Qual a relação entre desenvolvimento sustentável e crescimento econômico?

O dilema entre crescimento econ�mico e desenvolvimento sustent�vel: novos paradigmas para o estudo dos agroecossistemas

Enio Sosinski

Durante as d�cadas de 1960 e 1970, a agricultura brasileira passou por uma intensa transforma��o no processo que ficou conhecido como moderniza��o ou Revolu��o Verde. Este consistiu na incorpora��o � agricultura, por meio do apoio estatal, de pr�ticas  industrializadas de produ��o, integrando cada vez mais a agricultura com o sistema urbano-industrial. Com isso, for�ou a agricultura a transferir renda e estimular o desenvolvimento dos centros urbanos e industrial do pa�s, atrav�s da venda de mat�rias-primas a pre�os baixos, da compra de insumos e, principalmente, da libera��o de m�o de obra excedente dos campos, tamb�m conhecida como �xodo rural. No processo houve um aumento da produ��o de commodities agr�colas e consequentemente do Produto Interno Bruto (PIB) do pa�s. Por�m este crescimento econ�mico trouxe consigo a acelera��o do esgotamento dos recursos naturais e come�ou a gerar problemas sociais importantes que acabaram por mostrar que esta forma �moderna� de produ��o n�o poderia ser o padr�o de desenvolvimento sustent�vel para o pa�s. A partir do Relat�rio Meadows e da Confer�ncia de Estocolmo (1968 e 1972) a inquieta��o a respeito das formas de produ��o e consumo vigente come�aram a tomar forma, dando iniciando aos movimentos ambientais. Mais de uma d�cada ap�s, no Relat�rio Brundtland (O Nosso Futuro Comum, 1987) foi enfatizado o conceito de sustentabilidade do desenvolvimento, que culminou na elabora��o de um plano de a��o � a Agenda 21 � na Confer�ncia do Rio de Janeiro, a C�pula da Terra de 1992.

Portanto, 20 anos ap�s a defini��o de uma agenda mundial, quando a ideia de sustentabilidade come�a a aflorar e invade as m�dias, universidades, institui��es de pesquisas e as pol�ticas dos pa�ses do mundo inteiro, as cr�ticas ao modelo de agricultura intensiva no uso de insumos externos �s propriedades e geradora de polui��o e problemas sociais, iniciadas � mais de 40 anos com o Relat�rio Meadows, fortalecem-se e consolidam-se. Passa-se a procurar a qualifica��o do processo de moderniza��o, com destaque para os aspectos ambientais e socioculturais do desenvolvimento, cujo contexto � de valoriza��o das m�ltiplas fun��es desempenhadas pelos recursos naturais, suprindo fun��es ecol�gicas, econ�micas e recreativas. Passa-se a compreender que os elementos  naturais n�o s�o homog�neos e nem �ativos� econ�micos, e a se pensar a atividade agr�cola como principal ponto de contato e de tens�o entre a sociedade e a natureza, reconhecendo as importantes fun��es desempenhadas pelas atividades rurais e suas agriculturas praticadas, mas tamb�m reconhecendo que � justamente nesta interface que residem alguns dos principais desafios do nosso tempo: como continuar produzido cada vez mais alimentos para uma popula��o cada vez mais numerosa, mas com cada vez menos impactos ao meio ambiente?

A partir de ent�o h� o reconhecimento, pela sociedade e pelos governos, do interesse p�blico sobre as fun��es sociais, ambientais, culturais e econ�micas, n�o somente produtivas ou mercantis, associadas �s explora��es agropecu�rias, trazendo a agricultura para uma posi��o de principal sujeito da nova constru��o de desenvolvimento. Se a no��o de desenvolvimento sempre esteve associada ao aumento quantitativo da atividade econ�mica, hoje sabe-se que este n�o poder� ser sustent�vel uma vez que a capacidade de suporte do nosso planeta n�o �  infinita. Passa-se assim a pensar o desenvolvimento sob a �tica de melhora da qualidade de vida por�m sem a implica��o do aumento do consumo dos recursos naturais.

Participantes da Reuni�o Regional Preparat�ria para a Am�rica Latina e o Caribe da Confer�ncia das Na��es Unidas sobre o Desenvolvimento Sustent�vel (Rio+20), realizada de 07 a 09 de setembro de 2011, em Santiago, no Chile, conclu�ram que alguns dos obst�culos para alcan�ar o desenvolvimento sustent�vel s�o �a brecha cient�fica e tecnol�gica, a insufici�ncia do financiamento e a fragmenta��o da implementa��o. � necess�rio mudar os padr�es de consumo e melhorar a medi��o da riqueza para refletir adequadamente sobre os pilares do desenvolvimento sustent�vel � economia, social e ambiente � preservando os princ�pios fundamentais das responsabilidades comuns, mas diferenciadas e equitativas�, segundo not�cia veiculada pelo portal EcoAg�ncia.

Desta maneira, uma forma de contribuir para o desenvolvimento sustent�vel � estudar e compreender melhor a capacidade de regenera��o dos recursos naturais, especialmente daqueles de uso comum, ou seja, de todos n�s. Para tanto, o entendimento do papel fundamental dos fluxos da mat�ria e da energia nos ecossistemas e as rela��es de causa e efeito das suas modifica��es de acordo com as atividades antr�picas (humanas) pode ser realizado atrav�s de uma das mais importantes ferramentas cient�ficas de que dispomos, que � a teoria sist�mica e sua integra��o com as leis da termodin�mica.

A an�lise sist�mica, baseada na Teoria Geral de Sistemas, quando aplicada � Ecologia, permitiu a Howard T. Odum (1924 - 2002) conhecer e modelar o funcionamento das atividades antr�picas em suas intera��es com os ecossistemas e agroecossistemas. Sua integra��o com as leis da termodin�mica levou ao desenvolvimento da metodologia eMerg�tica e � defini��o de crit�rios que possibilitam analisar o desempenho dos sistemas naturais e antr�picos por meio da convers�o dos fluxos de mat�ria, energia, recursos monet�rios, informa��o, entre outros, em fluxos equivalentes de energia solar. Com a ajuda desta metodologia podemos calcular �ndices que permitem fazer o diagn�stico dos agroecossistemas e obter informa��es que nos auxiliem na proposi��o de novos paradigmas para o desenvolvimento sustent�vel.

Enio Egon Sosinski Junior possui gradua��o em Agronomia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1989), Mestrado e Doutorado em Ecologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2005), est�gio de doutorando no exterior no Institut National de la Recherche Agronomique - Inra (2003). Foi p�s-doutorando do Programa Biota/Fapesp no Projeto Tem�tico Gradiente Funcional. Tem experi�ncia na �rea de Ecologia, com �nfase em Ecologia Quantitativa e Ecologia de Comunidades Vegetais, atuando principalmente nos seguintes temas: An�lise de Padr�es e Processos Espa�o-Temporais em Comunidades Vegetais, Grupos Funcionais de Planta e Modelagem de Din�mica de Comunidades e Ecossistemas. Trabalha na Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecu�ria - Embrapa, na unidade de Clima Temperado na �rea de Sistemas Sustent�veis de Produ��o e nas sub�reas de Engenharia Ecol�gica e Agricultura Sustent�vel. Contato:

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Publicado no Infobibos em 12/12/2011

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