Quais fatores historicos vinculam se a formação do feudalismo europeu

O feudalismo foi um conjunto de práticas envolvendo questões de ordem econômica, social e política. Entre os séculos V e X, a Europa Ocidental sofreu uma série de transformações que possibilitou o surgimento dessas novas maneiras de se pensar, agir e relacionar. De modo geral, a configuração do mundo feudal vinculou-se a duas experiências históricas concomitantes: a crise do Império Romano e as Invasões Bárbaras.

  • Ruralização da economia

A economia sofreu uma retração das atividades comerciais, as moedas perderam seu espaço de circulação e a produção agrícola ganhou caráter subsistente. Nesse período, a crise do Império Romano favoreceu um processo de ruralização das populações, que não mais podiam empreender atividades comerciais. Isso ocorreu em razão das constantes guerras promovidas pelas invasões bárbaras e a crise dos centros urbanos constituídos durante o auge da civilização clássica.

  • Novos tipos sociais: o senhor feudal e o servo

A ruralização da economia também atingiu diretamente as classes sociais instituídas no interior de Roma. A antes abrangente classe de escravos e plebeus veio a compor, com os povos germânicos, uma classe campesina consolidada como a principal força de trabalho dos feudos. Trabalhando em regime de servidão, um camponês estaria atrelado à vida rural em virtude das ameaças dos conflitos da Alta Idade Média e da relação pessoal instituída com a classe proprietária, ali representada pelo senhor feudal.

O senhor feudal representava a classe nobiliárquica detentora de terras. Divididos por diferentes títulos, os nobres poderiam ser responsáveis desde a administração de um feudo até a cobrança de taxas ou a proteção militar de uma determinada propriedade. A autoridade exercida pelo senhor feudal, na prática, era superior à dos reis, que não tinham poder de interferência direta sobre as regras e imposições de um senhor feudal no interior de suas propriedades. Portanto, assinalamos o feudalismo como um modelo promotor de um poder político descentralizado.

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  • O papel da Igreja

Ao mesmo tempo em que a economia e as relações sociopolíticas transformavam-se nesse período, não podemos nos esquecer da importância do papel da Igreja nesse contexto. O clero entrou em acordo com os reis e a nobreza com o intuito de expandir o ideário cristão. A conversão da classe nobiliárquica deu margens para que os clérigos interferissem nas questões políticas. Muitas vezes um rei ou um senhor feudal doava terras para a Igreja em sinal de sua devoção religiosa. Dessa forma, a Igreja também se tornou uma grande “senhora feudal”.

  • Renascimento comercial e urbano e a derrocada do feudalismo

No século X, o feudalismo atingiu o seu auge, tornando-se uma forma de organização vigente em boa parte do continente europeu. A partir do século seguinte, o aprimoramento das técnicas de produção agrícola e o crescimento populacional proporcionaram melhores condições para o reavivamento das atividades comerciais. Os centros urbanos voltaram a florescer e as populações saíram da estrutura hermética que marcou boa parte da Idade Média.

Por Rainer Sousa
Mestre em História

O feudalismo foi a forma de organização social e econômica instituída na Europa Ocidental entre os séculos V a XV, durante a Idade Média. Baseava-se em grandes propriedades de terra, chamadas de feudos, que pertenciam aos senhores feudais, e a mão de obra era servil.

Com a queda do Império Romano do Ocidente e a invasão dos povos bárbaros entre os séculos IV e V, a Europa atravessou um período de ruralização, isto é, os moradores da cidade se deslocaram para o campo, fugindo da instabilidade provocada pela movimentação dos bárbaros.

A partir do século XV, o feudalismo entrou em crise por conta das mudanças ocorridas na Europa, como os renascimentos cultural, urbano e comercial.

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O que é feudalismo?

De acordo com Jacques Le Goff, um dos principais estudiosos da Idade Média, o feudalismo é “um sistema de organização econômica, social e política baseado nos vínculos de homem a homem, no qual uma classe de guerreiros especializados — os senhores —, subordinados uns aos outros por uma hierarquia de vínculos de dependência, domina uma massa campesina que explora a terra e lhes fornece com que viver”.

O feudalismo foi um modelo social e econômico que vigorou dos séculos V ao XV, na Europa Ocidental, e que marcou profundamente a Idade Média. Esse modelo era baseado na terra e, por meio dela, constituíam-se a atividade econômica e a estrutura social.

Quais fatores historicos vinculam se a formação do feudalismo europeu
Os feudos eram grandes propriedades de terra onde se baseavam as relações sociais e econômicas durante a Idade Média.

Origem do feudalismo

A origem do feudalismo está na crise que provocou a queda do Império Romano do Ocidente. No século III, por conta da crise econômica provocada pela falta de escravizados e das invasões germânicas, os romanos abandonaram as cidades e migraram para o campo com o objetivo de encontrar proteção e trabalho. Dessa forma, surgiam os colonatos, nos quais aqueles que encontravam abrigos no campo trabalhavam para o seu senhor.

O surgimento dos reinos germânicos, no século V, contribuiu para aprofundar o processo de ruralização europeia. Além desse movimento de saída das cidades para o campo, o enfraquecimento do poder político contribuiu para o surgimento do feudalismo.

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Características do feudalismo

  • Sociedade feudal

Uma das causas da queda do Império Romano do Ocidente foi a invasão bárbara. Os povos que estavam fora dos limites do grande império atravessaram as suas fronteiras e adentraram no território, alcançando Roma. A capital do império foi saqueada pelos bárbaros. Essa ação violenta e a desestruturação do Império Romano fizeram com que os moradores das cidades fugissem para o campo em busca de proteção e trabalho.

Nessa transição entre a queda do Império Romano, ocorrida no século IV d.C., e o início da Idade Média, observa-se a ruralização da Europa, ou seja, as cidades perderam suas forças para o campo. Os senhores feudais, os donos dos feudos, tornaram-se poderosos por conta da valorização as terras. Enquanto os imperadores concentravam poderes nos tempos de domínio romano, no feudalismo, o poder foi descentralizado nas mãos desses senhores donos das terras.

A Igreja Católica se fortaleceu nesse período ao fazer alianças com os reis bárbaros que instalaram seus domínios na Europa. Dessa forma, os povos pertencentes a esses reinos foram convertidos ao cristianismo, e o papa se tornou poderoso não somente nos assuntos celestiais, mas também políticos. Iniciava-se a tradição, que se estendeu até o século XIX, dos papas coroarem os novos reis, uma cerimônia que marcava a aproximação da Igreja com o poder político.

O clero se tornou uma classe social poderosa e atuante na formação da mentalidade medieval. A crença se baseava na força divina contra o maligno e na negação do fiel sobre os prazeres mundanos em busca da salvação da sua alma. A cultura clássica ficou guardada nos mosteiros para ser preservada das invasões, e os monges copistas tiveram papel importante na reprodução desses escritos.

A ruralização europeia promoveu o fortalecimento dos nobres. A nobreza era formada pelos senhores feudais, por cavaleiros que garantiam a segurança dos feudos e por outros donos de terras. Nessa classe social se desenvolveu a fidelidade entre suseranos e vassalos. Os suseranos eram aqueles que concediam terras e outros favores aos vassalos, e estes, em troca, deveriam retribuir o favor quando solicitados. Essa fidelidade era uma característica dos povos bárbaros e que foi incorporada nas relações sociais feudais. Fazia-se uma cerimônia para tornar público o acordo firmado.

Ao contrário da Idade Antiga, quando a mão de obra era escravizada, durante o período medieval, a mão de obra era servil. Os servos eram a maioria da população e originários daqueles que fugiram das invasões bárbaras e se abrigaram nos feudos. Em troca de moradia e proteção, os servos trabalhavam para os senhores feudais e para a sobrevivência deles mesmos e de suas famílias. A eles cabiam inúmeras exigências, cobranças sobre os usos dos utensílios pertencentes ao senhor feudal, a entrega de parte da produção, o dízimo para a Igreja.

A sociedade feudal era rural, estruturada nos feudos, e a minoria que estava no topo da pirâmide social (nobres e clero) era sustentada pela classe de maior tamanho e a única que trabalhava, a dos servos. Era uma sociedade estamental, que não permitia a mobilidade social, conforme um ditado da época: “Existem aqueles que lutam (nobres), aqueles que rezam (clero) e aqueles que trabalham (servos)”.

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Quais fatores historicos vinculam se a formação do feudalismo europeu
Os cavaleiros eram nobres que guerreavam durante a Idade Média.

  • Economia feudal

A economia durante a Idade Média era basicamente agrária, o que não significa afirmar que o comércio tenha desaparecido. Durante a Antiguidade Clássica, o mar Mediterrâneo foi o principal local do comércio marítimo. Com a expansão árabe a partir do século VII d.C., o Mediterrâneo foi conquistado por esse povo, e os europeus ocidentais não tinham alternativa a não ser a agricultura. Além disso, com a fuga das cidades para o campo, a terra se valorizou.

A prática agrícola exigia cuidado com a terra. Para isso, os servos que trabalhavam nela utilizavam instrumentos como o arado e a força dos animais domesticados. Uma técnica para manter a fertilidade do solo era a rotação das terras. Enquanto uma porção do terreno era utilizada, a outra porção ficava de repouso e era utilizada na plantação seguinte, enquanto a utilizada anteriormente ficava de repouso. Com isso, aumentou-se a produção e, consequentemente, a população.

  • Política feudal

No início do período medieval, os reis germânicos tentaram manter a unidade territorial do Império Romano. Os reis germânicos eram chefes políticos e militares, pois atuavam à frente dos seus soldados em momentos de guerra. O poder secular estava ligado ao poder religioso, por isso a Igreja Católica tinha grande influência na política medieval. Com a queda do império carolíngio, a unidade territorial se desfez e o poder se descentralizou entre os senhores feudais. Cada feudo se autogovernava, estabelecendo sua própria política.

Concessão de terras

Com a ruralização da Europa, as terras se valorizaram e se tornaram moedas de troca. O rei carolíngio, Pepino, o Breve, cedeu grande quantidade de terras para a Igreja Católica, mais especificamente na região central da Península Itálica. Surgiam assim os Estados Pontifícios, que eram territórios pertencentes ao papa e que vigoraram até a Unificação Italiana, em meados do século XIX. O atual território do Vaticano, em Roma, é o que restou desses Estados e só foi reconhecido pelo governo italiano após a assinatura do Tratado de Latrão, na década de 1920.

A doação de terras não se restringiu apenas aos monarcas da Alta Idade Média. Quem obtivesse algum terreno fazia questão de doá-lo ao clero no intuito de que tal ação seria retribuída na eternidade. Dessa forma, de doação em doação, a Igreja se tornou dona de uma grande quantidade de terras durante o período medieval. Se ela já detinha o poder espiritual, também exercia enorme poder sobre a terra.

Outra forma de concessão de terras era mediante acordos de fidelidade. As relações sociais na Idade Média eram caracterizadas dessa forma. O suserano era o proprietário de terra que a cedia para um vassalo em troca da sua fidelidade. Essa concessão era feita mediante contrato celebrado em evento público, com toda pompa e a presença de um bispo para assegurar a sua validade e a sua execução.

Crise do feudalismo

A crise do feudalismo começou a partir do século XII, quando mudanças na sociedade europeia colocaram em xeque as estruturas do feudalismo. As cidades voltaram a surgir após séculos de abandono, desde os tempos das invasões bárbaras. Houve o aumento populacional ocorrido no ano 1000, também chamado de “ano da paz de Deus”, por conta da queda significativa nas guerras medievais. Com o aumento demográfico, a produção agrícola também se expandiu, exigindo maior trabalho dos servos e o uso de técnicas mais avançadas para atender a demanda.

Outro fator que transformou a sociedade europeia foram as Cruzadas. Inicialmente eram expedições religiosas que se dirigiam até o Oriente para resgatar os locais sagrados para os cristãos e que estavam nas mãos dos islâmicos. No entanto, essas expedições ganharam outras dimensões ao trazerem para a Europa Ocidental produtos orientais, como as especiarias.

O comércio retomava suas atividades após mais de um milênio de predomínio agrícola. O mar Mediterrâneo voltava a receber expedições comerciais que interligavam o Ocidente com o Oriente. As cidades italianas de Gênova e Veneza fizeram acordos comerciais com os islâmicos a fim de manter a abertura do Mediterrâneo para essa nova onda comercial.

Surgia nesse contexto a burguesia, uma classe social formada por comerciantes que enriqueceram com as trocas comerciais de produtos orientais. Ao redor dos feudos se formavam as feiras, que faziam as negociações dos produtos; instalava-se os primeiros bancos para fazer as conversões monetárias, e as moedas voltavam a circular no Ocidente.

Após séculos de domínio eclesiástico sobre a produção cultural, o período final do feudalismo marcou a retomada o cientificismo, ou seja, da pesquisa científica no estudo sobre a natureza. Temendo represálias da Igreja, muitos cientistas faziam seus experimentos às escondidas. O humanismo começava a se fortificar na Europa, um movimento cultural que valorizava o ser humano e toda sua potencialidade. Mesmo mantendo as temáticas religiosas, as produções artísticas no final da Idade Média apontavam para as expressões de traços humanos na pintura e escultura.

Essas mudanças na Europa Ocidental são chamadas de renascimento. O europeu da transição da Idade Média para a Idade Moderna buscava fazer renascer os princípios humanistas que caracterizaram a cultura clássica greco-romana. O teocentrismo, Deus no centro do Universo, cedia lugar para o antropocentrismo, o ser humano como centro e principal medida de todas as coisas.

A crise do feudalismo não foi apenas pela retomada dos valores greco-romanos. A peste negra foi uma doença altamente infecciosa e que se alastrou por toda a Europa, matando 1/3 da população. Com o excesso de trabalho e desejosos por sair dos feudos e mudar de vida nas cidades, os servos de revoltaram contra os seus senhores, encerrando um período de mais de um milênio de obrigações e apego à terra.

Os reis começaram a ganhar força política ao liderarem as tropas militares que abafaram as revoltas servis e atuaram na linha de frente das guerras entre os primeiros reinos europeus, como a Guerra dos Cem Anos, um conflito envolvendo a França e a Inglaterra. De chefes militares, os reis ganhavam poderes políticos e começavam a se tornar monarcas absolutistas, característica dos reinos modernos.

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Resumo sobre o feudalismo

  • O feudalismo foi um modelo econômico e social, baseado na terra e na relação de fidelidade entre homens, que durou ao longo de toda a Idade Média.

  • A origem do feudalismo está no final do Império Romano, quando surgiram os colonatos — terras onde os romanos buscavam abrigo e, em troca, trabalhavam para os seus donos.

  • Características do feudalismo: política descentralizada, economia rural e sociedade estamental.

  • Concessão de terras acontecia dentro da relação de fidelidade entre os homens, na qual o suserano concedia uma porção de terras para um vassalo.

  • A crise feudal se deu por conta das mudanças na Europa provocadas pelos renascimentos cultural, urbano e comercial.

Exercícios resolvidos

Questão 1 – Leia os itens e assinale o que corretamente traz uma característica da sociedade feudal durante os séculos V ao XV:

A) Era uma sociedade industrial baseada na luta de classes entre operários e donos das fábricas.
B) Era estamental e não permitia a movimentação social.
C) Nela a igualdade predominava entre as classes sociais.
D) Era capitalista, e o acúmulo de capital marcou a atividade burguesa da época.

Resolução

Alternativa B. A sociedade feudal não permitia a mobilidade social. No período medieval, cada classe social tinha sua função predeterminada e era praticamente impossível haver ascensão social. Os que lutavam eram os nobres, que, além de serem os donos das terras, formavam os cavaleiros que lutavam nas guerras. O clero católico tinha como função a oração e estabelecer a ponte entre o céu e a terra. Os servos, maioria da população, era a grande mão de obra, que produzia para si e para os que estavam acima na pirâmide social.

Questão 2 – Houve uma crise que levou ao fim do feudalismo e promoveu a transição da Idade Média para a Idade Moderna. Leia os itens seguintes e assinale qual alternativa, de forma correta, aponta as causas dessa crise:

A) Os renascimentos urbano, comercial e cultural.
B) A Revolução Industrial, que substituiu a agricultura como principal atividade econômica.
C) As guerras religiosas promovidas após a Revolução Inglesa.
D) O fim do absolutismo na Europa.

Resolução

Alternativa A. As mudanças na Europa entre os séculos XI a XV desestabilizaram a estrutura social da Idade Média. O renascimento das cidades, do comércio e cultural promoveu a crise que levou ao fim do feudalismo no Ocidente.

Quais fatores históricos Vinculam

O feudalismo De modo geral, a configuração do mundo feudal vinculou-se a dois fatores históricos que ocorreram ao mesmo tempo: a crise do Império Romano do Ocidente e as invasões germânicas.

Quais são as principais características do feudalismo europeu?

Aas principais características do feudalismo estavam na forma de divisão da sociedade: clero, nobres e servos. O poder estava centralizado no senhor feudal, o dono das terras. O clero cuidava da espiritualidade e os camponeses trabalhavam em troca de terem terra para cultivar.

Qual é uma das características a ser reconhecida no feudalismo europeu?

(Fatec-SP) Uma das características a ser reconhecida no feudalismo europeu é: A sociedade feudal era semelhante ao sistema de castas. Os ideais de honra e fidelidade vieram das instituições dos hunos. Vilões e servos estavam presos a várias obrigações, entre elas, o pagamento anual de capitação, talha e banalidades.