Quais foram as 3 questões que levaram a proclamação da República em 1889?

"Senhor, esta noite, o 1� e o 9� Regimentos de Cavalaria e o 2� Batalh�o de Artilharia, a pretexto de que iam ser atacados pela Guarda Negra, e de ter sido preso o marechal Deodoro, armaram-se e mandaram prevenir o chefe do Quartel General de que viriam desagravar aquele marechal. O governo toma as provid�ncias necess�rias para conter os insubordinados, e fazer respeitar a lei. Acho-me no Arsenal de Marinha com meus colegas da Justi�a e da Marinha. (Ouro Preto)."

Eram 5h30 da manh� do dia 15 de novembro de 1889, quando chegou no Pal�cio Imperial de Petr�polis o telegrama com a nota de "urgente" passado pelo presidente do Conselho de Ministros, Affonso Celso de Assis Figueiredo, o visconde do Ouro Preto. Dom Pedro 2� o recebeu e leu v�rias vezes. Resolveu, mesmo assim, fazer seu passeio matinal. O pr�prio imperador foi at� a esta��o para se informar com que anteced�ncia devia solicitar o trem especial, recebendo como resposta que uma hora bastaria. O agente prometeu o transporte para �s 11h.

Logo a seguir, foi � catedral de Petr�polis, em companhia de sua esposa dona Thereza Christina, e de pessoas de sua amizade, para assistir � missa pela alma de sua irm�, dona Maria 2�, rainha de Portugal, pelo 36� anivers�rio de seu falecimento.

Na sa�da recebeu novo telegrama do visconde de Ouro Preto: "Senhor, o Minist�rio, sitiado no Quartel General da Guerra, � exce��o do Sr. Ministro da Marinha, que consta achar-se ferido em casa pr�xima, tendo por mais de uma vez ordenado debalde, por ordem do Presidente do Conselho e do Ministro da Guerra, que se repelisse pela for�a a intima��o armada do marechal Deodoro, para pedir sua exonera��o, e diante das declara��es feitas pelos generais visconde de Maracaju, Floriano Peixoto e bar�o do Rio Apa, de que, por n�o contarem com a tropa reunida, n�o h� possibilidade de resistir com efic�cia, dep�e nas augustas m�os de Vossa Majestade o seu pedido de demiss�o. A tropa acaba de fraternizar com o marechal Deodoro, abrindo-lhe as portas do quartel."

Ap�s ler o telegrama, inteirou-se da gravidade da situa��o e, dirigindo-se � imperatriz, disse: "Vamos � Corte, porque n�o se sabe o que fez Deodoro..." A imperatriz pediu a seu marido que o coche passasse pelo pal�cio antes para pegar sua valise e sua capa, mas o imperador respondeu que se quisesse acompanh�-lo, que fosse dali para a esta��o ferrovi�ria. Assim fez dona Thereza Christina.

A preocupa��o da imperatriz era com as suas joias, que havia usado dias antes, no s�bado, 9 de novembro, no baile da Ilha Fiscal, em homenagem aos oficiais chilenos do navio de guerra Almirante Cockrane, que realizavam uma visita ao Brasil. Como havia partido diretamente para Petr�polis, n�o tivera como guard�-las na Quinta da Boa Vista, pal�cio localizado em S�o Crist�v�o, no Rio.

A linha ferrovi�ria ligava Petr�polis ao distrito de S�o Francisco Xavier. A partir da� o transporte passou ser feito por terra, em carruagens e, pela primeira vez, n�o foram escoltadas por cavalarianos, para estranheza de todos.

Chegaram ao Rio �s 14h. Dom Pedro dirigiu-se diretamente ao Pa�o Imperial, localizado no centro do Rio de Janeiro (hoje Pra�a 15 de novembro), por caminho diverso do habitual. No Pa�o, foi recebido pelo comandante do vaso de guerra chileno, o capit�o de mar-e-guerra don Constantino Bannen, que ofereceu abrigo mais seguro a bordo do seu encoura�ado. O imperador agradeceu e respondeu: "Fogo de palha, comandante, como o senhor ver�. Conhe�o de sobra, a minha gente... Fogo de palha!".

Apesar de se mostrar confiante e calmo, estava seriamente sucumbido. Desde 1886, a sa�de do monarca estava debilitada, ele sofria de apneia do sono tipo obstrutivo, e de diabetes, que lhe provocava incontin�ncia urin�ria e fraqueza nas pernas. Na viagem � Europa em 1888, quando se encontrava em Mil�o, na It�lia, durante os 20 dias que permaneceu acamado, seu estado chegou a ser considerado como desesperador. Em face da gravidade de sua sa�de, chegou ao ponto de receber extrema-un��o, mas gra�as aos cuidados m�dicos conseguiu reagir.

As causas

A chamado do imperador, Ouro Preto, que havia sido preso juntamente com outros ministros e posteriormente libertado, informou com detalhes tudo que havia ocorrido envolvendo a tropa e Deodoro da Fonseca, inclusive a longa conversa havida entre eles na sede do quartel-general, quando este afirmou que se pusera na frente do Ex�rcito para ving�-lo das grav�ssimas injusti�as e ofensas recebidas do governo. Na realidade, eram boatos intencionalmente espalhados como not�cia, a intriga foi feita perante a tropa sediada no Rio de Janeiro pelo major Frederico S�lon de Sampaio Ribeiro, que estava imbu�do dessa tarefa pelos republicanos, miss�o nada honrosa para um militar, ainda mais um oficial do Ex�rcito. Outra inverdade era a ordem de pris�o contra Deodoro e o embarque para outras prov�ncias de alguns corpos do Ex�rcito, mais sabidamente comprometidos com a conspira��o. O derradeiro primeiro-ministro do Imp�rio, ou presidente do Conselho de Ministros, como era titulado naquela �poca, diria para Louren�o de Albuquerque, ministro da Agricultura: "Fomos miseravelmente tra�dos. Chamaram-nos para esta ratoeira afim de que n�o pud�ssemos organizar l� fora a resist�ncia. Antes me houvessem matado!".

Outro motivo que culminou com o advento da Rep�blica no Brasil, foi san��o da lei �urea, institu�da em 13 de maio de 1888, pela princesa Isabel, na ocasi�o regente do Imp�rio, em virtude da viagem de seu pai dom Pedro 2� a Europa para tratar da sa�de. Os propriet�rios rurais, na maioria conservadores, eram monarquistas, e com a liberta��o dos mais de 700 mil escravos que existiam no pa�s, ficaram sem m�o de obra e tiveram ainda um grande preju�zo financeiro. O descontentamento com a coroa foi enorme, e muitos agricultores passaram a apoiar o partido Republicano, e outros a partir de ent�o n�o mais defenderam o regime mon�rquico dos ataques que sofriam dos opositores, e da imprensa republicana que soube aproveitar a situa��o.

Cabe ressaltar a fun��o do marechal-de-campo Floriano Peixoto, (havia sido promovido a esse posto apenas cinco meses antes), no governo imperial ele exercia o cargo de ajudante-general, o segundo mais importante no Ex�rcito, ap�s o de ministro, para o qual havia sido nomeado pelo pr�prio Ouro Preto, por essa fun��o de estrita confian�a, era seu dever defender o regime imperial, mas na hora que deveria agir contra os rebelados, faltando com a lealdade com o governo que tinha a obriga��o de of�cio. Quando inquerido pelo presidente do Conselho para que os combatesse, Floriano saindo pela tangente, afirmou: "As bocas de fogo no Paraguai, senhor ministro, eram inimigas: aquelas que Vossa Excel�ncia est� vendo s�o brasileiras..."

E assim o Imp�rio brasileiro chegou ao fim, sem nenhuma a��o, e velada omiss�o de Floriano, que seria mantido no cargo na Rep�blica e pouco tempo depois seria ministro da Guerra em substitui��o a Benjamin Constant, vice-presidente da Rep�blica, e com a ren�ncia for�ada de Deodoro em 1891, chefe da Na��o, sem nenhum esfor�o. Seu lema era: "confiar, desconfiando..."

Durante a sangrenta revolu��o federalista que eclodiu durante o seu governo, em 1893, n�o teve compaix�o com os advers�rios, nem para seus colegas de farda e da Marinha de Guerra brasileira, e quanto menos com os civis que se revoltaram contra ele. Aos militares determinou fuzilamentos sum�rios, e, para os outros, os civis, a forca. Entre as v�timas estava o catarinense marechal Manuel de Almeida da Gama Lobo Coelho d"E�a, o bar�o de Batovi, her�i da guerra do Paraguai. N�o satisfeito, para espezinhar o povo de Santa Catarina, o nome da capital do Estado, foi mudado de Desterro para Florian�polis, que significa: "cidade de Floriano". N�o foi sem raz�o que foi chamado de "marechal de ferro".

O visconde demission�rio do Conselho de ministros se recusou a permanecer no cargo, apesar dos apelos de dom Pedro 2�. Ouro Preto sugeriu para o seu lugar o senador ga�cho Gaspar Silveira Martins, mas este estava em viagem de sua terra ao Rio de Janeiro, e s� chegaria quatro dias depois. Mas eles n�o sabiam que Silveira Martins e Deodoro da Fonseca eram inimigos por causa de uma mulher, Maria Adelaide Andrade Neves Meirelles, a baronesa de Triunfo. Deodoro havia sido comandante de armas, vice-presidente e depois presidente da prov�ncia do Rio Grande do Sul, e disputou - apesar de casado -, com o politico ga�cho e perdeu o cora��o da Baronesa.

Fato consumado

Dom Pedro 2� solicitou a presen�a do marechal Deodoro da Fonseca no Pa�o Imperial, mas os emiss�rios voltaram e lhe informaram que ele n�o receberia ningu�m por estar muito enfermo. Desde o dia anterior, v�tima de grave dispneia, ele estava t�o debilitado que fora obrigado a sair de casa em um coche e s� ent�o montou um cavalo, um baio, para entrar no quartel general no Campo de Santana, no centro do Rio. De retorno a casa, sua esposa, dona Marianinha, trancou as portas da resid�ncia, n�o permitindo o contato do marido com quem quer que fosse... Mas o tenente-coronel Benjamim Constant, o ide�logo dos republicanos, seria o �nico a ser recebido para levar-lhe os despachos iniciais do governo, como a proclama��o e a nomea��o dos novos ministros. Curiosamente esses atos haviam sido lavrados no Instituto dos Cegos, do qual Constant era diretor.

O Imperador ainda aguardou a presen�a de Deodoro, que n�o apareceu e nem apareceria. Os jornais de todo o Brasil j� traziam em manchete o advento da nova forma de regime. O primeiro a proclamar de fato a Rep�blica foi Jos� do Patroc�nio, durante a reuni�o do Conselho Municipal do Rio de Janeiro, quando desfraldou o pavilh�o republicano e, em nome do povo, declarou extinta a monarquia. O povo foi colocado � margem dos acontecimentos, e s� tomou conhecimento dos fatos ap�s estarem consumados. N�o houve nenhum momento um ato heroico, como ocorreu no dia 7 de setembro. S� depois veio o decreto de n�mero 1, assinado na cama por Deodoro da Fonseca, que se encontrava prostrado devido a doen�a, nele em seu artigo 1�, est� explicitado que ficava proclamada provisoriamente a Rep�blica no Brasil. A decis�o da mudan�a de regime partiu exclusivamente de Benjamin Constant que pressionou o velho marechal para faz�-lo.

A cidade viveu mais um dia e, � noite, nada de anormal ocorreu, excetuando-se a determina��o das autoridades de n�o haver ajuntamentos. E em torno do Pa�o, a tropa cercou dom Pedro 2�, sua fam�lia e amigos.

No dia seguinte, ap�s delibera��es que ocorreram � noite e de madrugada com o Conselho de Estado, ficou decidido que Jos� Ant�nio Saraiva, o conselheiro Saraiva, deveria formar um novo Minist�rio. Ao emiss�rio do governo, major Roberto Trompowski, ao ser consultado Deodoro, este afirmou: "Agora j� � tarde". A partir das 10h veio � ordem de n�o deixar entrar nem sair do Pa�o, quem quer que fosse. A fam�lia imperial estava literalmente presa. �s 15h foi entregue ao imperador uma carta de Deodoro da Fonseca, portada pelo major S�lon Ribeiro, comandante interino do 9� Regimento de Cavalaria, acompanhado de alguns subordinados. Nervoso, o major tratou dom Pedro 2� de Vossa Excel�ncia, depois Vossa Alteza e finalmente, de Vossa Majestade, o correto. O documento informava da situa��o insustent�vel do gabinete de Ouro Preto; da persegui��o deste contra o Ex�rcito; da situa��o do pa�s, principalmente econ�mica, e, ao final, declarava a destitui��o do imperador e a consequente proclama��o da Rep�blica no Brasil, al�m de determinar a partida da fam�lia imperial para o ex�lio em 24 horas.

Dom Pedro, ap�s da sa�da dos oficiais, ditou para Franklin Am�rico de Meneses D�ria, o bar�o de Loreto, e depois assinou a resposta ao marechal Deodoro: "� vista da representa��o escrita, que foi entregue hoje �s 3h da tarde, resolvo, cedendo ao imp�rio das circunst�ncias, partir com toda a minha fam�lia amanh�, deixando esta p�tria, de n�s estremecida, � qual me esforcei por dar constantes testemunhos de entranhado amor e dedica��o durante quase meio s�culo em que desempenhei o cargo de chefe de Estado. Ausentando-me, pois, eu com todas as pessoas da minha fam�lia, conservarei do Brasil e mais saudosa lembran�a, fazendo ardentes votos por sua grandeza e prosperidade. Rio de Janeiro, 16 de novembro de 1889. dom Pedro d�Alc�ntara."

O embarque para o ex�lio

Todos permaneceram o dia 16 detidos no Pa�o, com soldados com baionetas e cavalarianos cercando o pr�dio. Ficou acertado que no dia seguinte, domingo, 17/11, por volta das 15 h, dom Pedro 2� e os demais embarcariam, tendo sido permitido a ele assistir de manh� � missa na Capela do Carmo, vizinha ao pal�cio. Mas, de madrugada, o Conde d�Eu foi inesperadamente despertado com a chegada do seu ajudante de ordens, o tenente-coronel Jo�o Nepomuceno de Medeiros Mallet, acompanhado do brigadeiro Jos� Sime�o de Oliveira, que lhe comunicou que o governo provis�rio temia o derramamento de sangue na partida da fam�lia imperial, pois soubera que havia um grupo disposto a provocar atritos quando da sa�da do monarca.

Acordado, o Imperador foi informado que deveria se vestir para embarcar. Surpreso e revoltado, disse "que n�o sairia como um negro fugido...". Mas, por volta das tr�s da manh�, foi escoltado juntamente com a Imperatriz e toda a fam�lia, al�m de alguns amigos, para o Cais Pharoux, bem atr�s do Pa�o Imperial, hoje Pra�a XV. Somente um coche negro puxado por dois cavalos estava � disposi��o, onde foram os imperadores e a princesa Isabel; os demais seguiram a p�. Uma lancha do Arsenal de Guerra, tripulada por quatro alunos da Escola Militar, aguardava-os, sendo transportados para o pequeno cruzador Parna�ba, apelidado de "gazela do mar", fundeado na Ba�a da Guanabara, pr�ximo � Ilha Fiscal.

�s 10 horas da manh� chegaram os tr�s jovens pr�ncipes, Pedro de 14 anos, Luiz de 11 anos, e Ant�nio de 8 anos, que se encontravam em Petr�polis, acompanhados pelo seu preceptor, o bar�o de Ramiz Galv�o, e do engenheiro Andr� Rebou�as, amigo da fam�lia imperial, que havia subido a serra especialmente para trazer os filhos da Redentora e do Conde D�eu. A bordo, profundamente abalada, estava a imperatriz dona Thereza Christina, que muito chorava; n�o menos comovida estava a princesa Isabel, mas aliviada com a chegada dos seus filhos.

O segundo decreto assinado por Deodoro concedia ao Imperador deposto uma soma de dinheiro para sua viagem � Europa. O tenente Jer�nimo Teixeira Fran�a foi incumbido de levar esse documento do governo provis�rio a dom Pedro; primeiramente deveria ser entregue no Pa�o, mas o major Mallet, receando que o imperador pudesse criar algum mal estar no momento, n�o deixou entreg�-lo, o que foi feito somente a bordo do Parna�ba. Mas ele recusaria por mais de uma vez a oferta monet�ria. Entre os poucos amigos que foram se despedir de dom Pedro 2�, estava o velho almirante Joaquim Marques Lisboa, o marqu�s de Tamandar�.

Ao meio dia de 17 de novembro de 1889, a embarca��o sob o comando do capit�o-de-fragata Jos� Carlos Palmeira, levantou ferros e partiu em dire��o a Ilha Grande para encontrar o paquete Alagoas, da Companhia Brasileira de Navega��o a Vapor, o mais novo e moderno navio de passageiros da marinha mercante do Brasil, que fora requisitado especialmente pelo governo republicano, para levar a realeza destronada para o ex�lio na Europa, e o seu pequeno s�quito. Al�m dos membros da fam�lia imperial, de Andr� Rebou�as, viajaram o bar�o e baronesa de Loreto, Franklin Am�rico de Meneses D�ria, e a sua esposa Maria Amanda Lustosa Paranagu�; o marqu�s e a marquesa de Muritiba, Manuel Jos� Vieira Tosta e sua esposa Maria Jos� Velho de Avelar, amiga e dama da princesa Isabel; a octogen�ria viscondessa de Fonseca Costa, Josefina de Fonseca Costa, dama da Imperatriz por mais de 40 anos; o professor de l�nguas orientais dr. Cristian F. Seybold; o m�dico do imperador Claudio Velho de Motta Maia, conde Motta Maia, e seu filho Manoel Augusto, de 14 anos; as criadas da imperatriz Joana de Alc�ntara, Leon�dia L. Esposel, Ludomilla de Santa Mora, Maria da Gloria e Julieta Alves; o criado do pr�ncipe dom Pedro Augusto Fran�ois N. Boucher; os criados dos filhos da princesa Isabel, Eduardo Damer, e Guilherme Wagner Camerloker; o professor dos pr�ncipes mais novos Fritz Stoll, al�m de Francisco de Lemos Faria Pereira Coutinho, o conde de Aljezur, substituindo o mordomo imperial. O transbordo dos passageiros para o navio Alagoas foi realizado com dificuldades e perigos de um mar agitado, sendo a Imperatriz ajudada por dois marinheiros.

O novo governo determinou que o encoura�ado Riachuelo da Marinha de Guerra, sob o comando do ent�o capit�o-tenente Alexandrino Faria de Alencar (seria ministro da Marinha em tr�s governos da Rep�blica) fizesse a escolta do Alagoas at� a linha do Equador, j� fora de �guas territoriais brasileiras. Durante a viagem dom Pedro notou a que a velocidade da embarca��o estava muito lenta e indagou ao comandante do navio - o portugu�s, mas brasileiro por ado��o -, Jo�o Maria Pessoa, a velocidade do Riachuelo. Foi informado que era de apenas sete ou oito milhas n�uticas. Apesar de n�o ser antigo - tinha apenas pouco mais de cinco anos de uso - e dom Pedro 2� de muita boa mem�ria, sabia que quando foi constru�do sua velocidade m�xima era de 16 milhas. Concluiu-se que a embarca��o de guerra estava com problemas mec�nicos. Um dia o imperador reclamou ao capit�o Pessoa, e apontando ao 1� tenente Jo�o Augusto do Amorim Rangel, oficial da Marinha que estava a bordo para cumprir as determina��es das autoridades republicanas, juntamente com seu colega, o 2� Tenente Ant�nio Barbosa de Magalh�es Castro:

- Diga a esse mo�o que vem a bordo, que se o Riachuelo � honraria, eu dispenso; se quer dizer receio, eu n�o quero voltar. O Brasil n�o me quer, vou-me embora!

Na altura da Bahia, no dia 22 de novembro, para al�vio de todos, e em especial de dom Pedro, o Riachuelo encerrou sua miss�o, e deu meia volta para dirigir-se a Salvador, e o Alagoas pode ent�o seguir sua longa viagem, em uma velocidade compat�vel com suas caldeiras.

Durante a viagem, o jovem pr�ncipe dom Pedro Augusto, neto de dom Pedro 2�, e por ele criado e pela imperatriz, desde a morte de sua m�e a princesa Leopoldina de Bragan�a, quando contava com quase cinco anos de idade, come�ou a dar sinais de debilidade mental. Com mania de persegui��o, no seu primeiro surto psic�tico, tentou esganar o comandante do navio, a quem acusava de ter recebido dinheiro para eliminar a todos. Contido e confinado em seu camarote, foi acometido de del�rios persecut�rios, chegando a envolver seu corpo numa boia salva-vidas, temendo que o navio fosse bombardeado. Alternando momentos de excita��o e de letargia, Pedro Augusto jogava garrafas ao mar com pedidos de socorro. Pelo menos uma dessas mensagens, foi encontrada na praia de Maragogi, pr�ximo a Macei�, em Alagoas. Posteriormente seu pai, o pr�ncipe austr�aco Lu�s Augusto de Saxe-Coburgo-Gota, o internou primeiro em Graz, e depois em um sanat�rio em T�lln an der Donau, onde permaneceu por quarenta anos, at� sua morte em 1934.

No dia 1� dezembro, houve uma parada para reabastecimento em S�o Vicente, no arquip�lago de Cabo Verde, uma possess�o portuguesa, no oceano Atl�ntico, pr�xima da costa africana. Os passageiros autorizados a descer, foram visitar alguns pontos da cidade, incluindo uma igreja, onde rezaram. Dessa escala, foi i�ada na popa do Alagoas uma bandeira imitando o "M" do C�digo Internacional de Sinais, com o fundo completamente vermelho e sobre filetes brancos as 21 estrelas em filete azul, sendo a estrela do centro maior. Essa bandeira foi entregue em alto mar pelo comandante do Riachuelo ao capit�o Pessoa, como s�mbolo do novo regime brasileiro. A nova bandeira iria causar uma quase crise com Portugal, que determinou a sua retirada por n�o ser reconhecida de acordo com as normas internacionais. Para evitar maiores problemas, o governo provis�rio brasileiro determinou que durante a perman�ncia do navio em �guas portuguesas n�o fosse arvorado nenhum pavilh�o.

Quando da partida do Alagoas, o navio da marinha portuguesa Bartolomeu Dias, que estava no porto, deu uma salva de 21 tiros de canh�o. Nesse momento, foi i�ada a bandeira do Imp�rio, e todos que estavam a bordo, se levantaram e bateram palmas, alguns emocionados at� as l�grimas. Da embarca��o lusitana e de alguns navios alem�es que ali se encontravam, tripulantes e passageiros sacudiram len�os brancos. No dia seguinte, foi comemorado a bordo o 64� anivers�rio do Imperador, que ficou muito comovido ao ouvir as palavras de sauda��o do comandante Pessoa em sua homenagem, quando este ergueu um brinde, ao lado dos presentes. dom Pedro respondeu com palavras tr�mulas:

- Bebo a prosperidade do Brasil!

Em Portugal

Em 7 de dezembro, com a bandeira do Imp�rio tremulando no mastro, o Alagoas finalmente chegou a Lisboa. Dom Pedro foi recebido com honras por seu sobrinho dom Carlos, e toda a corte portuguesa. Permaneceu na capital lusitana por 15 dias. Nesse curto per�odo, visitou o t�mulo de seu pai dom Pedro I (dom Pedro IV para os portugueses), na Igreja de S�o Vicente de Fora, onde rezou, e depositou, no mesmo local, uma coroa de flores no t�mulo do rei Lu�s, recentemente falecido, tendo participado de uma missa em inten��o da alma desse seu sobrinho. Foi a escolas superiores, associa��es cient�ficas, como o Museu do Carmo, a Escola Polit�cnica, o Curso Superior de Letras, onde assistiu aulas, o bairro lisboeta da Alfama, o Jardim Zool�gico, a Escola M�dica, o Hospital S�o Jos�, a Academia de Ci�ncias, o Mosteiro dos Jer�nimos, onde colocou uma coroa no t�mulo do poeta e escritor portugu�s Alexandre Herculano, e no hotel onde ficou, recebeu algumas visitas. Esteve tamb�m nos pal�cios das Necessidades, resid�ncia dos reis de Portugal, e de Queluz, em Sintra. Nesse permaneceu em sil�ncio por muito tempo, meditando, diante da cama aonde havia falecido seu pai, em 24 de setembro de 1834. Esteve ainda na Ajuda, pal�cio real de ver�o, e em Bel�m, resid�ncia oficial dos pr�ncipes reais, para retribuir as visitas do rei e da fam�lia real portuguesa fizeram no hotel Bragan�a, onde estava hospedado com sua fam�lia e comitiva.

Seu sobrinho dom Carlos seria coroado rei de Portugal em 28 de dezembro, e dom Pedro resolveu ent�o realizar uma visita � regi�o do Minho, no norte do pa�s. No dia 22, chegou a Coimbra, sendo recepcionado pelos estudantes e professores da velha universidade, e depois seguiu para a cidade do Porto. Seu �nico intuito era n�o perturbar os festejos reais. No Porto, enquanto visitava a Academia de Belas-Artes, no mesmo dia 28, a imperatriz dona Thereza Christina, com a sa�de debilitada, sofrendo de bronquite, amargurada e abalada com a situa��o causada com a proclama��o da Rep�blica, e o consequente ex�lio, faleceu repentinamente, aos 67 anos de idade. Avisado do grave estado, retornou rapidamente ao hotel, mas quando chegou sua companheira por longos 46 anos estava morta. Sua tristeza foi profunda; em sil�ncio, chorou a partida de sua amada Thereza Christina. Sua filha Isabel, com seu marido Conde D�Eu, e seus filhos tinham ido � Espanha visitar os tios, os condes de Montpensier que l� residiam, e retornaram a Portugal assim que receberam a triste not�cia do passamento da imperatriz.

O corpo de dona Thereza Christina, depois de embalsamado, e velado na igreja da Lapa - local onde permanece guardado o cora��o do imperador do Brasil, dom Pedro I - foi transportado de trem do Porto para Lisboa e depositado no Pante�o dos Bragan�as na Igreja de S�o Vicente de Fora, ao lado da segunda imperatriz do Brasil, dona Am�lia, com a presen�a da fam�lia real portuguesa, e autoridades. Ap�s os funerais de sua esposa, permaneceu poucos dias em Lisboa, seguindo para a Fran�a, hospedando-se em Cannes, para fugir do forte inverno europeu.

Ex�lio e morte do imperador

Menos de dois anos depois, o Imperador se encontrava em Paris, para participar das sess�es do Instituto de Fran�a, na Academia de Ci�ncias, da qual era s�cio. Em 24 de novembro, foi fazer um passeio em carruagem aberta at� Saint-Cloud, nas margens do rio Sena, onde apesar do frio do inverno resolveu fazer uma caminhada. No dia seguinte, amanheceu febril, contraindo um forte resfriado e seu estado de sa�de foi se agravando.

O �ltimo imperador do Brasil veio a falecer aos vinte minutos do dia 5 de dezembro de 1891, vitimado por uma pneumonia aguda no pulm�o esquerdo, em um modesto quarto do Hotel Bedford, localizado na Rue de l�Arcade n�mero 17, tr�s dias ap�s completar 66 anos de idade. Uma placa de bronze na parede da frente do hotel lembra o fato at� os nossos dias.

Dom Pedro 2�, em seu leito de morte, estava vestido com o uniforme de marechal do Ex�rcito imperial brasileiro, com as condecora��es do Brasil, Fran�a, Portugal, e um crucifixo em suas m�os, que havia recebido do Papa Le�o XIII. Um livro, significando que descansava sobre o conhecimento, foi colocado embaixo do seu travesseiro com terra de todas as prov�ncias (hoje estados) brasileiras. Um pedido que havia deixado por escrito.

O governo franc�s resolveu prestar as �ltimas homenagens de Estado ao Imperador brasileiro, e comunicou � princesa Isabel que aceitou as honras oficiais, mas o governo brasileiro protestou por essa atitude. No Brasil, ao saberem da morte do antigo monarca, o com�rcio fechou as portas, e v�rias missas foram realizadas por sua alma por todo o pa�s.

O corpo embalsamado do imperador foi levado para a Igreja da Madalena, situada perto da Pra�a da Conc�rdia, a poucos passos do hotel onde morreu. Ao meio dia de 9 de dezembro, com o caix�o coberto com a bandeira do Imp�rio brasileiro, colocado em um catafalco elevado na nave da igreja, foi celebrada as ex�quias solenes, pelo arcebispo de Paris, com a igreja totalmente lotada, e a presen�a da Casa Militar do presidente da Fran�a, Sadi Carnot, que o representou. Al�m dos presidentes da C�mara e do Senado da Rep�blica francesa, esteve presente o c�nsul-geral de Portugal em Paris, o escritor E�a de Queiroz, todo o corpo diplom�tico, dentre in�meras autoridades.

Pelas ruas de Paris, 80 mil homens das tropas francesas, oriundas de v�rias guarni��es militares situadas em torno da capital francesa, participaram das honras. O coche f�nebre, puxado por oito cavalos cobertos de negro, foi escoltado pela guarda republicana, acompanhado por uma banda de m�sica militar tocando a marcha f�nebre de Chopin, e nada menos que 300 mil pessoas, apesar do frio, foram prestar as derradeiras homenagens a dom Pedro 2�, uma das maiores realizadas a uma autoridade na hist�ria da Fran�a. Quando o cortejo passou pela Pra�a da Conc�rdia, foram prestadas as honras militares, e uma bateria de artilharia deu as salvas de estilo. O corpo foi transportado em um trem especial para Lisboa, com uma parada em Madrid, onde a Casa Real espanhola prestou tamb�m suas homenagens. Em Lisboa, o rei dom Carlos, toda sua fam�lia, o minist�rio, altas autoridades, e milhares de pessoas participaram tamb�m das honras e despedidas ao velho imperador brasileiro. Na igreja de S�o Vicente de Fora, o cardeal dom Jos� Sebasti�o de Almeida Neto, Patriarca de Lisboa, recebeu o esquife. Depois de rezada uma missa, o ata�de com o corpo do Imperador foi colocado ao lado do jazigo da imperatriz Thereza Christina, no pante�o da fam�lia Bragan�a.

No governo Epit�cio Pessoa, em 1920, foi revogado o decreto de banimento da fam�lia imperial, e no ano seguinte a bordo do encoura�ado S�o Paulo, da Marinha de Guerra, os restos mortais de dom Pedro 2� e de dona Thereza Christina foram trazidos para o Brasil. No ano de 1939, foram finalmente depositados em um t�mulo especialmente constru�do na catedral de Petr�polis, no estado do Rio de Janeiro, em solenidade presidida pelo ent�o presidente da Rep�blica Get�lio Vargas.

*Ant�nio S�rgio Ribeiro, advogado e pesquisador. � funcion�rio da Assembleia Legislativa do Estado de S�o Paulo.

Quais foram as 3 principais questões que influenciaram o processo da Proclamação da República?

extinção do Poder Moderador; separação entre Estado e Igreja, garantindo liberdade religiosa; maior autonomia para as províncias, que, depois do 15 de novembro de 1889, transformaram-se em estados.

Quais foram os motivos que levaram a Proclamação da República em 1889?

A Proclamação da República aconteceu em 15 de novembro de 1889 e foi motivada pela insatisfação de diferentes grupos da sociedade, sobretudo os militares, com a monarquia.

Quais foram os motivos que levaram a Proclamação da República Brainly?

A crise econômica e política também foram parte dos motivos que levaram a proclamação da república no Brasil; sendo que o conflito entre o imperador e os militares foi o estopim para a proclamação da República, sendo que decidiram isso durante ainda a madrugada, convencendo o Marechal Deodoro da Fonseca a tornar-se o ...

Quais eram os interesses por trás da Proclamação da República?

A Proclamação da República representou um grande marco para a história do Brasil. O acontecimento foi resultado de um golpe de estado organizado por militares do exército e aliados ao movimento republicano, que pretendiam acabar com a Monarquia vigente no país e implantar uma República Federativa e Presidencialista.