Por que o território do Brasil continuou um só e seus países vizinhos se separaram?

Por causa de diferenças nos processos de colonização e de independência. “Ao contrário da América portuguesa, não existiu unidade administrativa na América espanhola”, diz a historiadora Libertad Borges Bittencourt, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Isso aconteceu porque a Espanha dividiu seus territórios na América em quatro grandes vice-reinados, além de outras capitanias gerais e intendências. No Brasil, a criação das capitanias hereditárias foi uma experiência parecida. Mas esse sistema não deu certo por aqui e a Coroa portuguesa acabou assumindo diretamente o controle da sua colônia. Já nas terras espanholas a divisão administrativa funcionou tão bem que se tornou difícil de ser revertida após o início dos processos de independência.

As áreas sob domínio espanhol eram administradas por vice-reis, que estabeleceram suas próprias estruturas locais de governo, embora mantivessem a fidelidade ao rei da Espanha. Outro fator importante para a fragmentação dos países foi a maneira como aconteceram as independências nas colônias. “Na América espanhola elas ocorreram em contextos de guerra. As classes governantes locais impuseram a fragmentação, num loteamento de espaço e poder”, diz Libertad. Após a independência dos vários países, ocorreram tentativas frustradas de unir as nações recém-nascidas. Esse era um dos ideais do líder revolucionário venezuelano Simon Bolívar (1783-1830).

Continente dividido
A América espanhola teve vice-reinados que depois deram origem às nações

1 – Vice-reinado do Rio da Prata

Fragmentou-se em quatro países: Bolívia, Paraguai, Argentina e Uruguai. Brigas políticas entre a província central de Buenos Aires e outras províncias interiores levaram à separação da Bolívia e do Paraguai. A região do atual Uruguai foi disputada por argentinos e brasileiros até virar uma nação independente

2 – Vice-reinado do Peru

Foi o vice-reinado que mais manteve sua unidade territorial. Era formado basicamente por apenas um país atual, o Peru, que era o centro do poder espanhol na América do Sul

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3 – Vice-reinado da Nova Espanha

Incluía boa parte do território atual do México, abrangendo ainda regiões incorporadas mais tarde ao sudoeste dos Estados Unidos. Era a mais rica colônia espanhola e a capital do vice-reino, a Cidade do México, era a maior cidade das Américas

4 – Vice-reinado da Nova Granada

Englobava o Equador, a Colômbia e o Panamá. A invasão da Espanha pela França em 1808 desestabilizou as colônias e, na Nova Granada, juntas locais substituíram os governantes espanhóis. Isso ocorreu em momentos distintos em cada uma das regiões do vice-reinado, contribuindo para a sua divisão

5 – Terras de segunda

Os territórios que não faziam parte dos quatro vice-reinados foram divididos em capitanias gerais ou intendências, regiões administrativas que recebiam menor atenção da coroa espanhola por abrangerem terras consideradas de baixo valor econômico e estratégico

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Por que as terras da Espanha na América viraram vários países?

Por causa de diferenças nos processos de colonização e de independência. “Ao contrário da América portuguesa, não existiu unidade administrativa na América espanhola”, diz a historiadora Libertad Borges Bittencourt, da Universidade Federal de Goiás (UFG). Isso aconteceu porque a Espanha dividiu seus territórios na América em quatro grandes vice-reinados, além de outras capitanias gerais e […]

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Os velhos livros didáticos de história costumavam descrever a Independência do Brasil como um processo único, uma verdadeira jabuticaba, quase uma aberração. Os autores, para comprovar a tese, comparavam a América portuguesa com a América espanhola, que, ao tornar-se independente, mergulhou em guerras civis, aboliu o trabalho servil, pulverizou-se em diversos países e adotou o modelo republicano.

Hoje se sabe que a Independência do Brasil envolveu, sim, confrontos armados. O jornalista Leonencio Nossa, autor do livro As Guerras da Independência do Brasil (Editora Topbooks), afirma:

— Houve violência e correu muito sangue. Travaram-se batalhas entre brasileiros e portugueses na Bahia, no Piauí, no Maranhão, no Grão-Pará. A situação só se acalmou em 1826. Mesmo assim, grupos políticos e sociais descontentes com o Brasil surgido na Independência continuaram se rebelando e pegando em armas até 1853.

A Batalha do Jenipapo, no sertão do Piauí, em 1823, envolveu quase 4 mil soldados dos dois lados e deixou pelo menos 200 mortos. No mesmo ano, nas proximidades de Belém, cerca de 200 combatentes apoiadores de Portugal que estavam detidos no porão de um navio de guerra foram sumariamente executados, asfixiados por nuvens de cal viva. O episódio fico conhecido como massacre do brigue Palhaço.

O jornalista lembra que o próprio D. Pedro I atribuiu a morte de um de seus filhos, ainda bebê, à violência da época da Independência. Perseguido por tropas portuguesas, que queriam levá-lo à força para Portugal, fugiu com a família do Paço de São Cristóvão para a Fazenda de Santa Cruz. O príncipe João Carlos já tinha a saúde debilitada e piorou na fuga. Ele não suportou o calor do verão do Rio de Janeiro e morreu em fevereiro de 1822, semanas antes de completar um ano de vida. Se não tivesse morrido, teria sido o segundo imperador brasileiro.

Os países vizinhos do Brasil aboliram a servidão indígena e a escravidão africana não por humanidade, mas, entre outras razões, para atrair o máximo possível de soldados para os exércitos formados em suas guerras de independência. E nenhum desses países dependia economicamente tanto dos escravizados negros quanto o Brasil.

Os Estados Unidos continuaram sendo escravistas quando se separaram da Grã-Bretanha, em 1776. Mesmo com esse aspecto conservador, os historiadores não deixam de chamar a independência das 13 colônias de Revolução Americana. A própria Revolução Francesa, de 1789, uma das mais notáveis rupturas da história da humanidade, não aboliu o trabalho escravo nas colônias pertencentes à França. 

Quanto à manutenção na Monarquia no Brasil, deve-se considerar que decisivo para isso foi a longa permanência do rei D. João VI no Rio de Janeiro. Rei europeu nenhum havia vivido em território colonial. Aliás, rei nenhum havia sequer posto os pés em qualquer território fora da Europa.

De qualquer forma, a Coroa não foi uma exclusividade do Brasil. O Haiti e o México tiveram imperadores quando se libertaram respectivamente do jugo francês e espanhol.

As elites do território brasileiro assistiram com atenção aos movimentos independentistas da América espanhola e, com o objetivo de impedir semelhante pulverização territorial, souberam identificar quais comportamentos deveriam ser copiados e quais deveriam ser evitados.

Porque o Brasil continuou um só enquanto?

Por que o Brasil continuou um só enquanto a América espanhola se dividiu em vários paises? Para o historiador brasileiro José Murilo de Carvalho no Brasil, parte da sociedade era muito mais coesa ideologicamente do que a espanhola. Carvalho argumenta que isso se deveu à tradição burocrática portuguesa.

Por que o processo de independência do Brasil foi diferente dos outros países?

No Brasil, o processo de Independência foi conduzido pela classe dominante, em sua maioria portugueses, para um herdeiro do trono português. Enquanto nos demais países, quem assumiu o poder após esse processo foi um criolo da elite local.

Porque o Brasil se manteve unido?

Havia preocupação em manter a escravidão e resistir à pressão abolicionista exercida pela Inglaterra. c) Segundo o historiador Luís Felipe de Alencastro, a unidade territorial do Brasil foi mantida porque as elites consideravam que, com um governo central forte (Império), seria mais fácil manter a escravidão.

Porque a América hispânica se dividiu em vários países enquanto a América portuguesa se manteve unificada?

Por causa de diferenças nos processos de colonização e de independência. “Ao contrário da América portuguesa, não existiu unidade administrativa na América espanhola”, diz a historiadora Libertad Borges Bittencourt, da Universidade Federal de Goiás (UFG).