comprimidas há tanto tempo,

perderam o sentido, apenas querem explodir.

8. Considerando que os poemas foram escritos entre 1943 e 1945, dê uma interpretação para a palavra “partido”, presente no dístico inicial do poema.

RESPOSTA:

A palavra “partido” pode se referir a partido político, ou melhor, a um certo compromisso ideológico, já que os versos foram escritos durante os tempos da Segunda Guerra Mundial, o que obrigava as pessoas a assumirem uma posição diante da guerra. A palavra “partido”, no segundo verso do dístico (“tempo de homens partidos”), pode significar que os homens estão partidos, isto é, mutilados pela guerra e pela cidade opressora, que mutila corpos e consciências.

9. O fragmento de poema anterior pertence ao livro A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade. Relacionando-o com os demais poemas do livro, é correto afirmar que:

a) prende-se ao tema da subjetividade, não estabelecendo nenhum vínculo com a temática social.

b) prende-se à temática social, não deixando transparecer nenhuma carga emotiva.

c) trata-se do tema do próprio fazer poético, um dos temas centrais da obra.

d) nele, como em outros poemas, o desejo de transformar o mundo é também um desejo de promover a modificação do próprio ser.

e) nele, como em outros poemas, estão presentes a ironia e o humor do autor, que, pessimista, não vê nenhuma condição de melhora na vida dos homens.

10.(PUC-SP) Em 1945 Carlos Drummond de Andrade escreveu A ROSA DO POVO, da qual o fragmento apresentado faz parte. Nela podemos verificar que:
a) uma análise do comportamento humano, na relação cidade e campo.
b) apenas uma teoria de sua própria produção poética.
c) uma reflexão sobre os valores teológicos e metafísicos do homem contemporâneo.
d) uma predileção por temas eróticos e sensuais.
e) uma temática social e política e uma denúncia das dilacerações do mundo.

11. (UFES)Para cada um dos trechos dos poemas seguintes se aponta uma característica marcante do livro “A Rosa do Povo” (1945), de Carlos Drummond de Andrade. Assinale a opção cujo trecho NÃO corresponda à característica.
a) “Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor profundo, /crispação do ser humano, árvore irritada, contra a miséria e a fúria dos ditadores, /ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e esperança” (“Canto ao homem do povo Charlie Chaplin”): A PRESENÇA DA FAMÍLIA E DA TRADIÇÃO;
b) “Meus olhos são pequenos para ver /a distância da casa na Alemanha /a uma ponte na Rússia, onde retratos, /cartas, dedos de pé boiam em sangue” (“Visão 1944”): A REFERÊNCIA A UM MUNDO EM GUERRA;
c) “Não rimarei a palavra sono /com a incorrespondente palavra outono. /Rimarei com a palavra carne /ou qualquer outra, que todas me convêm.” (Consideração do poema”): A REFLEXÃO SOBRE O PRÓPRIO FAZER POÉTICO;
d) “O poeta /declina de toda responsabilidade /na marcha do mundo capitalista /e com suas palavras, intuições, símbolos e outras armas /promete ajudar /a destruí-lo /como uma pedreira, uma floresta, um verme.” (“Nosso tempo”): A RELAÇÃO DO POETA COM O MUNDO;
e) “Sequer conheço Fulana, /vejo Fulana tão curto, /Fulana jamais me vê, /mas como eu amo Fulana.” (“O Mito”): A TEMÁTICA DO AMOR NÃO CORRESPONDIDO.

“Não rimarei a palavra sono
Com a incorrespondente palavra outono.
Rimarei com a palavra carne
Ou qualquer outra, que todas me convêm.
As palavras não nascem amarradas,
Elas saltam, se beijam, se dissolvem,
No céu livre por vezes um desenho,
São puras, largas, autênticas, indevassáveis.

12. Nos versos acima, extraídos de “Consideração do poema”, do livro A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, o tema predominante é:

a) o sentimento de revolta social.

b) a metalinguagem.

c) a insuficiência do eu diante da linguagem poética.

d) a renúncia aos valores morais herdados da família.

e) a descrença na realidade exterior.

13. (UFRS)Leia os excertos abaixo, extraídos do poema “Procura da Poesia”, do livro “A Rosa do Povo”, de Carlos Drummond de Andrade.

“Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.”

“Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave?”

Assinale a afirmação correta sobre esses excertos.
a) Trata-se de fragmentos de um poema cujo tema central é uma recomendação à leitura silenciosa como melhor método para decifrar a poesia.
b) Os versos 01 e 06 expressam uma técnica elaborada pelo poeta para facilitar a leitura da poesia moderna.
c) Os versos comprovam os múltiplos sentidos que as palavras possuem, quando pesquisadas no dicionário.
d) Os versos recomendam a utilização de uma única chave para decifrar as palavras de superfície enganosa.
e) Nos versos, o autor põe em destaque os poemas e as palavras, atribuindo-lhes autonomia, voz e sentimentos.

14. (UFMS) Em A rosa do povo, Carlos Drummond de Andrade trata liricamente, em muitos poemas, do sentimento do medo, expondo-o em faces as mais diversas. Assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

(001) O poema “Canto ao homem do povo Charlie Chaplin” apresenta o medo da extinção do homem em um holocausto ocasionado pela bomba nuclear.

(002) Em “Retrato de família”, surge o medo dos castigos físicos depois das peraltices próprias da infância.

(004) No poema “O medo”, o eu lírico vê o sentimento se espraiando pelas existências humanas e pela vida social, povoando até mesmo a cidade, o mundo e as estrelas.

(008) Em “Resíduo”, o poeta canta “De tudo ficou um pouco. / Do meu medo. Do teu asco”, para, transitando pelo “insuportável mau cheiro da memória”, encontrar “As vezes um botão. Às vezes um rato.”.

(016) No poema “Áporo”, o medo não é nomeado, mas surge nas entrelinhas que descrevem o homem-inseto no fundo da terra, sem escape, símile de país bloqueado, que vê a esperança surgir em orquídea antieuclidiana.

SOMA:  028 (004+008+016).

15. (UFSC) A flor e a náusea

“Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do
[tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.
[…]
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o
[nojo e o ódio.”

ANDRADE, Carlos Drummond de. “A rosa do povo”. 28 ed. Rio de Janeiro: Record, 2004, p. 28.
( UFSC) Quanto ao texto, é CORRETO afirmar que:
(01) Drummond afasta-se da poética modernista ao utilizar termos como “tédio”, “nojo” e “ódio”, expressões do cotidiano e em desacordo com o ideal estético da época.
(02) em “É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto…” (ref. 1), temos uma figura de linguagem denominada aliteração. Na utilização desse recurso, forma e conteúdo são aliados para construção de um significado.
(04) em “É feia. Mas é uma flor”. (ref. 1), a conjunção indica que ser flor é um elemento adicional ao fato de ser feia.
(08) a exclamação no final do verso 1 encerra uma frase imperativa.
(16) o nascimento da flor pode ser considerado uma metáfora para a possibilidade de existência de vida em condições adversas: “Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio.” (ref. 1).
SOMA: 02 + 16 = 18

16. (ENEM) No poema “Procura da poesia”, Carlos Drummond de Andrade expressa a concepção estética de se fazer com palavras o que o escultor Michelângelo fazia com mármore. O fragmento a seguir exemplifica essa afirmação.

“(…)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
(…)
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
trouxeste a chave?”
Carlos Drummond de Andrade. “A rosa do povo”. Rio de Janeiro: Record, 1997, p. 13-14.

Esse fragmento poético ilustra o seguinte tema constante entre autores modernistas:
a) a nostalgia do passado colonialista revisitado.
b) a preocupação com o engajamento político e social da literatura.
c) o trabalho quase artesanal com as palavras, despertando sentidos novos.
d) a produção de sentidos herméticos na busca da perfeição poética.
e) a contemplação da natureza brasileira na perspectiva ufanista da pátria.

17. (FUVEST) Procura da Poesia

Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
não aquece nem ilumina.
(…)
Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intata.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

(…)  Carlos Drummond de Andrade, A rosa do povo.

No contexto do livro, a afirmação do caráter verbal da poesia e a incitação a que se penetre “no reino das palavras”, presentes no excerto, indicam que, para o poeta de A rosa do povo,
a) praticar a arte pela arte é a maneira mais eficaz de se opor ao mundo capitalista.
b) a procura da boa poesia começa pela estrita observância da variedade padrão da linguagem.
c) fazer poesia é produzir enigmas verbais que não podem nem devem ser interpretados.
d) as intenções sociais da poesia não a dispensam de ter em conta o que é próprio da linguagem.
e) os poemas metalinguísticos, nos quais a poesia fala apenas de si mesma, são superiores aos poemas que falam também de outros assuntos.

18. (UFRS) Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre a obra “A Rosa do Povo”, de Carlos Drummond de Andrade.
( ) O poema “A Flor e a Náusea” expressa observações e sentimentos de um sujeito lírico moderno, que passeia pela cidade olhando para diferentes situações.
( ) O poema “Caso do Vestido”, composto em dísticos, retrata um diálogo entre uma mãe e suas filhas, tendo por tema uma história de amor e de perdão.
( ) O poema “Nosso Tempo” é uma composição breve, em tom humorístico, sobre o cotidiano da vida urbana no Rio de Janeiro.
( ) O poema “Carta a Stalingrado” é um canto à cidade destruída e à sua força de resistência por entre escombros e ruínas da Segunda Guerra Mundial.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) V – F – F – F.
b) F – V – V – F.
c) V – V – F – V.
d) F – F – V – F.
e) F – F – V – V.

Texto para as questões 19 e 20

(…) Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue… não sei.
Por entre objetos confusos,
Mal redimidos da noite,
Duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos de aurora.

19. (PUC) No fragmento acima, Carlos Drummond de Andrade constrói, poeticamente, a aurora. O que permite visualizar este momento do dia corresponde:
a) a objetos confusos mal redimidos da noite;
b) à garrafa estilhaçada e ao ladrilho sereno;
c) à aproximação suave de dois corpos;
d) ao enlace amoroso de duas cores;
e) ao fluir espesso do sangue sobre o ladrilho.

20. (PUC)  Em 1945, Carlos Drummond de Andrade escreveu A Rosa do Povo, da qual o fragmento acima faz parte. Nele podemos verificar:

a) uma análise do comportamento humano, na relação cidade e campo;
b) apenas uma teoria de sua própria produção poética;
c) uma reflexão sobre os valores teológicos e metafísicos do homem contemporâneo;
d) uma temática social e política e uma denúncia das dilacerações do mundo;
e) n.d.a.

“Nova Canção do Exílio”

Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.

O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.

Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira, longe.

Onde é tudo belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira, longe.)

Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.
21.(PUC-SP)O poema anterior integra a obra “Rosa do Povo”, de Carlos Drummond de Andrade. Deste poema, como um todo, é incorreto afirmar que
a) é uma variação do tema da terra natal, espécie de atualização moderna de uma idealização romântica da pátria.
b) estabelece uma relação intertextual com a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias, e se mostra como uma espécie de paráfrase.
c) evidencia que o poeta se apropriou indevidamente do poema de Gonçalves Dias e manteve os esquemas de métrica e de rima do texto original.
d) traduz na palavra “longe”, o significado do “lá”, lugar do ideal distante, caracterizador de visão de uma pátria idealizada.
e) utiliza a imagem do sabiá e da palmeira para sugerir um espaço “onde tudo é belo e fantástico” e, afastado do qual, o poeta se sente em exílio.

O poema a seguir integra a obra “Rosa do Povo”, de Carlos Drummond de Andrade.

ÁPORO
Um inseto cava
cava sem alarme
perfurando a terra
sem achar escape.

Que fazer, exausto,
em país bloqueado,
enlace de noite
raiz e minério?
Eis que o labirinto
(oh razão, mistério)
presto se desata:

em verde, sozinha,
antieuclidiana,
uma orquídea forma-se.

22. (PUC-SP) A ideia de “áporo”, presente no título, apoia-se, ao longo do texto, em conceitos etimológicos e semânticos que dão sentido ao poema. Indique, nos conceitos a seguir relacionados, aquele que NÃO EXPLICITA o sentido da palavra, na interpretação do poema.
a) Labirinto antieuclidiano.
b) Situação sem saída.
c) Inseto cavador.
d) Um tipo de orquídea.
e) Problema difícil.

23. “A Rosa do Povo”, obra de Carlos Drummond de Andrade, publicada em 1945, além de sua temática social, marca-se por procedimentos estéticos capazes de transformar o fato cotidiano em fina expressão poética, como no fragmento a seguir, extraído de “A morte do leiteiro”.
(…)
A noite geral prossegue,
a manhã custa a chegar,
mas o leiteiro
estatelado, ao relento,
perdeu a pressa que tinha.

Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue,… não sei.
Por entre objetos confusos,
mal redimidos da noite,
duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos aurora.

(PUC-SP) Assim, neste trecho, o poeta constrói o tema do amanhecer, por força
a) do jogo sonoro de sons e silêncios.
b) do contraste de luzes e penumbras.
c) da relação de enlace amoroso e fim trágico.
d) da junção de líquidos e cores.
e) da densidade de sólidos e fluidos.

24. (FURG) “Procura da poesia”, um dos textos introdutórios de A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, revela:

a) um sujeito lírico ocupado com os problemas sociais enfrentados pelo País ao tempo da ditadura de Getúlio Vargas.
b) um desejo de recuperar, através da poesia, a infância passada em Itabira.
c) uma preocupação de caráter metapoético, uma vez que a própria linguagem poética é objeto da reflexão do sujeito lírico.
d) uma preocupação com os conflitos decorrentes da Segunda Guerra Mundial.
e) uma adesão do sujeito lírico ao princípio da arte pela arte, em contraposição a uma expressão poética politicamente comprometida.

25. (PUCCAMP)

I. “Preso à minha classe e a alguma roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?”
(“A flor e a náusea”)

II. “Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.”
(“O elefante”)

É correto afirmar que os fragmentos anteriores exemplificam a seguinte oscilação vivida por Carlos Drummond de Andrade, em A ROSA DO POVO:
a) os limites da condição de classe devem paralisar-me ou posso ativar mitos que representem meu esforço de solidarização?
b) devo pegar em armas contra minha própria classe ou esconder-me sob a pele de um medroso elefante?
c) posso me deixar fascinar pelo mundo das mercadorias ou devo me resignar à condição humilde de um elefante sem rumo?
d) as palavras da poesia constituem arma não desprezível ou não estaria nelas a força mágica de um elefante desbravador?
e) a impossibilidade da ascensão social condena-me ao tédio ou posso exibir nas ruas minha condição privilegiada de poeta?

26. (PUC) (…) Da garrafa estilhaçada,
no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
que é leite, sangue… não sei.
Por entre objetos confusos,
Mal redimidos da noite,
Duas cores se procuram,
suavemente se tocam,
amorosamente se enlaçam,
formando um terceiro tom
a que chamamos de aurora.
(PUC) Em 1945, Carlos Drummond de Andrade escreveu A Rosa do Povo, da qual o fragmento acima faz parte. Nele podemos verificar:
a) uma análise do comportamento humano, na relação cidade e campo;
b) apenas uma teoria de sua própria produção poética;
c) uma reflexão sobre os valores teológicos e metafísicos do homem contemporâneo;
d) uma temática social e política e uma denúncia das dilacerações do mundo;
e) n.d.a.

27. (FURG) Leia o texto “Nova canção do exílio”, presente em A rosa do povo, de Carlos Drummond de Andrade, e assinale a alternativa correta:

Nova canção do exílio

Um sabiá
na palmeira, longe.
Estas aves cantam
um outro canto.

O céu cintila
sobre flores úmidas.
Vozes na mata,
e o maior amor.

Só, na noite,
seria feliz:
um sabiá,
na palmeira longe.

Onde tudo é belo
e fantástico,
só, na noite,
seria feliz.
(Um sabiá,
na palmeira longe.)

Ainda um grito de vida e
voltar
para onde é tudo belo
e fantástico:
a palmeira, o sabiá,
o longe.

a) O texto, ao valer-se do discurso paródico, revela característica assumida pela linguagem modernista.

b) O texto, por seu ufanismo nacionalista, é expressão do Modernismo brasileiro da década de 20.

c) O texto, por sua intensa musicalidade, aproxima-se de proposta contida na poética simbolista.

d) O texto, ao apresentar uma concepção mística da vida, insere-se no âmbito da poética modernista.

e) O texto, por seu sentimentalismo exacerbado, aproxima-se de proposta contida na poética parnasiana.

28. (PUCCAMP)

I. “Preso à minha classe e a alguma roupas,
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjoo?
Posso, sem armas, revoltar-me?” (“A flor e a náusea”)

II. “Eis meu pobre elefante
pronto para sair
à procura de amigos
num mundo enfastiado
que já não crê nos bichos
e duvida das coisas.” (“O elefante”)
É correto afirmar que os fragmentos anteriores exemplificam a seguinte oscilação vivida por Carlos Drummond de Andrade, em A ROSA DO POVO:
a) os limites da condição de classe devem paralisar-me ou posso ativar mitos que representem meu esforço de solidarização?
b) devo pegar em armas contra minha própria classe ou esconder-me sob a pele de um medroso elefante?
c) posso me deixar fascinar pelo mundo das mercadorias ou devo me resignar à condição humilde de um elefante sem rumo?
d) as palavras da poesia constituem arma não desprezível ou não estaria nelas a força mágica de um elefante desbravador?
e) a impossibilidade da ascensão social condena-me ao tédio ou posso exibir nas ruas minha condição privilegiada de poeta?

29. (UFMS) Em relançamento de A rosa do povo, que fora lançado em 1945, Carlos Drummond de Andrade anota:

“Escrito durante os anos cruciais da Segunda Guerra Mundial, as preocupações então reinantes são identificadas em muitos de seus poemas, através da consciência e do modo pessoal de ser de quem os escreveu. Algumas ilusões feneceram, mas o sentimento moral é o mesmo”. Tendo por referência o conjunto de poemas de A rosa do povo, assinale a(s) passagem(ns) que expressa(m) esse “sentimento moral”.

(001) Na noite sem lua perdi o chapéu.
O chapéu era branco e dele passarinhos
saíam para a glória, transportando-me ao céu.

(002) No país dos Andrades, somem agora os sinais
que fixavam a fazenda, a guerra e o mercado,
bem como outros distritos; solidão das vertentes.
Eis que me vejo tonto, agudo e suspeitoso.

(004) As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

(008) A tristeza não me liquide, mas venha também
na noite de chuva, na estrada lamacenta, no bar fechando-se,
que lute lealmente com sua presa,
e reconheça o dia entrando em explosões de confiança, esquecimento, amor,
ao fim da batalha perdida.

(016) Dignidade da boca, aberta em ira justa e amor profundo,
crispação do ser humano, árvore irritada, contra a miséria e a fúria dos ditadores,
ó Carlito, meu e nosso amigo, teus sapatos e teu bigode caminham numa estrada de pó e esperança

SOMA: 020 = 004+016

30. (UFPel) Um dos mais festejados poetas brasileiros, Drummond traduziu em versos as angústias e aspirações de seu tempo, não raro análogas às atuais.
Dentre os conhecidos poemas a seguir, constantes de A Rosa do Povo, assinala aquele sobre o qual façamos uma afirmação verdadeira.

a) Em “Procura da poesia”, o poeta, por entender a poesia como objeto estético, recorre ao experimentalismo poético através de técnicas e recursos visuais, os quais o tornariam, anos mais tarde, ícone do movimento concretista na segunda fase do modernismo.

b) Há na obra poemas, tais como “Nosso tempo”, que, contextualizados na época da eclosão da Segunda Guerra Mundial, referem o medo do eu lírico frente aos acontecimentos e descrevem um panorama a partir de imagens e flashbacks aparentemente fragmentados.

c) O poema “Nova canção do exílio”, além de apresentar intertextualidade com conhecido poema do Romantismo, retrata o drama dos brasileiros que, perseguidos por um regime totalitário, precisam se refugiar na Europa.

d) “A flor e a náusea” inscreve o poeta no restrito círculo de modernistas que se preocupavam com as mazelas sociais do povo brasileiro, em especial as dos retirantes do sertão nordestino.

e) No polêmico “Passagem da noite”, o eu lírico encarna os ideais dos movimentos de esquerda no país, retratando as lutas dos trabalhadores, o que chocou a literatura elitista da época.

f) I.R. PARA RELEMBRAR OS POEMAS “A FLOR E A NÁUSEA” – “É FEIA. MAS É UMA FLOR. FUROU O ASFALTO, O TÉDIO, O NOJO E O ÓDIO”“NOSSO TEMPO” – “ESTE É TEMPO DE PARTIDO / TEMPO DE HOMENS PARTIDOS (…)” “NOVA CANÇÃO DO EXÍLIO” – “UM SABIÁ NA PALMEIRA, LONGE (…)”“PASSAGEM DA NOITE” – “É NOITE / SINTO QUE É NOITE / NÃO PORQUE A SOMBRA DESCESSE (…)”“PROCURA DA POESIA” – “NÃO FAÇA VERSOS SOBRE ACONTECIMENTOS (…)”

31. (FUVEST) Entre os seguintes versos de Alberto Caeiro, aqueles que, tomados em si mesmos, expressam ponto de vista frontalmente contrário a orientação dominante que se manifesta em A ROSA DO POVO, de Carlos Drummond de Andrade, são os que estão em:
a) “Se o que escrevo tem valor, não sou eu que o tenho: / O valor está ali, nos meus versos.”
b) “Eu nunca daria um passo para alterar / Aquilo a que chamam a injustiça do mundo.”
c) “Como o campo é grande e o amor pequeno! / Olho, e esqueço, como o mundo enterra e as árvores se despem.”
d) “Quando a erva crescer em cima da minha sepultura, / seja esse o sinal para me esquecerem de todo.”
e) “Quem me dera que eu fosse o pó da estrada / E que os pés dos pobres me estivessem pisando…”

Acordo para a morte.

Barbeio-me, visto-me, calço-me.

É meu último dia: um dia

cortado de nenhum pressentimento.

Tudo funciona como sempre.

Saio para a rua. Vou morrer.

32. Os versos acima iniciam um conhecido poema de A rosa do povo. Nele, é narrado o último dia de vida de um homem que vai viajar e não sabe que vai morrer. Trata-se do poema:

a) “Morte no avião”.

b) “Morte do leiteiro”.

c) “Caso do vestido”.

d) “Consolo na praia”.

e) “Versos à boca da noite”.

33. (PUC-SP) “Confidência do itabirano” faz parte do livro A rosa do povo. Nesta obra verifica-se:

a)uma análise do comportamento humano, na relação cidade e campo.

b) apenas uma teoria de sua própria produção poética.

c) uma reflexão sobre os valores teológicos e metafísicos do homem contemporâneo.

d) uma predileção por temas eróticos e sensuais.

e) uma temática social e política e uma denúncia das dilacerações do mundo.

34. (UEMA) Para responder às questões 09, 10 e 11, leia os poemas de Carlos Drummond de Andrade e de Olavo Bilac.

Texto V

Procura da Poesia

[…]

Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

[…]

Não forces o poema a desprender-se do limbo.

Não colhas no chão o poema que se perdeu.

Não adules o poema. Aceita-o

Como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada

no espaço.

Chega mais perto e contempla as palavras.

Cada uma

tem mil faces secretas sob a face neutra

e te pergunta, sem interesse pela resposta,

pobre ou terrível, que lhe deres:

Trouxeste a chave?

Repara:

ermas de melodia e conceito,

elas se refugiaram na noite, as palavras.

Ainda úmidas e impregnadas de sono,

rolam num rio difícil e se transformam em desprezo.

ANDRADE, Carlos Drummond de. A Rosa do Povo. 1 ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2012.

Profissão de fé

[…]

Invejo o ourives

Quando escrevo:

Imito o amor

Com que ele, em ouro, o alto-relevo

Faz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de Carrara

A pedra firo:

O alvo cristal, a pedra rara,

O ônix prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,

Sobre o papel

A pena, como em prata firme

Corre o cinzel.

[…]

Torce , aprimora, alteia, lima

A frase; e, enfim,

no verso de ouro engasta a rima

como um rubim.

Quero que a estrofe cristalina,

Dobrada ao jeito

Do ourives, saia da oficina

Sem um defeito.

[…]

Porque o escrever – tanta perícia,

Tanta requer,

Que oficio tal… nem há notícia

De outro qualquer.

BILAC, Olavo. Poesia. Rio de Janeiro: Agir, 2005.

Comparando os Textos V e VI sobre aspectos temáticos e organização enunciativa, observa-se que

a) discutem a ideia de que o ato de escrever poemas dispensa as tensões instauradas entre a busca da palavra e a relação do sujeito com o mundo.

b) inter-relacionam-se pelo diálogo sobre o cultivo de um pensamento temático que minimize o trabalho da palavra em si.

c) convergem para a temática do dilema da inquietação metafísica do eu lírico para interpretar a si e à sua época.

d) coincidem quanto ao emprego da metalinguagem para sugerir anseios e labutas inerentes ao fazer poético.

e) assemelham-se pelo desejo de expressão livre a valorização temática do cotidiano.

35. Nos dois textos, algumas marcas linguísticas autorizam a inferência de que a palavra é vetor de poder. As palavras e/ou expressões, de um mesmo campo semântico, que exemplificam esse vetor são

a) “úmidas”, “impregnadas de sono”, “forma definitiva”.

b) “mil faces secretas”, “reino”, “verso de ouro”.

c) “pobre ou terrível”, “cinzel”, “paralisados”.

d) “calma”, “melodia”, “alto-relevo”.

e) “mudos”, “oficina”, “alvo cristal”.

36.A Rosa do Povo, de Drummond, foi publicada em 1945, ao final da Segunda Guerra Mundial, e traz alguns poemas que enfocam anseios e questionamentos advindos desse momento histórico. Levando em conta o verso “Trouxeste a chave?”, pode-se inferir uma voz

a) orgulhosa, que indicia um falante seguro no processo de seleção vocabular poética.

b) crítica, que se refere à escassez vocabular dos dicionários quanto às palavras que atendem à linguagem poética.

c) introspectiva, que sinaliza para o leitor a tensão do enigma, resistência x disponibilidade, da palavra ao discurso poético.

d) convincente, que exige a necessidade de inventar palavras novas para atualizar a linguagem poética.

e) doutrinária, que ensina o leitor a aprisionar as palavras para a criação de uma linguagem poética.

37. (UFMS) A rosa do povo é um livro de poemas de Carlos Drummond de Andrade. Considerando a leitura desse

livro, assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

(001) A estrofe abaixo, do poema “A flor e a náusea”, apresenta uma atitude lírico-reflexiva que critica a tradição e suas regras, como no segundo verso, e aponta a saída para a poesia moderna – a ênfase no registro visual das coisas e na sua construção enfática pela linguagem:

“Em vão me tento explicar, os muros são surdos.

Sob a pele das palavras há cifras e códigos.

O sol consola os doentes e não os renova.

As coisas. Que triste são as coisas, consideradas sem ênfase.”

(002) Ao contrário de outros livros de Drummond, nesse é possível perceber que a forma, o significante, não é levado em consideração pelo poeta – nos versos não há o aproveitamento do ritmo, nem dos recursos sonoros, por exemplo – tendo o poeta se concentrado nos temas de sua época, fazendo do livro um manifesto político-ideológico, com uma visão puramente realista do homem e do mundo.

(004) No poema “Nosso tempo”, aparecem os seguintes versos:

“Este é tempo de partido

tempo de homens partidos.

(…)

Este é tempo de divisas,

tempo de gente cortada.

(…)”.

Neles, o tema da guerra está explicitamente visível, ainda que traduzido em metáforas paradoxais de um cruel lirismo – “homens partidos”, “gente cortada”, aprofundando e tornando mais próximas as fissuras humanas provocadas pelo conflito bélico.

(008) É visível o exagero no que toca à utilização da emoção bem como a opção por uma poesia que recusa qualquer lirismo em favor de um estilo que louva o homem político e suas relações sociais.

(016) Utilizando uma linguagem despretensiosa, o poeta cria textos profundamente críticos sobre a vida cotidiana, mostrando que a poesia incorpora elementos da vivência linguística desse mesmo cotidiano.

SOMA: 001+004+016 = 021

38. (FURG) “Consolo na praia”, de Carlos Drummond de Andrade, integra o livro A rosa do povo, publicado em 1945:

Vamos, não chores…

A infância está perdida.

A mocidade está perdida.

Mas a vida não se perdeu.

O primeiro amor passou.

O segundo amor passou.

O terceiro amor passou.

Mas o coração continua.

Perdeste o melhor amigo.

Não tentaste qualquer viagem.

Não possuis casa, navio, terra.

Mas tens um cão.

Algumas palavras duras,

em voz mansa, te golpearam.

Nunca, nunca cicatrizam.

Mas, e o humour?

A injustiça não se resolve.

À sombra do mundo errado

murmuraste um protesto tímido.

Mas virão outros.

Tudo somado, devias

precipitar-te, de vez, nas águas.

Estás nu na areia, no vento…

Dorme, meu filho.

Com base na leitura do poema acima, marque a alternativa correta.

a) O poema caracteriza-se pelo humor intenso do sujeito, que encontra no banho de mar a alegria de viver.

b) O poema caracteriza-se pelo inconformismo, levando o sujeito a atuar ativamente a favor da justiça social.

c) O poema caracteriza-se pela irreverência, o que acaba por levar o sujeito à resignação frente à perda dos amores, sugerindo a eliminação de sua vida.

d) O poema caracteriza-se pela desestruturação familiar, levando o sujeito a buscar uma nova profissão.

e) O poema caracteriza-se pela preocupação ambiental, levando o sujeito a protestar contra a destruição da natureza.

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

Texto para as questões 01 e 02.

Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

1.Que relação pode ser estabelecida entre o primeiro e o último verso do poema?

RESPOSTA:

Pode-se estabelecer uma relação de afinidade, pois o primeiro verso “Chega um tempo em que não se diz mais: Meu Deus” revela que nada mais surpreende o poeta, nada mais pode motivá-lo ou desmotivá-lo, e o último verso “A vida apenas, sem mistificação” apresenta a ideia da vida como algo mecânico, artificial e sem encantos, sem surpresas e sem motivação.

2. Dê uma explicação para o título do poema.

RESPOSTA:

Assim como na mitologia grega Atlas foi condenado por Zeus a carregar o mundo nas costas, o poeta sente-se condenado a carregar o mundo nos seus ombros. A vida, sendo mecânica e despojada de prazeres, torna-se apenas uma obrigação, um fardo que o ser humano está condenado a carregar sobre seus ombros.

3. (UNICAMP) Os Ombros Suportam o Mundo

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.  (Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.51.)

a) Na primeira estrofe, o eu lírico afirma categoricamente que “o coração está seco”. Que imagem, nessa primeira estrofe, explica o fato de o coração estar seco? Justifique sua resposta.

b) O último verso (“A vida apenas, sem mistificação”) fornece para o leitor o sentido fundamental do poema. Levando-se em conta o conjunto do poema, que sentido é sugerido pela palavra “mistificação”?

RESPOSTAS:

a) A imagem que se conecta à secura do coração é expressa no seguinte verso: “E os olhos não choram”. O coração, como símbolo portador dos sentimentos humanos, vive um “tempo de absoluta depuração”, processo este de que resulta o “coração seco”. Ora, o “coração está seco” porque, para o eu lírico, não é possível estabelecer com a vida uma relação simbólica a partir de afetos (amor, amizade) ou de crenças.

b) Desde a primeira estrofe até a última, o eu lírico procura colocar-se numa situação de extrema lucidez em relação a sua experiência pessoal. Não dizer “mais meu Deus” ou “meu amor”, ou não abrir a porta para as mulheres e nada esperar dos amigos, significa contar somente com suas forças e se recusar a ser enganado por algo ou por alguém. Aliás, o sentido da palavra “mistificação” abarca o campo semântico das ideias de ilusão, engodo, fantasia e embuste. Espera-se que o candidato perceba que “a vida apenas, sem mistificação” representa a decisão firme do eu lírico em contar apenas com suas próprias forças, o que está sugerido no título do poema: “Os ombros suportam o mundo”.

À Noite Dissolve os Homens

A noite
desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores que outrora me perturbavam.

A noite desceu. Nas casas, nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos, a noite espalhou o medo e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda, sem esperança…
Os suspiros acusam a presença negra que paralisa os guerreiros.

E o amor não abre caminho na noite.
A noite é mortal, completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens, diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias, apagou os almirantes cintilantes!
nas suas fardas.

A noite anoiteceu tudo… O mundo não tem remédio…
Os suicidas tinham razão.

Aurora, entretanto eu te diviso,
ainda tímida, inexperiente das luzes que vais ascender
e dos bens que repartirás com todos os homens.

Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes,
vapor róseo, expulsando a treva noturna.

O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram mas que avançam
na escuridão
como um sinal verde e peremptório.

Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.

O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes
se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez, uma inocência, um perdão
simples e macio…

Havemos de amanhecer.
O mundo se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.

4. O poema “A noite dissolve os homens” pode ser dividido em dois segmentos.

a) Quais são os dois segmentos? Indique o verso que os inicia.

b) Qual a visão do poeta em cada segmento?

RESPOSTAS:

a) O dois segmentos são compostos pela contraposição entre a noite e a aurora. O primeiro segmento começa com o primeiro verso da primeira estrofe: “A Noite desceu! Que noite!”, enquanto o segundo segmento começa com o primeiro verso da segunda estrofe: “Aurora”

b) No primeiro segmento, o poeta manifesta uma visão pessimista, já que a “noite”, ou seja, a guerra, a política totalitária do fascismo e sua repressão impossibilitam a liberdade do homem. A “noite” pode ser vista como a privação da luz, como metáfora da ausência de lucidez e de liberdade. No segundo segmento, o poeta manifesta uma visão esperançosa em um mundo melhor, mundo que virá com a “aurora”, com a queda dos regimes totalitários e com o resgate da liberdade.

5. (PUC) FAMÍLIA
Três meninos e duas meninas,
sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
o papagaio, o gato, o cachorro,
as galinhas gordas no palmo de horta
e a mulher que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
o cigarro, o trabalho, a reza,
a goiabada na sobremesa de domingo,
o palito nos dentes contentes,
o gramofone rouco toda noite
e a mulher que trata de tudo.

O agiota, o leiteiro, o turco,
o médico uma vez por mês,
o bilhete todas as semanas
branco! mas a esperança sempre verde.
A mulher que trata de tudo
e a felicidade.
ANDRADE, Carlos Drummond de. “Sentimento do mundo”. Rio de Janeiro: Record, 1999, p.58.
a) O poema de Carlos Drummond de Andrade, publicado em seu livro de estreia, em 1930, apresenta aspectos que ainda mantêm uma relação direta com a primeira fase do Modernismo. Cite duas características do texto que reafirmam valores e procedimentos do projeto modernista brasileiro.

RESPOSTA:

O uso da linguagem coloquial; a opção pelo tom prosaico na poesia; a liberdade formal, utilizando versos livres e brancos; a ironia e a crítica aos valores tradicionais burgueses.

 6.(UFF) Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente. (Carlos Drummond de Andrade)

Toda noite – tem auroras,

Raios – toda a escuridão.

Moços, creiamos, não tarda

A aurora da redenção. Castro Alves. Obra Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1976. p. 212

a) O fragmento de Castro Alves e o poema de Carlos Drummond de Andrade apresentam verbos no modo imperativo: “ Moços, creiamos, não tarda” (v.3) “ Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.” (v.7) Justifique o emprego do imperativo, correlacionando as semelhanças temáticas entre os versos destacados.

b) Explique, com frases completas, que características da poesia socialmente engajada do Romantismo estão presentes no texto de Castro Alves e no de Carlos Drummond de Andrade.

RESPOSTAS:

a) Nos verbos empregados no imperativo em ambos os poemas, depreende-se uma exortação, incitação, estímulo a não nos afastarmos e a irmos de mãos dadas (texto I) e a crermos (fragmento de Castro Alves) em mudanças possíveis.

b) Em ambos os poemas, depreende-se um convite aos leitores para efetivarem uma ação social, em concordância com as ideias de união em torno de um projeto.

Poema da Necessidade

É preciso casar João,
é preciso suportar Antônio,
é preciso odiar Melquíades
é preciso substituir nós todos.

É preciso salvar o país,
é preciso crer em Deus,
é preciso pagar as dívidas,
é preciso comprar um rádio,
é preciso esquecer fulana.

É preciso estudar volapuque,
é preciso estar sempre bêbado,
é preciso ler Baudelaire,
é preciso colher as flores
de que rezam velhos autores.

É preciso viver com os homens
é preciso não assassiná-los,
é preciso ter mãos pálidas
e anunciar O FIM DO MUNDO.

7. Tomando como referência a leitura da obra Sentimento do mundo, qual a explicação cabível ao último verso do “Poema da necessidade”?

RESPOSTA:

Em “e anunciar o FIM DO MUNDO”, último verso do “Poema da necessidade”, o mundo que o poeta deseja anunciar o fim é o mundo das guerras e das injustiças sociais, o mundo do isolamento e da privação. Não se trata, portanto, de uma visão pessimista, mas de um desejo de mudar as regras que tornam o mundo “caduco”, como dirá o poeta em “Mãos dadas”, outro poema do livro.

 8. (FUVEST)  Leia o seguinte poema.

TRISTEZA DO IMPÉRIO

Os conselheiros angustiados

ante o colo ebúrneo

das donzelas opulentas

que ao piano abemolavam

“bus-co a cam-pi-na se-re-na

pa-ra-li-vre sus-pi-rar”,

esqueciam a guerra do Paraguai,

o enfado bolorento de São Cristóvão,

a dor cada vez mais forte dos negros

e sorvendo mecânicos

uma pitada de rapé,

sonhavam a futura libertação dos instintos

e ninhos de amor a serem instalados nos arranha-céus de Copacabana, com rádio e telefone automático.Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.

a) Compare sucintamente “os conselheiros” do Império, tal como os caracteriza o poema de Drummond, ao protagonista das Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

b) Ao conjugar de maneira intempestiva o passado imperial ao presente de seu próprio tempo, qual é a percepção da história do Brasil que o poeta revela ser a sua? Explique resumidamente.

RESPOSTAS:

a) Os “conselheiros” do Império, citados no poema de Drummond, são representantes de uma elite burguesa que se caracteriza pela insensibilidade social e alienação política, grupo em que está inserido também Brás Cubas, protagonista do romance de Machado de Assis. Entregues a futilidades e a prazeres imediatos, esquecem os verdadeiros dramas que os cercam, moldam as suas vidas de acordo com os interesses individuais de um mundo de aparências e experimentam o tédio e a angústia de quem não luta pela realização pessoal.

b) Ao conjugar o passado imperial ao presente de seu próprio tempo, Drummond apresenta uma visão crítica e pessimista da História do Brasil, pois as atitudes da elite do sistema totalitarista de Getúlio imitam as da elite do século XIX no que diz respeito a frivolidade, alienação e provincianismo.  

OS MORTOS DE SOBRECASACA

Havia a um canto da sala um álbum de fotografias
[intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.

Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos
[retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas. Carlos Drummond de Andrade   (Sentimento do mundo, 1940)

9. No poema “Os mortos de sobrecasaca”, há comunicação entre a vida e a morte. a)Explique como se dá essa comunicação usando elementos do texto.

b)O álbum pode ser comparado a um túmulo. Por quê? Justifique sua resposta com elemento do texto.

RESPOSTAS:

a) A vida e a morte estão ligadas por meio de um álbum “ em que todos se debruçavam”

b)Porque ali “jazem” todos os mortos, inclusive aos poucos roídos por um verme, agente literariamente consagrado da morte

(UNICAMP) Para as questões 10 e 11, considere os versos abaixo dos poemas “Sentimento do mundo” e “Noturno à janela do apartamento”, de Carlos Drummond de

Andrade, ambos publicados no livro Sentimento do mundo.

esse amanhecer

mais noite que a noite.

(Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2012, p.12.)

Silencioso cubo de treva:

um salto, e seria a morte.

Mas é apenas, sob o vento,

a integração na noite.

Nenhum pensamento de infância,

nem saudade nem vão propósito.

Somente a contemplação

de um mundo enorme e parado.

A soma da vida é nula.

Mas a vida tem tal poder:

na escuridão absoluta,

como líquido, circula.

Suicídio, riqueza, ciência…

A alma severa se interroga

e logo se cala. E não sabe

se é noite, mar ou distância.

Triste farol da Ilha Rasa. (Idem, p. 71.)

10. Considerando a obra Sentimento do mundo em seu conjunto e tendo em vista que os primeiros versos transcritos pertencem ao poema que abre e dá título ao livro de Drummond, e que o segundo poema, citado integralmente, corresponde ao fechamento do volume, é correto afirmar que

a) a oposição de base dos poemas reside nas imagens contrapostas de luz e trevas, manifestando o tema do pessimismo acerca da condição humana.

b) o percurso figurativo dos poemas é marcado apenas pelas imagens da noite, associadas às ideias de negatividade e de esperança para a humanidade.

c) a unidade de sentido do conjunto dos textos poéticos reside na clássica oposição entre luz e trevas, sendo que o percurso figurativo manifesta o tema da maldade.

d) as imagens de luz e trevas significam a luta eterna entre o bem e o mal, o que se confirma no verso “Suicídio, riqueza, ciência”, que sugere o impasse do eu lírico.

11. A visão de mundo do eu lírico em Drummond é marcada pela ironia e pela dúvida constante, cujo saldo final é negativo e melancólico (“Triste farol da Ilha Rasa”). Tal perspectiva assemelha-se à do

a) personagem Leonardo, do romance Memórias de um sargento de milícias.

b) personagem Carlos, da obra Viagens na minha terra.

c) narrador do romance O cortiço.

d) narrador do romance Memórias póstumas de Brás Cubas.

Texto para as questões 12 e 13.

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, do tempo presente, os homens presentes, a vida presente.

12. No primeiro verso do poema, o adjetivo “caduco” significa, no contexto, que o mundo:

a) é feito de justiças e estas estão se perdendo.

b) está deixando de ser um lugar tranquilo.

c) é um lugar velho e sem finalidade.

d) é um lugar onde as normas não têm mais razão de ser.

e) é um lugar que deve manter as normas para adquirir sentido.

13. No contexto da obra Sentimento do mundo, o poema “Mãos dadas” representa:

a) a impossibilidade de contato do poeta com os seus semelhantes.

b) a normalidade do mundo e a solidariedade entre os homens.

c) uma reação do poeta à ideia de um mundo “caduco” e o desejo de sair do seu universo interior para se completar com o próximo.

d) a ausência de consciência do poeta dos problemas sociais, uma vez que ele deseja apenas falar sobre a sua solidão.

e) a ausência de desejo de transformar o mundo, já que isso implicaria numa transformação do “eu” do poeta.

Texto para as questões 14 e 15.

Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.

Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.

Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.

Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer

esse amanhecer
mais noite que a noite.

14. Na primeira estrofe do poema, as duas mãos simbolizam:

a) a incapacidade do poeta de sentir o mundo.

b) a consciência do poeta que se estende em direção ao outro, no intuito de sentir o mundo.

c) a própria poesia e o mecanismo da criação poética.

d) o sentimento de culpa do poeta, devido à sua incapacidade de compreender seu semelhante.

e) o desejo do poeta de afastar-se do seu semelhante.

15. Sobre o poema, pode-se afirmar que o eu lírico:

a) sente-se preparado para auxiliar os homens.

b) pede perdão ao seus semelhantes porque não trouxe armas para o combate.

c) pede perdão aos seus semelhantes porque não se sente capacitado para auxiliá-los.

d) acredita na construção de um mundo melhor, o que pode ser confirmado pelos dois versos finais do poema.

e) sente que os homens não estão preparados para auxiliá-lo

16. Sobre Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade, é correto afirmar:

a) Trata-se de uma obra exclusivamente subjetiva, apresentando uma visão idealizada do Brasil.

b) “O sentimento de insuficiência do eu, entregue a si mesmo, leva-o a querer completar-se pela adesão ao próximo, substituindo os problemas pessoais pelos problemas de todos.”

c) A obra não apresenta o problema da incomunicabilidade, tanto no plano da existência quanto no plano da criação artística.

d) Trata-se do primeiro livro do poeta escrito em conformidade com as novas técnicas modernistas.

e) No livro, o universo interior do poeta não se relaciona com o mundo exterior, pois o livro focaliza apenas os problemas sociais.

17. (UFV-MG) Leia as passagens abaixo, extraídas de Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade:

“I.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento. (“Sentimento do mundo”)

II.

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói.  (“Confidência do itabirano”)

III.
Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto de me contar.
Por isso me dispo, por isso grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias
preciso de todos.  (“Mundo grande”)

IV.

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes de calor e frio, falta dinheiro, fome e desejo sexual.  (“Elegia 1938”)

V.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.”
(“Mãos dadas”)

Apesar do tom intimista e quase confessional da poesia de Carlos Drummond de Andrade, podemos encontrar alguns traços em que se desenvolve certa experiência histórica. Assinale a alternativa em que as três passagens ilustram a vivência das transformações sociais e econômicas por parte do sujeito lírico.

a) I, III e IV.

b) I, III e V.

c) II, III e V.

d) II, III e IV.

e) I, II e IV.

18. (FATEC) Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente.

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940) Considerando o poema “Mãos dadas”, no conjunto da obra a que pertence (Sentimento do mundo), é correto afirmar que Carlos Drummond de Andrade

a) recusa os princípios formais e temáticos do primeiro Modernismo.

b) tematiza o lugar da poesia num momento histórico caracterizado por graves problemas mundiais.

c) vale-se de temas que valorizam aspectos recalcados da cultura brasileira.

d) alinha-se à poética que critica as técnicas do verso livre.

e) relativiza sua adesão à poesia comprometida com os dilemas históricos, pois a arte deve priorizar o tema da união entre os homens.

 19. (UFT) Com base na leitura de Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de  Andrade, é INCORRETO afirmar que, nessa obra, o poeta  

a) Aborda problemas de seu tempo e de seus contemporâneos.

b) Convida o leitor a participar da criação poética.

c) Prega a esperança de emancipação político-social do País.

d) Se dedica ao elogio da mulher amada e perdida.

20. (UFU/MG) Leia os trechos a seguir e assinale a alternativa correta.

“Participação na vida, identificação com os ideais do tempo (e esses ideais existem, sempre, mesmo sob as mais sórdidas aparências de decomposição), curiosidade e interesse pelos outros homens, apetite sempre renovado em face das coisas, desconfiança da própria e excessiva riqueza interior, eis aí algumas indicações que permitirão talvez ao poeta deixar de ser um bicho esquisito para voltar a ser, simplesmente homem.”

Carlos Drummond de Andrade. Confissões de Minas.

“Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

[…]

Meu coração não sabe
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que os homens se comunicam.)” Carlos Drummond de Andrade. Sentimento do mundo.

a) Sentimento do mundo realiza a proposta poética articulada neste trecho de Confissões de Minas de uma poesia comprometida socialmente, uma vez que a voz do eu lírico reflete um desacerto com a sua época.

b) Sentimento do mundo, obra que traz um comprometimento do poeta com a denúncia de um sistema político repressor, foi escrito durante a década de 70, no auge da ditadura militar, refletindo os erros e as injustiças sociais desse momento histórico.

c) O trecho do poema acima pode ser considerado romântico, uma vez que o eu lírico volta-se exclusivamente para os problemas de seu coração e faz da poesia o meio confessional de seus sentimentos íntimos, isolando-se de todos.

d) Confissões de Minas apresenta a proposta de uma poesia reclusa em si mesma, longe dos homens e da sociedade, o que pode ser comprovado em trechos como “apetite sempre renovado em face das coisas” e “desconfiança da própria e excessiva riqueza anterior”.

21. (FATEC) Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940) Assinale a alternativa que apresenta o provérbio cujo significado se aproxima do tema dos versos O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

a) Depois da tempestade vem a bonança.

b) Uma andorinha só não faz verão.

c) Deus ajuda quem cedo madruga.

d) De grão em grão a galinha enche o papo.

e) A esperança é a última que morre.

 22. (UFU) Leia o texto abaixo.

“Poetas de camiseiro, chegou vossa hora,

poetas de elixir de inhame e de tonofosfã

chegou vossa hora, poetas do bonde e do rádio,

poetas jamais acadêmicos, último ouro do Brasil.

Em vão assassinaram a poesia nos livros,

em vão houve putschs, tropas de assalto, depurações

Os sobreviventes aqui estão,

poetas honrados poetas diretos da Rua Larga.

(As outras ruas são muito estreitas, só nesta cabem a poeira, o amor, e a Light.)” DRUMMOND. Sentimento do mundo.

Tendo em vista a poesia acima, assinale a alternativa INCORRETA.

a) Paralelamente a temas líricos tradicionais, aparece no texto uma proposta de poetizar elementos até então não poéticos, tais como produtos da modernização do início do século, como o bonde, a luz elétrica e o rádio.

b) O eu-lírico pressupõe que a poesia assassinada pelos revolucionários poderá ser resgatada por um herói provinciano que virá do povo, apresentado como honrado e trabalhador, considerado “o último ouro do Brasil”.

c) A estrutura do poema demonstra o tema discutido: a libertação da poesia das regras tradicionais, por meio do uso de versos brancos e livres, e da enumeração caótica, como “poeira”, “amor” e “Light”.

d) O texto pressupõe um exercício metalinguístico que questiona as regras da poesia tradicional, instaurando uma nova poética do cotidiano, mais livre e ampla, o que fica demonstrado claramente na metáfora “Rua Larga”.

23. (FATEC) Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco
Também não cantarei o mundo futuro
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças
Entre eles, considero a enorme realidade
O presente é tão grande, não nos afastemos
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente

Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo (1940)

Considere as seguintes afirmações sobre o texto.

I.Trata-se de um poema em que o eu lírico afirma seu desejo de que a poesia possa reconstruir aquilo que, tendo sido destruído no passado, permanece atual em sua memória.

II. O poeta manifesta a confiança de que sua nova poesia poderá superar os problemas pessoais que quase o levaram ao suicídio e o fizeram desejar isolar-se.

III. O poeta convoca outros poetas para que, juntos, possam se libertar das velhas convenções que prejudicam a poesia moderna.

IV. Os versos da 1ª estrofe indicam o anseio do eu lírico de que sua poesia se aproxime dos homens e ajude a transformar a vida presente.

V. Na 2ª estrofe, o eu lírico nega que a poesia desse momento histórico deva tratar de temas sentimentais ou amorosos. São corretas apenas as afirmações

a) I, II e III.

b) I e IV.

c) II e III.

d) III e IV.

e) IV e V

TEXTO PARA AS QUESTÕES 24 A 26

Confidência do Itabirano

Carlos Drummond de Andrade

Alguns anos vivi em Itabira.

Principalmente nasci em Itabira.

Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.

Noventa por cento de ferro nas calçadas.

Oitenta por cento de ferro nas almas.

E esse alheamento do que na vida é porosidade e comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,

vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.

E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,

é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:

esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,

este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;

este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;

este orgulho, esta cabeça baixa…

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.

Hoje sou funcionário público.

Itabira é apenas uma fotografia na parede.

Mas como dói!

24. (FUVEST) Tendo em vista que o poema de Drummond contém referências a aspectos geográficos e históricos determinados, considere as seguintes afirmações:

I. O poeta é “de ferro” na medida em que é nativo de região caracterizada pela existência de importantes jazidas de minério de ferro, intensamente exploradas.

II. O poeta revela conceber sua identidade como tributária não só de uma geografia, mas também de uma história, que é, igualmente, a da linhagem familiar a que pertence.

III. A ausência de mulheres de que fala o poeta refere-se à ampla predominância de população masculina, na zona de mineração intensiva de que ele é originário.

Está correto o que se afirma em

a) I, somente.

b) III, somente.

c) I e II, somente.

d) II e III, somente.

e) I, II e III.

25. (FUVEST ) No texto de Drummond, o eu lírico

a) considera sua origem itabirana como causadora de deficiências que ele almeja superar.

b) revela-se incapaz de efetivamente comunicar-se, dado o caráter férreo de sua gente.

c) ironiza a si mesmo e satiriza a rusticidade de seu passado semirrural mineiro.

d) dirige-se diretamente ao leitor, tornando assim patente o caráter confidencial do poema.

e) critica, em chave modernista, o bucolismo da poesia árcade mineira.

26. (FUVEST) Na última estrofe, a expressão que justiça o uso da conjunção sublinhada no verso “Mas como dói!” é:

a) “Hoje”.

b) “funcionário público”.

c) “apenas”.

d) “fotografia”.

e) “parede”.

TEXTO PARA AS QUESTÕES 27 A 31.

REVELAÇÃO DO SUBÚRBIO


Quando vou para Minas, gosto de ficar de pé, contra a vidraça do carro,
vendo o subúrbio passar.
O subúrbio todo se condensa para ser visto depressa,
com medo de não repararmos suficientemente
em suas luzes que mal têm tempo de brilhar.
A noite come o subúrbio e logo o devolve,
ele reage, luta, se esforça,
até que vem o campo onde pela manhã repontam laranjais
e à noite só existe a tristeza do Brasil.”

27. (FUVEST) Para a caracterização do subúrbio, o poeta lança mão, principalmente, da(o)

a) personificação.

b) paradoxo.

c) eufemismo.

d) sinestesia.

e) silepse.

28. (FUVEST ) Considerados no contexto, dentre os mais de dez verbos no presente, empregados no poema, exprimem ideia, respectivamente, de habitualidade e continuidade

a) “gosto” e “repontam”.

b) “condensa” e “esforça”.

c) “vou” e “existe”.

d) “têm” e “devolve”.

e) “reage” e “luta”.

29. (FUVEST) Em consonância com uma das linhas temáticas principais de Sentimento do mundo, o vivo interesse que, no poema, o eu lírico manifesta pela paisagem contemplada prende-se, sobretudo, ao fato de o subúrbio ser

a) bucólico.

b) popular.

c) interiorano.

d) saudosista.

e) familiar.

30. (FUVEST) No poema de Drummond, a presença dos motivos da velocidade, da mecanização, da eletricidade e da metrópole conigura-se como

a) uma adesão do poeta ao mito do progresso, que atravessa as letras e as artes desde o surgimento da modernidade.

b) manifestação do entusiasmo do poeta moderno pela industrialização por que, na época, passava o Brasil.

c) marca da influência da estética futurista da Antropofagia na literatura brasileira do período posterior a 1940.

d) uma incorporação, sob nova inflexão política e ideológica, de temas característicos das vanguardas que influenciaram o Modernismo antecedente.

e) uma crítica do poeta pós-modernista às alterações causadas, na percepção humana, pelo avanço indiscriminado da técnica na vida cotidiana.

31. (FUVEST) Segundo o crítico e historiador da literatura Antonio Candido de Mello e Souza, justamente na década que presumivelmente corresponde ao período de elaboração do livro a que pertence o poema, o modo de se conceber o Brasil havia sofrido “alteração marcada de perspectivas”. A leitura do poema de Drummond permite concluir corretamente que, nele, o Brasil não mais era visto como país

a) agrícola (fornecedor de matéria-prima), mas como industrial (produtor de manufaturados).

b) arcaico (retardatário social e economicamente) mas, sim, percebido como moderno (equiparado aos países mais avançados).

c) provinciano (caipira, localista) mas, sim, cosmopolita (aberto aos intercâmbios globais).

d) novo (em potência, por realizar-se), mas como subdesenvolvido (marcado por pobreza e atroia).

e) rural (sobretudo camponês), mas como suburbano (ainda desprovido de processos de urbanização).

32. (UFU) PRIVILÉGIO DO MAR

Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.

O edifício é sólido e o mundo também.

Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vêm cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.

O mundo é mesmo de cimento armado.

Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta… improvável…
Mas nas águas tranquilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!

Podemos beber honradamente nossa cerveja.Carlos Drummond de Andrade. “Sentimento do mundo”.
Considerando o poema acima e a obra “Sentimento do mundo”, marque a alternativa INCORRETA.
a) O terraço, neste poema, é lugar de encontros amorosos, pois “abriga mil corpos”, o que caracteriza o texto como lírico amoroso, de influência romântica.
b) No último verso, a palavra “honradamente” confere um sentido irônico ao poema, pois caracteriza uma classe social privilegiada, indiferente aos problemas que não lhe afligem de maneira direta.
c) O edifício de “cimento armado”, neste poema, confronta-se com o espaço de outro poema do livro “Morro da Babilônia”, metaforizando duas classes sociais: a primeira, protegida em seus privilégios, e a última, excluída e ameaçadora.
d) O poema acima confirma a vocação de poeta social em Drummond, que coloca, em vários momentos, a poesia a favor da denúncia, e que nestes versos se reflete na ideia de privilégios econômicos para um segmento social específico.

33. (UFV-MG) A partir da leitura do poema abaixo, assinale a afirmativa INCORRETA.

“Havia a um canto da sala um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasacas.
Um verme principiou roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas .”  (“Os mortos de sobrecasaca”)

a) O poema desenvolve um sentimento sutil mas profundo sobre objetos que rodeiam o sujeito lírico.

b) O “álbum de fotografias” pode ser entendido como um sinal de lirismo, pois remete às sensações íntimas do sujeito lírico.

c) Não há qualquer traço de lirismo, pois não se trata de um poema de amor.

d) O poema trata da experiência afetiva da memória, uma das marcas da poesia de Carlos Drummond de Andrade.

e) O “verme” que rói as fotografias simboliza a passagem do tempo, que envelhece as coisas e as pessoas.

34. (PUC-SP) A obra Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade,

a) aborda temática fundamentalmente lírica e exalta as relações positivas entre o indivíduo e o mundo.

b) preocupa-se com procedimentos metalinguísticos na medida em que, em seus poemas, volta-se para a explicação do processo de produção poética.

c) despreza a abordagem de sentimentos negativos e, ignorando a questão do medo, enaltece as ações vitoriosas.

d) desenvolve temas de caráter político e social e faz da poesia um instrumento de denúncia das dilacerações do mundo.

e) valoriza a temática social, de um tempo marcado pela resistência aos totalitarismos, em detrimento dos aspectos estéticos do texto.

35. (UFMG) Na poesia de Carlos Drummond de Andrade, na fase a que pertence “Sentimento do mundo”, a percepção da “insuficiência do eu” leva o poeta a querer aproximar-se dos outros e participar dos problemas humanos em geral.
Assinale a alternativa em que os versos, transcritos dessa obra, explicitam tal desejo de participação.

a) Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.
“Elegia 1938”

b) Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
“Mundo grande”

c) Os inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe imigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.
“Inocentes do Leblon”

d) Silencioso cubo de treva:
um salto, e seria a morte.
Mas é apenas, sob o vento,
a integração na noite.
“Noturno à janela do apartamento”

36. (PUC-SP)

A noite dissolve os homens [Carlos Drummond de Andrade]

A noite desceu. Que noite!
Já não enxergo meus irmãos.
E nem tão pouco os rumores
que outrora me perturbavam.
A noite desceu. Nas casas,
nas ruas onde se combate,
nos campos desfalecidos,
a noite espalhou o medo
e a total incompreensão.
A noite caiu. Tremenda,
sem esperança… Os suspiros
acusam a presença negra
que paralisa os guerreiros.
E o amor não abre caminho
na noite. A noite é mortal,
completa, sem reticências,
a noite dissolve os homens,
diz que é inútil sofrer,
a noite dissolve as pátrias,
apagou os almirantes
cintilantes! nas suas fardas.
A noite anoiteceu tudo…
O mundo não tem remédio…
Os suicidas tinham razão.

Aurora,
entretanto eu te diviso, ainda tímida,
inexperiente das luzes que vais acender
e dos bens que repartirás com todos os homens.
Sob o úmido véu de raivas, queixas e humilhações,
adivinho-te que sobes, vapor róseo, expulsando a treva noturna.
O triste mundo fascista se decompõe ao contato de teus dedos,
teus dedos frios, que ainda se não modelaram
mas que avançam na escuridão como um sinal verde e peremptório.
Minha fadiga encontrará em ti o seu termo,
minha carne estremece na certeza de tua vinda.
O suor é um óleo suave, as mãos dos sobreviventes se enlaçam,
os corpos hirtos adquirem uma fluidez,
uma inocência, um perdão simples e macio…
Havemos de amanhecer. O mundo
se tinge com as tintas da antemanhã
e o sangue que escorre é doce, de tão necessário
para colorir tuas pálidas faces, aurora.

Do poema acima, que integra a obra Sentimento do Mundo, de Carlos Drummond de Andrade, pode-se afirmar que:

a) apresenta um tema eminentemente negativo sem perspectiva de solução.

b) usa todas as referências do tempo para caracterizar apenas as possibilidades de libertação.

c) estrutura-se inteiramente em versos populares apoiados em métrica bem definida.

d) compõe-se de dois blocos de versos que se opõem temática e estruturalmente.

e) constrói-se de forma contrastiva e emprega as palavras em seu significado estritamente referencial.

37. (UFMG) Considerando-se a leitura de “Sentimento do mundo”, de Carlos Drummond de Andrade, é INCORRETO afirmar que, nessa obra, o poeta
a) exclui, ao voltar-se para os problemas coletivos, sua herança provinciana.
b) integra à experiência do presente as dimensões temporais do passado e do futuro.
c) opõe-se, por um sentimento de justiça, à divisão da sociedade em classes.
d) problematiza o individualismo característico de sua própria poesia.

(FUVEST) TEXTO PARA AS QUESTÕES 38 E 39

Morro da Babilônia
À noite, do morro
descem vozes que criam o terror
(terror urbano, cinquenta por cento de cinema,
e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua
[geral).
Quando houve revolução, os soldados se espalharam
[no morro,
o quartel pegou fogo, eles não voltaram.
Alguns, chumbados, morreram.
O morro ficou mais encantado.
Mas as vozes do morro
não são propriamente lúgubres.
Há mesmo um cavaquinho bem afinado
que domina os ruídos da pedra e da folhagem
e desce até nós, modesto e recreativo,
como uma gentileza do morro. Carlos Drummond de Andrade, Sentimento do mundo.
38. Guardadas as diferenças que separam as obras a seguir comparadas, as tensões a que remete o poema de Drummond derivam de um conflito de
a) caráter racial, assim como sucede em A cidade e as serras.
b) grupos linguísticos rivais, de modo semelhante ao que ocorre em Viagens na minha terra.
c) fundo religioso e doutrinário, como o que agita o enredo de Til.
d) classes sociais, tal como ocorre em Capitães da areia.
e) interesses entre agregados e proprietários, como o que tensiona as Memórias póstumas de Brás Cubas.

39. Leia as seguintes afirmações sobre o poema de Drummond, considerado no contexto do livro a que pertence:
I. No conjunto formado pelos poemas do livro, a referência ao Morro da Babilônia – feita no título do texto – mais as menções ao Leblon e ao Méier, a Copacabana, a São Cristóvão e ao Mangue, – presentes em outros poemas -, sendo todas, ao mesmo tempo, espaciais e de classe, constituem uma espécie de discreta topografia social do Rio de Janeiro.
II. Nesse poema, assim como ocorre em outros textos do livro, a atenção à vida presente abre-se também para a dimensão do passado, seja ele dado no registro da história ou da memória.
III. A menção ao “cavaquinho bem afinado”, ao cabo do poema, revela ter sido nesse livro que o poeta finalmente assumiu as canções da música popular brasileira como o modelo definitivo de sua lírica, superando, assim, seu antigo vínculo com a poesia de matriz culta ou erudita.
Está correto o que se afirma em
a) I, apenas.
b) I e II, apenas.
c) III, apenas.
d) II e III, apenas.
e) I, II e III.

40. (UFU) CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas. (Carlos Drummond de Andrade, “Sentimento do mundo”).
Assinale a afirmativa que NÃO se refere ao poema anterior.
a) “Seu lirismo, sem prejuízo da mais alta qualidade, nunca foi puro, mas mesclado de drama e pensamento”. (Davi Arrigucci).
b) “Na sua poesia, o “prosaico” não é negação, é antes condição do poético – (…) é um modo, em outras palavras, de intensificar-se o poético pela própria força do contraste.” (Sérgio Buarque de Holanda).
c) “(…) com esse volume inicia-se a descoberta e conquista do tempo. O gauche que vivia a espiar de um canto sombrio e torto começa a se mover e explorar o espaço e o tempo ao seu redor”. (Affonso Romano de Sant’Anna).
d) “A poesia de Carlos Drummond de Andrade, poesia de precisão máxima, está sem música”. (Otto Maria Carpeaux).

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

1.(FUVEST) Em A Hora da Estrela, o narrador apresenta a seguinte reflexão: ” Pois na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, é o instante de glória de cada um e é quando como no canto coral se ouvem agudos sibilantes”.
Com base nela, explique:
a) Por que o romance tem o título A hora da estrela?
b) Por que é irônica a relação entre o título e a história de Macabéa?
RESPOSTAS:
a) A hora da estrela alude, metaforicamente, à morte, ao instante de fulguração rápida, mas reveladora de todo um sentido de existência. É a epifania à maneira de Clarice Lispector, dentro da ótica existencialista da busca do sentido da experiência humana.
b) A ironia, trágica no caso, dá-se pela discrepância entre a breve aspiração de glória de Macabéa, insuflada pela cartomante (a miragem da estrela hollywoodiana), a sua condição social (migrante nordestina marginalizada no Rio de Janeiro) e seu destino: atropelada por um carro de luxo, na porta do Copacabana Palace. A hora da estrela, banal e reveladora, é o instante maior de Macabéa, anônima, estatelada na rua, mas objeto da atenção fugaz de transeuntes anônimos.

2. (UP) Observe o trecho abaixo, sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector:
Macabéa é então um produto do seu narrador. Aliás, toda personagem, é, de fato, o produto de um narrador que conta a história, seja este narrador quem for. Mas neste romance há uma situação especial: Macabéa nasce mesmo do narrador que faz parte da história enquanto personagem. Ele é autor do romance em que nos conta como ele “cria” Macabéa. Ele é o criador e Macabéa é sua criatura. Macabéa existe como projeção dele, como parte dele e existe em função dele. Ou seja: Macabéa existe na sua relação com o narrador, o personagem Rodrigo S. M. É ele quem nos conta a história de como ele, escritor, inventa Macabéa, explicando, a todo momento, como este trabalho, difícil, de lidar com as palavras e escrever um romance, acontece. (R. Spouza, in Macabéa: uma personae)
a) Que passagem do texto pode comprovar as afirmações acima?
b) Como é chamado o artifício literário explícito nas linhas finais do texto?
RESPOSTAS:
a) A passagem em que Macabéa, ao se olhar no espelho, vê a imagem imediata de Rodrigo S. M.
b) Metalinguagem

3. (FUVEST) Leia este trecho de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, no qual Macabéa, depois de receber o aviso que seria despedida do emprego, olha-se no espelho:
Depois de receber o aviso foi ao banheiro para ficar sozinha porque estava toda atordoada. Olhou maquinalmente ao espelho que encimava a pia imunda e rachada, cheia de cabelos, o que tanto combinava com sua vida. Pareceu-lhe o espelho baço e escurecido não refletia imagem alguma. Sumira por acaso sua existência física? Logo depois passou a ilusão e enxergou a cara toda deformada pelo espelho ordinário: o nariz tornado enorme como o de um palhaço de nariz de papelão. Olhou-se e levemente pensou: tão jovem e já com ferrugem.
a) Neste trecho, o fato de parecer, a Macabéa, não se ver refletida no espelho liga-se imediatamente ao aviso de que seria despedida. Projetando essa ausência de reflexo no contexto mais geral da obra, como você interpreta?
b) Também no contexto da obra, explique por que o narrador diz que Macabéa pensou “levemente”?
RESPOSTAS:
a) O fato de Macabéa não se ver refletida no espelho remete ao fato de ser a nordestina uma ” Maria Ninguém” que sequer é nomeada em boa parte da obra. A datilógrafa é um ser “invisível “, que não é percebido pela maioria da sociedade. A sua potencial demissão apenas reforça o seu caráter de pessoa dispensável, descartável pelo sistema, “enferrujada”.
b) A alienação de Macabéa a impede de considerar qualquer questão em toda a sua amplitude. Pensa “levemente”, ou superficialmente, sem se aprofundar nas razões dos fenômenos que a circundam ou que a afetam.

4. (FUVEST) Leia os fragmentos abaixo para responder à questão.

1.”[Fabiano] ouvira falar em juros e prazos. Isto lhe dera uma impressão bastante penosa: sempre que os homens sabidos lhe diziam palavras difíceis, ele saía logrado. Sobressaltava-se escutando-as. Evidentemente só serviam para encobrir ladroeiras. Mas eram bonitas. Às vezes decorava algumas e empregava-as fora de propósito. Depois esquecia-as. Para que um pobre da laia dele usar conversa de gente rica?

2.”Havia coisas que [Macabéa] não sabia o que significavam. Uma era ‘efeméride’. E não é que seu Raimundo só mandava copiar com sua letra linda a palavra efemérides ou efeméricas? Achava o termo efemérides absolutamente misterioso. Quando o copiava prestava atenção a cada letra. […] Enquanto isso a mocinha se apaixonara pela palavra efemérides.”

O tema comum aos dois textos é a relação das personagens com a linguagem culta. Desse ponto de vista, explique:

a) Em que Fabiano e Macabéa se assemelham?

b) Em que se distinguem um do outro?

RESPOSTAS:

a) São ambos nordestinos, vítimas da marginalização social, da incomunicabilidade, gerada pela incapacidade de expressão verbal. Há em ambos o mesmo fascínio pela linguagem, pelo significante em seu corpo sonoro, ainda que desprovido, para eles, de significação.
b) Em relação à linguagem culta, Fabiano revela um nível de consciência mais crítico, pois, ainda que as admire, conhece o poder que têm as palavras de ludibriar, de “encobrir as ladroeiras”. A atitude de Fabiano é também mais complexa, pois mesmo temendo as “palavras difíceis”, invejava os que as dominavam e desejava que seus filhos estudassem num lugar incerto, vagamente relacionado com o Sul. Macabéa, mesmo vítima da dificuldade de expressão mesmo manipulada pelos que detêm o domínio da linguagem, é presa do poder sedutor das palavras.

5. A obra de Clarice Lispector se caracteriza sobretudo pela narrativa intimista, introspectiva, sem preocupação em tratar explicitamente de questões sociais. Assim, de que maneira a construção de um a protagonista como Macabéa diferença A Hora da Estrela de outros textos da autora?

RESPOSTA:

Ao escolher Macabéa como protagonista desse romance, Clarice Lispector, além de enfatizar aspectos da realidade, manifesta uma intenção explicitamente social que não aparece em seus outros textos, embora não seja essa a dimensão valiosa da obra. A representação da vida de Macabéa e suas misérias pode ser vista como uma tentativa de retratar a condição dos milhares de nordestinos que migram pata o Sudeste em busca de oportunidades na época em que o romance foi escrito.

6. Nos três primeiros encontros dos jovens, Olímpico e Macabéa, está chovendo. Que sensação a repetição desse fato provoca no leitor?
RESPOSTA:

Pode-se dizer que a chuva imprime a cada encontro uma sensação desagradável de melancolia, de monotonia.

7. Macabéa é caracterizada, ao longo da narrativa, como alguém insignificante, incapaz de qualquer reação diante da vida. De que maneira essa característica pode ser percebida no momento em que Olímpico atribui a ela a responsabilidade pela chuva?

RESPOSTA:

O fato de Macabéa se desculpar com Olímpico, apesar de ter sido tratada de forma ríspida pelo “namorado”, como se de fato ela fosse responsável pela chuva.

8. (FUVEST) “Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver-se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro.”
a) Descreva o recurso poético utilizado pela autora em ‘imaginavazinha’, forma que escapa à gramática da língua.
b) Justifique o uso de ‘imaginavazinha’, utilizando dados do contexto em que se acha e considerando também a posição do narrador em relação à personagem central, em “A Hora da Estrela”.

RESPOSTAS:

a)Utilizou-se um sufixo nominal de diminutivo numa forma verbal, indicando afetividade.
b) O recurso acentua a ideia de fragilidade e pequenez da personagem, e a empatia do narrador em relação a ela.

9. (UFU) Leia os textos a seguir.
TEXTO A
“Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. No espelho distraidamente examinou de perto as manchas no rosto. Em Alagoas chamavam-se ‘panos’, diziam que vinham do fígado. Disfarçava os panos com grossa camada de pó branco e se ficava meio caiada era melhor que o pardacento. Ela toda era um pouco encardida pois raramente se lavava. De dia usava saia e blusa, de noite dormia de combinação. Uma colega de quarto não sabia como avisar-lhe que seu cheiro era murrinhento. E como não sabia, ficou por isso mesmo, pois tinha medo de ofendê-la. Nada nela era iridescente, embora a pele do rosto entre as manchas tivesse um leve brilho de opala. Mas não importava. Ninguém olhava para ela na rua, ela era café frio. […] Só eu a amo.”  Clarice Lispector. “A hora da estrela”.

TEXTO B

“Uma nordestina
Ela é uma pessoa
no mundo nascida.
Como toda pessoa
é dona da vida.

Não importa a roupa
de que está vestida.
Não importa a alma
aberta em ferida.
Ela é uma pessoa
e nada a fará
desistir da vida.
Nem o sol de inferno
a terra ressequida
a falta de amor
a falta de comida.
É mulher é mãe:
rainha da vida.

De pés na poeira
de trapos vestida
é uma rainha
e parece mendiga:
a pedir esmolas
a fome a obriga.

Algo está errado
nesta nossa vida:
ela é uma rainha
e não há quem diga.”     Ferreira Gullar. “Melhores poemas”.
a) Cite dois elementos constitutivos do poema que contribuem para acentuar o seu caráter de apelo “popular”.
b) Compare os textos e discorra sobre a descrição da nordestina, considerando:
– as perspectivas diferentes do narrador e sujeito lírico.
– os aspectos convergentes das opiniões do narrador e sujeito lírico.
RESPOSTAS:

a)Linguagem simples, repetições, contrastes (apesar de pobre, é rainha da vida).
b) Para o narrador (primeiro texto), a nordestina só é vista e amada por ele, não tem valor para a sociedade. É uma pessoa indefesa, fraca.
Para o eu lírico (segundo texto), a nordestina, apesar das dificuldades da vida, é forte, valente, dona de sua própria vida.

10. (UCAM) Relacione a declaração a seguir, feita por Rodrigo S.M., com a maneira pela qual foi realizada a construção da narrativa: “Os fatos são sonoros mas entre os fatos há um sussurro. É o sussurro que me impressiona.”

RESPOSTA:

 A história de Macabéa não apresenta grandes acontecimentos e nem grandes feitos ou ações. A riqueza da narrativa não está nos fatos, está nas entrelinhas; não está no que é mostrado, mas no que é sugerido. Trata-se de uma obra altamente subjetiva, cujo enredo constitui-se apenas como cenário para as problematizações em torno da existência humana.

11. (UCAM) “Não se diz nenhuma novidade ao afirmar que as palavras, ao mesmo tempo que veiculam o pensamento,lhe condicionam a formação. Há século e meio, Herder já proclamava que um povo não podia ter uma ideia sem que para ela possuíssem uma palavra. Num momento em que a hegemonia milenar do verbo escrito e falado se vê, pela vez primeira, seriamente ameaçada pelo prestígio crescente da imagem visual, o culto consciente da expressão vocabular ganha nova e premente atualidade. Esse culto, aliás, impõe-se principalmente às pessoas que se exprimem em determinados idiomas, entre eles o português. O vocabulário abstrato coloca um indivíduo de língua neolatina ou inglesa em presença de dificuldades que um russo, um alemão ou um húngaro desconhecem. Com efeito, nos idiomas destes últimos a terminologia abstrata deixa à vista os elementos indígenas de que os vocábulos são formados, de modo que estes se integram naturalmente num sistema mental de conexões. Ao contrário, aqueles cuja língua materna herdou já prontas,de outras, inúmeras palavras derivadas, são privado dessa compreensão espontânea de parte importante do léxico: ao ouvirem um termo “culto” pela primeira vez, normalmente não lhe associam o respectivo sentido. Esse inconveniente, apontado por W. V. Wartburg no francês, língua em que “às relações semânticas entre noções não correspondem relações entre palavras”, existe em português também, e num grau quase igual. (Aurélio Buarque de Holanda Ferreira)

Segundo o narrador do romance A Hora da Estrela, como pode ser analisada a relação entre Macabéa e outros idiomas? Explique.

RESPOSTA:

Macabéa achava que “lacrima”, em vez de lágrima, era erro do homem do rádio, pois, de acordo com o narrador do romance, Rodrigo S.M., Macabéa não pensava existir outra língua e ainda pensava que, no Brasil, falava-se brasileiro, como está registrado às fls. 51 e 52 do romance A HORA DA ESTRELA.

12. (PUC-RS) Para responder à questão, leia o trecho de A hora da estrela, de Clarice Lispector. Olímpico de Jesus trabalhava de operário numa metalúrgica e ela nem notou que ele não se chamava de “operário” e sim de “metalúrgico”. Macabéa ficava contente com a posição social dele porque também tinha orgulho de ser “datilógrafa”, embora ganhasse menos que o salário mínimo. […] As poucas conversas entre os namorados versavam sobre farinha, carne-de-sol, carne-seca, rapadura e melado. Pois esse era o passado de ambos e eles esqueciam o amargor da infância, porque essa já que passou é acre-doce e dá até nostalgia.

Com base no fragmento de texto, é correto afirmar:

I. Macabéa percebe a ascensão social de Olímpico de Jesus.

II. Os protagonistas migram para a cidade grande.

III. Macabéa sente-se satisfeita por ser datilógrafa.

IV. Macabéa e Olímpico de Jesus estão esquecidos da vida que levavam no Nordeste.

As afirmativas corretas são, apenas,

a) I e II.

b) I e III.

c) III e IV.

d) I, II e III.

e) II, III e IV.

13. (ITA) O título do livro A hora da estrela, de Clarice Lispector, diz respeito ao seguinte momento do romance:

a) O despertar amoroso de Macabéa no namoro com Olímpico.

b) A descoberta de Macabéa de que Olímpico a traía com Glória.

c) A obtenção por Macabéa de um bom emprego como datilógrafa.

d) A previsão do grande futuro de Macabéa, feita pela cartomante.

e) A morte de Macabéa, atropelada por um carro de luxo.

14. (PUC-PR)  Leia o seguinte excerto de Antonio Candido.

O regionalismo, como o conhecemos, é uma das respostas a essa tensão, desde o início, no Romantismo, até os dias de hoje, quando o vasto horizonte de possibilidades temáticas e expressivas, oriundos da prolífica diversidade e da extrema desigualdade econômica, que recortam o Brasil em regiões, ainda alimenta a imaginação criadora. (PELLEGRINI, Tânia. Despropósitos: estudos da ficção brasileira contemporânea. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008, p. 119.)

Com base nessa declaração de Antonio Candido, considere as seguintes afirmações sobre a relação do romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, com o regionalismo.

I. O romance de Clarice, ainda que não propriamente regionalista, pois ambientado no Rio de Janeiro, dialoga com o regionalismo, pois sua protagonista, Macabéa, uma moça pobre oriunda do Nordeste, atesta com sua trajetória a enorme discrepância econômica existente entre as regiões do Brasil.

II. A hora da estrela, de Clarice Lispector, se insere na chamada literatura regionalista não somente por sua protagonista, Macabéa, e seu namorado, Olímpico de Jesus, serem oriundos do Nordeste, mas também por tematizar características do Nordeste ao longo da narrativa, sobretudo nos diálogos entre Macabéa e Olímpico.

III. Primeira e única incursão de Clarice Lispector no gênero regionalista, A hora da estrela traça um painel pungente da realidade social de Recife, com suas feiras de rua, seus costumes e a penúria de sua população mais humilde, da qual Macabéa é um exemplo.

As afirmações I, II e III são respectivamente

a) V, F, F.

b) V, V, F.

c) V, V, V.

d) F, V, V.

e) F, F, F.

15. (ENEM) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.   […]

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré- história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.

Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes. LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro:  Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador

a)observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.

b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem

c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.

d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.

e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.

16. (FUVEST) “Será que eu enriqueceria este relato se usasse alguns difíceis termos técnicos? Mas aí
que está: esta história não tem nenhuma técnica, nem de estilo, ela é ao deus-dará. Eu que também não mancharia por nada deste mundo com palavras brilhantes e falsas uma vida parca como a da datilógrafa.”    (Clarice Lispector, A Hora da Estrela)
Em A Hora da Estrela, o narrador questiona-se quanto ao modo e, até, à possibilidade de narrar a
história. De acordo com o trecho acima, isso deriva do fato de ser ele um narrador:
a) Iniciante, que não domina as técnicas necessárias ao relato literário.
b) Pós-moderno, para quem as preocupações de estilo são ultrapassadas.
c) Impessoal, que aspira a um grau de objetividade máxima no relato.
d) Objetividade, que se preocupa apenas com a precisão técnica do relato.
e) Autocrítico que percebe a inadequação de um estilo sofisticado para narrar a vida popular.

 17. (UFPE) O questionamento existencial constitui um tema muito apreciado por muitos dos escritores modernos, os quais compreendem que a linguagem não consegue alcançar a dimensão da existência. Clarice Lispector é um desses escritores. Leia o texto abaixo, fragmento da Dedicatória do Autor que precede à obra A Hora da Estrela, e analise os enunciados seguintes, considerando a relação entre a dedicatória e o próprio romance.

“[…] a todos esses que em mim atingiram zonas assustadoramente inesperadas, todos esses profetas do presente e que a mim me vaticinaram a mim mesmo a ponto de eu neste instante explodir em: eu. Esse eu que é vós pois não ser apenas mim, preciso dos outros para me manter de pé, tão tonto que sou, eu enviesado, enfim que é que se há de fazer senão meditar para cair naquele vazio pleno que só se atinge com a meditação. Meditação não precisa de ter resultados: a meditação pode ter como fim apenas ela mesma. Eu medito sem palavras e sobre o nada. O que me atrapalha a vida é escrever: E – e não esquecer que a estrutura do átomo não é vista mas sabe-se dela. Sei de muita coisa que não vi. E vós também. Não se pode dar uma prova de existência do que é mais verdadeiro, o jeito é acreditar: acreditar chorando.”

0-0) A dedicatória impressa no livro em questão configura um desabafo da escritora, não dialogando com a narrativa que a ela se segue, pois Clarice Lispector constrói um enredo de caráter social, ao focar a vida de uma retirante nordestina.

1-1) No romance, o discurso do narrador/autor nos leva a crer que a arte de escrever se contamina de outras formas artísticas, como a música e as artes plásticas – “Escrevo em traços vivos e ríspidos de pintura”.

2-2) A Hora da estrela trabalha com dois planos narrativos distintos: o plano do narrador, que tem identidade própria no romance e questiona seu próprio ato de criação; e o plano da criação ficcional desse narrador que é também autor.

3-3) Macabéa é uma personagem cuja construção beira o grotesco, como nas palavras do narrador: “um feto jogado na lata do lixo embrulhado em um jornal”. No entanto, essa feiura contrasta com a riqueza e o grande mistério da alma da personagem.

4-4) Pelo tema trabalhado, A Hora da Estrela é uma obra que se afilia à tradição do romance regionalista de 30. A história da nordestina que migra para a cidade grande e sucumbe à nova realidade constitui um tema social caro aos escritores regionalistas da segunda fase do Modernismo brasileiro.

RESPOSTA: FVVVF

18. (ITA) No romance A hora da estrela (1977), de Clarice Lispector, o narrador faz muitas observações acerca de Macabéa, tais como:

I. Há os que têm. E há os que não têm. É muito simples: a moça não tinha. Não tinha o quê? É apenas isso mesmo: não tinha.

II. Ela não pensava em Deus. Deus não pensava nela.

III. Vejo a nordestina se olhando no espelho e – um ruflar de tambor – no espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo. Tanto nós nos intertrocamos.

IV. […] ela era um acaso. […] Pensando bem: quem não é um acaso na vida?

Tais frases nos permitem dizer que Macabéa provoca no narrador

a) um forte sentimento de piedade, provocado pela condição miserável em que ela vive.

b) um desejo imenso de acolhê-la em sua casa, ou de ajudá-la de alguma forma.

c ) uma revolta diante do drama dos migrantes nordestinos no Sudeste, simbolizado por Macabéa.

d) sentimentos que ele mesmo não sabe definir, mas que têm a ver com a condição humana.

e) uma necessidade de escrever para tentar entendê-la, pois ele se identifica com ela.

19. (ACAFE) Sobre o texto “Tentarei tirar ouro de carvão. Sei que estou adiando a história e que brinco de bola sem a bola. O fato é um ato? Juro que este livro é feito sem palavras.”, extraído do livro A hora da estrela, pode-se afirmar que:
a) o narrador-escritor vai transformar situações cotidianas em uma história de vida, de fatos e acontecimentos, e o “livro é feito sem palavras” pelo fato de ser um retrato da vida.
b) a história de Macabéa (protagonista do livro) é um conto de fadas, em que ela encontra o seu príncipe e vivem felizes para sempre.
c) o narrador explica a relação de poder que um homem mantém sobre a mulher.
d) é uma crítica ao “canibalismo” deste mundo cão, no caso, a anulação do ser humano pela cidade grande.
e) se trata de um jogo de palavras em que o autor busca explicar a história de vida de um trabalhador sem qualificação, vivendo numa grande metrópole

20. (PUC-SP) A obra A hora da estrela, de Clarice Lispector marca-se pela depuração da arte de escrever e dialoga com todo o universo ficcional da autora. Despontam nela as perplexidades da narrativa moderna.
Indique a alternativa que NãO condiz com esse romance entendido como um todo:
a) A história são as fracas aventuras de uma moça alagoana, “numa cidade toda feita contra ela”, o Rio de Janeiro.
b) Macabéa, personagem do romance, tem a coragem e o heroísmo dos fortes e se torna, na vida, a grande estrela com que sempre sonhou.
c) A estrela que dá título à obra é a estrela de cinema e só aparece mesmo na hora da morte.
d) A narrativa constrói-se da alternância entre as reflexões do narrador que parece narrar a si mesmo e os fatos apresentados que dão o retrato da protagonista.
e) O espaço da ação é o social-urbano, mas restrito à “Rua do Acre para morar” e à “Rua do Lavradio para trabalhar”.

21. (FUVEST) Sobre o narrador de A hora da estrela, de Clarice Lispector, pode-se afirmar que:
a) é do tipo observador, pois revela não ter conhecimento sobre o que se passa no universo sentimental e psíquico da personagem (Macabéa).
b) é onisciente, pois assume o papel de criador de uma vida, sobre a qual detém todas as informações; o poder da onisciência é, para ele, fonte de satisfação, pois Rodrigo S. percebe que os fatos dependem de seu arbítrio.
c) é do tipo observador, pois limita-se a descrever superficialmente as emoções de Macabéa, o que fica evidente nas ocorrências enigmáticas do termo “explosão“, apresentado sempre entre parênteses.
d) constitui-se como um personagem, pois narra em primeira pessoa; não há, entretanto, referências à sua história pessoal, visto que seu objetivo é falar sobre um personagem de ficção (Macabéa).
e) é um dos personagens do livro; entretanto, ao apresentar-se não só como narrador, mas também como criador da história, problematiza a essência da literatura de ficção, que reside na recriação arbitrária do real.

22. (PUC-SP) A respeito de A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, indique a alternativa que NÃO confirma as possibilidades narrativas do romance:
a) Livro com muitos títulos que se resumem à história de uma inocência pisada, de uma miséria anônima.
b) História do narrador Rodrigo M. S., que se faz personagem, narrando-se a si mesmo e competindo com a protagonista.
c) História da própria narração, que conta a si mesma, problematizando a difícil tarefa de narrar.
d) História de Macabéa, moça anônima e que não fazia falta a ninguém.
e) História de Olímpico de Jesus, paraibano e metalúrgico, vivendo o mesmo drama de Macabéa e identificando-se com ela.

23. (UFV) Leia o trecho abaixo:
“Bem, é verdade que também eu não tenho piedade do meu personagem principal, a nordestina: é um relato que desejo frio. (…) Não se trata apenas da narrativa, é antes de tudo vida primária que respira, respira, respira. (…) Como a nordestina, ha milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa.Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam.” (Clarice Lispector)
Em uma das alternativas abaixo, há um aspecto do livro de Clarice Lispector, A Hora da Estrela, presente no fragmento acima, que o aproxima do chamado “romance de 30”, realizado por escritores como Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz:
a) A preocupação excessiva com o próprio ato de narrar.
b) O intimismo da narrativa, que ignora os problemas sociais de seus personagens.
c) A construção de personagens que têm sua condição humana degradada por culpa do meio e da opressão.
d) A necessidade de provar que as ações humanas resultam do meio, da raça e do momento.
e) A busca de traços peculiares da Região Nordeste.

24. (FUVEST) Identifique a afirmação correta sobre A hora da estrela, de Clarice Lispector:
a) A força da temática social, centrada na miséria brasileira, afasta do livro as preocupações com a linguagem, frequentes em outros escritores da mesma geração.
b) Se o discurso do narrador critica principalmente a própria literatura, as falas de Macabéa exprimem sobretudo as críticas da personagem às injustiças sociais.
c) O narrador retarda bastante o início da narração da história de Macabéa, vinculando esse adiamento a um autoquestionamento radical.
d) Os sofrimentos da migrante nordestina são realçados, no livro, pelo contraste entre suas desventuras na cidade grande e suas lembranças de uma infância pobre, mas vivida no aconchego familiar.
e) O estilo do livro é caracterizado, principalmente, pela oposição de duas variedades linguísticas: linguagem culta, literária, em contraste com um grande número de expressões regionais nordestinas

25. Considerando-se no contexto da obra o trecho sublinhado, é correto afirmar que, nele, o narrador:
a) assume momentaneamente as convicções elitistas que, no entanto, procura ocultar no restante da narrativa.
b) reproduz, em estilo indireto livre, os pensamentos da própria Macabéa diante dos fogos de artifício.
c) hesita quanto ao modo correto de interpretar a reação de Macabéa frente ao espetáculo.
d) adota uma atitude panfletária, criticando diretamente as injustiças sociais e cobrando sua superação.
e) retoma uma frase feita, que expressa preconceito antipopular, desenvolvendo-a na direção da ironia

26. (PUC-SP) Assinale a alternativa que não está de acordo com a personagem Macabéa, do romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector:
a) Nordestina pobre, anônima e semianalfabeta, era impotente para a vida e não fazia falta a ninguém.
b) Tinha a “felicidade pura dos idiotas” e “vivia num atordoado limbo entre céu e inferno”.
c) Personagem-título do romance, embora feita de matéria rala, tornou-se, na vida, a grande estrela com que sempre sonhou.
d) Ingênua, acreditou no que a cartomante lhe disse, mas acabou sendo atropelada e morta por um Mercedes amarelo.
e) Viveu um conto de fadas às avessas, delineando um contraponto bíblico sem, contudo, apresentar a coragem e o heroísmo dos fortes

 27. (FUVEST) Ele se aproximou e com voz cantante de nordestino que a emocionou, perguntou-lhe:
— E se me desculpe, senhorinha, posso convidar a passear?
— Sim, respondeu atabalhoadamente com pressa antes que ele mudasse de ideia.
— E, se me permite, qual é mesmo a sua graça?
— Macabéa.
— Maca — o quê?
— Bea, foi ela obrigada a completar.
— Me desculpe mas até parece doença, doença de pele.
Eu também acho esquisito mas minha mãe botou ele por promessa a Nossa Senhora da Boa Morte se eu vingasse, até um ano de idade eu não era chamada porque não tinha nome, eu preferia continuar a nunca ser chamada em vez de ter um nome ue nin uém tem mas arece ue deu certo — arou um instante retomando o fôlego perdido e acrescentou desanimada e com pudor — pois como o senhor vê eu vinguei… pois é…
— Também no sertão da Paraíba promessa é questão de grande divida de honra.
Eles não sabiam como se passeia. Andaram sob a chuva grossa e pararam diante da vitrine de uma loja de ferragem onde estavam expostos atrás do vidro canos, latas, parafusos grandes e pregos. E Macabéa, com medo de que o silêncio já significasse uma ruptura, disse ao recém-namorado:
— Eu gosto tanto de parafuso e prego, e o senhor?
Da segunda vez em que se encontraram caia uma chuva fininha que ensopava os ossos. Sem nem ao menos se darem as mãos caminhavam na chuva que na cara de Macabéa parecia lágrimas escorrendo. (Clarice Lispector, A hora da estrela)
Neste excerto, as falas de Olímpico e Macabéa:
a) aproximam-se do cômico, mas, no âmbito do livro, evidenciam a oposição cultural entre a mulher nordestina e o homem do sul do País.
b) demonstram a incapacidade de expressão verbal das personagem, reflexo da privação econômica de que são vitimas.
c) beiram às vezes o absurdo, mas, no contexto da obra, adquirem um sentido de humor e sátira social.
d) registram, com sentimentalismo, o eterno conflito que opõe os princípios antagônicos do Bem e do Mal.
e) suprimem, por seu caráter ridículo, a percepção do desamparo social e existencial das personagens.

28. (UFPE) Alguns clássicos da literatura brasileira da segunda metade do século XX já operavam um desvio no ideário do movimento regionalista de 1930. Leia os textos abaixo e analise os comentários a seguir.

beira dele, tudo dá – fazendões de fazendas, almargem de vargens de bom render, as vazantes; culturas que vão de mata em mata, madeiras de grossura, até ainda virgens dessas lá há. Enfim, cada um o que quer aprova, o senhor sabe: pão ou pães, é questão de opiniães (…) o sertão está em toda a parte. (…) Aqui é Minas; lá já é a Bahia? Estive nessas vilas, velhas, altas cidades (…) Sertão é o sozinho. Compadre meu Quelemém diz: que eu sou muito do sertão? Sertão: é dentro da gente.”(…)

Rebulir com o sertão, como dono? Mas o sertão era para, aos poucos e poucos, se ir obedecendo a ele; não era para à força se compor. Todos que malmontam no sertão só alcançam de reger em rédea por uns trechos. Que sorrateiro o sertão vai virando tigre debaixo da sela. (Guimarães Rosa, Grande sertão: veredas).

O casario, as cruzes, aves e árvores, vacas e cavalos, a estrada, os cata-ventos, nós levando Joana para o cemitério. Chapéus na mão, rostos duros, mãos ásperas, roupas de brim, alpercatas de couro, nós vamos conduzindo Joana para o cemitério, nós, os ninguéns da cidade, que sempre a ignoraram os outros, gente do dinheiro e do poder. Desapareceu a lua no horizonte. E todos viram ser a brancura do mundo apenas uma crosta, pele que se rompia, que se rompeu, desfez-se, revelou o esplendor e o sujo do arvoredo, do chão, a cor do mundo. Jambos, mangas-rosa, cajus, goiabas, romãs, tudo pendia dos ramos, era uma fartura, um pomar generoso e pesado de cheiros. Viveu seus anos com mansidão e justiça, humildade e firmeza, amor e comiseração. Morreu com mínimos bens e reduzidos amigos. Nunca de nunca a rapinagem alheia liberou ambições em seu espírito. Nunca o mal sofrido gerou em sua alma outras maldades. Morreu no fim do inverno. Nascerá outra igual na próxima estação? (Osman Lins, Retábulo de Santa Joana Carolina).

“Uma vez por outra tinha a sorte de ouvir de madrugada um galo cantar a vida e ela se lembrava nostálgica do sertão. Onde caberia um galo a cocoricar naquelas paragens ressequidas de artigos por atacado de exportação e importação? (…) Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver – se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro. Porque, por pior que fosse sua situação, não queria ser privada de si, ela queria ser ela mesma.” (Clarice Lispector, A hora da estrela).

 0-0) Pela exploração literária do aspecto degradado de seus habitantes subdesenvolvidos, nos três trechos citados, fica clara a intenção de denúncia do cenário de miséria do sertão brasileiro.

1-1) Na obra de Guimarães Rosa, ao contrário da maioria dos escritores regionalistas brasileiros, o sertão é visto e vivido de uma maneira subjetiva, profunda, e não apenas como uma paisagem a ser descrita, ou como uma série de costumes que parecem pitorescos.

2-2) No conto Retábulo de Santa Joana Carolina, Osman Lins presta uma grandiosa homenagem à mulher simples e sofrida do sertão nordestino, sobrepondo a riqueza de sua sabedoria e a retidão de seu caráter à aparente miséria do contexto.

3-3) Em A hora da estrela, Clarice Lispector utiliza, em algumas passagens, uma terminologia típica da descrição dos cenários da seca nos romances regionalistas, para descrever a paisagem urbana onde vive a nordestina Macabéa.

4-4) Em todos os textos, o nordestino é valorizado em si, como ser humano que é, e não em função do aspecto do cenário em que se insere ou dos bens que acumula à sua volta.
RESPOSTA: FVVVV

29. (FEI-SP) Trata-se do último livro publicado por Clarice Lispector, em vida, em 1977. A personagem protagonista é Macabéa, que acumula em seu corpo franzino todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheada de si e da sociedade.
As afirmações acima referem-se à obra:
a) A hora da estrela
b) Perto do coração selvagem
c) A maçã no escuro
d) A paixão segundo G. H.
e) Laços de família

30. (FUVEST) “A ação desta história terá como resultado minha transfiguração em outrem (…)”.
Neste excerto de A hora da estrela, o narrador expressa uma de suas tendências mais marcantes, que ele irá reiterar ao longo de todo o livro. Entre os trechos abaixo, o único que Não expressa tendência correspondente é:
a) “Vejo a nordestina se olhando ao espelho e (…) no espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo. Tanto nós nos intertrocamos”.
b) “é paixão minha ser o outro. No caso a outra”.
c) “Enquanto isso, Macabéa no chão parecia se tornar cada vez mais uma Macabéa, como se chegasse a si mesma”.
d) “Queiram os deuses que eu nunca descreva o Lázaro porque senão eu me cobriria de lepra”.
e) “Eu te conheço até o osso por intermédio de uma encantação que vem de mim para ti”.

31. (ACAFE) No livro A hora da estrela, ocorre a quebra das convenções da arte de narrar: o narrador estabelece com o leitor um jogo. Assim, é VERDADEIRO o que se afirma em:
a) O narrador faz uma narrativa aberta para o leitor, procurando fazer com que o leitor se identifique com os personagens.
b) Existe um narrador que dificulta a localização de sua voz, misturando-a com a das outras personagens.
c) A escritura do texto é extremamente rebuscada e, portanto, difícil de estabelecer qualquer relação do texto com o narrador.
d) O narrador, a todo momento, chama a atenção do leitor, alertando-o de que se trata de uma obra de ficção e, consequentemente, dificultando uma identificação do leitor com os personagens.
e) Não é possível identificarmos a presença do narrador.

32. (FUVEST) A narração hesitante e digressiva, em constante autoexame, não se limita apenas a registrar o sentimento de culpa do narrador, mas traduz, também, uma autocrítica radical, em que ele questiona sua própria posição de classe e, com ela, a própria literatura.
Esta afirmação aplica-se a:
a) Memórias de um sargento de milícias
b) Memórias póstumas de Brás Cubas
c) Morte e vida Severina
d) O primo Basílio
e) A hora da estrela

33. (UFRGS ) No bloco superior abaixo, estão listados os títulos dos romances de Carolina Maria de Jesus e de Clarice Lispector; no inferior, trechos desses romances.

Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1. Quarto de despejo

2. A hora da estrela

(     ) Ela me incomoda tanto que fiquei oco. Estou oco desta moça. E ela tanto mais me incomoda quanto menos reclama. […] Como me vingar? Ou melhor, como me compensar? Já sei: amando meu cão que tem mais comida do que a moça. Por que ela não reage? Cadê um pouco de fibra? Não, ela é doce e obediente.

(     ) Achei um saco de fubá no lixo e trouxe para dar ao porco. Eu já estou tão habituada com as latas de lixo, que não sei passar por elas sem ver o que há dentro. […] Ontem eu li aquela fábula da rã e a vaca. Tenho a impressão que sou rã. Queria crescer até ficar do tamanho da vaca.

(     ) A vida é igual um livro. Só depois de ter lido é que sabemos o que encerra. E nós quando estamos no fim da vida é que sabemos como a nossa vida decorreu. A minha, até aqui, tem sido preta. Preta é a minha pele. Preto é o lugar onde eu moro.

(     ) “Una Furtiva Lacrima” fora a única coisa belíssima na sua vida. […] Era a primeira vez que chorava, não sabia que tinha tanta água nos olhos. […] Não chorava por causa da vida que levava: porque, não tendo conhecido outros modos de viver, aceitara que com ela era “assim”. Mas também creio que chorava porque, através da música, adivinhava talvez que havia outros modos de sentir.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 – 2 – 2 – 1.

b) 2 – 1 – 1 – 2.   

c) 2 – 1 – 2 – 1.

d) 1 – 2 – 1 – 2.

e) 1 – 1 – 2 – 2.

34. (PUCCAMP) Maquiavel (…) admitia que a posição dos subalternos é estratégica para a análise de quem está por cima.
Relacionando-se a frase acima com o romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, verifica-se que a afirmação de Maquiavel
a) se confirma, pois Rodrigo faz excelente análise das classes privilegiadas.
b) se confirma, pois Macabéa faz análise crítica do poder de seus superiores.
c) não se confirma, pois Rodrigo tem reduzida consciência de sua classe social.
d) não se confirma, pois Macabéa não tira proveito crítico de sua posição.
e) não se confirma, pois Olímpico não se interessa por quem tem algum poder.

35. (FUVEST) Considere as seguintes comparações entre Vidas secas e A hora da estrela: 
I. Os narradores de ambos os livros adotam um estilo sóbrio e contido, avesso a expansões emocionais, condizente com o mundo de escassez e privação que retratam.
II. Em ambos os livros, a carência de linguagem e as dificuldades de expressão, presentes, por exemplo, em Fabiano e Macabéa, manifestam aspectos da opressão social.
III. A personagem sinhá Vitória (Vidas secas), por viver isolada em meio rural, não possui elementos de referência que a façam aspirar por bens que não possui; já Macabéa, por viver em meio urbano, possui sonhos típicos da sociedade de consumo.
Está correto apenas o que se afirma em:
a) I.
b) II.
c) III.
d) I e II.
e) II e III.

36. (ACAFE) Sobre o romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, é FALSO afirmar que:
a) ao ser atropelada e morta por um caminhão Mercedes Bens, a protagonista tem, enfim, um grande momento, à maneira de uma estrela de cinema, no centro da cena cinematográfica.
b) narra a história de Macabéa, uma alagoana simples que se muda para o Rio de Janeiro, onde passa a morar numa pensão.
c) distante de seu meio, alheia ao mundo da cultura e sem compreender claramente os valores que regem uma cidade grande e competitiva como o Rio de Janeiro, Macabéa não consegue definir sua própria identidade.
d) opondo-se a um curso sentimental, retórico, ornamental da poética nacional, a autora construiu uma poesia antilírica, anticonfessional, presa ao real e dirigida ao intelecto.
e) Olímpio, namorado de Macabéa e também nordestino, ao contrário dela, deseja ascender na vida a qualquer preço.

37. (PUC-RS) ___________, a personagem de Clarice Lispector em A hora da estrela, é uma nordestina, pobre, feia, sem vida interior, incapaz de manter a relação com o namorado.
Sua “hora da estrela” só acontece quando sai feliz e distraída da cartomante e ____________.
No romance, os problemas existenciais estão relacionados às ____________ da moça.
As lacunas podem ser correta e respectivamente preenchidas por:

a) Gabriela – é assassinada e desaparece – crenças religiosas.
b) Macabéa – é atropelada e morre – condições sócioculturais.
c) Aurora – encontra Fernando e casa – debilidades físicas.
d) Capitu – é atropelada mas salva-se – dificuldades financeiras.
e) Diadorim – volta ao sertão e vive só – necessidades econômicas.

38. (UFRGS ) Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas dos trechos abaixo, adaptados de A hora da estrela, de Clarice Lispector.

Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora obrigado a usar as palavras que vos sustentam. A história – determino com falso livre-arbítrio – vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, __________. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e “gran finale” seguido de silêncio e de chuva caindo. […] __________ trabalhava de operário numa metalúrgica e ela nem notou que ele não se chamava de “operário” e sim de “metalúrgico”. ___________ ficava contente com a posição social dele porque também tinha orgulho de ser datilógrafa, embora ganhasse menos de um salário mínimo. Mas eles eram alguém no mundo. “Metalúrgico e datilógrafa” formavam um casal de classe.

a) Rodrigo S. M. – Olímpico de Jesus – Macabéa   

b) Raimundo Silveira – Rodrigo S. M. – Macabéa

c) Clarice Lispector – Olímpico de Jesus – Macabéa

d) Rodrigo S. M. – Olímpico de Jesus – Carlota

e) Raimundo Silveira – Rodrigo S. M. – Glória

39. (UFRS) A moça tinha ombros curvos como os de uma cerzideira. Aprendera em pequena a cerzir. Ela se realizaria muito mais se desse ao delicado labor de restaurar fios, quem sabe se de seda. Ou de luxo: cetim bem brilhoso, um beijo de almas. Cerzideirinha mosquito. Carregar em costas de formiga um grão de açúcar. Ela era de leve como uma idiota, só que não era. Não sabia que era infeliz.
(…) Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão – os maus antecedentes de que falei. Com dois anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera as botas.
(…) Macabéa era na verdade uma figura medieval enquanto Olímpico de Jesus se julgava peça-chave, dessas que abrem qualquer porta. Macabéa simplesmente não era técnica, ela era só ela. (…) Mas Macabéa de um modo geral não se preocupava com o próprio futuro: ter futuro era luxo.
Sobre A HORA DA ESTRELA, de Clarice Lispector, é correto afirmar que
a) a narrativa mistura vários planos de realidade, que permitem uma visão multifacetada da personagem central.
b) Macabéa é uma nordestina retirante, e o desfecho de sua história é semelhante ao de Fabiano e de Sinhá Vitória, personagens de Graciliano Ramos.
c) a heroína do livro, como a maioria dos brasileiros em situação de privação, se revolta contra as injustiças.
d) a escritora usa uma linguagem técnica com predomínio de termos exatos, para advertir sobre problemas sanitários brasileiros.
e) a narrativa põe em destaque a disposição de Macabéa em lutar pela igualdade e pela ascensão social.

40. (FEI-SP) Trata-se do último livro publicado par Clarice Lispector, em vida, em 1977. A personagem protagonista é Macabea que acumula em seu corpo franzino todas as formas de repressão cultural, o que a deixa alheada de si e da sociedade.”

As afirmações acima referem-se à obra:

a) “A Hora da Estrela”

b) “Perto do Coração Selvagem”

c) “A maçã no escuro”.

d) “A Paixão Segundo G. H.”

e) “Laços de Família”.

41. (UFBA) Texto I

Não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e lascas como aços espelhados. Ah que medo de começar e ainda nem sequer sei o nome da moça. Sem falar que a história me desespera por ser simples demais. O que me proponho contar parece fácil e à mão de todos. Mas a sua elaboração é muito difícil. Pois tenho que tornar nítido o que está quase apagado e que mal vejo. Com mãos de dedos duros enlameados apalpar o invisível na própria lama. De uma coisa tenho certeza: essa narrativa mexerá com uma coisa delicada: a criação de uma pessoa inteira que na certa está tão viva quanto eu. Cuidai dela porque meu poder é só mostrá-la para que vós a reconheçais na rua, andando de leve por causa da esvoaçada magreza. E se for triste a minha narrativa? Depois na certa escreverei algo alegre, embora alegre por quê? Porque também sou um homem de hosanas e um dia, quem sabe, cantarei loas que não as dificuldades da nordestina. Por enquanto quero andar nu ou em farrapos, quero experimentar pelo menos uma vez a falta de gosto que dizem ter a hóstia. Comer a hóstia será sentir o insosso do mundo e banhar-se no não. Isso será coragem minha, a de abandonar sentimentos antigos já confortáveis. Agora não é confortável: para falar da moça tenho que não fazer a barba durante dias e adquirir olheiras escuras por dormir pouco, só cochilar de pura exaustão, sou um trabalhador manual. Além de vestir-me com roupa velha rasgada. Tudo isso para me pôr o nível da nordestina. (…) LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988. p. 25-6.

Texto II

(…) Não, não vou escrever minhas memórias, nem meu retrato, nem minha biografia. Sou uma personagem de ficção. Só existo na minha imaginação e na imaginação de quem me lê. E, naturalmente, para a mulher que me escreve. Em casa ou na rua, não me sabem. Por acaso, alguém sabe alguém, carne e grito sob a capa do rosto, ordenado e composto em carapaça? (…)

Quem é a mulher que me escreve? Eu sei, porque eu a inventei. No entanto, ela não me sabe. Ela pensa que me tem nas mãos para me escrever como quiser. Que ela saiba, desde o início. Ela me escreverá na medida da minha própria determinação. Eu, personagem irremediavelmente encravada na vida dela. (…)

Meu marido acha que devo viver exclusivamente, totalmente, exaustivamente para ele. Isto me faz muito feliz. Na opinião de meus filhos, toda mãe tem obrigação de se dedicar de modo absoluto a quem pôs no mundo. Esta é a razão da minha vida. Você não pode continuar a alimentar esta atitude absurda. É preciso ter consciência dos próprios direitos, sobretudo nos dias de hoje, final da década de 70, numa cidade como Salvador. A mulher deve reagir, não se permitir levar pelos caprichos e exorbitâncias da família. Você não pode continuar a viver assim. Eu só vivo assim. Minha escolha, meu caminho. A mulher que me escreve me entrevê embaçada, sem contorno. Porque ela pertence à minha imaginação, eu a vejo nas suas linhas, seus recantos. Ela só viverá, se eu a imaginar. Eu só viverei, se ela me escrever. Nós nos encontramos ligadas por um fio tenso e tênue. Não podemos nos separar.(…) CUNHA, Helena Parente. Mulher no espelho. São Paulo: Art, 1985. p. 7, 8 e 16.

Tomando-se como referência os textos I e II e as obras das quais foram extraídos, quanto ao ponto de vista da narração, pode-se inferir:

(01) No texto I, quem fala na primeira pessoa é a personagem Macabéa, expressando a dificuldade de contar sua história, já que escrever era uma tarefa difícil para uma nordestina pouco culta.

(02) O narrador do texto I identifica-se como o escritor da história, angustiado frente ao desafio de sentir e viver a personagem, a fim de elucidar, com profundidade, os fatos que pretende narrar.

(04) O texto II é narrado, na primeira pessoa, por uma personagem feminina, que se rebela e tenta se impor contra a outra personagem, por ela criada para escrever sua história.

(08) No texto II, fica evidente o conflito entre a visão que a personagem tem de si própria e aquela que é transmitida pela personagem que escreve sua história, cuja visão dos fatos é oposta à sua.

(16) Em ambos os textos, o narrador é onisciente, tendo pleno domínio sobre suas personagens, cujo destino determina com precisão antes de concluir a história.

(32) O contraste mais nítido entre os dois textos é que, em I, o escritor-narrador sente dificuldade de se aprofundar na vida da personagem e, em II, a personagem tenta dominar a outra que escreve sobre ela.

(64) Em ambas as obras, as autoras, Clarice Lispector e Helena Parente Cunha, criam vozes masculinas, que as representam como narradores de histórias de personagens femininas.

SOMA: 66

42. (UCAM) A respeito do narrador, é possível afirmar que:

a) Dedica-se, exclusivamente, ao registro das atividades de Macabéa e seu contexto.

b) É indiferente ao que está sendo contado, não emite opiniões.

c) Preocupa-se apenas com os seus próprios conflitos interiores.

d) Ao falar de Macabéa, revela-se.

e) Nenhuma das alternativas acima possui amparo na obra.

 43. (PUC-SP) Considere os seguintes trechos de “A Hora da Estrela”:
Embora a moça anônima da história seja tão antiga que podia ser uma figura bíblica. Ela era subterrânea e nunca tinha tido floração. Minto: ela era capim.
Se a moça soubesse que minha alegria também vem de minha mais profunda tristeza e que a tristeza era uma alegria falhada. Sim, ela era alegrezinha dentro de sua neurose. Neurose de guerra.
Neles predominam, respectivamente, as seguintes figuras de linguagem:
a) inversão e hipérbole.
b) pleonasmo e oxímoro.
c) metáfora e antítese.
d) metonímia e metáfora.
e) eufemismo e antítese.

44. (UFRS) Assinale com (V) verdadeiro ou (F) falso as afirmações abaixo, referentes ao romance “A Hora da Estrela”, de Clarice Lispector.
( ) Embora o título principal do romance seja “A Hora da Estrela”, a autora propõe uma série de títulos alternativos.
( ) Clarice evidencia preocupações incomuns em sua obra, como a reflexão sobre a linguagem e a busca do sentido secreto que se esconde por trás do aparentemente visível.
( ) Antes de iniciar o relato da história de Macabéa, o narrador faz comentários sobre as dificuldades inerentes ao ato de escrever e sobre os seus receios quanto ao destino da personagem que está criando.
( ) A narração do romance é feita por três vozes distintas: a de Rodrigo A. M., a de Macabéa e a de Olímpico.
( ) Uma das distrações de Macabéa, durante a madrugada, é ligar o radinho emprestado por uma colega de quarto e sintonizar a Rádio Relógio, que assinala com um tic-tac cada minuto.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) V – F – V – F – V.
b) V – V – F – F – V.
c) F – V – F – V – F.
d) V – F – F – F – V.
e) F – F – V – V – F.

45.( UNIFOR-CE)

“Em sua obra, um tema praticamente permanente é a crise da subjetividade. Esta crise se manifesta com tamanha gravidade que o próprio ato de narrar ameaça ser impossível. Não admira, pois, que em alguns de seus romances a velha noção de enredo já não é absoluta: às vezes importa mais a metáfora estranha, a entrega aos livres pensamentos, a crise existencial que não está apenas nas personagens, mas no próprio narrador.”

O trecho acima está levantando algumas características que se encontram presentes em:

a) Grande Sertão: Veredas.

b) A Hora da Estrela.

c) Fogo Morto.

d) A Estrela Sobe.

e) O Tempo e o Vento

46. Assinale a alternativa INCORRETA sobre a obra A Hora da Estrela, de Clarice Lispector:

a) Há o trabalho com o fluxo de consciência, com a linguagem; transita pelo plano metafísico (indagações existenciais), pelo inconsciente, pela autoanálise com projeções da filosofia existencialista.

b) O narrador, usando as personagens Macabéa e Olímpico, tece críticas a respeito do ato de falar, expressar-se, escrever, ler, interpretar.

c) Macabéa possui um vocabulário extenso, cultura por flashes, baseada na memorização crítica. Olímpico tem consciência crítica para interrogar o código linguístico e aproximar-se das palavras sem conhecer o seu conceito.

d) O narrador, ao desenvolver a narrativa, mostrando-nos Macabéa, busca a própria identidade.

e) A “Hora da Estrela” representa o momento epifânico de Macabéa: a hora da morte. É irônica porque só no momento da morte é que Macabéa alcança a grandeza do ser. Já a autora atinge a epifania ao concluir a obra.

47. (UFRN) A questão a seguir refere-se às obras “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa (1946), e “A hora da estrela”, de Clarice Lispector (1977).
As duas obras representam a narrativa brasileira posterior ao Modernismo, no sentido de que já não se relacionam diretamente ao chamado “romance social” ou “romance do Nordeste”.
Sobre essas obras, é correto afirmar que
a) o vocabulário sertanejo figura como modo de resistência das personagens aos valores urbanos.
b) articulam, em universos distintos, elementos que tradicionalmente eram material do regionalismo.
c) o pitoresco regional surge principalmente como forma de resistência à vida moderna.
d) produzem um novo regionalismo, mas as personagens ainda se caracterizam como tipos rurais.

48. (UFRN)  A questão a seguir refere-se às obras “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa (1946), e “A hora da estrela”, de Clarice Lispector (1977).
Pode-se afirmar que o final das duas narrativas revela o que é sugerido em seus títulos. Nesse sentido, a morte das personagens aparece como
a) o acontecimento que resolve, pela ação de um indivíduo, o problema de uma coletividade em apuros.
b) o instante único no qual Augusto Matraga e Macabéa, cada um a seu modo, reconhecem-se como fracassados.
c) o instante único no qual Augusto Matraga e Macabéa, cada um a seu modo, vislumbram a felicidade.
d) o acontecimento que resolve o destino individual, sem maiores implicações na coletividade.

49. (ENEM)Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.    […]

Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato. Os dois juntos – sou eu que escrevo o que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por aí aos montes.

Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado de uma visão gradual – há dois anos e meio venho aos poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. Só não inicio pelo fim que justificaria o começo – como a morte parece dizer sobre a vida – porque preciso registrar os fatos antecedentes. LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro:  Rocco, 1998 (fragmento).

A elaboração de uma voz narrativa peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice Lispector, culminada com a obra A hora da estrela, de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento, nota-se essa peculiaridade porque o narrador

a) observa os acontecimentos que narra sob uma ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às personagens.

b) relata a história sem ter tido a preocupação de investigar os motivos que levaram aos eventos que a compõem.

c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões existenciais e sobre a construção do discurso.

d) admite a dificuldade de escrever uma história em razão da complexidade para escolher as palavras exatas.

e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.

50. (UCAM) Observe as seguintes assertivas sobre o romance:

I-Glória foi quem recomendou a consulta com uma cartomante a Macabéa;

II- Macabéa compartilhou um quarto com quatro moças balconistas das Lojas Americanas, todas chamadas Maria, a única colega de quarto que tinha nome diferente era a Glória.

III- Olímpico gostava de ouvir discursos, achava-se inteligente e tinha a pretensão de ser deputado.

É correto afirmar:

a) as três assertivas são verdadeiras;

b) as três assertivas são falsas;

c) apenas a assertiva I é verdadeira;

d) apenas a assertiva II é falsa;

e) apenas a assertiva III é falsa.

51. (UFSC) TEXTO

Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão – os maus antecedentes de que falei. Com dois anos de idade lhe haviam morrido os pais de febres ruins no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera as botas. Muito depois fora para Maceió com a tia beata, única parenta sua no mundo. Uma outra vez se lembrava de coisa esquecida. Por exemplo a tia lhe dando cascudos no alto da cabeça porque o cocoruto de uma cabeça devia ser, imaginava a tia, um ponto vital. Dava-lhe sempre com os nós dos dedos na cabeça de ossos fracos por falta de cálcio. Batia mas não era somente porque ao bater gozava de grande prazer sensual – a tia que não se casara por nojo – é que também considerava de dever seu evitar que a menina viesse um dia a ser uma dessas moças que em Maceió ficavam nas ruas de cigarro aceso esperando homem. Embora a menina não tivesse dado mostras de no futuro vir a ser vagabunda de rua. Pois até mesmo o fato de vir a ser uma mulher não parecia pertencer à sua vocação. A mulherice só lhe nasceria tarde porque até no capim vagabundo há desejo de sol. As pancadas ela esquecia pois esperando-se um pouco a dor termina por passar. Mas o que doía mais era ser privada da sobremesa de todos os dias: goiabada com queijo, a única paixão de sua vida. Pois não era que esse castigo se tornara o predileto da tia sabida? A menina não perguntava por que era sempre castigada mas nem tudo se precisa saber e não saber fazia parte importante de sua vida.

Com base no texto, na leitura do romance A hora da estrela, lançado em 1977, e no contexto de sua publicação, assinale a(s) proposição(ões) CORRETA(S).

Macabéa, personagem central de A hora da estrela, mantém ao longo da vida uma crença cega na igreja, traço incutido pela tia beata que a obrigara a decorar e a repetir os padre-nossos e as ave-marias desde menina.

No romance A hora da estrela, a autora tentou ocultar-se por trás do pseudônimo de Rodrigo S. M., um narrador onisciente intruso que busca o tempo todo problematizar o processo de criação.

O vocábulo “mulherice” (linha 12) é um neologismo derivado do substantivo mulher. Diferentemente da condição física atribuída automaticamente às pessoas do sexo feminino, o narrador dá a entender que a “mulherice” seria constituída pela personagem ao longo do tempo, física e psicologicamente.

A datilógrafa Macabéa adorava goiabada com queijo, divertia-se recortando anúncios de jornais velhos, bebia o mesmo refrigerante que todos bebem, passeava aos finais de semana no cais e dividia seu quarto com outras cinco meninas, todas de nome Maria. Essa associação de Macabéa a banalidades, gostos, comportamentos e pessoas comuns ajuda a compor a imagem de uma mulher sem traços próprios, cópia sem viço de tantas outras sertanejas indigentes.

O romance de Clarice Lispector distancia-se, pelo tempo e pela temática, da geração de 1930; ainda carrega parte da crítica social característica daquele momento, mas a imagem da menina cuja herança do sertão é o raquitismo de retirante fica em segundo plano, ganhando maior relevo a problemática da modernização das cidades de Maceió e do Rio de Janeiro, locais onde Macabéa tenta ganhar a vida.

O título da obra revela forte ironia, tendo em vista que é algo que nunca se concretiza: a hora da estrela, quando finalmente Macabéa brilharia tal qual suas artistas de cinema preferidas, não ocorre, devido ao acidente fatal sofrido pela protagonista.

SOMA: 06 (02+04)

 52. (UFAM) Assinale a afirmativa INCORRETA no que diz respeito à caracterização do autor e sua obra:

a) Érico Veríssimo construiu um amplo painel histórico do Rio Grande do Sul através da grande empreitada narrativa que é O tempo e o vento, obra que tem pretensões à epopeia.

b) O regionalismo de Guimarães Rosa é ilusório, pois o espaço físico onde acontecem os fatos é imaginário, pouco tendo a ver com o verdadeiro sertão das Minas Gerais.

c) A obra de Clarice Lispector se caracteriza por ter como protagonistas mulheres de classe média alta, sendo Macabéa, personagem de A Hora da estrela, uma exceção, já que se trata de uma pobre nordestina.

d) A ideologia de Jorge Amado influiu decisivamente em seu estilo, que é seco, frio, impessoal, com leves tons de sutil ironia e jogos de duplo sentido que muito lembram Machado de Assis.

e) Nelson Rodrigues renovou o teatro e, ao mesmo tempo, provocou os brasileiros, escrevendo textos teatrais com uma linguagem crua e motivos extremamente escabrosos.

 53. (UFRGS) Assinale a alternativa correta sobre a obra.

a) Um dos aspectos mais marcantes de A hora da estrela é o caráter metaficcional da narrativa.

b) Rodrigo S.M. sente-se a vontade para narrar a história de Macabéa.

c) Macabéa tem laços fortes de amizade e companheirismo com todos que a cercam.

d) Macabéa é a típica moradora da zona sul do Rio de Janeiro, com seu jeito indolente e descontraído.

e) Macabéa transforma-se em uma cantora promissora, que se apresenta na Rádio Minuto.

54. (F. PEQUENO PRÍNCIPE) . Leia o excerto de A Hora da Estrela, observando a posição do narrador. Talvez a nordestina já tivesse chegado à conclusão de que a vida incomoda bastante, alma que não cabe bem no corpo, mesmo alma rala como a sua. Imaginavazinha, toda supersticiosa, que se por acaso viesse alguma vez a sentir um gosto bem bom de viver – se desencantaria de súbito de princesa que era e se transformaria em bicho rasteiro. LISPECTOR, C. A Hora da Estrela. 23.ª ed. Rio de Janeiro: Rocco, 1999, p. 39.

Esse trecho da obra A Hora da Estrela é um exemplo de como o narrador se comporta ao longo de toda a obra, pois revela sua onisciência

a) conhecendo o universo sentimental e psíquico da personagem e mostrando satisfação com isso.

b) limitando-se a descrever pouco as emoções, visto que Macabea não queria “gastar” rápido a vida.

c) compondo frases como se fosse um roteiro, que traz “explosão” como rubrica.

d) problematizando a essência da literatura de ficção, participando das ações de maneira oblíqua.

e) dissimulando-se entre personagens secundários, como o locutor da Rádio Relógio.

55. (UCAM) Observe as duas assertivas abaixo sobre o médico:

PRIMEIRA: Macabéa foi a um médico, especialista em obstetrícia, indicado por Glória e este profissional diagnosticou que Macabéa tinha ovários murchos.

SEGUNDA:O médico, embora atualizado na profissão, segundo o narrador, não tinha amor à profissão, tampouco aos doentes, pois exercia a medicina para ganhar dinheiro, atendendo aos pobres.

É correto afirmar:

a) as duas assertivas são verdadeiras;

b) as duas assertivas são falsas;

c) as duas assertivas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira;

d) apenas a primeira assertiva é verdadeira;

e) apenas a segunda assertiva é verdadeira

56. (UNB) Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e

4 havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou. Que ninguém se engane, só consigo a simplicidade

7 através de muito trabalho. Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as

10 coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré-história

já havia os monstros apocalípticos? Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um

13 fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o que estou escrevendo.

Clarice Lispector. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984, p. 17.

Considerando o trecho acima, extraído da obra A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, julgue os itens a seguir.

1 Clarice Lispector inclui-se entre os autores do romance introspectivo, da literatura intimista, que se caracteriza, na literatura brasileira moderna, por um questionamento do ser.

2 Por focalizar problemas da sociedade rural, esse romance de Clarice Lispector aproxima-se da obra de José Lins do Rego.

3 Esse trecho exemplifica a utilização de sequências dissertativas, em que são apresentados conceitos abstratos, na construção de uma narrativa.

4 No trecho apresentado, o narrador é onisciente, como se pode verificar, por exemplo, em “Sempre houve” (R.4), e a narrativa se constrói em terceira pessoa, como evidencia o segmento “Não sei o que, mas sei que o universo jamais começou” (R.4-5).

5 Na linha 2, a opção pela omissão do acento indicativo de crase nas duas ocorrências de “a” indica que a autora imprimiu um sentido genérico à expressão “outra molécula”

e à palavra “vida”, visto que não empregou o artigo definido feminino antes de ambas.

6 Na linha 4, os vocábulos “nunca” e “sim” estão empregados

como substantivos, conforme evidencia a estrutura

linguística em que ocorrem.

7 Os três períodos finais do trecho apresentado sugerem que a autora — por meio de “muito trabalho” (R.7) — consegue, finalmente, desvincular “ato” de “fato” ao estabelecer a correspondência do ato de escrever com o ato de pensar.

8 Na linha 3, foi utilizada a expressão “pré-história”, que, em si mesma, geralmente, é empregada para identificar o estágio da evolução das sociedades anterior ao domínio da escrita.

RESPOSTAS: C, E, C, E, E, C, E C

57. (ITA) Assinale a opção que apresenta a função da linguagem predominante nos fragmentos a seguir:

( I )
Maria Rosa quase que aceitava, de uma vez, para resolver a situação, tal o embaraço em que se achavam. Estiveram um momento calados.
– Gosta de versos?
– Gosto…
– Ah…
Pousou os olhos numa oleografia.
– É brinde de farmácia?
– É.
– Bonita…
– Acha?
– Acho… Boa reprodução… (Orígenes Lessa. O FEIJÃO E O SONHO)

( II )
Sentavam-se no que é de graça: banco de praça pública.
E ali acomodados, nada os distinguia do resto do nada. Para a grande glória de Deus.
Ele: – Pois é.
Ela: – Pois é o quê?
Ele: – Eu só disse “pois é”!
Ela: – Mas “pois é” o quê?
Ele: – Melhor mudar de conversa porque você não me entende.
Ela: – Entender o quê?
Ele: – Santa Virgem, Macabéa, vamos mudar de assunto e já.(Clarice Lispector. A HORA DA ESTRELA)
a) Poética.
b) Fática.
c) Referencial.
d) Emotiva.
e) Conativa.

58. (UFRGS) Abaixo, no bloco superior, estão listadas personagens do romance; no inferior, a caracterização de cada uma e sua relação com Macabéa. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1 – Rodrigo S.M.

2 – Olímpico de Jesus

3 – Glória

4 – Maria Aparecida

5 – Carlota ( ) Narrador que, ao contar a história de Macabéa, fala de si mesmo, transformando-se também em personagem do romance.

( ) Cartomante que encarna a figura da mãe, ausente na vida de Macabéa.

( ) Nordestino, ladrão, assassino e pobre, com ambição de ser deputado.

( ) Colega de trabalho de Macabéa, representante do “ambicionado clã do sul do país”, pois é “carioca da gema”. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 – 5 – 2 – 4.

b) 2 – 4 – 1 – 3.

c) 1 – 5 – 2 – 4.

d) 2 – 3 – 1 – 5.

e) 1 – 5 – 2 – 3.

 59.(UFPE) Antes de escrever A hora da estrela, Clarice Lispector trabalhou na imprensa carioca, mantendo “Colunas Femininas” em jornais de grande circulação. Observe a imagem, leia os textos e responda às questões.

TEXTO 1

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

TEXTO 2

Sou datilógrafa, virgem e gosto de Coca-Cola. (Clarice Lispector, A hora da estrela).

TEXTO 3

Também esqueci de dizer que o registro que em breve vai ter que começar (…) é escrito sob o patrocínio do refrigerante mais popular do mundo e que nem por isso me paga nada, refrigerante esse espalhado por todos os países. Apesar de ter gosto do cheiro de esmalte de unhas, de sabão Aristolino e plástico mastigado. Tudo isso não impede que todos o amem com servilidade e subserviência. Também porque – e vou dizer agora uma coisa difícil que só eu entendo – porque essa bebida que tem coca é hoje. Ela é um meio da pessoa atualizar-se e pisar na hora presente. (Clarice Lispector, A hora da estrela).

TEXTO 4

O gosto de uma rainha, ou mesmo de uma “estrela”, não é mais atualmente suficiente para o estabelecimento de um estilo, ou venda de um produto. As companhias de publicidade sabem que é preciso sondar os corações femininos. São pesquisas deste gênero que permitem constatar o estado permanente de inquietação da consciência feminina e medir até que ponto, no capítulo das compras, a mulher – essa grande compradora – se deixa influenciar na aquisição de um artigo. (Clarice Lispector, Correio Feminino).

0-0) O texto jornalístico de Clarice citado indica a sua preocupação em esclarecer as leitoras de sua época sobre o papel da mulher moderna no mundo consumista.

1-1) Coerente com o glamour das propagandas, o refrigerante em questão é retratado na obra de Clarice como uma bebida saudável e deliciosa, muito apreciada por Macabéa.

2-2) No Texto 3, Clarice sugere, ironicamente, que a sua narrativa foi “financiada” pela Coca-Cola, para parecer uma obra em sintonia com o seu tempo.

3-3) Para Clarice, a identidade da mulher moderna está cada vez mais associada ao seu poder de compra e ao seu acesso aos bens de consumo industrializados.

4-4) O título do romance “A hora da estrela” refere-se à virada na história da pobre Macabéa, que se torna, ao final, uma famosa estrela de cinema.

RESPOSTA: VFVVF

60. (UCAM) Observe as duas assertivas abaixo:

PRIMEIRA: Rodrigo S.M. é o narrador do romance, cuja escritora é Clarice Lispector, mas ele não é um personagem do livro, A hora da Estrela..

SEGUNDA:O estilo Clariceano não permite o registro de ditos populares em seu romance A hora da Estrela.

 É correto afirmar:

a) as duas assertivas são verdadeiras;

b) as duas assertivas são falsas;

c) as duas assertivas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira;

d) apenas a primeira assertiva é verdadeira;

(UEMA) Texto para as questões 61 e 62.

Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado, não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse a sempre novidade que é escrever, eu me morreria simbolicamente todos os dias. Mas preparado estou para sair discretamente pela saída da porta dos fundos. Experimentei quase tudo, inclusive a paixão e o seu desespero. E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui. LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

61. Do fragmento recortado da obra, pode-se depreender um narrador que se apresenta como um sujeito

a) entediado com sua própria vida e desejoso de viver novas experiências.

b) angustiado e limitado diante da vida e do ato de escrever.

c) deslocado na vida e no mundo, que tem no ato de escrever o seu alento existencial.

d) cansado de viver e, por isso, desejoso de por fim a sua existência.

e) desesperado diante da sua própria impossibilidade de ser escritor.

62. Na passagem “eu me morreria simbolicamente todos os dias”, o pronome me exemplifica

a) um uso linguístico inadequado ao contexto do gênero discursivo de que faz parte o fragmento.

b) o emprego pontual da próclise completando a regência verbal do verbo, de acordo com a norma padrão da língua.

c) um monólogo sem perder de vista a denotação da linguagem para evitar desvios ou a subjetividade do leitor.

d) o emprego convencional da linguagem literária que exige construções sintáticas rigorosas na produção textual.

e) a importância da subjetividade no emprego da palavra na linguagem literária para (re)criar interpretações expressivas.

63. (UEMA) A metalinguagem ganha relevo no processo narrativo de A hora da estrela. O narrador Rodrigo S. M., dada a insistente angústia de que o ato de escrever sobre a obtusa Macabéa lhe provoca, coloca-se também como uma personagem que experiência a autocrítica ao mesmo tempo em que se sente fatalmente ligado à personagem que criara. Isso se evidencia na seguinte passagem:

a) “Desculpai-me mas, vou continuar a falar de mim que sou meu desconhecido, e ao escrever me surpreendo um pouco pois descobri que tenho um destino”.

b) “Pareço conhecer nos menores detalhes essa nordestina, pois se vivo com ela. E com muito adivinhei a seu respeito, ela se me grudou na pele qual melado pegajoso ou lama negra”.

c) “Com esta história eu vou me sensibilizar, e bem sei que cada dia é um dia roubado da morte. Eu não sou um intelectual, escrevo com o corpo. E o que escrevo é uma névoa úmida”.

d) “(Esta história são apenas fatos não trabalhados de matéria-prima e que me atingem direto antes de eu pensar. Sei muita coisa que não posso dizer. Aliás pensar o quê?)”.

e) “(Escrevo sobre o mínimo parco enfeitando-o com púrpura, joias e esplendor. É assim que se escreve? Não, não é acumulando e sim desnudando. Mas tenho medo da nudez, pois ela é a palavra final.)”

64. (UFRGS) No bloco superior abaixo, estão listados os nomes de personagens de A hora da estrela, de Clarice Lispector, e de Gota d’água, de Chico Buarque e Paulo Pontes; no inferior, trechos relacionados a essas personagens. Associe adequadamente o bloco inferior ao superior.

1 -Macabéa

2 -Joana

( ) Ninguém vai sambar na minha caveira . Vocês tão de prova: eu não sou mulher pra macho chegar e usar como quer, depois dizer tchau.

( ) Pra não ser trapo nem lixo, nem sombra, objeto, nada, eu prefiro ser um bicho, ser esta besta danada. Me arrasto, berro, me xingo, me mordo, babo, me bato, me mato, mato e me vingo, me vingo, me mato e mato.

 ( ) Então defendia-se da morte por intermédio de um viver de menos, gastando pouco de sua vida para esta não se acabar.

( ) Ela nascera com maus antecedentes e agora parecia uma filha de um não-sei-o-quê com ar de se desculpar por ocupar espaço. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 2 – 2 – 1 – 1.

b) 2 – 1 – 1 – 2.

c) 2 – 1 – 2 – 1.

d) 1 – 2 – 2 – 1.

e) 1 – 1 – 2 – 2.

65. (UFPE) Guimarães Rosa e Clarice Lispector apresentam em seus romances e contos certo interesse pela linguagem. O conto A menina de lá e o romance A Hora da Estrela não constituem exceção. Nesse sentido, analise as afirmações seguintes.

0-0) Em A Hora da Estrela, a autora demonstra intensa preocupação com a linguagem, quando atribui ao livro treze diferentes títulos, embora se tenha decidido pelo que hoje o identifica. Também reconhece que deve “falar simples para captar” a vaga existência da protagonista.

1-1) Rodrigo S.M, autor ficcional do romance A Hora da Estrela, ao criar a personagem feminina Macabéa, explicita a importância da palavra e confessa: “Assim é que essa história será feita de palavras que se agrupam em frases e destas se evola um sentido secreto que ultrapassa palavras e frases.”

2-2) Coexistem em A Hora da Estrela dois discursos, o ficcional e o metaficcional. No entanto, Rodrigo S. M., narrador, autor textual e personagem, limita-se a criar Macabéa, sem discutir o próprio processo de criação da personagem.

3-3) Em A menina de lá, conto de Primeiras histórias, Guimarães Rosa também revela sua obsessão pela linguagem, quando cria uma personagem que faz uso da palavra de modo estranho, pois, quando as seleciona, cria uma nova realidade. Assim, as palavras de Ninhinha assumem novos sentidos, mágicos e inusitados.

4-4) Guimarães Rosa, em A menina de lá, inventa uma história e ao mesmo tempo discute o uso da linguagem da protagonista, a qual, tanto quanto ele próprio, cria neologismos como: “Ele xurugou?” e frases poéticas tais como “O passarinho desapareceu de cantar”, ou ainda “A gente não vê quando o vento se acaba…”.

RESPOSTA: VVFVV

(UERJ) As questões 66 a 65 referem-se ao romance A Hora da Estrela, de Clarice Lispector.

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

66. No manuscrito acima, retirado dos originais da autora, leem-se as duas primeiras frases do romance. Na última frase do romance, lê-se apenas uma palavra: Sim.

Considerando o caráter simbólico da personagem Macabéa, as ocorrências da palavra “sim” nessas frases estabelecem o seguinte efeito:

a) cíclico

b) paradoxal

c) denotativo

d) hiperbólico

67.Como a nordestina, há milhares de moças espalhadas por cortiços, vagas de cama num quarto, atrás de balcões trabalhando até a estafa. Não notam sequer que são facilmente substituíveis e que tanto existiriam como não existiriam. O romance enfatiza que a personagem Macabéa vive a realidade de milhares de moças, como exemplifica o trecho citado.

Essa ênfase critica o processo sofrido por todas elas de:

a) alienação social

b) rivalidade geracional

c) humilhação intelectual

d) empobrecimento moral

68. Um outro escritor, sim, mas teria que ser homem porque escritora mulher pode lacrimejar piegas. Considerando que o romance é de Clarice Lispector, pode-se inferir que a frase do narrador é

irônica. Essa ironia está baseada na:

a) relativização da opressão

b) inclinação ao universal

c) sofisticação da escrita

d) crítica ao machismo

69. Metonímia é a figura de linguagem em que a parte representa o todo, ou vice-versa.

No romance, a protagonista Macabéa constitui uma metonímia de todos os:

a) excluídos

b) românticos

c) indiferentes

d) privilegiados

70. Vejo a nordestina se olhando ao espelho e – um rufar de tambor – no espelho aparece o meu rosto cansado e barbudo.

Com essa frase, o narrador manifesta pela protagonista o sentimento de:

a) pena

b) empatia

c) rejeição

d) admiração

71. Eu gosto tanto de ouvir os pingos de minutos do tempo assim: tic-tac-tic-tac-tic-tac. Ao longo do texto, o narrador descreve Macabéa como ignorante, o que contrasta com a frase da personagem. O contraste se dá porque frases como a citada acima mostram um uso de linguagem que pode

ser definido como:

a) poético

b) parodístico

c) eufemístico

d) argumentativo

72. Estrela é uma palavra que faz parte do título do romance, além de ser o símbolo do carro da marca Mercedes, decisivo para o final da história.

Considerando esse final, o título do livro expressa o sentido de:

a) elogio

b) ironia

c) negação

d) louvação

73. Quando o narrador do romance afirma que a história é verdadeira embora inventada, ele faz alusão a um conceito importante em literatura.

Esse conceito é denominado:

a) intertextualidade

b) verossimilhança

c) dramaticidade

d) onisciência

74. (UFMS) Em A hora da estrela, de Clarice Lispector, acompanhamos a história de Macabeá, jovem nordestina que vive, no Rio de Janeiro, uma existência solitária e anônima, marcada por privações de todo o tipo. Nessa obra, a escrita clariceana alterna momentos em que se expressa de um modo direto, próprio para remeter à dureza da vida de sua personagem central, como outros em que emprega diversos recursos afeitos à linguagem poética, como no relato do encontro de Macabéa com Olímpico de Jesus.

“Maio, mês das borboletas noivas flutuando em brancos véus. Sua exclamação talvez tivesse sido um prenúncio do que ia acontecer no final da tarde desse mesmo dia: no meio da chuva abundante encontrou (explosão) a primeira espécie de namorado de sua vida, o coração batendo como se ela tivesse englutido um passarinho esvoaçante e preso. O rapaz e ela se olharam por entre a chuva e se reconheceram como dois nordestinos, bichos da mesma espécie que se farejam. Ele a olhara enxugando o rosto molhado com as mãos. E a moça, bastou-lhe vê-lo para torná-lo imediatamente sua goiaba-com-queijo.” (LISPECTOR, Clarice. A hora da estrela. 23 ed. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1995. p. 59).

A respeito do trecho acima, é correto afirmar que:

a) ao se referir à exclamação de Macabéa como um possível “prenúncio do que ia acontecer”, o narrador realça o traço de fatalidade que paira sobre as ações e a vida da personagem no desenrolar da história.

b) a suavidade que se depreende da frase inicial acaba por conferir a todo o parágrafo um sentido romântico, criando o ambiente necessário para o primeiro encontro entre Macabéa e Olímpico.

c) a comparação que associa o bater do coração a um pássaro, ao mesmo tempo, livre e preso aponta diretamente para a simplicidade do sentimento amoroso, o que marca as ações de Macabéa ao longo da narrativa.

d) a imagem “bichos da mesma espécie que se farejam”, remetendo à condição nordestina de Macabéa e Olímpico, revela um preconceito do narrador em torno da origem desses personagens.

e) ao atribuir a Macabéa um olhar sobre Olímpico como “sua goiaba-com-queijo”, o narrador indica uma de suas características marcantes ao longo da história, a de mulher apegada às coisas fúteis da vida.

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

1. (FUVEST)  No excerto abaixo, narra-se parte do encontro de Brás Cubas com Quincas Borba, quando este, reduzido à miséria, mendigava nas ruas do Rio de Janeiro:

Tirei a carteira, escolhi uma nota de cinco mil-réis, – a menos limpa, – e dei-lha [a Quincas Borba]. Ele recebeu-ma com os olhos cintilantes de cobiça. Levantou a nota ao ar, e agitou-a entusiasmado.

— In hoc signo vinces!bradou.

E depois beijou-a, com muitos ademanes de ternura, e tão ruidosa expansão, que me produziu um sentimento misto de nojo e lástima. Ele, que era arguto, entendeu-me; ficou sério, grotescamente sério, e pediu-me desculpa da alegria, dizendo que era alegria de pobre que não via, desde muitos anos, uma nota de cinco mil-réis.

— Pois está em suas mãos ver outras muitas, disse eu.

— Sim? acudiu ele, dando um bote para mim.

— Trabalhando, concluí eu.

“In hoc signo vinces!”: citação em latim que significa “Com este sinal vencerás” (frase que teria aparecido no céu, junto de uma cruz, ao imperador Constantino, antes de uma batalha).    Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

a) Tendo em vista a autobiografia de Brás Cubas e as considerações que, ao longo de suas Memórias póstumas, ele tece a respeito do tema do trabalho, comente o conselho que, no excerto, ele dá a Quincas Borba: “— Trabalhando, concluí eu”.

b) Tendo, agora, como referência, a história de D. Plácida, contada no livro, discuta sucintamente o mencionado conselho de Brás Cubas.

RESPOSTAS:

a) O conselho de Brás Cubas a Quincas Borba revela a hipocrisia do personagem-narrador que, nascido em família abastada e amparado pelos privilégios concedidos à elite burguesa do Segundo Reinado, nunca tivera de trabalhar para garantir a sua sobrevivência.

b) Brás Cubas assume comportamentos diferentes relativamente a Quincas Borba e a D. Plácida. Enquanto que ao primeiro, num gesto vaidoso e paternalista, lhe dava uma pequena esmola e aconselhava a trabalhar para conseguir mais dinheiro, à segunda, movido pelo interesse em manter uma aliada para os seus encontros clandestinos com Virgília, oferecia quantias generosas sem nenhum sentimento de culpa.

 2. O pensamento “Suporta-se com paciência a cólica do próximo”. (Machado de Assis – “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, cap. CXIX) é perfeitamente ilustrado pela tirinha abaixo. Justifique.

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

RESPOSTA:

Nos dois primeiros quadros, Mônica é alvo de ironias. Cebolinha lê sobre os defeitos de Mônica – dentuça e gordinha – e pergunta-lhe onde está o espírito esportivo. No último quadro, Cebolinha vê que Maurício de Souza pretende aumentar seus cabelos por estar “parecendo um anãozinho careca”. Diante do alvo, irrita-se.

 3. Leia a seguir o capítulo CX, de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis, e que significativamente tem o título de “31”.
Uma semana depois, Lobo Neves foi nomeado presidente de província. Agarrei-me à esperança da recusa, se o decreto viesse outra vez datado de 13; trouxe, porém, a data de 31, e esta simples transposição de algarismos eliminou deles a substância diabólica. Que profundas que são as molas da vida!
a) O narrador refere-se aí a um episódio de bastante importância para o prosseguimento de sua vida amorosa. Quais as relações entre o narrador e a personagem Lobo Neves aí citada?
b) Que episódio anterior deve ser levado em conta para se entender o trecho “Agarrei-me à esperança da recusa, se o decreto viesse outra vez datado de 13”?
c) A frase “Que profundas que são as molas da vida!” pode ser interpretada como irônica no contexto do romance. Por quê?

RESPOSTAS:
a) Brás Cubas é amante de Virgília, que é esposa de Lobo Neves. São rivais no amor e na vida política.
b) Brás Cubas vê, na nomeação de Lobo Neves como governador do Estado, a possibilidade de perder Virgília, que se afastaria da Corte e acompanharia o marido. Lobo Neves desiste, pois a nomeação foi promulgada no dia 13, e ele era supersticioso.
c) O narrador menciona que as razões de Lobo Neves quanto à renúncia são “profundas” no sentido irônico. Trata-se de “inconsequentes”, “absurdas”, visto desistir do cargo por mera superstição.

 4. No romance MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, o narrador fornece ao leitor uma visão nada lisonjeira das personagens, especialmente quando se trata das personagens femininas.
a) Sabendo que essa visão do narrador é acentuada no processo de construção daquela que foi a sua primeira e grande paixão de juventude, identifique essa personagem e cite ao menos um dos traços que a caracterizam.
b) Referindo-se a D. Plácida, afirma o narrador: “Foi assim que lhe acabou o nojo”. Qual a função exercida por essa personagem na trama do citado romance? De que nojo se trata e de que modo ele teria acabado?

RESPOSTAS:
a) A personagem é Marcela, ambiciosa, uma prostituta de luxo, que quase leva a família de Brás Cubas a falência.
b) D. Plácida é a “mediadora” dos amores adúlteros do narrador. É ela quem cuida da casa em que o narrador encontra-se com Virgília. Para acabar com o “nojo” de D. Plácida, dá-lhe “cinco contos”

5. “Vim… Mas não; não alonguemos este capítulo. Às vezes, esqueço-me a escrever, e a pena vai comendo papel, com grave prejuízo meu, que sou autor. Capítulos compridos quadram melhor a leitores pesadões; e nós não somos um público infólio, mas in-12, pouco texto, larga margem, tipo elegante, corte dourado e vinhetas… principalmente vinhetas… Não, não alonguemos o capítulo.”
REDIJA um pequeno texto justificando a maneira como o narrador de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis, considera o leitor.

RESPOSTA:
O narrador machadiano expõe ao leitor os problemas da criação literária e da técnica narrativa, chamando-o a participar do processo narrativo.

 6. (FUVEST/SP)

“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto.” Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.

a) Explique resumidamente o que era o “emplasto” e por que deveria ter trazido celebridade a Brás Cubas.

b) Relacionando-a sucintamente ao contexto sócio histórico em que se desenvolve o enredo do romance, explique a frase “coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto.”

RESPOSTAS:

a) O emplasto seria um remédio que, segundo seu inventor, Brás Cubas, curaria a humanidade de toda a hipocondria. Levaria o seu nome e por isso lhe conferiria fama.
b) Brás Cubas encarna o típico representante da elite que vive da fortuna familiar e é dessa forma que Machado alfineta a hipócrita burguesia belle-époque de seu tempo.

7. (UNICAMP-SP) No romance Memórias póstumas de Brás Cubas, o narrador fornece ao leitor uma visão nada lisonjeira das personagens, especialmente quando se trata das personagens femininas.

a) Sabendo que essa visão do narrador é acentuada no processo de construção daquela que foi a sua primeira e grande paixão de juventude, identifique essa personagem e cite ao menos um dos traços que a caracterizam.

b) Referindo-se a D. Plácida, afirma o narrador: “Foi assim que lhe acabou o nojo”. Qual a função exercida por essa personagem na trama do citado romance? De que nojo se trata e de que modo ele teria acabado?

RESPOSTAS:

a) A primeira paixão de Brás Cubas foi Marcela, descrita como bela e ambiciosa, enquanto lemos o período do namoro. Quando o enredo avança, descobrimos que ela é uma cortesã, que ficou com Brás Cubas por seu dinheiro.
b) Trata-se de uma antiga empregada de Virgília que é contratada por Brás Cubas para cuidar da casa da Gamboa e assim “acobertar” o caso adúltero dos amantes protagonistas do romance. O “nojo” será atenuado com o pagamento que lhe é oferecido.

8. (UNICAMP) Leia a seguir o capítulo CX de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e que significativamente tem o título de “31”.

“Uma semana depois, Lobo Neves foi nomeado presidente de província. Agarrei-me à esperança da recusa, se o decreto viesse outra vez datado de 13; trouxe, porém, a data de 31, e esta simples transposição de algarismos eliminou deles a substância diabólica. Que profundas que são as molas da vida!”

a) O narrador refere-se aí a um episódio de bastante importância para o prosseguimento de sua vida amorosa. Quais as relações entre o narrador e a personagem Lobo Neves aí citada?

b) Que episódio anterior deve ser levado em conta para se entender o trecho “Agarrei-me à esperança da recusa, se o decreto viesse outra vez datado de 13”?

c) A frase “Que profundas que são as molas da vida!” pode ser interpretada como irônica no contexto do romance. Por quê?

RESPOSTAS:

a) Lobo Neves é o marido de Virgília, que, por sua vez, é amante de Brás Cubas. Além disso, durante a narrativa, Brás Cubas insinua a concorrência entre os dois também na política, de onde sai derrotado.
b) Lobo Neves já havia recusado uma nomeação — para o governo do Estado — por ter ocorrido em um dia 13, já que era supersticioso.
c) A ironia é evidente quando o narrador atribui profundidade às decisões impulsionadas por algumas superstições.

9. (UFV-MG) Observe como o narrador inicia o primeiro capítulo de Memórias póstumas de Brás Cubas:

“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que escrito ficaria assim mais galante e mais novo.” ASSIS, Machado de. In: COUTINHO, Afrânio (Org.). Obra completa.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. v. I, p. 513.

Escreva, de forma concisa, sobre o narrador-personagem, Brás Cubas, apontando elementos que justifiquem a postura revolucionária de Machado de Assis, como iniciador do movimento literário realista.

RESPOSTAS:

Machado de Assis se vale de um narrador que expõe o processo de criação literária e, dessa forma, rompe a barreira entre a ficção e a realidade. Não o faz de forma direta e cria um ambiente propício tanto às ilusões quanto às digressões mais críticas, já que está morto e afastado de qualquer compromisso mundano.

 10. Observe como o narrador inicia o primeiro capítulo de “Memórias Póstumas de Brás Cubas”:
Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor , para quem a campa foi outro berço; a segunda é que escrito ficaria assim mais galante e mais novo.(ASSIS, Machado de. “Obra completa.” In: COUTINHO, Afrânio, org. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1992. p. 513. v. I)
Escreva, de forma concisa, sobre o narrador-personagem, Brás Cubas, apontando elementos que justifiquem a postura revolucionária de Machado de Assis, como iniciador do movimento literário realista:

RESPOSTAS:
Embora a enunciação de Brás Cubas paire no absurdo, pois um morto não fala, e sobretudo não escreve, o personagem identifica-se na obra como um “defunto-autor”. Talvez Machado, inovando sua técnica, entendesse que seu narrador merecia uma exceção, dado que ao figurar-se como morto, dava-lhe uma vantagem: mostrar-se multifacetado. Enquanto morto caracterizava-se como ser inteligente; e morto, um “debochado”, “palhaço”.

11. (FUVEST) Leia atentamente as seguintes afirmações:

“A vida íntima do brasileiro nem é bastante coesa, nem bastante disciplinada, para envolver e dominar toda a sua personalidade e, assim, integrá-la, como peça consciente, no conjunto social. Ele é livre, pois, para se abandonar a todo repertório de ideias, gestos e formas que encontre em seu caminho, assimilando-os frequentemente sem maiores dificuldades.”Adaptado de Sérgio Buarque de Holanda, Raízes do Brasil.

Essas afirmações aplicam-se à personagem Brás Cubas? Justifique sucintamente sua

RESPOSTA:

A personalidade de Brás Cubas se encaixa perfeitamente na descrição de brasileiro do historiador Sérgio Buarque de Holanda. Sempre que sente a oportunidade, Brás Cubas passa a digredir sobre os mais variados assuntos “sem maiores dificuldades”.

12. (PUC-RS) Para responder à questão, leia as seguintes afirmativas a respeito de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

I. O insólito no romance advém do fato de que Brás Cubas, escritor do Rio de Janeiro, utiliza um narrador-fantasma que assombra os vivos.

II. O narrador é um defunto-autor que relata suas memórias no além-túmulo, para, de modo irônico, expressar seu pessimismo em relação ao ser humano e à sociedade.

III. É inusitada a forma como Brás Cubas, por meio de um delírio, empreende uma jornada através dos séculos.

A(s) afirmativa(s) correta(s) é/são:

a) I, apenas.

b) I e II, apenas.

c) I e III apenas.

d) II e III, apenas.

e) I, II, III.

13. (UNICAMP) O romance Memórias póstumas de Brás Cubas é considerado um divisor de águas tanto na obra de Machado de Assis quanto na literatura brasileira do século XIX. Indique a alternativa em que todas as características mencionadas podem ser adequadamente atribuídas ao romance em questão.

a) Rejeição dos valores românticos, narrativa linear e fluente de um defunto autor, visão pessimista em relação aos problemas sociais.

b) Distanciamento do determinismo científico, cultivo do humor e digressões sobre banalidades, visão reformadora das mazelas sociais.

c) Abandono das idealizações românticas, uso de técnicas pouco usuais de narrativa, sugestão implícita de contradições sociais.

d) Crítica do realismo literário, narração iniciada com a morte do narrador-personagem, tematização de conflitos sociais.

TEXTOS PARA AS QUESTÕES 14 E 15

(FUVEST) Cinquenta anos! Não era preciso confessá‐lo. Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto* como nos primeiros dias. Naquela ocasião, cessado o diálogo com o oficial da marinha, que enfiou a capa e saiu, confesso que fiquei um pouco triste. Voltei à sala, lembrou‐me dançar uma polca, embriagarme das luzes, das flores, dos cristais, dos olhos bonitos, e do burburinho surdo e ligeiro das conversas particulares. E não me arrependo; remocei. Mas, meia hora depois, quando me retirei do baile, às quatro da manhã, o que é que fui achar no fundo do carro? Os meus cinquenta anos.

*ágil

Meu caro crítico, Algumas páginas atrás, dizendo eu que tinha cinquenta anos, acrescentei: “Já se vai sentindo que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches esta frase incompreensível, sabendo‐se o meu atual estado;mas eu chamo a tua atenção para a sutileza daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da minha vida experimento a sensação correspondente. Valha‐me Deus! É preciso explicar tudo. Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas.

14. Entre os dois trechos do romance, nota‐se o movimento que vai da memória de vivências à revisão que o defunto autor faz de um mesmo episódio. A citação, pertencente a outro capítulo do mesmo livro, que melhor sintetiza essa duplicidade narrativa,é:

a) “A conclusão, portanto, é que há duas forças capitais: o amor, que multiplica a espécie, e o nariz, que a subordina ao indivíduo”.

b) “Obra de finado. Escrevia com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil perceber o que poderá sair desse conúbio”.

c) “Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito do livro és tu, leitor”.

d) “Viver não é a mesma cousa que morrer; assim o afirmam todos os joalheiros desse mundo, gente muito vista na gramática”.

e) “Não havia ali a atmosfera somente da águia e do beija‐flor; havia também a da lesma e do sapo”.

15.A passagem final do texto II – “Valha‐me Deus! é preciso explicar tudo.” – denota um elemento presente no estilo do romance, ou seja,

a) o realismo, visto no rigor explicativo dos fatos.

b) a religiosidade, que se socorre do auxílio divino.

c) o humor, capaz de relativizar as ideias.

d) a metalinguagem, que imprime linearidade à narração.

e) a ironia, própria do discurso positivo.

16. (PUC-SP) Entre os vários temas que dão forma ao romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, destaca-se o tema da loucura.

Desse tema NÃO se pode afirmar que

a) esta presente no capitulo “Os Navios de Pireu”, que revela a mania de um ateniense pobre que se achava dono dos navios atracados no porto.

b) se mostra no capitulo “Um grão de sandice”, em que um doido chamado Romualdo se diz ser Tamerlão, general tártaro, fundador do II Império Mongol.

c) aparece no capitulo “A Semidemência”, que retrata fundamentalmente Quincas Borba, que morre louco e achando que a dor e uma pura ilusão.

d) integra o capitulo “O Delírio”, em que Brás. Cubas, acometido de loucura, morre aos sessenta e quatro anos, apos uma viagem alucinada a origem dos séculos, no lombo de um hipopótamo.

17. (UNEMAT) Em  Memórias Póstumas de Brás Cubas (2010), Machado de Assis inventa um personagem que depois de morto avalia sua vida.Dentre seus projetos frustrados, podem-se citar

a) namorar Marcela, casar com Virgília, ser deputado e inventar um emplasto.

b) namorar Eugênia, ajudar financeiramente D. Plácida e conhecer a Europa.

c) dar joias a Marcela, conviver com Lobo Neves e dar a volta ao mundo.

d) não trabalhar, ser famoso e ter filhos.

e) abolir a escravidão, acabar com a pobreza e ser disputado pelas mulheres.

18. ( PUC- SP ) A estruturação dos capítulos de Memórias póstumas de Brás Cubas:

a) Estabelece uma linha cronológica em sentido inverso, adequando- se, assim, à condição de um “defunto autor”.

b) Revela os movimentos caprichosos de um narrador sem obrigações com a cronologia e a forma do romance convencional.

c) Revela descompromisso com a linha temporal e com a constituição das personagens, cujo caráter não se define na vertigem das cenas.

d) Estabelece um padrão próprio, constituindo-se numa série de divagações sobre a impossibilidade de se organizar a narrativa.

e) Revela a preocupação do narrador em submeter constantemente a matéria narrada ao julgamento do leitor, de quem espera a absolvição para tanta desfaçatez.

19. (UFPB )“…Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.” Na passagem acima, extraída do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, percebe-se que o narrador:

a) sugere apenas que Marcela o amou por pouco tempo.

b) expressa de forma metafórica o amor interesseiro de Marcela.

c) apresenta uma imagem romântica do amor.

d) idealiza a figura feminina ao retratar a devoção amorosa de Marcela.

e) demonstra pesar e dor pelo fim do romance.

20. (FUVEST-SP)

O senão do livro

“Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem…”Machado de Assis. Memórias póstumas de Brás Cubas.

Tendo em vista o contexto das Memórias póstumas de Brás Cubas, é correto afirmar que, nesse excerto:

a) As imagens que se referem ao próprio livro, mesmo exageradas, apontam para características que esse romance de fato apresenta.

b) Ao ponderar a opinião do leitor, o narrador novamente evidencia o respeito e a consideração que tem por ele.

c) O movimento autocrítico põe em relevo, principalmente, a modéstia e a contenção característica do narrador.

d) O fato de o narrador dirigir-se diretamente ao leitor configura um momento de exceção no livro.

e) A atitude do narrador contradiz a constância e a persistência com que habitualmente executa seus projetos.

21. (UEL-PR) O romance Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é considerado um divisor de águas — e não apenas em relação à obra do escritor, mas à história da literatura brasileira, já que naquela obra o autor:

a) Abandona de vez a análise psicológica e a ironia, dando ênfase à trama realista calcada na descrição dos fatos.

b) Introduz entre nós os princípios da escola naturalista, sobretudo os que representam o determinismo científico.

c) Passa a idealizar valores morais e éticos até então relativizados, criando agora personagens fortes e íntegras.

d) Abandona o romantismo de fundo nacionalista e passa à análise das expressões particulares de culturas regionais.

e) Renova a forma mesma do gênero romance, dando lhe uma elasticidade na qual ironia e análise objetiva se fundem.

22. (PUC-SP) O capítulo I — Óbito do autor — e o último capítulo —Das negativas —, de Memórias póstumas de Brás Cubas, fazem referências, respectivamente, a uma hesitação sobre a abertura pelo princípio ou pelo fim das memórias do defunto autor, e a um saldo no balanço da vida. Considerando esses capítulos e utilizando informações de que você dispõe sobre o romance, é correto declarar que o narrador Brás Cubas:

a) É um autor defunto que oniscientemente começa a narrar, pela morte, as memórias de amigos céticos e vaidosos, incluindo nesse narrar um balanço de sua própria história.

b) Estrutura a narrativa de modo a principiá-la pelo fim, ou seja, pela morte, e vai, aos poucos até o final, revelando ao leitor a razão de um defunto autor se interessar em escrever suas memórias.

c) É um autor defunto que relata seu enterro com grandeza, embora não deixe de confessar sua vida de fracassos, confirmados no último capítulo.

d) Estrutura a narrativa de modo que o leitor siga a cronologia dos acontecimentos da vida do autor defunto, desde a sua morte até o nascimento.

e) É um autor defunto que relata a própria morte, narrando suas memórias a partir do nascimento, intercalando-as com reflexões psicológicas e finalizando-as com um pequeno saldo.

23. (UNAMA) Sua leitura atenta das Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, permitiu-lhe ver como o narrador desmascara a sua própria hipocrisia e a da sociedade que o rodeia. Isso foi possível dada a seguinte situação deste narrador, evidenciada na obra:

a) É de 3ª pessoa: onisciente e onipresente.

b) Goza da impunidade de ser um “defunto–autor”.

c) É um filósofo criador da teoria do humanitismo.

d) É de 1ª pessoa, testemunha ocular do romance adúltero entre Brás Cubas e Virgília.

24. (PUC-SP) Leia os textos abaixo

Texto a) Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas. Tu, minha Eugênia, é que não as descalçaste nunca; foste aí pela estrada da vida, manquejando da perna e do amor, triste como os enterros pobres, solitária, calada, laboriosa, até que vieste também para esta outra margem … O que eu não sei é se a tua existência era muito necessária ao século. Quem sabe?

Texto b) Aí tem, o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoa que devia influir mais tarde na minha vida; era aquilo com dezesseis anos. Tu que me lês, se ainda fores viva, quando estas página vierem à luz, – tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre a linguagem de hoje e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê que era tão sincero então como agora; a morte não me tornou rabugento, nem injusto.Esses trechos acima são de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

Considerando-os, bem como o romance como um todo, NÃO SE PODE afirmar que

a) em ambos, o narrador assume a sua condição de defunto autor para considerar coisas a respeito da vida das mulheres com quem se relacionou.

b) no Texto a, o narrador indicia que também ela (Eugenia) havia morrido e que se encontrava no mesmo lado em que ele estava, apos sofrer as vicissitudes de uma vida cheia de decepções.

c) em ambos, predomina a função conativa da linguagem, já que o narrador atua sobre as personagens, tornando-as suas interlocutoras.

d) no Texto b, o narrador ressalta a diferença de linguagem no trato da figura da mulher amada que, em verdade, não chega a influir mais tarde em sua vida social e amorosa.

25.(UPE)  Assinale, na coluna I, as afirmativas verdadeiras e, na coluna II, as falsas.

Abaixo, em negrito, aparecem cinco características da produção literária de Machado de Assis, seguidas, cada qual, de um fragmento da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas cujo grifo ressaltaria a característica respectiva. Analise se a relação indicada entre o fragmento e a característica apresentada é coerente.

I   II.

0   0   Relação entre ser e parecer: “Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda ela estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha vida, no meu pensamento; — era o que dizia, e era verdade.” (Cap. LIII, grifo nosso)

1   1   Criação de mulheres enigmáticas: “Minha mãe doutrinava-me a seu modo, fazia-me decorar alguns preceitos e orações; mas eu sentia que, mais do que as orações, me governavam os nervos e o sangue[…]” (Cap. XI, grifo nosso)

2   2   Ironia: “ Também por que diabo não era ela [a borboleta preta] azul? disse comigo. E esta reflexão, — uma das mais profundas que se tem feito, desde a invenção das borboletas, — me consolou do malefício, e me reconciliou comigo mesmo.” (Cap. XXXI, grifo nosso).

3   3   Sarcasmo: “Daqui inferi eu que a vida é o mais engenhoso dos fenômenos, porque só aguça a fome, com o fim de deparar a ocasião de comer, e não inventou os calos, senão porque eles aperfeiçoam a felicidade terrestre. Em verdade vos digo que toda a sabedoria humana não vale um par de botas curtas.” (Cap. XXXVI, grifo nosso)

4   4   Uma escrita renovadora em relação à tradição literária brasileira: “Vivi meio recluso, indo de longe em longe a algum baile, ou teatro, ou palestra, mas a maior parte do tempo passei-a comigo mesmo.” (Cap. LXXVII, grifo nosso)

RESPOSTA:  42. I: 0, 2, 3. / II:1, 4

26. (UFMS) Assinale a(s) alternativa(s) correta(s).

(01) Em Memórias de um Sargento de Milícias, Leonardo, filho de “uma pisadela e um beliscão”, sobrevive entre o bem e o mal, a virtude e o pecado, conforme as circunstâncias exigem, lançando mão do famoso “jeitinho brasileiro”.

(02) No romance Dom Casmurro, o passado surge envolto numa atmosfera de ambiguidade. Isso confunde não só o leitor como também o próprio narrador, apesar da aparente razão que Bentinho julga possuir.

(04) Quanto a Sérgio, protagonista de O Ateneu, só lhe resta aproximar-se do passado como forma de reabilitação moral. Por isso usa a linguagem da destruição, simbolicamente

caracterizada pelo incêndio, devastando valores que seriam os responsáveis por uma formação moralmente deficitária.

(08) Em Capitães da Areia, revela-se a construção de uma sociedade que só seria viável por meio do engajamento político dos indivíduos.

(16) Em Caetés, o escritor demonstra que a ação de escrever principia pelo domínio linguístico; daí advém colocar o narrador-protagonista, João Valério, como um “aprendiz” de escritor, iniciando-se nos questionamentos linguístico-literários.

SOMA:  31.

27. (PUC-RS) Em um episódio de Memórias Póstumas de Brás Cubas, o protagonista pergunta ao “preto que vergalhava outro na praça” (…) se aquele (…) “era escravo dele.” A resposta afirmativa evidencia a relatividade das posições que o homem assume diante da vida. Além da visão do ser humano a partir de sua interioridade — pela análise psicológica das personagens —, as características que seguem também identificam a obra de Machado de Assis, com exceção:

a) da linearidade da estrutura narrativa.

b) da interferência do narrador.

c) da denúncia da hipocrisia.

d) da perfeição formal.

e) do tom irônico.

 28. (U. F. VIÇOSA-MG) Dentre as alternativas abaixo, apenas uma não contém informações

totalmente verdadeiras sobre Memórias Póstumas de Brás Cubas. Assinale-a:

a) O personagem Brás Cubas diz o que pensa dos outros e de si mesmo com uma sinceridade que só a maturidade póstuma lhe pôde propiciar.

b) Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, as relações sociais cedem lugar à inquirição sobre a alma humana, que, por sua vez, tornou-se objeto de atenção do escritor realista.

c) Memórias Póstumas de Brás Cubas é uma obra típica do Realismo, na medida em que subverte as técnicas narrativas românticas e ironiza os valores burgueses.

d) O defunto autor desordena a cronologia dos fatos reconstituídos em sua memória através de idas e vindas em um tempo não linear.

e) A narrativa machadiana insere-se na estética realista por denunciar as mazelas sociais brasileiras e por criticar a civilização industrial emergente.

29. (PUC-SP) O romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, faz significativo uso da linguagem figurada, o que dá ao texto uma fina dimensão estética. Assim, indique a alternativa em que o fragmento não está corretamente classificado, de acordo com a figura que nele ocorre.

a) Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. – Metáfora,

b) E estando a recordá-lo, ouço um ranger de porta, um farfalhar de saias… – onomatopeia.

c) Quincas Borba não só estava louco, mas sabia que estava louco, e esse resto de consciência, como uma frouxa lamparina no meio das trevas, complicava muito o horror da situação. – Eufemismo.

d) Marcela morria de amores pelo Xavier. Não morria, vivia. Viver não é a mesma coisa que morrer. – Antítese.

Textos para a questão 30:

I

“— Algum tempo hesitei se deveria abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; (…) Moisés, que também contou a sua morte, não a pôs no introito, mas no cabo; diferença radical entre este livro e o Pentateuco.”  ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.

II

“— és filho de uma pisadela e de um beliscão; mereces que um pontapé te acabe a casta. (…)O menino suportou tudo com coragem de mártir, apenas abriu ligeiramente a boca quando foi levantado pelas orelhas: mal caiu, ergueu-se, embarafustou pela porta fora, e em três pulos estava dentro da loja do padrinho, e atracando-se-lhe às pernas.” ALMEIDA, Manuel A. de. Memórias de um Sargento de Milícias.

30.(UFPE) Após a leitura atenta dos textos I e II, assinale a alternativa correta.

a) Apesar de ambos os romances intitularem-se ‘memórias’, o primeiro não é contado em 1ª pessoa e relata a vida do protagonista depois que se torna sargento de milícias; já o texto de Machado traz um “defunto autor”.

b) Manuel de Almeida aproxima-se da linguagem coloquial falada no Brasil de seu tempo, enquanto Machado de Assis, não.

c) O texto de Manuel de Almeida, considerado precursor do Realismo em nossas letras, e o de Machado traduzem o cientificismo dominante na época.

d) No texto II, o autor descreve a forma de tratar as crianças na nobreza no Rio de Janeiro de D. João VI.

e) É característica notória da obra de Machado a ironia, traço que não é apresentado no texto I.

31. (UNIFOR-CE) “O seu tempo era também o tempo da educação do leitor brasileiro, da qual este autor participa de forma tão decisiva com …… . Romancistas e poetas brasileiros que, como …… , viveram o apogeu …… , sentiram e expressaram mudanças muito significativas no modo de fazer cultura.”

Preenchem corretamente as lacunas do período acima, na ordem dada, os seguintes elementos:

a) Quincas Borba – Machado de Assis – da luta pela independência.

b) Memórias Póstumas de Brás Cubas – Machado de Assis – do reinado de D. Pedro II.

c) O Ateneu – Raul Pompéia – do reinado de D. Pedro I.

d) O Cortiço – Aluísio Azevedo – da consolidação da monarquia.

e) Casa de Pensão – Aluísio Azevedo – do reinado de D. Pedro I.

 Texto para as questões de 33 a 34.

“Óbito do autor

Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.” ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. Capítulo primeiro.

32. (FUVEST) Considerando-se este fragmento no contexto da obra a que pertence, é correto afirmar que, nele,

a) o discurso argumentativo, de tipo racional e lógico, apresenta afirmações que ultrapassam a razão e o senso comum.

b) a combinação de hesitações e autocrítica já caracteriza o tom de arrependimento com que o defunto autor relatará sua vida improdutiva.

c) as hesitações e dúvidas revelam a presença de um narrador inseguro, que teme assumir a condução da narrativa e a autoridade sobre os fatos narrados.

d) as preocupações com questões de método e as reflexões de ordem moral mostram um narrador alheio às meras questões literárias, tais como estilo e originalidade.

e) as considerações sobre o método e sobre a lógica da narração configuram o modo característico de se iniciar o romance no Realismo.

33.(FUVEST) Comparando-se Brás Cubas e Macunaíma, é correto afirmar que, apesar de diferentes, ambos

a) possuem muitos defeitos, mas conservam uma ingenuidade infantil, isenta de traços de malícia e de egoísmo.

b) tiveram seu principal relacionamento amoroso com mulheres tipicamente submissas, desprovidas de iniciativa.

c) não trabalham, caracterizando-se pela ausência de qualquer demanda ou busca que lhes mobilize o interesse.

d) narram suas histórias diretamente ao leitor, em primeira pessoa, depois de mortos: Brás Cubas, como defunto autor; Macunaíma, utilizando-se do papagaio.

e) têm a vida avaliada, na parte final dos relatos, em um pequeno balanço, ou breve avaliação de conjunto, com resultado negativo.

 34. (PUC-PR) Aponte, dentre as alternativas a seguir, aquela que contém informações CORRETAS sobre os relacionamentos amorosos do personagem Brás Cubas no romance homônimo de Machado de Assis:

e) O pai de Brás intervém para afastá-lo de Marcela, seu primeiro grande amor. Muito jovem e irresponsável, o protagonista do romance se envolve com a rica e sensual italiana e corre sérios riscos pelo fato de ela ser casada com um importante senador, amigo da família Cubas. Brás resiste o quanto pode à determinação de seu pai, porque percebe em Marcela um amor sincero. O fim do caso acontece quando ela, atacada pela culpa após o suicídio de seu marido, decide retornar à Itália para sempre, esquecendo tudo o que viveu no Brasil.

b) Brás Cubas, ao fazer, já na condição de “defunto autor”, o balanço de sua vida, atesta que não se casou e não teve filhos, e sugere que essas duas irrealizações seriam, cada uma a seu modo, algo comparável a um “lucro”. Essa visão pessimista dos relacionamentos, contudo, não o impediu de ter uma vida amorosa variada e agitada, sendo Virgília seu par mais constante. Com ela, ele teve um envolvimento que se sustentou na clandestinidade e sempre sob riscos, pelo fato de ela ser casada com o político Lobo Neves do qual, em certo tempo, Brás se aproximou, dizendo-se seu “amigo”. Todavia, aparentemente, para os amantes, esse caso nunca representou um drama moral. A preocupação de ambos, enquanto o amor durou, sempre foi manter as aparências no jogo social, evitando o quanto possível danos maiores para eles e para Lobo Neves.

c) Virgília é a figura feminina mais constante na vida de Brás Cubas. Fútil, superficial e interesseira, ela encontra no protagonista uma espécie de “par perfeito”, com o qual vive um relacionamento que confronta a moral familiar da época. Embora casado com Marcela – que sabia do caso, mas nunca se opôs, preferindo manter hipocritamente as aparências para não prejudicar o projeto político do marido -, Brás mantém com Virgília um amor que se preserva até o fim da vida dele.

d) Nhá Loló é um amor da juventude do protagonista. Os dois se criaram praticamente juntos e viveram um afeto marcado pela pureza, sendo ela, com seu comportamento romântico, a principal inspiração para a precoce vocação literária de Brás. Porém, a história dos dois tem um fim trágico com a morte repentina dela, por uma doença não identificada pelos médicos. Inspirado no amor do poeta Dante Alighieri por Beatriz, Brás Cubas – que ao longo de sua vida nunca esqueceu Nhá Loló – aceita sua própria morte como um momento feliz por poder, na eternidade, reencontrar sua amada.

e) Em sua vida acidentada e de muitos relacionamentos, Sofia, esposa de seu amigo Palha, foi a figura feminina que mais comoveu Brás Cubas. Discretamente seduzido por ela – que sabia do amor dele, embora ele nunca tenha tido coragem de se declarar, por respeito a Palha -, Brás é, na verdade, um alvo fácil para uma série de golpes que o casal de “amigos” lhe aplica, levando-o à miséria e à ruína moral.

 Texto para a questão 35:

“Saí dali a saborear o beijo. Não pude dormir; estirei-me na cama, é certo, mas foi o mesmo que nada. Ouvi as horas todas da noite. Usualmente, quando eu perdia o sono, o bater da pêndula fazia-me muito mal; esse tique-taque soturno, vagaroso e seco parecia dizer a cada golpe que eu ia ter um instante menos de vida. Imaginava então um velho diabo, sentado entre dous sacos, o da vida e o da morte, a tirar as moedas da vida para dá-las à morte, e a contá-las assim:

— Outra de menos…

— Outra de menos…

— Outra de menos…

— Outra de menos…

O mais singular é que, se o relógio parava, eu dava-lhe corda, para que ele não deixasse de bater nunca, e eu pudesse contar todos os meus instantes perdidos. Invenções há, que se transformam ou acabam; as mesmas instituições morrem; o relógio é definitivo e perpétuo. O derradeiro homem, ao despedir-se do sol frio e gasto, há de ter um relógio na algibeira, para saber a hora exata em que morre.” ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.

35. (CEETPS-SP) Com relação ao texto, considere as afirmações abaixo:

I. No texto de Machado de Assis, a intensidade do sentimento é marcada pela passagem do tempo, manifestada pelo ciclo na natureza.

II. Na passagem de Machado de Assis, o realismo está centrado na ausência de sentimento e marcado pelas batidas do relógio.

III. No início do texto de Machado de Assis, a expressão “ouvi todas as horas da noite” representa um prolongamento do sentimento de prazer conferido pelo beijo.

IV. A partir de “usualmente”, o narrador começa a considerar seu desassossego diante da morte, durante suas noites de insônia no passado.

Quanto a essas afirmações deve-se concluir que

a) apenas I, III e IV estão corretas.

b) apenas II e III estão corretas.

c) apenas II, III e IV estão corretas.

d) apenas III e IV estão corretas.

e) apenas I, II e IV estão corretas.

 O texto abaixo refere-se às questões 36 e 37 :

“Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Sterne ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. Acresce que a gente grave achará no livro umas aparências de puro romance, ao passo que a gente frívola não achará nele seu romance usual; ei-lo aí fica privado da estima dos graves e do amor dos frívolos, que são as duas colunas máximas da opinião”.

 36. (FEI-SP) Assinale a alternativa incorreta:

a) o autor justifica o tom pessimista da obra através da criação de um narrador defunto.

b) o prólogo insinua, ironicamente, que muitos leitores não compreenderiam o caráter inovador do romance.

c) o prólogo diz que se trata de uma “obra de finado”, porque a primeira edição do romance apareceu quando seu autor já havia falecido.

d) ao declarar que se tratava de uma “obra difusa”, o autor deseja prevenir os leitores quanto à “forma livre” do romance.

e) no prólogo, o autor já emprega o estilo irônico que irá perpassar todo o romance.

37. ( FEI-SP) As afirmações abaixo se referem a importantes romances da literatura brasileira.Assinale a alternativa que descreve as características de Memórias Póstumas de Brás Cubras:

a) “O tom cáustico do livro o afasta muito dos exemplos nacionais de idealização romântica, enquanto seu humorismo ziguezagueante e sua estrutura insólita impediram qualquer identificação com os modelos naturalistas.” (José Guilherme Melquior)

b) “A leitura deste livro, que passa pelo primeiro romance naturalista brasileiro, dá uma boa visão do meio maranhense do tempo.” (Alfredo Bosi)

c) “O livro é construído no encontro de lendas indígenas (…) e da vida brasileira quotidiana, de mistura de lendas e tradições populares.” (Antônio Candido)

d) “O romance reflete uma visão pessimista e complacente da realidade social: uma brisa de amenidade atravessa-o de ponta a ponta, como se pessoas e objetos estivessem mergulhados numa atmosfera ideal.” (Massaud Moisés)

e) “O livro é a primeira grande experiência de prosa modernista na ficção brasileira, procurando romper as barreiras com a poesia.” (Antônio Candido)

38. (PUC-SP) O Almocreve

Vai então, empacou o jumento em que eu vinha montado; fustiguei-o, ele deu dois corcovos, depois mais três, enfim mais um, que me sacudiu fora da sela, com tal desastre, que o pé esquerdo me ficou preso no estribo; tento agarrar-me ao ventre do animal, mas já então, espantado, disparou pela estrada fora. Digo mal: tentou disparar, e efetivamente deu dois saltos, mas um almocreve, que ali estava, acudiu a tempo de lhe pegar na rédea e detê-lo, não sem esforço nem perigo. Dominado o bruto, desvencilhei-me do estribo e pus-me de pé.

– Olhe do que vosmecê escapou, disse o almocreve.

( …) Resolvi dar-lhe (…) uma recompensa digna da dedicação com que ele me salvou.

Este trecho é retirado do capítulo que exemplifica bem a personalidade e o caráter do narrador. Assim, considerando o episódio como um todo, no ato final da recompensa, Brás Cubas

a) foi extremamente generoso e deu ao almocreve três moedas de ouro das cinco que trazia consigo.

b)ofertou-lhe apenas um cruzado em prata e considerou que havia pagado bem o gesto de seu salvador.

c) reduziu a recompensa para apenas uma moeda de ouro, pois afinal o almocreve era um pobre diabo.

d) deu-lhe umas moedas de cobre e considerou-se pródigo, pois entendeu que não houve mérito algum no gesto do almocreve e que ele fora apenas um instrumento da Providência.

39. (U. F. UBERLÂNDIA-MG)“O melhor prólogo é o que contém menos cousas, ou o que as diz de um jeito obscuro etruncado. (…) A obra em si mesmo é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus”.

ASSIS, Machado de. Memórias Póstumas de Brás Cubas.

Sobre o fragmento acima, e considerando a obra como um todo, só NÃO se pode afirmar que:

a) o leitor é sempre alvo de humor e ironia por parte do narrador.

b) ao separar o prólogo da “obra em si mesmo”, Machado evita fazer nessa obra, uso dametalinguagem.

c) no prólogo, o leitor é sutilmente avisado de que é preciso ler a obra atentamente.

d) a interlocução com o leitor é um elemento fundamental na obra de Machado de Assis.

40. (UFMG) Considerando-se o narrador de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, é INCORRETO afirmar que ele:

a) aborda, de forma humorística, os temas trágicos da morte e da loucura.

b) apresenta, por intermédio de Quincas Borba, o sistema filosófico denominado Humanitismo.

c) convoca frequentemente o leitor a envolver-se na narrativa.

d) relata suas memórias, tendo como ponto de partida fatos decisivos de sua infância.

41. (U. F. VIÇOSA-MG) Dentre as citações extraídas da obra Memórias Póstumas de Brás Cubas, assinale aquela que NÃO traça um perfil psicológico do personagem:

a) “Nem as bichas de ouro, que trazia na véspera, lhe pendiam agora das orelhas, duas orelhas finamente recortadas numa cabeça de ninfa. Um simples vestido branco, de cassa, sem enfeites, tendo ao colo, um vez de broche, um botão de madrepérola, e outro botão nos punhos, fechando as mangas, e nem sombra de pulseira.”

b) “Quem quer que fosse, porém, o pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo […].”

c) “Bem diferente era o tio cônego […]. Não era homem que visse a parte substancial da Igreja; via o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepelizes, as circunflexões. Vinha antes da sacristia que do altar.”

d) “Virgília era o travesseiro do meu espírito, um travesseiro mole, tépido, aromático, enfronhado em cambraia e bruxelas. Era ali que ele costumava repousar de todas as sensações más, simplesmente enfadonhas, ou até dolorosas.”

e) “Então apareceu o Lobo Neves, um homem que não era mais esbelto que eu, nem mais elegante, nem mais lido, nem mais simpático, e todavia foi quem me arrebatou Virgília e a candidatura, dentro de poucas semanas, com um ímpeto verdadeiramente cesariano.”

42. (PUC-RS) A expressão ficcional machadiana pode ser dividida em duas fases. Na segunda

delas, ……… e ……… constituem o eixo temático que conduz obras como ……… .

a) ironia pessimismo Memórias Póstumas de Brás Cubas

b) traição idealização Dom Casmurro

c) desconfiança traição Helena

d) pessimismo desconfiança Ressurreição

e) idealização ironia Esaú e Jacó

43. (PUC-RS) Para responder à questão, ler o texto que segue.

“Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com o suor do meu rosto. Mais: não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: – Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria.” É dessa forma que Machado de Assis, ao encerrar a sua antológica obra Memórias póstumas de Brás Cubas,

a) Imprime um tom determinista à narrativa, ao rejeitar qualquer possibilidade de redenção à personagem.

b) Esclarece, finalmente, o “processo extraordinário” que o narrador utilizou para fazer o relato após a morte.

c) Racionaliza a experiência vivida, o que evidencia o grande paradoxo da obra, já que se trata de um “defunto-autor”.

d) Revela a existência de Brás Cubas como exitosa, apesar de não ter filhos, nem transmitir a ninguém o legado de sua miserável existência.

e) Neutraliza o fluxo de consciência da personagem, que teve uma vida atormentada pelo ódio e pela ganância.

44. O romance “Memórias póstumas de Brás Cubas” publicou-se num momento significativo da Literatura Brasileira, tanto para a carreira de Machado de Assis, como para o desenvolvimento da prosa no Brasil. Tornou-se um divisor entre:
a) a prosa romântica e a realista-naturalista;
b) o romantismo e o cientificismo literário;
c) os remanescentes clássicos e a necessidade de modernização;
d) o espírito conservador e o espírito revolucionário;
e) a prosa finissecular e a imposição renovadora da época.

45. (PUC-SP) Não acabarei, porém, o capítulo, sem dizer que vi morrer no hospital da Ordem, adivinhem quem? … a linda Marcela; e vi-a morrer no mesmo dia em que, visitando um cortiço, para distribuir esmolas, achei… Agora é que não são capazes de adivinhar… achei a flor da moita, Eugênia, a filha de Dona Eusébia e do Vilaça, tão coxa como a deixara, e ainda mais triste.

O trecho acima é do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e refere personagens que tiveram relacionamentos amorosos na vida do narrador. Assim, indique a alternativa correta sobre tais relacionamentos.

a) Marcela fora, na adolescência, a protagonista de um amor tumultuado com Brás Cubas, mas interrompido pelo pai furioso que o envia a Coimbra para estudar Direito.

b) Ambas exerceram grande poder de sedução sobre Brás Cubas, mas foram preteridas por Virgília, com quem Brás acabou se casando.

c) Nenhuma delas afetou os sentimentos amorosos do narrador, pois este estava decidido a casar-se com Eulália, moça pretendida pela família para unir-se a ele.

d) Eugênia, bonita e coxa, alimentou esperança de casamento com Brás Cubas e foi plenamente correspondida por ele que lhe dedicou amor sincero e incondicional.

 46. (FUVEST) “Saímos à varanda, dali à chácara, e foi então que notei uma circunstância. Eugênia coxeava um pouco, tão pouco, que eu cheguei a perguntar-lhe se machucara o pé. A mãe calou-se; a filha respondeu sem titubear:
– Não, Senhor, sou coxa de nascença.”
Trecho fundamental do romance, não só dá título a um capítulo, como serve para definir, com bastante nitidez, o caráter da personagem central. De que obra se trata?
a) Amor e Perdição.

b) Fogo Morto.

c) São Bernardo.

d) Memórias Póstumas de Brás Cubas.

e) O Primo Basílio.

47. “(…) e tudo ficou sob a guarda de Dona Plácida,
suposta, e, a certos respeitos, verdadeira dona da casa.
Custou-lhe muito a aceitar a casa: farejara a intenção e doía-lhe o ofício: mas afinal cedeu (…)
Eu queria angariá-la (…). Quando obtive a confiança, imaginei uma história patética dos meus amores com Virgília, um caso anterior ao casamento, a resistência do pai, a dureza do marido, e não sei que outros toques de novela. Dona Plácida não rejeitou uma só página da novela; aceitou-as todas. Era uma necessidade da consciência. Ao cabo de seis meses quem nos visse a todos três juntos diria que Dona Plácida era minha sogra.
Não fui ingrato; fiz-lhe um pecúlio de cinco contos.”
Considerando o trecho de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis, assinale a alternativa correta quanto ao procedimento do narrador.
a) Denuncia o comportamento de Plácida, que coloca o dinheiro acima de qualquer outro valor.
b) Ironiza a atitude de Plácida, que aceita como verdadeira uma história inventada.
c) Fica comovido com a dor de Plácida e passa a tratá-la como sogra.
d) Identifica-se com Plácida, para quem o ideal amoroso está acima das convenções sociais.
e) Critica a atitude de Plácida, que valoriza a instituição familiar falida.

48. Todas as afirmativas sobre o narrador de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis, estão corretas, EXCETO
a) Assume a condição de defunto autor para rever sarcasticamente a sua própria vida.
b) Faz constantes referências ao processo de construção do livro.
c) Interrompe com frequência o fluxo da narrativa para conversar com o leitor.
d) Mantém um compromisso com a verdade ao retratar fielmente a realidade dos fatos.
e) Usa de alegorias para discorrer sobre o tempo, o amor e a miséria humana.

49. (PUC-SP) Eu deixava-me estar ao canto da mesa, a escrever desvairadamente num pedaço de papel, com uma ponta de lápis; traçava uma palavra, uma frase, um verso, um nariz, um triângulo, e repetia-os muitas vezes, sem ordem, ao acaso, assim:

Arma virumque cano A

Arma virumque cano

Arma virumque cano

Arma virumque

Arma virumque cano

Virumque

Maquinalmente tudo isto; e, não obstante, havia certa lógica, certa dedução; por exemplo, foi o virumque que me fez chegar ao nome do próprio poeta, por causa da primeira sílaba; ia a escrever virumque, – e sai-me Virgílio, então continuei:

Vir Virgílio

Virgílio Virgílio

Virgílio

Virgílio

O trecho acima é do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis. Dele é correto afirmar que

a) revela uma ruptura incomum dos procedimentos narrativos e da sequência linear que caracterizam esse romance machadiano.

b) provoca estranhamento pelo insólito uso do gráfico visual que desloca a narrativa do puramente verbal, aproximando-a da linguagem plástica, o que fere o estatuto do literário.

c) apresenta-se como uma citação da literatura latina, inserida por acaso no corpo do romance, sem outra finalidade que não a de ser apenas mais uma digressão a integrar a estrutura da obra.

d) indicia, no exercício lúdico da desmontagem verbal, a senha que levará o narrador à descoberta da mulher, com quem viverá um prolongado relacionamentoamoroso de caráter adulterino

50. Todas as afirmativas sobre MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS estão corretas, EXCETO
a) Brás Cubas sentia-se orgulhoso e envaidecido da sua condição de amante de uma mulher casada.
b) Dona Plácida aceitou acobertar os encontros de Virgília e Brás Cubas por admirar o amor dos dois.
c) Lobo Neves, diante do olhar da opinião pública, fingia ignorar o caso de Virgília com Brás Cubas.
d) Virgília, embora afeita à transgressão, tentava conservar a integridade do seu casamento.
e) Virgília refutou a proposta de fugir com o amante por temer que o marido a procurasse e a matasse.

51. Todas as alternativas sobre o narrador de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis, estão corretas, EXCETO
a) Analisa o ser humano, focalizando o seu lado negativo, seus defeitos morais.
b) Conta a história de forma regular e fluente, preocupando-se com a compreensão do leitor.
c) Informa que a causa de sua morte foi uma ideia fixa, a obsessão com o emplasto Brás Cubas.
d) Não hesita em apontar seus próprios erros e imperfeições, pois está a salvo dos juízos alheios.
e) Não vê com bons olhos a figura do crítico, chegando mesmo a ridicularizá-lo.

52. Todos os trechos extraídos de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS expressam a ideia de que o ser humano sempre se mira num espelho social, o olhar do público, EXCETO
a) “Então, – e vejam até que ponto pode ir a imaginação de um homem, com sono, – então pareceu-me ouvir de um morcego encarapitado no tejadilho: Sr. Brás Cubas, a rejuvenescência estava na sala, nos cristais, nas luzes, nas sedas, – enfim, nos outros.”
b) “Minha mãe era uma senhora fraca, de pouco cérebro e muito coração, assaz crédula, sinceramente piedosa, – caseira, apesar de bonita, e modesta, apesar de abastada; temente às trovoadas e ao marido. O marido era na Terra o seu deus. Da colaboração dessas duas criaturas nasceu a minha educação (…)”
c) “Na vida, o olhar da opinião, o contraste dos interesses, a luta das cobiças obrigam a gente a calar os trapos velhos, a disfarçar os rasgões e os remendos, a não estender ao mundo as revelações que faz à consciência; e o melhor da obrigação é quando, à força de embaçar os outros, embaça-se um homem a si mesmo…”
d) “O alienista notou então que ele escancarava as janelas todas desde longo tempo, que alçara as cortinas, que devassara o mais possível a sala, ricamente alfaiada, para que a vissem de fora, e concluiu: – Este seu criado tem a mania do ateniense: crê que todos os navios são dele; uma hora de ilusão que lhe dá a maior felicidade da terra.”
e) “Pareceu-me então (e peço perdão à crítica, se este meu juízo for temerário!) pareceu-me que ele tinha medo – não de mim, nem de si, nem do código, nem da consciência; tinha medo da opinião. Supus que esse tribunal anônimo e invisível, em que cada membro acusa e julga, era o limite posto à vontade do Lobo Neves.”

 53. Todas as alternativas referem-se a aspectos que aproximam as obras indicadas, EXCETO
a) A DANÇA DOS CABELOS / UMA HISTÓRIA DE FAMÍLIA: o eu-narrador evoca sempre uma 2 pessoa nomeada, a quem endereça as suas lembranças e reflexões.
b) BAGAGEM / A DANÇA DOS CABELOS: o universo da mulher é esmiuçado em suas particularidades e apresentado como o de quem cumpre uma sina.
c) INFÂNCIA / MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS: a narrativa, avessa à evocação sentimental do passado, é marcada pela visão crítica e irônica do narrador.
d) MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS / BAGAGEM: a obra, fundindo presente e passado, apresenta reflexões metafísicas sobre os temas da morte, do amor e da loucura.
e) UMA HISTÓRIA DE FAMÍLIA / INFÂNCIA: o narrador, ao tentar reviver as experiências da infância, enfatiza o caráter nebuloso e descontínuo da memória.

(PUC-SP) Para responder às questões 54 e 55, leia o fragmento a seguir, extraído do capítulo “D. Plácida”, de Memórias póstumas de Brás Cubas, romance de Machado de Assis. Um dos traços característicos dos focos narrativos de Machado de Assis é sua conduta digressiva, por meio da qual eles comentam e analisam os eventos e personagens de suas histórias.

54.No fragmento em questão, o trecho “Era uma necessidade da consciência” constitui digressão e se refere à:

a) ousadia de D. Plácida a respeito do adultério de Brás Cubas e Virgília, pois a criada sabe que, para sobreviver, precisa enfrentar as normas sociais.

b) habilidade de D. Plácida para contornar sua moralidade e tolerar o adultério, conformando-se com a história inventada por Brás Cubas.

c) indiferença de Brás Cubas em relação à D. Plácida, pois ele se importa apenas com o que pensam as pessoas do seu círculo social.

d) sabedoria de Brás Cubas, que consegue transformar sua história de infidelidade com Virgília em uma novela sedutora.

55. Dentre os traços característicos da prosa de Machado de Assis presentes no romance Memórias póstumas de Brás Cubas, o fragmento em questão expressa:

a) metalinguagem no discurso do narrador, presente em “Creio que chorava, a princípio”.

b) análise crítica do comportamento humano, manifesta em “Foi assim que lhe acabou o nojo”.

c) visão de mundo pessimista do narrador em relação à natureza humana, conforme o trecho “forcejava por obter-lhe a benevolência, depois a confiança”.

d) distanciamento realista exercido pelo narrador para fornecer credibilidade à matéria narrada, evidente em “D. Plácida agradeceu-me com lágrimas nos olhos, e nunca mais deixou de rezar por mim”.

 56. OBSERVE:
Começo a arrepender-me desse livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade.       (MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS / Machado de Assis)
( ) Este fragmento é de um romance pretensamente biográfico, escrito por um “defunto-autor.”
( ) A ironia, o pessimismo e o desmascaramento das ilusões estão presentes no livro.
( ) “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”. Frase de fim do romance,
encerra o desencanto do autor diante da vida.
( ) MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS é seu primeiro romance, tendo sido escrito na fase romântica.
( ) O texto revela uma forma trabalhada, limpa e perfeita. Em sua obra, o rigor formal não exclui a clareza.
resposta:V V V F V

57. Óbito do Autor
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.”
Comparando-se o primeiro capítulo de DOM CASMURRO ao início do primeiro capítulo de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, anteriormente transcrito, NÃO se pode afirmar que:
a) ambos os textos se desenvolvem estabelecendo uma relação direta com o título.
b) em MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS observa-se uma temática insólita, ausente de DOM CASMURRO.
c) os personagens Brás Cubas e Dom Casmurro assemelham-se quanto à propensão ao estilo dubitativo, reticente.
d) a auto ironia faz com que ambos os personagens se afastem do modelo idealizado de herói romântico.
e) o ponto de vista é de primeira pessoa, mas apenas o protagonista Brás Cubas é narrador e pseudo-autor do texto.

58. (PUC-SP)  Viram-me ir umas nove ou dez pessoas, entre elas três senhoras, minha irmã Sabina, casada com o Cotrim, – a filha, um lírio do vale …, – e … Tenham paciência! daqui a pouco lhes direi quem era a terceira senhora. Contentem-se de saber que essa anônima, ainda que não parenta, padeceu mais do que as parentes. É verdade, padeceu mais. Não digo que carpisse, não digo que se deixasse rolar pelo chão, convulsa. Nem o meu óbito era coisa altamente dramática… Um solteirão que expira aos sessenta e quatro anos, não parece que reúne em si todos os elementos de uma tragédia. E dado que sim, o que menos convinha a essa anônima era aparentá-lo. De pé, à cabeceira da cama, com os olhos estúpidos, a boca entreaberta, a triste senhora mal podia crer na minha extinção.

– Morto! morto! dizia consigo.

O trecho acima é do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. A terceira senhora a quem se refere o texto, sem a identificar, é

a) Virgília que, casada com Lobo Neves, manteve um relacionamento adulterino com Brás Cubas.

b) Marcela, fantasia amorosa da adolescência de Brás Cubas e que o amou, segundo o narrador, durante quinze meses e onze contos de réis.

c) Dona Plácida, que se submetia aos desejos de Virgília e era usada por ela para acobertar seus encontros clandestinos com Brás Cubas.

d) Eugênia, bonita e coxa, que se degradou socialmente e acabou seus dias vivendo em um cortiço.

e) Eulália, com quem Brás Cubas decide-se casar, com o voto favorável da irmã Sabina mas sem o consentimento claro do cunhado Cotrim.

 59.Considere as seguintes frases, extraídas de MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis.
I. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo.
II. Que me conste, ainda ninguém relatou seu próprio delírio; faço-o eu, e a ciência me agradecerá.
III. Entre a morte do Quincas Borba e a minha, mediaram os sucessos narrados na primeira parte do livro.
Identifique a afirmação que contextualiza corretamente uma das frases anteriores.
a) I – imaginando-se morto, Brás Cubas desobriga-se de ser fiel às verdades dos vivos.
b) II – em seu delírio, o protagonista tem a ideia de inventar um miraculoso emplasto.
c) III – aqui se revela, afinal, a extraordinária condição deste “defunto autor”.
d) II – em sua corrida à origem dos tempos, o narrador encontra não o Paraíso, ma a gélida Natureza.
e) I – em situação privilegiada, o narrador propõe-se a investigar a significação oculta das tragédias humanas.

60. Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.
A condição na qual anteriormente se apresenta o narrador das MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, de Machado de Assis, permitiu-lhe
a) isentar-se de qualquer compromisso com a realidade objetiva, permanecendo no plano do imaginário e do fantástico.
b) manter um frio julgamento de sua própria história, dispensando as marcas subjetivas da ironia e do humor.
c) reconstruir caprichosamente a totalidade da própria história, com humor crítico e discreta melancolia.
d) pairar acima das fraquezas humanas, analisando-as com rigor ético e severidade moral.
e) satirizar as tendências românticas e espiritualistas da época, submetendo-as a uma visão cientificista da História.

61. Todas as alternativas apresentam aspectos comuns a MINHA VIDA DE MENINA e a MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, EXCETO
a) A existência de narradores pessimistas quanto ao destino dos personagens.
b) A ocorrência de antagonismos de classe no meio social dos narradores.
c) A opção por gêneros literários em que o registro do tempo é um fator decisivo.
d) O uso de uma escrita fragmentada na constituição das narrativas.

62. Que Stendhal confessasse haver escrito um de seus livros para cem leitores, coisa é que admira e consterna. O que não admira, nem provavelmente consternará é se este outro livro não tiver os cem leitores de Stendhal, nem cinquenta, nem vinte, e quando muito dez. Dez? Talvez cinco. Trata-se, na verdade, de uma obra difusa, na qual eu, Brás Cubas, se adotei a forma livre de um Stern ou de um Xavier de Maistre, não sei se lhe meti algumas rabugens de pessimismo. Pode ser. Obra de finado. Escrevi-a com a pena da galhofa e a tinta da melancolia, e não é difícil antever o que poderá sair desse conúbio. (…)   (ASSIS, Machado de. MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS. São Paulo: Edigraf S.A, s/d.)
No trecho acima, o narrador Brás Cubas refere-se ao romance como uma obra difusa, na qual adotou a forma livre e pôs-lhe algumas rabugens de pessimismo. Das alternativas abaixo, apenas uma não explicita o sentido de “forma livre”. Indique-a.
a) Ausência de um conflito central – os amores de Brás Cubas e Virgília diluem-se no caudal de episódios que formam o livro.
b) Inversão do jogo temporal e espacial – narrativa iniciada pelo fim e que se desenvolve em labirintos espaciais com avanços e recuos temporais.
c) Estrutura externa fragmentada, sinuosa, fora de qualquer ordem lógica ou de fio encadeador.
d) Repetidas digressões reflexivas que anulam qualquer possibilidade de unidade exterior.
e) Reflexo da importância do organismo social e a força que a opinião pública exerce sobre o indivíduo.

63. As relações entre senhores e escravos, referidas no excerto,
a) caracterizam-se por uma crueldade que, no entanto, constitui exceção no livro: nas demais ocorrências do tema, essas relações são bastante amenas e cordiais.
b) constituem o principal assunto das “Memórias póstumas de Brás Cubas”, ocupando o primeiro plano da narrativa.
c) aparecem poucas vezes, de maneira direta, no romance, mas caracterizam de modo decisivo as relações sociais nele representadas.
d) desenham o pano de fundo histórico do romance, mas não contribuem para a caracterização das personagens.
e) servem apenas para caracterizar o comportamento de personagens secundárias, não aparecendo no relato da formação do protagonista.

64. No trecho abaixo, o narrador, ao descrever a personagem, critica sutilmente um outro estilo de época: o romantismo.
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.” (ASSIS, Machado de. “Memórias Póstumas de Brás Cubas.” Rio de Janeiro: Jackson, 1957.)
A frase do texto em que se percebe a crítica do narrador ao romantismo está transcrita na alternativa:
a) … o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas…
b) era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça…
c) Era bonita, fresca, saía das mãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, …
d) Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos …
e) … o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.

65. No capítulo “Ao leitor”, em “Memórias póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, o protagonista afirma que o livro foi escrito com “algumas rabugens de pessimismo” e “com a pena da galhofa e a tinta de melancolia”, reflexões que retornam, com semelhante tonalidade, no capítulo final: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.  2
1 – Brás Cubas – personagem contraditório que é – revela-se, ao longo da história, um personagem otimista, alegre e generoso, deixando para Marcela onze contos de réis como legado para o filho que tiveram.
2 – Discípulo fiel da filosofia do Humanitismo, que apregoava a igualdade e a fraternidade entre os seres, Brás Cubas adota a máxima de seu mestre Quincas Borba: “verdadeiramente há só uma desgraça: é não nascer”.
3 – Dizendo-se um “autor defunto”, o volúvel narrador pode contar toda a história de trás para a frente, começando de sua trágica morte, passando por seu malsucedido casamento, até chegar à infância e ao nascimento.
Lendo as proposições anteriores, concluímos que
a) apenas as afirmativas 1 e 2 estão corretas.
b) apenas as afirmativas 1 e 3 estão corretas.
c) apenas a afirmativa 2 está correta.
d) todas as afirmativas estão corretas.
e) todas as afirmativas estão incorretas.

66. I – “Memórias póstumas….”, texto narrado em 1 pessoa, tem como personagem principal Quincas Borba, o defunto autor de que fala o livro, fundador do Humanitismo – filosofia que defende a luta de todos contra todos.
II – O emplasto que Brás Cubas pretendia inventar para a cura da hipocondria que atinge a humanidade foi o causador, segundo a retórica do próprio autor, da morte do narrador das “Memórias póstumas…”
III – O triângulo amoroso entre Lobo Neves – Virgília – Brás Cubas redundou numa tragédia: a morte do narrador, relatada por ele depois de morto.
IV – O tempo no romance machadiano é tipicamente realista, pois Brás Cubas rememora de forma linear e sem “flash-backs” desde a infância até a velhice.
a) Apenas a afirmativa I está correta.
b) Apenas a afirmativa II está correta.
c) Apenas a afirmativa III está correta.
d) Apenas a afirmativa IV está correta.
e) Todas as a afirmativa estão corretas.

67. Dentre as citações extraídas da obra “Memórias Póstumas de Brás Cubas,” assinale aquela que NÃO traça um perfil psicológico do personagem:
a) “Bem diferente era o tio cônego […]. Não era homem que visse a parte substancial da Igreja; via o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepelizes, as circunflexões. Vinha antes da sacristia que do altar.”
b) “Quem quer que fosse, porém, o pai, letrado ou hortelão, a verdade é que Marcela não possuía a inocência rústica, e mal chegava a entender a moral do código. Era boa moça, lépida, sem escrúpulos, um pouco tolhida pela austeridade do tempo […]”
c) “Então apareceu o Lobo Neves, um homem que não era mais esbelto que eu, nem mais elegante, nem mais lido, nem mais simpático, e todavia foi quem me arrebatou Virgília e a candidatura, dentro de poucas semanas, com um ímpeto verdadeiramente cesariano.”
d) “Virgília era o travesseiro do meu espírito, um travesseiro mole, tépido, aromático, enfronhado em cambraia e bruxelas. Era ali que ele costumava repousar de todas as sensações más, simplesmente enfadonhas, ou até dolorosas”.
e) “Nem as bichas de ouro, que trazia na véspera, lhe pendiam agora das orelhas, duas orelhas finamente recortadas numa cabeça de ninfa. Um simples vestido branco, de cassa, sem enfeites, tendo ao colo, em vez de broche, um botão de madrepérola, e outro botão nos punhos, fechando as mangas, e nem sombra de pulseira.”

68. Um traço de estilo, presente no excerto, também se encontrará nas “Memórias póstumas de Brás Cubas”, onde assumirá aspectos de provocação e acinte. Trata-se
a) das referências diretas ao leitor e ao andamento da própria narração.
b) do uso predominante da descrição, que confere maior realismo ao relato.
c) do emprego de adjetivação abundante e variada, que dá feição opinativa à narração.
d) da paródia dos clichês românticos anteriormente utilizados por José de Alencar e Álvares de Azevedo.
e) da narração em primeira pessoa, realizada por um narrador-personagem, que participa dos eventos narrados.

69. (PUC-SP) Memórias Póstumas de Brás Cubas é um romance de Machado de Assis e integra a estética do Realismo brasileiro. Tem em Brás Cubas o personagem principal da narrativa. Deste personagem é possível afirmar que

a) apaixona-se por Virgília, casa-se com ela mas, depois de algum tempo, ela o trai com Lobo Neves.

b) vive uma paixão passageira com Marcela, não se casa com Virgília porque a perde para Lobo Neves, mas mantém com ela um envolvimento adulterino.

c) personifica um autor defunto e narra as peripécias de sua vida de forma linear, evitando qualquer tipo de digressão.

d) é protagonista e narrador do romance e caracteriza-se pela ascensão social, pelo sucesso político e pela plena realização pessoal.

e) partilha com Lobo Neves uma relação honesta e desinteressada, vive os mesmos ideais e entre eles nunca houve concorrência.

(PUC-SP) A seguir, no Texto I, o crítico literário Alfredo Bosi associa a publicação, em 1881, de Memórias póstumas de Brás Cubas à inauguração de uma nova fase na carreira literária de seu autor, Machado de Assis. No Texto II, excerto do capítulo “O verdadeiro Cotrim”, do mesmo romance, Brás Cubas descreve o caráter de seu cunhado Cotrim, ex-traficante de escravos.

Leia os dois textos para responder às questões 70 e 71.

Texto I

A revolução dessa obra, que parece cavar um fosso entre dois mundos, foi uma revolução ideológica e formal: aprofundando o desprezo às idealizações românticas e ferindo no cerne o mito do narrador onisciente, que tudo vê e tudo julga, deixou emergir a consciência nua do indivíduo, fraco e incoerente. O que restou foram as memórias de um homem igual a tantos outros, o cauto1 e desfrutador Brás Cubas. (BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 40. ed. São Paulo: Cultrix, 2002, p.177)

Texto II

Talvez pareça excessivo o escrúpulo do Cotrim, a quem não souber que ele possuía um caráter ferozmente honrado. (…) Não era perfeito, decerto; tinha, por exemplo, o sestro2 de mandar para os jornais a notícia de um ou outro benefício que praticava, — sestro repreensível ou não louvável, concordo; mas ele desculpava-se dizendo que as boas ações eram contagiosas, quando públicas; razão a que se não pode negar algum peso. Creio mesmo (e nisto faço o seu maior elogio) que ele não praticava, de quando em quando, esses benefícios senão com o fim de espertar a filantropia dos outros; e se tal era o intuito, força éconfessar que a publicidade tornava-se uma condição sine qua non3. Em suma, poderia dever algumas atenções, mas não devia um real a ninguém. (ASSIS, Machado de. Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê, 2001, p. 224-225)

Vocabulário:

1 cauto: cauteloso, prevenido. 2 sestro: vício. 3 condição sine qua non: condição sem a qual não é possível o que se pretende.

70.No Texto I, Alfredo Bosi destaca a particularidade do foco narrativo criado por Machado de Assis em Memórias póstumas de Brás Cubas. Dentre os traços característicos do narrador desse romance, a leitura do Texto II permite destacar a presença de:

a) leitor incluso em “e nisto faço o seu maior elogio”.

b) metalinguagem em “razão a que se não pode negar algum peso”.

c) cinismo em “poderia dever algumas atenções, mas não devia um real a ninguém”.

d) sarcasmo em “o sestro de mandar para os jornais a notícia de um ou outro beneficio que praticava”.

71. No Texto I, o crítico literário Alfredo Bosi apresenta sua leitura a respeito da singularidade e da universalidade do Realismo praticado por Machado de Assis. É possível afirmar que, no Texto II, Brás Cubas confirma essa visão sobre a prosa realista machadiana, pois manifesta:

a) consciência da natureza contraditória do ser humano, capaz de feitos virtuosos e defeituosos.

b) compreensão da inocência inerente ao comportamento humano, defensável por suas virtudes.

c) constatação da conduta instintiva do ser humano, inconsciente dos efeitos de seus atos.

d) percepção da essência defeituosa do caráter humano, condenável por seus vícios.

72. (PUC-PR) Sobre o narrador do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, assinale a alternativa CORRETA.

a) Machado de Assis é um romancista afinado com as tendências de sua época. Em Memórias Póstumas de Brás Cubas, seu primeiro romance realista, o autor constrói um texto típico dessa estética literária, com narrador de terceira pessoa onisciente neutro. Esse recurso favorece o tom crítico que caracteriza a criação machadiana a partir desse momento de sua obra.

b) Memórias Póstumas de Brás Cubas é um romance narrado de modo fragmentado e dividido entre quatro narradores-personagens: Brás, Virgília, Lobo Neves e Marcela. A proposta, tipicamente, moderna – embora seja anterior ao Modernismo -, consiste em relativizar a centralidade do ponto de vista de um único narrador. São apresentadas diferentes visões de um mesmo fato, o relacionamento adúltero de Brás e Virgília.

c) O romance está entre os da primeira fase da obra do autor. O que predomina nas criações desse segmento da ficção de Machado de Assis é o romance romântico de feitio convencional, centrado numa intriga amorosa narrada em primeira pessoa. É o que se vê na confissão de Brás em suas memórias, recordando o amor que viveu por Virgília.

d) Memórias Póstumas de Brás Cubas relata, por meio de uma narração em terceira pessoa, os percalços da vida de um jovem de boa família, que, tendo tido oportunidades de se firmar em várias atividades profissionais ou de relevância social em sua época, leva uma vida sem ideais, sempre isento de ter de tomar decisões ou atitudes importantes. O narrador não é neutro, sendo, na verdade, uma consciência crítica – e por vezes mordaz – diante do perfil do protagonista.

e) Embora identificado, em sua base ideológica – no que tem de crítico à realidade brasileira – como exemplo da prosa realista, o romance de Machado de Assis apresenta uma opção narrativa que não é típica dessa escola literária. Temos nas Memórias Póstumas um narrador-personagem cuja narração é imprecisa e hesitante, por vezes não linear e feita de invectivas não raro críticas ao eventual leitor. Esses procedimentos são marcas do caráter moderno da ficção machadiana.

73. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis.

I – Quando filiado a uma ordem religiosa, Brás contrariou sua natureza interesseira e sentiu.se verdadeiramente recompensado ao diminuir a desgraça alheia.

II – Baseado na constatação de que, ao olhar para o próprio nariz, o indivíduo deixa de invejar o que é dos outros, Brás teoriza sobre a utilidade da ponta do nariz para o equilíbrio das sociedades.

III – A teoria do Humanitismo de Quincas Borba foi fundamentada no episódio da borboleta negra, que morreu nas mãos do protagonista por não ser azul e bela. Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas II.

c) Apenas I e II.

d) Apenas I e III.

e) I, II e III.

(FUVEST) TEXTO PARA AS QUESTÕES DE 74 A 76

CAPÍTULO LIII

. . . . . . .

Virgília é que já se não lembrava da meia dobra; toda ela estava concentrada em mim, nos meus olhos, na minha vida, no meu pensamento;—era o que dizia, e era verdade.

Há umas plantas que nascem e crescem depressa; outras são tardias e pecas. O nosso amor era daquelas; brotou com tal ímpeto e tanta seiva, que, dentro em pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura dos bosques. Não lhes poderei dizer, ao certo, os dias que durou esse crescimento. Lembra-me, sim, que, em certa noite, abotoou se a flor, ou o beijo, se assim lhe quiserem chamar, um beijo que ela me deu, trêmula,—coitadinha,—trêmula de medo, porque era ao portão da chácara. Uniu nos esse beijo único,

— breve como a ocasião, ardente como o amor, prólogo de uma vida de delícias, de terrores, de remorsos, de prazeres que rematavam em dor, de aflições que desabrochavam em alegria,— uma hipocrisia paciente e sistemática, único freio de uma paixão sem freio,—vida de agitações, de cóleras, de desesperos e de ciúmes, que uma hora pagava à farta e de sobra; mas outra hora vinha e engolia aquela, como tudo mais, para deixar à tona as agitações e o resto, e o resto do resto, que é o fastio e a saciedade: tal foi o livro daquele prólogo. Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas.

74. Considerado no contexto de Memórias póstumas de Brás Cubas, o “livro” dos amores de Brás Cubas e Virgília, apresentado no breve capítulo aqui reproduzido, configura uma

a) demonstração da tese naturalista que postula o fundamento biológico das relações amorosas.

b) versão mais intensa e prolongada da típica sequência de animação e enfado, característica da trajetória de Brás Cubas.

c) incorporação, ao romance realista, dos triângulos amorosos, cuja criação se dera durante o período romântico.

d) manifestação da liberdade que a condição de defunto_ autor dava a Brás Cubas, permitindo-lhe tratar de assuntos proibidos em sua época.

e) crítica à devassidão que grassava entre as famílias da elite do Império, em particular, na Corte.

75. No último período do texto, o ritmo que o narrador imprime ao relato de seus amores corresponde sobretudo ao que se encontra expresso em

a) “prólogo de uma vida de delícias”

b) “prazeres que rematavam em dor” .

c) “hipocrisia paciente e sistemática”.

d) “paixão sem freio” .

e) “o livro daquele prólogo”.

76. Dentre os recursos expressivos empregados no texto, tem papel preponderante a

a) metonímia (uso de uma palavra fora do seu contexto semântico normal, com base na relação de contiguidade existente entre ela e o referente).

b) hipérbole (ênfase expressiva resultante do exagero da significação linguística).

c) alegoria (sequência de metáforas logicamente ordenadas).

d) sinestesia (associação de palavras ou expressões em que ocorre combinação de sensações diferentes numa só impressão).

e) prosopopeia (atribuição de sentimentos humanos ou de palavras a seres inanimados ou a animais).

77. (UFGD) Em 2008, homenageou-se o centenário de morte de Machado de Assis. Do autor, o livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em forma de fragmentos por volta de 1880, apresenta características estilísticas específicas. Leia o trecho a seguir e marque a alternativa correta.

“Ao fundo, por trás do balcão, estava sentada uma mulher, cujo rosto amarelo e bexiguento não se destacava logo, à primeira vista; mas logo que se destacava era um espetáculo curioso. Não podia ter sido feia; ao contrário, via-se que fora bonita, e não pouco bonita; mas a doença e a velhice precoce destruíam-lhe a flor das graças. As bexigas tinham sido terríveis; os sinais, grandes e muitos, faziam saliências e encarnas, declives e aclives, e davam uma sensação de lixa grossa. Eram os olhos a melhor parte do vulto, e aliás tinham uma expressão singular e repugnante, que mudou, entretanto, logo que eu comecei a falar. Quanto ao cabelo, estava ruço e quase tão poento como os portais da loja. Num dos dedos da mão esquerda lhe fulgiam-lhe um diamante”.

a)A mulher descrita no excerto é a antiga noiva de Brás Cubas, e o estilo detalhista do texto segue a estética realista-naturalista.

b) A mulher descrita no excerto é a coxa Eugênia, e o estilo cientificista da descrição de seu físico segue a estética naturalista.

c) A mulher descrita no excerto é a prostituta Marcela, e o estilo detalhista-cientificista do texto segue a estética realista-naturalista.

d) A mulher descrita no excerto é uma senhora vendedora, sem indicação de nome na narrativa, e o estilo detalhista segue a estética naturalista.

e) A mulher descrita no excerto é Virgília, e o estilo detalhista do texto segue a estética decadentista.

78. (PUC-SP)

a) Gastei trinta dias para ir do Rocio Grande ao coração de Marcela…

b) Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos.

As duas citações acima integram o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, escrito por Machado de Assis. Delas pode inferir-se que

a) em ambas há igual manifestação da relação temporal e espacial.

b) apenas em uma há referência espacial geográfica e sentimental.

c) nenhuma apresenta discrepância semântica entre as relações espaciais.

d) ambas operam com a relação de tempo e de espaço.

e) nenhuma revela discrepância semântica entre as relações temporais.

79. (IBMEC) Leia atentamente o fragmento abaixo e assinale a alternativa que apresenta o autor e a obra a que se refere.

“Livre das convenções sociais, pois está morto, o narrador fala não só de sua vida mas de todos os que com ele conviveram, revelando a hipocrisia das relações humanas. Ao longo da obra são narrados vários casos: sua paixão juvenil pela bela e interesseira Marcela, que o amou ‘durante quinze meses e onze contos de réis’; sua amizade com o filósofo maluco Quincas Borba; seus amores clandestinos com uma mulher casada, Virgília.”

a)Memórias póstumas de Brás Cubas — Machado de Assis.

b)Memórias póstumas de Brás Cubas — José de Alencar.

c)Memórias sentimentais de João Miramar — Oswald de Andrade.

d)Memórias de um sargento de milícias — Manuel Antonio de Almeida.

e)Memórias de sargento de milícias — Lima Barreto.

(FGV) Texto comum às questões: 80, 81, 82 e 83

Leia o texto abaixo.

Marcela amou-me durante quinze meses e onze contos de réis; nada menos. Meu pai, logo que teve aragem dos onze contos, sobressaltou-se deveras; achou que o caso excedia as raias de um capricho juvenil.

– Desta vez, disse ele, vais para a Europa; vais cursar uma universidade, provavelmente Coimbra; quero-te para homem sério e não para arruador e gatuno. E como eu fizesse um gesto de espanto:

– Gatuno, sim senhor. Não é outra coisa um filho que me faz isto…

Sacou da algibeira os meus títulos de dívida, já resgatados por ele, e sacudiu-mos na cara. – Vês, peralta? É assim que um moço deve zelar o nome dos seus? Pensas que eu e meus avós ganhamos o dinheiro em casas de jogo ou a vadiar pelas ruas? Pelintra! Desta vez ou tomas juízo, ou ficas sem coisa nenhuma. Machado de Assis

80. Principalmente a partir da publicação dessa obra, duas características passam a ser reconhecidas no estilo de seu autor. Assinale a alternativa que as contém.

a) Ambiguidade e delicadeza na descrição dos caracteres.

b) Humor escancarado e crítica à família tradicional brasileira.

c) Ironia e análise da condição humana.

d) Crítica ao comportamento do indivíduo como sujeito e não como objeto da sociedade.

e) Análise da alma do indivíduo, desconsiderando a sociedade.

81. Segundo muitos autores, a obra de que foi retirado esse excerto é considerada marca, no Brasil:

a) Do início do Romantismo.

b) Da base em que se apoiou o desenvolvimento do estilo romântico.

c) De reminiscências do estilo barroco.

d) Da fonte em que iriam beber os participantes da Semana de 22.

e) Do início do Realismo.

82. O principal efeito artístico encontrado na primeira frase do excerto pode ser comparado, mais propriamente, ao que aparece na frase:

a) Lançou ao mar o tridente e a âncora.

b) Emitiu algumas palavras e outras sonoridades estranhas.

c) Pediu um refrigerante e o almoço.

d) Trabalhou o barro e o ferro.

e) Comeu toda a macarronada e minha paciência.

83. A primeira frase desse excerto tornou-se uma das mais conhecidas pelos leitores da obra machadiana. A julgar por essa afirmação e pela personagem mencionada, podemos reconhecer ali parte do romance denominado:

a) Memorial de Aires.

b) Dom Casmurro.

c) Helena.

d) Memórias Póstumas de Brás Cubas.

e) A Mão e a Luva.

84. (FUVEST) “Assim, pois, o sacristão da Sé, um dia, ajudando à missa, viu entrar a dama, que devia ser sua colaboradora na vida de Dona Plácida. Viu-a outros dias, durante semanas inteiras, gostou, disse-lhe alguma graça, pisou–lhe o pé, ao acender os altares, nos dias de festa. Ela gostou dele, acercaram-se, amaram-se. Dessa conjunção de luxúrias vadias brotou Dona Plácida. É de crer que Dona Plácida não falasse ainda quando nasceu, mas se falasse podia dizer aos autores de seus dias: – Aqui estou. Para que me chamastes? E o sacristão e a sacristã naturalmente lhe responderiam: – Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado para outro, na faina, adoecendo e sarando, com o fim de tornar a adoecer e sarar outra vez, triste agora, logo desesperada, amanhã resignada, mas sempre com as mãos no tacho e os olhos na costura, até acabar um dia na lama ou no hospital; foi para isso que te chamamos, num momento de simpatia”. (Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas)

Tal como narradas neste trecho, as circunstâncias que levam ao nascimento de Dona Plácida apresentam semelhança maior com as que conduzem ao nascimento da personagem

a)Leonardo (filho), de Memórias de um sargento de milícias.

b)Juliana, de O primo Basílio.

c)Macunaíma, de Macunaíma.

d)Augusto Matraga, de Sagarana.

e)Olímpico, de A hora da estrela.

85. (PUC-PR) A respeito do narrador de Memórias Póstumas de Brás Cubas, é CORRETO afirmar que:

a) o narrador de terceira pessoa do livro, fiel aos preceitos do realismo (escola da qual Machado de Assis é o representante mais exemplar no Brasil), conta os episódios da vida do protagonista Brás Cubas com detalhismo e isenção. Parece haver a crença de que cabe à literatura, no seu modo de abordar o universo social, compor uma visão totalizante do mundo – aí incluído o universo interior dos personagens – para melhor externar uma crítica à dinâmica das relações de poder, algo sempre presente na obra de Machado de Assis.

b) sendo narrador-personagem e definindo-se como “defunto-autor”, ele reflete a todo tempo sobre o processo de narração, já que, distante dos fatos narrados (por já estar morto), afirma estar escrevendo um livro de memórias. Chama a atenção o fato de que, além de recordar seus “feitos”, por vezes o narrador se vê tentado a fazer digressões e comentários sobre a matéria narrada e o processo do narrar, configurando a metalinguagem.

c) há dois narradores no texto: Brás e Virgília. Essa duplicação mostra-se útil ao intento de criar, pela variação dos pontos de vista, uma indefinição da “verdade” do fato central do enredo: o (possível) adultério praticado por Virgília. Com efeito, um dos elementos mais destacados da ficção machadiana é a estetização da dúvida e a relativização das verdades definitivas.

d) a obra é repleta de comentários que acontecem à margem da narração dos acontecimentos. Nota-se que o narrador de terceira pessoa aposta na possibilidade de os fatos narrados serem contestados pelo possível leitor e, diante disso, em intervenções sempre elegantes e cordiais na abordagem do leitor, há a intenção de cercar o receptor de todos os detalhes que lhe permitam fruir melhor o que lê.

e) as memórias de Brás estão a cargo de seu sobrinho, que recolhe, em um baú antigo, documentos e lembranças deixados pelo tio, morto há anos. A recuperação desse material, carregada de grande afetividade, é o que explica a narrativa que se lerá, feita de sentimentalismo romântico e exaltação dos valores vividos pelo protagonista, alvo da homenagem do narrador.

86. (UNICAMP) Leia o seguinte excerto de Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis:

Deixa lá dizer Pascal que o homem é um caniço pensante. Não; é uma errata pensante, isso sim. Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes. (Machado de Assis, Memórias póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ateliê Editorial, 2001, p.120.)

Na passagem citada, a substituição da máxima pascalina de que o homem é um caniço pensante pelo enunciado “o homem é uma errata pensante” significa

a) a realização da contabilidade dos erros acumulados na vida porque, em última instância, não há “edição definitiva”.

b) a tomada de consciência do caráter provisório da existência humana, levando à celebração de cada instante vivido.

c) a tomada de consciência do caráter provisório da existência humana e a percepção de que esta é passível de correção.

d) a ausência de sentido em “cada estação da vida”, já que a morte espera o homem em sua “edição definitiva”.

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

1. (UERJ) Com base no texto abaixo, responda às questões .

Daí à pedreira restavam apenas uns cinquenta passos e o chão era já todo coberto por uma farinha de pedra moída que sujava como a cal. Aqui, ali, por toda a parte, encontravam-se trabalhadores, uns ao sol, outros debaixo de pequenas barracas feitas de lona ou de folhas de palmeira. De um lado cunhavam pedra cantando; de outro a quebravam a picareta; de outro afeiçoavam lajedos1 a ponta de picão2; mais adiante faziam paralelepípedos a escopro2 e macete2. E todo aquele retintim de ferramentas, e o martelar da forja, e o coro dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço, como de uma aldeia alarmada; tudo dava a ideia de uma atividade feroz, de uma luta de vingança e de ódio. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação, a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra, pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso, deixando sem um gemido que lhe abrissem as entranhas de granito. O membrudo cavouqueiro3 havia chegado à fralda4 do orgulhoso monstro de pedra; tinha-o cara a cara, mediu-o de alto a baixo, arrogante, num desafio surdo. A pedreira mostrava nesse ponto de vista o seu lado mais imponente. Descomposta, com o escalavrado5 flanco exposto ao sol, erguia-se altaneira e desassombrada, afrontando o céu, muito íngreme, lisa, escaldante e cheia de cordas que mesquinhamente lhe escorriam pela ciclópica6 nudez com um efeito de teias de aranha. Em certos lugares, muito alto do chão, lhe haviam espetado alfinetes de ferro, amparando, sobre um precipício, miseráveis tábuas que, vistas cá de baixo, pareciam palitos, mas em cima das quais uns atrevidos pigmeus de forma humana equilibravam-se, desfechando golpes de picareta contra o gigante. O cavouqueiro meneou a cabeça com ar de lástima. O seu gesto desaprovava todo aquele serviço.

– Veja lá! disse ele, apontando para certo ponto da rocha. Olhe para aquilo! Sua gente tem ido às cegas no trabalho desta pedreira. Deviam atacá-la justamente por aquele outro lado, para não contrariar os veios da pedra. Esta parte aqui é toda granito, é a melhor! Pois olhe só o que eles têm tirado de lá – umas lascas, uns calhaus7 que não servem para nada! É uma dor de coração ver estragar assim uma peça tão boa! Agora o que hão de fazer dessa cascalhada que aí está senão macacos8? E brada aos céus, creia! Ter pedra desta ordem para empregá-la em macacos!

O vendeiro escutava-o em silêncio, apertando os beiços, aborrecido com a ideia daquele prejuízo.  ALUÍSIO AZEVEDO O cortiço. São Paulo: Ática, 2009.

Vocabulário:

1 lajedos – pedras

2 picão, escopro, macete – instrumentos de trabalho

3 cavouqueiro – aquele que trabalha em minas e pedreiras

4 fralda – parte inferior

5 escalavrado – golpeado, esfolado

6 ciclópica – colossal, gigantesca

7 calhaus – pedras soltas

8 macacos – paralelepípedos

pareciam um punhado de demônios revoltados na sua impotência contra o impassível gigante que os contemplava com desprezo, imperturbável a todos os golpes e a todos os tiros que lhe desfechavam no dorso,

Para caracterizar a pedreira, o narrador utiliza várias vezes uma determinada figura de linguagem, como no trecho sublinhado acima.

a. Identifique essa figura de linguagem e um de seus efeitos estilísticos.

b. Transcreva, em seguida, uma passagem do texto em que a pedreira é descrita sob uma perspectiva diferente.

RESPOSTAS:

a.Animização ou personificação

b. Sua gente tem ido às cegas no trabalho desta pedreira.

Esta parte aqui é toda granito, é a melhor! Pois olhe só o que eles têm tirado de lá – umas lascas, uns calhaus que não servem para nada!

É uma dor de coração ver estragar assim uma peça tão boa! Agora o que hão de fazer dessacascalhada que aí estão senão macacos?

E brada aos céus, creia! ter pedra desta ordem para empregá-la em macacos!

2. (UNICAMP)  Pensando nos pares amorosos, já se afirmou que “há n’O cortiço um pouco de Iracema coada pelo Naturalismo.” (Antonio Candido, “De cortiço em cortiço”, em O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993, p.142.)

Partindo desse comentário, leia o trecho abaixo e responda às questões.

            O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando aos que não sabiam dançar. Mas, ninguém como a Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.       (…) Naquela mulata estava o grande mistério, a síntese das impressões que ele recebeu chegando aqui: ela era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas da fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras; era a palmeira virginal e esquiva que se não torce a nenhuma outra planta; era o veneno e era o açúcar gostoso; era o sapoti mais doce que o mel e era a castanha do caju, que abre feridas com o seu azeite de fogo; ela era a cobra verde e traiçoeira, a lagarta viscosa, a muriçoca doida, que esvoaçava havia muito tempo em torno do corpo dele, assanhando-lhe os desejos, acordando-lhe as fibras embambecidas pela saudade da terra, picando-lhe as artérias, para lhe cuspir dentro do sangue uma centelha daquele amor setentrional, uma nota daquela música feita de gemidos de prazer, uma larva daquela nuvem de cantáridas que zumbiam em torno da Rita Baiana e espalhavam-se pelo ar numa fosforescência afrodisíaca. Isto era o que Jerônimo sentia, mas o que o tonto não podia conceber.

            De todas as impressões daquele resto de domingo só lhe ficou no espírito o entorpecimento de uma desconhecida embriaguez, não de vinho, mas de mel chuchurreado no cálice de flores americanas, dessas muito alvas, cheirosas e úmidas, que ele na fazenda via debruçadas confidencialmente sobre os limosos pântanos sombrios, onde as oiticicas trescalam um aroma que entristece de saudade. (…) E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores; assentou-se ao rebordo da cama e, segurando com uma das mãos o pires, e com a outra a xícara, ajudava-o a beber, gole por gole, enquanto seus olhos o acarinhavam, cintilantes de impaciência no antegozo daquele primeiro enlace.

            Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se contra o seu amado, num frenesi de desejo doido.(Aluísio Azevedo, O Cortiço. Ficção Completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 498 e 581.)

a) Na descrição acima, identifique dois aspectos que permitem aproximar Rita Baiana de Iracema, mostrando os limites dessa semelhança.

b) Identifique uma semelhança e uma diferença entre Jerônimo e Martim.

RESPOSTAS:

a)Ambas são representantes da mulher brasileira, pois Iracema era uma índia nativa, detentora de sensualidade que atrai o colonizador Martim, e Rita Baiana, uma mulata que também provoca uma série de impressões em Jerônimo, imigrante português. Ambas representam “o grande mistério, a síntese das impressões” que eles receberam “chegando aqui”. No entanto, enquanto Iracema é descrita por Alencar como uma espécie de “vestal” índia que se vai sacrificar na entrega amorosa, Rita Baiana é apresentada de forma animalesca (“movimentos de cobra amaldiçoada”, “a lagarta viscosa”, “a muriçoca doida”).

b) Ambos são portugueses, sentem-se atraídos pela beleza e sensualidade da mulher brasileira e sucumbem ao seus encantos. No entanto, Martim submete Iracema que abandona a sua tribo para o seguir e viver com ele, como heroína romântica que morre pelo seu grande amor, enquanto Jerônimo abandona esposa, filha e trabalho, transformando-se em assassino e alcoólatra.

3. O texto de Aluísio Azevedo, que faz parte da estética naturalista, utiliza recursos expressivos de sonoridade, como a onomatopeia. Considere o seguinte fragmento:

E todo aquele retintim de ferramentas, e o martelar da forja, e o coro dos que lá em cima brocavam a rocha para lançar-lhe fogo, e a surda zoada ao longe, que vinha do cortiço,

Indique dois exemplos do emprego da onomatopeia e justifique a sua presença no texto naturalista.

RESPOSTA:

Retintim; zoada

Reproduzir a realidade, enfatizando as impressões auditivas.

4. Aqueles homens gotejantes de suor, bêbedos de calor, desvairados de insolação,

O enunciado acima apresenta uma sequência de sensações. Aponte o valor semântico dessa sequência e identifique no texto outro exemplo em que a disposição das palavras produza efeito similar.

RESPOSTA:

Uma das respostas:

gradação

progressão

intensificação/intensidade

ordem crescente/ascendente

Exemplo: a quebrarem, a espicaçarem, a torturarem a pedra

5. (UFV) Leia atentamente o fragmento de “O Cortiço”, que se refere à personagem Pombinha:
E na sua alma enfermiça e aleijada, no seu espírito rebelde de flor mimosa e peregrina criada num monturo, violeta infeliz, que um estrume forte demais para ela atrofiara, a moça pressentiu bem claro que nunca daria de si ao marido que ia ter uma companheira amiga, leal e dedicada; pressentiu que nunca o respeitaria sinceramente como a um ser superior por quem damos a vida; que nunca lhe votaria entusiasmo, e por conseguinte nunca lhe teria amor; desse de que ela se sentia capaz de amar alguém, se na terra houvera homens dignos disso. Ah! Não o amaria decerto, porque o Costa era como os outros, passivo e resignado, aceitando a existência que lhe impunham as circunstâncias, sem ideais próprios, sem temeridades de revolta, sem atrevimentos de ambição, sem vícios trágicos, sem capacidade para grandes crimes; era mais um animal que viera ao mundo para propagar a espécie; um pobre-diabo enfim que já a adorava cegamente e que mais tarde, com ou sem razão, derramaria aquelas mesmas lágrimas, ridículas e vergonhosas, que ela vira decorrendo em quentes camarinhas pelas ásperas e maltratadas barbas do marido de Leocádia.AZEVEDO, Aluísio. “O cortiço”. 15 ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 101.
O autor do romance naturalista, sob a influência das teorias cientificistas, apresenta o homem como um “caso” a ser analisado, deixando em segundo plano seu lado espiritual. No texto mencionado, a personagem Pombinha reflete a influência do determinismo ambiental? Justifique sua resposta.
RESPOSTA:

A personagem Pombinha reflete a influência do determinismo ambiental, uma vez que acaba prostituindo-se, por força daquele meio sórdido e animalesco.
“… que um estrume forte …, leal e dedicada”.

6. (UNIICAMP ) Bertoleza, que havia já feito subir o jantar dos caixeiros, estava de cócoras no chão, escamando peixe, para a ceia do seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.
Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a situação: adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para sempre. Adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.

         Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em torno de si, procurando escapula, o senhor adiantou-se dela e segurou-lhe o ombro.
– É esta! Disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a segui-los. — Prendam-na!
É escrava minha !

      A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e coma outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar.

          Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto, e antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.

         E depois emborcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue. João Romão fugira até o canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos.
Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.
Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas (AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. Cap.XXXIII, pp.164-5. Rio de Janeiro: Ediouro s.d..)

O Texto  corresponde à cena em que a escrava fugida Bertoleza comete suicídio, quando se depara com os policiais que vêm capturá-la, após denúncia de seu paradeiro feita por João Romão, o amante. Leia-o atentamente e responda às questões propostas em 47 e 48.

a)Explique uma característica do realismo-naturalismo expressa no trecho.

b)Transcreva a passagem em que o leitor deduz a ironia dos acontecimentos, provocada pelo contraditório comportamento de João Romão.

RESPOSTAS:
a)Serão aceitas respostas que, de algum modo, revelem as seguintes ideias:
O comportamento humano é determinado por forças biológicas (o instinto, a herança genética), sociológicas e históricas.
Os fatos psicológicos e sociais são vistos, pelo realismo-naturalismo, como manifestações naturais e, portanto, nada tendo a ver com fenômenos transcendentais.
As circunstâncias externas determinam a natureza dos seres vivos, inclusive a do homem.
A realidade passa por um processo evolutivo, dentro de um sistema de leis naturais totalmente definidas.

b) “Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.
Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas.”

7. (UFAL) O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno.
O fragmento anterior pertence ao romance O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo.
1. A descrição da personagem exemplifica um típico recurso do movimento literário a que se filiou o autor. Que movimento foi esse e qual o recurso aqui adotado?
2. Exemplifique, com duas expressões retiradas do texto, a resposta que você deu ao item anterior.
RESPOSTAS:

1) O autor utilizando-se de comparação reduz a personagem ao nível animal, como é típico do Naturalismo.
2) As expressões são “crina (cabelo) preta”, “como éguas selvagens”.

8. (UNESP) No fragmento de O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo (1857-1913), há um trecho em que se observa uma das posturas cientificistas do Naturalismo, o psicofisiologismo. Tal postura consiste em fazer com que os traços físicos de um personagem estejam em estreita relação com sua identidade psicológica, sua maneira de ser, no ambiente narrativo. Levando em consideração este comentário:
a) Indique um traço físico de João Romão que está de acordo com a personalidade que lhe confere o narrador.
b) Interprete esse traço físico, à luz do caráter naturalista da obra.
RESPOSTAS:

a) “Baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer”: estes traços correspondem à sua mesquinhez.
b) João Romão age impelido pelas condições biofisiológicas.

9. (UNICAMP) Leia o seguinte comentário a respeito de O Cortiço, de Aluísio Azevedo:

Com efeito, o que há n’ O Cortiço são formas primitivas de amealhamento*, a partir de muito pouco ou quase nada, exigindo uma espécie de rigoroso ascetismo inicial e a aceitação de modalidades diretas e brutais de exploração, incluindo o furto (…) como forma de ganho e a transformação da mulher escrava em companheira máquina.

(…) Aluísio foi, salvo erro meu, o primeiro dos nossos romancistas a descrever minuciosamente o mecanismo de formação da riqueza individual. (…) N’ O Cortiço [o dinheiro] se torna implicitamente objeto central da narrativa, cujo ritmo acaba se ajustando ao ritmo da sua acumulação, tomada pela primeira vez no Brasil como eixo da composição ficcional. (Antonio Candido, De cortiço a cortiço. In: O discurso e a cidade. São Paulo: Duas Cidades, 1993, p. 129-3.)

*amealhar: acumular (riqueza), juntar (dinheiro) aos poucos

a) Explique a que se referem o rigoroso ascetismo inicial da personagem em questão e as modalidades diretas e brutais de exploração que ela emprega.

b) Identifique a “mulher escrava” e o modo como se dá sua transformação “em companheira-máquina”.

RESPOSTAS:

a)o rigoroso asceticismo diz respeito ao modo como João Romão, no seu delírio de enriquecer, enfrenta, com ardor e resignação, o trabalho duro, a vida austera e as maiores privações, abdicando do mínimo conforto. As formas de exploração vão desde a edificação das casas do cortiço ( com o roubo dos materiais de construção), o modo como explora os moradores e os trabalhadores da pedreira, obrigando-os a comprar na sua venda, onde são extorquidos, até o roubo direto, como no episódio do incêndio, em que se apodera à força das garrafas cheias de dinheiro que Libório avaramente guardou por toda a vida. Isso sem falar na exploração de Bertoleza, referida no próximo item.

b) A mulher-escrava, é Bertoleza, que acompanha a ascensão de João Romão como amante e como escrava, ajudando-o a enriquecer “as custas dos rendimentos obtidos com a sua quitanda. É enganada por ele, pois entrega-lhe os lucros de seu trabalho para comprar a carta de alforria falsa e, quando ela se torna um empecilho a suas pretensões de se casar com Zulmira, ele a denuncia como escrava foragida. Quando João Romão tenta entrega-la ao antigo dono, forçando seu retorno à escravidão, Bertoleza foge pelo suicídio.,

10. (UNESP) Confrontando os fragmentos do AUTO DA LUSITÂNIA e de O CORTIÇO, percebe-se que o comportamento de João Romão corresponde, até com sarcasmo, a uma das atitudes que o auto de Gil Vicente atribui a Todo o Mundo. Compare ambos os textos e responda:
a) Qual é esse comportamento de João Romão?
b) Aponte uma passagem de cada um dos textos em que tal comportamento esteja caracterizado.
RESPOSTAS:

a)A ganância, a ambição.

b) Auto da Lusitânia: “e meu tempo todo inteiro/ sempre é buscar dinheiro”.

11. Leia um comentário de Alfredo Bosi sobre O cortiço e responda:

Só em O cortiço, Aluísio atinou de fato com a fórmula que se ajustava ao seu talento: desistindo de montar um enredo em função de pessoas, ateve-se à sequência de descrições muito precisas onde cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem, no conjunto, do cortiço a personagem mais convincente do nosso romance naturalista. Existe o quadro, dele derivam as figuras (BOSI, 1994, p. 212).

 Porque, segundo Alfredo Bosi, o cortiço pode ser considerado o personagem mais convincente do naturalismo brasileiro.

RESPOSTA:

Pois, uma das premissas do naturalismo é que o meio determina a ação das pessoas, desse modo, as cenas coletivas e os tipos psicologicamente primários mostra que todos estão determinados pelo meio que os determina.

12. Leia os trechos abaixo, que descrevem dois comportamentos diferentes do personagem Jerônimo, e responda:

            “Mas não foram só o seu zelo e a sua habilidade o que o pôs assim para a frente; duas outras coisas contribuíram muito para isso: a força de touro que o tornava respeitado e temido por todo o pessoal dos trabalhadores, como ainda, e talvez, principalmente, a grande seriedade do seu caráter e pureza austera dos seus costumes. Era homem de uma honestidade a toda prova e de uma primitiva simplicidade no seu modo de viver. Saía de casa para o serviço e do serviço para casa, onde nunca ninguém o vira com a mulher senão em boa paz, traziam a filh9nha sempre limpa e bem alimentada, e, tanto um como o outro, eram sempre os primeiros à hora do trabalho” (p. 47).

            “Passaram-se semanas. Jerônimo tomava agora, todas as manhãs, uma xícara de café bem grosso, à moda da Ritinha. E tragava dois dedos de parati ‘para cortar a friagem.

            Uma transformação, lenta e profunda, operava-se nele, dia a dia, hora a hora, reviscerando-lhe o corpo e alando-lhe os sentidos, num trabalho misterioso e surdo de crisálida. A sua energia afrouxara lentamente: fazia-se contemplativo e amoroso. A vida americana e a natureza do Brasil pantenteavam-lhe agora aspectos imprevistos e sedutores que o comoviam; esquecia-se dos seus primitivos sonhos de ambição; para idealizar felicidades novas, picantes e violentas; tornava-se liberal, imprevidente e franco, mais amigo de gastar que de guardar, adquiria desejos, tomava gosto aos prazeres, e volvia-se preguiçoso resignando-se, vencido, às imposições do sol e do calor, muralha de fogo com que o espírito  eternamente revoltado do último tamoio entrincheirou a pátria contra os conquistadores aventureiros” (p. 85).

a)De acordo com o artigo “De cortiço a cortiço” de Antonio Cândido, os brasileiros formularam a ideologia dos três pês. Segundo essa ideologia, para burro, português e negro, três pês bastavam: pano, pão e pau. Conforme vimos em sala de aula, explique qual é o fator comum, segundo os brasileiros, que torna possível a aproximação entre burro, português e negro. Explique sua resposta, utilizando como exemplo o comportamento de Jerônimo, descrito no primeiro trecho.

b) Uma das principais características do Naturalismo é modo como ele se apropria da teoria científico-filosófica determinista de Hipolyte Taine. Por meio dela, explique de que modo o meio influenciou na transformação de Jerônimo. (Para responder a esta questão, releia o trecho dois).

RESPOSTAS:

a)Os três realizam trabalho braçal, conforme vimos, Jerônimo possui uma força de touro para realizar seu trabalho na pedreira.

b) Segundo o narrador, o sol e o calor determinaram a vida de Jerônimos, pois fizeram com que o português fosse vencido pelo clima, aderindo ao jeito brasileiro de viver.

 13. Leia o trecho abaixo e responda:

            “Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, e um calafrio percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a situação; adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou que tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.

            […]

            Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado.

            E depois emborcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue.

            João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos.

            Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito.

a)No trecho acima, temos um exemplo típico de um dos recursos do movimento Naturalista a que se filiou o autor. Aponte qual foi o recurso utilizado por Aluísio Azevedo.

b) Exemplifique, com duas expressões retiradas do texto, a resposta que você deu ao item anterior.

c) Explique a ironia que existe no trecho acima.

RESPOSTAS:

a) animalização ou zooformismo.

b) “erguendo-se com ímpeto de anta bravia” e “rugindo e esfocinhando moribunda”.

c) Bertoleza se mata, por não quer voltar a vida de cativeiro depois de tudo que conquistou ao lado de seu amásio, no mesmo instante em que João Romão é condecorado com o diploma de sócio benemérito do clube dos abolicionistas pela vida digna que proporcionou a Bertoleza. Desse modo, João Romão é condecorado por algo que não fez.

14. (UNESP) Confrontando os fragmentos do AUTO DA LUSITÂNIA e de O CORTIÇO, percebe-se que o comportamento de João Romão corresponde, até com sarcasmo, a uma das atitudes que o auto de Gil Vicente atribui a Todo o Mundo. Compare ambos os textos e responda:
a) Qual é esse comportamento de João Romão?
b) Aponte uma passagem de cada um dos textos em que tal comportamento esteja caracterizado.
RESPOSTAS:

a) A ganância, a ambição.
b) Auto da Lusitânia: “e meu tempo todo inteiro/ sempre é buscar dinheiro”.
O Cortiço: “Desde que a febre de possuir se apoderou dele totalmente.

15. (UNICAMP) Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida,

aterrado defronte daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa (…). À noite e aos domingos ainda mais recrudescia o seu azedume, quando ele, recolhendo-se fatigado do serviço,

deixava-se ficar estendido numa preguiçosa, junto à mesa da sala de jantar e ouvia, a contragosto, o grosseiro rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais

cansados. Não podia chegar à janela sem receber no rosto aquele bafo, quente e sensual, que o embebedava com o seu fartum de bestas no coito. (Aluísio de Azevedo, O cortiço. 14. ed. São Paulo: Ática, 1983, p. 22.)

Levando em conta o excerto, bem como o texto integral do romance, é correto afirmar que

a) o grosseiro rumor, a sexualidade desregrada e a exalação forte que provinham do cortiço decorriam, segundo Miranda, do abandono daquela população pelo governo.

b) os termos “grosseiro rumor”, “animais”, “bestas no coito”, que fazem referência aos moradores do cortiço, funcionam como metáforas da vida pulsante dos seus habitantes.

c) o nivelamento sociológico na obra O Cortiço se dá não somente entre os moradores da habitação coletiva e o seu senhorio, mas também entre eles e o vizinho Miranda.

d) a presença portuguesa, exemplificada nas personagens João Romão e Miranda, não é relevante para o desenvolvimento da narrativa nem para a compreensão do sentido da obra.

16. (UNB) Entre as produções literárias mais expressivas da literatura brasileira, encontra-se O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo, uma obra essencial para o entendimento da sociedade brasileira no final do século passado. A partir do texto, julgue os itens a seguir.
(1) O romance O CORTIÇO tem esse nome porque sua trama desenvolve-se durante um final de semana em uma favela de Salvador.
(2) Na passagem transcrita, o autor trata, de forma valorativa, da música popular brasileira ao longo dos anos.
(3) O efeito erótico associado à música é um dos pontos enfatizados nesse trecho de O CORTIÇO.
RESPOSTA: F F V

17. (ITA) Assinale a alternativa em que se completa erradamente a seguinte proposição: Do romance O CORTIÇO pode-se dizer que:
a) é um romance urbano.
b) o Autor admite a influência do meio no comportamento do indivíduo.
c) alcança a época da escravidão.
d) Romão é tudo, menos um ingrato.
e) o protagonista não se contenta com a ascensão econômica, quer a social também.

18. Dentre as afirmativas abaixo, assinale aquela que NÃO corresponde às propostas da escola naturalista:

a) Em O Cortiço, Aluísio Azevedo exprime um conceito naturalista da vida e, ao idealizar seus personagens, integra-os a elementos de uma natureza convencional.

b) O narrador de O Cortiço acentua o lado instintivo do ser humano através de um processo de zoomorfização, identificando seus personagens a diferentes animais, sobretudo a insetos e vermes, quando os descreve em seu vaivém pelo cortiço.

c) Ao enfatizar as atitudes inescrupulosas de João Romão para com os habitantes do cortiço, em especial para com a negra Bertoleza, o autor confirma as preocupações sociais do Naturalismo em sua inclinação reformadora.

d) Os personagens de O Cortiço constituem-se, em sua maioria, dos operários das pedreiras, das lavadeiras e de outros miseráveis que ali vivem de forma degradante, o que evidencia a preferência do escritor naturalista pelas camadas mais baixas da sociedade.

e) O caráter determinista da obra tem como símbolo a personagem Pombinha, que, se antes era “pura” e de boa conduta moral, acaba prostituindo-se por força daquele meio sórdido e animalesco.

19. (UEL) Em seus romances, a tara biológica vem aliar-se à crítica social. A transgressão e a sexualidade comandam mecanicamente os reflexos das personagens, transformadas em títeres e conduzidas pelas teses deterministas. É o que ocorre, por exemplo, em:
a) SENHORA.
b) O CORTIÇO.
c) QUINCAS BORBA.
d) O ATENEU.
e) MEMÓRlAS DE UM SARGENTO DE MILÍCIAS.

20. (UFRGS) Leia o trecho final de O cortiço. A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada para eles, sem pestanejar. Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres. Bertoleza então, erguendo-se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o ventre de lado a lado. E depois embarcou para a frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa lameira de sangue. João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto com as mãos. Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de abolicionistas que vinha, de casaca, trazer-lhe respeitosamente o diploma de sócio benemérito. Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas. Considere as seguintes afirmações sobre o trecho.

I – O narrador em terceira pessoa aproxima-se de Bertoleza, assumindo seu ponto de vista para desmascarar o falso abolicionismo de João Romão; ao mesmo tempo, mantém-se distante dela ao descrevê-Ia com traços animalescos.

II – A morte terrível de Bertoleza destoa do andamento geral do romance, marcado pelo lirismo da narração, característica naturalista presente no texto de Aluísio Azevedo.

III – A última frase do trecho sugere que João Romão receberá a comissão a despeito do fim de Bertoleza, em uma alegoria do Brasil: abolicionista na sala de visitas, escravocrata na cozinha. Quais estão corretas?

a) Apenas II.

b) Apenas III.

c) Apenas I e II.

d) Apenas I e III.

e) I, II e III.

21. (UEL) Na obra-prima que é o romance O CORTIÇO,
a) podemos surpreender as características básicas da prosa romântica: narrativa passional, tipos humanos idealizados, disputa entre o interesse material e os sentimentos mais nobres.
b) as personagens são apresentadas sob o ponto de vista psicológico, desnudando-se ante os olhos do leitor graças à delicada sutileza com que o autor as analisa e expressa.
c) o leitor é transportado ao doloroso universo dos miseráveis e oprimidos migrantes que, tangidos pela seca, abrigam-se em acomodações coletivas, à espera de uma oportunidade.
d) vemos renascer, na década de 30 do nosso século, uma prosa viril, de cunho regionalista, atenta às nossas mazelas sociais e capaz de objetivar em estilo seco parte de nossa dura realidade.
e) consagra-se entre nós a prosa naturalista, marcada pela associação direta entre meio e personagens e pelo estilo agressivo que está a serviço das teses deterministas da época.

22. (UFRS) A respeito do romance brasileiro do final do século XIX, pode-se afirmar que
a) o Impressionismo, com sua linguagem cientificista e a expressão de um determinismo mecanicista, buscava os aspectos mórbidos da atividade humana para demonstrar que o ser humano é movido por condicionamentos de duas fontes: o meio e a herança genética.
b) o Realismo, movimento saudosista, buscava demonstrar como a vida era melhor no tempo da monarquia, opondo a estabilidade do regime sob a tutela de Dom Pedro II ao arrivismo de casais republicanos como Palha e Sofia.
c) personagens como Pombinha, a moça decente que se torna homossexual e prostituta por influência da madrinha, e Jerônimo, o português trabalhador que larga a esposa por uma mulata fogosa, são ilustrações das teses naturalistas de Aluísio de Azevedo.
d) Adolfo Caminha é autor de um romance de cunho memorialístico que narra as transformações que se dão na personalidade de um menino ao entrar em contato com o meio hipócrita e violento de um cortiço do Rio de Janeiro no tempo do Império.
e) ‘O Ateneu’ narra a história de um marinheiro mulato que, para tentar fugir ao preconceito que o isola dos próprios parentes, embarca no navio que dá título ao livro, sem saber que o capitão e o imediato planejam vendê-lo como escravo.

23. Para responder à questão, leia o fragmento do romance “O cortiço”, de Aluísio Azevedo e as afirmativas que seguem.
E maldizia soluçando a hora em que saíra da sua terra; essa boa terra cansada, velha como que enferma; essa boa terra tranquila, sem sobressaltos nem desvarios de juventude. Sim, lá os campos eram frios e melancólicos, de um verde alourado e quieto, e não ardentes e esmeraldinos e afogados em tanto sol e em tanto perfume como o deste inferno, onde em cada folha que se pisa há debaixo um réptil venenoso, como em cada flor que desabotoa e em cada moscardo que adeja há um vírus de lascívia. Lá, nos saudosos campos da sua terra, não se ouvia em noites de lua clara roncar a onça e o maracajá, nem pela manhã ao romper do dia, rilhava o bando truculento das queixadas, lá não varava pelas florestas a anta feia e terrível, quebrando árvores; lá a sucuruju não chocalhava a sua campainha fúnebre, anunciando a morte, nem a coral esperava traidora o viajante descuidado para lhe dar o bote certeiro e decisivo; lá o seu homem não seria anavalhado pelo ciúme de um capoeira; lá Jerônimo seria ainda o mesmo esposo casto, silencioso e meigo; seria o mesmo lavrador triste e contemplativo como o gado que à tarde levanta para o céu de opala o seu olhar humilde, compungido e bíblico.
I. A diferença entre a velha e a nova terra é marcada pela força da natureza que transforma a vida e o comportamento do homem.
II. Expressões como “cansada”, “enferma”, “frios e melancólicos”, nas referências 1, 2 e 3 respectivamente, assumem uma conotação positiva para a mulher de Jerônimo, ao definirem o espaço da felicidade perdida na velha terra.
III. As ações dos animais, pintadas com os tons fortes do Naturalismo, narram os perigos que Jerônimo e sua mulher vivem na selva.
IV. A expressão “lá”, nas referências 4 e 5, indica o espaço das virtudes do marido, da paz doméstica e de uma vida simples e tranquila.
Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas apenas
a) I e III.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

24. (UNB) Entre as produções literárias mais expressivas da literatura brasileira, encontra-se O CORTIÇO, de Aluísio Azevedo, uma obra essencial para o entendimento da sociedade brasileira no final do século passado. A partir do texto, julgue os itens a seguir.
(1) O romance O CORTIÇO tem esse nome porque sua trama desenvolve-se durante um final de semana em uma favela de Salvador.
(2) Na passagem transcrita, o autor trata, de forma valorativa, da música popular brasileira ao longo dos anos.
(3) O efeito erótico associado à música é um dos pontos enfatizados nesse trecho de O CORTIÇO.
RESPOSTA:F F V

25. (UFRGS) Considere as seguintes afirmações sobre os romances abaixo.

I – A personagem Bertoleza, de O cortiço, representa um entrave às ambições de João Romão de ascender socialmente, razão pela qual ele planeja devolvê-la ao seu antigo senhor, na condição de escrava que era.

II – Euclides da Cunha narra, em “A luta”, terceira parte de Os sertões, as formas de organização e as estratégias de combate dos sertanejos, liderados por Antônio Conselheiro, que derrotam o Exército Republicano.

 III- O personagem Ricardo Coração dos Outros, em Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto, é um músico popular, que goza da estima da mais alta sociedade carioca, por ser a expressão característica da alma nacional. Quais estão corretas?

a) Apenas I.

b) Apenas III.

c) Apenas I e II.

d) Apenas II e III.

e) I, II e III.

26. (UFV) Leia o texto a seguir, retirado de “O Cortiço”, e faça o que se pede:
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.
Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada, sete horas de chumbo.
[…].
O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.AZEVEDO, Aluísio. “O cortiço”. 15 ed. São Paulo: Ática, 1984. p. 28-29.
Assinale a alternativa que NÃO corresponde a uma possível leitura do fragmento citado:
a) No texto, o narrador enfatiza a força do coletivo. Todo o cortiço é apresentado como um personagem que, aos poucos, acorda como uma colméia humana.
b) O texto apresenta um dinamismo descritivo, ao enfatizar os elementos visuais, olfativos e auditivos.
c) Através da descrição do despertar do cortiço, o narrador apresenta os elementos introspectivos dos personagens, procurando criar correspondências entre o mundo físico e o metafísico.
d) O discurso naturalista de Aluísio Azevedo enfatiza nos personagens de “O Cortiço” o aspecto animalesco, “rasteiro” do ser humano, mas também a sua vitalidade e energia naturais, oriundas do prazer de existir.
e) Observa-se, no discurso de Aluísio Azevedo, pela constante utilização de metáforas e sinestesias, uma preocupação em apresentar elementos descritivos que comprovem a sua tese determinista.

27. (UFSM) Assinale a alternativa correta a respeito de O CORTIÇO.
a) Na descrição do ambiente, são enfatizadas a degradação e a promiscuidade das personagens.
b) O texto retrata um estágio do desenvolvimento urbano de São Luís do Maranhão.
c) A narrativa nega a relação entre o ambiente e o destino das personagens.
d) Entre tantas personagens mesquinhas, João Romão é apresentado como generoso.
e) Contrariando a lógica naturalista, não há, em O CORTIÇO, referência à sexualidade das personagens.

28. (UNB) Em relação aos gêneros literários e a periodização literária brasileira, e considerando que O CORTIÇO foi publicado em 1890, época áurea do Realismo/Naturalismo no Brasil, julgue os seguintes itens.
(1) Evidenciam-se no texto elementos científicos-positivistas característicos do Naturalismo.
(2) O fragmento, apesar da época em que foi publicado, apresenta traços do Arcadismo.
(3) Percebe-se no texto uma dessacralização da mulher, em face dos padrões românticos.
RESPOSTA: F F V

29. (UFSM) Considere a afirmativa:
As personagens podem ser divididas entre os vencedores, como João Romão, e os humildes que se consomem no trabalho pela própria sobrevivência.
Assinale a alternativa que identifica obra, autor e período relacionados com a afirmativa anterior.
a) O ATENEU – Raul Pompéia – Naturalismo
b) CINCO MINUTOS – José de Alencar – Romantismo
c) O CORTIÇO – Aluísio Azevedo – Naturalismo
d) MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR – Oswald de Andrade – Modernismo
e) A MORENINHA – Joaquim Manuel de Macedo – Romantismo

30. (UFRGS) Leia o segmento abaixo, do terceiro capítulo de O cortiço, de Aluísio Azevedo.

Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. (…) O rumor crescia, condensando-se; o zunzum de todos os dias acentuava-se; já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam-se discussões e rezingas; ouviam-se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava-se. Sentia-se naquela fermentação sanguínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra.

Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações sobre o segmento.

( ) O segmento apresenta a descrição do cortiço sem destacar um personagem, com ênfase na coletividade para ações triviais de homens, mulheres e crianças.

( ) O despertar, matéria cotidiana, é figurado como fato rotineiro de pessoas executando seus hábitos higiênicos matinais.

( ) A linguagem do narrador, preocupado em mostrar a dimensão natural presente nas ações humanas, evidencia- -se em expressões como “prazer animal de existir”.

( ) O objetivo, nesse segmento, é apresentar o cortiço e a venda como empreendimentos comerciais usados no enriquecimento de João Romão. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – V – F – F.

b) V – V – V – V.

c) V – F – F – V.

d) F – F – F – V.

e) V – V – V – F.

31. (UFSM) Em __________, considerado o melhor romance naturalista de nossa literatura, _________ expõe vivências encontradas em uma _____________.
Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas.
a) “Lendas do Sul” – Simões Lopes Neto – tribo indígena
b) “Dom Casmurro” – Machado de Assis – sociedade urbana
c) “O Ateneu” – Raul Pompéia – roça de cacau
d) “Triste fim de Policarpo Quaresma” – Lima Barreto – repartição pública
e) ” O cortiço” – Aluísio Azevedo – habitação coletiva

32. (UFRGS) Leia o segmento abaixo. No Brasil novecentista, uma sociedade escravocrata e patriarcal, o espaço de atuação das mulheres era restrito. Elas aparecem representadas em Dom Casmurro, de Machado de Assis, e O cortiço, de Aluísio Azevedo. …….. escolhe ficar com o homem que desperta seu desejo, sem a necessidade de casar. Paira sobre …….. a desconfiança sobre sua motivação para casar com o vizinho. Por sua vez, …….. casa e descarta o marido, em busca de uma vida livre do domínio masculino. Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas do segmento acima, na ordem em que aparecem.

a) Rita Baiana – Capitu – Pombinha

b) Capitu – Rita Baiana – Pombinha

c) Pombinha – Capitu – Rita Baiana

d) Pombinha – Rita Baiana – Capitu

e) Rita Baiana – Pombinha – Capitu

33. (UNIFESP) Em “O cortiço”, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em
a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos…
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada…

34. (UFRGS) Sobre o romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.

( ) No início do romance, está o vendeiro português João Romão que, com força de trabalho e boa dose de oportunismo, constrói o cortiço, seu primeiro caminho para a ascensão social.

( ) No romance, a ex-escrava Bertoleza é a companheira de João Romão, por ele tratada com respeito, o que dá mostras do tom conciliatório do livro, que trata a escravidão como problema resolvido.

( ) No sobrado contíguo ao cortiço de João Romão, vivem Miranda, Dona Estela e a filha Zulmirinha, família financeiramente confortável, que cria sinceros vínculos de amizade com João Romão e Bertoleza. ( ) No romance, Dona Estela, sempre descrita pelo narrador como uma dama séria e decorosa, sofre com as constantes traições de seu marido Miranda. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – F – V – F.

b) V – F – F – F.

c) V – V – F – V.

d) F – V – F – V.

e) F – F – V – V

35. (UFSM) Beijinho, beijinho e tchau, tchau
Aí está o beijo na boca que tanta comoção causou nos Estados Unidos há poucos dias. Os protagonistas são os adolescentes Jack (Kerr Smith) e Ethan (Adam Kaufman), de Dawson’s Creek, o seriado mais politicamente correto da TV americana. Apesar do ósculo – uma bitoquinha, para ser exato -, o caso amoroso entre os dois personagens homossexuais não teve um final feliz. Na sequência do episódio, Ethan desvencilha-se de Jack e conta a ele que tem outro. Jack, tadinho, fica arrasado. Aqui no Brasil, o canal de TV a cabo Sony deve exibir o beijo ainda neste mês.
VEJA, 7 de junho, 2000.

Abordar a homossexualidade não é privilégio do seriado americano Dawson’s Creek. Há várias décadas, a literatura brasileira já tratava desse tema, como comprovam os fragmentos I e II a seguir.

I.”Estimei-o femininamente, porque era grande, forte, bravo; porque me podia valer (…)
O meu bom amigo (…) inventava cada dia nova surpresa e agrado. Chegara ao excesso das flores (…) Que deveria fazer uma namorada? Acariciei as flores, muito agradecido, e escondi-as antes que vissem.”
II. “Léonie fingia prestar-lhe atenção e nada mais fazia do que afagar-lhe a cintura, as coxas e o colo. Depois, como que distraidamente, começou a desabotoar-lhe o corpinho do vestido.
………………………………………………………………………………
A menina, vendo-se decomposta, cruzou os braços sobre o seio, vermelha de pudor.
– Deixa! segredou-lhe a outra, com os olhos envesgados, a pupila trêmula.”

Esses dois fragmentos pertencem, respectivamente, a
a) “O Ateneu”, de Raul Pompéia e “O primeiro beijo e outros contos”, de Clarice Lispector.
b) “Libertinagem e Estrela da manhã”, de Manuel Bandeira e “O primeiro beijo e outros contos”, de Clarice Lispector.
c) “O cortiço”, de Aluísio Azevedo e “O primeiro beijo e outros contos”, de Clarice Lispector.
d) “O Ateneu”, de Raul Pompéia e “O cortiço”, de Aluísio Azevedo.
e) “Libertinagem e Estrela da manhã”, de Manuel Bandeira e “O cortiço”, de Aluísio Azevedo.

36. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913):
O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. (Aluísio Azevedo. O cortiço)

O caráter naturalista nessa obra de Aluísio Azevedo oferece, de maneira figurada, um retrato de nosso país, no final do século XIX. Põe em evidência a competição dos mais fortes, entre si, e estes, esmagando as camadas de baixo, compostas de brancos pobres, mestiços e escravos africanos. No ambiente de degradação de um cortiço, o autor expõe um quadro tenso de misérias materiais e humanas. No fragmento, há várias outras características do Naturalismo. Aponte a alternativa em que as duas características apresentadas são corretas.
a) Exploração do comportamento anormal e dos instintos baixos; enfoque da vida e dos fatos sociais contemporâneos ao escritor.
b) Visão subjetivista dada pelo foco narrativo; tensão conflitiva entre o ser humano e o meio ambiente.
c) Preferência pelos temas do passado, propiciando uma visão objetiva dos fatos; crítica aos valores burgueses e predileção pelos mais pobres.
d) A onisciência do narrador imprime-lhe o papel de criador, e se confunde com a idéia de Deus; utilização de preciosismos vocabulares, para enfatizar o distanciamento entre a enunciação e os fatos enunciados.
e) Exploração de um tema em que o ser humano é aviltado pelo mais forte; predominância de elementos anticientíficos, para ajustar a narração ao ambiente degradante dos personagens.

37. (UFRGS) Leia o seguinte trecho de O cortiço. A criadagem da família do Miranda compunha-se de Isaura, mulata ainda moça, moleirona e tola, que gastava todo o vintenzinho que pilhava em comprar capilé na venda de João Romão; uma negrinha virgem, chamada Leonor, muito ligeira e viva, lisa e seca como um moleque, conhecendo de orelha, sem lhe faltar um termo, a vasta tecnologia da obscenidade, e dizendo, sempre que os caixeiros ou os fregueses da taverna, só para mexer com ela, lhe davam atracações: “Oia, que eu me queixo ao juiz de orfe!”; e finalmente o tal Valentim, filho de uma escrava que foi de Dona Estela e a quem esta havia alforriado. Sobre o texto acima, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as seguintes afirmações.

( ) O fragmento reflete o tom geral do romance, no qual o narrador em terceira pessoa distancia-se das personagens populares -especialmente as negras -, pois está atrelado às reduções do cientificismo naturalista que antepõe raça superior a raça inferior.

( ) A linguagem do narrador é diferente da linguagem da personagem: a fala de Leonor não segue o registro linguístico adotado pelo narrador.

( ) As personagens femininas descritas no trecho -e no romance de maneira geral -são estereotipadas, respondem ao imaginário da mulata sensual e ociosa, especialmente Bertoleza e Rita Baiana.

( ) O narrador em terceira pessoa simpatiza com as personagens populares; tal simpatia está presente em todo o romance, nas inúmeras vezes em que a narração em terceira pessoa cede espaço para o diálogo entre escravos. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) V – V – F – F.

b) F – F – F – V.

c) V – V – V – F.

d) F – F – V – V.

e) F – V – F – V.

38. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913):
O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. (Aluísio Azevedo. O cortiço)
Releia o fragmento de “O cortiço”, com especial atenção aos dois trechos a seguir.
“Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero”.
(…)
“E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas”.
No fragmento, rico em efeitos descritivos e soluções literárias que configuram imagens plásticas no espírito do leitor, Aluísio Azevedo apresenta características psicológicas de comportamento comunitário. Aponte a alternativa que explicita o que os dois trechos têm em comum.
a) Preocupação de um em relação à tragédia do outro, no primeiro trecho, e preocupação de poucos em relação à tragédia comum, no segundo trecho.
b) Desprezo de uns pelos outros, no primeiro trecho, e desprezo de todos por si próprios, no segundo trecho.
c) Angústia de um não poder ajudar o outro, no primeiro trecho, e angústia de não se conhecer o outro, por quem se é ajudado, no segundo trecho.
d) Desespero que se expressa por murmúrios, no primeiro trecho, e desespero que se expressa por apatia, no segundo trecho.
e) Anonimato da confusão e do “salve-se quem puder”, no primeiro trecho, e anonimato da cooperação e do “todos por todos”, no segundo trecho.

39. (UFV) Em “O Cortiço”, Aluísio Azevedo reafirma a ideologia do Naturalismo e cumpre à risca alguns princípios cientificistas vigentes na segunda metade do século XIX.
Dentre as afirmativas a seguir, assinale aquela que NÃO corresponde às propostas da escola naturalista:
a) O caráter determinista da obra tem como símbolo a personagem Pombinha, que, se antes era “pura” e de boa conduta moral, acaba prostituindo-se por força daquele meio sórdido e animalesco.
b) O narrador de “O Cortiço” acentua o lado instintivo do ser humano através de um processo de zoomorfização, identificando seus personagens a diferentes animais, sobretudo a insetos e vermes, quando os descreve em seu vaivém pelo cortiço.
c) Ao enfatizar as atitudes inescrupulosas de João Romão para com os habitantes do cortiço, em especial para com a negra Bertoleza, o autor confirma as preocupações sociais do Naturalismo em sua inclinação reformadora.
d) Os personagens de “O Cortiço” constituem-se, em sua maioria, dos operários das pedreiras, das lavadeiras e de outros miseráveis que ali vivem de forma degradante, o que evidencia a preferência do escritor naturalista pelas camadas mais baixas da sociedade.
e) Em “o Cortiço”, Aluísio Azevedo exprime um conceito naturalista da vida e, ao idealizar seus personagens, integra-os a elementos de uma natureza convencional.

40. (UFRGS) ) O cortiço (1890) e Dom casmurro (1899) foram publicados na mesma década, porém apresentam registros de linguagem diferentes, como se pode ver nos trechos abaixo. No bloco superior, estão listados nomes de personagens de O cortiço e de Dom casmurro; no inferior, os trechos dos romances em que essas personagens são descritas. Associe adequadamente o bloco inferior ao bloco superior.

1 -Firmo (O cortiço)

2 -Escobar (Dom casmurro)

3 -Jerônimo (O cortiço)

4 -José Dias (Dom casmurro)

( ) [ … ] viera da terra, com a mulher e uma filhinha ainda pequena, tentar a vida no Brasil, na qualidade de colono de um fazendeiro, em cuja fazenda mourejou durante dois anos, sem nunca levantar a cabeça, e de onde afinal se retirou de mãos vazias e uma grande birra pela lavoura brasileira. Para continuar a servir na roça tinha que sujeitar- -se a emparelhar com os negros escravos e viver com eles no mesmo meio degradante, encurralado como uma besta, sem aspirações, nem futuro, trabalhando eternamente para outro.

( ) [ … ] era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito; capadócio de marca, pernóstico, só de maçadas, e todo ele se quebrando nos seus movimentos de capoeira. Teria seus trinta e tantos anos, mas não parecia ter mais de vinte e poucos. Pernas e braços finos, pescoço estreito, porém forte; não tinha músculos, tinha nervos.

( ) Era um rapaz esbelto, olhos claros, um pouco fugitivos, como as mãos, como os pés, como a fala, como tudo. Quem não estivesse acostumado com ele podia acaso sentir-se mal, não sabendo por onde lhe pegasse. Não fitava de rosto, não falava claro nem seguido; as mãos não apertavam as outras, nem se deixavam apertar delas, porque os dedos, sendo delgados e curtos, quando a gente cuidava tê-los entre os seus, já não tinha nada.

( ) [ … ]apareceu ali vendendo-se por médico homeopata; levava um Manual e uma botica. Havia então um andaço de febres; [ … ] curou o feitor e uma escrava, e não quis receber nenhuma remuneração. Então meu pai propôs-lhe ficar ali vivendo, com pequeno ordenado. [ … ] recusou, dizendo que era justo levar a saúde à casa de sapé do pobre. A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

a) 1 – 2 – 3 – 4.

b) 2 – 3 – 4 – 1.

c) 3 – 2 – 4 – 1.

d) 1 – 3 – 2 – 4.

e) 3 – 1 – 2 – 4.

41. (UEL) A propósito de “O cortiço”, de Aluísio Azevedo, é correto afirmar:
a) Trata-se de um importante exemplar do naturalismo brasileiro. Nele, as personagens são animalizadas e dominadas pelos instintos. A obra marca a história de trabalhadores pobres, alguns miseráveis, amontoados numa habitação coletiva.
b) A narrativa é um retrato da sociedade burguesa do século XIX e pode ser considerada uma das obras-primas da ficção romântica brasileira porque focaliza a heroína Rita Baiana em sua multiplicidade psicológica.
c) Todo o livro é marcado pela desilusão e pelo abandono dos ideais realistas. Defendendo os valores de pureza e retorno à vida pacata do campo, há nele fortes indícios do Romantismo que se anunciava no Brasil.
d) Narrado em primeira pessoa, “O cortiço” é uma análise da psicologia e da situação dos imigrantes no Brasil. Os perfis psicológicos e as análises de comportamento conduzem a história à idealização da mestiçagem brasileira, representada pela ascensão social dos portugueses Jerônimo e João Romão.
e) O tema da mulher idealizada é constante nessa obra. A figura da virgem sonhada é simbolizada pela lavadeira Rita Baiana e constitui uma forma de denúncia dos problemas sociais, tão frequentes nos livros filiados à estética naturalista.

42. (UEM) Leia o fragmento a seguir e assinale o que for correto.
“Ela saltou em meio da roda, com os braços na cintura, rebolando as ilhargas e bamboleando a cabeça, ora para a esquerda, ora para a direita, como numa sofreguidão de gozo carnal num requebrado luxurioso que a punha ofegante; já correndo de barriga empinada; já recuando de braços estendidos, a tremer toda, como se se fosse afundando num prazer grosso que nem azeite, em que se não toma pé e nunca se encontra fundo.
[…]
O chorado arrastava-os a todos, despoticamente, desesperando os que não sabiam dançar. Mas, ninguém como a Rita; só ela, só aquele demônio, tinha o mágico segredo daqueles movimentos de cobra amaldiçoada; aqueles requebros que não podiam ser sem o cheiro que a mulata soltava de si e sem aquela voz doce, quebrada, harmoniosa, arrogante, meiga e suplicante.”
(Aluísio Azevedo, “O cortiço”)

Ilharga: cada uma das partes laterais e inferiores do baixo-ventre. Luxurioso: sensual, libidinoso. Despoticamente: tiranamente.
01) Pode-se afirmar sobre Aluísio Azevedo: a) é autor de uma produção literária heterogênea que comporta romances românticos, como “Uma lágrima de mulher” e “Casa de pensão”, e romances naturalistas, como “O cortiço” e “O mulato”; b) seus romances naturalistas, escritos sob a influência de Émile Zola e de Eça de Queiroz, caracterizam-se pelo forte conteúdo social, em que são constantes as denúncias de preconceitos racial e de classe, a ambição desenfreada, os problemas morais e as injustiças e misérias sociais.
02) Pode-se afirmar sobre o estilo de época em que se enquadra o romance “O cortiço”: a) a objetividade, uma de suas características mais importantes, é implementada por meio da escolha de um narrador que se coloca de forma imparcial e impessoal diante dos fatos narrados; b) a linguagem é mais simples que a linguagem utilizada pelos adeptos do Romantismo: os períodos são curtos, de compreensão mais imediata, visando atingir um público mais amplo.
04) Pode-se afirmar sobre o romance “O cortiço”: a) narra a escalada social do imigrante português João Romão, dono do cortiço, onde transcorre a ação, e de uma serraria, onde trabalha a maioria dos moradores do lugar; b) o imigrante consegue acumular sua fortuna graças a sua avareza e ao auxílio de Bertoleza, sua escrava e amante; c) outro núcleo dramático do romance envolve o triângulo amoroso formado pelo casal português recém-chegado ao cortiço, Jerônimo e Piedade, e a mulata Rita Baiana.
08) Pode-se afirmar sobre as personagens que integram o romance “O cortiço”: a) as situações apresentadas privilegiam menos os aspectos psicológicos das personagens e mais suas características exteriores; b) a ação das personagens são condicionadas a fatores naturais (temperamento, raça, clima) e a fatores sociais e culturais (ambiente e educação), apresentando relação de causa e efeito; trata-se da influência do determinismo, uma das teorias científicas da época que fundamentava ideologicamente o Naturalismo.
16) Pode-se afirmar sobre esse fragmento: a) é bastante significativo no conjunto da obra: mostra a dança da mulata Rita Baiana, responsável por despertar em Jerônimo a paixão e o desejo, que o fazem abandonar a esposa e os princípios lusitanos para viver com ela; b) retrata Rita Baiana como sendo uma mulher rude, libidinosa, sem recato ou pudor, portanto de características completamente diferentes daquelas peculiares às heroínas românticas, construídas como sendo educadas, meigas, frágeis e recatadas.
32) Pode-se afirmar sobre esse fragmento e sobre o romance ao qual ele pertence : a) as expressões “sofreguidão de gozo carnal”, “requebrado luxurioso”, “prazer grosso” enfatizam os aspectos sensuais do comportamento de Rita Baiana; b) a frase “o chorado arrastava-os a todos, despoticamente” demonstra o livre arbítrio do indivíduo em relação às imposições do meio, sua capacidade de reagir diante dos estímulos do ambiente; c) como Rita Baiana, as personagens do romance, de modo geral, assumem comportamentos que enfatizam o aspecto animal do ser humano; a expressão “movimentos de cobra amaldiçoada” é um exemplo disso.
RESPOSTA:26

43. (ITA) Acerca do romance “O cortiço”, de Aluísio Azevedo, NÃO é correto dizer que
a) todas as personagens, por serem muito pobres, enveredam pelo mundo do crime ou da prostituição.
b) as personagens, ainda que todas sejam pobres, possuem temperamentos distintos, tais como Bertoleza, Rita Baiana e Pombinha.
c) homens e mulheres são, na sua maioria, vítimas de uma situação de pobreza que os desumaniza muito.
d) as personagens, na sua maioria, sejam homens ou mulheres, vivem quase que exclusivamente em função dos impulsos do desejo e da perversidade sexual.
e) a vida difícil das personagens, tão ligadas à criminalidade e à prostituição, é condicionada pelo meio adverso em que vivem e por problemas biopatológicos.

44. (UFRRJ) O DESPERTAR DO CORTIÇO
” Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente, uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente, debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão inundava-se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não as molhar; via-se-lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não se preocupavam em não molhar o pelo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando contra as palmas das mãos. As portas das latrinas não descansavam…”(AZEVEDO, Aluísio de. “O Cortiço”, São Paulo: Martins, 1968, p. 43.)
São características desse texto, consideradas típicas do naturalismo, entre outras,
a) o idealismo, o comportamento determinista.
b) a ênfase no aspecto material da vida, o comportamento sofisticado.
c) as comparações dos seres humanos com animais, a promiscuidade.
d) a representação objetiva da vida, o endeusamento do ser humano.
e) a fuga à realidade, o positivismo exacerbado.

45. (UNIFESP) “O cortiço”, obra naturalista,
a) traduziu a sensualidade humana na ótica do objetivismo científico, o que se alinha à grande preocupação espiritual.
b) fez análises muito subjetivas da realidade, pouco alinhadas ao cientificismo predominante na época.
c) explorou as mazelas humanas de forma a incitar a busca por valores éticos e morais.
d) não pôde ser considerado um romance engajado, pois deixou de lado a análise da realidade.
e) tratou de temas de patologia social, pouco explorados nas escolas literárias que o precederam.

46. (UFMS) Com relação à obra O cortiço, de Aluísio Azevedo, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).

(001) O escritor propõe uma pesquisa voltada apenas para o caráter das personagens e não para suas manias, taras e vícios.

(002) Baseada em métodos científicos, faz crítica à organização da família de forma pessoal e subjetiva.

(004) As personagens femininas surgem como objetos no romance, descartáveis quando vistas, pelos homens, como estorvo ou obstáculo.

(008) De estilo ágil, jornalístico, apresenta léxico e sintaxe consoantes com o caráter objetivo da narração, que assinala a língua culta brasileira até a chegada do Modernismo.

(016) O narrador evidencia o comportamento humano condicionado pelo meio, momento e raça.

SOMA: 028 (004+008+016)

47. (PUC-RS) :Para responder à questão, leia o fragmento do romance “O cortiço”, de Aluísio Azevedo e as afirmativas que seguem.
E maldizia soluçando a hora em que saíra da sua terra; essa boa terra ¢cansada, velha como que enferma; essa boa terra tranquila, sem sobressaltos nem desvarios de juventude. Sim, lá os campos eram frios e melancólicos, de um verde alourado e quieto, e não ardentes e esmeraldinos e afogados em tanto sol e em tanto perfume como o deste inferno, onde em cada folha que se pisa há debaixo um réptil venenoso, como em cada flor que desabotoa e em cada moscardo que adeja há um vírus de lascívia. Lá, nos saudosos campos da sua terra, não se ouvia em noites de lua clara roncar a onça e o maracajá, nem pela manhã ao romper do dia, rilhava o bando truculento das queixadas, lá não varava pelas florestas a anta feia e terrível, quebrando árvores; lá a sucuruju não chocalhava a sua campainha fúnebre, anunciando a morte, nem a coral esperava traidora o viajante descuidado para lhe dar o bote certeiro e decisivo; lá o seu homem não seria anavalhado pelo ciúme de um capoeira; lá Jerônimo seria ainda o mesmo esposo casto, silencioso e meigo; seria o mesmo lavrador triste e contemplativo como o gado que à tarde levanta para o céu de opala o seu olhar humilde, compungido e bíblico.
I. A diferença entre a velha e a nova terra é marcada pela força da natureza que transforma a vida e o comportamento do homem.
II. Expressões como “cansada”, “enferma”, “frios e melancólicos”, nas referências 1, 2 e 3 respectivamente, assumem uma conotação positiva para a mulher de Jerônimo, ao definirem o espaço da felicidade perdida na velha terra.
III. As ações dos animais, pintadas com os tons fortes do Naturalismo, narram os perigos que Jerônimo e sua mulher vivem na selva.
IV. A expressão “lá”, nas referências 4 e 5, indica o espaço das virtudes do marido, da paz doméstica e de uma vida simples e tranquila.
Pela análise das afirmativas, conclui-se que estão corretas apenas
a) I e III.
b) II e III.
c) III e IV.
d) I, II e IV.
e) II, III e IV.

48. (UFAM) Das frases abaixo, apenas uma, por não conter características do Naturalismo, não expressar com acerto uma parte do enredo ou não conter o nome de um dos personagens de O Cortiço, NÃO pertence a esse romance. Assinale-a:
a) “A mulata era o prazer, era a volúpia, era o fruto dourado (…) onde a alma de Jerônimo aprendeu lascívias de macaco e onde seu corpo porejou o cheiro sensual dos bodes”.

b) “A primeira que se pôs a lavar foi a Leandra, por alcunha a “Machona”, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo”.

c) “As corridas até à venda reproduziam-se, transformando-se num verminar constante de formigueiro assanhado”.

d) “Um bruxuleio barato no fundo da biboca dos retirantes, que, perdida na amplidão do latifúndio, ficava menor, semelhando um ninho caído, modificava-lhes a impressão da vida”.

e) “De repente, veio enorme borboleta de fogo adejar luxuriosamente em torno da imensa rosa, em cujo regaço a virgem permanecia com os peitos franqueados”.

49. (FUVEST) Leia o seguinte texto.
O autor pensava estar romanceando o processo brasileiro de guerra e acomodação entre as raças, em conformidade com as teorias racistas da época, mas, na verdade, conduzido pela lógica da ficção, mostrava um processo primitivo de exploração econômica e formação de classes, que se encaminhava de um modo passavelmente bárbaro e desmentia as ilusões do romancista. Roberto Schwarz. Adaptado.
Esse texto crítico refere-se ao livro
a) Memórias de um sargento de milícias.
b) Til.
c) O cortiço.
d) Vidas secas.
e) Capitães da areia.

50. (UFMS) Com relação ao romance O cortiço, de Aluísio Azevedo, assinale a(s) proposição(ões) correta(s).

(001) Tributária de correntes filosóficas e sociológicas do final do Século XIX, a obra é, por muitos estudiosos, considerada o ponto alto do Naturalismo na literatura brasileira.

(002) É característica do naturalismo, e uma das marcas distintivas da obra, a linguagem metafórica, com remissões constantes a clássicos da literatura universal.

(004) As personagens, ambíguas, contraditórias, consideradas na teoria como “redondas”, são fundamentais para que o enredo desemboque no final moralizante, com a vitória dos mais aptos na competição social.

(008) Lançada em 1890, a obra responde ao momento histórico, de ruptura da monarquia, com denúncia satírica dos desmandos da elite luso-brasileira.

(016) O narrador é em terceira pessoa, mas apresenta poucas incursões psicológicas e digressões filosóficas.

SOMA: 017 (001+016)

51. (UFAM) O Cortiço, de Aluísio Azevedo, publicado em 1890, é um dos mais importantes romances da literatura brasileira. Sobre esse marco da estética naturalista, pode-se afirmar o seguinte:

a) Apresenta uma crítica à burguesia do Rio de Janeiro, a qual, vivendo de futilidades, não se apercebia dos conflitos sociais que se geravam nos núcleos populacionais que, mais tarde, iriam se estabelecer nos morros, criando as favelas.

b) Através da figura do protagonista, um indivíduo de bom caráter, ex-escravo, critica as desigualdades sociais e o preconceito contra os negros, além de fazer um painel expressivo das camadas sociais mais baixas do Rio de Janeiro.

c) Apresenta os traços mais marcantes da estética naturalista, quais sejam, o ceticismo, a ironia amarga e a reflexão sobre a tragédia que é o existir, tudo isso a partir da análise dos componentes de uma habitação coletiva, sem condições de higiene.

d) Escrito sob a convicção de que o meio influencia o homem, o enredo apresenta o português Jerônimo sendo seduzido por Bertoleza, uma moradora do cortiço, com isso dando início ao seu processo de decadência, bem como o de sua família.

e) Com a crença positivista de que o saber é capaz de redimir o homem, o autor apresenta um grupo social de um bairro do Rio de Janeiro, o qual, mediante a “ordem” imposta pelo proprietário, atinge o “progresso”, ou seja, sobe na escala social.

52. (ACAFE) Sobre a obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo, assinale a alternativa correta.

a)Durante muito tempo, Rita Baiana foi vista pelos críticos como o motivo da ruina emocional do narrador. Acusada de trair o marido com o melhor amigo dele e, pior, de engana-lo com um filho ilegítimo, foi encarada como o protótipo da mulher devassa, sem caráter e impostora. Os exemplos desse tipo de analise são vastos, todos embasados na esperteza da personagem desde sua meninice, qualidade esta narrada por Bento, um homem amargurado e pouco confiável.

b) Jeronimo, casado com Piedade e amante de Bertoleza, e o dono do cortiço no qual se ambienta o livro. Parte do caráter de Jeronimo e descrito assim: “[…] deixando de pagar todas as vezes que podia e nunca deixando de receber, enganando os fregueses, roubando nos pesos e nas medidas  […]”.

c) A prostituta Leonie possuía sentimentos passionais e libidinosos em relação a Pombinha, filha de dona Isabel, como se observa no seguinte trecho “– Vem cá, minha flor!… disse-lhe, puxando-a contra si e deixando-se cair sobre um diva. Sabes? Eu te quero cada vez mais!… Estou louca por ti!”

d) Esta obra narra a historia do amor de Ana Rosa e seu primo Raimundo, impedido pelas barreiras do preconceito racial contra Raimundo, que e mulato. Raimundo e rejeitado, ignorado e maltratado pela sociedade do Maranhão (onde a historia se passa), mas ainda assim seu amor e o de Ana Rosa florescem.

53. (ITA) Leia as proposições acerca de O Cortiço.
I. Constantemente, as personagens sofrem zoomorfização, isto é, a animalização do comportamento humano, respeitando os preceitos da literatura naturalista.
II. A visão patológica do comportamento sexual é trabalhada por meio do rebaixamento das relações, do adultério, do lesbianismo, da prostituição etc.
III. O meio adquire enorme importância no enredo, uma vez que determina o comportamento de todas as personagens, anulando o livre-arbítrio.
IV. O estilo de Aluísio Azevedo, dentro de O Cortiço, confirma o que se percebe também no conjunto de sua obra: o talento para retratar agrupamentos humanos.
Está(ão) correta(s)
a) todas.
b) apenas I.
c) apenas I e II.
d) apenas I, II e III.
e) apenas III e IV.

54. (UNIFESP) A questão a seguir baseia-se no seguinte fragmento do romance O cortiço (1890), de Aluísio Azevedo (1857-1913):             
O cortiço
Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo. Homens e mulheres corriam de cá para lá com os tarecos ao ombro, numa balbúrdia de doidos. O pátio e a rua enchiam-se agora de camas velhas e colchões espocados. Ninguém se conhecia naquela zumba de gritos sem nexo, e choro de crianças esmagadas, e pragas arrancadas pela dor e pelo desespero. Da casa do Barão saíam clamores apopléticos; ouviam-se os guinchos de Zulmira que se espolinhava com um ataque. E começou a aparecer água. Quem a trouxe? Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
Os sinos da vizinhança começaram a badalar.
E tudo era um clamor.
A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa. Estava horrível; nunca fora tão bruxa. O seu moreno trigueiro, de cabocla velha, reluzia que nem metal em brasa; a sua crina preta, desgrenhada, escorrida e abundante como as das éguas selvagens, dava-lhe um caráter fantástico de fúria saída do inferno. E ela ria-se, ébria de satisfação, sem sentir as queimaduras e as feridas, vitoriosa no meio daquela orgia de fogo, com que ultimamente vivia a sonhar em segredo a sua alma extravagante de maluca.
Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada, que abateu rapidamente, sepultando a louca num montão de brasas. (Aluísio Azevedo. O cortiço)
Em O cortiço, o caráter naturalista da obra faz com que o narrador se posicione em terceira pessoa, onisciente e onipresente, preocupado em oferecer uma visão crítico-analítica dos fatos. A sugestão de que o narrador é testemunha pessoal e muito próxima dos acontecimentos narrados aparece de modo mais direto e explícito em:
a) Fechou-se um entra-e-sai de marimbondos defronte daquelas cem casinhas ameaçadas pelo fogo.
b) Ninguém sabia dizê-lo; mas viam-se baldes e baldes que se despejavam sobre as chamas.
c) Da casa do Barão saíam clamores apopléticos…
d) A Bruxa surgiu à janela da sua casa, como à boca de uma fornalha acesa.
e) Ia atirar-se cá para fora, quando se ouviu estalar o madeiramento da casa incendiada…

55. (ESPM) Dos segmentos abaixo, extraídos de O Cortiço, de Aluísio Azevedo, marque o que não traduza exemplo de zoomorfismo:
a) Zulmira tinha então doze para treze anos e era o tipo acabado de fluminense; pálida, magrinha, com pequeninas manchas roxas nas mucosas do nariz, das pálpebras e dos lábios, faces levemente pintalgadas de sardas.
b) Leandra…a Machona, portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do campo.
c) Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas.
d) E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa começou a minhocar,… e multiplicar-se como larvas no esterco.
e) Firmo, o atual amante de Rita Baiana, era um mulato pachola, delgado de corpo e ágil como um cabrito.

56. (UEL) A questão refere-se aos trechos a seguir.
“Justamente por essa ocasião vendeu-se também um sobrado que ficava à direita da venda, separado desta apenas por aquelas vinte braças; e de sorte que todo o flanco esquerdo do prédio, coisa de uns vinte e tantos metros, despejava para o terreno do vendeiro as suas nove janelas de peitoril. Comprou-o um tal Miranda, negociante português, estabelecido na rua do Hospício com uma loja de fazendas por atacado.”
“E durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia, ganhando forças, socando-se de gente. E ao lado o Miranda assustava-se, inquieto com aquela exuberância brutal de vida, aterrado diante daquela floresta implacável que lhe crescia junto da casa, por debaixo das janelas, e cujas raízes piores e mais grossas do que serpentes miravam por toda parte, ameaçando rebentar o chão em torno dela, rachando o solo e abalando tudo.”
(AZEVEDO, Aluísio. O Cortiço. 26. ed. São Paulo: Martins, 1974. p. 23; 33.)
Com base nos fragmentos citados e nos conhecimentos sobre o romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo, considere as afirmações a seguir:
I. A descrição do cortiço, feita através de uma linguagem metafórica, indica que, no romance, esse espaço coletivo adquire vida orgânica, revelando-se um “ser” cuja força de crescimento assemelha-se ao poderio de raízes em desenvolvimento constante que ameaçam tudo abalar.
II. A inquietação de Miranda quanto ao crescimento do cortiço deve-se ao fato de que sua casa, o sobrado, ainda que fosse uma construção imponente, não possuía uma estrutura capaz de suportar o crescimento desenfreado do vizinho, que ameaçava derrubar sua habitação.
III. Não obstante a oposição entre o sobrado e o cortiço em termos de aparência física dos ambientes, os moradores de um e outro espaço não se distinguem totalmente, haja vista que seus comportamentos se assemelham em vários aspectos, como, por exemplo, os de João Romão e Miranda.
IV. Os dois ambientes descritos marcam uma oposição entre o coletivo (o cortiço) e o individual (o sobrado) e, por extensão, remetem também à estratificação presente no contexto do Rio de Janeiro do final do século XIX.
Estão corretas apenas as afirmativas:
a) I e II.
b) I e III.
c) II e IV.
d) I, III e IV.
e) II, III e IV.

57. (UFLA) Relacione os trechos da obra O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, às características realistas/naturalistas seguintes que predominam nesses trechos e, a seguir, marque a alternativa CORRETA:
1. Detalhismo.
2. Crítica ao capitalismo selvagem.
3. Força do sexo.
( ) “(…) possuindo-se de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignado as mais duras privações. Dormia sobre o balcão da própria venda, em cima de uma esteira, fazendo travesseiro de um saco de estepe cheio de palha.”
( ) “(…) era a luz ardente do meio-dia; ela era o calor vermelho das sestas de fazenda; era o aroma quente dos trevos e das baunilhas, que o atordoara nas matas brasileiras.”
( ) “E seu tipo baixote, socado, de cabelos à escovinha, a barba sempre por fazer (…) Era um pobre diabo caminhando para os setenta anos, antipático, muito macilento.”
a) 2, 1, 3
b) 1, 3, 2
c) 3, 2, 1
d) 2, 3, 1
e) 1, 2, 3

58. (UEL) Texto 1
De cada casulo espipavam homens armados de pau, achas de lenha, varais de ferro. Um empenho coletivo os agitava agora, a todos, numa solidariedade briosa, como se ficassem desonrados para sempre se a polícia entrasse ali pela primeira vez. Enquanto se tratava de uma simples luta entre dois rivais, estava direito! ‘Jogassem lá as cristas, que o mais homem ficaria com a mulher!’ mas agora tratava-se de defender a estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar por alguém ou alguma coisa querida.(AZEVEDO, Aluísio, O cortiço. 26. ed. São Paulo: Martins, 1974. p. 139.)

Texto 2
O cortiço é um romance de muitas personagens. A intenção evidente é a de mostrar que todas, com suas particularidades, fazem parte de uma grande coletividade, de um grande corpo social que se corrói e se constrói simultaneamente.(FERREIRA, Luiz Antônio. Roteiro de leitura: O cortiço de Aluísio Azevedo. São Paulo: Ática, 1997. p. 42.)
Sobre os textos, assinale a alternativa correta.
a) No Texto 1, por ser ele uma construção literária realista, há o predomínio da linguagem referencial, direta e objetiva; no Texto 2, por ser ele um estudo analítico do romance, há o predomínio da linguagem estética, permeada de subentendidos.
b) A afirmação contida no Texto 2 explicita o modo coletivo de agir do cortiço, algo que também se observa no Texto 1, o que justifica o prevalecimento de um termo coletivo como título do romance.
c) Tanto no Texto 1 quanto no Texto 2 há uma visão exacerbada e idealizada do cortiço, sendo este considerado um lugar de harmonia e justiça.
d) No Texto 1 prevalece a desagregação e corrosão da grande coletividade a que se refere o Texto 2.
e) O que se afirma no Texto 2 vai contra a ideia contida no Texto 1, visto que no cortiço jamais existe união entre os seus moradores.

59. (UNILAVRAS) Com relação à obra O Cortiço, de Aluísio Azevedo:
I – É uma obra que pertence ao Naturalismo brasileiro.
II – Como uma obra Naturalista, faz uma abordagem patológica do homem.
III – Por ser escrita no século XIX é uma obra romântica.
a) Apenas a afirmativa I está correta.
b) Apenas a afirmativa II está correta.
c) Apenas a afirmativa III está correta.
d) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.
e) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.

60. (UNIFESP) leia o trecho de O cortiço, de Aluísio Azevedo.
Jerônimo bebeu um bom trago de parati, mudou de roupa e deitou-se na cama de Rita. – Vem pra cá… disse, um pouco rouco.
– Espera! espera! O café está quase pronto!
E ela só foi ter com ele, levando-lhe a chávena fumegante da perfumosa bebida que tinha sido a mensageira dos seus amores (…)
Depois, atirou fora a saia e, só de camisa, lançou-se contra o seu amado, num frenesi de desejo doído.
Jerônimo, ao senti-la inteira nos seus braços; ao sentir na sua pele a carne quente daquela brasileira; ao sentir inundar-se o rosto e as espáduas, num eflúvio de baunilha e cumaru, a onda negra e fria da cabeleira da mulata; ao sentir esmagarem-se no seu largo e peludo colo de cavouqueiro os dois globos túmidos e macios, e nas suas coxas as coxas dela; sua alma derreteu-se, fervendo e borbulhando como um metal ao fogo, e saiu-lhe pela boca, pelos olhos, por todos os poros do corpo, escandescente, em brasa, queimando-lhe as próprias carnes e arrancando-lhe gemidos surdos, soluços irreprimíveis, que lhe sacudiam os membros, fibra por fibra, numa agonia extrema, sobrenatural, uma agonia de anjos violentados por diabos, entre a vermelhidão cruenta das labaredas do inferno.

Pode-se afirmar que o enlace amoroso entre Jerônimo e Rita, próprio à visão naturalista, consiste
a) na condenação do sexo e consequente reafirmação dos preceitos morais.
b) na apresentação dos instintos contidos, sem exploração da plena sexualidade.
c) na apresentação do amor idealizado e revestido de certo erotismo.
d) na descrição do ser humano sob a ótica do erótico e animalesco.
e) na concepção de sexo como prática humana nobre e sublime.

61. (UFLA) Leia o texto para responder à questão.
O CORTIÇO (Aluísio de Azevedo)
Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas para lavadeiras.” As casinhas eram alugadas por mês e as tinas por dia; tudo pago adiantado. O preço de cada tina, metendo a água, quinhentos réis; sabão à parte. As moradoras do cortiço tinham preferência e não pagavam nada para lavar. (…)
E aquilo se foi constituindo numa grande lavanderia, agitada e barulhenta, com as suas cercas de varas, as suas hortaliças verdejantes e os seus jardinzinhos de três e quatro palmos, que apareciam como manchas alegres por entre a negrura das limosas tinas transbordantes e o revérbero das claras barracas de algodão cru, armadas sobre os lustrosos bancos de lavar. E os gotejantes jiraus, cobertos de roupa molhada, cintilavam ao sol, que nem lagos de metal branco.
E naquela terra encharcada e fumegante, naquela umidade quente e lodosa, começou a minhocar, a esfervilhar, a crescer, um mundo, uma coisa viva, uma geração, que parecia brotar espontânea, ali mesmo, daquele lameiro, e multiplicar-se como larvas no esterco. (O Cortiço. São Paulo, Ática, 1997)
A fusão entre os seres e o ambiente a que pertencem é um traço naturalista fortemente presente no fragmento.
Indique a alternativa que melhor expressa essa característica.
a)”Diga-me com quem tu andas e eu te direi quem és” / “Filho de peixe peixinho é.”
b) Vão-se os anéis, ficam os dedos” / “Cada macaco no seu galho.”
c) “Ri melhor quem ri por último” / “Nem todos os dedos da mão são iguais.”
d) “Antes só do que mal acompanhado” / “Água mole em pedra dura tanto bate até que fura.”
e) “O que os olhos não veem o coração não sente” / “De grão em grão a galinha enche o papo.”

62. (UFAM) Assinale a alternativa incorreta feita a propósito do romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo:
a) É também uma história de corrupção, centrada na animalização humana estimulada pelo sexo e pelo dinheiro.
b) O verdadeiro protagonista desse romance é uma comunidade popular explorada em proveito da burguesia ascendente da época.
c) Observam-se sátiras a alguns tipos predominantes na época: o comerciante rico e grosseiro, a velha beata e raivosa, o cônego relaxado e comilão.
d) O enredo não gira em função de pessoas, havendo muitas descrições precisas onde cenas coletivas e tipos psicologicamente primários fazem o conjunto.
e) Existe uma divisão clara entre a vida dos que venceram, como João Romão, senhor da pedreira e do cortiço, e a labuta dos humildes que se exaurem na luta pela sobrevivência.

63. (UEPB) Considere as seguintes afirmações do crítico literário Antonio Candido, sobre O cortiço, de Aluísio de Azevedo:

I. A perspectiva naturalista ajuda a compreender o mecanismo d’O cortiço, porque o mecanismo do cortiço nele descrito é regido por um determinismo estrito, que mostra a natureza (meio) condicionando o grupo (raça) e ambos definindo as relações humanas na habitação coletiva. Mas esta força determinante de fora para dentro é contrabalançada e compensada por uma força que atua de dentro para fora: o mecanismo de exploração do português, que rompe as contingências e, a partir do cortiço, domina a raça e supera o meio. O projeto do ganhador de dinheiro aproveita as circunstâncias transformando-as em vantagens, e esta tensão ambígua pode talvez ser considerada um dos núcleos germinais da narrativa.

II. No começo é como se o cortiço fosse regido por lei biológica; entretanto a vontade de João Romão parece ir atenuando o ritmo espontâneo, em troca de um caráter mais mecânico de planejamento. Ele usa as forças do meio, não se submete a ela; se o fizesse, perderia a oportunidade de se tornar capitalista e se transformaria num episódio do processo natural, como acontece com seu patrício Jerônimo, que opta pela adesão à terra e é tragado por ela.

III. Neste livro a natureza do Brasil é interpretada de um ângulo curiosamente colonialista (para usar anacronicamente a linguagem de agora) como algo incompatível com as virtudes da civilização. Daí o homem forte, o estrangeiro ganhador de dinheiro estar sempre vigilante, como única solução, de chicote em punho e as distâncias marcadas com o nativo.

É pertinente ao romance de Aluísio de Azevedo:

a) Apenas I e II.

b) Todas as afirmações.

c) Apenas I e III.

d) Apenas II e III.

e) Nenhuma afirmação.

64. (FUVEST)Leia o seguinte texto.
O autor pensava estar romanceando o processo brasileiro de guerra e acomodação entre as raças, em conformidade com as teorias racistas da época, mas, na verdade, conduzido pela lógica da ficção, mostrava um processo primitivo de exploração econômica e formação de classes, que se encaminhava de um modo passavelmente bárbaro e desmentia as ilusões do romancista.
Roberto Schwarz. Adaptado.
Esse texto crítico refere-se ao livro
a) Memórias de um sargento de milícias.
b) Til.
c) O cortiço.
d) Vidas secas.
e) Capitães da areia.

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

1.(FUVEST) A crítica assinala com frequência que as personagens Brás Cubas e Macunaíma caracterizam-se por serem bastante mutáveis, inconstantes ou volúveis. No entanto, seja ao longo de sua trajetória, seja em dado momento dela, ambas as personagens apresentam um propósito ou projeto que parece contrariar essa característica.
a) Qual é, no caso de Brás Cubas, esse propósito ou projeto? Justifique sucintamente sua resposta.
b) Qual é, no caso de Macunaíma, esse propósito ou projeto? Justifique brevemente sua resposta.
RESPOSTAS:

a) Embora Brás Cubas tenha como traço essencial a volubilidade, deixa-se tomar por uma ideia fixa: inventar o emplasto Brás Cubas. Esse emplasto, “anti-hípocondríaco “, jamais criado, teria a finalidade de livrar a humanidade da melancolia.
b) Em Macunaíma, o projeto constante é a busca do Muiraquitã (o talismã em forma de sáurio). Macunaíma, em São Paulo, recupera o talismã, de que se apossara Venceslau Pietro Pietra/Piaimã.
Ao voltar para a Amazônia, perde-o na lagoa em que encontra a Uiara e tenta inutilmente recuperá-lo.

2.De outras e muitas grandezas vos poderíamos ilustrar, senhoras Amazonas, não fora perlongar demasiado esta epístola; todavia, com afirmar-vos que esta é, por sem dúvida, a mais bela cidade terráquea, muito temos feito em favor destes homens de prol. Mas cair-nos-íam as faces, si ocultáramos no silêncio, uma curiosidade original deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra. Assim chegado a estas plagas hospitalares, nos demos ao trabalho de bem nos inteirarmos da etnologia da terra, e dentre muita surpresa e assombro que se nos deparou, por certo não foi das menores tal originalidade linguística. Nas conversas utilizam-se os paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e impuro na vernaculidade, mas que não deixa de ter o seu sabor e força nas apóstrofes, e também nas vozes do brincar. Destas e daquelas nos inteiramos, solícito; e nos será grata empresa vô-las ensinarmos aí chegado. Mas si de tal desprezível língua se utilizam na conversação os naturais

desta terra, logo que tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem  Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua de Camões! […]

                                                     (ANDRADE, Mário de. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter.)

 “multifário” (l. 9): que se apresenta sobre vários aspectos.

“crasso” (l. 9): grosseiro, grande.

“apóstrofes” (l. 10): interpretação direta e imprevista do orador, que se dirige a alguém.

A partir da realidade linguística explicitada por Macunaíma no texto “Carta para Icamiabas”, comente o ponto de vista dessa personagem sobre a língua no Brasil.

RESPOSTA:

A personagem Macunaíma enfoca a diversidade de uso do idioma português no Brasil, notadamente no centro urbano (São Paulo). Ao se referir ao fato de os paulistanos falarem numa língua e escreverem noutra, ele chama a atenção do leitor para a existência de uma norma padrão (seguida pelos brasileiros na língua escrita) e de um registro coloquial, informal, típico da língua oral. É importante salientar que, na narrativa, através da carta para Icamiabas, o autor ironiza os puristas, que defendiam a petrificação da língua (língua de Camões) e não aceitavam as mudanças ocorridas no português do Brasil decorrentes da mestiçagem do idioma. Vale ressaltar que os modernistas de 22 (a obra Macunaíma faz parte deste contexto de inovações e experimentalismos linguísticos) se posicionaram contra o purismo linguístico, defendendo uma língua “natural e neológica.

3. (FUVEST) “- Paciência, manos! não! não vou na Europa não. Sou americano e meu lugar é na América. A civilização europeia decerto esculhamba a inteireza do nosso caráter.”
(Mário de Andrade, “Macunaíma”)
a) A opção pela América, afirmada nesta fala de “Macunaíma”, é coerente com a escolha por ele realizada na ocasião em que não se casou com uma das filhas de Vei, a Sol? Justifique resumidamente sua resposta.
b) Pelo fato de ser dita por Macunaíma, a frase “A civilização europeia decerto esculhamba a inteireza do nosso caráter” adquire sentido irônico. Por quê?
RESPOSTAS:

a) No episódio em que Vei, a Sol, propõe a Macunaíma casamento com uma de suas filhas, na condição de ele ser fiel, o “herói de nossa gente” aceita e jura fidelidade, mas trai o juramento ao “brincar” com uma portuguesa enquanto a deusa e suas filhas percorriam o céu do outro lado do mundo. É importante assinalar que a deusa Vei e suas filhas simbolizam o Brasil tropical, traído por Macunaíma quando o herói se deixa seduzir pela portuguesa, que representa a Europa. Daí resulta o ressentimento de Vei, que se vinga de Macunaíma no final da rapsódia.

b) A frase de Macunaíma adquire sentido irônico na medida em que ele é um “herói sem nenhum caráter”, como se lê no subtítulo da rapsódia de Mário de Andrade. De fato, Macunaíma não possui um caráter inteiriço, pois ele é uma síntese contraditória de etnias e culturas diversas: a branca europeia, a ameríndia e a afro-brasileira. É interessante observar que, no capítulo “Vei, a Sol”, Macunaíma sucumbe à sedução europeia (a portuguesa), esculhambando a inteireza de seu caráter. A frase tem sentido irônico, também, se cotejada com o fascínio de Macunaíma pela língua portuguesa, tal como se verifica na “Carta pras Icamiabas”.

4. (UFJF) Leia atentamente o fragmento de texto a seguir, selecionado da obra de ANDRADE, Mário. “Macunaíma”. SP: SCCT, 1978.
Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho. Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar uma naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro em mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho de tribo retinta dos Tapanhumas.
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
– Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
– Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!
E estava lindíssimo na Sol da lapa os três manos um louro um vermelho outro negro, de pé bem erguidos e nus.
O episódio transcrito acima é muito importante, na narrativa de “Macunaíma”, como caracterizador da mescla étnica que constitui o povo brasileiro. COM BASE NO FRAGMENTO, identifique:
a) os traços caracterizadores das três raças usados por Mário de Andrade.
b) a intenção narrativa relacionada ao uso das expressões “água lavara o pretume dele” e “a água já estava muito suja da negrura do herói”.
RESPOSTAS:

a) Macunaíma fica branco; Jiguê ficou da “cor bronze novo”, ou seja, índio; e Maanape continuou negro. Essa personagem remete à lenda indígena da formação das três raças.
b) Em “água lavara o pretume dele”, o verbo lavara (pretérito mais que perfeito) exprime ação anterior a outra, conforme se confirma: “Quando o herói saiu do banho estava branco(…), a água lavara o pretume dele”
Em “água já estava muito suja da negrura do herói”, o verbo estava (pretérito imperfeito) indica uma ação.

5. (FUVEST) De vez em quando Macunaíma parava pensando na marvada… Que desejo batia nele! Parava tempo. Chorava muito tempo. As lágrimas escorregando pelas faces infantis do herói iam lhe batizar a peitaria cabeluda. Então ele suspirava sacudindo a cabecinha:
(Mário de Andrade, MACUNAÍMA)
a) Neste excerto, como se caracteriza fisicamente Macunaíma?
Tendo em vista a história do herói, diga qual é a origem dessas características.
b) Essas características físicas do herói têm alguma relação com suas características psicológicas? Justifique brevemente sua resposta.
RESPOSTAS:

a) Macunaíma caracteriza-se por apresentar cabeça de criança – “cabecinha” e corpo de homem “peitaria peluda”. Isso se deve a forma como Macunaíma cresceu. A cotia jogou-lhe um caldo envenenado. O herói desviou a cabeça (por isso, cabeça de piá), mas o corpo cresceu taludo.

b) Sim, Macunaíma cresceu, mas o seu estado psicológico não assume a maturidade emocional, daí suas atitudes inconsequentes, pois são comandadas por uma cabeça de menino.

6. (ITA) Leia com atenção os textos abaixo.
IRACEMA – CAPÍTULO II
Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema.
Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna, e mais longos que seu talhe de palmeira.
O favo da jati não era doce como o seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como o seu hálito perfumado.
Mais rápida que a ema selvagem, a morena virgem corria o sertão e as matas do Ipu, onde campeava sua guerreira tribo, da grande nação tabajara. O pé grácil e nu, mal roçando, alisava apenas a verde pelúcia que vestia a terra com as primeiras águas. (JOSÉ DE ALENCAR)
MACUNAÍMA – CAPÍTULO I
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto e retinto e filho do medo da noite. Houve momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uiracoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro passou mais de seis anos não falando. Se o incitavam a falar exclamava:
– Ai! que preguiça… (MÁRIO DE ANDRADE)
a) Romantismo e Modernismo são dois movimentos literários de fundo nacionalista. Com base nessa afirmação, indique pontos de contato entre as obras “Iracema” e “Macunaíma” que podem ser comprovados pelos excertos acima.
b) Encontre nos textos, ao menos, uma diferença entre o estilo de Mário de Andrade e o de José de Alencar.
RESPOSTAS:

a) Os parágrafos iniciais de “Iracema” e “Macunaíma”, evidenciam, nos títulos das obras, a presença do indianismo, de vocábulos indígenas (graúna, “jati”, “Ipu”, “tabajara”, “Uraricoera”, “tapanhumas”): em Alencar, a idealização lírica e heroica; em Mário de Andrade, a atitude crítica, o indianismo “às avessas”, na direção da irreverência “antropofágica” de Oswald de Andrade.

b) O estilo romântico de José de Alencar explora os efeitos plásticos que visam a compor uma imagem idealizada da heroína, associando-a às virtudes da terra: as cores, o porte altaneiro, a doçura do mel, o perfume das flores etc.
O modernismo crítico e irreverente de Mário de Andrade revela-se não só na configuração de um herói desidealizado (“criança feia”), preguiçoso, como na linguagem que, intencionalmente, transgride a norma: “sarapantar”.

7. (FUVEST) Leia atentamente as seguintes afirmações:
A vida íntima do brasileiro nem é bastante coesa, nem bastante disciplinada, para envolver e dominar toda a sua personalidade e, assim, integrá-la, como peça consciente, no conjunto social. Ele é livre, pois, para se abandonar a todo repertório de ideias, gestos e formas que encontre em seu caminho, assimilando-os frequentemente sem maiores dificuldades.
(Adaptado de Sérgio Buarque de Holanda, “Raízes do Brasil”)
a) Essas afirmações aplicam-se à personagem Brás Cubas? Justifique sucintamente sua resposta.
b) E à personagem Macunaíma, essas afirmações se aplicam? Justifique resumidamente sua resposta.
RESPOSTAS:

a) Sim, pois o defunto-autor Brás Cubas se apropria como lhe convém de conceitos filosóficos, preceitos religiosos e morais e interpreta os acontecimentos de sua vida de maneira livre e ampla.

b) Sim, se se tratar de um personagem “sem nenhum caráter”, pois, com relação à Macunaíma, sua personalidade não é limitada por nenhum tipo de ética ou coerência.

8. (UFSCAR) Apresenta-se, em “Ubirajara”, um cenário de exaltação ao herói. Logo, trata-se de um ritual grandiloquente para aquele que simboliza o poder na tribo, em valores que expressam o ideário romântico do qual participou Alencar
a) Por que se pode dizer que a oração “Tu és Ubirajara” sintetiza o discurso de exaltação ao herói?
b) Comente a visão romântica do índio brasileiro, expressa em Alencar, comparando-a com a visão do índio no Modernismo, valendo-se da figura de “Macunaíma”, de Mário de Andrade:
No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo de Uraricoera, que a índia tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.
(ANDRADE, Mário. “Macunaíma, o herói sem nenhum caráter”. 31. ed. Belo Horizonte/ Rio de Janeiro: Garnier 2000, p. 13.)
RESPOSTA:

a)Ubirajara, cujo significado é “senhor da lança”, ganha tal atributo por seu feito heróico nas guerras disputadas. Sintetiza a exaltação do herói, porque faz parte da cena em que lhe é conferido o título.
b) A visão romântica retrata o índio de forma idealizada e eufórica. Alencar constrói Ubirajara aos moldes das grandes epopeias da Europa. Em Macunaíma, o anti-herói, deixa o caráter grandiloquente e assume o feitio cômico e contraditório.

9. (UFG) A viagem de Macunaíma – da selva amazônica para a cidade de São Paulo – funciona como um dos eixos fundamentais da narrativa homônima de Mário de Andrade.
a) Por que Macunaíma deixa sua tribo e se dirige à cidade de São Paulo?
b) Considerando-se a questão da identidade nacional, qual o significado dessa viagem, decisiva na trajetória do herói?
RESPOSTAS:

a) Macunaíma parte para a cidade em busca da pedra perdida – a muiquiratã – que se encontrava nas mãos do Gigante Piaimã (Venceslau Pietro Pietra).
b) O herói parte em busca do amuleto que se encontra em poder de um peruano, residente em São Paulo. Vem com os irmãos, Maanape e Jiguê. A caminho, lavam-se em águas mágicas e, todos “pretos retintos”, transformam-se: Macunaíma fica branco, louro de olhos azuis; Jiguê, da “cor do bronze novo”, e Maanape continuou negro, mas com a palma da mão e a planta do pé rosados – essa passagem remete à lenda indígena da formação das três raças.

10. (UFGD) Macunaíma, perdido e sem dinheiro na cidade de São Paulo, escreve uma carta para as guerreiras do Mato Virgem. Sobre essa carta, assinale a alternativa correta:

a) A “Carta para as Icamiabas” é elaborada em linguagem erudita, seguindo o estilo dos demais capítulos, visto que o autor se inspira no vernáculo português.

b) A “Carta pràs Icamiabas”, diferentemente dos demais capítulos, é elaborada em linguagem erudita, visto que nela está implícita uma crítica à linguagem portuguesa europeia.

c) A “Carta para as Icamiabas” é elaborada em linguagem informal, como os demais capítulos da obra, a fim de inovar a língua brasileira.

d) A “Carta pràs Icamiabas” é elaborada em linguagem formal, como os demais capítulos da obra, a fim de ilustrar a linguagem erudita do protagonista.

e) A “Carta pràs Icamiabas” é elaborada em linguagem informal, como os demais capítulos da obra, a fim de ilustrar a influência portuguesa na língua brasileira.

11. (ITA) Sobre MACUNAÍMA, de Mário de Andrade, NÃO se pode afirmar que:
a) A obra apresenta uma mistura de lendas indígenas, crendices, anedotas e observações pessoais da vida cotidiana brasileira.
b) Assim como a personagem Macunaíma passa por uma série de metamorfoses, a linguagem também se transforma ao longo da obra.
c) A personagem Macunaíma sintetiza o caráter nacional brasileiro do início do século.
d) A história se passa inteiramente na floresta Amazônica, onde Macunaíma passa toda sua vida ao lado dos irmãos Maanape e Jiguê.
e) A obra traz para o campo da arte inovações de linguagem, como o ritmo, o léxico e a sintaxe coloquial para a escrita.

12. (FUVEST) Leia o texto abaixo e considere as afirmações.
A inteligência do herói estava muito perturbada. As cunhãs rindo tinham ensinado pra ele que o sagui-açu não era saguim não, chamava elevador e era uma máquina. De manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados berros cuquiadas sopros roncos esturros não eram nada disso não, eram mas cláxons campainhas apitos buzinas e tudo era máquina. As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes hupmobiles chevrolés dodges mármons e eram máquinas.(Mário de Andrade, Macunaíma)
I. As características modernistas desse fragmento estão não só no estilo, próximo do expressionismo, como também na ruptura da linguagem literária tradicional, já que palavras indígenas, coloquialismos e barbarismos passam a integrar o registro literário.
II. Nesse fragmento, o narrador incorpora a visão primitiva de Macunaíma, quando descreve a cidade de São Paulo. Pode-se dizer que ocorre uma inversão paródica do que se encontra em textos descritivos de cronistas europeus do século XVI, já que estes levavam em conta, muitas vezes, o referencial europeu para relatar a realidade da terra recém-descoberta.
III. Pode-se dizer que a justaposição de palavras indicadoras de ruídos, algumas onomatopaicas, sugere a intensidade do barulho urbano, assim como a enumeração das marcas de automóveis sugere o volume do tráfego.
Pode-se dizer que está(ão) correta(s)
a) apenas a afirmação I.
b) todas as afirmações.
c) apenas a afirmação II.
d) apenas as afirmações II e III.
e) apenas a afirmação III.

13. (UFU-MG) Leia as afirmativas seguintes sobre a obra Macunaíma, de Mário de Andrade, e assinale a alternativa INCORRETA.

a) Sendo uma rapsódia, a obra caracteriza-se pelo acolhimento e assimilação de elementos variados de nossa cultura. Por esse caráter multifacetado, Macunaíma é inviável enquanto representação de nossa identidade.

b) O herói Macunaíma é um tipo criado a partir de contos populares e está ligado a personagens do folclore brasileiro, como Pedro Malazarte. Mais recentemente, pode-se aproximá-lo a João Grilo, da peça Auto da Compadecida.

c) São elementos da obra a mitologia indígena, o folclore nacional, a nossa língua falada, os costumes brasileiros. Os costumes brasileiros, Mário de Andrade retira-os da cidade de São Paulo, onde Macunaíma passa um bom tempo.

d) Há um acentuado procedimento parodístico sustentando a obra. A paródia recai, inclusive, sobre obras da Literatura Brasileira, como Iracema, de José de Alencar, e também sobre a “Carta do achamento do Brasil”, de Pero Vaz de Caminha.

14. (PUC-SP) A respeito da obra MACUNAÍMA, é INCORRETO afirmar que
a) denominada “rapsódia” por seu autor, apresenta estrutura inovadora no enredo, na caracterização das personagens e no estilo.
b) é a grande obra-prima da literatura brasileira e, apesar de a personagem ser o símbolo do homem brasileiro, a maior parte do livro se passa em São Paulo.
c) caracteriza-se pela presença de lendas indígenas e por estilo de paródia, linguagem falada, provérbios e superstições populares.
d) sugere clima mágico em que todo herói, ao morrer, vira estrela no céu, exceção feita a Macunaíma que, mutilado pela Uiara, veio ao mundo para ser pedra.
e) configura a história de um herói popular que não tem preconceitos, não se cinge à moral de uma época e concentra em si próprio as contradições do homem brasileiro.

15. (ESPM) Sobre o trecho abaixo, assinale a afirmação INCORRETA:
“Senhoras:
Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura desta missiva. Cumpre-nos, entretanto, iniciar estas linhas de saudade e muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo — a maior do universo no dizer de seus prolixos habitantes — não sois conhecidas por “icamiabas”, voz espúria, se não que pelo apelativo de Amazonas; e de vós se afirma, cavalgardes belígeros ginetes e virdes da Hélade clássica.”(“Carta pras Icamiabas”, Macunaíma, Mário de Andrade)
VOCABULÁRIO:
missiva: carta
belígeros ginetes: cavalos guerreiros
Hélade clássica: Grécia
espúria: falsa; não genuíno; bastarda
a) o texto surpreende no contexto do romance porque o herói rompe com a modalidade de linguagem espontânea e coloquial utilizada até então.
b) a linguagem utilizada é marcadamente formal, sobretudo pela escolha de um vocabulário rebuscado.
c) o narrador satiriza o caráter anacrônico e ultrapassado da cultura urbana em geral (“…boa cidade de São Paulo — a maior no universo no dizer de seus prolixos habitantes”)
d) o uso de um preciosismo vocabular no romance ridiculariza o gosto linguístico, então na moda, dos parnasianos.
e) há um sincero saudosismo e sentimentalismo por parte do narrador (“linhas de saudade e muito amor”).

16. (UFPE) Na história da Literatura Brasileira, podemos destacar dois momentos que evidenciam preocupação com a cultura nacional, a primeira metade do século XIX e a segunda década do século XX. Neles, há a valorização da temática nacional, mas a partir de perspectivas estéticas distintas. Com base nessa informação e nos textos abaixo, analise as proposições seguintes.

No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma.

Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Si o incitavam a falar exclamava: If — Ai! que preguiça!. . . e não dizia mais nada.” (Mário de Andrade – Macunaíma)

Além, muito além daquela serra, que ainda azula no horizonte, nasceu Iracema. Iracema, a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asa da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era doce como seu sorriso; nem a baunilha recendia no bosque como seu hálito perfumado.  (José de Alencar – Iracema)

0-0) Os Textos I e II apresentam uma temática bem brasileira, pois problematizam, de forma sarcástica, a constituição da etnia brasileira.

1-1) Em Iracema, Alencar segue o estilo romântico e descreve a protagonista com esmero; mas contraria a estética do seu tempo, quando a idealiza “como o talhe da palmeira”.

2-2) Mário de Andrade aborda a mesma temática de José de Alencar, mas descreve o protagonista de sua rapsódia de maneira crítica, obedecendo às tendências do Modernismo.

3-3) Há em Macunaíma o resgate da cultura nacional, quando o autor se utiliza de uma linguagem representativa do falar brasileiro e retrata o protagonista como um “herói sem nenhum caráter”.

4-4) Ainda que Macunaíma retome o romance de José de Alencar, dele difere, uma vez que apresenta uma concepção idealizadora e ufanista do homem brasileiro.

RESPOSTA: FFVVF

17. (FUVEST) Sobre a linguagem em Macunaíma, de Mário de Andrade, é incorreto o que se afirma em:
a) A obra realiza conscientemente as propostas da primeira geração modernista ao incorporar registros orais e populares de linguagem.
b) A linguagem empregada por Macunaíma é artificial e pedante: ele faz questão de exibir os conhecimentos adquiridos na cidade, seja oralmente ou através da expressão escrita.
c) Indigenismos, africanismos, regionalismos, gírias, palavrões, barbarismos, são alguns exemplos que revelam a intenção do autor de promover um panorama abrangente e fiel em relação à diversidade linguística brasileira.
d) Se, por um lado, o narrador assume, em seu relato, uma linguagem marcada pelo coloquialismo, por outro o protagonista revela, em sua Carta pras Icamiabas, a preferência pelo registro formal da língua portuguesa.
e) O discurso paródico está presente em toda a obra: o diálogo com a tradição do romance indianista se estabelece desde o início, na própria figura do protagonista; a sátira dos modelos clássicos se verifica, sobretudo, na apropriação inadequada que Macunaíma faz da
linguagem empregada pelos cronistas do século XVI, na Carta pras Icamiabas.

18. (UFAC) Observe o trecho abaixo:
Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que nem marca dum pé gigante. Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão de Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
ANDRADE, M. Macunaíma: o herói sem nenhum caráter. 22. ed. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986. p. 29-30.

Na passagem acima, Mário de Andrade retoma uma tradição de contar histórias, onde Macunaíma, o herói da nossa gente, representa uma espécie de símbolo de afirmação da nossa mestiçagem que até então, antes do Modernismo, era vista como sinal de inferioridade. Ao sair da água encantada, porém, ele consegue ficar branco, enquanto seus dois irmãos, mais adiante, continuam com os traços indígenas e negroides. Essa metáfora compõe, junto com a forma de contar histórias:

a)o pobre cenário de nossa relação com o passado.

b) o irremediável apego a uma tradição narrativa, sem mais sentido para a época.

c) o mergulho nas nossas raízes e o desafio de compreendê-las na sua complexidade.

d) uma discussão que confirma, apenas, a falta de sentido de nossa malandragem, como marca da nossa identidade.

e) a abertura para todos os ufanismos e exageros nacionalistas que marcariam a nossa trajetória de desembaraço de contradições.

19. (UEL) “O pio agourento do tincuã” prenuncia:
a) A morte de Caiuanogue, irmão de Macunaíma.
b) O reaparecimento de Venceslau Pietro Pietra.
c) A perda definitiva da muiraquitã, presente de Ci, Mãe do Mato.
d) O desaparecimento de Ci, a Mãe do Mato.
e) A inundação e o fim do Uraricoera.

20. (ESPM) Para a próxima questão, leia o trecho abaixo de Macunaíma, de Mário de Andrade:
Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.
Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante.
Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!
O “milagre”, a que o texto se refere, está ligado:
a) Ao fato de Macunaíma ter tomado banho e não ser mais filho da tribo dos Tapanhumas.
b) Ao tamanho descomunal da lapa, no formato de um pé-gigante.
c) À transformação do herói: de preto retinto para branco, loiro, de olhos azuis.
d) Ao fato de os irmãos presenciarem vestígios do evangelho de Jesus.
e) Ao fato de os irmãos terem encontrado a marca do pezão do Sumé.

21.(FUVEST)Assinale a alternativa correta:

a)Macunaíma é “o herói sem nenhum caráter” porque, no âmbito individual, é múltiplo e contraditório e, no plano da representação de uma coletividade, é inescrupuloso e mau caráter.

b)Macunaíma é “o herói sem nenhum caráter” por apresentar uma personalidade complexa, caracterizada a partir de traços psicológicos delineados sob um ponto de vista objetivo e científico.

c)Macunaíma é “o herói de nossa gente” por retratar, a partir dos traços múltiplos e contrastantes que o caracterizam, a coletividade brasileira, formada pela miscigenação racial e cultural.

d)Macunaíma é “o herói de nossa gente” por ser, como os brasileiros, esperto e trapaceiro, valendo-se mais da criatividade que da inteligência em suas ações.

e)Macunaíma é “o herói sem nenhum caráter” por reunir, de um ponto de vista psicológico e antropológico, as características de um povo cujo comportamento se define pela preguiça e imoralidade.

22. (ESPM) Sobre o trecho abaixo, assinale a afirmação INCORRETA:
“Senhoras:
Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura desta missiva. Cumpre-nos, entretanto, iniciar estas linhas de saudade e muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo — a maior do universo no dizer de seus prolixos habitantes — não sois conhecidas por “icamiabas”, voz espúria, se não que pelo apelativo de Amazonas; e de vós se afirma, cavalgardes belígeros ginetes e virdes da Hélade clássica.”
(“Carta pras Icamiabas”, Macunaíma, Mário de Andrad(E)
VOCABULÁRIO:
missiva: carta
belígeros ginetes: cavalos guerreiros
Hélade clássica: Grécia
espúria: falsa; não genuíno; bastarda
Baseado no trecho pode-se afirmar que:
a) o uso da 2ª pessoa do plural (vós) foge do tratamento respeitoso e culto da língua.
b) o narrador se dirige às “incamiabas”, mais conhecidas por amazonas, mulheres guerreiras.
c) o texto faz uma apologia do tom solene e da erudição.
d) o uso de dois pontos após o vocativo “Senhoras” está incorreto; deveria haver ponto e vírgula.
e) o léxico sofisticado é uma característica típica da personagem Macunaíma.

23.(UFC)  Macunaíma é um “herói sem nenhum caráter”, porque:

a) Vive sonhando com riqueza fácil e, para obtê-la, lança mão de qualquer recurso.

b) Não é um ser confiável.

c) Ainda não encontrou sua própria definição, sua identidade.

d) Não tem firmeza de personalidade, nem segurança em suas decisões.

e) n.d.a.

24. (UFV)Leia as seguintes afirmações a respeito da estrutura narrativa de Macunaíma, de Mário de Andrade:

I – O autor modernista reúne, ludicamente, nessa obra de ficção, um farto material representativo da cultura nacional, como o folclore, os mitos, a religiosidade, a linguagem, unindo a realidade à fantasia e trazendo à tona questões sobre a identidade cultural brasileira.

II – O narrador, em Macunaíma, apresenta ironicamente o perfil do “herói da nossa gente”, utilizando-se de uma colagem de lendas indígenas, contadas de formas variadas, unindo diferentes estilos narrativos.

III – Mário de Andrade faz dessa obra uma epopeia dos feitos do herói Macunaíma, em estilo ufanista e idealizador do personagem, dando ênfase ao caráter nacionalista proposto na primeira fase do Modernismo brasileiro.

Assinale a alternativa CORRETA:

a)Apenas a afirmativa I é verdadeira.

b)Apenas as afirmativas I e II são verdadeiras.

c)Apenas a afirmativa II é verdadeira.

d)Apenas a afirmativa III é verdadeira.

e)Apenas as afirmativas I e III são verdadeiras.

25. (MACKENZIE)“Chamado de rapsódia por Mário de Andrade, o livro é construído a partir de uma série de lendas a que se misturam superstições, provérbios e anedotas. O tempo e o espaço não obedecem a regras de verossimilhança, e o fantástico se confunde com o real durante toda a narrativa.

A afirmação faz referência à obra:

a) O rei da vela.

b) Macunaíma.

c) Memórias sentimentais de João Miramar.

d) Martim Cererê.

26. (UFMG) As histórias de Macunaíma foram contadas pelo papagaio ao narrador, que vai continuar contando-as: “… ponteei na violinha e em toque rasgado botei a boca no mundo cantando na fala impura as frases e os casos de Macunaíma, herói de nossa gente”. Sabe-se que o livro Macunaíma foi considerado, por seu autor, uma rapsódia. Com relação a esse fato, é CORRETO afirmar que

a) a palavra rapsódia significa narrativa acompanhada de viola.

b) as histórias populares, tradicionalmente chamadas de rapsódia, são moralizadoras.

c) o narrador “alinhava”, na rapsódia, histórias da tradição oral.

d) rapsódia é o nome que se dá às narrativas orais recuperadas por escritores.

27. (ESPM) Para a próxima questão, leia o trecho abaixo de Macunaíma, de Mário de Andrade:
Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.
Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante.
Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!
“Antes fanhoso que sem nariz” — essa frase utilizada por Macunaíma para consolar Jiguê, após o banho encantado, corresponde:
a) A um ditado popular, significando para os parnasianos grande contribuição à linguagem literária.
b) A uma expressão recorrente ao longo da literatura, sendo normal sua utilização em qualquer escola literária.
c) A uma expressão idiomática, refletindo uma antiga linguagem culta ou padrão, justificando assim sua utilização e aplicação na literatura.
d) A um dito popular, revelando a intenção do autor em aproximar da literatura a linguagem prosaica.
e) A uma gíria de época, estabelecendo um código secreto para um grupo social restrito (no caso, os índios da tribo Tapanhumas).

28. (UFMG) Leia estes trechos:
Dizem-se, estórias. Assim mesmo, no tredo estado em que tateia, privo, mal existente, o que é, cabidamente, é o filho tal-pai-tal; o “cão”, também, na prática verdade.(GUIMARÃES ROSA, João. A benfazeja. “Primeiras estórias”, 45 ed., p. 116.)
O pecurrucho tinha cabeça chata e Macunaíma inda a achatava mais batendo nela todos os dias e falando pro guri:
– Meu filho, cresce depressa pra você ir pra São Paulo ganhar muito dinheiro.(ANDRADE, Mário de. “Macunaíma”, 31 ed., p. 28).
Com base nessa leitura, é INCORRETO afirmar que os dois trechos
a) assinalam a semelhança indiscutível entre pai e filho.
b) reescrevem, à sua maneira, ditados e expressões populares.
c) referem-se a situações que envolvem pai e filho.
d) utilizam a linguagem coloquial do povo brasileiro.

29. (UFRS) Com base na obra “Macunaíma: o herói sem nenhum caráter”, de Mário de Andrade, assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as afirmações a seguir.
( ) Através do subtítulo, o autor restringe a caracterização do povo brasileiro aos traços de malandro e aproveitador.
( ) “Carta pras Icamiabas” (capítulo IX) pode ser interpretada como uma paródia à Carta de Pero Vaz de Caminha a El – Rey.
( ) O texto é construído a partir de lendas indígenas e do folclore sertanejo e é narrado em linguagem oral de fácil compreensão, segundo o modelo realista.
( ) O final da “rapsódia” guarda uma surpresa, ao revelar que é um papagaio que conta a história de Macunaíma a um homem que, por sua vez, a narra para todos.
A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é
a) V – F – F – V.
b) F – F – V – F.
c) V – V – F – V.
d) F – V – V – F.
e) F – V – F – V.

30. (UFC)  Macunaíma é uma obra plural, composta, na medida em que:
a) Obedece às características circulares e fechadas do romance psicológico.
b) Como toda obra tradicional, observa a linearidade da narrativa onde cada personagem age em separado.
c) Aproxima técnicas românticas das modernas na estruturação do romance como um todo.
d) No corpo da narrativa, dá um tratamento único para cada personagem apresentada.
e) Tal como numa rapsódia, trata de vários temas ao mesmo tempo, entrelaçando-os numa rede múltipla de cores e sons os mais diversos.

31. (FUVEST-SP) Apesar de muito diferentes entre si, as personagens Macunaíma (de Macunaíma) e Gonçalo Mendes Ramires (de A ilustre Casa de Ramires) apresentam como traço de semelhança o fato de que ambas

a) personificam o desejo brasileiro e português de modernizar-se, rompendo com as tradições e os costumes herdados.

b) são incorrigivelmente ociosas, recusando-se a vida toda a tomar parte em atividades produtivas.

c) simbolizam a indecisão típica do homem moderno, que as impede de levar adiante os empreendimentos começados.

d) representam a terra e a gente a que cada uma pertence, na medida em que a primeira é o “herói de nossa gente” e a segunda “lembra” Portugal.

e) encarnam o dilema próprio do homem do final do século XIX, dividido entre a vida rural e a vida urbana.

32. (MACKENZIE)  “Chamado de rapsódia por Mário de Andrade, o livro é construído a partir de uma série de lendas a que se misturam superstições, provérbios e anedotas. O tempo e o espaço não obedecem a regras de verossimilhança, e o fantástico se confunde com o real durante toda a narrativa.”
A afirmação faz referência à obra:
a) O rei da vela.
b) Calunga.
c) Macunaíma.
d) Memórias sentimentais de João Miramar.
e) Martim Cererê.

33. (UFC) Macunaíma – obra-prima de Mário de Andrade – é um dos livros que melhor representam a produção literária brasileira do presente século. Sua principal característica é:
a) traçar, como no Romantismo, o perfil do índio brasileiro como protótipo das virtudes nacionais.
b) Ser um livro em que se encontram representados os princípios que orientam o movimento modernista de 22, dentre os quais o fundamental é a aproximação da literatura à música.
c) Analisar, de modo sistemático, as inúmeras variações sociais e regionais da língua portuguesa no Brasil, destacando em especial o tupi-guarani.
d) Ser um texto em que o autor subverter, na linguagem literária os padrões vigentes, ao fazer conviver, sem respeitar limites geográficos, formas linguísticas oriundas das mais diversas partes do Brasil.
e) Exaltar, de forma especial, a cultura popular regional, particularmente a representativa do Norte e Nordeste brasileiro.

34. (ESPM) Para a próxima questão, leia o trecho abaixo de Macunaíma, de Mário de Andrade:
Uma feita a Sol cobrira os três manos duma escaminha de suor e Macunaíma se lembrou de tomar banho.
Porém no rio era impossível por causa das piranhas tão vorazes que de quando em quando na luta pra pegar um naco de irmã espedaçada, pulavam aos cachos pra fora d’água metro e mais. Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que-nem a marca dum pé-gigante.
Abicaram. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho. Mas a água era encantada porque aquele buraco na lapa era marca do pezão do Sumé, do tempo em que andava pregando o evangelho de Jesus pra indiada brasileira. Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.
Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém, a água já estava muito suja da negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. Macunaíma teve dó e consolou:
— Olhe, mano Jiguê, branco você ficou não, porém pretume foi-se e antes fanhoso que sem nariz.
Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifava toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo dos Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa. Macunaíma teve dó e consolou:
— Não se avexe, mano Maanape, não se avexe não, mais sofreu nosso tio Judas!
O “banho” do herói e de seus dois irmãos, na cova encantada, faz alusão:
a) À fertilidade e diversidade da terra americana.
b) Ao sincretismo religioso entre os índios.
c) À formação étnica miscigenada do brasileiro.
d) Às diferenças culturais entre as raças humanas.
e) À necessidade de purificação da alma do brasileiro, ante tantos vícios.

35. (UNIFESP)Uma feita em que deitara numa sombra enquanto esperava os manos pescando, o Negrinho do Pastoreio pra quem Macunaíma rezava diariamente, se apiedou do panema e resolveu ajudá-lo. Mandou o passarinho uirapuru. Quando sinão quando o herói escutou um tatalar inquieto e o passarinho uirapuru pousou no joelho dele. Macunaíma fez um gesto de caceteação e enxotou o passarinho uirapuru. Nem bem minuto passado escutou de novo a bulha e o passarinho pousou na barriga dele. Macunaíma nem se amolou mais. Então o passarinho uirapuru agarrou cantando com doçura e o herói entendeu tudo o que ele cantava. E era que Macunaíma estava desinfeliz porque perdera a muiraquitã na praia do rio quando subia no bacupari.

Porém agora, cantava o lamento do uirapuru, nunca mais que Macunaíma havia de ser marupiara não, porque uma tracajá engolira a muiraquitã e o mariscador que apanhara a tartaruga tinha vendido a pedra verde pra um regatão peruano se chamando Venceslau Pietro Pietra. O dono do talismã enriquecera e parava fazendeiro e baludo lá em São Paulo, a cidade macota lambida pelo igarapé Tietê.

(Mário de Andrade, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.)

Pelas características da linguagem, que incorpora expressões da fala popular e mobiliza o léxico de origem indígena, pelo ambiente sugerido e também pela presença do uirapuru, o texto dá mostras de pertencer ao estilo:

a)romântico, de linha indianista.

b)simbolista, de linha esotérica.

c)modernista, de linha Pau-Brasil e a antropofágica.

d)naturalista, de linha nacionalista.

e)pós-modernista, de linha neo-parnasiana.

36.(UFC)Macunaíma é um “herói sem nenhum caráter”, porque:

a)Vive sonhando com riqueza fácil e, para obtê-la, lança mão de qualquer recurso.

b)Não é um ser confiável.

c)Ainda não encontrou sua própria definição, sua identidade.

d)Não tem firmeza de personalidade, nem segurança em suas decisões.

e)d.a

37. (FATEC) Texto I
Então Macunaíma pôs numa criadinha com um vestido de linho amarelo pintado com extrato de tatajuba. Ela já ia atravessando o corgo pelo pau. Depois dela passar o herói gritou pra pinguela:
– Viu alguma coisa, pau?
– Via a graça dela!
– Quá! Quá! Quá quaquá!…
Macunaíma deu uma grande gargalhada. Então seguiu atrás do par. Eles já tinham brincado e descansavam na beira da lagoa. A moça estava sentada na borda duma igaraté encalhada na praia. Toda nua inda do banho comia tambiús vivos, se rindo pro rapaz. Ele deitara de bruços na água rente dos pés da moça e tirava os lambarizinhos da lagoa pra ela comer. A crilada das ondas amontoava nas costas dele porém escorregando no corpo nu molhado caía de novo na lagoa com risadinhas de pingos. A moça batia com os pés n’água e era feito um repuxo roubado da Luna espirrando jeitoso, cegando o rapaz. Então ele enfiava a cabeça na lagoa e trazia a boca cheia de água. A moça apertava com os pés as bochechas dele e recebia o jato em cheio na barriga, assim. A brisa fiava a cabeleira da moça esticando de um em um os fios lisos na cara dela. O moço pôs reparo nisso. Firmando o queixo no joelho da companheira ergueu o busto da água, estirou o braço pro alto e principiou tirando os cabelos da cara da moça pra que ela pudesse comer sossegada os tambiús. Então pra agradecer ela enfiou três lambarizinhos na boca dele e rindo muito fastou o joelho depressa. O busto do rapaz não teve apoio mais e ele no sufragante focinhou n’água até o fundo, a moça inda forçando o pescoço dele com os pés. Ele ia escorregando sem perceber de tanta graça que achava na vida. Ia escorregando e afinal a canoa virou. Pois deixai ela virar! A moça levou um tombo engraçado por cima do rapaz e ele enrolou-se nela talqualmente um apuizeiro carinhoso. Todos os tambiús fugiram enquanto os dois brincavam n’água outra vez.
(Mário de Andrade, Macunaíma. O herói sem nenhum caráter)

Texto II

De outras e muitas grandezas vos poderíamos ilustrar, senhoras Amazonas, não fora persignar demasiado esta epístola; todavia, com afirmar-vos que esta é, por sem dúvida, a mais bela cidade terráquea, muito temos feito em favor destes homens de prol. Mas cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio, uma curiosidade original deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra.
Assim chegado a estas plagas hospitalares, nos demos ao trabalho de bem nos inteirarmos da etnologia da terra, e dentre muita surpresa e assombro que se nos deparou, por certo não foi das menores tal originalidade linguística. Nas conversas utilizam-se os paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e impuro na vernaculidade, mas que não deixa de Ter o seu sabor e força nas apóstrofes, e também nas vozes do brincar. Destas e daquelas nos inteiramos, solícito; e nos será grata empresa vo-las ensinarmos aí chegado. Mas si de tal desprezível língua se utilizam na conversão os naturais desta terra, logo que tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua de Camões! De tal originalidade e riqueza vos há-de ser grato Ter ciência, e mais ainda vos espantareis com saberdes, que à grande e quase total maioria, nem essas duas línguas bastam, senão que se enriquecem do mais lídimo italiano, por mais musical e gracioso, e que por todos os recantos da urbs é versado.(Mário de Andrade, Macunaíma. O herói sem nenhum caráter)
A Carta pras Icamiabas (Texto II) contrasta, pelo estilo, com os demais capítulos de Macunaíma. Com base no excerto, afirma-se que a carta escrita pelo herói a suas súditas, no contexto do romance,
I. parodia o estilo parnasiano, o que se constata pela escolha de vocabulário preciosista, pelo tratamento em 2ª pessoa do plural e pelo emprego da ordem indireta na frase.
II. ironiza o artificialismo parnasiano, cuja poesia desprezava soluções coloquiais, próprias da língua falada.
III. expressa, pela ironia, a tese modernista da incorporação de contribuições do linguajar do imigrante, integrado à população nacional.
IV. representa o antimodernismo, pois traz soluções de linguagem e de estilo que o Modernismo negou, em nome da nacionalização da língua literária.
São corretas as afirmações:
a) I, II, III e IV
b) I e IV apenas
c) I, II e III apenas
d) II e IV apenas
e) II, III e IV apenas

38. (UNIFESP) Uma feita em que deitara numa sombra enquanto esperava os manos pescando, o Negrinho do Pastoreio pra quem Macunaíma rezava diariamente, se apiedou do panema e resolveu ajudá-lo. Mandou o passarinho uirapuru. Quando sinão quando o herói escutou um tatalar inquieto e o passarinho uirapuru pousou no joelho dele. Macunaíma fez um gesto de caceteação e enxotou o passarinho uirapuru. Nem bem minuto passado escutou de novo a bulha e o passarinho pousou na barriga dele. Macunaíma nem se amolou mais. Então o passarinho uirapuru agarrou cantando com doçura e o herói entendeu tudo o que ele cantava. E era que Macunaíma estava desinfeliz porque perdera a muiraquitã na praia do rio quando subia no bacupari.
Porém agora, cantava o lamento do uirapuru, nunca mais que Macunaíma havia de ser marupiara não, porque uma tracajá engolira a muiraquitã e o mariscador que apanhara a tartaruga tinha vendido a pedra verde pra um regatão peruano se chamando Venceslau Pietro Pietra. O dono do talismã enriquecera e parava fazendeiro e baludo lá em São Paulo, a cidade macota lambida pelo igarapé Tietê. (Mário de Andrade, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.)
Pelas características da linguagem, que incorpora expressões da fala popular e mobiliza o léxico de origem indígena, pelo ambiente sugerido e também pela presença do uirapuru, o texto dá mostras de pertencer ao estilo:
a) romântico, de linha indianista.
b) simbolista, de linha esotérica.
c) modernista, de linha Pau-Brasil e a antropofágica.
d) naturalista, de linha nacionalista.
e) pós-modernista, de linha neo-parnasiana.

39. (U.Católica-GO)

( ) Sobre o Modernismo que produziu Macunaíma, podemos dizer que apresentava nacionalismo

exacerbado, constante busca por uma linguagem nacional, parodização

de textos do passado, liberdade formal de modo a integrar forma e conteúdo, bem

como irreverência irônica e sarcástica.

( ) Em Macunaíma, Mário de Andrade, fiel ao preceito modernista de criar uma língua

nacional, evita o uso de arcaísmos e gírias bem como as palavras de origem africana.

( ) Macunaíma é divindade dos indígenas macuxis, acavaés, arecunas, taulipanques e

caraíbas que habitam o oeste do planalto de Roraima e o Alto Rio Branco. É o ser que

trabalha à noite, espírito grande e bom que criou a terra e as plantas. Mário de Andrade,

fiel aos princípios modernistas de ironia, deu esse nome ao seu anti-herói por

espírito de contradição e sarcasmo.

“Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara

o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo

retinta dos Tapanhumas”.

( ) No passo anterior, o autor descreve o banho tomado por Jiguê, irmão de Macunaíma,

na lapa de águas mágicas que o transformaram em branco. Macunaíma e Maanape

também foram banhar-se nas águas encantadas, para se tornarem brancos. No trecho

em questão, sob o manto da fantasia, o autor faz referência às três raças que constituem

a etnia do povo brasileiro: o branco, o índio e o negro.

( ) Macunaíma deve ser considerado o protótipo do anti-herói: feio, maldoso, ardiloso, é

capaz de trair o próprio irmão, possuindo-lhe a mulher.

( ) O herói criado por Mário de Andrade devia contrapor-se, como o fez, ao modelo

europeu de indivíduo, sem máculas, sem vícios, sem defeitos de caráter. Devia, igualmente,

humanizar o homem brasileiro tornando-o real, com todos os seus defeitos e

todas as suas virtudes, características de todo o ser humano.

RESPOSTA: V-V-F-F-V-F

40. (UFV)Dentre as alternativas que se seguem, assinale aquela que transmite informações INCORRETAS a respeito de Macunaíma, o personagem central da obra modernista homônima:

a)Macunaíma é o “herói sem nenhum caráter” por não possuir uma identidade única: nasce índio-negro e, após banhar-se em águas encantadas, fica branco, louro, de olhos azuis.

b)Macunaíma configura-se como um ser múltiplo, condensando diferentes características como a bondade, a maldade, a vaidade e, sobretudo, a ingenuidade infantil.

c)O personagem marioandradino é aventureiro, individualista e, não tendo aptidão para o trabalho, prefere sempre a vida fácil, como a descoberta de dinheiro enterrado.

d)Macunaíma é o expoente máximo do sincretismo religioso brasileiro, professando simultaneamente o catolicismo, o espiritismo e a macumba, misturados ainda aos rituais e crenças indígenas.

e)Em busca da muiraquitã, Macunaíma percorre todo o território brasileiro e os diferentes países da Europa, tornando-se, assim, um herói sem fronteiras e sem pátria.

41.(UNILAVRAS)Sobre a estrutura da obra Macunaíma de Mário de Andrade:

I – O narrador narra dos fatos empregando o foco narrativo em terceira pessoa, mas no epílogo assume a própria voz em primeira pessoa: Tudo ele (papagaio) contou pro homem e depois abriu asa rumo de Lisboa. E o homem sou eu, minha gente, e eu fiquei pra vos contar a história.

II – O espaço é o Brasil de ponta a ponta, com destaque para o Norte, em que nasce o herói; São Paulo, onde luta com o gigante, a poluição e o progresso; mas também merecem atenção a região nordestina e a cidade do Rio de Janeiro.

III – A obra é dívida em 114 capítulos e um epílogo, apresentando um tempo determinado e cronológico, mas que não dão uma impressão de linearidade.

a)Estão corretas apenas a I e a II

b)Estão corretas apenas a I e a III

c)Estão corretas apenas a II e a III

d)Está correta apenas a III

e)Está correta apenas a II

42. (FUVEST) Leia o trecho da “Carta para icamiabas”, de Macunaíma, de Mário de Andrade para responder ao teste.
“As donas de São Paulo, sobre serem mui formosas e sábias, não se contentam com os dons e excelência que a Natura lhes concedeu; assaz se preocupam elas de si mesmas (…). Assim é que chamaram mestras da velha Europa, e sobretudo de França, e com elas aprenderam a passarem o tempo de maneira bem diversa da vossa. Ora se alimpam, e gastam horas nesse delicado mester, orar encantam os convívios teatrais da sociedade, ora não fazem coisa alguma; e nesses trabalhos passam elas o dia tão entretecidas e afanosas que, em chegando a noute, mal lhes sobra vagar pra brincarem e presto se entregam nos braços de Orfeu, como se diz.”
No trecho transcrito, Macunaíma revela sua:
a) percepção dos comportamentos fúteis e artificiais das mulheres paulistanas.
b) rejeição ao comportamento elegante e refinado das mulheres da cidade.
c) ânsia por compreender e incorporar-se à sofisticada vida urbana paulistana.
d) análise crítica em relação à cultura exibicionista da rica burguesia paulistana.
e) habilidade e perspicácia em decodificar rapidamente os códigos que regem a sociedade burguesa paulistana.

43. (PUC-SP) O título da obra Macunaíma é especificado com “Herói sem nenhum caráter”. A alternativa que NÃO é verdadeira em relação à especificação é:
A) O caráter do herói é ele não ter caráter definido.
B) O protagonista assume várias esferas de ação, daí ser simultaneamente herói e anti-herói.
C) A fragilidade de caráter do protagonista faz com que este perca, no decorrer da obra, sua característica de herói.
D) O herói se configura com suas qualidades paradoxais: ele é ao mesmo tempo preguiçoso e esperto, irreverente e simpático, valente e covarde.
E) O caráter do herói é contraditório, pois ele se caracteriza como um “sonso-sabido”.

44. (FUVEST) Assinale a alternativa que não indica características que justificam a classificação de Macunaíma como um anti-herói:
a) O interesse material e a presunção.
b) A capacidade de socorrer-se de poderes mágicos.
c) A sagacidade matreira, empregada muitas vezes com o intuito de ludibriar os outros.
d) A luxúria incontrolável e a infidelidade.
e) O final solitário e malsucedido do personagem.

45. (POLI) Leia com atenção o texto que segue, retirado do capítulo “Ursa Maior”, de Macunaíma, para responder à próxima questão:
Vamos dar a despedida,
– Taperá,
Talequal o passarinho,
– Taperá,
Bateu asa foi-se embora,
– Taperá,
Deixou a pena no ninho.
– Taperá,… (Mário de Andrade, Macunaíma.)
Macunaíma – doente, sozinho e derrotado no final do romance – canta esses versinhos momentos antes de virar estrela. Essa velha canção recolhida pelo autor no folclore brasileiro, no contexto da obra, pode ser lida como:
a) Um anúncio das ações finais do herói, similar ao gesto do passarinho que se retira de seu ninho.
b) Uma revelação da pressa de Macunaíma, que queria sair voando do mundo.
c) Uma mostra de que o herói de nossa gente virou pássaro e saiu voando do ninho, já que suas penas estavam caindo.
d) Uma demonstração da alegria de Macunaíma que cantava feito um pássaro no fim do romance.
e) Nenhuma, pois essa canção só foi colocada no livro para mostrar o folclore brasileiro.

46. (UFC) A respeito do livro Macunaíma, é correto afirmar que:
a) A história se passa predominantemente na capital paulista, daí porque o livro pode ser considerado uma crônica do cotidiano paulistano.
b) O episódio de base da narrativa consiste na perda e reconquista da muiraquitã.
c) O livro é uma sátira ao Brasil através da reconstituição fiel de fatos históricos retidos na memória do autor.
d) A obra faz uma leitura do Brasil sob a ótica do colonizador.
e) O processo de criação do livro não mantém nenhum vinculo com qualquer obra anteriormente escrita.

47. (UNIJUÍ) A afirmação dos elementos locais, do Brasil, estão presentes em Macunaíma, de Mário de Andrade. Sobre o livro é incorreto afirmar que:
a) Macunaíma é um “anti-herói”, com características como o individualismo e a malandragem.
b) O livro aproveita as tradições míticas dos índios; seus irmãos são Maanape e Jiguê.
c) Aproveita também ditados populares, obscenidades, frases feitas, com fatores traços de oralidades;
d) O livro foi chamado de rapsódia e é uma obra central do movimento modernista.
e) O livro não satiriza certos padrões de escrita acadêmica e não trabalha elementos de um “caráter” brasileiro.

48. (PUC-SP) A respeito de Macunaíma, obra de Mário de Andrade, é CORRETO afirmar que:

a)está em sintonia com a tendência antropofágica do modernismo brasileiro porque, na relação primitivo/civilizado, é o civilizado que observa o comportamento do selvagem.

b)opera a manifestação do maravilhoso e do mágico na realidade das personagens e constrói-se como rapsódia ou ainda como paródia de epopeia, uma vez que configura mescla dos diferentes tipos de narrativas da cultura brasileira.

c)se utiliza da unicidade temporal, caracterizada por determinação e manutenção da cronologia, ainda que admita a simultaneidade de épocas diferentes.

d)apresenta mistura de registros linguísticos como os da oralidade e os dos regionalismos, mas garante e defende a supremacia e o rigor da norma culta.

e)tem como tema central o Brasil, mas o aborda criticamente, uma vez que nega, no desenvolvimento da narrativa, a fusão de diferentes raças e culturas.

49. (FUVEST)A presença da temática indígena em Macunaíma, de Mário de Andrade, tanto participa _________________, quanto representa uma retomada, com novos sentidos, _________________.

Mantida a sequência, os trechos pontilhados serão preenchidos corretamente por:

a)do movimento modernista da Antropofagia/do Regionalismo da década de 30.

b)do interesse modernista pela arte primitiva/do Indianismo romântico.

c) do movimento modernista da Antropofagia/do Condoreirismo romântico.

d) da vanguarda estética do Naturalismo/do Indianismo romântico.

e) do interesse modernista pela arte primitiva/do Regionalismo da década de 30.

50. (UEL) “Macunaíma: o herói sem nenhum caráter” é obra representativa:
a) Do pré-modernismo brasileiro, visto que registra preocupação com as dificuldades dos emigrantes na cidade de São Paulo.
b) Da primeira geração modernista, porque procura resgatar manifestações culturais brasileiras.
c) Da segunda geração modernista, uma vez que os problemas políticos brasileiros aí se fazem presentes.
d) Do movimento futurista brasileiro, posto romper, de maneira excessivamente agressiva, com a tradição literária brasileira.
e) Do movimento Pau-Brasil, uma vez que o primitivismo é apontado como solução para os problemas da cultura brasileira.

51. FATEC) Texto I
Então Macunaíma pôs numa criadinha com um vestido de linho amarelo pintado com extrato de tatajuba. Ela já ia atravessando o corgo pelo pau. Depois dela passar o herói gritou pra pinguela:
– Viu alguma coisa, pau?
– Via a graça dela!
– Quá! Quá! Quá quaquá!…
Macunaíma deu uma grande gargalhada. Então seguiu atrás do par. Eles já tinham brincado e descansavam na beira da lagoa. A moça estava sentada na borda duma igaraté encalhada na praia. Toda nua inda do banho comia tambiús vivos, se rindo pro rapaz. Ele deitara de bruços na água rente dos pés da moça e tirava os lambarizinhos da lagoa pra ela comer. A crilada das ondas amontoava nas costas dele porém escorregando no corpo nu molhado caía de novo na lagoa com risadinhas de pingos. A moça batia com os pés n’água e era feito um repuxo roubado da Luna espirrando jeitoso, cegando o rapaz. Então ele enfiava a cabeça na lagoa e trazia a boca cheia de água. A moça apertava com os pés as bochechas dele e recebia o jato em cheio na barriga, assim. A brisa fiava a cabeleira da moça esticando de um em um os fios lisos na cara dela. O moço pôs reparo nisso. Firmando o queixo no joelho da companheira ergueu o busto da água, estirou o braço pro alto e principiou tirando os cabelos da cara da moça pra que ela pudesse comer sossegada os tambiús. Então pra agradecer ela enfiou três lambarizinhos na boca dele e rindo muito fastou o joelho depressa. O busto do rapaz não teve apoio mais e ele no sufragante focinhou n’água até o fundo, a moça inda forçando o pescoço dele com os pés. Ele ia escorregando sem perceber de tanta graça que achava na vida. Ia escorregando e afinal a canoa virou. Pois deixai ela virar! A moça levou um tombo engraçado por cima do rapaz e ele enrolou-se nela talqualmente um apuizeiro carinhoso. Todos os tambiús fugiram enquanto os dois brincavam n’água outra vez.(Mário de Andrade, Macunaíma. O herói sem nenhum caráter)

Texto II

De outras e muitas grandezas vos poderíamos ilustrar, senhoras Amazonas, não fora persignar demasiado esta epístola; todavia, com afirmar-vos que esta é, por sem dúvida, a mais bela cidade terráquea, muito temos feito em favor destes homens de prol. Mas cair-nos-iam as faces, si ocultáramos no silêncio, uma curiosidade original deste povo. Ora sabereis que a sua riqueza de expressão intelectual é tão prodigiosa, que falam numa língua e escrevem noutra.
Assim chegado a estas plagas hospitalares, nos demos ao trabalho de bem nos inteirarmos da etnologia da terra, e dentre muita surpresa e assombro que se nos deparou, por certo não foi das menores tal originalidade linguística. Nas conversas utilizam-se os paulistanos dum linguajar bárbaro e multifário, crasso de feição e impuro na vernaculidade, mas que não deixa de Ter o seu sabor e força nas apóstrofes, e também nas vozes do brincar. Destas e daquelas nos inteiramos, solícito; e nos será grata empresa vo-las ensinarmos aí chegado. Mas si de tal desprezível língua se utilizam na conversão os naturais desta terra, logo que tomam da pena, se despojam de tanta asperidade, e surge o Homem Latino, de Lineu, exprimindo-se numa outra linguagem, mui próxima da vergiliana, no dizer dum panegirista, meigo idioma, que, com imperecível galhardia, se intitula: língua de Camões! De tal originalidade e riqueza vos há-de ser grato Ter ciência, e mais ainda vos espantareis com saberdes, que à grande e quase total maioria, nem essas duas línguas bastam, senão que se enriquecem do mais lídimo italiano, por mais musical e gracioso, e que por todos os recantos da urbs é versado. (Mário de Andrade, Macunaíma. O herói sem nenhum caráter)
A leitura do Texto I torna possível afirmar que essa passagem:
a) caracteriza-se como descrição de ações, enfocando o encontro amoroso de um moço e uma criada, ressaltando a sensualidade de seu comportamento (“Eles já tinham brincado”).
b) narra a exuberância da fauna e da flora brasileiras (“Tirava os lambarizinhos da lagoa” e “A crilada das ondas”), afirmando antropofagicamente os valores nacionais.
c) deve ser entendida de uma perspectiva psicanalítica, muito utilizada por Mário de Andrade, fazendo entrever na água da igarité um símbolo da sexualidade da cena descrita.
d) explora oposições amorosas, em que gentilezas são retribuídas com grosserias (“Ele […] tirava os lambarizinhos […] pra ela comer” e “A moça batia com os pés n’água […] cegando o rapaz”).
e) insinua a futilidade das necessidades humanas mais elementares, tais como procriar, comer e repousar, resgatando influências do realismo – naturalismo, que precedeu o modernismo.

52. (FUVEST) O subtítulo da obra Macunaíma – “herói sem nenhum caráter” – expressa simbolicamente a ideia de que o povo brasileiro:
a) obedece a um código moral próprio, particular, baseado na lei do prazer individual.

b) trai a sua cultura original, incorpora a cultura do colonizador, perdendo definitivamente a possibilidade de construir uma identidade coesa.

c) é volúvel, inconsequente, impulsivo, recusando qualquer limite para realização de seus anseios.

d) reúne atributos demasiadamente variados e contraditórios, que constroem uma identidade incoerente, indeterminada, indefinível.

e) não preserva sua identidade, rejeitando qualquer código moral definido, estável e perene.

53. (PUC)
“Às mui queridas súbditas nossas, Senhoras Amazonas.
Trinta de Maio de Mil Novescentos e Vinte e Seis.
Senhoras:
Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura desta missiva. Cumpre-nos, entretanto, iniciar estas linhas de saudades e muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo – a maior do universo, no dizer de seus prolixos habitantes – não sois conhecidas por “icamiabas”, voz espúria, sinão que pelo apelativo de Amazonas; e de vós, se afirma cavalgardes ginetes belígeros e virdes da Hélade clássica; e assim sois chamadas. Muito nos pesou a nós, Imperator vosso, tais dislates da erudição porém heis de convir conosco que, assim, ficais mais heroicas e mais conspícuas, tocadas por essa plátina respeitável da tradição e da pureza antiga.
(…)
Recebei a benção do vosso Imperador e mais saúde e fraternidade. Acatai com respeito e obediência estas mal traçadas linhas; e, principalmente, não vos esqueçais das alvíçaras e das polonesas, de que muito hemos mister.
Ci guarde a Vossas Excias. Macunaíma, Imperator.”
(Macunaíma, Mário de Andrade)
Mário de Andrade, ao inserir em Macunaíma esta “Carta pras Icamiabas”, escrita com erudição e em língua portuguesa elaborada, que destoa do conjunto da obra, teve como intenção:
a) satirizar a língua natural e simples, de característica popular, e valorizar a construção clássica e gramaticalmente correta.
b) denunciar o pedantismo do brasileiro, que é o de escrever português de lei, e criticar a incoerência dos que imitam irrefletidamente essa linguagem desusada.
c) valorizar a língua de Camões e contrapor-se ao uso abusivo da linguagem coloquial.
d) alertar as Icamiabas sobre os perigos da civilização e denunciar que “pouca saúde e muita saúva, os males do Brasil são”.
e) ser coerente com o comportamento linguístico vigente na época que era o de “falar numa língua e escrever noutra”.

54. (PUC-SP) A respeito de Macunaíma, obra de Mário de Andrade, é CORRETO afirmar que:
a) está em sintonia com a tendência antropofágica do modernismo brasileiro porque, na relação primitivo/civilizado, é o civilizado que observa o comportamento do selvagem.
b) opera a manifestação do maravilhoso e do mágico na realidade das personagens e constrói-se como rapsódia ou ainda como paródia de epopeia, uma vez que configura mescla dos diferentes tipos de narrativas da cultura brasileira.
c) se utiliza da unicidade temporal, caracterizada por determinação e manutenção da cronologia, ainda que admita a simultaneidade de épocas diferentes.
d) apresenta mistura de registros linguísticos como os da oralidade e os dos regionalismos, mas garante e defende a supremacia e o rigor da norma culta.
e) tem como tema central o Brasil, mas o aborda criticamente, uma vez que nega, no desenvolvimento da narrativa, a fusão de diferentes raças e culturas.

55. (UFL(A) Considere as afirmações seguintes sobre a obra Macunaíma, de Mário de Andrade, para responder à questão e, a seguir, marque a alternativa CORRETA.
I. Percebe-se uma crítica à europeização do índio, que primeiramente era negro (coisa incomum), tornando-se posteriormente branco, o que demonstra a supervalorização do branco europeu como raça superior.
II. O enredo é uma junção de coisas: folclore brasileiro, provérbios populares, a vida do índio e seus costumes.
III. O índio difere do índio de Gonçalves Dias e de José de Alencar, já que em “Macunaíma” ele é frágil, mentiroso, desonesto e infiel.
IV. O romance trata de temas polêmicos, como: amor, religião, política. É uma obra que enfatiza o regionalismo.
a) Todas as afirmações estão corretas.
b) Somente as afirmações I e II estão corretas.
c) Somente as afirmações II, III e IV estão corretas.
d) Somente as afirmações II e IV estão corretas.
e) Somente as afirmações I, II e III estão corretas.

56. (FUVEST) Em diversas passagens de Macunaíma, Mário de Andrade inverte a visão consagrada pelos viajantes dos séculos XVI e XVII a respeito da terra brasileira. Assinale a alternativa que não é exemplo dessa afirmação:
a) “Os tamanduás os boitatás as inajás de curuatás de fumo, em vez eram caminhões bondes autobondes anúncios relógios faróis rádios…”
b) “Então Macunaíma emprestou da patroa da pensão uns pares de bonitezas, a máquina ruge, a máquina meia-de-seda, a máquina combinação…”
c) “Por cá tudo são delícias e venturas, porém nenhum gozo teremos e nenhum descanso, enquanto não reouvermos o perdido talismã.”
d) “Roçava nas cunhãs murmurejando com doçura ‘Mani! Mani! filhinhas da mandioca….”
e) “Então resolveu ir brincar com a Máquina pra ser também imperador dos filhos da mandioca.”

57. (UNIFESP) Uma feita em que deitara numa sombra enquanto esperava os manos pescando, o Negrinho do Pastoreio pra quem Macunaíma rezava diariamente, se apiedou do panema e resolveu ajudá-lo. Mandou o passarinho uirapuru. Quando sinão quando o herói escutou um tatalar inquieto e o passarinho uirapuru pousou no joelho dele. Macunaíma fez um gesto de caceteação e enxotou o passarinho uirapuru. Nem bem minuto passado escutou de novo a bulha e o passarinho pousou na barriga dele. Macunaíma nem se amolou mais. Então o passarinho uirapuru agarrou cantando com doçura e o herói entendeu tudo o que ele cantava. E era que Macunaíma estava desinfeliz porque perdera a muiraquitã na praia do rio quando subia no bacupari.
Porém agora, cantava o lamento do uirapuru, nunca mais que Macunaíma havia de ser marupiara não, porque uma tracajá engolira a muiraquitã e o mariscador que apanhara a tartaruga tinha vendido a pedra verde pra um regatão peruano se chamando Venceslau Pietro Pietra. O dono do talismã enriquecera e parava fazendeiro e baludo lá em São Paulo, a cidade macota lambida pelo igarapé Tietê. (Mário de Andrade, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.) Os “manos” mencionados no texto são:

a)os índios que formam toda a tribo de Macunaíma.
b) os amigos anônimos que Macunaíma encontrara em São Paulo e que passam alguns dias de descanso na Amazônia.
c) Maanape e Jiguê, irmãos de Macunaíma.
d) Piaimã, Oibê e os macumbeiros do Rio de Janeiro.
e) Piaimã, Oibê, Maanape e Jiguê.

58. (UEL)Para vingar-se, Vei, a Sol, usa de artimanhas:
a) Desperta os desejos sexuais do herói, passando-lhe pelo corpo suas mãos de moça, e leva-o para junto da Uiara que, na verdade, é uma de suas filhas transfigurada.
b) Rouba o feitiço que Macunaíma trazia ao pescoço de maneira a deixá-lo desprovido de proteção e o conduz à Uiara, que é uma portuguesa que com ele quer casar-se.
c) Transforma as águas quentes do lagoão em águas frias como as europeias; dá à Uiara aspecto de mulher europeia.
d) Rouba o feitiço que Macunaíma trazia ao pescoço e mata o aruaí, animal que acompanhava o personagem em seu retorno ao Uraricoera, deixando Macunaíma perturbado.
e) Desperta, através de carícias, as lembranças sensuais de Macunaíma e leva-o para a Uiara, ente fantástico que habita os rios da região amazônica.

59. (PUC-PR) Mário de Andrade é considerado o mestre dos escritores modernistas por sua atuação crítica e pela variedade de gêneros textuais que escreveu e que se transformaram em exemplos da escrita literária desse período estético. Assinale a alternativa que contém a afirmação correta sobre sua obra:

a) Macunaíma é uma colagem de mitos amazônicos e narrativas urbanas, e estilos narrativos diversificados.

b) Amar verbo intransitivo é o mais completo exemplo da prosa sentimental modernista, exaltada e idealizadora.

c) Paulicéia desvairada é obra patriótica, de forte cunho nacionalista e uma concepção irracionalista da existência.

d) Contos novos é uma coletânea de narrativas que combinam a narrativa enraizadamente colonial e a vanguarda europeia e experimental.

e) Sua obra de crítica literária, representada por O empalhador de passarinho, tem forte origem teórica europeia, sobretudo a italiana.

60. (FURG) Em “Carta pras Icamiabas”, nono capítulo de Macunaíma , de Mário de Andrade, o missivista

a) registra as desventuras por ele vividas, quando de sua passagem pelo “Império do Mato Virgem”.

b) aborda sua viagem ao Rio de Janeiro, apresentando as belezas naturais da então capital da República.

c) relata suas aventuras amorosas, quando de sua passagem pelo “Reino da Mata Virgem”.

d) descreve a cidade de São Paulo, referindo- se, entre outros aspectos, a sua organização urbana e a seus habitantes.

e) narra como recuperou a muiraquitã, que estava então em poder do doutor Venceslau Pietro Pietra

61. (UFPE) OBSERVE:
“No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da
noite.” (MACUNAÍMA / Mário de Andrade).
( ) O autor de Macunaíma foi um dos idealizadores da Semana de Arte Moderna, que iniciou o Movimento Modernista no Brasil.
( ) O Movimento Modernista, entre outras metas, propunha-se à busca de identidade nacional, o que se acha na obra citada.
( ) A liberdade de expressão, o cotidiano, o coloquialismo, resultantes da desintegração da linguagem literária tradicional, foram preconizadas por Mário de Andrade como arauto e teórico do Modernismo.
( ) Macunaíma representou a identificação de Mário com o nacionalismo primitivista.
( ) “Há uma gota de Sangue em cada poema”, obra escrita em 1917, sob a influência da I Guerra, não tem valor estético, apesar de constituir-se o título em uma experiência política.
RESPOSTA:V V V V V

62. (UFG) O projeto estético-ideológico do Modernismo tem no livro “Macunaíma”, de Mário de Andrade, uma de suas maiores realizações. Com base nessa afirmação, julgue as proposições.
( ) O denominador comum da obra é o interesse pela variedade cultural do povo brasileiro, somado a uma desconstrução da linguagem literária acadêmica, mediante sobretudo a valorização da diversidade da língua nacional.
( ) A construção da rapsódia combina procedimentos formais de vanguarda, como a justaposição (colagem) de lendas e mitos populares de origem variada, com um esforço de interpretação do País, sobressaindo a questão da identidade nacional.
( ) A interpretação de vestígios primitivistas, presentes na cultura brasileira, obedece a esquemas naturalistas, ora com o tratamento cientificista das lendas folclóricas, ora com a reafirmação de teses deterministas, numa evidente condenação da mestiçagem.
( ) A perspectiva regionalista prevalece na obra, visto que o registro bruto da linguagem do homem rústico, a descrição detalhada de usos e costumes do brasileiro típico e o deslumbramento diante da paisagem natural demonstram um sentimento nacionalista entorpecido pelas belezas nacionais.
RESPOSTA:V V F F

63. (UEPG) Carta Pras Icamiabas
Ás mui queridas súbditas nossas, Senhoras Amazonas.
Trinta de Maio de Mil Novecentos e Vinte e Seis, São Paulo.
Senhoras:
Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a literatura desta missiva. Cumpre-nos, entretanto, iniciar estas linhas de saudade e de muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de São Paulo – a maior do universo, no dizer de seus prolixos habitantes – não sois conhecidas por “icamiabas”, voz espúria, sinão pelo apelido de Amazonas […]
[…] as donas de cá tombam nos leitos nupciais.
Andam elas vestidas de rutilantes joias e panos finíssimos, que lhes acentuam o donaire do porte, e mal encobrem as graças, que, a de nenhuma outra cedem pelo formoso torneado e pelo tom. São sempre alvíssimas a dona de cá; e tais e tantas habilidades demonstram no brincar, que enumerá-las aqui, seria fastiendo porventura; e, certamente quebraria os mandamentos, discrição, que em relação de Imperator para súbditas se requer. […]
Ci guarde a Vossas Excias.
Macunaíma,
Imperator (Mário de Andrade. “Macunaíma – o herói sem caráter”)
A respeito da “Carta pras Icamiabas”, que constitui o capítulo nono de Macunaíma, e sobre a obra de Mário de Andrade como um todo, assinale o que for correto.
(01) Mário de Andrade prende-se à crítica de costumes, ao criar heroínas idealizadas e mitificar a figura da mulher numa sociedade urbana em transformação.
(02) A paródia, presente na obra de Mário de Andrade, é uma das características do Modernismo, que visava combater o academicismo, o conservadorismo na arte, a cultura reacionária burguesa e patriarcal da produção nacional.
(04) Mário de Andrade inverte, aqui, os relatos dos cronistas quinhentistas, como Pero Vaz de Caminha, Gabriel Soares de Sousa e Pero de Magalhães Gandavo. Agora é o índio que descreve a terra desconhecida e seus habitantes para seus pares distantes.
(08) Na carta há a tentativa de Macunaíma em expressar uma linguagem culta, que para o autor assume na obra a finalidade de carnavalização da norma culta, ou seja, uma sátira da linguagem culta.
(16) O texto constitui uma paródia à Carta de Pero Vaz de Caminha. Esta apresenta uma visão ufanista da terra, enquanto no texto de Mário de Andrade encontra-se um tom irônico de revisão do mito da boa terra, de crítica acerba aos portugueses.
RESPOSTA:2 + 4 + 8 + 16 = 30

 64. (UFPA)O romance Macunaímafinaliza com seu personagem principal:

a)transformando-se em estrela.

b) casando-se com Ci, a mãe do mato.

c) cheio de felicidade por ter derrotado Piaimã.

d) lutando e vencendo as mandingas de Capei.

e) recuperando a muiraquitã e partindo para novas aventuras.

65. (UEL) Em “Macunaíma”, o personagem deixa seu espaço de origem e vai a São Paulo, onde se modifica, tomando gosto pelos valores europeus. Assim, em lugar de casar-se com uma das filhas de Vei, a Sol, opta por ficar com uma portuguesa. Vei, a Sol, na obra, atua como personagem que representa:
a) Os valores de uma terra tropical.
b) A figura da sogra sempre maledicente e cruel.
c) A mulher protetora dos seres melancólicos.
d) A sensualidade da mulher europeia.
e) A astúcia da jovem que deseja seduzir.

66. “Em toda a sua obra, … lutou por uma língua brasileira que estivesse mais próxima do falar do povo. Em … temos, talvez, a sua criação máxima: a partir desse anti-herói, o autor enfoca o choque do índio amazônico (que nascera preto e virou branco – síntese do povo brasileiro) com a tradição e a cultura europeia na cidade de São Paulo, valendo-se para tanto de profundo estudo do folclore”.José de Nicola.

O item que preenche corretamente as lacunas acima, é:

a)     Mário de Andrade – Macunaíma.

b)    Mário de Andrade – Amar, Verbo Intransitivo.

c)     Oswaldo de Andrade – Memórias Sentimentais de João Miramar.

d)    Oswaldo de Andrade – serafim Ponte Grande.

e)     Manuel Bandeira – Cinza das Horas.

67. (UFRS) Considere as seguintes afirmações.
I – MEMÓRIAS SENTIMENTAIS DE JOÃO MIRAMAR, narrativa de Oswald de Andrade, expõe, em curtos capítulos repletos de elipses e recursos poéticos, a experiência de um filho da burguesia paulista, incluindo-se aí a viagem à Europa e o casamento por conveniência.
II – MACUNAÍMA, de Mário de Andrade, narra as aventuras do herói homônimo, que, em busca de um amuleto, percorre o Brasil e passa um largo período na cidade de São Paulo, de cujas características dá notícia em “Carta pras Icamiabas”.
III – SERAFIM PONTE GRANDE, de Oswald de Andrade, é a narrativa linear e realista das aventuras de um funcionário público bem-humorado e dado a aventuras extraconjugais, tendo por pano de fundo a cidade de São Paulo, já modernizada mas ainda provinciana.
Quais estão corretas?
a) Apenas I
b) Apenas II
c) Apenas III
d) Apenas I e II

 68. (UEL) Leia o texto a seguir.

No fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Já na meninice fez coisas de sarapantar. De primeiro: passou mais de seis anos não falando. Se o incitavam a falar, exclamava: – Ai que preguiça!… e não dizia mais nada. Quando era pra dormir trepava no macuru pequeninho sempre se esquecendo de mijar. Como a rede da mãe estava por debaixo do berço, o herói mijava quente na velha, espantando os mosquitos

bem. Então adormecia sonhando palavras feias, imoralidades estrambólicas e dava patadas no ar.(Adaptado de: ANDRADE, M. Macunaíma. Rio de Janeiro: Agir, 2008. p.7.)

Enquanto produção cultural, o Modernismo procurava reconhecer as identidades que formavam o povo brasileiro.

Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a presença da temática indígena no movimento, tendo por modelo o romance de Mário de Andrade.

a) A utilização da temática indígena configurava um projeto nacional de busca dos valores nativos para a formação da identidade brasileira, na época.

b) Como herói indígena, Macunaíma difere das representações românticas, já que ele figura como um anti-herói, um personagem de ações valorosas, mas também vis.

c) Macunaíma se insere no racismo corrente no início do século XX, que via uma animalidade no indígena, considerado coisa, e não gente.

d) O indígena foi considerado pelos modernistas como único representante da identidade brasileira, pois sua cultura era vista como pura e sem interferência de outros povos.

e) O trecho reafirma a característica histórico-antropológica do patriarcado brasileiro, que compreendia o indígena como um incivilizado puro e ingênuo.

69. (FUVEST) Comparando-se Brás Cubas e Macunaíma, é correto afirmar que, apesar de diferentes, ambos
a) possuem muitos defeitos, mas conservam uma ingenuidade infantil, isenta de traços de malícia e de egoísmo.
b) tiveram seu principal relacionamento amoroso em mulheres tipicamente submissas, desprovidas de iniciativa.
c) não trabalham, caracterizando-se pela ausência de qualquer demanda ou busca que lhes mobilize o interesse.
d) berram suas histórias diretamente ao leitor, em primeira pessoa, depois de mortos: Brás Cubas, como defunto autor; Macunaíma, utilizando-se do papagaio.
e) têm a vida avaliada, na parte final dos relatos, em um Pequeno balanço, ou breve avaliação de conjunto, com resultado negativo.

70. (UFG) Leia, a seguir, o fragmento retirado do livro “Macunaíma”, de Mário de Andrade, e responda à questão proposta.
– Meu avô, dá caça para mim comer?
– Sim, Currupira fez.
Cortou carne de perna moqueou e deu pro menino, perguntando:
– O que você está fazendo na capoeira, rapaiz!
– Passeando.
– Não diga!
– Pois é, passeando…
Então contou o castigo da mãe por causa dele ter sido malévolo pros manos. E contando o transporte da casa de novo pra deixa onde não tinha caça deu uma grande gargalhada. O Currupira olhou pra ele e resmungou:
– Tu não é mais curumi, rapaiz, tu não é mais curumi não… Gente grande que faiz isso…

Uma característica importante das línguas é o fato de que elas não são uniformes nem estáticas. Fatores como região, classe social, idade, entre outros, explicam suas variações.
Tendo em vista o comentário que você acabou de ler e as particularidades lingüísticas do trecho de Macunaíma, julgue os itens.
( ) A construção “dá caça pra mim comer” é típica da linguagem oral, representando, portanto, uma variação de “dê-me caça para eu comer”, própria da norma padrão.
( ) O emprego de palavras como “rapaiz” e “faiz” revela variação no nível dos sons, indicando pronúncia de um falante, no caso o Currupira, que utiliza a variedade padrão da língua.
( ) Em “por causa dele ter sido malévolo”, ocorre uma variação no nível sintático, uma vez que esse enunciado, na norma padrão, corresponde a “por causa de ele ter sido malévolo”.
( ) O enunciado “Tu não é mais curumi”, apesar de ser um exemplo de falar informal, está de acordo com a língua padrão, como se pode verificar pela concordância verbal.
RESPOSTA: V F V F

71. (UFJF) A respeito da obra “Macunaíma”, de Mário de Andrade, pode-se afirmar que é:
a) um romance linear, que narra a educação de um herói.
b) uma narrativa com tempo e espaço muito bem definidos.
c) uma colagem de motivos e narrativas de origem diversa.
d) um texto de linguagem extremamente erudita e formal.
e) um conto baseado na história de uma pessoa verdadeira.

72. Os modernistas trouxeram para a Literatura uma nova concepção de linguagem, desvinculando-se da estética parnasiana e apresentando ao público e à crítica inovações formais que denotavam um interesse pela experimentação. Em Macunaíma, Mário de Andrade apresenta o que chamou de língua brasileira, uma mistura do português com as variações encontradas nos diversos falares do povo brasileiro, além de influências estrangeiras e alterações advindas da criatividade popular. Tal afirmação pode ser confirmada nos seguintes trechos da obra de Mário de Andrade:

I. “ No fundo do mato-virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa gente. Era preto retinto e filho do medo da noite. Houve um momento em que o silêncio foi tão grande escutando o murmurejo do Uraricoera, que a índia, tapanhumas pariu uma criança feia. Essa criança é que chamaram de Macunaíma. […]”.

II. “[…] Ele dava risadas chatas, se espremendo de cócegas e gostando muito. Quando elas paravam pedia mais estorcendo já de antegozo. Vei pôs reparo na senvergonhice do herói, teve raiva. […]”

III. “[…] O corpo dele relumeava de ouro cinzando nos cristaizinhos do sal e por causa do cheiro da maresia, por causa do remo pachorrento de Vei, e com a barriga assim mexemexendo com cosquinhas de mulher. […]”.

IV. “[…] No outro dia Macunaíma não achou mais graça na capital da República. Trocou a pedra Vató por um retrato no jornal e voltou pra taba do igarapé Tietê. […]”.

a) Apenas I está correta.

b) Todas estão corretas.

c) Apenas IV está correta.

d) II e III estão corretas.

e) I e IV estão corretas.

73. (UFPE)

Ao declarar sentir se disperso o eu lírico manifesta uma espécie de impotência diante do que o afeta

(Tarsila do Amaral. Operários, 1933.)

(…) Então Macunaíma enxergou numa lapa bem no meio do rio uma cova cheia d’água. E a cova era que nem a marca dum pé gigante. O herói depois de muitos gritos por causa do frio da água entrou na cova e se lavou inteirinho.

(…) Quando o herói saiu do banho estava branco louro e de olhos azuizinhos, água lavara o pretume dele. E ninguém não seria capaz mais de indicar nele um filho da tribo retinta dos Tapanhumas.

Nem bem Jiguê percebeu o milagre, se atirou na marca do pezão do Sumé. Porém a água já estava muito suja de negrura do herói e por mais que Jiguê esfregasse feito maluco atirando água pra todos os lados só conseguiu ficar da cor do bronze novo. (…)

Maanape então é que foi se lavar, mas Jiguê esborrifara toda a água encantada pra fora da cova. Tinha só um bocado lá no fundo e Maanape conseguiu molhar só a palma dos pés e das mãos. Por isso ficou negro bem filho da tribo Tapanhumas. Só que as palmas das mãos e dos pés dele são vermelhas por terem se limpado na água santa.

(Mário de Andrade, Macunaíma)

Desde o Romantismo, o tema da identidade nacional tornou-se um dos principais objetos de investigação de artistas e de escritores. Considerando a pintura de Tarsila e o fragmento do romance de Mário de Andrade, analise as proposições a seguir.

0-0) Tanto a tela de Tarsila quanto o romance de Mário de Andrade, artistas enquadrados na primeira fase do Modernismo brasileiro, expressam uma concepção da identidade nacional pelo viés do povo brasileiro.

1-1) A obra Operários expressa uma visão política do trabalho assalariado no Brasil, que assistia, na época, ao surto tardio da industrialização. Vê-se, nela, a representação de uma massa étnica homogênea, característica marcante do povo brasileiro.

2-2) No texto 7, lê-se uma das passagens mais conhecidas do romance de Mário de Andrade, que caracteriza as três etnias constituintes do povo brasileiro: o branco europeu, o índio nativo e o negro africano.

3-3) Na tela de Tarsila do Amaral, as cores e os formatos dos sujeitos operários indicam uma diversidade que extrapola as três matrizes étnicas, tradicionalmente identificadas na formação do povo brasileiro.

4-4) Os textos 6 e 7 nos permitem concluir que o Modernismo brasileiro manteve a mesma interpretação dos artistas e escritores românticos, segundo a qual a matriz ameríndia constituiu a origem étnica da nação brasileira.

RESPOSTA: VFVVF

(UERJ) Com base no texto abaixo, responda às questões de números 74 a 76.

Piaimã1

         A inteligência do herói estava muito perturbada. Acordou com os berros da bicharia lá em baixo nas ruas, disparando entre as malocas temíveis. E aquele diacho de sagüi-açu2 (…) não era saguim não, chamava  elevador e era uma máquina. De-manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados berros cuquiadas sopros roncos esturros não eram nada disso não, eram mas cláxons3 campainhas apitos buzinas e tudo era máquina. As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes hupmobiles chevrolés dodges mármons e eram máquinas. Os tamanduás os boitatás4 as inajás5 de curuatás6 de fumo, em vez eram caminhões bondes autobondes anúncios-luminosos relógios faróis rádios motocicletas telefones gorjetas  postes chaminés… Eram máquinas e tudo na cidade era só máquina! O herói aprendendo calado. De vez em quando estremecia. Voltava a ficar imóvel escutando assuntando maquinando numa cisma assombrada. Tomou-o um respeito cheio de inveja por essa deusa  de deveras forçuda, Tupã7 famanado que os filhos da mandioca chamavam de Máquina, mais cantadeira que a Mãe-d’água8, em bulhas9 de sarapantar10. Então resolveu ir brincar com a Máquina pra ser também imperador dos filhos da mandioca. Mas as três cunhãs11 deram muitas risadas e falaram que isso de deuses era gorda mentira antiga, que não tinha deus não e que com a máquina ninguém não brinca porque ela mata. A máquina não era deus não, nem possuía os distintivos femininos de que o herói gostava tanto. Era feita pelos homens. Se mexia com eletricidade com fogo com água com vento com fumo, os homens aproveitando as forças da natureza. Porém jacaré acreditou? nem o herói!

(…)

           Macunaíma passou então uma semana sem comer nem brincar só maquinando nas brigas sem vitória dos filhos da mandioca com a Máquina. A Máquina era que matava os homens porém os homens é que mandavam na Máquina… Constatou pasmo que os filhos da mandioca eram donos sem mistério e sem força da máquina sem mistério sem querer sem fastio, incapaz de explicar as infelicidades por si. Estava nostálgico assim. Até que uma noite, suspenso no terraço dum arranha-céu com os manos, Macunaíma concluiu:

— Os filhos da mandioca não ganham da máquina nem ela ganha deles nesta luta. Há empate.

Não concluiu mais nada porque inda não estava acostumado com discursos porém palpitava pra ele muito embrulhadamente muito! que a máquina devia de ser um deus de que os homens não eram verdadeiramente donos só porque não tinham feito dela uma Iara explicável mas apenas uma realidade do mundo. De toda essa embrulhada o pensamento dele sacou bem clarinha uma luz: os homens é que eram máquinas e as máquinas é que eram homens. Macunaíma deu uma grande gargalhada. Percebeu que estava livre outra vez e teve uma satisfa mãe. MÁRIO DE ANDRADE Macunaíma, o herói sem nenhum caráter. Belo Horizonte: Itatiaia, 1986.

Vocabulário:

1 Piaimã – personagem do romance

2 sagui-açu, saguim – macacos pequenos

3 cláxon – buzina externa nos automóveis antigos

4 boitatá – cobra-de-fogo, na mitologia tupi-guarani

5 inajá – palmeira de tamanho médio

6 curuatá – flor de palmeira

7 Tupã – entidade da mitologia tupi-guarani

8 Mãe-d’água – espécie de sereia das águas amazônicas

9 bulha – confusão de sons

10 sarapantar – espantar

11 cunhã – mulher jovem, em tupi

74. Toda narrativa de heroísmo costuma ter um personagem que se torna o antagonista do herói. O antagonista de Macunaíma no fragmento lido é a Máquina. Para poder combatê-la, o herói simultaneamente a humaniza e a diviniza.

Esse movimento do personagem é contestado no seguinte trecho:

a) “As onças pardas não eram onças pardas, se chamavam fordes hupmobiles chevrolés dodges mármons e eram máquinas.”

b) “A máquina não era deus não, nem possuía os distintivos femininos de que o herói gostava tanto.”

c) “Macunaíma passou então uma semana sem comer nem brincar só maquinando nas brigas sem vitória dos filhos da mandioca com a Máquina.”

d) “que a máquina devia de ser um deus de que os homens não eram verdadeiramente donos”

75. No primeiro parágrafo, a intensidade da experiência do herói, no contato com a modernização da cidade, ganha ênfase.O recurso narrativo que exprime essa ênfase se constitui pela:

a) enumeração de imagens sem pontuação

b) associação entre figuras da mitologia indígena

c) descrição do cotidiano em linguagem coloquial

d) apresentação de acontecimentos sem ordenação temporal

76. De toda essa embrulhada o pensamento dele sacou bem clarinha uma luz:

A luz do pensamento final do personagem revela-se libertadora, pois permite ao herói superar a seguinte dificuldade expressa no texto:

a) “A inteligência do herói estava muito perturbada.”

b) “Tomou-o um respeito cheio de inveja por essa deusa”

c) “Mas as três cunhãs deram muitas risadas”

d) “Não concluiu mais nada porque inda não estava acostumado com discursos”

77. Além de ligar palavras ou partes da frase, os conectivos podem apresentar sentido específico.O conectivo grifado que contém traço de sentido negativo está exemplificado em:

a) “De-manhãzinha ensinaram que todos aqueles piados”

b) “e que com a máquina ninguém não brinca porque ela mata.”

c) “eram donos sem mistério e sem força da máquina”

d) “Os filhos da mandioca não ganham da máquina nem ela ganha deles”

78. Alguns vocábulos possuem a propriedade de retomar integralmente uma ideia já apresentada antes. Essa propriedade é observada no vocábulo grifado em:

a) “Acordou com os berros da bicharia lá em baixo”

b) “Tomou-o um respeito cheio de inveja”

c) “Então resolveu ir brincar com a Máquina”

d) “Estava nostálgico assim.”

79. Algumas situações e atitudes apresentadas no texto contrariam a imagem que tradicionalmente se faz do herói, caracterizando uma espécie de ironia.

A situação do texto que melhor demonstra esse procedimento é:

a) o herói sofre privações

b) o herói aprende calado

c) a nostalgia domina o herói

d) as cunhãs corrigem o herói

80. No texto Herói na contemporaneidade, o autor valoriza um determinado perfil de herói, em contraposição a outro por ele considerado “bobo”, sem importância. O perfil de Macunaíma difere desses dois tipos de herói.Tal diferença pode ser verificada na seguinte caracterização de Macunaíma:

a) não deseja poder nem destaque diante dos outros

b) não vive na apatia nem à margem da ordem social

c) não se identifica com a dor nem com o sistema vigente

d) não desperta interesse nem a solidariedade de outros

81. (UFGD) . Em 2008, comemoraram-se os 80 anos de publicação de : o herói sem nenhum caráter, de Mário de Andrade. Sabe-se que essa obra foi inspirada no livro do alemão Theodor Koch Grümberg, publicado em 1926, que continha narrativas sobre os índios Pemón. Essas narrativas relatam os mitos e as lendas dos índios Taulipang e Arekuná. Sobre o processo de elaboração de assinale a alternativa correta.

a) Mário de Andrade plagiou o livro de Theodor Koch Grümberg

b) Mário de Andrade, inspirado na estética do romantismo, utilizou trechos da obra de Theodor Koch Grümberg fazendo uma releitura republicana do herói brasileiro.

c) Mário de Andrade, inspirado na estética modernista, utilizou trechos da obra de Theodor Koch Grümberg fazendo uma releitura nacionalista do herói brasileiro.

d) Mário de Andrade, inspirado na estética do decadentismo, utilizou trechos da obra de Theodor Koch Grümberg fazendo uma releitura republicana do herói brasileiro.

e) Mário de Andrade, inspirado na estética do simbolismo, utilizou trechos da obra de Theodor Koch Grümberg fazendo uma releitura nacionalista do herói brasileiro.

82. (UFAM) Sobre Cobra Norato e Macunaíma é INCORRETO afirmar que:

a) ambos podem ser considerados rapsódia.

b) ambos pertencem à primeira geração modernista.

c) recorrem a elementos do folclore brasileiro.

d) são textos distantes ideologicamente: um é prosa; outro, verso.

e) ilustram ideias veiculadas pelo manifesto antropófago.

O que afeta o eu lírico?

O eu lírico ou eu poético é a voz que se expressa em uma poesia. Tal voz manifesta sentimentos, emoções, pensamentos e até opiniões. Portanto, tudo que é dito em uma poesia deve ser atribuído ao eu lírico, e não ao poeta.

Como o primeiro verso indica explica a postura do eu lírico perante o sentimento que ele cultiva em relação ao mundo?

b) Como o primeiro verso indica e explica a postura do eu lírico perante o sentimento que ele cultiva em relação ao mundo? c) De acordo com o psicanalista francês Jacques Lacan (1901-1981), a angústia é um afeto especial, da ordem de uma perturbação, que não engana e pode ser facilmente reconhecido.

Qual é o desejo de eu lírico?

A voz poética do eu lírico anseia por um lugar melhor de liberdade e descanso e, por isso, detém esse desejo de escapismo.

Como o eu lírico vê o amor?

(C) O eu lírico define o amor como um sentimento leve, alegre e isento de confusões. Em todo o poema, o eu lírico confirma que o amor é um sentimento alegre, perfeito e nunca confuso.