ESPECIAL – O desastre de Mariana ocorreu em 2015 e deixou o que os ambientalistas chamam de “sequelas ambientais”. A barragem que se rompeu é de mineradora controlada pela Vale, em parceria com Samarco e BHP Billiton. O rompimento ocasionou uma vasta e espessa enxurrada de lama, que destruiu o subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana. Show
Ao romper-se, a lama foi carregada pelo rio Doce e seguiu avançando, provocando uma destruição nunca antes vista. As consequências, no entanto, não foram apenas do ponto de vista ambiental. O desastre de Mariana ocasionou a liberação de cerca de 60 milhões de metros cúbicos de dejetos de mineração, provocando a morte e extinção de diversas espécies de peixes. Em entrevista ao DRD, o engenheiro agrônomo e professor de recursos hídricos da Universidade Federal do Jequinhonha e Mucuri (UFVJM), Alexandre Sylvio Costa, deu seu ponto de vista de como foram os últimos cinco anos. “Os intensos impactos causados na bacia se estenderam até o litoral, promovendo alterações nas águas marinhas do Estado do Espírito Santo, na região da foz do rio Doce, impacto este que se estendeu por centenas de quilômetros pelo mar aberto e no litoral”, disse. O que tem sido feito?Após cinco anos da tragédia que assolou a bacia, diversas ações de recuperação, mitigação e compensação ambiental foram e estão sendo realizadas pela Fundação Renova, criada pela empresa Samarco para atuar nesse processo com a elaboração e execução de projetos orientados pelo TTAC e pelas decisões do Comitê Interfederativo, criado pelo Governo Federal. Periquito-MG, 25 de agosto de 2020. Fundação Renova. Na imagem, nascente em processo de revitalização. Imagem: NITRO Histórias VisuaisDesde a sua criação, nos últimos anos, a fundação Renova atuou de forma mais intensa, considerando a vertente ambiental, no processo de mitigação de danos nas áreas mais próximas do rompimento, áreas que foram mais impactadas, com intenso trabalho de recomposição florestal e mitigação nos rios Gualaxo e Carmo. Outro trabalho que tem-se realizado é a compensação ambiental, com projetos de recuperação ambiental em áreas de proteção nas propriedades rurais, como topos de morros e proteção de nascentes, além do pagamento por serviços ambientais ao produtor rural e instalação de sistemas de tratamento de esgoto nas propriedades rurais. Todos esses projetos vêm sendo realizados na bacia do rio Doce e suas sub-bacias. Segundo Alexandre Sylvio, apesar desses trabalhos de recuperação e mitigação ambiental, as ações básicas em relação à recuperação do rio Doce e seu leito, com a retirada dos rejeitos, ainda não tiveram início. “O problema começa na região de Candonga (Hidrelétrica Risoleta Neves), que está desativada e com uma estimativa de aproximadamente 8 milhões de metros cúbicos de rejeitos em sua barragem, com o problema se estendendo por todo o rio Doce, principalmente nas regiões das barragens, onde grande parte do material está depositado, devido à característica do rejeito de elevada densidade”, afirmou. Outro ponto destacado pelo agrônomo é a sobrevivência das espécies de peixes no rio Doce. “Um estudo que, segundo a Fundação Renova, foi iniciado seria em relação aos animais silvestres que vivem na região do rio Doce. Será que o consumo da água do rio Doce estaria causando algum tipo de alteração na saúde dos animais ou algum tipo de mutabilidade? E a vegetação das matas ciliares? Estariam absorvendo elementos minerais tóxicos e disponibilização na cadeia biológica?”, questionou.
Situação do rio Doce 2020Passados cinco anos do rompimento da barragem em Mariana, qual foi a mais recente análise feita no rio Doce para identificar os níveis de potabilidade da água para consumo e sobrevivência dos peixes? A Fundação Renova respondeu ao DRD: “A água do rio Doce pode ser consumida após passar por tratamento convencional em sistemas municipais de abastecimento. É o que indicam os mais de três milhões de dados gerados anualmente pelo maior sistema de monitoramento de cursos d’água do Brasil, criado pela Fundação Renova em 2017 para monitorar a bacia do rio Doce, além de zona costeira e estuarina. Todas as informações geradas sobre as condições do rio são compartilhadas com os órgãos públicos que regulam e fiscalizam as águas do Brasil”, informa a Renova. Governador Valadares-MG, 26 de agosto de 2020. Fundação Renova. Na imagem, ponte sobre o rio Doce. Imagem: NITRO Histórias VisuaisConforme a Fudação Renova, a análise de amostras de água e sedimento de diferentes pontos do rio Doce aponta que a turbidez e a presença de metais na água registram médias semelhantes às do início de 2015 e que as condições da bacia são similares às de antes do rompimento da barragem de Fundão. A comparação é possível porque, anteriormente, a qualidade das águas era analisada pelo Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam), que iniciou o monitoramento em 1997. Quais foram as consequências do desastre Mariana para o meio ambiente e a população?Após o acidente, vários peixes morreram em razão da falta de oxigênio dissolvido na água e também em consequência da obstrução das brânquias. O ecossistema aquático desses rios foi completamente afetado e, consequentemente, os moradores que se beneficiavam da pesca.
Quais foram as consequências desse desastre para o meio ambiente e a população?Os impactos ambientais pelo rompimento da barragem são enormes, podendo destacar a contaminação de rios e mares pela lama, a morte de milhares de espécies de peixes, soterramento de nascentes, destruição da vegetação, comprometimento do solo, entre outros.
Quais foram os danos ambientais em Mariana?A barragem da Samarco, cujas donas são a Vale e BHP Billiton, rompeu-se na tarde do dia 5 de novembro de 2015, provocando 19 mortes. Além de destruir casas, o mar de lama devastou o Rio Doce e atingiu o oceano no Espírito Santo. Nestes mais de 1,8 mil dias, os responsáveis pela tragédia não foram julgados.
Quais as consequências que os desastres ambientais de Mariana e Brumadinho trouxeram para o meio ambiente e para a sociedade?Os rompimentos das barragens em Minas Gerais destruíram grande parte da vegetação e morte de diversas espécies de animais, além de alterar a composição e a fertilidade do solo. No Rio Doce foram encontrados altos níveis de metais pesados tóxicos, como arsênio, chumbo, cromo, zinco, bário, manganês e alumínio.
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