Quais foram os principais acontecimentos que marcaram a Independência do México?

No ano de 1910, o México se encontrava sob a liderança política de Porfírio Díaz, que havia implantado a ditadura no México no ano de 1876 a 1880 e de 1884 a 1911, permanecendo mais de trinta anos no poder.

Durante a ditadura porfirista, prevaleceram as grandes propriedades de terra e a ausência de liberdades democráticas. Porfírio Díaz conduziu a classe latifundiária a assumir as ideias da burguesia norte-americana e europeia, negando todas as tradições indígenas mexicanas. A política de José Porfírio visou valorizar a entrada de capital estrangeiro para explorar os recursos minerais e vegetais e para fabricar produtos de exportação.

A Revolução Mexicana teve como luta emblemática a busca pela revalorização da cultura indígena e a reforma agrária, ou seja, a distribuição de terras entre os camponeses. Essa necessidade de terras gerou o início da revolução que tinha como lema “Tierra y Libertad”.

A desapropriação das terras camponesas se iniciou no período colonial (pelos colonos espanhóis) e continuou no século XIX (com os latifundiários). A situação se agravou na ditadura de Porfírio, culminando no ódio dos camponeses que viviam explorados. As pressões da população, da igreja e de uma elite que fazia oposição aumentaram. Não tendo mais saída, Porfírio Díaz renunciou.

Após a renúncia de Porfírio, Francisco Madero, que era integrante de uma elite que fazia oposição ao governo anterior, assumiu o poder no México. Madero conquistou a população mexicana com promessas de reformas sociais que iriam diminuir a exclusão social – cerca de aproximadamente 70% da população mexicana era analfabeta.

Com o passar do tempo, o novo governo não cumpriu com suas promessas, o que foi gerando insatisfação entre os camponeses que reivindicavam a posse da terra por meio da reforma agrária. Dois camponeses se destacaram na oposição ao governo de Madero: Emiliano Zapata e Francisco ‘Pancho Villa’ (líderes revolucionários camponeses). 

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Emiliano Zapata se opôs a vários governos sucessivos no México: primeiro, o governo de Madero; depois, o governo de Victoriano Huerta; e, por último, o governo de Venustiano Carranza. Zapata acusou Carranza de não cumprimento da reforma agrária, tão reivindicada pelos camponeses. No ano de 1911, lançou o Plano de Ayala, que reivindicava a reforma agrária mexicana. O documento se tornou um referencial para a luta pela terra na América Latina.

Villa e principalmente Zapata, além da reforma agrária, tinham como meta o retorno às origens (uma revalorização da identidade indígena mexicana). Eles contestavam a transformação dos latifúndios em fazendas modernas (agroindústrias) e queriam a volta do antigo sistema indígena de comunidades coletivas (ejidos).

No ano de 1913, Francisco Madero foi assassinado a mando de Victoriano Huerta, que instalou novamente a ditadura no México. O retorno à ditadura levou Villa ao norte, e Zapata ao sul, visando a organização de novos movimentos revolucionários contra as tropas federais. Com o aumento das pressões populares, Huerta renunciou em 1914, assumindo o poder em seu lugar, por indicação, Venustiano Carranza, apoiado pelos Estados Unidos.

Uma nova Constituição foi promulgada no México no ano de 1917, o que levou Carranza às eleições presidenciais, sendo eleito presidente. Esse fato desagradou bastante as camadas populares e os camponeses, que continuaram os conflitos contra o governo central. Entretanto, depois da morte de Zapata, em 1919, e de Villa, em 1923, o movimento revolucionário perdeu força, abrindo as portas para a entrada do liberalismo com o apoio da elite proprietária de terras.

Quais foram os principais acontecimentos que marcaram a Independência do México?
O dia 16 de setembro marca o Grito de Dolores, que foi o anúncio de um processo de insatisfação com o governo espanhol, e foi dado pelo padre Miguel Hidalgo durante uma missa. (Arte: Pedro Fuini)

Em 16 de setembro de 1810 tem início a Guerra de Independência do México. Nesta data ocorreu o Grito de Dolores, no estado de Guanajuato, pelo padre Miguel Hidalgo. Ligado às ideias do Iluminismo, Hidalgo liderou um movimento de insatisfação popular com a Espanha, que colonizou o México, e fazia parte de uma conspiração que pretendia derrubar o vice-rei (representante da Coroa espanhola na colônia). Prevendo que poderia ser preso, o padre incitou as pessoas que participavam de sua missa no dia 16 de setembro de 1810 a se rebelar contra os governantes. “Quem assistia a missa do Hidalgo era majoritariamente a população de baixa e média classe, e essa população era mestiça e indígena. Eles seguem o padre e o que inicia sendo um protesto pacífico acaba virando uma rebelião extremamente violenta”, explica Laís Olivato, doutora em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Movimento pela independência

Olivato explica que o processo de Independência do México se insere num contexto histórico mais amplo, o das Revoluções do Atlântico. “Essas revoluções tiveram a ver com a difusão das ideias humanistas e começaram com a independência dos Estados Unidos”. Outros movimentos de caráter liberal, ocorreram em pela América Hispânica ao mesmo tempo que no México.

Na Europa, também havia um cenário de agitação política. O rei espanhol Fernando VII havia sido deposto e substituído por José Bonaparte, primo do general francês Napoleão Bonaparte, durante as Guerras Napoleônicas (1803-1815). Juntas de governo seriam formadas como forma de resistência à Bonaparte. 

A insatisfação com a situação política da Espanha e com o vice-rei levaria ao Grito de Dolores. A rebelião se espalharia para o resto do território rapidamente, incorporando cada vez mais pessoas ao exército popular de Hidalgo. Ele seria fuzilado em 1811, e o comando do exército passaria para o clérigo José Morelos, outra importante liderança.

Olivato destaca que as mulheres tiveram importância nesse processo, como Leona Vicario, que apoiava o movimento escrevendo e patrocinando jornais que disseminavam suas causas políticas; muitas mulheres também atuavam transportando armamento para o exército popular, escondido debaixo de suas saias. Essa rebelião popular é chamada de Primeiro Movimento de Independência do México. 

Com a volta de Fernando VII ao trono espanhol, o general Agustín de Iturbide consolida a Independência do México, em 1821, em um momento já distanciado da rebelião popular, e se torna imperador do México.

Em sua pesquisa de mestrado, a pesquisadora estudou jornais que narravam os acontecimentos ligados à independência e discutiam ideias políticas de caráter liberal, dando perspectiva para o próprio movimento que estava se construindo. Confira na íntegra a entrevista com Laís Olivato.

Serviço de Comunicação Social: Em linhas gerais, como foi o processo de colonização do México?

Laís Olivato: O México foi colonizado a partir do século 16 pelos espanhóis. Lá existiam diferentes grupos indígenas, que já tinham um sistema de hierarquia social estabelecido. Inclusive, havia o Império Mexica, um império muito grande que dominava outros povos. Então, uma estratégia que os espanhóis utilizaram para conquistar a cidade que antigamente se chamava Tenochtitlán (atual Cidade do México), foi fazer uma aliança com os grupos indígenas que eram dominados por esse Império Mexica. Através de negociações políticas, os espanhóis acabaram entrando e dominando Tenochtitlán. 

Além disso, alguns aspectos da conquista foram a exploração econômica, que é o mais óbvio de todos, mas também uma conquista que alguns historiadores chamam de conquista espiritual do México, uma conquista religiosa. Foi uma colonização pensada a partir das doutrinas do catolicismo, a despeito das religiões que existiam lá. Assim, acabaram conquistando a sociedade em todos os aspectos. Mas eu acho interessante a perspectiva mais recente da historiografia que diz que essa conquista não foi uma dominação total, porque se fosse a cultura indígena teria desaparecido por completo, e não foi isso que aconteceu. Observamos também que, mesmo nessa tentativa de conquista espiritual ou de conquista econômica, algumas estruturas das sociedades indígenas permaneceram. Algumas pessoas dizem até que os espanhóis substituíram os antigos dominadores e indígenas lá no México e usaram as estruturas que já existiam para continuar dominando e escravizando.

Serviço de Comunicação Social: Qual era o contexto que levou ao movimento pela independência do México?

Laís Olivato: A independência do México não é um acontecimento isolado e faz parte de um contexto maior que a gente chama de Revoluções Atlânticas. Essas revoluções tiveram a ver com a difusão das ideias humanistas e começaram com a independência dos Estados Unidos. Eram movimentos liberais e o México fez parte disso, tanto é que as independências da Hispano-América aconteceram mais ou menos na mesma época que a independência do México. 

Em 1810, as colônias hispano-americanas já estavam sem o seu rei, Fernando VII, capturado durante as Guerras Napoleônicas e substituído pelo José Bonaparte. Lá na Espanha foram formadas juntas de governo que resistiram ao governo de José Bonaparte, nomeado por Napoleão, por não concordarem com essa política imperialista da França. No México, isso vai gerar um movimento de insatisfação popular, um questionamento da legitimidade do José Bonaparte e desta junta de governo. 

O dia 16 de setembro marca o Grito de Dolores, que foi o anúncio de um processo de insatisfação com o governo espanhol, e contra o vice-rei que representava esse governo espanhol no México. Ele começou na cidade de Dolores, que fica no estado de Guanajuato, e foi dado por um padre, chamado Miguel Hidalgo. Era um padre ilustrado, ligado às ideias do Iluminismo, que conhecia, portanto, o que estava acontecendo na Europa, conhecia as discussões do mercado europeu e também estadunidense, além de fazer parte de uma conspiração que pretendia derrubar o vice-rei. Essa conspiração acontecia na cidade vizinha a Dolores, San Miguel de Allende, e lá o padre Hidalgo se junta a outros conspiradores, outros padres e liberais, que estavam armando esse plano. Só que esse plano tinha sido descoberto pela polícia, que logo prenderia todos esses conspiradores. O padre Hidalgo, prevendo que poderia ser preso, na missa que ele rezava no domingo, 16 de setembro, ele incitou as pessoas que estavam na igreja a se rebelar contra o vice-rei, que foi o grito de Dolores. Quem assistia a missa do Hidalgo era majoritariamente a população de baixa e média  da região de Guanajuato, e essa população era mestiça e indígena. Eles seguem o padre e o que inicia sendo um protesto pacífico acaba virando uma rebelião extremamente violenta, que a gente chama de Primeiro Movimento de Independência. Essa rebelião vai percorrer todos os estados. Aos poucos, Hidalgo vai juntando para o seu exército de rebeldes mais e mais pessoas, indígenas, padres e liberais e até mulheres. As mulheres têm uma importância bem legal porque algumas, como Leona Vicario, apoiavam o movimento escrevendo no jornal ou então patrocinando e pagando os jornais que discutiam o movimento de independência, e também atuavam transportando armamento. Elas colocavam as armas embaixo das saias e conseguiam atravessar o território inimigo para ajudar esse exército rebelde do padre Hidalgo.

Serviço de Comunicação Social: Como ficou a situação política do México pós-Guerra da Independência?

Laís Olivato: A sociedade mexicana, na volta de Fernando VII ao trono espanhol, tenta permanecer fiel a ele, mas ocorrem várias disputas internas de poder e essas disputas se dão entre os integrantes da elite. Um general chamado Agustín de Iturbide, em 1821, consolida a independência do México, já distanciado dessa rebelião popular que eu chamei de Primeiro Movimento de Independência do México. Distanciado dessa rebelião popular, ele declara a Independência do México e cria um império no qual ele é o imperador. Essa forma de governo não tem relação com a forma de governo que aqueles padres do Primeiro Movimento de Independência estavam querendo construir no México.

Serviço de Comunicação Social: Você poderia falar um pouco mais sobre a pesquisa que você desenvolveu no mestrado a respeito da insurgência impressa nesse processo da Independência?

Laís Olivato: O que eu estudei no mestrado foi a escrita de jornais que narravam os acontecimentos ligados à independência e eram jornais do movimento do padre Hidalgo – que depois foi comandado pelo clérigo José Maria Morelos, pois o padre Hidalgo foi fuzilado em 1811. E esses jornais, alguns contavam o estado da guerra, narrando por onde o exército estava passando, e outros discutiam ideias políticas de caráter liberal, dando notícias sobre o que estava acontecendo na Espanha, dando perspectiva para o próprio movimento que eles estavam construindo. Então esses jornais são uma maneira de dizer quais eram os objetivos do movimento de independência e escutar um pouco as vozes dessa liderança. O que me chamou a atenção na pesquisa foi uma ordem do mundo de Morelos para que, ao invés de usarem algumas balas de armas que eles tinham acabado de receber na guerra, que eles derretessem essas balas para torná-los tipos a serem utilizados nessa imprensa insurgente, nessa imprensa rebelde. Então eu pensei “Poxa, ele está preferindo escrever do que matar os realistas, as pessoas que defendiam o vice-rei?”.

Laís Olivato é doutora e mestre em História Social pela FFLCH, pela qual também se graduou em História. Sua pesquisa concentra-se em História da América e História da Educação, atuando principalmente nos temas de independências latino-americanas do século XIX, religião e história da imprensa. Suas pesquisas de pós-graduação estão disponíveis na Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP.

Quais foram os principais acontecimentos da Independência do México?

Em 1821, Augustín de Iturbide, um espanhol, passaria a defender a causa da independência. O exército da libertação entraria na Cidade do México forçando a renúncia do Vice-rei espanhol e a assinatura do Tratado de Córdoba, no dia 24 de agosto de 1821, que reconhecia o México como nação independente.

Qual foi o resultado da Independência do México?

Guerra da Independência do México
Independência da América Espanhola
Desfecho
Emancipação com relação à Espanha; Início do Primeiro Império Mexicano
Situação
Encerrada
Beligerantes
Guerra da Independência do México – Wikipédia, a enciclopédia livrept.wikipedia.org › wiki › Guerra_da_Independência_do_Méxiconull

Quais foram os principais líderes da Independência do México?

Resumo sobre Revolução Mexicana Os principais líderes da revolução foram: Emiliano Zapata e Pancho Villa.

Como a Independência do México marcou a quebra do pacto colonial?

O processo de independência do México marcou a quebra do pacto colonial em uma das mais importantes possessões espanholas no continente americano. Sendo uma região de economia estritamente rural, o México tinha grande parte de sua população vinculada a tais atividades.