Nesse texto, um argumento que sustenta a tese de que é fundamental o uso consciente

Redação de textos acadêmicos

Informações gerais

Meta

Apresentar as principais estratégias de argumentação, essenciais na comunicação acadêmica, profissional e cotidiana.

Objetivos:

Ao final desta aula, você deverá ser capaz de:

  1. identificar a forma como as diferentes partes constituintes do texto argumentativo contribuem para a defesa da tese do autor;
  2. reconhecer as diversas estratégias argumentativas que podem ser usadas para defender um ponto de vista;
  3. redigir textos argumentativos mais consistentes.


“O objetivo da argumentação, ou da discussão,
não deve ser a vitória, mas o progresso” .
Joseph Joubert (1754-1824)

Nesse texto, um argumento que sustenta a tese de que é fundamental o uso consciente

Fonte: http://www.sxc.hu

Figura 1: É com base na argumentação que se toma a maioria das grandes decisões da vida em sociedade.

1. Introdução

Na primeira aula deste curso, você teve uma visão panorâmica dos principais tipos textuais: narração, descrição, injunção, argumentação e exposição. Neste capítulo, vamos retornar ao tipo argumentativo e aprofundar algumas questões pertinentes a ele. Trata-se de um modo de organização textual muito importante no dia-a-dia, pois, em vários momentos, é preciso convencer alguém sobre alguma coisa, especialmente quando há tensões entre pontos de vista divergentes

Alguns teóricos, como Ingedore Koch, afirmam inclusive que, em última instância, toda interação comunicativa tem caráter argumentativo. Isso quer dizer que, mesmo quando não estamos explicitamente argumentando, tentamos, por meio de nossos textos verbais e não verbais, convencer nosso interlocutor a pensar ou agir de determinada forma.

Nas esferas profissional e acadêmica, a competência argumentativa é igualmente necessária, com um agravante: nesses contextos, geralmente se exige que o texto tenha uma versão escrita, para que o leitor possa analisar cuidadosa e detidamente os argumentos que lhe foram apresentados. Se você precisa persuadir alguém de um ponto de vista, provar que uma ideia é melhor do que outra, ou mesmo convencer seu interlocutor a tomar determinada atitude, torna-se necessário dedicar-se ao aprimoramento de sua argumentação, especialmente na modalidade escrita.

2. A macroestrutura do texto argumentativo

Como qualquer outro tipo textual, o argumentativo tem características próprias, que vão desde pequeninos detalhes, como a escolha de determinadas palavras e sua ordenação, até a organização das informações em blocos específicos, como introdução, desenvolvimento e conclusão. Tal divisão do texto em grandes partes com características próprias pode ser chamada de macroestrutura textual. Nesta seção estudaremos como se constrói a macroestrutura da argumentação.

Para isso, vamos ler e analisar o texto abaixo, em que o autor defende seu ponto de vista acerca de um polêmico aspecto da educação básica no Brasil.

Texto I

A reforma na formação de professores para o ensino básico

Wanderley de Souza

O quadro lamentável do ensino básico no Brasil, sobretudo no que se refere à sua qualidade, é conhecido por todos. De um modo geral, utilizam-se alguns critérios para medir a eficiência no processo de formação dos alunos para se avaliar o ensino como um todo.

Dessa forma, os dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) mostram que ocupamos a 48ª posição em leitura e a 52ª em Ciências, entre os 56 países avaliados. Cabe ainda ressaltar que ainda não dispomos de mecanismos regulares que permitam a avaliação consistente da qualidade dos professores em exercício.

Apesar das reações corporativas contrárias é fundamental que se tenha a coragem de avaliar o docente tanto com o objetivo de corrigir deficiências como de estimular o professor competente, inclusive com melhoria salarial diferenciada. A tão defendida isonomia salarial é incompatível com o estímulo e o reconhecimento à dedicação e à competência.

Por outro lado, há consenso quanto ao fato de que um bom ensino também depende da qualidade da infraestrutura existente na Escola, bem como da formação e da motivação dos professores.

Quanto à infraestrutura da escola, a simples visita a um conjunto delas deixa claro que todo esforço de melhoria da infraestrutura se resume essencialmente a aspectos físicos. As instalações elétricas e hidráulicas tem sido recuperadas gradualmente e equipamentos de ar condicionado têm sido instalados nas salas de aula. Apesar da importância deste tipo de melhoria, todos sabem que isto tem pouca influência na qualidade do ensino.

Lembro-me dos tempos de estudante do então curso científico no Colégio Central da Bahia, em Salvador, no final da década de sessenta. Lá não havia nenhum conforto nas salas de aula. No entanto, contava com professores motivados e bem preparados e aulas práticas de Física, Química e Biologia em laboratórios razoavelmente bem equipados para a época.

No processo de melhoria das escolas não vemos uma preocupação em retornar ao ensino prático de disciplinas básicas na formação do estudante. Pelo contrário, a deficiente formação dos atuais professores egressos das universidades faz com que a maioria deles se assuste quando entram em um laboratório de aulas práticas. Simplesmente, eles não sabem utilizar os equipamentos básicos instalados.

Logo, melhorar a formação dos novos professores, criar programas que permitam atualizar e mesmo estabelecer um processo de formação adequada dos professores atualmente em exercício é fundamental.

Pelo exposto acima, merece todo o apoio a recente iniciativa da Câmara de Deputados no sentido de exigir uma formação de nível superior para todos os professores do ensino básico. Esta era a ideia defendida por vários educadores e incorporada à Lei de Diretrizes e Bases para Educação, que teve a coordenação de Darcy Ribeiro, ao propor a criação dos Institutos Superiores de Educação.

Estes institutos receberam forte estímulo inicial e foram posteriormente desestimulados, o que a meu ver foi um equívoco. Esperamos que a nova proposta seja aprovada em todas as instâncias e colocada em prática. Deve, no entanto, atentar para a necessidade de melhorar a formação dos professores no que se refere ao ensino prático de Ciências.

Alguns fatos recentes reforçam nossa esperança em que o ensino possa melhorar. Primeiro, os sinais de que o congresso deverá aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 277/2008, que determina o fim gradativo da Desvinculação das Receitas da União (DRU) sobre os recursos destinados à educação. Tal medida implica um aumento no orçamento do MEC para 2009 e 2010 da ordem de R$ 4 e de 7,5 bilhões, respectivamente, o que é superior ao que o MEC investe atualmente em programas inovadores e importantes, como a expansão da educação profissional, do ensino superior e programas de pós-graduação.

Segundo, a decisão de engajar a Capes, instituição cuja excelência de atuação no que se refere ao aperfeiçoamento de pessoal de nível superior é reconhecida e festejada por todos, à frente de um amplo processo de melhoria na formação de professores para a educação básica.

Uma iniciativa inicial importante já anunciada pela Capes é a concessão de bolsas para estimular a participação dos melhores docentes-pesquisadores das universidades e instituições de pesquisa a se engajarem no processo de melhoria do ensino básico.

É fundamental ainda que surjam bolsas para permitir aos professores do ensino básico, que em geral recebem baixa remuneração, participar com entusiasmo de programas de atualização, aperfeiçoamento, especialização e mesmo o mestrado profissional. Estas bolsas poderiam permitir, ainda, a dedicação integral do professor à sua carreira.

Esperamos que surja de forma sistemática tanto o apoio a iniciativas experimentais coordenadas por instituições de excelência que manifestem o desejo de participar de programas de melhoria do ensino, bem como que permitam a organização de laboratórios de ensino prático de Ciências.

Por último, enfatizo que os dados internacionais disponíveis indicam para a necessidade de que a criança possa, desde a fase de creche, entrar em contato com professores motivados, competentes e atualizados. Logo, é fundamental que toda a cadeia da educação, da creche à pós-graduação, receba toda a atenção necessária.

Sempre que lemos ou escrevemos um texto de opinião, a primeira coisa que salta aos olhos é o ponto de vista que o autor está defendendo. Geralmente, esse posicionamento é claramente expresso no início do texto, a fim de revelar ao leitor aonde se quer chegar com aquela argumentação. No caso do artigo “A reforma na formação de professores para o ensino básico”, a tese defendida por Wanderley de Souza pode ser identificada já no terceiro parágrafo, no trecho “é fundamental que se tenha a coragem de avaliar o docente tanto com o objetivo de corrigir deficiências como de estimular o professor competente, inclusive com melhoria salarial diferenciada”.

Além de enunciar sua tese no início, o autor deve reafirmá-la ao fim do texto, garantindo-lhe unidade e coerência. No artigo que estamos analisando, o ponto de vista defendido reaparece no último parágrafo, da seguinte forma: “os dados internacionais disponíveis indicam para a necessidade de que a criança possa, desde a fase de creche, entrar em contato com professores motivados, competentes e atualizados. Logo, é fundamental que toda a cadeia da educação, da creche à pós-graduação, receba toda a atenção necessária”.

Veja ainda que o autor optou por revisitar, na conclusão, outros elementos da introdução, além da tese, como os dados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos. Mencionada anteriormente nos dois primeiros parágrafos, essa informação reforça o caráter unitário do texto, ao ser retomada nas últimas frases. Tal procedimento sugere ao leitor que o artigo, antes de ser escrito, foi muito pensado e elaborado, de modo que todas as suas partes constituintes apontassem harmonicamente para um mesmo fim.

Porém, não basta (re)afirmar a tese: é preciso justificar sua plausibilidade e sua relevância, em oposição a todos os outros possíveis posicionamentos diante de um mesmo fato. Afinal, para convencer alguém de sua opinião, não basta dizer por que ela é boa: é preciso dizer por que ela é melhor, ou mais razoável, do que todas as outras.

Para isso, temos de provar, com evidências, nosso ponto de vista. Essas evidências são os argumentos e constituem a parte mais importante de um texto argumentativo. Entre a introdução e a conclusão, onde a tese figura de forma mais explícita, é preciso encadear uma série de justificativas que sustentem o posicionamento do autor.

No artigo que estamos lendo, o primeiro argumento empregado pelo autor visa a abalar outras compreensões de quais sejam os investimentos necessários na educação básica brasileira. Assim, para defender sua própria visão, de que é preciso investir na formação docente, Wanderley de Souza denuncia a insuficiência de aplicar capital somente na estrutura física da escola. Para tanto, cita inclusive o exemplo de sua própria formação educacional: ainda que sua escola não tivesse “nenhum conforto nas salas de aula”, “contava com professores motivados e bem preparados e aulas práticas de Física, Química e Biologia em laboratórios razoavelmente bem equipados para a época”.

Dar um testemunho da experiência própria ratifica a opinião do autor do artigo, especialmente por se tratar de uma autoridade no campo científico: Wanderley de Souza é membro da Academia Brasileira de Ciências, o que sugere que sua escola, sem um prédio muito confortável, mas com bons laboratórios e professores, foi bem sucedida na tarefa de educar. No entanto, esse é um recurso arriscado: ao mesmo tempo em que pode resultar em uma prova indiscutível, o uso da experiência pessoal na argumentação permite que seu interlocutor, caso discorde de sua opinião, pergunte: “Quem é você para se considerar um exemplo?” ou “Você não acha que o seu é um caso isolado, que não reflete as demais variáveis relacionadas ao tema?”

É por esse motivo que normalmente se sugere que um texto de opinião não apresente marcas excessivamente pessoais de quem escreve, como “Na minha opinião”, “Penso que”, “No meu caso” etc. Um argumento se torna mais convincente na medida em que se afasta da mera observação individual (“eu acho que”) e se aproxima de uma evidência comum (“percebe-se que”). Portanto, na hora de escrever seu próprio texto, dê preferência a construções mais impessoais, a menos que julgue ser imprescindível e altamente convincente seu relato individual, como no exemplo de Wanderley de Souza.

Além de desvalorizar outras propostas de incentivo que não a da formação docente, o autor do artigo opta por relatar fatos recentes que comprovam a pertinência de seu ponto de vista. Veja:

Primeiro, os sinais de que o congresso deverá aprovar a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 277/2008, que determina o fim gradativo da Desvinculação das Receitas da União (DRU) sobre os recursos destinados à educação (...).

Segundo, a decisão de engajar a Capes, instituição cuja excelência de atuação no que se refere ao aperfeiçoamento de pessoal de nível superior é reconhecida e festejada por todos, à frente de um amplo processo de melhoria na formação de professores para a educação básica (SOUZA, 2009).

Ao introduzir esses dados na argumentação, o autor mostra como o governo federal tem adotado medidas que confirmam a importância do investimento na formação de professores. Assim, a consonância com as ações governamentais sugere ser esse um posicionamento pertinente no quadro da educação brasileira de hoje. Por fim, perceba que, para enfatizar a inter-relação entre esses dados, foram utilizados os elementos coesivos primeiro e segundo, que estabelecem uma enumeração de fatores de uma mesma série.

Porém, antes de reafirmar sua tese no último parágrafo e encerrar a argumentação, o autor opta por apresentar uma proposta de intervenção para garantir a execução da ideia que ele defende. Observe:

É fundamental ainda que surjam bolsas para permitir aos professores do ensino básico, que em geral recebem baixa remuneração, participar com entusiasmo de programas de atualização, aperfeiçoamento, especialização e mesmo o mestrado profissional. Estas bolsas poderiam permitir, ainda, a dedicação integral do professor à sua carreira (SOUZA, 2009).

Tal sugestão deve ser levada a cabo a fim de que seja bem sucedido o investimento na formação docente. Para reforçá-lo, o texto se vale de outro recurso coesivo: ao empregar a palavra ainda, em “é fundamental ainda”, o autor vincula essa medida de ação à série de ações governamentais já postas em prática. Dessa forma, a enumeração de argumentos que se iniciou com primeiro e segundo se encerra com ainda, garantindo uma progressão textual harmônica e convincente para o leitor.


Atividade 1

Agora é a sua vez de analisar um texto argumentativo! Responda a estas perguntas com base no texto que se lhes segue:

1. Observe a seguinte explicação acerca da função do título de um texto:

O título de um texto é a primeira forma de contato que temos com ele. A partir de sua leitura, formulamos automaticamente algumas hipóteses sobre o conteúdo do texto a que se refere, as quais podem se confirmar ou não. Para tanto, você como autor deve evitar títulos excessivamente vagos, como “A violência”, “O tabagismo”, “O meio ambiente” etc. Prefira construções que apontem, de certa forma, a direção argumentativa apresentada no texto.

Com base nessa explicação, comente que efeitos causa o título do editorial “A verdadeira face do tabagismo”.

2. Um editorial é um gênero textual em que se discute uma questão, apresentando o ponto de vista do jornal ou revista em que o artigo é publicado. Identifique, pois, a opinião defendida em “A verdadeira face do tabagismo”.

3. Quais são os argumentos utilizados pelo autor do editorial para respaldar sua tese?

4. De que maneira a introdução e a conclusão se complementam, assegurando unidade ao conjunto do texto?

Texto II

Editorial: A verdadeira face do tabagismo

A exibição da foto de um doente terminal de câncer de pulmão causou polêmica na sociedade americana. Até que ponto a dor humana deveria ser explorada, mesmo com objetivos pretensamente educativos? O homem agonizava devido ao cigarro. Com certeza, a imagem da morte chegando devido a um vício fatal chocava não somente pela aparência terrível do paciente. Apesar da intensidade das campanhas antifumo, o consumo de tabaco ainda estava associado ao prazer e juventude, tão bem estampados na propaganda. Não parecia normal aquela pessoa esticada na cama sendo consumida dolorosamente pelo câncer. Infelizmente, a morte é a verdadeira face do tabagismo.

 Hoje, Dia Mundial sem Tabaco, é uma oportunidade imperdível para refletir sobre esse malefício que ceifa a vida de 80 mil brasileiros todos os anos. A cada hora, são dez mortes no país. Os fumantes são levados por doenças do aparelho circulatório (coração), infecções respiratórias e úlceras. E pelo menos um terço das mortes causadas por câncer tem o cigarro como causador. Tamanha carnificina poderia ser evitada.

Um dos passos é a eliminação total da propaganda comercial de incentivo ao vício, em estudo pelo governo federal. A própria veiculação de campanhas institucionais mais agressivas pode contrabalançar o efeito nocivo do marketing tabagista. A família e a escola também exercem papel fundamental. Jogar a batalha exclusivamente na esfera governamental é uma omissão imperdoável.

Mesmo com a exibição de seus comprovados malefícios, que incluem deterioração acentuada na qualidade de vida, o vício persiste. Com isso, especialistas sugerem apontar o alvo das campanhas para as crianças. Mais do que nunca, medidas educativas aplicadas cada vez mais cedo são imperiosas para evitar o surgimento de novos fumantes. A constatação pode parecer óbvia, mas a quantidade de mortos deixados pelo cigarro comprova que a guerra contra o fumo está ainda longe, mas muito longe, de ser vencida.

A tarefa realmente não é fácil. Os históricos da relação da humanidade com o fumo podem até embasar teses de que jamais o cigarro será eliminado. Seria uma posição muito cômoda adotar essa postura. No entanto, a luta é uma responsabilidade de todos. A conta dos malefícios não é distribuída somente entre os filhos que perdem pais destroçados pelo câncer do pulmão ou empresas que perdem produtividade com funcionários fumantes, entre outros. Toda sociedade paga. Quanto mais for disseminado que a verdadeira imagem do fumo é a agonia em leitos hospitalares, ou uma qualidade de vida decadente em troca do "prazer" da nicotina, ao invés de jovens saudáveis tragando no intervalo de aventuras esportivas, mais a sociedade vai ganhar. O Dia Mundial sem Tabaco oferece pelo menos a oportunidade de reflexão.

Ou existe algo mais civilizado do que desejar o melhor para a própria saúde e a dos semelhantes?

Mais do que nunca, medidas educativas aplicadas cada vez mais cedo são imperiosas para evitar o surgimento de novos fumantes.

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3. A microestrutura do texto argumentativo

Além de aspectos macroestruturais bem definidos, a argumentação também apresenta características mais pontuais, que auxiliam na sustentação do ponto de vista do autor. A seguir, vamos analisar algumas dessas estratégias textuais de que as pessoas se valem, às vezes de forma inconsciente, para defender suas ideias. Pensar sobre esses recursos e aprender a utilizá-los certamente vai ajudar você a argumentar de forma cada vez mais eficaz

3.1. Modalização

Quem defende uma ideia não pode simplesmente apresentá-la de forma neutra. Argumentar é sustentar um ponto de vista, com o qual o autor do texto se compromete. Para tanto, há um importante recurso a ser estudado, conhecido como modalização, que consiste em expedientes linguísticos que permitem ao autor revelar seu posicionamento diante do enunciado. Veja:

Eu acho triste que a violência no Brasil cresça a cada dia.

Nessa frase, a expressão “eu acho triste que” funciona como um modalizador, na medida em que revela a visão do falante sobre a informação que está veiculando. Tal construção tem papel argumentativo, pois visa a convencer o leitor da negatividade do fenômeno da violência no país.

No entanto, vimos anteriormente que você não precisa dizer “na minha opinião”, “eu acho que”, “percebo que” etc. para sustentar sua perspectiva. Afinal, quando se apresenta a tese a ser defendida no texto, normalmente se espera que o autor seja impessoal ao mesmo tempo em que defende seu posicionamento. Para atingir esse fim, deve-se selecionar bem o modalizador que introduz uma opinião. No caso da frase que estamos analisando, a mesma ideia ganharia impacto argumentativo, tornando-se mais impessoal, se o autor tivesse escrito:

É lamentável que a violência no Brasil cresça a cada dia.

Infelizmente, a violência no Brasil cresce a cada dia.

Os brasileiros sofrem com o fato de que a violência no Brasil cresce a cada dia.

A omissão da 1ª pessoa do singular é um recurso comum na escrita acadêmica, em que se dá preferência a formas tradicionalmente impessoais, como:

a) verbo + palavra se

Exemplos:

Acredita-se que o acesso ao Ensino Superior ainda é pouco democrático no país.

Espera-se que o acesso ao Ensino Superior se torne mais democrático no país.

Teme-se que o acesso aoEnsino Superior não se torne mais democrático no país.

b) frases na voz passiva analítica

Exemplo:

É esperado que o governo invista mais em educação no ano que vem.

É sabido que o governo investirá mais em educação no ano que vem.

Voz passiva analítica é a estrutura composta por um verbo SER + um verbo no particípio (geralmente terminado em –ado ou –ido).

Exemplos:

O capítulo foi estudado pelos alunos.

A revista será lida por todos.

c) verbo haver ou existir + substantivo que indica opinião

Exemplos:

Há dúvidas se o voto obrigatório é a melhor forma de promoção da cidadania.

Existem controvérsias quanto ao voto obrigatório ser a melhor forma de promoção da cidadania.

d) verbos modais

Exemplos:

O pré-sal deve impulsionar a economia do país. (O falante tem dúvidas quanto ao conteúdo de sua frase, mas considera o fato provável)

O pré-sal pode impulsionar a economia do país. (O falante tem dúvidas quanto ao conteúdo de sua frase, mas considera o fato possível)

O pré-sal precisa impulsionar a economia do país. (O falante vê como necessidade, ou urgência, que se realize o conteúdo de sua frase)

Um verbo modal é aquele que acrescenta uma noção de dúvida, certeza, possibilidade, probabilidade, sugestão, necessidade ou obrigatoriedade ao conteúdo da frase. Como o próprio nome já diz, está intimamente ligado ao fenômeno da modalização, apresentando o ponto de vista do enunciador diante do enunciado.

Exemplos:

Amanhã deve chover.

O livro tem que ser de João.

Veja ainda que a modalização serve para tornar relativas afirmações que não podem ser generalizadas sem prejuízo da coerência. Assim, em vez de dizer que “políticos causam desgosto à nação”, generalização que não pode ser provada e que redunda em preconceito, é melhor fazer uso de modalizadores. Veja:

Políticos frequentemente causam desgosto à população.

Políticos podem causar desgosto à nação.

É provável que políticos causem desgosto à nação

Outro aspecto microestrutural que permite ao autor revelar seu ponto de vista acerca do que diz é a escolha dos tempos verbais. Assim, para sugerir a improbabilidade de determinada informação, uma pessoa pode empregar verbos no futuro do pretérito do indicativo (cantaRIA, vendeRÍAmos, partiRIAs etc.) ou no presente do subjuntivo (cantE, bebAmos, partAs etc.). Veja:

Muitos acreditam que seria melhor reduzir a zero o desmatamento.

Muitos acreditam que seja melhor reduzir a zero o desmatamento.

Embora o autor não o afirme explicitamente, a flexão do verbo ser no futuro do pretérito do indicativo ou no presente do subjuntivo sugere que ele não concorda a essa informação. Caso quisesse dizer que a redução do desmatamento a zero é sim uma boa ideia, teria de alterar a flexão do verbo ser, utilizando, por exemplo, o presente do indicativo (canto, bebemos, partes etc.) ou o futuro do presente do indicativo (cantaREi, bebeREmos, partiRÁs etc.). Veja:

Muitos acreditam que é melhor reduzir a zero o desmatamento.

Muitos acreditam que será melhor reduzir a zero o desmatamento.

Ficou interessado nessa interdependência entre aspectos gramaticais e discursivos? Para ler mais sobre o assunto, dê uma olhada neste link, que fala de forma mais aprofundada sobre a relação entre tempos verbais e a argumentação:

http://www.filologia.org.br

A compreensão do sentido que cada tempo verbal traz à frase permite um uso consciente dessa ferramenta de argumentação, além de um olhar mais arguto para a leitura e a identificação das estratégias argumentativas empregadas em um texto.


Atividade 2

Você acabou de estudar a importância da modalização na construção de um texto argumentativo. Agora, para exercitar esse novo conhecimento, leia o texto a seguir e destaque algumas das expressões modalizadoras empregadas pelo autor para defender seu ponto de vista. A seguir, identifique o que cada uma dessas expressões revela sobre o posicionamento do autor diante de seus enunciados.

Texto III

Milhas aéreas, um bom negócio

Viajando de avião ou comprando com cartão de crédito, os consumidores acumulam milhas que valem passagens – ou dinheiro.

Muita gente viaja a serviço e acaba juntando incontáveis milhas, que eventualmente não utilizará – parlamentares e executivos as têm aos montes. O leitor possivelmente sabe que há um mercado para essas milhas, e com boa liquidez (rapidez na venda). Cada dez mil milhas valiam, em média, em outubro de 2009,R$ 350, dependendo da companhia emissora e do comprador.

Os pontos que se vão acumulando nos cartões de crédito costumam vencer em três anos, devendo, antes disso, ser transferidos para uma conta de milhagem, da TAM ou Smiles, por exemplo. Nessas contas, valem por mais dois anos, de maneira que há um prazo de cinco anos para se juntar, só com compras, um bom dinheiro.

O perigo mora na negociação, em geral feita pela internet. Observados alguns cuidados, é possível fazer a transação com segurança. Uma consulta na rede apontará inúmeras empresas que compram milhas, mas várias exigem que o vendedor revele a sua assinatura eletrônica da conta de milhagem, alegando que, só com isso, não conseguirão transferir as milhas. Precisarão da senha de quatro números, que o vendedor só revelará depois de receber o pagamento.

Mas não é bem assim. A coluna testou o sistema fazendo uma venda real de 40 mil milhas, que renderam R$ 1.400.

No começo, o vendedor queria a assinatura eletrônica, para depois fazer o depósito. Acontece que, com a assinatura, quem acessar a conta poderá modificar o e-mail e, por ele, receber a senha de quatro números.

Fora isso, verá todos os dados do vendedor: nome, endereço, CPF, filhos, telefone, data de nascimento.

Antes de dar acesso ao comprador, convém modificar essas informações e criar uma assinatura eletrônica provisória, diferente da que já era utilizada, porque muitos usam a mesma senha para várias contas e sites. E não esquecer de, após o vendedor sacar as milhas vendidas, voltar à senha antiga, não revelada.

(...)

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3.2. Métodos de raciocínio

Nesse texto, um argumento que sustenta a tese de que é fundamental o uso consciente

Fonte: http://www.sxc.hu

Figura 2: Para formular uma argumentação consistente, é preciso organizar de forma lógica as informações que sustentam sua tese

Quando se constrói um texto argumentativo, é muito importante prestar atenção ao encadeamento das ideias. Afinal, para provarmos nosso ponto de vista, é preciso que os argumentos que o sustentam estejam apresentados em uma sequência lógica, conduzindo o leitor gradualmente à conclusão que ratifica nossa tese.

Para atingirmos tal fim, devemos concatenar nossos argumentos de acordo com métodos de raciocínio, entre os quais se destacam a dedução e a indução. Esses procedimentos são oriundos da filosofia e da matemática, mas ganharam destaque nos estudos sobre argumentação, pois, de uma forma ou de outra, estão sempre presentes quando se selecionam e organizam as premissas que provam determinada tese.

3.2.1. A dedução

Chamamos de dedutivo o raciocínio que parte de uma afirmação geral para casos particulares. Quando uma pessoa aprende uma regra geral e a aplica a cada nova situação, está raciocinando de forma dedutiva. O professor convida seus alunos a raciocinarem dedutivamente quando lhes ensina que as plantas fazem fotossíntese, e depois pergunta: “as samambaias fazem fotossíntese?”

Nesse caso, os alunos têm de operar logicamente neste sentido:

  1. Todas as plantas fazem fotossíntese. (Regra geral)
  2. As samambaias são plantas. (Caso específico)
  3. Logo, as samambaias fazem fotossíntese. (Conclusão)

Esse processo de raciocínio dedutivo, estruturado com uma premissa geral, uma particular e uma conclusão, é chamado de silogismo.

Vamos ver agora como a dedução pode ser usada para estruturar a argumentação em um texto. Para tanto, leia primeiro o artigo a seguir:

Texto IV

Não moro no Leblon

Claudio Schamis

Não moro no Leblon. Estou esses dias até me sentindo um pouco macambúzio apesar de também não morar em Búzios. E antes que alguém ou algum morador de lá do Leblon me jogue uma pedra ou me critique, a pedra está a uns dez metros do prédio onde mora o governador Sérgio Cabral. É só uma dica — porque no escuro você não acha muita coisa, não é verdade? Afinal, como esse povo de lá e o governador vêm sofrendo com os apagões, é meu dever enquanto cidadão ajudar e me solidarizar. Daqui a pouco, uns por aí vão falar que é coisa da oposição. Coisa e tal.

E deve ser mesmo essa coisa e tal que fez com que o presidente (peguei você!) da Light, José Luiz Alqueres, soltasse uma pérola. Deve ser coisa de presidente ou estar no contrato de trabalho. Segundo José, os moradores do Leblon são mais exigentes que os da Baixada Fluminense. Você entendeu isso? Pois é. Nem eu. É que segundo este indivíduo os moradores do Leblon moram em um lugar mais abafado e, se não têm luz, não podem ligar o ar-condicionado e, como têm mais acesso à reclamação, reclamam mais. Ah coitados!!

Um dia, se Deus quiser, ainda vou morar no Leblon para poder junto com eles reclamar da falta do ar-condicionado e ficar só imaginando o que aconteceu no capítulo daquele dia de apagão na novela de Manoel Carlos, o seu Maneco (...).

Por outro lado — on the other hand —, os moradores do Leblon não teriam como, por causa dos constantes apagões, ouvir o que as imagens de políticos recebendo propina disseram. Sorte deles.

(...)

Este texto, de caráter notadamente irônico, investe contra a infeliz fala de José Luiz Alqueres, segundo o qual “os moradores do Leblon são mais exigentes que os da Baixada Fluminense”. Como o autor do artigo discorda de tal afirmação, desautoriza-a ironicamente em frases como “os moradores do Leblon moram em um lugar mais abafado e, se não têm luz, não podem ligar o ar-condicionado e, como têm mais acesso à reclamação, reclamam mais. Ah coitados!!”

Ainda imbuído desse objetivo satírico, Claudio Schamis faz um paralelo entre sua vida pessoal e a que pretensamente levam os moradores do bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro: “Um dia, se Deus quiser, ainda vou morar no Leblon para poder junto com eles reclamar da falta do ar-condicionado”. Com isso, transpõe para uma situação particular hipotética – sua imaginária vida no Leblon – características que foram generalizadas na fala descuidada do presidente da Light: a reclamação da falta de luz no Leblon, mais procedente do que em outros lugares, por causa da impossibilidade de ligar o ar-condicionado no momento do apagão.

Para ressaltar o absurdo da discriminação entre a Baixada Fluminense e o Leblon, o autor lança mão de um silogismo implícito:

  1. Quando falta luz, todos no Leblon reclamam porque não podem ligar os aparelhos de ar-condicionado e o bairro é mais abafado do que a Baixada Fluminense, segundo a visão de José Luiz Alqueres.
  2. Um dia, se Deus quiser, serei morador do Leblon.
  3. Logo, poderei reclamar da impossibilidade de ligar o aparelho de ar-condicionado, já que meu bairro é mais abafado do que a Baixada Fluminense. Evoluindo do geral para o particular, o autor constrói sua ironia com base dedutiva, o que fortalece sua argumentação e reforça seu ponto de vista: a improcedência da discriminação entre a Baixada Fluminense e o Leblon.

3.2.2. A indução

A organização dos argumentos em um texto também pode ser norteada pela indução. Segundo esse método de raciocínio, partimos de incidentes particulares para formarmos uma regra generalizante acerca do que eles têm em comum.

A indução tem um papel de destaque no meio científico, pois a maior parte das conclusões generalistas nasce da repetição de experimentos. Assim, a partir do específico (o experimento), formula-se o conhecimento inespecífico (o princípio geral).

Da mesma forma, um professor pode estimular em seus alunos o raciocínio indutivo, se lhes oferece diferentes evidências a partir das quais os discentes devem formular suas próprias regras. Veja:

  1. A conjunção porém é invariável; (informação particular dada pelo professor)
  2. A conjunção e é invariável; (informação particular dada pelo professor)
  3. A conjunção embora é invariável; (informação particular dada pelo professor)
  4. A conjunção porque é invariável; (informação particular dada pelo professor)

x) Logo, todas as conjunções são invariáveis. (conclusão geral formulada pelo aluno)
No entanto, é preciso perceber que nem sempre a lógica indutiva nos conduz a conclusões verdadeiras, isto é, que se confirmem no mundo real. Por exemplo, muitos preconceitos surgem a partir de raciocínios que generalizam casos particulares isolados, como a máxima repetida pelo senso comum: “Todo político é corrupto”. Embora o povo tenha visto vários casos particulares de corrupção e crimes praticados por governantes do nosso país, uma afirmação generalista acerca do comportamento e da moral de todos os políticos é preconceituosa e constitui um argumento facilmente refutável em um debate.

No que diz respeito à argumentação bem fundamentada, porém, o método indutivo pode ajudar a sustentar solidamente a tese de um texto. Para que isso fique mais claro, leia o texto a seguir:

Texto V

'Science' aponta cansaço da opinião pública nos EUA com debate climático. Tema ambiental não vence 'concorrência por atenção', diz especialista.

Do G1, em São Paulo

Sinais de aquecimento são preocupantes, mas não evitam um certo cansaço da opinião pública americana com o debate sobre mudança climática.

A avalanche de alertas sobre os riscos do aquecimento global pode virar um belo tiro pela culatra. Artigo na edição de 13 de novembro da revista 'Science' recupera recentes indicadores de mudanças climáticas, confrontando-os com sinais de cansaço da opinião pública com os repetidos avisos de que a temperatura pode sair do controle, com consequências incontroláveis. 

Citando uma pesquisa do Pew Research Center for the People and the Press, o texto lembra que a proporção de americanos para quem "há sólida evidência de que a temperatura média da Terra está aumentando no decorrer das últimas décadas" caiu de 71% para 57%. A proporção de quem vê nesse processo um problema muito grave ou "em certa medida grave" também caiu, neste caso de 73% para 65%.

Outra pesquisa, do Instituto Gallup, indicou que a porcentagem de americanos que consideram exagerada a gravidade do aquecimento global cresceu para 41%, um recorde em 12 anos de realização desse levantamento.

"Aparentemente, advertências ansiosas de crises climáticas iminentes não estão mais alcançando o público", afirma o artigo. Matthew Nisbet, especialista em comunicação política da American University, em Washington, avalia que "é muito difícil que qualquer evento climático vença outras questões e informações concorrentes". Entre americanos, os temas dominantes não são nada menos que duas guerras (no Iraque e no Afeganistão), uma economia ainda cambaleante e a reforma do sistema de saúde.

Para Nisbet, os cientistas precisam de um novo foco para sua mensagem, tratando mais de efeitos localizados e questões mais imediatas, como os impactos da crise climática sobre a saúde dos indivíduos.

Observe que o texto acima apresenta uma tese polêmica, veiculada na revista Science: segundo o autor do periódico científico, o excesso de alertas sobre as mudanças climáticas desgasta o público e diminui o impacto de campanhas de conscientização sobre o aquecimento global. No entanto, para chegar a uma conclusão de tal natureza, que encerra uma generalização implícita (“advertências ansiosas de crises climáticas não estão mais alcançando o público”), o autor teve de partir de sólidos argumentos.

Nesse caso, o pesquisador da revista Science baseou-se em dados estatísticos sobre estudos feitos com um grupo de americanos, em que grande parte dos entrevistados revelou uma diminuição da preocupação com o aquecimento global e um cansaço diante da propaganda ecológica. A partir dessas informações, obtidas em experiências particulares com cada um dos entrevistados, o autor do artigo pôde formular sua conclusão generalista: o público está se tornando resistente à propaganda tradicional sobre o aquecimento global.

Com base nisso, no último parágrafo foi apresentada inclusive uma proposta – também generalista – de solução para esse problema: “os cientistas precisam de um novo foco para sua mensagem, tratando mais de efeitos localizados e questões mais imediatas, como os impactos da crise climática sobre a saúde dos indivíduos”.

Partindo do particular para o geral, o autor raciocinou indutivamente para formular sua tese, como esquematizamos a seguir:

  1. O excesso de alarmes é considerado exagerado por esta pessoa;
  2. O excesso de alarmes é considerado exagerado por esta outra pessoa;
  3. O excesso de alarmes é considerado exagerado por mais esta outra pessoa;
    ...
  4. Logo, o excesso de alarmes é considerado exagerado por todas as pessoas.

Por fim, vale ainda ressaltar que a escolha de um ou outro método de raciocínio não pode ser gratuita, mas sim baseada nos argumentos disponíveis e no que o autor imagina acerca das opiniões e do conhecimento prévios do interlocutor sobre o tema em debate.

Nesse sentido, cabe ressaltar que, como vimos na aula 4, sobre coerência textual, geralmente um autor parte de informações que considera já conhecidas do leitor (tema), para depois apresentar o que julga ser novo (rema) para o outro. E isso também vale para os argumentos e opiniões! Logo, parta de um ponto de vista comum às pessoas envolvidas no debate para, ao longo de sua argumentação, chegar à sua conclusão, convencendo o outro a pensar como você.

Assim, caso ache que há alguns exemplos particulares aceitos pelo leitor de antemão, empregue o método indutivo, que o guiará desses exemplos para uma conclusão mais generalista. No entanto, se julgar que seu leitor compartilha com você determinado ponto de vista generalizador, parta dele para chegar a uma conclusão mais específica, segundo a lógica dedutiva.

Simples, não? Pois bem, agora que você já está familiarizado com os diferentes métodos de raciocínio, vamos pôr esse conhecimento em prática?


Atividade 3

Texto VI

Texto VI

Luiz Leitão

Mais de quinze por cento da população americana passa fome.

Esse fato já é um problema e tanto, mas um estudo federal mostrou que, mesmo antes de a recessão começar, mais de dois terços das famílias com crianças eram classificadas como “sob insegurança alimentar”, considerando as que têm uma ou mais pessoas trabalhando em tempo integral.

O que sugere que milhões de americanos já estavam numa armadilha de empregos de baixos salários antes da recessão, que tornou as coisas mais difíceis para elas no tocante a alimentar seus filhos adequadamente.

As famílias foram classificadas como “em segurança alimentar” ou “sob insegurança alimentar” conforme responderam a várias perguntas sobre seus hábitos alimentares nos últimos 12 meses. Entre outras coisas, os adultos foram questionados se eles ou qualquer um de seus filhos ficaram um dia inteiro sem comer por falta de dinheiro.

Segundo os novos dados, o número de pessoas em domicílios que tiveram acesso insuficiente à nutrição adequada subiu para 49 milhões em 2008, 13 milhões acima do contingente de um ano atrás, e o mais alto desde que o governo federal iniciou esse tipo de pesquisa, há 14 anos.

Cerca de um terço dos lares em dificuldades foi considerado sob “baixíssima segurança alimentar,” o que significa que membros da família pularam refeições, ou reduziram quantidades, em algum momento do ano, por dificuldades financeiras.

Os outros dois terços conseguiram alimentar-se com produtos mais baratos ou em menor variedade, dependendo de ajuda governamental como vale-refeições ou frequentando “sopões”, cuja clientela tem crescido substancialmente nos últimos anos.

Famílias com falta de recursos geralmente suprem as crianças em primeiro lugar, protegendo-as das dificuldades tanto quanto possível. Mas os novos dados mostraram que o número de lares com crianças expostas à condição de “baixíssima segurança alimentar” subiu para 506.000, de 323.000, em 2007.

O governo Bush tentou eliminar essa pesquisa anual, mas Obama tem lidado com o problema, alertando para o perigo das crianças, em especial.

Ele estabeleceu a meta de eliminar a fome infantil em seu país até 2015. Essa era a data que os integrantes das reuniões da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) haviam marcado para reduzir à metade os então cerca de 840 mil famintos contabilizados em 1996.

E aí? Se nem mesmo tantas crianças americanas podem obter a ração mínima diária adequada, é ilusão imaginar que o espantoso 1,02 bilhão de esfomeados por todo o mundo será atendido pelas vagas, eternas e repetitivas promessas feitas nos encontros da FAO.

Confira as suas respostas


3.3. Tipos de argumento

Nesse texto, um argumento que sustenta a tese de que é fundamental o uso consciente

Fonte: http://www.sxc.hu

Figura 3: Defender um ponto de vista pode ser um processo longo e cauteloso, que exige preparação e técnica eficaz

Dedutiva ou indutiva, a argumentação é um processo intelectual cauteloso, que deve ser conduzido com cuidado e seleção adequada de argumentos. Quem não sabe ou não quer argumentar, acaba recorrendo afalácias, subterfúgios para enganar ou desviar a atenção do interlocutor, sem, contudo, convencê-lo logicamente.

O termo faláciafalácia remete à filosofia aristotélica, designando raciocínios que aparentam ser logicamente bem formados, mas não o são. No âmbito da retórica, chamamos de falácia toda tentativa de enganar o outro com argumentos que parecem convincentes, mas, se analisados mais de perto, revelam-se inconsistentes.

Nesta seção, vamos estudar os principais tipos de argumentos que você pode empregar sempre que precisar sustentar seu ponto de vista. Lembre-se de que a lista que veremos não se pretende exaustiva, ou seja, há uma série de outras estratégias discursivas para defender sua tese.

3.3.1. Argumentação por relações de causa-consequência

A forma mais simples e mais comum de argumentar é dizer os porquês que sustentam sua tese ou as consequências que ela acarreta. Nesse caso, você vai precisar dos conectivos que estabelecem relações causais e consecutivas, como os que vimos na aula 3, sobre coesão textual.

Porém, na hora de produzir seu próprio texto, tome cuidado para não expressar uma falsa relação de causa/consequência entre ideias que são apenas próximas, mas não desencadeadoras uma da outra. Tal confusão constituiria uma falácia, pois apresentaria um raciocínio apenas aparentemente lógico, mas carente de consistência.

Para entender melhor como funciona esse tipo de argumento, leia o trecho abaixo, retirado do artigo “Mogno: a extinção é para sempre”.

Texto VII

Mogno: a extinção é para sempre

Se a exploração descontrolada e predatória do mogno continuar do jeito que está, muito em breve essa árvore estará extinta. O mogno já desapareceu de extensas áreas do Pará, Mato Grosso e Rondônia, e há indícios de que sua diversidade e quantidade atuais podem não garantir a sobrevivência da espécie a longo prazo.

A diversidade é um elemento fundamental na sobrevivência de qualquer ser vivo. Sem ela, perde-se a capacidade de adaptação ao ambiente, que muda tanto por interferência humana como por causas naturais.

Além disso, a exploração e comércio ilegais de mogno demonstram que a atual legislação florestal, a estrutura inadequada de monitoramento e os mecanismos de controle do mercado são insuficientes para garantir o respeito à lei, a preservação comercial da espécie e o manejo ecologicamente correto do mogno. É preciso mudar urgentemente esse quadro de desrespeito à lei e destruição ambiental.

(...)

A primeira frase do texto já expressa claramente a tese defendida pelo autor: a futura extinção do mogno caso se mantenha a atual forma de exploração da árvore. Para sustentar essa afirmação, além de exemplos de regiões em que isso já aconteceu, como “extensas áreas do Pará, Mato Grosso e Rondônia”, o autor optou por apresentar as causas da extinção da espécie.

A primeira delas está enunciada no primeiro período do segundo parágrafo do texto: sem a diversidade, a sobrevivência da espécie fica comprometida, fato que a frase subsequente explica em mais detalhes. Vimos essa forma básica de organização das informações na aula 2, sobre estrutura do parágrafo. Vale ainda ressaltar que, como o argumento introduzido por esse parágrafo representa uma causa que sustenta a tese, poderia ser encabeçado por uma expressão causal. Observe:

Se a exploração descontrolada e predatória do mogno continuar do jeito que está, muito em breve essa árvore estará extinta. (...)

Isso ocorre porque a diversidade é um elemento fundamental na sobrevivência de qualquer ser vivo.

OU

Se a exploração descontrolada e predatória do mogno continuar do jeito que está, muito em breve essa árvore estará extinta. (...)

Isso se deve ao fato de que a diversidade é um elemento fundamental na sobrevivência de qualquer ser vivo.

No terceiro parágrafo, o autor apresentou outra causa para a futura extinção do mogno: a insuficiência da atual legislação florestal, da estrutura de monitoramento e dos mecanismos de controle do mercado. Tais fatores desencadeiam a ocorrência prenunciada na tese do texto e foram introduzidos, em adição à outra causa mencionada no parágrafo anterior, pelo conectivo além disso.

3.3.2. Argumentação por exemplificação

No texto “Mogno: a extinção é para sempre”, você pôde notar que o autor empregou um exemplo para ratificar sua tese, destacando áreas em que a referida árvore já não pode ser encontrada, devido à exploração desenfreada. Tal estratégia serve ao leitor como prova de que a tese defendida é verdadeira, pois o fato por ela prenunciado já é real em alguns lugares.

Partir de um exemplo particular para uma conclusão generalista é uma forma de raciocinar indutivamente que geralmente torna a argumentação mais impactante: se opiniões são facilmente discutíveis, evidências concretas não o são.

Veja outra aplicação desse recurso argumentativo no texto a seguir:

Texto VIII

Os riscos da energia nuclear

(...)

Os lixos de nível radioativo intermediário e baixo representam 95% do total de radioatividade produzida durante todo o processo de geração de eletricidade pela tecnologia nuclear. A quantidade de HLW [high level waste] está aumentando em 12 mil metros de toneladas por ano, o equivalente a 100 ônibus de dois andares ou a duas quadras de basquete.

A exploração de urânio nas minas também produz enormes quantidades de resíduos, inclusive partículas radioativas que podem contaminar a água e os alimentos. Além disso, no processo de enriquecimento de urânio, são gerados, para cada metro cúbico de dejetos altamente radioativos, mil metros cúbicos de lixo de baixo nível radioativo.

Não existem dados exatos sobre a quantidade de lixo radioativo já produzido até hoje no mundo. Em geral, o público desconhece o perigo associado a esses dejetos e qual é seu destino, mas calcula-se que, anualmente, são acumulados no mundo cerca de 12 mil toneladas de rejeitos radioativos de alta atividade. Na maioria dos países esse lixo é armazenado, de forma provisória, no interior das usinas. A quantidade de rejeitos de baixa e média radioatividade de Angra 1 e 2, por exemplo, é estimada em cerca de 2.500 toneladas. Estes rejeitos encontram-se armazenados de forma provisória em dois galpões. Já os rejeitos de alta radioatividade estão armazenados em piscina e aguardam um depósito permanente.

Nos Estados Unidos, os resíduos altamente radioativos estão depositados em cerca de 120 locais. Há um projeto, chamado de Yucca Mountain Project, para acondicionar esse lixo de forma definitiva em um depósito construído a 300 metros abaixo da superfície, em uma formação geológica natural situada a 160 quilômetros de distância de Las Vegas. Esse projeto já consumiu US$ 9 bilhões e revelou-se um tremendo elefante branco – ainda está longe de ser concluído.

Nesse trecho de artigo, o autor expressa claramente sua preocupação quanto ao destino dos rejeitos produzidos na geração de energia nuclear. Segundo ele, o temido lixo radioativo ainda não tem destino seguro ou bem definido, o que agrava o problema.
Para ratificar seu ponto de vista, nos dois últimos parágrafos o autor dá exemplos de procedimentos precários de armazenagem dos resíduos tóxicos: o Brasil e os EUA. Veja que a escolha dos exemplos não é gratuita; tampouco o é a seleção de palavras para expressá-los.

O primeiro exemplo é especialmente contundente porque fala à sensibilidade do leitor brasileiro, o qual provavelmente o autor tinha em mente quando escreveu o texto no idioma pátrio. As discussões sobre a viabilidade das usinas de Angra 1 e 2 são notórias no cenário nacional, o que favorece a aceitação do argumento por parte do leitor. Além disso, a própria escolha de palavras como “provisória”, “galpões” e “piscina” sugere que o processo de armazenagem está aquém do desejável e é, até mesmo, amador.

Da mesma forma, a seleção do segundo argumento também é intencional, pois revela o problema do destino do lixo tóxico mesmo na maior potência do mundo. Tal exemplo indica que não se trata de uma questão apenas tecnológica ou financeira, pois até o bilionário projeto de Yucca Mountain se tornou um “elefante branco”.

Quando você estiver construindo seu próprio texto argumentativo, selecione bem os exemplos que for utilizar para defender sua tese. É importante que os casos particulares que você deseja mostrar sejam representativos de uma condição mais geral e convençam o interlocutor. Nesse sentido, é interessante combinar exemplos próximos, de situações que de alguma forma reverberam na vida daquele que lê o seu texto, com outros inesperados, os quais sugiram haver muitos outros casos desconhecidos que comprovam seu ponto de vista.

3.3.3. Argumentação por dados estatísticos

Algumas vezes, além de exemplos isolados, é importante apresentar números e porcentagens que comprovem a relevância da sua tese. Tal estratégia dá mais credibilidade à argumentação, pois indica que aquele que fala fez um estudo prévio ou consultou o resultado de pesquisas estatísticas acerca de determinado fenômeno. Porém, para dar bases ainda mais sólidas à sustentação de seu ponto de vista, não se esqueça de apresentar a fonte de onde você conseguiu os números apresentados. Ademais, caso você opte por fazer também uma apresentação não-verbal dessas informações, para chamar a atenção do leitor, tome o cuidado de selecionar um tipo de gráfico atrativo, claro e adequado ao seu propósito.

Veja agora um texto argumentativo que se vale de dados estatísticos para comprovar a tese do autor.

Texto IX

Gado na Amazônia

A indústria da pecuária na Amazônia brasileira é responsável por um em cada oito hectares destruídos globalmente. Esforços para reduzir as emissões globais de desmatamento devem incluir mudanças no modo de produção deste setor.

A destruição da Amazônia, o mais importante estoque de carbono florestal do mundo, está sendo impulsionada pelo setor pecuário.

A Amazônia brasileira apresenta, em área, a maior média anual de desmatamento do que qualquer outro lugar do mundo. (...)

Isso torna o setor da pecuária o principal vetor de desmatamento não apenas na Amazônia brasileira, mas do mundo inteiro. De acordo com o próprio governo brasileiro: ‘A pecuária é responsável por cerca de 80% de todo o desmatamento’ na região Amazônica. Nos anos recentes, a cada 18 segundos, um hectare de floresta Amazônica, em média, é convertido em pasto.

(...)

Nessa reportagem, defende-se que a pecuária é o maior vetor de desmatamento na Amazônia e no mundo, como se percebe no quarto parágrafo. Para chegar a tal conclusão polêmica, que mexe com delicadas questões ambientais e socioeconômicas, o autor baseou-se em estatísticas alarmantes, escolhidas entre as mais preocupantes para chocar o leitor. Nesse sentido, é importante dizer que, em vez de uma enxurrada de porcentagens e proporções, é mais eficiente a seleção de alguns dados apenas, empregados por serem representativos do fenômeno em questão e por envolverem valores que chamam atenção. Muitas cifras pouco exploradas podem tornar o texto cansativo ou mesmo sugerir que o autor não sabe transformar em argumentos verbais aqueles dados.

Em “Gado na Amazônia”, para provar o potencial destruidor da pecuária face ao ecossistema, o autor afirma que ela “é responsável por cerca de 80% de todo o desmatamento’ na região Amazônica”, citando uma fala do próprio governo brasileiro, o que dá credibilidade à sua estatística. Além disso, foi informado que “A indústria da pecuária na Amazônia brasileira é responsável por um em cada oito hectares destruídos globalmente”. Com isso, completam-se as bases que provam a tese do autor da reportagem, acerca do potencial destrutivo que a pecuária representa para a Amazônia e o planeta. Por fim, vale ressaltar que os dados estatísticos foram alternados entre porcentagens e proporções apresentadas por extenso, para tornar o texto menos repetitivo.

3.3.4. Argumentação por testemunho de autoridade

Na seção anterior, falamos da importância de apresentar a fonte de onde são retirados dados estatísticos que sustentem a tese, a fim de dar credibilidade à argumentação. Agora, vamos analisar de forma mais detalhada a importância de apresentar como argumento o testemunho de pessoas ou instituições que são consideradas autoridades em suas áreas de atuação.

Na vida acadêmica e profissional, quando temos de defender um ponto de vista, é crucial reconhecermos que outras pessoas já trataram do mesmo tema, trazendo contribuições essenciais para a discussão. Revisitar a fala desses especialistas dá respaldo à nossa argumentação, pois é mais difícil contradizer um pesquisador de renome, cujas conclusões são amplamente reconhecidas na vida em sociedade.

Tome cuidado, porém, para não fazer do seu texto uma colcha de retalhos: não adianta citar uma porção de autores que você nunca leu, pois, além de trazer as falas deles para seu texto, é preciso que você as contextualize e delas tire suas próprias conclusões. Mais uma vez, aqui é a qualidade que importa: em vez de várias citações pouco exploradas, opte por reduzir a quantidade, mas aprofundar-se no desdobramento de cada uma delas para sua argumentação. Perceba que essas diferentes “vozes” no seu texto devem ser apresentadas como um possível diálogo e intercâmbio de ideias, respaldando a sua própria inserção na discussão. Não caia na armadilha de usar nomes famosos como mero adorno, pois isso empobrece sua argumentação e não faz jus à relevância da produção intelectual desses autores.

Outra coisa que você deve ter mente quando cita alguém é a necessidade de fazer a referência ao autor de forma clara e objetiva, seguindo os padrões esperados. Em uma reportagem ou uma notícia, fazem-se as citações entre aspas e citando o nome do autor. O nome da obra, o ano de sua publicação e outras informações não são obrigatórios nesse gênero. No entanto, na escrita acadêmica, há outros padrões para a referenciação, bem mais rígidos, que você vai estudar em detalhes na aula 9 deste curso.

A seguir, observe um texto em que o testemunho de autoridade é invocado para dar credibilidade à argumentação conduzida pelo autor.

Texto X

Simmel e Bauman: modernidade e individualização

Alan Mocellim

(...)

A Metrópole é o lugar onde, agora, muitos podem viver, e de forma um tanto heterogênea. A metrópole põe em contato as diferenças, e permite ao indivíduo, através de uma relativização da diferença – relativização que é fruto do contato intensivo com a diferença que a cidade permite –, uma maior liberdade de ação. Enquanto em um vilarejo pré-moderno a diferença seria motivo de desconfiança, na metrópole moderna ele é tolerada – ou exigida, na medida em que é o exercício do individualismo. Assim como o dinheiro, a metrópole também produz como consequência a impessoalidade. Em meio a tantas diferenças, e na velocidade específica da cidade, a própria diferença se torna banal, se torna “lugar comum”. Em meio a tantos estímulos e tantas novidades, a diferença se transforma em indiferença. O indivíduo da grande cidade é o indivíduo blasé, indiferente, incapaz de notar a diferença. Habituado à impessoal desatenção civil, ele é incapaz de notar a novidade. Segundo Simmel:

Os mesmos fatores que assim redundaram na exatidão e precisão minuciosa da forma de vida redundaram também em uma estrutura da mais alta impessoalidade; por outro lado, promoveram uma subjetividade altamente pessoal. Não há talvez fenômeno psíquico que tenha sido tão incondicionalmente reservado à metrópole quanto a atitude ‘blasé’. A atitude blasé resulta em primeiro lugar dos estímulos contrastantes que, em rápidas mudanças e compressão concentrada, são impostos aos nervos. Disto também parece originalmente jorrar a intensificação da intelectualidade metropolitana. (...) Uma vida em perseguição desregrada ao prazer torna uma pessoa blasé porque agita os nervos até seu ponto de mais forte reatividade por um tempo tão longo que eles finalmente param de reagir. (...) Surge assim a incapacidade de reagir a novas sensações com a energia apropriada. Isto constitui aquela atitude blasé que, na verdade, toda criança metropolitana demonstra quando comparada com crianças de meios mais tranquilos e menos sujeitos a mudanças. (1987, p.16)

Juntos, a vida da metrópole e o uso do dinheiro propiciaram uma maior mobilidade aos indivíduos modernos. Juntos permitiram um encurtamento das distâncias e a possibilidade de estabelecimento de um maior número de laços sociais. Trouxeram mais liberdade individual, libertando o homem dos laços estreitos da comunidade. Tornou tudo mais veloz. Porém, tornou também mais veloz o contato humano, tornou as relações sociais mais objetivas e impessoais, portanto, mais superficiais. E essa é a ambiguidade principal da modernidade: uma maior liberdade individual caminha lado a lado com uma maior impessoalidade – com uma objetivação e instrumentalização das relações sociais.

(...)

Nesse trecho de artigo científico, o autor defende que a heterogeneidade nas grandes cidades causa um efeito ambíguo sobre as pessoas: ao mesmo tempo em que a diversidade ensina a tolerância, também ensina a indiferença, que o autor do texto chama de atitude blasé (“entediado” ou “indiferente”, em português). Assim, segundo a tese defendida pelo autor, o homem da metrópole está marcado pela ambivalência: “uma maior liberdade individual caminha lado a lado com uma maior impessoalidade”.

Para dar respaldo e credibilidade a sua fala, o autor recorreu à opinião do sociólogo alemão Georg Simmel, que goza de prestígio e reconhecimento entre a comunidade acadêmica. Nesse sentido, a escolha da autoridade cujo testemunho será usado para sustentar a argumentação deve ser cuidadosa: é preciso citar a fala de alguém respeitado e reconhecido, ou pelo menos que possa vir a sê-lo, por seu interlocutor. Aliás, o pensamento de Simmel trazido à discussão respalda não só a tese do autor do artigo, mas também a própria seleção de palavras, que poderia ser questionada pelo leitor, como no caso dos polêmicos termos “blasé” e “impessoalidade”.

Não deixe de notar também o cuidado que se teve no texto para citar a fala do sociólogo alemão: fonte menor, recuo de 4 cm, apresentação do sobrenome do autor, ano e página. As demais informações, como título da obra, cidade e editora foram apresentadas em uma seção ao final do texto, denominada referências bibliográficas. Como já dissemos, você estudará esses procedimentos de citação e referenciação com mais detalhes na aula 9.

3.3.5. Argumentação por contra-argumentação

Outra importante estratégia de convencimento é antecipar as possíveis objeções que o leitor faria à sua argumentação. Com isso, você tem a oportunidade de invalidar os argumentos do outro antes mesmo de eles serem enunciados, provando a superioridade da sua tese diante das demais. Porém, esse procedimento, chamado de contra-argumentação, deve ser usado com atenção e parcimônia: se mal estruturada, tal estratégia pode ajudar seu interlocutor a rebater suas ideias, investindo contra os pontos frágeis do seu discurso e usando os argumentos que você mesmo levantou.

Para compreender melhor como fazer uso da contra-argumentação, leia o texto abaixo, em que esse recurso discursivo foi empregado para desautorizar as opiniões diferentes da que o autor defende.

Texto XI

Arte, fotografia, novas técnicas. Um redimensionar constante do saber.

Maria Beatriz de Medeiros

Falar em arte, fotografia e novas tecnologias significa falar do desenvolvimento técnico, do desdobrar do saber, retrato do ser humano e da humanidade contemporâneos. A arte sempre utilizou diferentes técnicas: técnicas médicas para embalsamar as múmias do Egito; técnicas para fixar as tintas; técnicas de construção (engenharia e arquitetura) em monumentos, castelos, igrejas; técnicas artesanais para a fabricação de pincéis; técnicas de reprodução da imagem (xilogravura, gravura sobre metal, litografia, serigrafia, off-set etc.).

 A perspectiva nada mais é do que sistematização do olhar, uma técnica para transcrever sobre um suporte a visão. A fotografia introduziu um procedimento químico que permitiu fixar um espectro da imagem visualizada. Muitos creem que foi a fotografia que forçou a arte a pintar como os impressionistas e, depois, os cubistas. Não estou bem certa disto. Todo um contexto novo gerado pela revolução industrial deu à vida uma nova dimensão. Havia, além do aparecimento de objetos industrializados, uma aceleração da produção, uma aceleração da vida em si, que gerava uma nova compreensão do mundo. Costumo dizer que havia, nesta época, como há agora, uma nova ecologia simbólica sendo gerada.

 Os impressionistas são conhecidos por pintarem ao ar livre e este fato é pensado, muitas vezes, apenas como um desejo de criar novidade na arte. Os impressionistas – não esqueçamos que houve Turner, na Inglaterra, antes deles, e que Turner muito viajou pela França fazendo aquarelas – foram levados a pintar ao livre porque, com a revolução industrial, começou-se a produzir as tintas industriais e as bisnagas de tinta tal como as conhecemos hoje, e isto facilitava enormemente o transporte das tintas. Antes, as tintas tinham que ser produzidas pelo pintor, ou por um aluno, no atelier, e eram guardadas em bexigas animais (tripas) frágeis ou vidros muito pesados. Cézanne pintou com pincéis e espátulas produzidos industrialmente, obtendo uma pintura totalmente renovada. Tintas e novas cores industriais, bisnagas de metal, pincéis e espátulas feitos em série são frutos da Revolução Industrial que vieram definitivamente modificar a Arte.

Os dadaístas trouxeram enormes inovações, não só para a Arte, mas também para a tipografia e a propaganda. Acredito que o próprio conceito de arte foi modificado, neste momento. Esta afirmativa seria óbvia se estivéssemos pensando nos ready-mades de Marcel Duchamp, mas estamos nos referindo apenas aos panfletos dadaístas. Além disto, este movimento esboçou o que depois viria a tornar-se a linguagem artística performance (happennings, body-art, art corporel), que trouxe a arte tornada efêmera, o tempo como elemento estético da arte, o corpo como sujeito e objeto da arte, a arte multidisciplinar. Tantas novidades foram geradas por uma realidade no limite do absurdo: a Primeira Guerra, dita, mundial que na realidade arrasou a Europa matando 8.700 mil pessoas. Apenas na França, a guerra deixou 700 mil mutilados! O dadaísmo nasce desta realidade, deste momento histórico. A arte está toda plena da história, da política, da economia, da produção industrial, atualmente, da ecologia das, ditas, novas tecnologias, da globalização.

(...)

Nesse texto, Maria Beatriz de Medeiros defende que a pintura impressionista tem origens na mudança da visão de mundo perpetrada pela Revolução Industrial, bem como nos avanços tecnológicos que ela ensejou. Para chegar a essa conclusão, no entanto, a autora parte de uma opinião diversa da sua e provavelmente mais conhecida pelo leitor a quem o texto idealmente se destina: “muitos creem que foi a fotografia que forçou a arte a pintar como os impressionistas e, depois, os cubistas”.

Veja que, logo após essa menção a teses alheias, a autora optou por reafrirmar a sua, de maneira categórica, dizendo “não estou bem certa disto”. Para realçar o contraste entre essas ideias, o texto poderia inclusive empregar um conectivo de oposição, como vimos na aula 3, sobre coesão textual. Observe:

  1. Muitos creem que foi a fotografia que forçou a arte a pintar como os impressionistas e, depois, os cubistas, mas não estou bem certa disto.
  2. Muitos creem que foi a fotografia que forçou a arte a pintar como os impressionistas e, depois, os cubistas, porém não estou bem certa disto.
  3. Muitos creem que foi a fotografia que forçou a arte a pintar como os impressionistas e, depois, os cubistas, no entanto não estou bem certa disto.

Começar o texto já desautorizando eventuais contra-argumentos do leitor, contrariando uma ideia largamente divulgada no senso comum, potencializa a argumentação. Abalado em sua certeza prévia, quem lê se torna mais disposto para aceitar uma nova perspectiva. O primeiro passo para aplicar essa estratégia argumentativa é identificar de forma geral o conhecimento prévio do interlocutor acerca do tema a ser discutido, bem como suas opiniões acerca desse assunto.

Porém, não basta simplesmente identificar a tese do outro e contrapô-la à sua. Além desse recurso, veja que a autora do artigo que estamos analisando dedicou o parágrafo seguinte de seu texto para ratificar seu ponto de vista, em oposição aos demais, dando exemplos de impressionistas que tiveram suas técnicas determinadas não pela fotografia, mas pela evolução tecnológica dos materiais empregados na pintura. Ademais, o parágrafo subsequente revela como uma nova forma de ver e pintar o mundo se impôs pela Revolução Industrial e, mais tarde, pela Primeira Guerra Mundial, muito mais do que pelo simples advento da fotografia.

Por fim, reiteramos mais uma vez a necessidade de escolher bem o contra-argumento que se pretende rebater. É preciso que se conheçam profundamente os argumentos e a tese do interlocutor para poder selecionar um ponto fraco e, a partir dali, tecer a defesa do seu próprio pono de vista, negando a plausibilidade do que o outro atesta.


Atividade 4

Até aqui, você leu bastantes textos argumentativos, estudou sua estrutura interna e investigou técnicas para organizar e sustentar sua argumentação. Agora é o momento de pôr a mão na massa e escrever seu próprio texto, exercitando habilidades de redação, raciocínio lógico e pensamento crítico. Para isso, a partir da leitura do artigo a seguir, redija um texto argumentativo, de 25 a 30 linhas, posicionando-se a respeito deste tema: Acesso às novas tecnologias de informação e comunicação: outras formas de ver o mundo ou incapacidadede ver o outro?

Texto XII

Lidar com a e–geração (adaptado)

José Guerra

Era inevitável abordar este tema, uma vez que o “confronto” de gerações é por demais evidente e por vezes a discrepância e o “choque” de ideias deixa antever que é necessário um novo modelo comportamental para podermos lidar com a nova geração chamada de “e-geração“ ou “geração net”, entenda-se, aqueles que nasceram já em plenos anos 80. Esta geração caracteriza-se por sua vez por uma nova forma de ser e estar, com padrões educacionais, valores e ideologias bem diferentes da geração que a antecedeu, a denominada “Geração X” dos 60 e 70, e de forma mais acentuada ainda em relação à “Geração Boom” dos finais dos anos 40 e princípios dos anos 50.

Estamos falando de uma geração que já nasceu na sua maior parte em plena era das novas tecnologias da informação e comunicação, em que o acesso ao conhecimento é de longe superior quando comparado com as gerações anteriores, com efeitos bem notórios na forma e na rapidez de aprendizagem, no domínio da nano tecnologia etc., requisitos estes sem dúvida necessários e adequados aos tempos de mudança contemporâneos. Esta geração faz parte da sociedade do conhecimento e está plenamente integrada a ela, estando capacitada e perfeitamente familiarizada com a era digital tanto na esfera pessoal como profissional. Para eles, não existe a era das Novas Tecnologias, porque já nasceram nela.

Por outro lado, e sem querer ferir suscetibilidades ou atribuir qualquer conotação negativa, estamos perante uma faixa etária que cresceu em sua maioria sob a égide da gratificação imediata, do egocentrismo e da arrogância. É também a geração que mais tempo demora a autonomizar-se, quer do ponto de vista familiar quer profissional, pois é também aquela que mais é afetada pelo desemprego estrutural. Sua grande maioria possui também já um curso superior, não fala a “linguagem” dos pais e se comunica por SMS e e-mail. É a geração dos blogs, do messenger e dos celulares 3G.

A questão que se coloca é a seguinte: Será que a “geração net” conseguirá gerir eficazmente a dupla razão/emoção ao nível das relações interpessoais e nas situações de adversidade, quando comparada com a geração anterior? Será que as gerações antecedentes conseguirão lidar com este novo tipo de comportamento? Será que o compreendem? Em que isso afetará as relações entre as gerações anteriores? E no mundo dos negócios e nas organizações? Será que estaremos habilitados a lidar com as diferenças? Quais serão as consequências?

(...)

Por isso, esta nova geração tem expectativas muito elevadas, está muito mais exigente e intolerante e não sabe ouvir a palavra não! Isto poderá trazer a longo prazo graves problemas sociais, se não houver uma transmissão adequada de valores de base, como a humildade, a justiça, o respeito pelo próximo, a perseverança e a valorização do trabalho. A cultura do “facilitismo” deverá dar lugar a uma cultura de responsabilização.

Também me parece essencial, nas organizações, criar mecanismos de reconhecimento e incentivo constantes a toda esta geração e valorizar a capacidade de iniciativa deste novo capital intelectual, fomentando o sentimento de responsabilidade e autonomia no âmbito da suas funções. Esta geração está mais autônoma e não gosta que lhes digam o que fazer, porém deverão ser exigidos resultados e fomentado o trabalho em equipe, premiando os resultados coletivos, de forma a valorizar a partilha de recursos. Obviamente isto exige uma capacidade de liderança substancialmente diferente daquilo que se praticava há alguns anos nas organizações e que ainda se pratica em algumas situações, ou seja, o estilo de liderança autocrático deverá dar lugar ao estilo situacional, transformacional ou transacional.

Por outro lado, as gerações anteriores deverão dominar as novas tecnologias para melhor se comunicarem com a atual geração, devendo também aprender como é que esta geração se comunica e compreender o que ela valoriza mais. Talvez só assim possamos vir a estabelecer pontes comunicacionais mais efetivas entre as diferentes gerações, aproximando-as, partilhando conhecimento, experiências, aprendizagens etc., o que trará por certo vantagens, quer ao nível comunitário, na responsabilidade social e empresarial, quer no âmbito relacional, ou ainda pelo ganho em produtividade e competitividade.


Conclusão

Esperamos que, nesta aula, você tenha desenvolvido mais sua competência comunicativa no que diz respeito à argumentação, forma de interação verbal muito comum no dia-a-dia. Argumentamos quando queremos explicar por que gostamos ou não de algo, por que tal projeto é mais viável do que aquele, por que pensamos de uma forma e não de outra. Enfim, saber argumentar é condição essencial para ter seus desejos e anseios atendidos, bem como para respeitar e compreender a visão do outro.


Resumo

Nesta aula, revimos aspectos centrais sobre a argumentação e sua macroestrutura, composta por uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão. Falamos sobre a importância de apresentar claramente sua tese na introdução e na conclusão, bem como da necessidade de respaldá-la com os argumentos da seção de desenvolvimento.

Além disso, você aprendeu algumas noções fundamentais da microestrutura textual, como a modalização, por exemplo, que permite ao autor demonstrar seu ponto de vista acerca da informação que enuncia. Da mesma forma, você teve contato com os princípios lógicos da dedução e da indução, originários da filosofia e da matemática mas constantes também na argumentação, os quais permitem uma organização formal do pensamento. O método dedutivo conduz o raciocínio do geral para o particular, enquanto o indutivo parte do particular para o geral, como você já viu.

Por fim, estudamos ainda os principais tipos de argumentos a que se pode recorrer quando se quer convencer alguém: relações de causa-consequência, exemplificações, dados estatísticos, testemunhos de autoridade e contra-argumentos. Tais recursos discursivos sustentam a defesa de uma tese, podendo ser adaptados às diversas situações de comunicação. No entanto, vale ressaltar que há também outras modalidades de argumentos que você pode empregar no seu texto. Afinal, este é apenas o ponto de partida para várias outras descobertas...


Informações sobre a próxima aula

Daqui para frente, iniciaremos uma nova etapa de nossos estudos: vamos agora começar a nos aprofundar nos principais gêneros textuais da vida acadêmica e da vida profissional. Na próxima aula, abrindo esse segundo módulo de nosso curso, estudaremos o fichamento, o resumo e a resenha, gêneros importantes para quem estuda, precisa anotar informações relevantes ou mesmo selecionar material para suas pesquisas bibliográficas. Até lá!


Referências bibliográficas

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MOCELLIN, A. Simmel e Bauman: modernidade e individualização. Em tese: Revista eletrônica dos pós-graduandos em Sociologia Política da UFSC. Vol. 4 n. 1 (1), agosto-dezembro/2007.

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Os riscos da energia nuclear. Disponível em:http://www.greenpeace.org/brasil/nuclear/raio-x-de-nuclear/os-riscos-da-energia-nuclear . Acesso em 12 dez 2009.

SCHAMIS, C. Não moro no Leblon. Disponível em: http://opiniaoenoticia.com.br/opiniao/artigos/nao-moro-no-leblon/. Acesso em 12 dez 2009.

‘Science’ aponta cansaço da opinião pública nos EUA com debate climático. Disponível em:http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL1387012-5603,00-SCIENCE+APONTA+CANSACO+DA+OPINIAO+PUBLICA+NOS+EUA+COM+DEBATE
+CLIMATICO.html . Acesso em 12 dez 2009.

SOUZA, W. A reforma na formação de professores para o ensino básico. Disponível em:http://www.monitormercantil.com.br/mostranoticia.php?id=70227 . Acesso em 19 nov 2009.

Qual o argumento que sustenta a tese de que a embalagem é uma forma de conquistar o consumidor?

Resposta:Um argumento que sustenta a tese de que “a embalagem agora é uma forma de conquistar o consumidor” é que: os consumidores são atraídos pela embalagem.

Como estabelecer relação entre a tese e os argumentos?

Um argumento é precisamente uma tentativa de defender uma ideia com base noutras ideias. À ideia que se quer provar chama-se «conclusão» e às ideias em que nos baseamos chama-se «premissas». Assim, a tese é a conclusão que queremos provar ou defender, e as razões em que nos apoiamos são as premissas.

Que beneficie todos os setores 5º parágrafo o termo destacado Refere

Que beneficie todos os setores. " (5º parágrafo), o termo destacado refere-se a ambiente.

Qual a tese apresentada pelo autor no texto cultura e sociedade?

O enunciado solicita o argumento para a tese de que "a sociedade moderna tem utilizado de forma irracional seus recursos hídricos" (esse é o posicionamento do autor, o seu ponto de vista).