Revista: Atlante. Cuadernos de Educación y Desarrollo ISSN: 1989-4155 Show
Autores e infomación del artículoKathleen Tavares Motta* Kézia Barbosa Martins** Jadson Justi*** Universidade Federal do Amazonas, Brasil Email: RESUMO Esta pesquisa objetiva investigar a atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares, buscando verificar quantos e quais pedagogos atuam nesses espaços, discutir aspectos da formação inicial deles e a efetivação do trabalho pedagógico nos referidos ambientes, analisando a relevância das ações pedagógicas e os desafios enfrentados. O estudo foi desenvolvido sob uma abordagem qualitativa, com investigação em campo nas instituições educativas não escolares de Parintins, Amazonas, Brasil, que possuem em seu corpo profissional, o pedagogo. Foram realizadas entrevistas com duas pedagogas que contribuíram para a produção dos dados. Realizaram-se discussões sobre a formação inicial do pedagogo e as ações pedagógicas desenvolvidas nos espaços educativos não escolares. Conclui-se que a atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares demonstra um novo campo de trabalho desse profissional, que sai dos muros da escola formal para atuar em outros espaços educativos que possibilitam minimizar as necessidades e problemáticas sociais da população. Palavras-chave: Pedagogia – Educação – Espaços educativos não escolares – Atuação do pedagogo – Sociedade. ACTUACIÓN DEL PEDAGOGO EN ESPACIOS EDUCATIVOS NO ESCOLARES RESUMEM Esta investigación objetiva investigar la actuación del pedagogo en lugares más allá de la escuela, con el objetivo de verificar cuántos y cuáles pedagogos actúan en esos espacios, discutir aspectos de la formación y la efectiva actuación del trabajo pedagógico en los referidos ambientes, analizando la importancia de las acciones pedagógicas y los desafíos enfrentados. El estudio presenta un abordaje cualitativo, con investigación en campo en las instituciones educativas no escolares de Parintins, Amazonas, Brasil, que poseen en su cuerpo profesional, el pedagogo. Se realizaron entrevistas con dos pedagogas que contribuyeron al desarrollo de la investigación. Se realizaron discusiones sobre la formación inicial del pedagogo y las acciones pedagógicas desarrolladas en los espacios educativos no escolares. Se concluye que la actuación del pedagogo en los referidos espacios en la realidad local demuestra un nuevo campo de trabajo de ese profesional, que sale de las dependencias de la escuela formal para actuar en otros espacios educativos que posibilitan minimizar las necesidades y problemáticas sociales de la población. Palabras clave: Pedagogía – Educación - Espacios educativos no escolares - Actuación del pedagogo - La sociedad. PEDAGOGUE ACTIVITY IN NON-SCHOOL EDUCATIONAL SPACES ABSTRACT This research aims to investigate the role of the pedagogue in non - school spaces, in order to verify how many and which pedagogues work in these spaces, to discuss aspects of the formation and the effective performance of the pedagogical work in these environments. The study presents a qualitative approach, with interviews conducted with two pedagogues in non-school institutions in Parintins, Amazonas, Brazil. Discussions were carried out on the initial formation of the pedagogue and the pedagogical actions developed in non-school educational spaces. It is concluded that the pedagogue's performance in these spaces in the local reality demonstrates a new field of activity of this professional, which leaves the formal school premises to work in other educational spaces that make it possible to minimize the needs and social problems of the population. Keywords: Pedagogy – Education – Non-school educational spaces – Performance of the pedagogue – Society. Para citar este artículo puede utilizar el siguiente formato: Kathleen Tavares Motta, Kézia Barbosa Martins y Jadson Justi (2019): “Atuação do pedagogo em espaços educativos não escolares”, Revista Atlante: Cuadernos de Educación y Desarrollo (julio 2019). En línea: 1 INTRODUÇÃO As pesquisas em torno da formação e atuação dos pedagogos em educação não escolar, as quais apontam os processos pedagógicos como objetos de intervenção em Pedagogia, configuram-se no cenário brasileiro como investigações recentes (Severo, 2015). Embora com a realização de estudos significativos sobre o tema, o contexto “não escolar”, como campo de atuação do pedagogo, ocupa-se de poucas pesquisas que abordam o trabalho pedagógico desenvolvido nesses espaços,
especialmente no município de Parintins, AM, Brasil, onde o lócus principal de atuação do pedagogo é a escola. 1.1 ASPECTOS HISTÓRICOS E POLÍTICOS DO CURSO DE PEDAGOGIA NO BRASIL Ao longo da história, o
curso de Pedagogia passou por numerosos questionamentos sobre políticas de formação, formulações de documentos legais, como regulamentações, decretos e pareceres, que destacavam a identidade, formação e atuação do pedagogo. As principais questões são destacadas com o objetivo de elucidar alguns aspectos relacionados ao curso de Pedagogia no Brasil. 1.2 DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS PARA O CURSO DE PEDAGOGIA: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO DO PEDAGOGO NÃO ESCOLAR As Diretrizes para o Curso de Pedagogia estabelecem os princípios, procedimentos e planejamentos da formação do pedagogo para atuar nas áreas de Educação Infantil, Ensino Fundamental, Gestão Educacional e nos espaços não escolares, mas de um modo menos prioritário (Brasil, 2006). Autores como Franco (2008), Libâneo (2008), Libâneo e Pimenta (2011) e Severo (2015), em seus estudos, criticam as implicações sobre a formação e atuação do pedagogo, pontuando que todo profissional que lida com a formação de pessoas, seja na escola ou em outros espaços, é um pedagogo. No entanto, esses autores ainda evidenciam que o documento direciona como base do curso de Pedagogia, a docência, sendo que esta faz parte de uma modalidade da Pedagogia, não o inverso, e a atuação do pedagogo vai muito além de ser professor. Mediante a regulamentação das Diretrizes para o Curso de Pedagogia na Resolução nº 1, de 15 de maio de 2006, do Conselho Nacional de Educação/Curso de Pedagogia, abrem-se amplas possibilidades de atuação do pedagogo, no entanto, a base da formação intensifica-se na docência (Brasil, 2006). Em seu artigo 2º, faz um destaque nas funções do formado em pedagogia, descrevendo que: Art. 2º - As Diretrizes Curriculares para o curso de Pedagogia aplicam-se à formação inicial para o exercício da docência na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, nos Cursos de Ensino Médio, na modalidade Normal, e em cursos de Educação Profissional na área de serviços e apoio escolar, bem como outras áreas nas quais sejam previstos conhecimentos pedagógicos. (Brasil, 2006). As Diretrizes exprimem a possibilidade da atuação do pedagogo em espaços de educação não escolar, mas com uma contradição explícita que pode ser
vista delineada na formação do curso de Pedagogia onde são concentrados os saberes e práticas específicas para a educação escolar (Severo, 2015). O artigo 2º menciona “outras áreas” como sendo os espaços não escolares, sem dizer como serão os meios formativos para tais espaços, assim destina a formação do pedagogo para atuar primordialmente na docência, dando total visibilidade formativa para a atuação em contexto escolar. Essa formação do pedagogo voltada para a atuação escolar, por mais que
seus saberes constituídos sejam necessários e fundamentais, reduz os conhecimentos de Pedagogia, que ela abarca uma dimensão educativa muito além da escola. IV – trabalhar, em espaços escolares e não escolares, na promoção da aprendizagem de sujeitos em diferentes fases do desenvolvimento humano, em diversos níveis e modalidades do processo educativo;
Pode-se ilustrar que o pedagogo quando formado poderá atuar nos ambientes escolares e não escolares desenvolvendo práticas educativas que promovam a aprendizagem humana, trabalhando nas diferentes fases do processo educativo atrelado à gestão e ao planejamento, desenvolvendo
projetos educacionais que contribuam para o enriquecimento do conhecimento. As Diretrizes para o Curso de Pedagogia não dizem quais são esses ambientes não escolares que o pedagogo estará apto para atuar, já que há uma variedade de práticas educativas na sociedade. Com isso, Libâneo (2008: 67) salienta que “[...] se há uma diversidade de práticas educativas, há também uma diversidade de pedagogias: a pedagogia familiar, a pedagogia sindical, a pedagogia dos meios de comunicação, a pedagogia dos
movimentos sociais etc., e também, a pedagogia escolar.” O autor deixa claro que onde houver práticas educativas com intencionalidades, a atuação de um pedagogo é indispensável como articulador do trabalho pedagógico, exemplificando quais são esses espaços educativos fora do âmbito escolar, onde a pedagogia se insere. a) investigações sobre processos educativos e gestoriais, em diferentes situações institucionais: escolares, comunitárias, assistenciais, empresariais e outras; A formação do pedagogo deve perpassar por esses aspectos mencionados, buscando um direcionamento aberto que contemplem os diferentes espaços institucionais. Uma formação que utilize a teoria e prática como mão dupla, onde uma depende da outra para a atuação em ambientes escolares e não escolares como enriquecimento profissional indispensável. Por isso, os estágios
supervisionados são muito relevantes, como forma de dialogar ainda na formação inicial, a teoria e a prática. Félix (2015) salienta que no estágio supervisionado os objetivos devem visar ao aperfeiçoamento pessoal e profissional do acadêmico para que, dentro dos critérios científicos, possa refletir, ética e criticamente sobre as informações, experiências recebidas e vivenciadas durante o processo de formação inicial. 1.3 EDUCAÇÃO NÃO ESCOLAR E PRÁTICAS PEDAGÓGICAS: ALGUMAS DISCUSSÕES A educação apresenta-se como caráter de relevância para o desenvolvimento da sociedade que abarca uma diversidade cultural de conhecimentos e valores que desencadeiam os pilares
para a formação humana. As práticas educativas podem ocorrer em diferentes ambientes e espaços, porém, tradicionalmente, a escola é vista como a detentora do poder educativo; outros espaços fora da sala de aula formal não são levados tão a sério quanto na escola. No entanto, a educação está em todos os lugares possíveis, seja na escola, na igreja, em casa ou até mesmo conversando na rua com os amigos. Emerge “[...] O novo cenário da educação que se configura no século XXI trazendo novas
possibilidades de espaços de trabalho pedagógico. A educação em espaços não escolares vem confirmar a realidade que vivenciamos [...]” (Cunha et al., 2013: 36). Empresas, organismos públicos, departamento estatais, movimentos sociais, organizações não governamentais, instituições de saúde, centros comunitários, agências de comunicação, entre outros espaços, passaram a reconhecer e intensificar a dimensão educativa de serviços ofertados à população e em seus processos de gestão [...] (Severo, 2015: 83). A iniciação valorativa da educação não escolar deu-se pelo fato de que nesses espaços começaram a compreender a necessidade de práticas pedagógicas que melhorem os serviços oferecidos. Franco (2008)
menciona que a comunidade vem ao longo dos tempos aproximando as funções do conhecimento formal e informal e é nesse sentido que se corrobora a necessidade de ampliação do trabalho pedagógico a fim de potencializar a formação e a aprendizagem. 2 METODOLOGIA Os procedimentos metodológicos da investigação foram desenvolvidos a partir da abordagem qualitativa com enfoque crítico-dialético, o qual se configura nos “[...] estudos sobre experiências, práticas pedagógicas, processos históricos, discussões filosóficas ou análises contextualizadas a partir de um prévio referencial teórico.” (Gamboa, 2000: 96). Assim,
foi possível verificar os campos de atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares no município de Parintins, AM, bem como discutir sobre a formação e atuação pedagógica do pedagogo em espaços educativos não escolares na realidade do município em questão e contribuir significativamente com dados e análises sobre o objeto de investigação. 3 RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO ESCOLARES O município de Parintins, AM, possui um panorama educativo centrado nas escolas formais; são raros os espaços não escolares com a presença de pedagogos como articuladores do processo educativo. Após uma busca em campo, nas possíveis instituições que caberiam funções educativo-pedagógicas, identificaram-se quantos e quais pedagogos com formação em Pedagogia trabalhavam nos diferentes espaços não escolares. O Quadro 1 demonstra a presença de pedagogos nas referidas instituições. Severo
(2015) destaca que a educação não formal está atrelada ao serviço da formação das pessoas para a aquisição de saberes, práticas sociais e profissionais que se contextualizam nos espaços socioeducativos por possuir um modo flexível e permeável, mas com intencionalidade. Portanto, esses espaços são relevantes para a formação das pessoas que são recebidas e atendidas nas suas diferentes realidades e necessidades. 3.2 ATUAÇÃO DO PEDAGOGO EM ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO ESCOLARES Neste tópico faz-se a discussão dos resultados da
entrevista realizada com duas pedagogas que atuam em espaços educativos não escolares no município de Parintins, as quais assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, aceitando participar espontaneamente da pesquisa, colaborando para a produção de dados com suas experiências profissionais vivenciadas na instituição em que trabalham. A realidade descrita e discutida, a partir das falas das pedagogas, insere-se nas referidas instituições, e, embora abranjam aspectos distintos, se interligam no atrelamento ao trabalho social desenvolvido. Primeiramente, referenciou-se o CAPS, que é um espaço “[...] de cuidar e apoiar pessoas com experiências do sofrimento ou transtorno mental e, ao mesmo tempo, espaço social no sentido de produção de projetos de vida e de exercício de direitos,
e de ampliação do poder de contratualidade social.” (Brasil, 2015a: 23). No município de Parintins, o CAPS é voltado para os serviços de saúde mental com perspectiva social e comunitária, onde o pedagogo trabalha exercendo sua prática pedagógica em meio a uma equipe multiprofissional que atende as necessidades dos pacientes. Acho que seja de extrema importância em todos os espaços sejam eles escolares ou não, é necessário o profissional que possa ajudar essas pessoas fora da sala de aula. Por exemplo, aqui no CAPS nós trabalhamos dentro das oficinas psicoterapêuticas, é necessário o pedagogo porque é ele que vai direcionar, selecionar, planejar as atividades que serão desenvolvidas com os pacientes. (Pedagoga A). Principalmente na área social é muito importante, como temos aqui no CRAS a orientação psicossocial, do assistente social e do psicólogo, o papel do pedagogo é também muito importante. Na escola é trabalhado o ensinar, tirar do papel para que a criança possa aprender. No social é a prevenção, trabalhamos com as famílias que estão em vulnerabilidade, desestruturadas, assim o CRAS é uma porta de entrada para elas [...].(Pedagoga B). Os relatos das participantes esclarecem a relevância do pedagogo nos espaços não escolares, principalmente onde trabalham. A Pedagoga A destaca que é necessário esse
profissional para direcionar, selecionar e planejar as atividades voltadas para oficinas psicoterapêuticas realizadas no CAPS. Libâneo (2008: 34) evidencia que “[...] o processo educativo se viabiliza, portanto, como prática social precisamente por ser dirigido pedagogicamente.” Nos espaços educativos não escolares, a ação pedagógica direciona as práticas educativas que objetivam realizar. A referida participante exerce um papel relevante para que os objetivos realizados no CAPS sejam alcançados
de modo consciente com práticas educativas que atendam às necessidades dos pacientes. O que define algo - um conceito, uma ação, uma prática como pedagógico é, portanto, a direção de sentido, o rumo que se dá às práticas educativas. É, pois, o caráter pedagógico que faz distinguir os processos educativos que se manifestam em situações sociais concretas, uma vez que é a análise pedagógica que explica a orientação do sentido (direção) da atividade educativa. Por isso se diz que a toda educação corresponde uma pedagogia. Em sequência, perguntou-se se o curso de Pedagogia, no processo de formação inicial, possibilitou a aquisição de conhecimentos e saberes pertinentes, contribuindo para atuação nos espaços não escolares. As duas pedagogas mencionaram que sim, destacando os saberes de Didática, Sociologia, Psicologia, Metodologia, entre outros, construídos na formação inicial e que deram suporte para a atuação pedagógica delas. Todavia, em uma das falas, identificou-se a necessidade de disciplinas e vivências relacionadas a esses espaços educativos não escolares: Com certeza, nós na faculdade temos a visão de trabalhar apenas na escola, mas devemos estar preparados para a área social, ou comercial, porque o pedagogo tem que ir em busca do conhecimento e estar preparado. Na área que eu atuo, por exemplo, a didática é muito importante, e o curso de pedagogia oferece a didática, o planejamento, avaliação e as questões pedagógicas que utilizo na minha atuação de pedagoga social. As metodologias também ajudam para o desenvolvimento do meu trabalho, porque trabalho com diferentes usuários, então devo ter a linguagem voltada para cada faixa etária. No curso de pedagogia não tive nenhuma disciplina específica voltada para a área da educação social não escolar, mas sem o curso de pedagogia não estaria atuando nessa área, pois foi a minha formação que resultou na possibilidade de atuação. (Pedagoga B, grifo nosso). Pode-se destacar que na formação inicial da pedagoga, ela não teve uma disciplina específica voltada para a área pedagógica social não escolar, os cursos de Pedagogia priorizam os meios formativos para o pedagogo escolar, que atua somente na escola. Libâneo (2011: 79) afirma que para o “[...] trabalho pedagógico exige-se preparação profissional prévia, sistemática e qualificada.” No entanto, o pedagogo necessita estar preparado para atuar nos diversos espaços educativos da
sociedade; a formação inicial do pedagogo precisa focar no campo pedagógico para que se possa saber direcionar a prática educativa não somente na escola, mas em outros espaços educativos. Aqui no CAPS é um trabalho pedagógico diferenciado, diferente do trabalho realizado na escola. Juntamente com a equipe conversamos que tipo de atividade vai ser terapêutico, vai ser importante para os pacientes, o que eles realmente gostam de fazer para que tenham interesse, então nós buscamos atividades voltadas principalmente para geração de renda, algo que eles possam fazer, uma ocupação que possa gerar um retorno para eles e que também possam se sentirem úteis e importantes. Passeios são planejados também para saírem desse ambiente para que a sociedade possa saber que eles são pessoas que podem e devem conviver com todos. Há também o trabalho de aproximar a família do CAPS, do tratamento do paciente, se a família não acompanhar e se aproximar do seu doente o nosso trabalho não vai surtir efeito. (Pedagoga A). O trabalho pedagógico realizado pela pedagoga do CAPS remete um trabalho diferenciado na qual necessita
promoção de atividades que sejam terapêuticas de acordo com as necessidades de cada paciente. Nota-se que há a preocupação de levar em conta no que os pacientes gostam de fazer para que sejam geradas atividades que os motivem e possam se sentir úteis. A pedagoga contribui, por meio dos processos pedagógicos, para o tratamento psicológico de cada paciente, e para isso precisa conhecer e compreender a realidade individual do paciente para poder realizar seus afazeres. Cunha et al. (2013) destacam
que é necessário compreender a realidade para buscar respostas e alternativas de superar as adversidades. Trabalhamos muito por meio de projetos e parcerias, temos projetos voltados para a dança, música com instrumentos, artesanatos através do Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família. A família vem, toda quinta-feira, fazemos palestras com as mães sobre prevenção a saúde, todo mês vem um palestrante de fora. Muitas vezes não consigo encontrar facilmente, mas sempre buscamos alternativas, como trazendo enfermeiros para palestrar. Então isso é muito bom porque as mães estão sabendo de coisas que não sabiam sobre direitos e deveres. Trabalhamos muito assim com os nossos usuários, as crianças de 5 a 12 anos, adolescentes, jovens, adultos e idosos. Pode-se perceber a preocupação da pedagoga em orientar as famílias, desenvolvendo palestras informativas que promovam a prevenção da saúde e o conhecimento dos direitos e deveres que elas precisam saber para que possam compreender as implicações que as cercam e exercerem a cidadania. A Pedagoga B busca parcerias com pessoas que estejam aptas para palestrarem, e essa atitude mostra o seu empenho em levar para o CRAS algo que esteja condizente com as necessidades que as pessoas enfrentam. 3.3 DESAFIOS ENFRENTADOS POR PEDAGOGOS NOS ESPAÇOS EDUCATIVOS NÃO ESCOLARES Desenvolver práticas pedagógicas nos espaços educativos não escolares implica colocar em questão os saberes teóricos e práticos para desempenhar papéis educativos, os quais suscitam desafios e dificuldades no percurso do exercício profissional do pedagogo. O trabalho em espaços escolares e não escolares pode possuir as suas realidades problemáticas comuns ligadas aos desafios da socialização e formação humana na contemporaneidade (Severo, 2015). Com isso, Todos os pedagogos educadores seriamente interessados nas ciências da educação, entre elas a Pedagogia, precisam concentrar esforços em propostas de intervenção pedagógica nas várias esferas do educativo para enfrentamento dos desafios colocados pelas novas realidades [...] (Libâneo, 2006: 132). A atuação do pedagogo nos espaços educativos perpassa por desafios
e dificuldades a serem enfrentados, na qual se anseia por profissionais que estejam engajados com a educação e que não encurtem esforços para a superação dos obstáculos vivenciados. Gostaria que nós tivéssemos mais participação em cursos de formação, mas é muito difícil. Quando tem algum curso, as vezes não ficamos sabendo, nem sempre temos acesso à internet, por exemplo, ultimamente a gente ficou sabendo que teve um seminário em Manaus na área da saúde mental muito importante, e nós perdemos porque não sabíamos de nenhuma informação e orientação. Acredito que a participação nossa em cursos de formação iria ajudar muito na nossa prática de trabalho com os pacientes. (Pedagoga A). A pedagoga do CAPS destaca a falta de participação em eventos e cursos de formação
voltados para a área de saúde mental, que contribuiriam profissionalmente para melhorar sua prática pedagógica desenvolvida com os pacientes. O pedagogo nesses espaços, principalmente no CAPS, que atende pessoas com transtornos mentais, precisa adquirir conhecimentos referentes ao campo da psicologia da saúde para poder realizar sua prática de forma eficaz. Por mais que a graduação em pedagogia tenha a disciplina de psicologia da educação, não dá o suporte necessário para os conhecimentos mais
aprofundados sobre as problemáticas psicológicas e os transtornos psiquiátricos. Por isso, para o pedagogo que lida com a área da saúde mental, é necessária uma formação continuada, especializações voltadas para a área, que contribuirão para um planejamento de ações e atuação pedagógica significativas na vida das pessoas que necessitam de atenção psicossocial. As dificuldades são muitas, como por exemplo, sobre materiais didáticos que não temos muito, temos dificuldade na palestra em passar um vídeo e não ter o datashow. Outros profissionais não têm comprometimento nas suas funções e acabam prejudicando o meu trabalho e a vida dos usuários também, porque são eles que devemos tratar bem. Pelas dificuldades que passam, estão vindo calejados com as coisas que acontecem em suas vidas e temos que abraçá-los do jeito que for. E essa é a grande dificuldade que nós pedagogos queremos fazer acontecer e não há um respaldo, recurso. Mas, a nossa equipe é bem unida, nós fazemos acontecer dentro das nossas possibilidades. (Pedagoga B). Reconhece-se que os pedagogos que atuam nos espaços educativos não escolares vivenciam
desafios cotidianamente, cada realidade exprime suas dificuldades, sejam em relação à necessidade de formação específica ou à falta de recursos didáticos no desenvolvimento da prática pedagógica. Hoje, com as mudanças recorrentes da sociedade, o pedagogo tem que estar preparado para lidar com essas demandas sociais que anseiam por práticas educativas em consonância com a diversidade social e as inúmeras problemáticas. 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Conclui-se este estudo com
várias reflexões sobre a relevante atuação do pedagogo nos espaços educativos não escolares. Na realidade de Parintins são necessárias mais oportunidades de profissionais pedagogos nesses espaços. As duas universidades públicas instaladas no município formam continuamente pedagogos que podem atuar não somente na escola, mas também nos espaços educativos não escolares. Desse modo, as transformações sociais vigentes na atualidade necessitam da formação de pedagogos e atuação pedagógica com caráter
dinâmico, diversificado e significativo, cujos profissionais que executem processos educativos observem os diferentes espaços e contextos necessário para uma boa atuação. REFERÊNCIAS Bogorny, Q. L. S. (2015): Atuação dos pedagogos em universos não escolares. Eventos Pedagógicos, v. 6, n. 2, pp. 200-208. Disponível em: http://sinop.unemat.br/projetos/revista/index.php/eventos/article/download/1879/1435. Consultado em
06/05/2019. *Pesquisadora da Universidade Federal do Amazonas. Nota Importante a Leer: O que e prática educativa Segundo Libâneo?Essa visão da pedagogia fundamenta-se em um conceito ampliado de educação. Para Libâneo, as práticas educativas não se restringem à escola ou à família. Elas ocorrem em todos os contextos e âmbitos da existência individual e social humana, de modo institucionalizado ou não, sob várias modalidades.
Qual o papel do pedagogo segundo Libâneo?Já o papel do pedagogo, Libâneo (2004 p. 221) afirma que é: “Planejar, coordenar, gerir e acompanhar e avaliar todas as atividades pedagógico-didáticas e curriculares da escola e da sala de aula, visando atingir níveis satisfatórios de qualidade cognitiva e operativa das aprendizagens dos alunos”.
Quais os tipos de educação de acordo com José Carlos Libâneo?A educação pode ser também, formal ou não-formal, dependendo sempre dos objetivos. A educação não-formal é aquela realizada fora dos sistemas educacionais convencionais, e a educação formal é a que acontece nas escolas, agências de instrução e educação ou outras.
O que distingue uma atividade profissional do docente de um pedagogo segundo Libâneo?O pedagogo atua não somente com a prática pedagógica designada aos docentes, mas com trabalhos pedagógicos que visam além da ação educativa formal a não-formal, no entanto, intencional. Como afirma Libâneo (2005, p.
|